Um crime o que fizeram na Iugoslávia, é uma pena este documentário (entre outros que expõem a suja política internacional dos Estados Unidos) não ser tão reconhecido.
Muito se falou do aspecto como Aronofsky decidiu filmar, mas diferentemente de filmes que considero muito ruins neste sentido (como A Fonte da Vida, Mother! e Noé), entendo que é justamente o que um cineasta deve fazer! Passar a sua impressão ao filme. E A Baleia é um filme grandioso em toda a sua mesquinharia (a comida do dia a dia, o pássaro na janela, o filho abandonado, a sexualidade reprimida etc), que aqui ganha contornos universais e profundamente existencialistas.
Dos filmes que assisti que estão concorrendo a estatueta dourada, e assisti ao confuso Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e o decepcionante Nada de Novo no Front, este é o mais humano. Não há bombas explodindo, não há viagens por multiversos; mas há muita humanidade naqueles problemas, naqueles personagens afetados, e como disse um sábio barbudo por aí uma vez, "nada que é humano, me é estranho".
O filme é um pouco aborrecido em alguns aspectos, isto é, apresenta poucos personagens, fora Ocampo e Strassera. Ainda assim, padece do erro de grande parte da sociedade argentina de não perceber que o Estado jogou no fogo os militares para salvar a sua própria autonomia, não para justiçar ou vingar os torturados. Apesar de tudo, ainda penso que é um dos grandes filmes do ano.
A ideia de de que "um operário trabalha com uma rocha tal como um cineasta trabalha a imagem e a memória" é expressiva; mas a pegada estranha que romantiza a exploração do trabalho como algo metafísico é muito, muito ruim.
a seita comunista analisa e analisa livros para chegar a uma conclusão da realidade, a que o pai Jodorowsky encontra alguma coisa qualquer sobre um cavalo. Parece-me uma bela síntese surrealista do que a esquerda socialista fez nos últimos 80 ou 90 anos, perdeu-se em abstrações alucinógenas, descoladas da realidade para se meter em coisas que não fazem sentido. Como diria Trotsky, nem todos os caminhos levam a Roma, ao contrário do que dizem. O Pai, no filme, se perde completamente e acaba caindo num lumpesinato bizarro do Chile nacionalista e reacionário..
Não é sobre liberdade ou descobrimento sexual. É um filme doente porque Bertolucci era um misógino problemático.
Estes 120 minutos sobre a virgindade de uma mulher no limiar da infância, e sua virgindade como se fosse algo áureo que todos os homens mais velhos naquela casa gostariam de "roubar" só poderia sair da cabeça de um lunático como este cineasta italiano, que acabou por se tornar a própria essência da crítica de sua primeira fase: um pequeno-burguês decadente, ordinário em sua solidão mesquinha e febril em sua doença pela infantilização feminina.
Closes desnecessários e cenas nojentas. Impressionante como conseguiu fazer um filme de personagens (ou) pedófilos (ou) extremamente vazios (quando não conseguiu somar as duas coisas!), com sua crítica política completamente isolada do mundo real (a cena do idoso com a mangueira neste sentido é bastante simbólica) enquanto vivem sua vida artística afundada em hipocrisia.
Quem já deu ou dá aula em escola pública sabe bem a veracidade da primeira cena desta apresentação política sobre o significado pedagógico das eleições: carinhas cansadas, cabeças pensando em outro lugar (família, emprego, casa, sexo etc) e ausência, ausência no colapso de uma série de estruturas precárias.
Somado a isso, existe um mundo que exige um certo limite nessas politizações “necessárias” (como a professora que diz ‘calma, o elevador o governo arruma’) e não é preciso saber muito para saber o necessário: a chapa vencedora poderá ser pior ou melhor, mas muito pouco poderá fazer naquele microcosmo. Talvez esta seja a grande mensagem através das lentes de Alice e sua direção seca e montagem objetiva. Longe de superficiais chavões como “o país está dividido”, é preciso adentrar nos meandros dessas divisões e analisá-las com calma.
Então, até onde pude perceber: Parmênides, Sócrates, Platão, Aristóteles, Marx, Engels e Lukács.
E claro, Herzog.
O ser humano aqui é demonstrado como algo que sempre foi: um indivíduo sensível e inquieto. Um documentário que transcende toda a baboseira utópica e sensacionalista dos History Channel's da vida, com um cineasta oriundo do voraz Novo Cinema Alemão, questionando-se do porquê nossa vida ser assim e não ser diferente. Brilhante.
Não sei o que me envergonha mais: o pessoal aqui nos comentários chamando Suely de "puta" ou chamando Suely de "emponderada" [sic]; é um retrato de que não conseguem enxergar para além das bolhas particulares em que estão inseridos.
O Céu de Suely é um filme devastador, contraditório (porque a vida de uma mulher cearense pobre é), e portanto, não se trata de dor e/ou glória (um paralelo aqui com Almodóvar), porque seu céu É também o seu inferno /e vice-versa. Então tanto esta interpretação pós-moderna de liberdade do corpo (que ela nunca conquista) quanto este julgamento moral (em dizer que ela é isso ou aquilo) é igualmente superficial e ridícula. Indico que assistam de novo ou reavaliem suas vidas.
"Nós não temos compaixão e não pedimos nenhuma compaixão a vocês. Quando chegar a nossa vez, não vamos arranjar desculpas para o terror.
Mas os terroristas reais, os terroristas com as graças de Deus e da lei, são na prática brutais, desdenhosos, isto significa, teoricamente covardia secreta e traiçoeira, e em ambos os aspectos indignos de respeito."
Injustamente esquecido, este, se colocado corretamente em seu contexto histórico (que nem se afasta tanto assim do que estamos vivendo), cresce monstruosamente.
Que Fassbinder é um monstro da ontologia das bestas humanas, todos nós sabemos. Agora, este seu filme transborda toda a marginalidade que fez parte da essência de seu cinema e isto é fantástico. O próprio exemplar que nos chega em mãos não passa de uma cópia barata de VHS. Isto não impede que apreciemos todos os seus ângulos, que absorvem o melhor do teatro alemão e o potencializam em um filme “proletário” do cinema europeu. Para além da polêmica com a idade da menina:
Fica claro o quanto o processo de (des)educação gera (des)informação e não acrescenta nada de nada. Só cria confusão. Por mais problemático que fosse, se tudo fosse mantido de forma serena e tranquila, talvez nada chegasse ao desfecho tal como aparece. A família aparece como uma prisão, que ao se escapar da sua, você apenas cai em outra ~~a moça agora grávida e que recomeça o ciclo reprodutivo.
“Você sabe o que ele é? Um operário inexperiente. Se fosse de uma família como a nossa.. Mas sem dinheiro não há amor, e sem comércio não há esposa.” Fassbinder, mais uma vez, despenca todo o seu desprezo pelas instituições da família falida burguesa, como o casamento e as tradições. A presença da opressão cristã é clara a todo momento com crucifixos e quadros religiosos. E todo o relacionamento, em si e para si, é reduzido a um combate de seres canibais que devoram uns aos outros sem pensar (e neste sentido, lembra muito Porcilga de Pasolini (1968), ainda que troque a acidez pelo sarcasmo), onde só encontramos vítimas. É um cinema de análise sobre a falta de saídas e que exala desespero. Se a terceira geração alemã ficou órfão de esperanças no pós-guerra, ao menos não ficou órfã de cineastas inesquecíveis.
Se tivesse ficado na sala de edição por mais tempo, teria sido a obra-prima que quase se tornou de fato; entretanto, tudo parece corrido demais, os movimentos de câmera não se decidem entre Huston, Malick, Coppola ou Kurosawa. Entre tantos outros problemas técnicos e de roteiro (que por sinal é muito louco haha) já relatados aqui.. O final, apesar de fantástico, não sabe encerrar.
Ainda assim, um filme absolutamente necessário que vai cumprir <O> papel neste momento em que os Estados Unidos vivem: de incendiar ainda mais o debate racial - que eu repito, deve estar sempre ligado a um conteúdo classista. E nisto a sua vinda é ótima. Posso imaginar os militantes negros indo aos prantos com diversas referências ao que estão vivendo de fato nas ruas de Minneapolis, Los Angeles, Seattle etc. Posso sentir uma juventude que começa a se politizar - com tudo o que está acontecendo, amadurecendo o seu olhar ao assistir este belíssimo exemplar.. E isso é muito importante.
Não é o maior trabalho de Lee, mas também não será um dos seus menores. Há uma dúzia de cenas memoráveis aqui. Somando-se isso, analisar a personalidade dos personagens me pareceu bastante interessante, como o veterano desiludido que agora vota em Trump e não confia na sombra; o cristão que parece prever onde tudo aquilo vai terminar; a empreendedora oportunista etc.
O capitalismo do Vietnã também precisa ser colocado em relevo, vai ter muito losurdiano virando o rosto para isso.
Algo que precisa ser discutido é que não apresenta saídas concretas aos problemas em questão. Enquanto arte, cumpre muito bem o seu papel, a saída caberá a nós, no fogo da discussão, consolidar.
Há algum tempo espalho por aí que o melhor da Glasnost e da Perestroika, para além do seu desastre econômico e político, foi no campo artístico - trouxe aos soviéticos um cinema de força tal que só tínhamos visto nos tempos sadios da gloriosa Revolução de Outubro (1917-1927).
Isso porque, ao exemplo de Tarkovsky, Mayakovsky, Akhmátova, Shepitko, Mandelstam e tantos outros, viram-se em conflito artísticos (por sua vez também político) com a casta burocrática dominante na URSS.
Então Lopushansky, assim como tantos outros cineastas de sua geração, não apenas na RSFSR, mas em outros países, puderam colocar para fora aquilo que há tanto se apresentava oculto. Temas como religiosidade, moral, pessimismo; mas também esperança, fé, desejo (mesmo nudez) e principalmente questionamento, voltaram ao cenário poeirento de um dos cinemas mais potentes do mundo, mesmo que completamente congelado.
O descongelamento foi principalmente no campo da arte; Posetitel Muzeya está aí para provar. "Tudo deve perecer, tudo está repleto de mentiras". ~~ A sombra catastrófica e ousada de um tempo.
O mais megalomaníaco de Terry Gilliam (convenhamos, isso não é pouca coisa), mas é o seu mais enfatuado. Custou quase 47 milhões de dólares, absurdamente mais do que anteriores. Oculto, mas ainda majestoso.
Não sabemos se Agnieszka ligou o piloto automático ou se houve algum tipo de pressão por encomenda para o filme não "sair dos trilhos", o certo é o que o resultado final é muito aquém do esperado. Entretanto, seus minutos finais e a importância do tema (sem cair em maneirismos anticomunistas) fazem deste exemplar um dos filmes mais importantes de 2019.
Um dos meus favoritos sobre as greves do ABC no final da década de 1970. O motivo disso? Leon Hirszman, infelizmente, tinha esperança demais no picareta do Lula.
Uma História de Amor Sueca
3.6 56 Assista AgoraEnquanto os "pequenos" descobrem o prazer pela vida, ou um significado para ela, os adultos não sabem o que fazer com ela.
O Peso das Correntes
4.3 1Um crime o que fizeram na Iugoslávia, é uma pena este documentário (entre outros que expõem a suja política internacional dos Estados Unidos) não ser tão reconhecido.
A Baleia
4.0 1,0K Assista AgoraMuito se falou do aspecto como Aronofsky decidiu filmar, mas diferentemente de filmes que considero muito ruins neste sentido (como A Fonte da Vida, Mother! e Noé), entendo que é justamente o que um cineasta deve fazer! Passar a sua impressão ao filme. E A Baleia é um filme grandioso em toda a sua mesquinharia (a comida do dia a dia, o pássaro na janela, o filho abandonado, a sexualidade reprimida etc), que aqui ganha contornos universais e profundamente existencialistas.
Dos filmes que assisti que estão concorrendo a estatueta dourada, e assisti ao confuso Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e o decepcionante Nada de Novo no Front, este é o mais humano. Não há bombas explodindo, não há viagens por multiversos; mas há muita humanidade naqueles problemas, naqueles personagens afetados, e como disse um sábio barbudo por aí uma vez, "nada que é humano, me é estranho".
Regra 34
2.8 27 Assista AgoraÉ um exemplo interessante de filme que pode render mais pelo debate pós-sessão do que pelo que é apresentado em si.
Argentina, 1985
4.3 334O filme é um pouco aborrecido em alguns aspectos, isto é, apresenta poucos personagens, fora Ocampo e Strassera. Ainda assim, padece do erro de grande parte da sociedade argentina de não perceber que o Estado jogou no fogo os militares para salvar a sua própria autonomia, não para justiçar ou vingar os torturados.
Apesar de tudo, ainda penso que é um dos grandes filmes do ano.
The Song of Stone
3.0 1A ideia de de que "um operário trabalha com uma rocha tal como um cineasta trabalha a imagem e a memória" é expressiva; mas a pegada estranha que romantiza a exploração do trabalho como algo metafísico é muito, muito ruim.
A Dança da Realidade
4.2 81Dentre tantos simbolismos, o que mais me chamou atenção [por motivos óbvios] é o da cena em que
a seita comunista analisa e analisa livros para chegar a uma conclusão da realidade, a que o pai Jodorowsky encontra alguma coisa qualquer sobre um cavalo. Parece-me uma bela síntese surrealista do que a esquerda socialista fez nos últimos 80 ou 90 anos, perdeu-se em abstrações alucinógenas, descoladas da realidade para se meter em coisas que não fazem sentido. Como diria Trotsky, nem todos os caminhos levam a Roma, ao contrário do que dizem. O Pai, no filme, se perde completamente e acaba caindo num lumpesinato bizarro do Chile nacionalista e reacionário..
O Joelho de Claire
3.9 77 Assista AgoraSe petulância fosse crime, Rohmer estaria preso por Le Genou.
Beleza Roubada
3.5 259Não é sobre liberdade ou descobrimento sexual. É um filme doente porque Bertolucci era um misógino problemático.
Estes 120 minutos sobre a virgindade de uma mulher no limiar da infância, e sua virgindade como se fosse algo áureo que todos os homens mais velhos naquela casa gostariam de "roubar" só poderia sair da cabeça de um lunático como este cineasta italiano, que acabou por se tornar a própria essência da crítica de sua primeira fase: um pequeno-burguês decadente, ordinário em sua solidão mesquinha e febril em sua doença pela infantilização feminina.
Closes desnecessários e cenas nojentas. Impressionante como conseguiu fazer um filme de personagens (ou) pedófilos (ou) extremamente vazios (quando não conseguiu somar as duas coisas!), com sua crítica política completamente isolada do mundo real (a cena do idoso com a mangueira neste sentido é bastante simbólica) enquanto vivem sua vida artística afundada em hipocrisia.
Eleições
3.8 13Quem já deu ou dá aula em escola pública sabe bem a veracidade da primeira cena desta apresentação política sobre o significado pedagógico das eleições: carinhas cansadas, cabeças pensando em outro lugar (família, emprego, casa, sexo etc) e ausência, ausência no colapso de uma série de estruturas precárias.
Somado a isso, existe um mundo que exige um certo limite nessas politizações “necessárias” (como a professora que diz ‘calma, o elevador o governo arruma’) e não é preciso saber muito para saber o necessário: a chapa vencedora poderá ser pior ou melhor, mas muito pouco poderá fazer naquele microcosmo. Talvez esta seja a grande mensagem através das lentes de Alice e sua direção seca e montagem objetiva. Longe de superficiais chavões como “o país está dividido”, é preciso adentrar nos meandros dessas divisões e analisá-las com calma.
A Caverna dos Sonhos Esquecidos
4.2 142 Assista AgoraEntão, até onde pude perceber: Parmênides, Sócrates, Platão, Aristóteles, Marx, Engels e Lukács.
E claro, Herzog.
O ser humano aqui é demonstrado como algo que sempre foi: um indivíduo sensível e inquieto. Um documentário que transcende toda a baboseira utópica e sensacionalista dos History Channel's da vida, com um cineasta oriundo do voraz Novo Cinema Alemão, questionando-se do porquê nossa vida ser assim e não ser diferente. Brilhante.
Frágil Como o Mundo
4.1 9AUSÊNCIA - Sophia Mello Breyner Andresen
"Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua."
O Rei e o Pássaro
3.8 11Absolutismo capitalista. Reconstruir um Novo Mundo sob os escombros do velho.
Il y a un message puissant ici.
O Céu de Suely
3.9 464 Assista AgoraNão sei o que me envergonha mais: o pessoal aqui nos comentários chamando Suely de "puta" ou chamando Suely de "emponderada" [sic]; é um retrato de que não conseguem enxergar para além das bolhas particulares em que estão inseridos.
O Céu de Suely é um filme devastador, contraditório (porque a vida de uma mulher cearense pobre é), e portanto, não se trata de dor e/ou glória (um paralelo aqui com Almodóvar), porque seu céu É também o seu inferno /e vice-versa. Então tanto esta interpretação pós-moderna de liberdade do corpo (que ela nunca conquista) quanto este julgamento moral (em dizer que ela é isso ou aquilo) é igualmente superficial e ridícula. Indico que assistam de novo ou reavaliem suas vidas.
Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil
4.4 86"Nós não temos compaixão e não pedimos nenhuma compaixão a vocês.
Quando chegar a nossa vez, não vamos arranjar desculpas para o terror.
Mas os terroristas reais, os terroristas com as graças de Deus e da lei, são na prática brutais, desdenhosos, isto significa, teoricamente covardia secreta e traiçoeira, e em ambos os aspectos indignos de respeito."
(Karl Marx, março de 1849)
Fatherland
3.1 1Injustamente esquecido, este, se colocado corretamente em seu contexto histórico (que nem se afasta tanto assim do que estamos vivendo), cresce monstruosamente.
A Encruzilhada das Bestas Humanas
3.7 2Que Fassbinder é um monstro da ontologia das bestas humanas, todos nós sabemos. Agora, este seu filme transborda toda a marginalidade que fez parte da essência de seu cinema e isto é fantástico. O próprio exemplar que nos chega em mãos não passa de uma cópia barata de VHS. Isto não impede que apreciemos todos os seus ângulos, que absorvem o melhor do teatro alemão e o potencializam em um filme “proletário” do cinema europeu.
Para além da polêmica com a idade da menina:
Fica claro o quanto o processo de (des)educação gera (des)informação e não acrescenta nada de nada. Só cria confusão. Por mais problemático que fosse, se tudo fosse mantido de forma serena e tranquila, talvez nada chegasse ao desfecho tal como aparece. A família aparece como uma prisão, que ao se escapar da sua, você apenas cai em outra ~~a moça agora grávida e que recomeça o ciclo reprodutivo.
“Você sabe o que ele é? Um operário inexperiente. Se fosse de uma família como a nossa.. Mas sem dinheiro não há amor, e sem comércio não há esposa.”
Fassbinder, mais uma vez, despenca todo o seu desprezo pelas instituições da família falida burguesa, como o casamento e as tradições. A presença da opressão cristã é clara a todo momento com crucifixos e quadros religiosos. E todo o relacionamento, em si e para si, é reduzido a um combate de seres canibais que devoram uns aos outros sem pensar (e neste sentido, lembra muito Porcilga de Pasolini (1968), ainda que troque a acidez pelo sarcasmo), onde só encontramos vítimas.
É um cinema de análise sobre a falta de saídas e que exala desespero. Se a terceira geração alemã ficou órfão de esperanças no pós-guerra, ao menos não ficou órfã de cineastas inesquecíveis.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraSe tivesse ficado na sala de edição por mais tempo, teria sido a obra-prima que quase se tornou de fato; entretanto, tudo parece corrido demais, os movimentos de câmera não se decidem entre Huston, Malick, Coppola ou Kurosawa. Entre tantos outros problemas técnicos e de roteiro (que por sinal é muito louco haha) já relatados aqui.. O final, apesar de fantástico, não sabe encerrar.
Ainda assim, um filme absolutamente necessário que vai cumprir <O> papel neste momento em que os Estados Unidos vivem: de incendiar ainda mais o debate racial - que eu repito, deve estar sempre ligado a um conteúdo classista. E nisto a sua vinda é ótima. Posso imaginar os militantes negros indo aos prantos com diversas referências ao que estão vivendo de fato nas ruas de Minneapolis, Los Angeles, Seattle etc. Posso sentir uma juventude que começa a se politizar - com tudo o que está acontecendo, amadurecendo o seu olhar ao assistir este belíssimo exemplar.. E isso é muito importante.
Não é o maior trabalho de Lee, mas também não será um dos seus menores. Há uma dúzia de cenas memoráveis aqui. Somando-se isso, analisar a personalidade dos personagens me pareceu bastante interessante, como o veterano desiludido que agora vota em Trump e não confia na sombra; o cristão que parece prever onde tudo aquilo vai terminar; a empreendedora oportunista etc.
O capitalismo do Vietnã também precisa ser colocado em relevo, vai ter muito losurdiano virando o rosto para isso.
Algo que precisa ser discutido é que não apresenta saídas concretas aos problemas em questão. Enquanto arte, cumpre muito bem o seu papel, a saída caberá a nós, no fogo da discussão, consolidar.
Nós Somos do Jazz
3.6 3ou: Leningrado Não Acredita em Lágrimas!
O Visitante do Museu
3.5 8Há algum tempo espalho por aí que o melhor da Glasnost e da Perestroika, para além do seu desastre econômico e político, foi no campo artístico - trouxe aos soviéticos um cinema de força tal que só tínhamos visto nos tempos sadios da gloriosa Revolução de Outubro (1917-1927).
Isso porque, ao exemplo de Tarkovsky, Mayakovsky, Akhmátova, Shepitko, Mandelstam e tantos outros, viram-se em conflito artísticos (por sua vez também político) com a casta burocrática dominante na URSS.
Então Lopushansky, assim como tantos outros cineastas de sua geração, não apenas na RSFSR, mas em outros países, puderam colocar para fora aquilo que há tanto se apresentava oculto. Temas como religiosidade, moral, pessimismo; mas também esperança, fé, desejo (mesmo nudez) e principalmente questionamento, voltaram ao cenário poeirento de um dos cinemas mais potentes do mundo, mesmo que completamente congelado.
O descongelamento foi principalmente no campo da arte; Posetitel Muzeya está aí para provar. "Tudo deve perecer, tudo está repleto de mentiras". ~~ A sombra catastrófica e ousada de um tempo.
As Aventuras do Barão Munchausen
3.9 111 Assista AgoraO mais megalomaníaco de Terry Gilliam (convenhamos, isso não é pouca coisa), mas é o seu mais enfatuado. Custou quase 47 milhões de dólares, absurdamente mais do que anteriores. Oculto, mas ainda majestoso.
A Sombra de Stalin
3.5 58 Assista AgoraNão sabemos se Agnieszka ligou o piloto automático ou se houve algum tipo de pressão por encomenda para o filme não "sair dos trilhos", o certo é o que o resultado final é muito aquém do esperado. Entretanto, seus minutos finais e a importância do tema (sem cair em maneirismos anticomunistas) fazem deste exemplar um dos filmes mais importantes de 2019.
Nota: 7,0/10
Greve!
4.0 6Um dos meus favoritos sobre as greves do ABC no final da década de 1970. O motivo disso? Leon Hirszman, infelizmente, tinha esperança demais no picareta do Lula.
Ernest Mandel: Uma Vida Revolucionária
3.5 1"cursed be the revolutionaries who seek to make revolution halfway."