"Coisas estranhas acontecem em Bad City. Uma cidade iraniana fantasma, lar de prostitutas, viciados, cafetões e outras almas sórdidas. Um reduto de depravação e falta de esperança, onde uma vampira solitária persegue os habitantes mais repugnantes. Mas quando um garoto conhece uma garota, uma história de amor incomum começa a florescer... vermelha como o sangue."
Que mentira e exagero, meu, KKKKK. Essa sinopse aí contém mais coisas acontecendo do que o filme em si todo. Reescrevendo-a para algo mais honesto, teríamos:
"Coisas absolutamente corriqueiras acontecem em Ordinary City. Uma cidade iraniana do interior, lar de UMA prostituta, UM viciado, UM cafetão e outras almas de moral mediana que só dão as caras mesmo numa festa. Um reduto de uma putariazinha aqui e ali, já que ninguém é de ferro, e falta do que fazer (vai pra capital, meu fi), onde uma vampira antissocial persegue os habitantes mais aleatórios. Mas quando um garoto conhece uma garota (não, não uma OUTRA garota, seu bobo; é a própria vampira da frase anterior), uma história de amor babão da parte dele e apatia da parte dela começa a florescer... vermelha como o sangue, apesar de essa metáfora, por si só cafona, ser trivial aqui, já que o filme é em preto e branco e sangue é o que menos se vê neste caralho do meu cu."
Falando sério agora: Qual é o problema desta diretora roteirista? Pela segunda vez, após Amores Canibais, me senti ludibriado, desta vez especialmente pela aprovação que li na Wikipedia que o filme teve — pô, 96% dos críticos e 75% do público geral no Rotten Tomatoes. E fui vê-lo exatamente na esperança de que o primeiro filme dela, antes de algo mais comercial e hollywoodiano, pudesse retroativamente redimi-la; que decepção... Porém, ao menos aqui percebi a farsa muito antes (talvez já pelo trauma do citado Amores Canibais), tanto é que, após muuuito tempo sem fazer isto, precisei de umas três sessões para terminar o filme. Fiquei com sono quando comecei a ver inicialmente e o filme estava tão insuportavelmente sem sentido, que nem me esforcei, lavei o rosto e continuei; acho que isso já faz uns meses e só fui terminá-lo hoje. Terminei e fiquei pensando: "Sou só eu ou esta diretora tem alguma espécie de problema pesado de narcisismo artístico?" Daí, lendo o restante da página do filme na Wikipedia, leio estes dois parágrafos:
1: "People ask me, 'Why did you make A Girl Walks Home Alone at Night?' My answer is that I was lonely—that's why. But taking that a step further, the truth is that I make films to make friends and find real intimacy; a connection with others based on something that's meaningful to me. The people who make these films with you, your cast and crew—it's like they're on a vision quest with you. That is an incomparable experience. And then when the film is done and out there, the people who are attracted to your film—the audiences, festivals that embrace it, other filmmakers, artists, the critics who like what you do—those are my friends. And I don't expect to be friends with everyone." 2: "She has also said that 'every piece of the story, every character, every costume, every bit of music' is something that she 'love[s] to the point of obsession.'"
Aí eu: "Aaah..." Tá aí a confissão explícita de que, sim, ela possui algum problema com narrativas pretensiosas que são apenas exercícios cinematográficos autoindulgentes. E, honestamente, a priori, não vejo isso necessariamente como um problema, já que narcisismo artístico pode gerar obras maravilhosas. O problema é que ela acha que está dizendo algo com os seus filmes, quando não está dizendo nada. Há elementos narrativos aqui que futuramente ela tenta reaproveitar em Amores Canibais, só que, assim como nele, ela ACHA que com eles está transmitindo qualquer mensagem, mas são elementos pretensiosamente desconexos. Exemplo em ambos os filmes é a inserção de
como uma tentativa de passar qualquer que seja a mensagem abstrata que o espectador possa tirar. Outro são cenas "atmosféricas" intercaladas pelos filmes, geralmente cenas solo de personagens refletindo, passando o tempo fazendo vários nadas ou passeando aleatoriamente por aí.
E aquela vala lá recebendo corpo toda hora como uma tentativa de desenvolver um pouco a mitologia da cidade? (Tá tendo surto de peste negra nesta porra?) Corresponderia àquele lixão lá de Amores Canibais? Aqui ela ainda joga uma personagem trans numas cenas aqui e ali para — novamente — simular a existência de qualquer mensagem que o espectador precisa "entender" subjetivamente.
Puta merda.
E confesso que este — ao contrário daquela imundície indizível chamada Amores Canibais — ainda oferece algum potencial. A fotografia sombria em preto e branco é boa; a trilha sonora é interessante; o filme inicialmente parece construir o tipo de atmosfera lenta do qual, quando bem-feito e dentro duma modéstia necessária a esse tipo de proposta, eu gosto. No entanto, tudo isso é estragado não apenas por essas questões pretensiosas e desperdiçadas, mas exatamente porque ela não decide se quer criar algo nessa pegada mais abstrata ou se quer uma história mais pontual e palpável. Resultado: uma bagunça de acontecimentos do mais absoluto nada e num ritmo sem sentido.
O virjão lá tem um encontro com uma mina aleatória no meio da noite durante uma bad e já se apaixona a ponto de chamar a guria para fugir com ele após o assassinato do pai. Percebe que ela pode ter alguma relação com esse evento e mesmo assim continua com o plano; não que necessariamente tivesse de ser uma questão moral pelo assassinato do pai disfuncional e um peso na vida, mas ele simplesmente não sabe qual poderia ter sido o papel dela no evento: será que ela é a assassina? Se sim, por que teria matado o pai? Autodefesa ou um assassinato aleatório? Será que já matou mais pessoas? Será que ela não poderia se voltar contra ele futuramente também? Etc., etc. A guria — a porra duma vampira justiceira apática depressiva misantropa —, após alguns assassinatos que pelo menos parecem indicar algum propósito maior para a sua existência no contexto da cidade, reflete seriamente por 0,3 segundos e aceita. "Sabe, eu mato despropositadamente morador de rua aleatório, mas me apaixono e fujo com um guri qualquer que por algum motivo cósmico exerce um magnetismo e um fascínio capazes de domar o meu vampirismo impiedoso."
Uau. É um Crepúsculo reverso iraniano.
Nem a proposta principal em si e o perfil da protagonista nós conseguimos tatear direito, pois não são bem desenvolvidos. Não sabemos se
o cafetão foi o primeiro assassinato dela, se ela é uma nativa da cidade ou chegou recentemente, como ela se tornou uma vampira...
É claro que tais elementos misteriosos funcionam numa narrativa bem construída, mas aqui não, já que a diretora joga tudo isso fora com o romance raso de que falei no parágrafo anterior. E, afinal, o que que ela quis passar com as vítimas ou quase vítimas da vampira? Temos
os dois cuzões são homens descartáveis que atacam mulheres, então, beleza, pau no cu deles. Daí o gurizinho é um potencial futuro escroto só por ser homem, então a vampira pretensamente feminista brincando de justiceira vai lá e tenta corrigir o que o menino ainda nem fez através dum encontro esperançosamente traumático. E o morador de rua — além de que também é homem, é claro, e portanto, nas entrelinhas, deve ter feito algo ruim que justifique a sua sina, né — é apenas um estratégia narrativa enche-linguiça para mostrar o quão má ela é e contextualizar a fala dramática de resistência afetiva de que "você não me conhece. Eu fiz coisas ruins".
Puta que o caralha, viu.
O final do filme, admito, vai lá, seria até interessante num filme que funcionasse.
Ele lá, puto da vida, tendo uma crise existencial interna após o assassinato do pai, encosta o carro na estrada, sai, coloca tudo na balança brevemente, decide tocar o foda-se, volta pro carro, coloca uma música — com um estilo que se contrapõe às anteriores durante o filme, o que passa uma ideia de conclusão resignada bacana — e os dois se olham em silêncio e trocam mensagens, compreensões e acordos não verbais rumo ao imprevisível que os aguarda, com aquele gato majestoso lá de boaça no fundo para climatizar ainda mais a coisa.
Bacana, mas infelizmente esses poucos segundos finais não conseguem salvar a tragédia que é o todo aqui.
Ai, ai, ai, que pena. Lembrete mental: passar longe de qualquer coisa desta diretora futuramente. Dois já foi suficiente para me traumatizar e eu já não aguento mais escrever resenha grande para filme ruim só de raiva e recalque, kkk.
Estou esperando ansioso surgir na internet em HD para eu poder rever e de fato fazer um comentário bacana. Mas eu só queria dizer aqui o quão absoluta e indescritivelmente este filme me divertiu. Ainda nem consigo acreditar que eu tenha visto um novo Pânico no cinema e tenha acompanhado todo o desenvolvimento do projeto, tendo sido o filme que mais aguardei na vida até então.
Foi uma odisseia para eu poder ver este filme, kk. Estava na maior expectativa para o dia 14 de janeiro, mas ele só veio dublado na minha cidade (Feira de Santana, Bahia). Carai, o meu coração ficou tão triste, kk. Daí, por causa da rotina, apenas um mês depois, semana passada, eu e a minha irmã (outra grande fã da franquia) pudemos ir a Salvador exclusivamente para ver o filme legendado, hahaha. Foi um mês correndo de spoiler na internet e morrendo de ansiedade para poder ver.
Foram quase duas horas de êxtase e adrenalina totais, do começo ao fim. Caramba, bom demais; inacreditavelmente bom. O filme mais violento e possivelmente mais "assustador" de fato da franquia. O filme com a metalinguagem mais sensacional e esfregada na cara de todos; ele simplesmente ACONTECIA enquanto falava dele mesmo, praticamente cena a cena. Me diverti muito com ela por vários motivos, mas especialmente porque, com exceção de A Bruxa e parte do potencial de Hereditário, eu SEMPRE achei estes filmes de "terror elevado", como intitularam no filme, um SACO, kkk; O Babadook,
também mencionado no filme pela Tara e usado no final naquela frase superdivertida dela ("ainda prefiro O Babadook"),
foi um dos maiores desperdícios de tempo da minha vida. Enfim, a metalinguagem do filme possui muitas camadas a serem desbravadas de críticas, análises, zoeiras e referências e aquela cena lá
em que a Mindy explica o conceito de um "requel" e o que o assassino está tentando fazer
é uma das cenas mais genialmente divertidas de todos os filmes.
Não só é obviamente uma carta de amor ao Wes, à franquia e aos fãs, mas é uma demonstração de excelência de roteiristas e diretores que são claramente fãs do gênero terror e entendem o que rolou no passado e o que está rolando no presente com ele. É tão bom saber que a franquia conseguiu se manter absurdamente boa até um quinto filme (vá lá: todos sabemos que o terceiro perde a mão um tanto, mas ainda serve num contexto geral) e isso me deixa dividido em relação a esse sexto aí que já foi autorizado. Quem volta e como?
Além da Sidney e da Gale como personagens tradicionais (e o que justificaria elas sobreviverem mais uma vez, se fosse o caso...? Não sei se faria qualquer sentido, a esta altura do campeonato, matar a Sidney, por exemplo), temos aí quatro que ficaram vivos dos novos. Se voltarem, quem morre? Algum poderia ser o assassino? E a Kirby, que foi confirmada como sobrevivente (detalhe que perdi e vi depois na Wikipedia, kk), volta?
Enfim, só consigo resumir este filme com a palavra "lindo". Lindo mesmo. Cenas como
aquela morte simultaneamente linda, triste, épica e histórica do Dewey; a reação da Gale a ela; a revelação da Amber; a revelação do Richie; a morte deles (caralho, que coisa linda foi a Sam cortando o pescoço dele <3); a abertura com a Tara; toda a cena da Judy e do Wes, culminando na morte dos dois; a ligação do Dewey para a Sidney; o reencontro dele com a Gale; o reencontro dela com a Sidney; o papo delas com a Sam ainda no hospital; a briga toda delas com a Amber;
e tantas outras estão facilmente entre as melhores de toda a franquia — violentas, divertidas, emocionantes e/ou enérgicas. Como nunca tive problema algum em achar qualquer sequência que fosse melhor do que um clássico, um original, por mais que ele possua uma importância histórica emblemática, o meu ranking possivelmente fica assim: 5 > 4 > 2 > 1 > 3.
RAINHA DAS TREVAS DO MEU CORAÇÃO. Eu tô todo arreganhado e não precisa nem de lubrificante — vem ne mim sem pena, Scream.
Parte séria e textão do post:
A minha possivelmente predileta e quase irretocável franquia de terror pop está de volta. Tô há mais de um ano acompanhando as notícias e os últimos dias foram de ansiedade pelo trailer. Tô nem acreditando. Scream sequer é da minha geração: sou de 93 e tinha 3 anos quando o primeiro filme se tornou um clássico instantâneo para aquela geração. Vinte e cinco anos depois e olha eu aqui tendo a oportunidade de acompanhar um novo lançamento da franquia, torcendo para que se torne um grande fenômeno da minha e das gerações mais novas.
Espero que todos os elementos que sempre compuseram e deram identidade à franquia permaneçam neste novo filme: a metalinguagem zoeira e escrachada, as autorreferências e a crítica semi-hipócrita aos clichês do gênero slasher, o humor atrelado ao terror, as atuações supercarismáticas... Porém, como diz o Dewey no trailer, algo parece diferente desta vez. O tom parece mais sério, mais sombrio; as promessas têm sido de muito mais violência e sangue (quero!!!); parece haver mais confronto físico, perseguição e investigação (talvez a maior falha do quarto filme em comparação aos predecessores); a atmosfera parece mais adulta e impiedosa. Já foram quatro vezes que os personagens principais tiveram de enfrentar o Ghostface, afinal; tá todo mundo de saco cheio e sem tempo para esse filho da puta maravilhoso do caralho e "ele" também não parece mais ter motivos reles para a matança que abram brechas consequentes de sobrevivência para os mocinhos. Tá todo mundo com sangue no zói pelos seus próprios motivos (assim espero).
Tudo isso para mim parece ser o rumo natural que a franquia teria de tomar para ser bem-sucedida num quinto lançamento que se arroga ser um reboot da porra toda. Com os erros eventuais, são quatro filmes que considero absolutamente fantásticos e divertidos e que mantiveram uma qualidade equilibrada que poucas franquias conseguem manter por muito tempo. Porém, uma quinta história, com o mesmo trio que é o coração da franquia e que sempre sobrevive, com uma premissa já usada e abusada — apesar de que com maestria até então —, precisa ser muito bem engendrada para funcionar, especialmente por ser o primeiro filme da franquia sem a direção do Mestre do Terror Wes Craven. Tudo parece apontar que será: da direção dos caras do divertido "Ready or Not", à participação executiva do escritor original, até obviamente o envolvimento garantido a duras penas do trio principal.
De qualquer modo, é uma aposta no escuro. Várias franquias de terror clássicas têm sido revividas e o resultado varia. Por exemplo, "Chucky" está para lançar uma série que parece ser muito divertida, mas vai depender: o penúltimo filme foi muito bom, mas pelo último nutro sentimentos antagônicos. Já "Halloween" acertou em CHEIÍSSIMO com o filme de 2018 e aparentemente acertará novamente com a sequência que estreia esta semana, culminando com o fim da nova trilogia no ano que vem. (Laurie Strode e Sidney Prescott, briguem aí para decidir quem lidera o meu coração.)
A minha esperança é que o mesmo aconteça com Scream e que este novo filme seja o primeiro duma nova trilogia que pode, acredito, se fizer o esforço necessário, levar a narrativa atual e os personagens centrais com decência até o fim — mais do que disso (ou antes, despindo-me dum olhar de fã voraz), a coisa possivelmente já não faria sentido. De qualquer modo, creio que desta vez alguém do trio principal vá descer sete palmos e creio que eu esteja simultaneamente preparado e não preparado para isso. :'(
E, ai, encarnando o nerdão de novo para concluir: Será que na história haverá um novo "Stab" baseado nos eventos do quarto filme? Se sim, como os criadores fictícios do filme dentro do filme farão para conciliar um novo lançamento baseado em "fatos reais" com os anteriores "fictícios"? A franquia "Stab" tem sido um elemento bem importante pro universo metalinguístico de Scream desde o segundo filme, então seria uma falta se a negligenciassem agora. AAAH. Muitas perguntas, então pararei por aqui.
Puta que pariu. Cara, fazia era tempo que eu não via algo tão absoluta, indescritível, despropositadamente ruim assim. Não consigo entender como alguma coisa assim consegue ser desenvolvida e em nenhum estágio da produção alguém para e fala: "Cara, que merda é esta que estamos fazendo? Na boa, bora parar por aqui, fingir que nada aconteceu e usar o restante do orçamento para tomar umas breja?"
Me senti ludibriado pelo trailer. Vendo ele, o filme promete ser legal e empolga. A ideia que tive era que a guria chegaria à terra abandonada, se envolveria em algum confronto em andamento e nele, em algum momento, é que ela
logo no começo do filme, ainda assim fiquei empolgado pensando que, poxa, se logo de cara o filme tinha entregado aquilo, era porque ele seria bem intenso e teria muita coisa legal acontecendo. Nesse momento, em algum lugar das profundezas do inferno, Satanás gargalhou com a minha ingenuidade e me mandou o emoji de palhaço no WhatsApp.
A cada dez minutos que se passavam, eu simplesmente ficava incrédulo e as minhas esperanças iam diminuindo. Nada, absolutamente NADA de importante acontece ou existe neste filme; não há um propósito, uma mensagem, um enredo coeso; não sai de lugar nenhum e não chega a lugar nenhum. É tão confuso e abobado quanto a personagem principal. Nenhum dos personagens, dos elementos, dos ambientes do filme..., possui qualquer sentido ou justificativa. O tal do Conforto? Inútil. O personagem do Keanu Reeves? Inútil. A distopia proposta pelo filme de um lugar sem lei? Inútil. Os canibais? Inúteis. Os "perigos" do deserto? Inúteis. A tentativa de criar um pano de fundo relevante pro personagem do Jason Momoa? Inútil. As raves e as drogas psicodélicas como elementos narrativos? Inúteis.
Cara, o filme é, no sentido mais seco e direto da palavra, ruim. É, tipo, RUIM mesmo. Caramba, é inaceitavelmente ruim, kk. É tão ruim, que tô aqui perdendo ainda mais o meu tempo para escrever uns parágrafos sobre ele, só de recalque mesmo. Terminei a sessão absolutamente atônito por ter perdido duas horas da minha vida na maior expectativa de me entreter com qualquer singelo momento que justificasse a existência desta merda. Acho que ele foi um grande delírio coletivo de todos os envolvidos na sua criação, do estúdio aos produtores, da diretora aos atores.
Há tempo estava querendo ver este filme, por ler em TODO canto que ele é absolutamente chocante, provocativo, violento e blasfemo; é só ler a própria sinopse aqui no Filmow. Terminei de vê-lo agora igual ao meme da Milena: "Nooossa... [cara de cu]"
É uma tentativa tão canhestra de chocar com uma pretensa justificativa niilista, metafórica e "reflexiva" de fundo. Foi um sofrimento para mim, pois o filme leva bem meia hora para entregar a primeira grande cena "gore" e "chocante", que é no máximo levemente interessante.
Na última história, sim, finalmente há duas cenas de gore pervertidas e provocativas bem legais
— a cena do pênis sendo dilacerado e a coisa toda lá do "Jesus" —,
mas mesmo elas falham em transmitir qualquer coisa além do entretenimento visual e, além disso, a essa altura do campeonato, eu só queria que o filme terminasse logo. Por essas duas cenas; pela trilha sonora, que é até atmosférica e interessante; e pela boa fotografia em alguns momentos (apesar de que não chegou nem perto de me causar desconforto, como é o caso da fotografia de Irréversible, por exemplo), estou dando esta nota em vez de zerar a coisa.
Não há mais o que comentar para mim não; uma hora e meia perdida para mim. Não sei se me decepcionei mais com este filme ou com aquele outro lixo chamado Begotten, outra besteira pretensamente artística.
E não me entendam mal: Amo gore, amo uma boa podreira, amo uns lixos feitos só para provocar. Porém, quando a coisa é só um punhado de cenas extremas escassamente espalhadas pelo filme e o resto é um monte de blá-blá-blá infindável sem sentido, sem enredo, sem qualquer conexão (mesmo que confusa, mesmo que não linear), acaba sendo apenas uma tentativa pífia e narcísica de criar algo "para poucos entenderem".
Aos fãs de filme extremo: Nem percam o seu tempo. Vão procurar algo melhor.
Aaai, descobri agora que vai rolar mesmo o quinto filme — meu Deus! *_* Já quero! É uma das minhas franquias favoritas e vai ser o primeiro filme cujo lançamento vou de fato aguardar. <3
Muito massa! Haha. Assisti todo anteontem no YouTube; me diverti pra carai! Kkk. O Murilo deve ser um dos meus comediantes de stand-up preferidos no Brasil, juntamente com o Léo Lins e o Rafinha Bastos (não que eu de fato acompanhe muitos...); só ficava vendo umas coisas aleatórias dele no YouTube e agora finalmente assisti a este show completo e isso só ficou comprovado.
O estilo de humor negro do Murilo talvez não seja tão direto e "agressivo" quanto o do Léo Lins, por exemplo, mas é muito sarcástico e funciona demais, especialmente por causa da atuação dele, com esse jeitão de maluco drogado que eu acho muito autêntico nele, a ponto de eu não conseguir saber se é só um personagem ou ele é marromenos assim mesmo na vida real, kk. Mesmo depois de eu já conhecer a piada, eu me pego voltando a um trecho e ainda assim achando muita graça EXATAMENTE por causa da atuação dele e do seu humor físico e ligado à forma como fala (gírias, ritmo, tons de voz...).
Além disso, o show fluiu muito bem para mim — ele conseguiu emendar as diferentes seções do show de maneira muito natural, uma puxando a outra. A única parte que achei sem graça foi a introdução como rapper (achei bestinha demais =P); em compensação, as minhas partes favoritas
— a parte sobre ser necessário violência na vida, a briga do amigo e o final, tratando das religiões —
são de cagar mesmo, KKK. E aquele final, conversando ca galera e improvisando ali as respostas, foi sensacional, KKK; ele pensa muito rapidamente e consegue encaixar excelentes piadas na hora. Foda! Também,
sem comentários para os funks gospel, kkk — reassisti a essa parte umas vinte vezes seguidas, hahaha. As letras, os passinhos deles e as caras do Murilo são demais!
"Sabe aquele barulho seco, de nuca, no cimento...?" "Calma, galera... Foi ele." "O Luan Santana, ele tem um jato. Um jato, o Luan Santana, ele tem. Um jato, o Luan Santana... Um jato." "Tu viu teu tio... — mas ele já tinha morrido, né?" "Crime, crime, crime, crime, pagode, Universal."
KKK! Muito bom. Espero poder ver um show dele futuramente presencialmente!
Vi este documentário há algumas semanas pelo YouTube — nem sabia da existência dele antes. Muito foda!
Sou baiano e a Pitty teve um bom impacto na minha vida, mas não da forma mais "direta" e "normal" como com outros roqueiros baianos, imagino. Não tive contato instantâneo quando ela estourou com os dois primeiros álbuns, por vários motivos (criação religiosa; contato tardio com a música e com o rock; falta de acesso a CDs, rádios e programas de música; etc...). Porém, em algum momento eu tive contato com — naturalmente — os singles clássicos dela e daí ela teve algum impacto paralelo enquanto eu ia descobrindo o meu caminho pela música e pelo rock. Só que o primeiro álbum dela que realmente fui pegar inteiro, certinho, foi de fato o SETEVIDAS — e, puts, que surpresa! Em comparação aos trabalhos anteriores dela (especialmente o Chiaroscuro, que peguei todo pouco depois e que contém canções muito legais, mas não me agrada como um todo (além de ter aquela pavorosa "Me Adora")), de cara o álbum demonstra todo o amadurecimento da Pitty e da banda — musical, lírica e conceitualmente.
Toda a vibe de "tudo sendo feito ao vivo" foi bem transmitida para as músicas tocadas aqui no documentário. A banda toda está muito bem afinada e a Pitty, além de cantar muito bem, consegue interpretar de modo muito pessoal e verdadeiro as letras. E que letras, hein! De descrições de relações íntimas e sexo despudorado em "Um Leão" e "Pequena Morte" a uma crítica muito pertinente (e pessoal, segundo a explicação da Pitty!) à loucura ansiosa e "gulosa" da era moderna em "Boca Aberta", às tantas possibilidades de análises da crítica feita em "A Massa", aos explícitos louvores à transformação e ao amadurecimento em "SETEVIDAS" e "Serpente". Foi muito legal assistir aqui ao documentário, ouvir os depoimentos deles, e perceber como há todo um conceito ligando todas as canções do álbum de modo muito mais coeso do que eu havia percebido por mim mesmo. (Vou precisar depois ouvi-lo de novo para tentar fazer essa "jornada" do eu lírico do começo ao fim, passando por todo o processo de mudança e superação que a Pitty descreve.)
Também é muito legal ver todo o processo de composição em relação à parte instrumental (que é o que me interessa mais). Não sabia que a Pitty detinha tanto controle assim sobre isso e também que tocava tantos instrumentos! Muito bom ver a dinâmica dela com a banda, dando-lhes liberdade para trazerem as suas próprias personalidades às composições também, e muito bom ver o quão comprometidos todos são com os seus próprios instrumentos e com a identidade do grupo junto. Todos parecem ser excelentes instrumentistas e o Paulo Kishimoto foi uma adição sensacional! Uma das coisas que de cara me fizeram me apaixonar pelo álbum foram todos os instrumentos extras, que me fizeram ouvir o álbum muito atentamente, cada vez tentando sacar uma coisa nova (guitarra lap steel, diversos teclados e sintetizadores, muitas coisas de percussão... Inclusive é muito divertido vê-la toda empolgada com aqueles instrumentos adicionais todos, brincando com eles e criando no processo todas aquelas adições que vemos nas músicas). Igualmente foi muito legal ver como a "Olho Calmo" foi gerada. Senti muita, mas muita falta da minha música favorita não só do álbum, mas como da carreira toda da Pitty, "Lado de Lá", e de mais informações sobre ela, mas obviamente entendo o porquê. Houve ali uma pincelada nela quando a Pitty menciona "mortes literais e metafóricas" e também há a cena de ela improvisando ali aquela parte final absoluta e belamente épica da música (com ela jogando toda a alma no vocal e no piano enquanto a banda sustenta com uma base pesadíssima e onipresente) — ver pelo menos esse cadinho do processo de criação dessa obra-prima valeu muito a pena.
Os outros aspectos do documentário também dispensam comentários: os depoimentos todos, a fotografia "crua" e bem "de garagem", as cenas escolhidas...; é tudo muito foda. Este álbum é simplesmente um produto excelente do que há de melhor num tipo de rock amadurecido, reflexivo, melancólico e bem lapidado (o que não é para todos, pois não é comercial nem de digestão muito fácil a princípio). Ainda não escutei o disco mais recente dela, então não sei o que esperar dele (apesar de não ter gostado do direcionamento atual dela nas últimas músicas que ouvi no YouTube), mas espero fortemente que ela possa nos oferecer algo como o SETEVIDAS novamente no futuro — é onde ela se encontrou e o que de melhor já pude ouvir dela (pena que eu não tenha podido ir a nenhum show da turnê na época... :/). Deu até vontade de ouvir o álbum todo agora de novo. =P
eu, ontem: "eita! finalmente Bacurau está disponível no Popcorn Time. simbora ver se esta bosta é realmente legal como dizem."
eu, hoje: "meh." (para quem ainda não viu o filme: há pequenas indicações sobre o roteiro e spoilers leves de certas cenas nos próximos parágrafos, mas imagino que nada grande ou muito revelador realmente. vou pôr a tag de spoiler em alguns trechos mais explícitos, mas fiquem avisados.)
a impressão que tive é que o filme não decide se quer ser uma variação da premissa de Hostel (saudades! <3); um faroeste gore moderno; uma crítica político-ideológica bem clara ao "imperialismo", à "síndrome de vira-lata", à xenofobia que se percebe vinda do Sul/Sudeste contra o Nordeste e à indiferença em relação à nossa própria cultura e população (tudo válido, mas maçantemente batido, meio caricato já e bem menos distópico como o pessoal costuma pintar); ou uma bela ode à cultura e ao modo de viver nordestinos (a coisa da cidade pequena com a sua rotina comunitária acolhedora, compartilhada e autossuficiente; a matriarca com incontáveis descendentes que praticamente personifica o espírito da cidade; o político demagogo explorador das necessidades específicas da região (como a falta d'água e de materiais escolares); o violeiro improvisador tirador de onda; uma certa espiritualidade sincretista e "secular" vivida pela população; todo o rico vernáculo, as gírias, o sotaque...), além de trocentas referências a fenômenos sociais, culturais e históricos (coisas expostas no museu da cidade; a capoeira; conhecimento e medicina nativos; a coisa do "travesti cangaceiro" representada no personagem do tal do Lunga; o "paredão" do "DJ" lá; etc., etc...). no fim, tenta ser cada uma dessas coisas separada e simultaneamente e daí deslancha sem rumo.
o erro principal do filme para mim é exatamente aquele que já comentei algumas vezes em relação a outros filmes (geralmente os modernosos pretensiosos do terror psicológico): tempo perdido de mais com a ambientação da coisa e muita pressa nos últimos 30, 40 minutos. a ambientação no sertão pernambucano é excelente, a fotografia é linda, a trilha sonora é muito boa e as atuações, sim, são o forte do filme (honestamente: não sabia que tínhamos tantos excelentes atores assim na nossa safra. ou deram sorte de achar ótimos figurantes?). porém, eles desperdiçam demais, DEMAIS, o potencial da história. além duma simbologia muito pobremente encaixada em dado momento e do papel introdutório de contextualização, a função da matriarca da cidade e a ligação dela com os eventos que sucedem são irrelevantes (que seriam a premissa básica do filme indicada na sinopse). igualmente, a ligação
do político local com o infortúnio da cidade (e a consequente crítica que advém daí) é muito fracamente delineada, ficando bem aberta à interpretação de cada um, exatamente pela pressa do roteiro lá pelo fim (sendo que sequer faz sentido ele ter aparecido lá pelo começo do filme para falar sobre a sua reeleição, nem faz sentido ele ir depois ver o resultado do massacre esperado por conta própria, desprotegido e vulnerável).
a coisa da retirada da cidade do mapa e da desconexão com a tecnologia também fica meio perdida no roteiro, contrastando com a excelente retratação da nossa realidade moderna, na qual celulares, tablets e "grupos de Zap-zap" ironicamente se mesclam à pobreza, às necessidades materiais e à penúria intelectual da população, gerando o "pão e circo" moderno e uma cultura de glorificação da violência como entretenimento e justiçamento. adicionalmente em relação a essa cultura da violência, há uma incômoda e consciente omissão de mais informações sobre o personagem do Lunga para claramente criar um mito em torno dele como o criminoso relativizado pelo seu "cuidado" com a população local. do mesmo modo, mas em menor escala, isso acontece com o personagem do Pacote, que pode ou não ter cometido aqueles crimes — vistos e revistos como o bom e velho entretenimento local — compilados naquele vídeo (é mas provável que os tenha cometido, já que ele só se defende em relação a um deles) e que também é normalizado e volta ao convívio social sem que pague pelo que fez e sem nenhum grande repúdio dos habitantes — isso é, na verdade, um mero detalhe na apresentação do personagem.
induzida pelos psicotrópicos culturalmente aceitos por todos,
e não um ato feito de modo sóbrio, corajoso (mesmo que impetuoso) e de cara limpa (obviamente tudo isso é aceito e bem-vindo numa ficção, mas refiro-me às entrelinhas das críticas propostas pela obra). infelizmente são retratações que sabemos que condizem com a realidade do país em determinadas áreas e a tentativa de heroificação desses personagens vai funcionar menos ou mais dependendo da predisposição de cada um em aceitar essas proposições relativistas. (tudo isto lembrou-me um pouco o recente filme do Coringa, inclusive — resguardadas as devidas proporções, já que este é muito mais neutro e denso na sua exposição social e psicológica do personagem, sendo muito mais difícil defender (ao contrário do que se tem tentado fazer) que o filme tenda a justificar uma visão ou outra, enquanto Bacurau é mais explícito na sua tendência neste aspecto.)
em relação ao outro lado da premissa do filme, a participação dos gringos,
(aquela cena da briga entre os americanos por causa da criança assassinada lá é simplesmente deslocada, irrelevante e enche-linguiça).
a simbologia do "drone disco voador" também é desperdiçada e jogada ao léu (pensei que se fosse traçar um paralelo com tantos "causos" de fenômenos do tipo relatados por populações de comunidades afastadas, exatamente para que com isso eles ignorassem a ameaça iminente...). puts, até as próprias mortes (espaçadas demais pro meu gosto) falham em gerar grandes impactos à história e são um outro ponto apressado (como disse um dos americanos,
enfim, é uma pena. talvez eu tenha ficado empolgado demais com todo o auê e tal e por isso a decepção (talvez o filme empolgue mais quem ache que seja uma grande descoberta do fogo e se sinta identificado com este tipo de crítica unilateral, ansiosa e muito, muito reducionista ao "imperialismo", ao que se percebe como xenofobia dentro do próprio país e a coisas afins, que deveriam ser extirpados através duma certa "reação do oprimido" — não é o meu caso). de qualquer modo, dou 6/10 de nota, porque, afinal, consegui me divertir e a ambientação e as atuações são realmente excelentes — é inclusive verdadeiramente bacana como há uma diferença muito grande de atmosfera cultural e de dinâmica interpessoal entre as cenas com os personagens brasileiros, em português, e as cenas com a gringada, em inglês, apesar de haver alguns clichês na atuação dos gringos (e essa diferença é realmente realçada na emblemática cena
da "reunião" lá entre os gringos e os brasileiros).
talvez o filme não tenha cumprido, para mim, toda a sua ambição (inclusive a ambição válida, mas perigosa, de mesclar tantos gêneros num produto só), mas pode ser uma porta de entrada para mais filmes brasileiros neste naipe e que ao menos ousem tentar algo novo no nosso cinema. tá valendo, então.
Garota Sombria Caminha Pela Noite
3.7 343 Assista Agora"Coisas estranhas acontecem em Bad City. Uma cidade iraniana fantasma, lar de prostitutas, viciados, cafetões e outras almas sórdidas. Um reduto de depravação e falta de esperança, onde uma vampira solitária persegue os habitantes mais repugnantes. Mas quando um garoto conhece uma garota, uma história de amor incomum começa a florescer... vermelha como o sangue."
Que mentira e exagero, meu, KKKKK. Essa sinopse aí contém mais coisas acontecendo do que o filme em si todo. Reescrevendo-a para algo mais honesto, teríamos:
"Coisas absolutamente corriqueiras acontecem em Ordinary City. Uma cidade iraniana do interior, lar de UMA prostituta, UM viciado, UM cafetão e outras almas de moral mediana que só dão as caras mesmo numa festa. Um reduto de uma putariazinha aqui e ali, já que ninguém é de ferro, e falta do que fazer (vai pra capital, meu fi), onde uma vampira antissocial persegue os habitantes mais aleatórios. Mas quando um garoto conhece uma garota (não, não uma OUTRA garota, seu bobo; é a própria vampira da frase anterior), uma história de amor babão da parte dele e apatia da parte dela começa a florescer... vermelha como o sangue, apesar de essa metáfora, por si só cafona, ser trivial aqui, já que o filme é em preto e branco e sangue é o que menos se vê neste caralho do meu cu."
Falando sério agora: Qual é o problema desta diretora roteirista? Pela segunda vez, após Amores Canibais, me senti ludibriado, desta vez especialmente pela aprovação que li na Wikipedia que o filme teve — pô, 96% dos críticos e 75% do público geral no Rotten Tomatoes. E fui vê-lo exatamente na esperança de que o primeiro filme dela, antes de algo mais comercial e hollywoodiano, pudesse retroativamente redimi-la; que decepção... Porém, ao menos aqui percebi a farsa muito antes (talvez já pelo trauma do citado Amores Canibais), tanto é que, após muuuito tempo sem fazer isto, precisei de umas três sessões para terminar o filme. Fiquei com sono quando comecei a ver inicialmente e o filme estava tão insuportavelmente sem sentido, que nem me esforcei, lavei o rosto e continuei; acho que isso já faz uns meses e só fui terminá-lo hoje. Terminei e fiquei pensando: "Sou só eu ou esta diretora tem alguma espécie de problema pesado de narcisismo artístico?" Daí, lendo o restante da página do filme na Wikipedia, leio estes dois parágrafos:
1: "People ask me, 'Why did you make A Girl Walks Home Alone at Night?' My answer is that I was lonely—that's why. But taking that a step further, the truth is that I make films to make friends and find real intimacy; a connection with others based on something that's meaningful to me. The people who make these films with you, your cast and crew—it's like they're on a vision quest with you. That is an incomparable experience. And then when the film is done and out there, the people who are attracted to your film—the audiences, festivals that embrace it, other filmmakers, artists, the critics who like what you do—those are my friends. And I don't expect to be friends with everyone."
2: "She has also said that 'every piece of the story, every character, every costume, every bit of music' is something that she 'love[s] to the point of obsession.'"
Aí eu: "Aaah..." Tá aí a confissão explícita de que, sim, ela possui algum problema com narrativas pretensiosas que são apenas exercícios cinematográficos autoindulgentes. E, honestamente, a priori, não vejo isso necessariamente como um problema, já que narcisismo artístico pode gerar obras maravilhosas. O problema é que ela acha que está dizendo algo com os seus filmes, quando não está dizendo nada. Há elementos narrativos aqui que futuramente ela tenta reaproveitar em Amores Canibais, só que, assim como nele, ela ACHA que com eles está transmitindo qualquer mensagem, mas são elementos pretensiosamente desconexos. Exemplo em ambos os filmes é a inserção de
uma rave e do uso de drogas
E aquela vala lá recebendo corpo toda hora como uma tentativa de desenvolver um pouco a mitologia da cidade? (Tá tendo surto de peste negra nesta porra?) Corresponderia àquele lixão lá de Amores Canibais? Aqui ela ainda joga uma personagem trans numas cenas aqui e ali para — novamente — simular a existência de qualquer mensagem que o espectador precisa "entender" subjetivamente.
E confesso que este — ao contrário daquela imundície indizível chamada Amores Canibais — ainda oferece algum potencial. A fotografia sombria em preto e branco é boa; a trilha sonora é interessante; o filme inicialmente parece construir o tipo de atmosfera lenta do qual, quando bem-feito e dentro duma modéstia necessária a esse tipo de proposta, eu gosto. No entanto, tudo isso é estragado não apenas por essas questões pretensiosas e desperdiçadas, mas exatamente porque ela não decide se quer criar algo nessa pegada mais abstrata ou se quer uma história mais pontual e palpável. Resultado: uma bagunça de acontecimentos do mais absoluto nada e num ritmo sem sentido.
O virjão lá tem um encontro com uma mina aleatória no meio da noite durante uma bad e já se apaixona a ponto de chamar a guria para fugir com ele após o assassinato do pai. Percebe que ela pode ter alguma relação com esse evento e mesmo assim continua com o plano; não que necessariamente tivesse de ser uma questão moral pelo assassinato do pai disfuncional e um peso na vida, mas ele simplesmente não sabe qual poderia ter sido o papel dela no evento: será que ela é a assassina? Se sim, por que teria matado o pai? Autodefesa ou um assassinato aleatório? Será que já matou mais pessoas? Será que ela não poderia se voltar contra ele futuramente também? Etc., etc. A guria — a porra duma vampira justiceira apática depressiva misantropa —, após alguns assassinatos que pelo menos parecem indicar algum propósito maior para a sua existência no contexto da cidade, reflete seriamente por 0,3 segundos e aceita. "Sabe, eu mato despropositadamente morador de rua aleatório, mas me apaixono e fujo com um guri qualquer que por algum motivo cósmico exerce um magnetismo e um fascínio capazes de domar o meu vampirismo impiedoso."
Nem a proposta principal em si e o perfil da protagonista nós conseguimos tatear direito, pois não são bem desenvolvidos. Não sabemos se
o cafetão foi o primeiro assassinato dela, se ela é uma nativa da cidade ou chegou recentemente, como ela se tornou uma vampira...
um cuzão cafetão, um cuzão velho viciado, um morador de rua e um garoto qualquer que é apenas... um garoto qualquer.
os dois cuzões são homens descartáveis que atacam mulheres, então, beleza, pau no cu deles. Daí o gurizinho é um potencial futuro escroto só por ser homem, então a vampira pretensamente feminista brincando de justiceira vai lá e tenta corrigir o que o menino ainda nem fez através dum encontro esperançosamente traumático. E o morador de rua — além de que também é homem, é claro, e portanto, nas entrelinhas, deve ter feito algo ruim que justifique a sua sina, né — é apenas um estratégia narrativa enche-linguiça para mostrar o quão má ela é e contextualizar a fala dramática de resistência afetiva de que "você não me conhece. Eu fiz coisas ruins".
O final do filme, admito, vai lá, seria até interessante num filme que funcionasse.
Ele lá, puto da vida, tendo uma crise existencial interna após o assassinato do pai, encosta o carro na estrada, sai, coloca tudo na balança brevemente, decide tocar o foda-se, volta pro carro, coloca uma música — com um estilo que se contrapõe às anteriores durante o filme, o que passa uma ideia de conclusão resignada bacana — e os dois se olham em silêncio e trocam mensagens, compreensões e acordos não verbais rumo ao imprevisível que os aguarda, com aquele gato majestoso lá de boaça no fundo para climatizar ainda mais a coisa.
Ai, ai, ai, que pena. Lembrete mental: passar longe de qualquer coisa desta diretora futuramente. Dois já foi suficiente para me traumatizar e eu já não aguento mais escrever resenha grande para filme ruim só de raiva e recalque, kkk.
Nota final: 2/10.
A Tristeza
3.4 230Não conseguia parar de sorrir com a podridão deste filme, kkk. Bom demais.
Escolha ou Morra
2.1 242 Assista AgoraEu não entendi foi é nada?
Pânico
3.4 1,1K Assista AgoraEstou esperando ansioso surgir na internet em HD para eu poder rever e de fato fazer um comentário bacana. Mas eu só queria dizer aqui o quão absoluta e indescritivelmente este filme me divertiu. Ainda nem consigo acreditar que eu tenha visto um novo Pânico no cinema e tenha acompanhado todo o desenvolvimento do projeto, tendo sido o filme que mais aguardei na vida até então.
Foi uma odisseia para eu poder ver este filme, kk. Estava na maior expectativa para o dia 14 de janeiro, mas ele só veio dublado na minha cidade (Feira de Santana, Bahia). Carai, o meu coração ficou tão triste, kk. Daí, por causa da rotina, apenas um mês depois, semana passada, eu e a minha irmã (outra grande fã da franquia) pudemos ir a Salvador exclusivamente para ver o filme legendado, hahaha. Foi um mês correndo de spoiler na internet e morrendo de ansiedade para poder ver.
Foram quase duas horas de êxtase e adrenalina totais, do começo ao fim. Caramba, bom demais; inacreditavelmente bom. O filme mais violento e possivelmente mais "assustador" de fato da franquia. O filme com a metalinguagem mais sensacional e esfregada na cara de todos; ele simplesmente ACONTECIA enquanto falava dele mesmo, praticamente cena a cena. Me diverti muito com ela por vários motivos, mas especialmente porque, com exceção de A Bruxa e parte do potencial de Hereditário, eu SEMPRE achei estes filmes de "terror elevado", como intitularam no filme, um SACO, kkk; O Babadook,
também mencionado no filme pela Tara e usado no final naquela frase superdivertida dela ("ainda prefiro O Babadook"),
em que a Mindy explica o conceito de um "requel" e o que o assassino está tentando fazer
Não só é obviamente uma carta de amor ao Wes, à franquia e aos fãs, mas é uma demonstração de excelência de roteiristas e diretores que são claramente fãs do gênero terror e entendem o que rolou no passado e o que está rolando no presente com ele. É tão bom saber que a franquia conseguiu se manter absurdamente boa até um quinto filme (vá lá: todos sabemos que o terceiro perde a mão um tanto, mas ainda serve num contexto geral) e isso me deixa dividido em relação a esse sexto aí que já foi autorizado. Quem volta e como?
Além da Sidney e da Gale como personagens tradicionais (e o que justificaria elas sobreviverem mais uma vez, se fosse o caso...? Não sei se faria qualquer sentido, a esta altura do campeonato, matar a Sidney, por exemplo), temos aí quatro que ficaram vivos dos novos. Se voltarem, quem morre? Algum poderia ser o assassino? E a Kirby, que foi confirmada como sobrevivente (detalhe que perdi e vi depois na Wikipedia, kk), volta?
Enfim, só consigo resumir este filme com a palavra "lindo". Lindo mesmo. Cenas como
aquela morte simultaneamente linda, triste, épica e histórica do Dewey; a reação da Gale a ela; a revelação da Amber; a revelação do Richie; a morte deles (caralho, que coisa linda foi a Sam cortando o pescoço dele <3); a abertura com a Tara; toda a cena da Judy e do Wes, culminando na morte dos dois; a ligação do Dewey para a Sidney; o reencontro dele com a Gale; o reencontro dela com a Sidney; o papo delas com a Sam ainda no hospital; a briga toda delas com a Amber;
Nota final: 1 milhão/10.
Pânico
3.4 1,1K Assista Agora"I'm Sidney Prescott—of course I have a gun."
Permitem-me um momento de surto descontrolado?
A.
Obrigado.
RAINHA DAS TREVAS DO MEU CORAÇÃO. Eu tô todo arreganhado e não precisa nem de lubrificante — vem ne mim sem pena, Scream.
Parte séria e textão do post:
A minha possivelmente predileta e quase irretocável franquia de terror pop está de volta. Tô há mais de um ano acompanhando as notícias e os últimos dias foram de ansiedade pelo trailer. Tô nem acreditando. Scream sequer é da minha geração: sou de 93 e tinha 3 anos quando o primeiro filme se tornou um clássico instantâneo para aquela geração. Vinte e cinco anos depois e olha eu aqui tendo a oportunidade de acompanhar um novo lançamento da franquia, torcendo para que se torne um grande fenômeno da minha e das gerações mais novas.
Espero que todos os elementos que sempre compuseram e deram identidade à franquia permaneçam neste novo filme: a metalinguagem zoeira e escrachada, as autorreferências e a crítica semi-hipócrita aos clichês do gênero slasher, o humor atrelado ao terror, as atuações supercarismáticas... Porém, como diz o Dewey no trailer, algo parece diferente desta vez. O tom parece mais sério, mais sombrio; as promessas têm sido de muito mais violência e sangue (quero!!!); parece haver mais confronto físico, perseguição e investigação (talvez a maior falha do quarto filme em comparação aos predecessores); a atmosfera parece mais adulta e impiedosa. Já foram quatro vezes que os personagens principais tiveram de enfrentar o Ghostface, afinal; tá todo mundo de saco cheio e sem tempo para esse filho da puta maravilhoso do caralho e "ele" também não parece mais ter motivos reles para a matança que abram brechas consequentes de sobrevivência para os mocinhos. Tá todo mundo com sangue no zói pelos seus próprios motivos (assim espero).
Tudo isso para mim parece ser o rumo natural que a franquia teria de tomar para ser bem-sucedida num quinto lançamento que se arroga ser um reboot da porra toda. Com os erros eventuais, são quatro filmes que considero absolutamente fantásticos e divertidos e que mantiveram uma qualidade equilibrada que poucas franquias conseguem manter por muito tempo. Porém, uma quinta história, com o mesmo trio que é o coração da franquia e que sempre sobrevive, com uma premissa já usada e abusada — apesar de que com maestria até então —, precisa ser muito bem engendrada para funcionar, especialmente por ser o primeiro filme da franquia sem a direção do Mestre do Terror Wes Craven. Tudo parece apontar que será: da direção dos caras do divertido "Ready or Not", à participação executiva do escritor original, até obviamente o envolvimento garantido a duras penas do trio principal.
De qualquer modo, é uma aposta no escuro. Várias franquias de terror clássicas têm sido revividas e o resultado varia. Por exemplo, "Chucky" está para lançar uma série que parece ser muito divertida, mas vai depender: o penúltimo filme foi muito bom, mas pelo último nutro sentimentos antagônicos. Já "Halloween" acertou em CHEIÍSSIMO com o filme de 2018 e aparentemente acertará novamente com a sequência que estreia esta semana, culminando com o fim da nova trilogia no ano que vem. (Laurie Strode e Sidney Prescott, briguem aí para decidir quem lidera o meu coração.)
A minha esperança é que o mesmo aconteça com Scream e que este novo filme seja o primeiro duma nova trilogia que pode, acredito, se fizer o esforço necessário, levar a narrativa atual e os personagens centrais com decência até o fim — mais do que disso (ou antes, despindo-me dum olhar de fã voraz), a coisa possivelmente já não faria sentido. De qualquer modo, creio que desta vez alguém do trio principal vá descer sete palmos e creio que eu esteja simultaneamente preparado e não preparado para isso. :'(
E, ai, encarnando o nerdão de novo para concluir: Será que na história haverá um novo "Stab" baseado nos eventos do quarto filme? Se sim, como os criadores fictícios do filme dentro do filme farão para conciliar um novo lançamento baseado em "fatos reais" com os anteriores "fictícios"? A franquia "Stab" tem sido um elemento bem importante pro universo metalinguístico de Scream desde o segundo filme, então seria uma falta se a negligenciassem agora. AAAH. Muitas perguntas, então pararei por aqui.
VEM, JANEIRO.
Amores Canibais
2.4 393 Assista AgoraPuta que pariu. Cara, fazia era tempo que eu não via algo tão absoluta, indescritível, despropositadamente ruim assim. Não consigo entender como alguma coisa assim consegue ser desenvolvida e em nenhum estágio da produção alguém para e fala: "Cara, que merda é esta que estamos fazendo? Na boa, bora parar por aqui, fingir que nada aconteceu e usar o restante do orçamento para tomar umas breja?"
Me senti ludibriado pelo trailer. Vendo ele, o filme promete ser legal e empolga. A ideia que tive era que a guria chegaria à terra abandonada, se envolveria em algum confronto em andamento e nele, em algum momento, é que ela
perderia os membros. Quando ela perde
A cada dez minutos que se passavam, eu simplesmente ficava incrédulo e as minhas esperanças iam diminuindo. Nada, absolutamente NADA de importante acontece ou existe neste filme; não há um propósito, uma mensagem, um enredo coeso; não sai de lugar nenhum e não chega a lugar nenhum. É tão confuso e abobado quanto a personagem principal. Nenhum dos personagens, dos elementos, dos ambientes do filme..., possui qualquer sentido ou justificativa. O tal do Conforto? Inútil. O personagem do Keanu Reeves? Inútil. A distopia proposta pelo filme de um lugar sem lei? Inútil. Os canibais? Inúteis. Os "perigos" do deserto? Inúteis. A tentativa de criar um pano de fundo relevante pro personagem do Jason Momoa? Inútil. As raves e as drogas psicodélicas como elementos narrativos? Inúteis.
Cara, o filme é, no sentido mais seco e direto da palavra, ruim. É, tipo, RUIM mesmo. Caramba, é inaceitavelmente ruim, kk. É tão ruim, que tô aqui perdendo ainda mais o meu tempo para escrever uns parágrafos sobre ele, só de recalque mesmo. Terminei a sessão absolutamente atônito por ter perdido duas horas da minha vida na maior expectativa de me entreter com qualquer singelo momento que justificasse a existência desta merda. Acho que ele foi um grande delírio coletivo de todos os envolvidos na sua criação, do estúdio aos produtores, da diretora aos atores.
Nota final: 0,5/10.
Subconscious Cruelty
3.0 243Há tempo estava querendo ver este filme, por ler em TODO canto que ele é absolutamente chocante, provocativo, violento e blasfemo; é só ler a própria sinopse aqui no Filmow. Terminei de vê-lo agora igual ao meme da Milena: "Nooossa... [cara de cu]"
É uma tentativa tão canhestra de chocar com uma pretensa justificativa niilista, metafórica e "reflexiva" de fundo. Foi um sofrimento para mim, pois o filme leva bem meia hora para entregar a primeira grande cena "gore" e "chocante", que é no máximo levemente interessante.
Na última história, sim, finalmente há duas cenas de gore pervertidas e provocativas bem legais
— a cena do pênis sendo dilacerado e a coisa toda lá do "Jesus" —,
Não há mais o que comentar para mim não; uma hora e meia perdida para mim. Não sei se me decepcionei mais com este filme ou com aquele outro lixo chamado Begotten, outra besteira pretensamente artística.
E não me entendam mal: Amo gore, amo uma boa podreira, amo uns lixos feitos só para provocar. Porém, quando a coisa é só um punhado de cenas extremas escassamente espalhadas pelo filme e o resto é um monte de blá-blá-blá infindável sem sentido, sem enredo, sem qualquer conexão (mesmo que confusa, mesmo que não linear), acaba sendo apenas uma tentativa pífia e narcísica de criar algo "para poucos entenderem".
Aos fãs de filme extremo: Nem percam o seu tempo. Vão procurar algo melhor.
Nota final: 2/10.
Pânico
3.4 1,1K Assista AgoraAaai, descobri agora que vai rolar mesmo o quinto filme — meu Deus! *_* Já quero! É uma das minhas franquias favoritas e vai ser o primeiro filme cujo lançamento vou de fato aguardar. <3
Murilo Couto - Fazendo Suas Graça
4.0 7Muito massa! Haha. Assisti todo anteontem no YouTube; me diverti pra carai! Kkk. O Murilo deve ser um dos meus comediantes de stand-up preferidos no Brasil, juntamente com o Léo Lins e o Rafinha Bastos (não que eu de fato acompanhe muitos...); só ficava vendo umas coisas aleatórias dele no YouTube e agora finalmente assisti a este show completo e isso só ficou comprovado.
O estilo de humor negro do Murilo talvez não seja tão direto e "agressivo" quanto o do Léo Lins, por exemplo, mas é muito sarcástico e funciona demais, especialmente por causa da atuação dele, com esse jeitão de maluco drogado que eu acho muito autêntico nele, a ponto de eu não conseguir saber se é só um personagem ou ele é marromenos assim mesmo na vida real, kk. Mesmo depois de eu já conhecer a piada, eu me pego voltando a um trecho e ainda assim achando muita graça EXATAMENTE por causa da atuação dele e do seu humor físico e ligado à forma como fala (gírias, ritmo, tons de voz...).
Além disso, o show fluiu muito bem para mim — ele conseguiu emendar as diferentes seções do show de maneira muito natural, uma puxando a outra. A única parte que achei sem graça foi a introdução como rapper (achei bestinha demais =P); em compensação, as minhas partes favoritas
— a parte sobre ser necessário violência na vida, a briga do amigo e o final, tratando das religiões —
sem comentários para os funks gospel, kkk — reassisti a essa parte umas vinte vezes seguidas, hahaha. As letras, os passinhos deles e as caras do Murilo são demais!
"Sabe aquele barulho seco, de nuca, no cimento...?"
"Calma, galera... Foi ele."
"O Luan Santana, ele tem um jato. Um jato, o Luan Santana, ele tem. Um jato, o Luan Santana... Um jato."
"Tu viu teu tio... — mas ele já tinha morrido, né?"
"Crime, crime, crime, crime, pagode, Universal."
KKK! Muito bom. Espero poder ver um show dele futuramente presencialmente!
Nota final: 8,5/10.
Pitty - Pela Fresta
4.4 4Vi este documentário há algumas semanas pelo YouTube — nem sabia da existência dele antes. Muito foda!
Sou baiano e a Pitty teve um bom impacto na minha vida, mas não da forma mais "direta" e "normal" como com outros roqueiros baianos, imagino. Não tive contato instantâneo quando ela estourou com os dois primeiros álbuns, por vários motivos (criação religiosa; contato tardio com a música e com o rock; falta de acesso a CDs, rádios e programas de música; etc...). Porém, em algum momento eu tive contato com — naturalmente — os singles clássicos dela e daí ela teve algum impacto paralelo enquanto eu ia descobrindo o meu caminho pela música e pelo rock. Só que o primeiro álbum dela que realmente fui pegar inteiro, certinho, foi de fato o SETEVIDAS — e, puts, que surpresa! Em comparação aos trabalhos anteriores dela (especialmente o Chiaroscuro, que peguei todo pouco depois e que contém canções muito legais, mas não me agrada como um todo (além de ter aquela pavorosa "Me Adora")), de cara o álbum demonstra todo o amadurecimento da Pitty e da banda — musical, lírica e conceitualmente.
Toda a vibe de "tudo sendo feito ao vivo" foi bem transmitida para as músicas tocadas aqui no documentário. A banda toda está muito bem afinada e a Pitty, além de cantar muito bem, consegue interpretar de modo muito pessoal e verdadeiro as letras. E que letras, hein! De descrições de relações íntimas e sexo despudorado em "Um Leão" e "Pequena Morte" a uma crítica muito pertinente (e pessoal, segundo a explicação da Pitty!) à loucura ansiosa e "gulosa" da era moderna em "Boca Aberta", às tantas possibilidades de análises da crítica feita em "A Massa", aos explícitos louvores à transformação e ao amadurecimento em "SETEVIDAS" e "Serpente". Foi muito legal assistir aqui ao documentário, ouvir os depoimentos deles, e perceber como há todo um conceito ligando todas as canções do álbum de modo muito mais coeso do que eu havia percebido por mim mesmo. (Vou precisar depois ouvi-lo de novo para tentar fazer essa "jornada" do eu lírico do começo ao fim, passando por todo o processo de mudança e superação que a Pitty descreve.)
Também é muito legal ver todo o processo de composição em relação à parte instrumental (que é o que me interessa mais). Não sabia que a Pitty detinha tanto controle assim sobre isso e também que tocava tantos instrumentos! Muito bom ver a dinâmica dela com a banda, dando-lhes liberdade para trazerem as suas próprias personalidades às composições também, e muito bom ver o quão comprometidos todos são com os seus próprios instrumentos e com a identidade do grupo junto. Todos parecem ser excelentes instrumentistas e o Paulo Kishimoto foi uma adição sensacional! Uma das coisas que de cara me fizeram me apaixonar pelo álbum foram todos os instrumentos extras, que me fizeram ouvir o álbum muito atentamente, cada vez tentando sacar uma coisa nova (guitarra lap steel, diversos teclados e sintetizadores, muitas coisas de percussão... Inclusive é muito divertido vê-la toda empolgada com aqueles instrumentos adicionais todos, brincando com eles e criando no processo todas aquelas adições que vemos nas músicas). Igualmente foi muito legal ver como a "Olho Calmo" foi gerada. Senti muita, mas muita falta da minha música favorita não só do álbum, mas como da carreira toda da Pitty, "Lado de Lá", e de mais informações sobre ela, mas obviamente entendo o porquê. Houve ali uma pincelada nela quando a Pitty menciona "mortes literais e metafóricas" e também há a cena de ela improvisando ali aquela parte final absoluta e belamente épica da música (com ela jogando toda a alma no vocal e no piano enquanto a banda sustenta com uma base pesadíssima e onipresente) — ver pelo menos esse cadinho do processo de criação dessa obra-prima valeu muito a pena.
Os outros aspectos do documentário também dispensam comentários: os depoimentos todos, a fotografia "crua" e bem "de garagem", as cenas escolhidas...; é tudo muito foda. Este álbum é simplesmente um produto excelente do que há de melhor num tipo de rock amadurecido, reflexivo, melancólico e bem lapidado (o que não é para todos, pois não é comercial nem de digestão muito fácil a princípio). Ainda não escutei o disco mais recente dela, então não sei o que esperar dele (apesar de não ter gostado do direcionamento atual dela nas últimas músicas que ouvi no YouTube), mas espero fortemente que ela possa nos oferecer algo como o SETEVIDAS novamente no futuro — é onde ela se encontrou e o que de melhor já pude ouvir dela (pena que eu não tenha podido ir a nenhum show da turnê na época... :/). Deu até vontade de ouvir o álbum todo agora de novo. =P
Nota final: 8,5/10.
Guerra nas Estrelas: Especial de Natal
2.0 54WTF.
Bacurau
4.3 2,8K Assista Agoraeu, ontem: "eita! finalmente Bacurau está disponível no Popcorn Time. simbora ver se esta bosta é realmente legal como dizem."
eu, hoje: "meh." (para quem ainda não viu o filme: há pequenas indicações sobre o roteiro e spoilers leves de certas cenas nos próximos parágrafos, mas imagino que nada grande ou muito revelador realmente. vou pôr a tag de spoiler em alguns trechos mais explícitos, mas fiquem avisados.)
a impressão que tive é que o filme não decide se quer ser uma variação da premissa de Hostel (saudades! <3); um faroeste gore moderno; uma crítica político-ideológica bem clara ao "imperialismo", à "síndrome de vira-lata", à xenofobia que se percebe vinda do Sul/Sudeste contra o Nordeste e à indiferença em relação à nossa própria cultura e população (tudo válido, mas maçantemente batido, meio caricato já e bem menos distópico como o pessoal costuma pintar); ou uma bela ode à cultura e ao modo de viver nordestinos (a coisa da cidade pequena com a sua rotina comunitária acolhedora, compartilhada e autossuficiente; a matriarca com incontáveis descendentes que praticamente personifica o espírito da cidade; o político demagogo explorador das necessidades específicas da região (como a falta d'água e de materiais escolares); o violeiro improvisador tirador de onda; uma certa espiritualidade sincretista e "secular" vivida pela população; todo o rico vernáculo, as gírias, o sotaque...), além de trocentas referências a fenômenos sociais, culturais e históricos (coisas expostas no museu da cidade; a capoeira; conhecimento e medicina nativos; a coisa do "travesti cangaceiro" representada no personagem do tal do Lunga; o "paredão" do "DJ" lá; etc., etc...). no fim, tenta ser cada uma dessas coisas separada e simultaneamente e daí deslancha sem rumo.
o erro principal do filme para mim é exatamente aquele que já comentei algumas vezes em relação a outros filmes (geralmente os modernosos pretensiosos do terror psicológico): tempo perdido de mais com a ambientação da coisa e muita pressa nos últimos 30, 40 minutos. a ambientação no sertão pernambucano é excelente, a fotografia é linda, a trilha sonora é muito boa e as atuações, sim, são o forte do filme (honestamente: não sabia que tínhamos tantos excelentes atores assim na nossa safra. ou deram sorte de achar ótimos figurantes?). porém, eles desperdiçam demais, DEMAIS, o potencial da história. além duma simbologia muito pobremente encaixada em dado momento e do papel introdutório de contextualização, a função da matriarca da cidade e a ligação dela com os eventos que sucedem são irrelevantes (que seriam a premissa básica do filme indicada na sinopse). igualmente, a ligação
do político local com o infortúnio da cidade (e a consequente crítica que advém daí) é muito fracamente delineada, ficando bem aberta à interpretação de cada um, exatamente pela pressa do roteiro lá pelo fim (sendo que sequer faz sentido ele ter aparecido lá pelo começo do filme para falar sobre a sua reeleição, nem faz sentido ele ir depois ver o resultado do massacre esperado por conta própria, desprotegido e vulnerável).
a coisa da retirada da cidade do mapa e da desconexão com a tecnologia também fica meio perdida no roteiro, contrastando com a excelente retratação da nossa realidade moderna, na qual celulares, tablets e "grupos de Zap-zap" ironicamente se mesclam à pobreza, às necessidades materiais e à penúria intelectual da população, gerando o "pão e circo" moderno e uma cultura de glorificação da violência como entretenimento e justiçamento. adicionalmente em relação a essa cultura da violência, há uma incômoda e consciente omissão de mais informações sobre o personagem do Lunga para claramente criar um mito em torno dele como o criminoso relativizado pelo seu "cuidado" com a população local. do mesmo modo, mas em menor escala, isso acontece com o personagem do Pacote, que pode ou não ter cometido aqueles crimes — vistos e revistos como o bom e velho entretenimento local — compilados naquele vídeo (é mas provável que os tenha cometido, já que ele só se defende em relação a um deles) e que também é normalizado e volta ao convívio social sem que pague pelo que fez e sem nenhum grande repúdio dos habitantes — isso é, na verdade, um mero detalhe na apresentação do personagem.
a própria defesa da população e o consequente
justiçamento do político e do último gringo no fim
induzida pelos psicotrópicos culturalmente aceitos por todos,
em relação ao outro lado da premissa do filme, a participação dos gringos,
a aparente organização e competição por trás das suas ações
(aquela cena da briga entre os americanos por causa da criança assassinada lá é simplesmente deslocada, irrelevante e enche-linguiça).
"I came for the body count",
enfim, é uma pena. talvez eu tenha ficado empolgado demais com todo o auê e tal e por isso a decepção (talvez o filme empolgue mais quem ache que seja uma grande descoberta do fogo e se sinta identificado com este tipo de crítica unilateral, ansiosa e muito, muito reducionista ao "imperialismo", ao que se percebe como xenofobia dentro do próprio país e a coisas afins, que deveriam ser extirpados através duma certa "reação do oprimido" — não é o meu caso). de qualquer modo, dou 6/10 de nota, porque, afinal, consegui me divertir e a ambientação e as atuações são realmente excelentes — é inclusive verdadeiramente bacana como há uma diferença muito grande de atmosfera cultural e de dinâmica interpessoal entre as cenas com os personagens brasileiros, em português, e as cenas com a gringada, em inglês, apesar de haver alguns clichês na atuação dos gringos (e essa diferença é realmente realçada na emblemática cena
da "reunião" lá entre os gringos e os brasileiros).
nota final: 6/10.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
3.2 1,0K Assista Agora'whitewashing.'
kk. é divertido ler esse tipo de coisa e esboçar um sorriso.