Um faroeste interessante porque o mocinho tem ideais revolucionários. Diferente de Sete homens e um destino porque o mocinho não luta por dinheiro e nem por ouro, mas luta pelo povo oprimido do México movido por questões éticas e políticas. Uma abordagem muito rara no cinema produzido nos EUA. A grande maioria dos filmes americanos transmite mensagens conformistas que reproduzem a realidade existente.
Um faroeste inspirado em princípios cristãos. Ele enaltece o valor do caráter, da amizade e da solidariedade. O filme tem uma face romântica. A história consegue manter o nosso interesse aceso até o fim. Acho o Joel McCrea meio canastrão. A Frances Dee, mulher de McCrea na vida real, tinha seus encantos.
O comentário tem imprecisões. Trata-se apenas de primeiras impressões sobre um tema que não domino. No budismo, o monge ou praticante passa por uma experiência espiritual para atingir o estado de nirvana, ou seja, para obter a libertação da consciência em relação ao corpo e ao mundo. Isso significaria libertar-se de necessidades, desejos, emoções e sentimentos como o medo, a raiva e a vaidade. Significaria desapegar-se do mundo e da vida e libertar-se do sofrimento. Significaria domar e aquietar o ego. A meditação é o recurso empregado para purificar a mente e chegar ao nirvana, ao estado de plenitude, de serenidade, de paz interior profundo. Teresa d'Ávila escreveu o Livro das Moradas em 1577. Ela explica a viagem interior que a alma precisa realizar para chegar a Deus. Há semelhanças com o método budista para atingir o nirvana. A oração, a reflexão e a penitência são os recursos empregados para realizar a caminhada espiritual. O sofrimento é o remédio para purgar a alma. Trata-se de um processo de dominação do ego, de nossas necessidades e impulsos, de nossos desejos mundanos, dos nossos sentimentos e inquietações. Trata-se de libertar-se dos prazeres carnais, de conscientizar-se de que a vida é efêmera e que não vale a pena ficarmos apegado a ela. Na sexta morada, próximo do limite, o penitente pode sentir a mente abalada e ter visões. A alma deseja libertar-se do corpo. A última morada é o estado de desapego total em relação a si, ao corpo e ao mundo. É o encontro da alma com a liberdade e a paz absoluta, ou seja, com Deus. É o estado de santidade. Suponho que a sétima morada seja o estado em que viviam Adão e Eva antes de serem expulsos do Paraíso. Ou seja, o estado em que os nossos ancestrais primatas viviam antes de se tornarem homo sapiens, quando viviam ainda mergulhados na natureza, como os demais animais. Retornar a este estado de fusão com a natureza, seria reencontrar-se com Deus. Edith Stein decidiu percorrer a viagem espiritual sugerida por Teresa d'Ávila ingressando no Convento católico das Carmelitas Descalças. Precisou renegar o judaísmo. O Convento parece ter sido concebido para as aspirantes percorrerem as sete moradas descritas por Teresa d'Ávila. Elas precisam renunciar-se a si próprias e ao mundo exterior, inclusive à família. Precisam renunciar aos bens mundanos e aos prazeres dos sentidos. Edith Stein precisou submeter-se a regras duríssimas, sendo forçada ao silêncio, à obediência rigorosa, ao trabalho extenuante. Ela precisou domar a vaidade, o orgulho e a arrogância, precisou exercitar a humildade, anulando o ego. O objetivo da caminhada seria libertar o espírito do corpo e de todas as tentações do mundo exterior. A oração e a meditação seriam os recursos para purificar a alma. Durante o percurso, o sofrimento seria um remédio importante para fortalecer o espírito. Atingindo a sétima morada, Stein conseguiu um certo grau de libertação da alma de seu corpo. Nesse estado, o medo da morte havia perdido sentido. A morte era o retorno do corpo ao seu estado original, ou seja, a Deus. Tendo atingido a sétima morada, Stein pôde enfrentar com dignidade o holocausto nazista. Poucas pessoas no mundo teriam condições práticas para realizar a experiência mística sugerida por Teresa d'Ávila e pelos budistas. O marxismo traça perspectivas diversas para a humanidade. Não propõe a negação da mente e do corpo como caminho para se chegar à liberdade. Pelo contrário, propõe o desenvolvimento de todas as potencialidades abertas pelo fenômeno humano. Em lugar de domar a mente, as sensações, os desejos e as emoções, tratar-se-ia de refiná-los. Como? Em seu percurso histórico, movido pelo instinto de sobrevivência, o homem desenvolveu impulsos agressivos. Posteriormente, após a criação da propriedade privada, desenvolveu o sentimento de posse. Marx propôs uma forma de sociedade em que a violência e o sentimento de posse deixariam de existir. Essa sociedade precisaria ser capaz de eliminar a luta pela sobrevivência mediante a aplicação da ciência e da tecnologia na produção de todas as coisas absolutamente necessárias para a coletividade. A sociedade precisaria eliminar a divisão social do trabalho. Ou seja, a forma de ordenação da sociedade eliminaria as fontes da maioria dos males que afligem a humanidade. Todos os homens ficariam com tempo livre para dedicarem-se a atividades como as artes, a filosofia, as ciências, os esportes. Os homens precisariam também participar das atividades necessárias para a vida em comunidade, como plantar, pescar, produzir utensílios, educar as crianças, cuidar dos enfermos, cozinhar, limpar, lavar, coletar lixo, etc. Certamente, aos poucos, o homem evoluiria ética e moralmente e se desenvolveria em todos os sentidos. Muitos sentimentos, — como o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a avareza, a raiva e o ódio —, e desejos, como o de posse e dominação, desapareceriam. O homem poderia reconciliar-se com a natureza, deixando, inclusive, de enxergar o corpo como a fonte de todos os pecados; isto é, deixando de identificá-lo com o demônio. A solução para eliminar os males da humanidade seria, portanto, coletiva, social, e não individual.
Segundo a Wikipedia, Bibi Andersson estudou no Terserus Drama School, no Royal Dramatic Theatre e fez parte da Royal Dramatic Theatre, em Estocolmo. Desde 1951, atuou em vários filmes de Ingmar Bergman — como O sétimo selo e Morangos silvestres — e ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Quando li o seu nome no início do filme, fiquei muito surpreso. Assistindo o filme entendi por que ela aceitou esse papel. Bibi interpreta Ellen Grange, mulher casada raptada
As atrizes famosas de Hollywood devem ter recusado o papel. O filme foi feito na década em que as lutas raciais abalavam o país. Só uma atriz do nível de Bibi Andersson poderia ter interpretado esse papel conferindo dignidade à personagem. O personagem interpretado por Sidney Poitier contribui também para enfatizar a posição antirracista do diretor norueguês Ralph Nelson. Fui colonizado culturalmente na infância pelo cinema dos EUA. Até hoje, mesmo depois de ter desenvolvido uma certa consciência crítica, continuo gostando de faroeste e, pior, torcendo sempre pelo homem branco responsável pelo maior genocídio já registrado na história da humanidade, genocídio monstruoso equivalente à soma de mais de vinte holocaustos. O cinema é uma arma ideológica terrível. Hollywood nos fez desejar, todos, ser americanos, falando inglês e comendo fast food. Belas paisagens do deserto dos EUA. Só estranhei a música que parece ter sido feita para outro tipo de filme.
Vi o filme como uma crítica aos que colaboraram com os nazistas. Acho que a senhora idosa representou o povo judeu. Seis milhões de judeus foram dizimados sem esboçar qualquer reação. Foi por culpa das lideranças que não conseguiram comunicar-se com todo esse povo? Ou foi culpa das lideranças que poderiam ter organizado uma resistência? Achei que o filme foi uma crítica a aqueles que escolheram saídas escapistas preferindo abandonar a vida e a realidade a resistir. Sabe-se que as lideranças judias negociaram com as autoridades nazistas como fez Toni que queria tirar proveito da situação, por mais que tivesse consciência da opressão que todos estavam sofrendo. Para ser mais conclusivo, sem ficar nos achismos, precisaria assistir o filme mais uma vez, com mais atenção.
Faroeste com características de um musical realizado no palco de um teatro. Muitos diálogos, muitos personagens irrelevantes e pouca ação. Roteiro muito fraco. Alguns números musicais que se passam no palco de um saloon são até interessantes, mas o filme merece permanecer esquecido para sempre.
Filmes produzidos por Hollywood durante a guerra, envolvendo japoneses, tinham um enfoque bem diferente desse dirigido por Jean Negulesco. Alguns soldados japoneses revelam até uma face humana. Durante a guerra eram pintados como feras selvagens. A cena do coronel levando três crianças para a sua casa, após ter perdido toda a sua família por conta da bomba de Hiroshima,
teria um outro desfecho se o filme tivesse sido realizado durante a guerra.
O Japão estava se tornando uma nação aliada dos EUA e o filme reflete essa nova realidade. Hoje, as vítimas dos filmes de Hollywood são os islâmicos que costumam ser pintados como demônios.
Gosto muito de filmes em branco e preto com tela em formato widescreen. O contexto do filme é a sociedade feudal cuja principal característica é a ausência de um poder centralizado capaz de impor uma Lei única para todo o território com o respaldo de um exército profissional permanente. A ausência de um poder centralizado possibilita aos chefes locais impor a sua vontade arbitrária, abusiva e despótica, sobre a população. O filme narra a guerra entre chefes de duas localidades vizinhas. Zatoichi é hóspede de um dos chefes. Um samurai, amigo dele, presta serviços ao outro chefe. No fim do filme, temos o duelo entre os dois amigos. Zatoichi, apesar de cego, é capaz de cortar uma mosca voando com a espada. Isso aparece num outro filme da série. A ética de Zatoichi exprime a transição do Japão da era feudal para a era capitalista. O espadachim cego ama o dinheiro, mas não abandona os valores éticos tradicionais da cultura nipônica. Aliás, essa postura caracteriza a modernidade capitalista japonesa até hoje. O resultado disso é um capitalismo menos selvagem.
Achei interessante a associação entre a destruição do planeta e a destruição de seres humanos que são transformados em lixo. Só não concordei com a culpa imputada aos cientistas pela poluição ambiental. A destruição do homem e do planeta já havia sido explicada no século XIX por Karl Marx. Para ele, a causa dessa destruição estava na supremacia da multiplicação do capital sobre a felicidade humana e sobre a preservação da natureza. Ou seja, no capitalismo, as corporações são forçadas pela concorrência de mercado a colocar a produção do lucro acima de todas as questões éticas imagináveis. No filme de Richard Fleischer vemos a que ponto pode chegar a lógica do lucro das corporações com a tétrica
. Nossos tataranetos podem vir a sentir a mesma nostalgia que Solomon 'Sol' Roth sentia de um mundo que ainda não tinha sido tão degradado durante a sua infância e que ele chamava de lar. De fato, o planeta é o nosso lar. Um lar maravilhoso, incrível. Não temos outro onde viver. Uma curiosidade: Charlton Heston foi presidente da famigerada National Rifle Association por cinco vezes. Chuck Connors foi astro do seriado O homem do rifle. Dois atores devotados ao culto das armas.
Filme para encantar crianças que se maravilhavam com as roupas de Roy Rogers nos anos 1940 e 1950. Roupas que hoje parecem cafonas. As botas dele chamam muita atenção. George 'Gabby' Hayes era uma figurinha carimbada nos filmes de faroeste de antigamente.
O filme mostra o Estado impondo o império do Direito em regiões dominadas ainda pela lei do mais forte. Forrest Tucker faz o papel do xerife, isto é, do representante de Estado, que impede a turba de fazer a lei com as próprias mãos. Graças à dedicação de um funcionário do Estado, a pequena cidade do Oeste selvagem estava se tornando civilizada. Achei o roteiro fraco.
A história se passa nos anos dourados do capitalismo. A sociedade de consumo estimula todos a vencerem na vida. O fracasso é abominado. Os perdedores no jogo de conquista de uma boa posição na escala social são estigmatizados. Barney Sloan é um perdedor incorrigível, um músico fracassado. Laurie se casa com ele e ambos vivem sem dinheiro. Ela consegue converter o marido teimoso mostrando-lhe a importância de se inserir no sistema, obtendo sucesso, ganhando dinheiro para sustentar a família e levar uma vida confortável. O jogo social mostrado no filme dá sentido à vida cotidiana de bilhões de pessoas que nascem na sociedade burguesa. Esse jogo explica em parte o êxito do capitalismo e o fracasso do socialismo. Gostei de ouvir as canções Young at heart e Someone to watch over me. Gostei do Number Nine. Achei o enredo fraco. Em muitos momentos, as legendas foram incompreensíveis. Os diálogos apresentam muitas expressões que o tradutor para o português desconhecia.
Achei que a trama tem excesso de reviravoltas. A última reviravolta ficou subentendida? A namorada do Joe fez mesmo uma trairagem ou foi tudo combinado para concluir um golpe perfeito? Gosto de enredos que concentram todo o foco num só assunto. O filme podia ter focado apenas o assalto ao avião, no roubo do ouro, para deixar o roteiro mais limpo, melhor detalhado e menos confuso.
Boa surpresa. A cópia do filme é ótima, as cores afloram vivas e a imagem tem brilho excelente. O filme deve ter sido rodado numa região próxima ao México. A paisagem geográfica semiárida e as casas sem telhado revelam isso. É uma curtição assistir faroestes filmados nas paisagens semidesérticas dos EUA. O ritmo do longa impressiona. O enredo é batido mas consegue agradar os amantes de faroeste, um gênero semelhante a fast food: — não alimenta, não é saudável, mas tem gente como eu que não fica sem.
Não conhecia o James Baldwin. O incrível documentário de Raoul Peck explica por que. O brilhante intelectual negro rasgou a pança do Tio Sam com uma navalha afiada para mostrar todas as suas vísceras podres. Chocante! Baldwin era e continua sendo intragável para as elites dominantes dos EUA. Ele foi um exemplo de intelectual vigoroso que não faz concessões à mediocridade, que diz tudo o que precisa ser dito, sem medo, com uma inteligência afiadíssima. O mundo necessita muito de intelectuais como Baldwin.
Quando um filme tem muitos personagens, anoto os nomes numa folha de papel para saber quem é quem, senão me perco. Na parte final, o filme assume o gênero Terror. Num site estrangeiro, 196 pessoas deram nota 6,8 à Maldição do desejo.
Só peguei o DVD empoeirado da prateleira porque tinha legendas em inglês. Estou estudando a língua de Shakespeare para poder assistir filmes publicados no You Tube sem legendas em português. Achei que não tinha gostado do filme por não ter compreendido 100% dos diálogos com áudio e legendas em inglês. O filme é mesmo chato pra daná. Só gostei um pouco das cenas de bar em que as pessoas assistem o histórico jogo final de beisebol de 1986 entre o New York Mets contra o Boston Red Sox.
Costumo ler os comentários para não postar coisas repetitivas. Achei que o comentário de Bruna Veras acertou na mosca. Ela escreveu: llya e Zorba foram separados no berço? Jules Dassin deve ter lido o romance Zorba, o grego, de Níkos Kazantzákis, para elaborar o roteiro de Nunca aos domingos. Em seus estudos acadêmicos, Kazantzákis tinha produzido uma dissertação sobre a filosofia de Friedrich Nietzsche. Isso explica por que o filme de Dassin transpira o pensamento de Nietzsche. Para o filósofo alemão, o Ocidente produz homens sem vida. A filosofia de Sócrates, exaltando a razão; e a moral cristã, satanizando os instintos, fundaram a civilização ocidental — ou seja, estabeleceram os princípios que moldaram a existência humana no Ocidente. Segundo a civilização ocidental, o homem deveria guiar-se pela razão sufocando os instintos animalescos. Assim, o homem ocidental sufocou a vida, as paixões. Perdeu as energias vitais e tornou-se doente. Homer Trace representa o homem que coloca a razão acima da vida. A prostituta Ilya deixa a razão em segundo plano e dá vazão à sua paixão pela vida. Da mesma forma, o grego que toca o seu instrumento musical por intuição, sem recorrer à partitura, contraria o padrão racional vigente no Ocidente. Ilya via beleza e emoção na tragédia grega. O americano Homer interpretou racionalmente o drama que assistiram juntos no anfiteatro e tudo ficou sem sentido para Ilya. A racionalidade de Homer não levou em consideração a pulsão da vida que existia na peça e destruiu o prazer que proporcionava à prostituta culta. Homer faz o papel de Sócrates. Ele tenta mostrar à Ilya que a razão, o saber racional, põe ordem e perfeição no mundo. Na verdade, ele estava domesticando a força da vida que corria nas veias de Ilya. Para Homer, a Grécia atual tornou-se decadente por não empregar o conhecimento racional para organizar a sociedade. Nietzsche pensava o contrário. A decadência da Grécia na Antiguidade ocorreu devido à influência do pensamento socrático que destruiu a vida que borbulhava na cultura trágica, dionisíaca. Foi a vitória da razão contra os instintos. Foi a vitória de Homer contra Ilya. No filme, Ilya, que diz sim à vida, é quem vence. Homer, que não achava racional quebrar taças de vidro no chão, percebe no fim que o homem não é apenas um animal racional, precisa dar vazão às paixões, às emoções, aos sentimentos. Vale lembrar que o psicopata social é um indivíduo que conservou a razão mas é desprovido de emoções e sentimentos. Destaco que o mundo caótico em que vivemos é o resultado do predomínio absoluto da razão sobre os sentimentos. Mas é importante lembrar que deve existir um equilíbrio entre razão e instintos, entre o apolíneo e o dionisíaco. Descartar a razão seria uma loucura.
Não gosto muito de faroestes que abordam o período de independência dos EUA. Os temas discorridos neles são diferentes dos temas clássicos dos faroestes que transcorrem na segunda metade do século XIX. A paisagem também é diferente, tem muita vegetação ao contrário das pradarias e dos desertos que aparecem nos faroestes que gosto. Mas gostei do filme. A cópia restaurada nos revela um technicolor com cores um pouco saturadas. John Ford desde os primeiros faroestes deixava suas marcas inconfundíveis, sobretudo o tom patriótico na narrativa sobre a construção da nação; o estilo épico na formulação de algumas cenas; a posição da câmara para mostrar a magnitude de alguns personagens; as cenas de dança e música tradicionais; o otimismo sobre a natureza humana, enfim.
Bresson realizou um filme baseado em documentos históricos. Não se sabe se estes documentos relataram fielmente o que foi dito no processo de condenação de Joana D’Arc. Era comum a Igreja manipular as informações conforme os seus interesses. De qualquer forma, duas coisas foram evidenciadas no filme: a implacável intolerância da Igreja e a manifestação da individualidade que anunciava auspiciosamente a era moderna. Joana D’Arc foi uma das primeiras bactérias que atacaram o corpo da Santa Madre Igreja Católica que representava então o pilar de sustentação da sociedade medieval. Nessa sociedade, graças ao controle absoluto da Igreja, ficava quase impossível o florescimento do que conhecemos hoje como indivíduo. Ou seja, do membro da sociedade com ideias, personalidade, preferências e interesses diferentes daqueles dominantes na comunidade e, portanto, livre para pensar, escolher e agir. No processo de condenação de Joana vemos como funcionava o controle da Igreja para sufocar o nascimento do indivíduo. Permitir que Joana permanecesse viva seria a perdição da Igreja. Infelizmente para o catolicismo, o movimento da modernidade tinha a força colossal de um tsunami que devastaria tudo. Enfim, nada mais, nada menos, Bresson filmou com olhar e cacoete de um documentarista o estopim de uma revolução que iria transformar a face do planeta.
Quando assisti o filme em vídeo cassete, nos anos oitenta, chorei de tanto rir na cena da dança. Poderia dizer que o filme envelheceu. Acho que fui eu que envelheci porque, revendo a cena, não achei mais tanta graça. A crítica do diretor italiano ao mundo da televisão é dura e corrosiva, mas sem perder a ternura jamais. A música Let's face the music and dance conferiu um toque nostálgico ao filme. Não sou fã do Fellini. Gosto apenas de dois filmes dele: Estrada da vida e Noites de Cabíria.
Em Stromboli, Rosselini faz o estudo antropológico de uma comunidade primitiva. Na ilha vulcânica, a natureza se evidencia com muita força. O tema do filme é o distanciamento do homem civilizado em relação à natureza de onde ele se originou. Em Stromboli, Karin acha que as pessoas são selvagens porque elas vivem próximas do estado de natureza. Ela acha insuportável viver nesse mundo. Desejava morar na Argentina que, naquele tempo, era considerada um país de primeiro mundo. A beleza da Ingrid Bergman disputa a nossa atenção competindo com a beleza da paisagem cenográfica. A grande estrela de Hollywood saiu de um universo glamoroso e foi trabalhar num universo rústico. Rossellini produziu um filme que é o avesso do avesso de Hollywood. Comparei Stromboli com Natal branco, que assisti anteontem. A diferença é chocante. Comparei Stromboli com A noiva era ele, que assisti ontem. Foi como comparar o livro A origem das espécies com um gibi do Pato Donald. Foi uma grande tolice comparar lixo cultural com obra de arte. Uma tolice tão grande quanto continuar consumindo lixo cultural.
O bicho homem é um animal complexo. Não achei graça nenhuma no filme. O meu senso de humor não é muito sofisticado. Algumas piadas me fazem morrer de rir. Outras, não. A missão que o capitão Henri Rochard e a tenente Catherine Gates realizam é a mais estapafúrdia que já vi no cinema.
1. White Christmas é uma de minhas músicas de Natal prediletas. Quando Bing Crosby apareceu cantando essa música acompanhado por uma caixa de música, tive um baque.
2. Sempre ouvi Rosemary Clooney cantar músicas como Hey there, Tenderly e You’ll never know. Foi uma boa surpresa saber que ela era atriz também.
3. A voz grave e aveludada de Bing Crosby soou muito bonita nas minhas caixas acústicas alimentadas por receiver.
4. Queria saber por que os musicais de Hollywood abandonaram os deliciosos sapateados. Alguém sabe?
5. Na minha modestíssima opinião, todos os números de dança do filme de Michael Curtiz somados nem chegam perto da dança das prostitutas na abertura do filme Cabaret comandada por Joel Grey.
Joaquim Murieta
3.3 2 Assista AgoraUm faroeste interessante porque o mocinho tem ideais revolucionários. Diferente de Sete homens e um destino porque o mocinho não luta por dinheiro e nem por ouro, mas luta pelo povo oprimido do México movido por questões éticas e políticas.
Uma abordagem muito rara no cinema produzido nos EUA. A grande maioria dos filmes americanos transmite mensagens conformistas que reproduzem a realidade existente.
Eles Passaram por Aqui
3.7 3Um faroeste inspirado em princípios cristãos. Ele enaltece o valor do caráter, da amizade e da solidariedade. O filme tem uma face romântica. A história consegue manter o nosso interesse aceso até o fim. Acho o Joel McCrea meio canastrão. A Frances Dee, mulher de McCrea na vida real, tinha seus encantos.
A Sétima Morada - Santa Edith Stein
3.9 3O comentário tem imprecisões. Trata-se apenas de primeiras impressões sobre um tema que não domino.
No budismo, o monge ou praticante passa por uma experiência espiritual para atingir o estado de nirvana, ou seja, para obter a libertação da consciência em relação ao corpo e ao mundo. Isso significaria libertar-se de necessidades, desejos, emoções e sentimentos como o medo, a raiva e a vaidade. Significaria desapegar-se do mundo e da vida e libertar-se do sofrimento. Significaria domar e aquietar o ego.
A meditação é o recurso empregado para purificar a mente e chegar ao nirvana, ao estado de plenitude, de serenidade, de paz interior profundo.
Teresa d'Ávila escreveu o Livro das Moradas em 1577. Ela explica a viagem interior que a alma precisa realizar para chegar a Deus. Há semelhanças com o método budista para atingir o nirvana.
A oração, a reflexão e a penitência são os recursos empregados para realizar a caminhada espiritual. O sofrimento é o remédio para purgar a alma. Trata-se de um processo de dominação do ego, de nossas necessidades e impulsos, de nossos desejos mundanos, dos nossos sentimentos e inquietações. Trata-se de libertar-se dos prazeres carnais, de conscientizar-se de que a vida é efêmera e que não vale a pena ficarmos apegado a ela.
Na sexta morada, próximo do limite, o penitente pode sentir a mente abalada e ter visões. A alma deseja libertar-se do corpo. A última morada é o estado de desapego total em relação a si, ao corpo e ao mundo. É o encontro da alma com a liberdade e a paz absoluta, ou seja, com Deus. É o estado de santidade.
Suponho que a sétima morada seja o estado em que viviam Adão e Eva antes de serem expulsos do Paraíso. Ou seja, o estado em que os nossos ancestrais primatas viviam antes de se tornarem homo sapiens, quando viviam ainda mergulhados na natureza, como os demais animais. Retornar a este estado de fusão com a natureza, seria reencontrar-se com Deus.
Edith Stein decidiu percorrer a viagem espiritual sugerida por Teresa d'Ávila ingressando no Convento católico das Carmelitas Descalças. Precisou renegar o judaísmo.
O Convento parece ter sido concebido para as aspirantes percorrerem as sete moradas descritas por Teresa d'Ávila. Elas precisam renunciar-se a si próprias e ao mundo exterior, inclusive à família. Precisam renunciar aos bens mundanos e aos prazeres dos sentidos.
Edith Stein precisou submeter-se a regras duríssimas, sendo forçada ao silêncio, à obediência rigorosa, ao trabalho extenuante. Ela precisou domar a vaidade, o orgulho e a arrogância, precisou exercitar a humildade, anulando o ego. O objetivo da caminhada seria libertar o espírito do corpo e de todas as tentações do mundo exterior. A oração e a meditação seriam os recursos para purificar a alma. Durante o percurso, o sofrimento seria um remédio importante para fortalecer o espírito.
Atingindo a sétima morada, Stein conseguiu um certo grau de libertação da alma de seu corpo. Nesse estado, o medo da morte havia perdido sentido. A morte era o retorno do corpo ao seu estado original, ou seja, a Deus.
Tendo atingido a sétima morada, Stein pôde enfrentar com dignidade o holocausto nazista.
Poucas pessoas no mundo teriam condições práticas para realizar a experiência mística sugerida por Teresa d'Ávila e pelos budistas. O marxismo traça perspectivas diversas para a humanidade. Não propõe a negação da mente e do corpo como caminho para se chegar à liberdade. Pelo contrário, propõe o desenvolvimento de todas as potencialidades abertas pelo fenômeno humano. Em lugar de domar a mente, as sensações, os desejos e as emoções, tratar-se-ia de refiná-los. Como?
Em seu percurso histórico, movido pelo instinto de sobrevivência, o homem desenvolveu impulsos agressivos. Posteriormente, após a criação da propriedade privada, desenvolveu o sentimento de posse. Marx propôs uma forma de sociedade em que a violência e o sentimento de posse deixariam de existir.
Essa sociedade precisaria ser capaz de eliminar a luta pela sobrevivência mediante a aplicação da ciência e da tecnologia na produção de todas as coisas absolutamente necessárias para a coletividade. A sociedade precisaria eliminar a divisão social do trabalho. Ou seja, a forma de ordenação da sociedade eliminaria as fontes da maioria dos males que afligem a humanidade.
Todos os homens ficariam com tempo livre para dedicarem-se a atividades como as artes, a filosofia, as ciências, os esportes. Os homens precisariam também participar das atividades necessárias para a vida em comunidade, como plantar, pescar, produzir utensílios, educar as crianças, cuidar dos enfermos, cozinhar, limpar, lavar, coletar lixo, etc.
Certamente, aos poucos, o homem evoluiria ética e moralmente e se desenvolveria em todos os sentidos. Muitos sentimentos, — como o egoísmo, a vaidade, o orgulho, a avareza, a raiva e o ódio —, e desejos, como o de posse e dominação, desapareceriam. O homem poderia reconciliar-se com a natureza, deixando, inclusive, de enxergar o corpo como a fonte de todos os pecados; isto é, deixando de identificá-lo com o demônio.
A solução para eliminar os males da humanidade seria, portanto, coletiva, social, e não individual.
Duelo em Diablo Canyon
3.3 11 Assista AgoraSegundo a Wikipedia, Bibi Andersson estudou no Terserus Drama School, no Royal Dramatic Theatre e fez parte da Royal Dramatic Theatre, em Estocolmo. Desde 1951, atuou em vários filmes de Ingmar Bergman — como O sétimo selo e Morangos silvestres — e ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.
Quando li o seu nome no início do filme, fiquei muito surpreso.
Assistindo o filme entendi por que ela aceitou esse papel. Bibi interpreta Ellen Grange, mulher casada raptada
que tem um filho com um índio Apache.
O personagem interpretado por Sidney Poitier contribui também para enfatizar a posição antirracista do diretor norueguês Ralph Nelson.
Fui colonizado culturalmente na infância pelo cinema dos EUA. Até hoje, mesmo depois de ter desenvolvido uma certa consciência crítica, continuo gostando de faroeste e, pior, torcendo sempre pelo homem branco responsável pelo maior genocídio já registrado na história da humanidade, genocídio monstruoso equivalente à soma de mais de vinte holocaustos.
O cinema é uma arma ideológica terrível. Hollywood nos fez desejar, todos, ser americanos, falando inglês e comendo fast food.
Belas paisagens do deserto dos EUA. Só estranhei a música que parece ter sido feita para outro tipo de filme.
A Pequena Loja da Rua Principal
4.4 43 Assista AgoraVi o filme como uma crítica aos que colaboraram com os nazistas.
Acho que a senhora idosa representou o povo judeu. Seis milhões de judeus foram dizimados sem esboçar qualquer reação. Foi por culpa das lideranças que não conseguiram comunicar-se com todo esse povo? Ou foi culpa das lideranças que poderiam ter organizado uma resistência?
Achei que o filme foi uma crítica a aqueles que escolheram saídas escapistas preferindo abandonar a vida e a realidade a resistir. Sabe-se que as lideranças judias negociaram com as autoridades nazistas como fez Toni que queria tirar proveito da situação, por mais que tivesse consciência da opressão que todos estavam sofrendo.
Para ser mais conclusivo, sem ficar nos achismos, precisaria assistir o filme mais uma vez, com mais atenção.
A Quadrilha dos Montes
2.0 1Faroeste com características de um musical realizado no palco de um teatro. Muitos diálogos, muitos personagens irrelevantes e pouca ação. Roteiro muito fraco.
Alguns números musicais que se passam no palco de um saloon são até interessantes, mas o filme merece permanecer esquecido para sempre.
Feras que Foram Homens
3.9 7 Assista AgoraFilmes produzidos por Hollywood durante a guerra, envolvendo japoneses, tinham um enfoque bem diferente desse dirigido por Jean Negulesco.
Alguns soldados japoneses revelam até uma face humana. Durante a guerra eram pintados como feras selvagens. A cena do coronel levando três crianças para a sua casa, após ter perdido toda a sua família por conta da bomba de Hiroshima,
teria um outro desfecho se o filme tivesse sido realizado durante a guerra.
O Japão estava se tornando uma nação aliada dos EUA e o filme reflete essa nova realidade.
Hoje, as vítimas dos filmes de Hollywood são os islâmicos que costumam ser pintados como demônios.
O Conto de Zatoichi
4.0 14Gosto muito de filmes em branco e preto com tela em formato widescreen.
O contexto do filme é a sociedade feudal cuja principal característica é a ausência de um poder centralizado capaz de impor uma Lei única para todo o território com o respaldo de um exército profissional permanente.
A ausência de um poder centralizado possibilita aos chefes locais impor a sua vontade arbitrária, abusiva e despótica, sobre a população.
O filme narra a guerra entre chefes de duas localidades vizinhas. Zatoichi é hóspede de um dos chefes. Um samurai, amigo dele, presta serviços ao outro chefe.
No fim do filme, temos o duelo entre os dois amigos.
Zatoichi, apesar de cego, é capaz de cortar uma mosca voando com a espada. Isso aparece num outro filme da série.
A ética de Zatoichi exprime a transição do Japão da era feudal para a era capitalista. O espadachim cego ama o dinheiro, mas não abandona os valores éticos tradicionais da cultura nipônica. Aliás, essa postura caracteriza a modernidade capitalista japonesa até hoje. O resultado disso é um capitalismo menos selvagem.
No Mundo de 2020
3.6 154 Assista AgoraAchei interessante a associação entre a destruição do planeta e a destruição de seres humanos que são transformados em lixo. Só não concordei com a culpa imputada aos cientistas pela poluição ambiental.
A destruição do homem e do planeta já havia sido explicada no século XIX por Karl Marx. Para ele, a causa dessa destruição estava na supremacia da multiplicação do capital sobre a felicidade humana e sobre a preservação da natureza. Ou seja, no capitalismo, as corporações são forçadas pela concorrência de mercado a colocar a produção do lucro acima de todas as questões éticas imagináveis. No filme de Richard Fleischer vemos a que ponto pode chegar a lógica do lucro das corporações com a tétrica
fabricação do soylent verde
Nossos tataranetos podem vir a sentir a mesma nostalgia que Solomon 'Sol' Roth sentia de um mundo que ainda não tinha sido tão degradado durante a sua infância e que ele chamava de lar. De fato, o planeta é o nosso lar. Um lar maravilhoso, incrível. Não temos outro onde viver.
Uma curiosidade: Charlton Heston foi presidente da famigerada National Rifle Association por cinco vezes. Chuck Connors foi astro do seriado O homem do rifle. Dois atores devotados ao culto das armas.
A Canção do Arizona
4.1 3Filme para encantar crianças que se maravilhavam com as roupas de Roy Rogers nos anos 1940 e 1950. Roupas que hoje parecem cafonas. As botas dele chamam muita atenção. George 'Gabby' Hayes era uma figurinha carimbada nos filmes de faroeste de antigamente.
O Revólver Silencioso
3.8 4O filme mostra o Estado impondo o império do Direito em regiões dominadas ainda pela lei do mais forte. Forrest Tucker faz o papel do xerife, isto é, do representante de Estado, que impede a turba de fazer a lei com as próprias mãos. Graças à dedicação de um funcionário do Estado, a pequena cidade do Oeste selvagem estava se tornando civilizada.
Achei o roteiro fraco.
Corações Enamorados
3.8 19A história se passa nos anos dourados do capitalismo. A sociedade de consumo estimula todos a vencerem na vida. O fracasso é abominado. Os perdedores no jogo de conquista de uma boa posição na escala social são estigmatizados.
Barney Sloan é um perdedor incorrigível, um músico fracassado. Laurie se casa com ele e ambos vivem sem dinheiro. Ela consegue converter o marido teimoso mostrando-lhe a importância de se inserir no sistema, obtendo sucesso, ganhando dinheiro para sustentar a família e levar uma vida confortável.
O jogo social mostrado no filme dá sentido à vida cotidiana de bilhões de pessoas que nascem na sociedade burguesa. Esse jogo explica em parte o êxito do capitalismo e o fracasso do socialismo.
Gostei de ouvir as canções Young at heart e Someone to watch over me. Gostei do Number Nine. Achei o enredo fraco. Em muitos momentos, as legendas foram incompreensíveis. Os diálogos apresentam muitas expressões que o tradutor para o português desconhecia.
O Assalto
3.2 56 Assista AgoraAchei que a trama tem excesso de reviravoltas. A última reviravolta ficou subentendida? A namorada do Joe fez mesmo uma trairagem ou foi tudo combinado para concluir um golpe perfeito?
Gosto de enredos que concentram todo o foco num só assunto. O filme podia ter focado apenas o assalto ao avião, no roubo do ouro, para deixar o roteiro mais limpo, melhor detalhado e menos confuso.
Arizona Violenta
3.5 9Boa surpresa.
A cópia do filme é ótima, as cores afloram vivas e a imagem tem brilho excelente.
O filme deve ter sido rodado numa região próxima ao México. A paisagem geográfica semiárida e as casas sem telhado revelam isso.
É uma curtição assistir faroestes filmados nas paisagens semidesérticas dos EUA.
O ritmo do longa impressiona.
O enredo é batido mas consegue agradar os amantes de faroeste, um gênero semelhante a fast food: — não alimenta, não é saudável, mas tem gente como eu que não fica sem.
Eu Não Sou Seu Negro
4.5 136 Assista AgoraNão conhecia o James Baldwin. O incrível documentário de Raoul Peck explica por que. O brilhante intelectual negro rasgou a pança do Tio Sam com uma navalha afiada para mostrar todas as suas vísceras podres. Chocante!
Baldwin era e continua sendo intragável para as elites dominantes dos EUA. Ele foi um exemplo de intelectual vigoroso que não faz concessões à mediocridade, que diz tudo o que precisa ser dito, sem medo, com uma inteligência afiadíssima.
O mundo necessita muito de intelectuais como Baldwin.
Maldição do Desejo
3.2 1Quando um filme tem muitos personagens, anoto os nomes numa folha de papel para saber quem é quem, senão me perco.
Na parte final, o filme assume o gênero Terror.
Num site estrangeiro, 196 pessoas deram nota 6,8 à Maldição do desejo.
Desafiando o Perigo
2.3 6 Assista AgoraSó peguei o DVD empoeirado da prateleira porque tinha legendas em inglês.
Estou estudando a língua de Shakespeare para poder assistir filmes publicados no You Tube sem legendas em português.
Achei que não tinha gostado do filme por não ter compreendido 100% dos diálogos com áudio e legendas em inglês.
O filme é mesmo chato pra daná.
Só gostei um pouco das cenas de bar em que as pessoas assistem o histórico jogo final de beisebol de 1986 entre o New York Mets contra o Boston Red Sox.
Nunca aos Domingos
3.9 48Costumo ler os comentários para não postar coisas repetitivas. Achei que o comentário de Bruna Veras acertou na mosca. Ela escreveu: llya e Zorba foram separados no berço?
Jules Dassin deve ter lido o romance Zorba, o grego, de Níkos Kazantzákis, para elaborar o roteiro de Nunca aos domingos. Em seus estudos acadêmicos, Kazantzákis tinha produzido uma dissertação sobre a filosofia de Friedrich Nietzsche.
Isso explica por que o filme de Dassin transpira o pensamento de Nietzsche.
Para o filósofo alemão, o Ocidente produz homens sem vida. A filosofia de Sócrates, exaltando a razão; e a moral cristã, satanizando os instintos, fundaram a civilização ocidental — ou seja, estabeleceram os princípios que moldaram a existência humana no Ocidente.
Segundo a civilização ocidental, o homem deveria guiar-se pela razão sufocando os instintos animalescos. Assim, o homem ocidental sufocou a vida, as paixões. Perdeu as energias vitais e tornou-se doente.
Homer Trace representa o homem que coloca a razão acima da vida. A prostituta Ilya deixa a razão em segundo plano e dá vazão à sua paixão pela vida. Da mesma forma, o grego que toca o seu instrumento musical por intuição, sem recorrer à partitura, contraria o padrão racional vigente no Ocidente.
Ilya via beleza e emoção na tragédia grega. O americano Homer interpretou racionalmente o drama que assistiram juntos no anfiteatro e tudo ficou sem sentido para Ilya. A racionalidade de Homer não levou em consideração a pulsão da vida que existia na peça e destruiu o prazer que proporcionava à prostituta culta.
Homer faz o papel de Sócrates. Ele tenta mostrar à Ilya que a razão, o saber racional, põe ordem e perfeição no mundo. Na verdade, ele estava domesticando a força da vida que corria nas veias de Ilya. Para Homer, a Grécia atual tornou-se decadente por não empregar o conhecimento racional para organizar a sociedade.
Nietzsche pensava o contrário. A decadência da Grécia na Antiguidade ocorreu devido à influência do pensamento socrático que destruiu a vida que borbulhava na cultura trágica, dionisíaca. Foi a vitória da razão contra os instintos. Foi a vitória de Homer contra Ilya.
No filme, Ilya, que diz sim à vida, é quem vence. Homer, que não achava racional quebrar taças de vidro no chão, percebe no fim que o homem não é apenas um animal racional, precisa dar vazão às paixões, às emoções, aos sentimentos. Vale lembrar que o psicopata social é um indivíduo que conservou a razão mas é desprovido de emoções e sentimentos.
Destaco que o mundo caótico em que vivemos é o resultado do predomínio absoluto da razão sobre os sentimentos. Mas é importante lembrar que deve existir um equilíbrio entre razão e instintos, entre o apolíneo e o dionisíaco. Descartar a razão seria uma loucura.
Ao Rufar dos Tambores
3.5 20 Assista AgoraNão gosto muito de faroestes que abordam o período de independência dos EUA. Os temas discorridos neles são diferentes dos temas clássicos dos faroestes que transcorrem na segunda metade do século XIX. A paisagem também é diferente, tem muita vegetação ao contrário das pradarias e dos desertos que aparecem nos faroestes que gosto.
Mas gostei do filme. A cópia restaurada nos revela um technicolor com cores um pouco saturadas.
John Ford desde os primeiros faroestes deixava suas marcas inconfundíveis, sobretudo o tom patriótico na narrativa sobre a construção da nação; o estilo épico na formulação de algumas cenas; a posição da câmara para mostrar a magnitude de alguns personagens; as cenas de dança e música tradicionais; o otimismo sobre a natureza humana, enfim.
O Processo de Joana D'arc
4.0 19Bresson realizou um filme baseado em documentos históricos. Não se sabe se estes documentos relataram fielmente o que foi dito no processo de condenação de Joana D’Arc. Era comum a Igreja manipular as informações conforme os seus interesses.
De qualquer forma, duas coisas foram evidenciadas no filme: a implacável intolerância da Igreja e a manifestação da individualidade que anunciava auspiciosamente a era moderna.
Joana D’Arc foi uma das primeiras bactérias que atacaram o corpo da Santa Madre Igreja Católica que representava então o pilar de sustentação da sociedade medieval. Nessa sociedade, graças ao controle absoluto da Igreja, ficava quase impossível o florescimento do que conhecemos hoje como indivíduo. Ou seja, do membro da sociedade com ideias, personalidade, preferências e interesses diferentes daqueles dominantes na comunidade e, portanto, livre para pensar, escolher e agir.
No processo de condenação de Joana vemos como funcionava o controle da Igreja para sufocar o nascimento do indivíduo. Permitir que Joana permanecesse viva seria a perdição da Igreja. Infelizmente para o catolicismo, o movimento da modernidade tinha a força colossal de um tsunami que devastaria tudo.
Enfim, nada mais, nada menos, Bresson filmou com olhar e cacoete de um documentarista o estopim de uma revolução que iria transformar a face do planeta.
Ginger e Fred
3.9 34 Assista AgoraQuando assisti o filme em vídeo cassete, nos anos oitenta, chorei de tanto rir na cena da dança.
Poderia dizer que o filme envelheceu. Acho que fui eu que envelheci porque, revendo a cena, não achei mais tanta graça.
A crítica do diretor italiano ao mundo da televisão é dura e corrosiva, mas sem perder a ternura jamais.
A música Let's face the music and dance conferiu um toque nostálgico ao filme.
Não sou fã do Fellini. Gosto apenas de dois filmes dele: Estrada da vida e Noites de Cabíria.
Stromboli
4.0 40Em Stromboli, Rosselini faz o estudo antropológico de uma comunidade primitiva. Na ilha vulcânica, a natureza se evidencia com muita força.
O tema do filme é o distanciamento do homem civilizado em relação à natureza de onde ele se originou. Em Stromboli, Karin acha que as pessoas são selvagens porque elas vivem próximas do estado de natureza. Ela acha insuportável viver nesse mundo. Desejava morar na Argentina que, naquele tempo, era considerada um país de primeiro mundo.
A beleza da Ingrid Bergman disputa a nossa atenção competindo com a beleza da paisagem cenográfica. A grande estrela de Hollywood saiu de um universo glamoroso e foi trabalhar num universo rústico. Rossellini produziu um filme que é o avesso do avesso de Hollywood.
Comparei Stromboli com Natal branco, que assisti anteontem. A diferença é chocante.
Comparei Stromboli com A noiva era ele, que assisti ontem. Foi como comparar o livro A origem das espécies com um gibi do Pato Donald.
Foi uma grande tolice comparar lixo cultural com obra de arte. Uma tolice tão grande quanto continuar consumindo lixo cultural.
A Noiva Era Ele
3.7 14O bicho homem é um animal complexo. Não achei graça nenhuma no filme. O meu senso de humor não é muito sofisticado. Algumas piadas me fazem morrer de rir. Outras, não.
A missão que o capitão Henri Rochard e a tenente Catherine Gates realizam é a mais estapafúrdia que já vi no cinema.
Natal Branco
3.6 26 Assista Agora1. White Christmas é uma de minhas músicas de Natal prediletas. Quando Bing Crosby apareceu cantando essa música acompanhado por uma caixa de música, tive um baque.
2. Sempre ouvi Rosemary Clooney cantar músicas como Hey there, Tenderly e You’ll never know. Foi uma boa surpresa saber que ela era atriz também.
3. A voz grave e aveludada de Bing Crosby soou muito bonita nas minhas caixas acústicas alimentadas por receiver.
4. Queria saber por que os musicais de Hollywood abandonaram os deliciosos sapateados. Alguém sabe?
5. Na minha modestíssima opinião, todos os números de dança do filme de Michael Curtiz somados nem chegam perto da dança das prostitutas na abertura do filme Cabaret comandada por Joel Grey.