O filme destaca a divisão na sociedade burguesa entre as esferas pública e privada. Depois de ler os comentários achei que vale a pena ser didático. A dificuldade que muita gente teve de compreender o filme escancara o fracasso cabal dos nossos currículos de História e de Sociologia.
Na Grécia Antiga, as pessoas eram cidadãs. As ruas e praças eram locais de convivência comunitária. Ninguém parava em casa, a não ser para dormir. A vida pública fervilhava. Todos participavam das decisões públicas. Ou seja, todos eram políticos no verdadeiro sentido da palavra.
O homem moderno virou indivíduo, com uma subjetividade rica e egocêntrica. Desenvolvemos uma coisa que se tornou sagrada: a intimidade. Para preservar a nossa intimidade, ocultamos o corpo e transformamos a casa numa espécie de esconderijo cujo principal tesouro é a privacidade. A casa tornou-se também um cofre onde guardamos todas as nossas coisas sagradas, dando vazão ao nosso instinto civilizado e insaciável de posse.
Ao tornar-se indivíduo, o homem moderno passou a cultuar a personalidade. Antes, ninguém sequer assinava a sua obra de arte. Agora, admiramos gente famosa, sonhamos em conquistar fama. Gostamos de ter a nossa personalidade reconhecida publicamente. O outro só existe se despontar como objeto de admiração de nosso fantástico ego.
Algumas classes sociais cercaram espaços da cidade com muros para ficaram longe de classes pobres e de marginais. Construíram shoppings para não precisarem fazer compras, irem ao cinema e saborear suas refeições, compartilhando as ruas da cidade com os feios, sujos e malvados.
O homem grego era urbano, era um membro vivo da cidade, sabia conviver no espaço público. O homem contemporâneo tornou-se reservado, fechado em seu esconderijo com a sua família, amando a privacidade cada vez mais.
O engenhoso filme de Darren Aronofsky mostra um casal vivendo num casarão bastante isolado, sem nenhum vizinho por perto. A mulher reforma a casa para transformá-la num paraíso. O marido busca inspiração para escrever mais um livro de poesia. Mas não consegue. O isolamento da vida social esterilizou a sua imaginação. E para complementar a sua inanição intelectual, a vida longe do mundo matou também o apetite sexual do escritor. A casa tinha virado um monumento fúnebre.
Na segunda parte do filme, vemos o que acontece no mundo moderno quando um espaço privado se torna público. Vira um verdadeiro inferno. (As pessoas famosas acham que a sua vida virou um inferno quando perderam a privacidade.)
Entretanto, quando a casa foi invadida e o esconderijo sagrado do casal foi violado, o escritor experimentou a pulsação da vida social efervescente e voltou a criar. O gênio renasceu. Para a mulher, a invasão de sua privacidade foi pavorosa, dantesca, horripilante.
O indivíduo moderno não é urbano e nem verdadeiramente político como era o cidadão grego. Foi transformado pela sociedade burguesa em uma massa amorfa que denominamos pejorativamente povo. Podemos ver na Internet o que acontece quando essa massa tem a oportunidade de desfrutar de um espaço público.
A esfera pública desenvolvida pela burguesia agrega moradores de rua que perderam toda noção de dignidade e minorias ricas que abocanham quase toda riqueza produzida pela sociedade. Agrega indivíduos com doutorado na Sorbonne e pessoas analfabetas que não tiveram acesso a bens culturais como a música clássica. Agrega pessoas sensíveis e animais bárbaros. E assim por diante. O projeto de sociedade da burguesia, especialmente da burguesia brasileira, é uma tremenda bosta. A vida pública tem como única virtude acirrar a luta de classes. Os pensadores gregos que forjaram o que hoje conhecemos como civilização ocidental vomitariam se vissem o que fizeram do seu projeto de vida política e comunitária.
O noir dá maior impacto às cenas, mas acho que deixa o filme cansativo. Prefiro filmes que mostram paisagens deslumbrantes. Achei interessante um macaco como herói de um filme. No dia em que a humanidade for extinta, se a bicharada tivesse consciência do significado desse fato extraordinário, faria a maior festa da história do planeta. Não acho que a culpa pela destruição da Terra seja propriamente dos humanos. Durante milhões de anos, nossos ancestrais viviam em perfeita harmonia com a natureza. Há seis mil anos, as coisas começaram a mudar com o nascimento da sociedade civilizada. Acho que a mudança da forma de organização da sociedade pode, portanto, salvar o planeta. No atual sistema social, o homem perdeu o controle sobre o rumo das coisas. O empresário ou acionista sabem que o lucro posto acima de tudo está destruindo o meio ambiente, mas sabem também que se a empresa perder a competitividade no mercado, ela não sobrevive e empregos serão destruídos. Se num país mais evoluído democraticamente a sociedade forçar a aprovação de leis de proteção ao meio ambiente, as empresas não conseguirão competir com os produtos que chegam de países como a China onde existem menos restrições legais para a produção do lucro. Logo, só a dominação dos macacos pode salvar o planeta, já que todos os projetos de transformação da sociedade faliram no século XX. Estou apenas brincando de ser cínico...
Quem gosta dos filmes de Quentin Tarantino deve ficar longe deste filme. Ele é tão açucarado que poderá dar náuseas a quem sente fascínio pela violência. Quem gosta de faroeste, e não se incomoda, como eu, com o maniqueísmo infantilóide que o caracteriza, achará que o filme do diretor Jacques Tourneur é borocoxô, isto é, enfadonho, maçante, tedioso. Faroeste sem bandido de verdade é como cerveja sem álcool; é como espaguete à bolonhesa sem provolone; é como comer uma boa feijoada sem nenhum apetite. Na minha modesta opinião, não funciona. Em outras palavras, sem um mocinho se vingando de um bandido violento e cruel, o enredo de O testamento de Deus fica bem frouxo. Trata-se na verdade de um filme religioso e não de um faroeste. Só o cenário lembra um autêntico bang-bang. Para quem gosta de filmes do gênero, recomendo usar um lenço no final do filme.
Minha curtição: assistir um faroeste produzido nos anos 1950, filmado em Cinemascope. O prazer é maior quando vejo o filme no meu projetor Home Teather, em sala escura. O enredo do filme é bem burocrático, sem nenhuma originalidade, sem nenhuma surpresa. Choque de ódios chega a copiar a cena final de Matar ou morrer. Mas por ser um amante incorrigível de faroeste, gostei muito do filme.
Algumas frases patrióticas exaltando a União de todos sob uma só bandeira me embrulharam o estômago. Assisti o filme sem saber que já havia visto. Se fosse um faroeste do John Ford assistiria várias vezes sempre com o mesmo prazer.
Em termos pictóricos, o Japão pobre e antigo tinha mais charme que o Japão rico e moderno. A fotografia desse Japão devastado moralmente pela guerra foi o que mais me seduziu assistindo o filme. Será que eu estaria sendo machista ao assinalar que a feminilidade e os mistérios de Sachi enfeitiçam os corações de homens como eu? Não sei se entendi a intenção de Osamu Dazai, autor do romance que inspirou o roteiro do filme. Parece que ele se sentia revoltado pela rendição do Japão na guerra e por não terem todos lutado até o fim. Depois da traição recíproca, Sachi diz a Otani que o importante é que eles continuavam vivos. Dazai parece lamentar esse final conformista após todos terem traído a sua dignidade. Os japoneses teriam perdido a dignidade aceitando a derrota na guerra? Naquela época, o nacionalismo incutido no povo pelos militares era fanático. Aparentemente, também seduzido por esse nacionalismo, o escritor Osamu Dazai narra suas amarguras observando a que níveis um homem pode se rebaixar ao perder a dignidade. Para Dazai, a perda da dignidade significava os japoneses terem abandonado os seus nobres ideais de morrer pela pátria. Felizmente, hoje, apenas uma reduzida elite direitista e fanática continua defendendo esse nacionalismo estúpido. Nacionalismo que, como uma flauta mágica, desperta o ódio e arrasta os povos à guerra.
Dorothy Malone jovem interpreta Julie Ann Winslow, o tipo de mulher que os homens escolhem para casar. Colorado Carson não é flor que se cheire. Imprestável para o casamento. Raoul Walsh nos ensina a escolher a mulher certa com quem podemos passar o resto de nossas vidas. O ensinamento evitaria desilusões e muitos aborrecimentos. Mas parece que gostamos de dar cabeçada. Nos filmes de Hollywood, pessoas fora da lei
não podem escapar vivas. Seria inadmissível o mocinho e a mocinha terem fugido para o México para serem felizes para sempre, como é regra nos faroestes clássicos.
O Felipe nos conta que o filme foi rodado nas trilhas e montanhas de Lone Pine, Califórnia. O cenário filmado em widescreen confere um toque grandioso a um faroeste B produzido em poucas semanas. Incrível como um bom roteiro transforma uma produção barata em um filme gostoso de assistir. Maureen O'Sullivan continuava bonita aos 46 anos.
Se tem uma coisa que me enche de felicidade é assistir um faroeste de John Ford, em branco e preto, das décadas de 1940 e 1950. Para aumentar ainda mais o meu prazer, a cópia em DVD estava ótima. Gostei das canções, vibrei com as danças, fiquei extasiado, mais uma vez, com as belíssimas paisagens do semiárido dos EUA. Precisei desligar o meu senso crítico para não estragar tanto barato. Sei do genocídio dos índios americanos. Mas foi impossível não ficar impressionado com a bravura dos pioneiros que desbravaram o Oeste estadunidense enfrentado os piores obstáculos. Ford gosta de glorificar a saga de homens que tiveram a coragem de enfrentar um território tão inóspito. Através do cinema ele contribui para construir a identidade de uma nação.
A raiz do problema do assédio sexual parece estar na repressão sexual. Esta só existe em sociedades civilizadas, isto é, em sociedades que desenvolveram a agricultura, a propriedade, o sentimento de posse, a família patriarcal, os tabus sexuais, o sentimento de ciúme, o tratamento da mulher como coisa que os homens desejam possuir etc. Antes do advento da civilização, a sexualidade era tratada como uma coisa natural como tantas outras. Quando as sociedades civilizadas começaram a reprimir a sexualidade, surgiram a noção de pecado, as perversões, a prostituição, a pornografia, a masturbação, as neuroses, a frigidez, a impotência, o voyeurismo e o assédio a mulheres. Antes de ser vítima de assédio, Fayza era vítima da repressão sexual. Não conseguia fazer sexo com o desesperado marido. Este, por sua vez, também vítima da repressão, praticou o assédio sexual num ônibus. Um outro assediador confessou que assediava porque não tinha dinheiro para casar. Se não existisse repressão sexual, se a sexualidade não fosse problema para ninguém, os homens não precisariam ficar assediando as mulheres utilizando estratégias ridículas como a do limão no bolso da calça. Sonho com uma sociedade que eduque as pessoas desde a adolescência para a prática saudável do sexo, sem qualquer tipo de neura, da mesma forma natural que os nossos ancestrais encaravam a sexualidade. Aí, coisas escabrosas como a pedofilia ficariam guardadas nos livros de história como aberrações típicas da era das trevas. Está na hora de as feministas refletirem mais sobre as origens, as consequências e soluções para a repressão sexual, percebendo que os homens também são vítimas desse mal nefasto. Num mundo em que todas as pessoas fossem realizadas sexualmente, o ódio seria menos intenso e as relações sociais seriam muitíssimo menos agressivas.
Acabei de assistir de novo este filme estupendo. A palavra cult está desgastada demais para expressar o que sinto por esta obra prima de Carlos Saura. Só não assisto mais vezes porque tenho receio de desgastar algo que adoro. Crianças pobres, como já fui, fazem o mesmo: deixam de comer aquele último naco delicioso de linguiça, com pena, deixando de comê-lo para saboreá-lo só no fim da refeição. O conceito nietzschiano de dionisíaco exprime bem o que é Sevillanas. Emoção, sensualidade, paixão, explosão demoníaca de cores, de ritmo bruxo, de sangue fervendo nas veias.
Desconfio que Juventude transviada seja um dos marcos do puercentrismo, ou seja, da colocação dos jovens no centro do mundo. Na década de 1950, tínhamos os anos dourados do capitalismo. Os EUA eram a nação mais rica do mundo hiperdisparado. Os pais de classe média podiam dar todas as coisas que os filhos desejassem. Mas estavam tão envolvidos com a fascinante luta para ganhar rios de dinheiro que não tinham mais tempo para dar atenção aos filhos. O resultado foi o que o filme mostra. Juventude transviada tem um diagnóstico diferente. O filme defende a tese de que o jovem sente a necessidade da figura de um pai forte para se sentir seguro. Jim Stark se sente perdido porque o pai é fraco, não domina sua mulher, agindo como um covarde. Na escola, ele precisa mostrar a si mesmo que não é covarde como o pai. Essa seria a explicação para o fenômeno da juventude rebelde da época. Uma simplificação basbaque da realidade.
O filme parecia interessante por envolver comida e culinária. Aos poucos, as cenas começam a produzir irritação, graças ao pai e ao filho mimado que são insuportáveis. O roteirista tem um olhar aristocrático e trata a faxineira, Sra. Joan Porter, de forma caricata e depreciativa sem explicar por que a vida que ela levou no passado não lhe permitiu um refinamento de modos. Felizmente, Helena Bonham Carter consegue despertar na gente uma certa empatia com a personagem. A trilha sonora alivia um pouco a pentelhice do pai e do filho.
A sociedade dividida em classes, regida pela lei de mercado, obriga todo indivíduo a responsabilizar-se solitariamente pela sua sobrevivência e de sua família. Na esfera da luta pela sobrevivência, a lei de mercado copia a lei da selva. Na selva capitalista, os mais fortes dominam e exploram os mais fracos. No filme de Fellini, os vigaristas, não fazendo parte da classe dos mais fortes, procuram sobreviver sendo os mais espertos, enganando assim os fracos. Vi um documentário na TV a cabo sobre a renda básica universal. De acordo com os intelectuais liberais que propõe esse programa, todo cidadão, do nascimento até a morte, receberia uma espécie de bônus mensal do governo. Existe uma cidade no Canadá que aplica esse programa com ótimos resultados. Os pensadores liberais que defendem a renda básica universal acham que a proposta salvaria o capitalismo eliminando suas principais mazelas. Ela evitaria, por exemplo, os gastos trilionários do Estado com a previdência social. Acho que esse programa reduziria a violência de forma brutal e isso cortaria ainda mais os gastos do Estado. A renda poupada seria distribuída igualmente a todos os cidadãos. Com o passar do tempo, as pessoas não precisariam mais preocupar-se com a questão da sobrevivência e perderiam até o instinto de posse. Esses pensadores acham que a propriedade privada desapareceria. Sem donos, as fábricas seriam geridas pela comunidade. No filme de Fellini fica claro que a luta pela sobrevivência imposta pelas leis de mercado transforma as pessoas ou em predadoras, ou em presas. A culpa não é das pessoas. Augusto, Roberto e Picasso não precisariam enganar outras pessoas para sobreviver se existisse a renda básica universal. Fellini revela uma certa ternura por esses pobres vigaristas porque sabe que estes não são os verdadeiros culpados pela existência da lei da selva. A humanidade existe há centenas de milhares de anos. A descoberta da propriedade privada e a divisão da sociedade em classes aconteceram há cerca de seis mil anos, após o desenvolvimento da agricultura. O capitalismo e o mercado como instituição existem há cerca de quinhentos anos. O homem nem sempre foi perverso. Quando o homem não tinha ainda o instinto de posse, vivendo em comunidade, onde todos eram iguais, a solidariedade e não a competição orientava a vida de todos. A luta pela sobrevivência era coletiva. Mas a luta pela sobrevivência obrigava os homens primitivos a fazerem guerra para preservar o território de onde extraíam alimentos através da caça e da coleta. Não era o tipo de sociedade desejado por pensadores como Karl Marx. Dizem que a proposta da renda básica universal eliminaria a fonte de todos os problemas da humanidade: a luta pela sobrevivência e o instinto de posse que gera o desejo de acumular riqueza. Enfim, a perversidade não é um atributo natural do homem. A forma de organização da sociedade pode favorecer a situação do lobo devorando os demais lobos. O lobo seria movido pelo instinto de sobrevivência ou pelo desejo de acumular riqueza. A ideologia conservadora dissemina a ideia de que a violência nasce da perversidade natural do homem. Assim, a forma de organização da sociedade jamais é questionada. Para os conservadores, a solução seria a repressão implacável contra os maus.
No filme Homens e deuses, uma autoridade governamental da ex-colônia diz que os franceses são os responsáveis pela violência que impera em seu país. Quem estudou História, Sociologia e Política sabe que essa afirmação faz sentido. A França foi uma das nações imperialistas responsáveis pela colonização da África. A Igreja Católica teve participação importante nessa colonização. Impondo uma religião exótica aos povos colonizados e destruindo, assim, a sua identidade cultural, a Igreja transformou os nativos em mendigos humanos degradados, desprovidos de alma, fáceis de serem dominados politicamente. Método semelhante foi empregado pela Grã-Bretanha para colonizar a China, com uma diferença — o ópio, nesse caso, substituiu a religião. No caso da colonização francesa, a religião foi o ópio do povo. No filme, oito monges franceses tentam amenizar os resultados catastróficos provocados pela colonização francesa. Esses bem intencionados monges tentam combater o câncer com aspirina e são revelados ao mundo como santos, mártires, quase deuses. Salvam as suas almas, salvam a imagem da França e da Igreja Católica, mas não salvam o povo massacrado pelos resultados históricos do colonialismo francês. Cristo queria salvar a humanidade. Uma das receitas para a salvação era que todos amassem o inimigo. Se todo mundo seguisse fielmente essa recomendação, não existiria violência no planeta. Os oito monges tentam seguir essa recomendação de Cristo, amando inclusive os terroristas. Fizeram sua parte distribuindo aspirina a pacientes carcomidos pelo câncer. Câncer cuja origem está na colonização francesa. Merece destaque uma bela cena com uma associação inebriante: a última ceia ilustrada pela música Lac des cygnes, op. 20, de Tchaikovsky, regada a um vinho que, pelo sorriso dos monges, parece ser majestoso.
Após a revolução de 1979, os aiatolás impuseram ao Irã um islamismo radical. Por conta disso, o Irã tem uma das piores desigualdades de gênero do mundo. Mulheres precisam cobrir suas cabeças com um véu preto e vestir uma espécie de batina preta até o calcanhar para não revelar a sensualidade natural do corpo feminino. As iranianas mais modernas usam roupas e lenços coloridos. Algumas meninas foram atacadas por iranianos radicais com ácido no rosto, por não terem trajado o véu de forma adequada. Existem táxi e vagões de metrô femininos. Mulheres não podem cantar profissionalmente. Uma jovem iraniana, Reyhaneh Jabbari, foi condenada à morte pelo assassinato de um homem que a estuprou. Na cultura iraniana, a honra da mulher é considerada algo sagrado. Para os radicais, se ela mostrar o rosto a um homem, pode manchar a sua honra, provocando consequências graves para a sua vida. Vamos ao filme. Os pais de Zahra e Massoumeh aprisionam suas filhas gêmeas. O pai justifica o cativeiro: a mãe, por ser cega, não poderia garantir a honra das filhas se elas ficassem livres na rua. O pai cita o livro Conselho aos Pais: “Uma menina é como uma flor. Se o sol brilha sobre elas, elas perdem a cor. O olhar do homem é como o sol e a menina é como uma flor.” O pai enfatiza que oferecer suas filhas ao olhar de outros homens seria como colocar algodão próximo ao fogo. Vizinhos denunciam os pais de Zahra e Massoumeh à Secretaria do Bem Estar da Família por manterem as filhas no cativeiro há 11 anos. O espírito comunitário ainda permanece vivo no Irã. As vizinhas dizem que as gêmeas são como filhas para elas. No filme, a assistente social representa o Estado iraniano. A intervenção da assistente social na vida privada da família das gêmeas é tão severa que desponta o princípio defendido pelos adeptos mais radicais do Liberalismo: o Estado não pode interferir na vida privada dos indivíduos. Cada um faz o que bem entende em sua vida privada. Samira Makhmalbaf mostra que a intervenção do Estado moderno, mesmo que tirânica, pode amenizar a opressão da cultura iraniana sobre as mulheres. Certamente, a diretora faz parte da intelectualidade que defende a modernização de costumes no Irã. No filme, um garotinho brinca com uma vara com barbante em cuja ponta tem uma maçã. Guiadas pela maçã na ponta do barbante, as duas meninas, sensíveis e inteligentes, imbecilizadas por uma cultura tradicional opressiva, saem pelas ruas e descobrem a liberdade e começam a desenvolver a mente, a linguagem, a capacidade de desfrutar as coisas belas que a vida oferece — como a amizade com outras crianças. Acho que a maçã representa a mão do Estado moderno. Da janela de um sobrado, o garotinho faz a maçã rodear a cabeça da mãe cega. A maçã estimula a consciência da mulher que tem o cérebro dominado e petrificado por um islamismo radical. De repente, ela desperta e consegue pegar a maçã. Ou seja, o Estado deve cumprir o papel de guia para despertar o cérebro das mulheres sufocadas e cegadas pela cultura tradicional.
Woody Allen deve ter lido Freud e Nietzsche. Influência de Nietzsche: A exacerbação da racionalidade mata a vida e transforma tudo em deserto gelado. Esse deserto é desenhado pelas cores frias e neutras de um apartamento decorado de forma meticulosamente apolínea; pelos sentimentos controlados dos personagens; pelo sentido da existência transformado num objetivo racional; pelas justificativas formuladas racionalmente para as decisões. Expressando o fogo dionisíaco que corre em suas veias, a madrasta traz um pouco de vida a uma família devastada pela racionalidade. Se as três filhas tivessem tido a madrasta como a verdadeira mãe não teriam ficado tão neuróticas e, provavelmente, seriam menos infelizes na vida adulta. A influência de Freud se revela no complexo de Electra explícito e no sentimento de culpa atroz de Joey. A atração incestuosa da filha pelo pai teria ficado mais excitante se tivesse ficado implícito como no filme: Comer. Beber. Viver, de Ang Lee, onde um pai cozinheiro tem três filhas adultas e arranja uma namorada que mata a primogênita de ciúmes. A família de tipo nuclear é uma riquíssima fonte de neuroses.
Dei nota 4 apenas por ser aficionado por filmes de faroeste. O enredo é bem manjado. Mas somos como crianças que não se cansam de ouvir sempre as mesmas histórias da carochinha. Por isso, assisti a mais esse faroeste com prazer e emoção. O vilão do filme, da mesma forma que os coronéis do Nordeste, é dono de tudo. Até da alma dos moradores da cidade. O povo, coitado, precisou de um herói para se libertar da opressão do oligarca. Triste do povo que necessita de heróis.
Assisti a versão Redux de 202 minutos e achei o filme arrastado e interminável. Não consegui entrar no embalo do filme. Depois de três horas, comecei a cochilar e precisei voltar o DVD várias vezes. Falemos do enredo. A guerra moderna é a maior insanidade produzida pelo imperialismo. Insanos são aqueles que convivem com a insanidade a se comportam como se fossem sãos — como os surfistas do filme. As pessoas consideradas insanas são as mais lúcidas. Para citar um exemplo, Vincent van Gogh era louco varrido. Coronel Kurtz foi considerado insano pelos imbecis que engendraram e que comandavam e apoiavam a guerra. Estes eram os verdadeiros insanos. Notei nos comentários o seguinte: algumas pessoas que assistiram a versão Redux não gostaram do filme. Vou seguir o conselho do Jefferson Mendes e assistir a versão original de 153 minutos. De preferência em blu-ray.
Dos filmes sobre a guerra do Vietnã, gostei mais do Platoon. Achei esta versão interminável. Bateu um sono no final, cochilei várias vezes e fiquei voltando o DVD para assistir a parte que tinha perdido. Acho que isso pode ter prejudicado a nota que dei ao filme.
Apesar do tom de comédia, o filme tem uma crítica ácida à sociedade japonesa machista. Refiro-me à cena da mulher que está morrendo e tem uma sobrevida ao receber a ordem do marido para preparar o jantar. A mulher no Japão é educada para dar a vida pelo marido e pelos filhos, como uma verdadeira escrava. Resultado: as mulheres não querem mais saber de casamento. No final, durante a apresentação dos créditos, não é que aparece o alimento mais importante do bicho humano? Tudo graças ao casamento. Depois de ver o filme, fiquei com uma vontade danada de dar um pause na minha dieta low carb.
Acabei de ver um documentário sobre jovens pobres que não conseguem o primeiro emprego. As empresas não cumprem a lei denominada Jovens Aprendizes. Estamos fomentando futuros criminosos que irão roubar e matar cidadãos inocentes com muito ódio no coração. Paralelamente, muita gente acha que a questão ambiental depende da boa vontade de empresas e governantes. Numa economia de mercado, a empresa precisa competir para sobreviver. Se for generosa com os jovens desempregados e seguir medidas para a preservação do meio ambiente, pode acabar sendo superada pelos concorrentes, sobretudo do exterior. Os governantes precisam prioritariamente proteger o lucro das empresas para estimular o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. Não podem priorizar o meio ambiente e o bem estar da população. Aqueles que não fazem isso acabam caindo. Logo, acho que a salvação do planeta depende da mudança do sistema econômico. A produção e o comércio deveriam visar o bem estar da sociedade e a preservação do planeta e não a multiplicação do capital investido. Para que isso fosse possível, as unidades de produção de bens deveriam pertencer à comunidade e ser regidas pela cooperação e não pela concorrência. Todos teriam trabalho e o mínimo necessário para viver com dignidade. Com a distribuição de trabalho para todos o tempo da jornada diária cairia muito. O tempo livre seria dedicado ao estudo científico e filosófico; à atividade artística, comunitária e esportiva; ao turismo etc. A democracia deveria ser a mais direta e menos representativa possível. Sem envolver a mudança do sistema econômico, acho uma perda de tempo incrível as discussões intermináveis sobre a desigualdade social, miséria, fome e destruição do meio ambiente.
A filosofia grega e o cristianismo são os fundamentos da civilização ocidental. Desde pelo menos a Idade Média, os judeus têm sido perseguidos e chacinados como assassinos de Jesus Cristo. Durante as Cruzadas, por exemplo, os judeus tiveram seus bens pilhados e foram mortos como moscas. A situação dos judeus não melhorou na Idade Moderna. Shakespeare não escapou da visão preconceituosa que a sociedade da época tinha dos judeus. Em O mercador de Veneza, o judeu é retratado como um homem vil, de coração duro, impiedoso e desumano que coloca o dinheiro acima de tudo. O mercador cristão, ao contrário, aparece como um homem misericordioso, bondoso, humano. Depois do holocausto dos judeus na Segunda Guerra, acho que O mercador de Veneza soa como uma justificativa para o crime hediondo praticado pelos nazistas. Há quem ache que a obra de arte não deve ser avaliada por critérios éticos e morais, mas apenas estéticos. Além disso, O mercador de Veneza seria apenas expressão da visão de mundo que reinava em determinado contexto histórico. Por isso, não seria justo avaliar essa obra com a visão de mundo que temos hoje. É possível pensar dessa maneira?
A primeira vez que assisti o filme, nos anos noventa, estava com o olhar despreparado. Não frui da forma como poderia ter fruído. Desta vez, limpei minha cabeça poluída por filmes comerciais e pelo lixo que consumo vendo televisão. A imponência da Ópera de Pequim é arrebatadora. Pena que não tive formação para sentir o mesmo êxtase que o povo chinês sentia ao assistir esse grande monumento da cultura universal. Uma das coisas que mais gosto do cinema chinês é o encadeamento da história do país com a narrativa ficcional. Estou baixando Red amnesia. Espero que o filme mostre com detalhes e de forma mais profunda as mazelas da revolução cultural de Mao. Infelizmente, a cópia em DVD não era de boa qualidade. Adeus, minha concubina merece ser assistido em blu-ray ou 4K.
Mãe!
4.0 3,9K Assista Agora.
O filme destaca a divisão na sociedade burguesa entre as esferas pública e privada. Depois de ler os comentários achei que vale a pena ser didático. A dificuldade que muita gente teve de compreender o filme escancara o fracasso cabal dos nossos currículos de História e de Sociologia.
Na Grécia Antiga, as pessoas eram cidadãs. As ruas e praças eram locais de convivência comunitária. Ninguém parava em casa, a não ser para dormir. A vida pública fervilhava. Todos participavam das decisões públicas. Ou seja, todos eram políticos no verdadeiro sentido da palavra.
O homem moderno virou indivíduo, com uma subjetividade rica e egocêntrica. Desenvolvemos uma coisa que se tornou sagrada: a intimidade. Para preservar a nossa intimidade, ocultamos o corpo e transformamos a casa numa espécie de esconderijo cujo principal tesouro é a privacidade. A casa tornou-se também um cofre onde guardamos todas as nossas coisas sagradas, dando vazão ao nosso instinto civilizado e insaciável de posse.
Ao tornar-se indivíduo, o homem moderno passou a cultuar a personalidade. Antes, ninguém sequer assinava a sua obra de arte. Agora, admiramos gente famosa, sonhamos em conquistar fama. Gostamos de ter a nossa personalidade reconhecida publicamente. O outro só existe se despontar como objeto de admiração de nosso fantástico ego.
Algumas classes sociais cercaram espaços da cidade com muros para ficaram longe de classes pobres e de marginais. Construíram shoppings para não precisarem fazer compras, irem ao cinema e saborear suas refeições, compartilhando as ruas da cidade com os feios, sujos e malvados.
O homem grego era urbano, era um membro vivo da cidade, sabia conviver no espaço público. O homem contemporâneo tornou-se reservado, fechado em seu esconderijo com a sua família, amando a privacidade cada vez mais.
O engenhoso filme de Darren Aronofsky mostra um casal vivendo num casarão bastante isolado, sem nenhum vizinho por perto. A mulher reforma a casa para transformá-la num paraíso. O marido busca inspiração para escrever mais um livro de poesia. Mas não consegue. O isolamento da vida social esterilizou a sua imaginação. E para complementar a sua inanição intelectual, a vida longe do mundo matou também o apetite sexual do escritor. A casa tinha virado um monumento fúnebre.
Na segunda parte do filme, vemos o que acontece no mundo moderno quando um espaço privado se torna público. Vira um verdadeiro inferno. (As pessoas famosas acham que a sua vida virou um inferno quando perderam a privacidade.)
Entretanto, quando a casa foi invadida e o esconderijo sagrado do casal foi violado, o escritor experimentou a pulsação da vida social efervescente e voltou a criar. O gênio renasceu. Para a mulher, a invasão de sua privacidade foi pavorosa, dantesca, horripilante.
O indivíduo moderno não é urbano e nem verdadeiramente político como era o cidadão grego. Foi transformado pela sociedade burguesa em uma massa amorfa que denominamos pejorativamente povo. Podemos ver na Internet o que acontece quando essa massa tem a oportunidade de desfrutar de um espaço público.
A esfera pública desenvolvida pela burguesia agrega moradores de rua que perderam toda noção de dignidade e minorias ricas que abocanham quase toda riqueza produzida pela sociedade. Agrega indivíduos com doutorado na Sorbonne e pessoas analfabetas que não tiveram acesso a bens culturais como a música clássica. Agrega pessoas sensíveis e animais bárbaros. E assim por diante. O projeto de sociedade da burguesia, especialmente da burguesia brasileira, é uma tremenda bosta. A vida pública tem como única virtude acirrar a luta de classes. Os pensadores gregos que forjaram o que hoje conhecemos como civilização ocidental vomitariam se vissem o que fizeram do seu projeto de vida política e comunitária.
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Planeta dos Macacos: A Guerra
4.0 964 Assista AgoraO noir dá maior impacto às cenas, mas acho que deixa o filme cansativo. Prefiro filmes que mostram paisagens deslumbrantes.
Achei interessante um macaco como herói de um filme.
No dia em que a humanidade for extinta, se a bicharada tivesse consciência do significado desse fato extraordinário, faria a maior festa da história do planeta.
Não acho que a culpa pela destruição da Terra seja propriamente dos humanos. Durante milhões de anos, nossos ancestrais viviam em perfeita harmonia com a natureza. Há seis mil anos, as coisas começaram a mudar com o nascimento da sociedade civilizada.
Acho que a mudança da forma de organização da sociedade pode, portanto, salvar o planeta. No atual sistema social, o homem perdeu o controle sobre o rumo das coisas. O empresário ou acionista sabem que o lucro posto acima de tudo está destruindo o meio ambiente, mas sabem também que se a empresa perder a competitividade no mercado, ela não sobrevive e empregos serão destruídos.
Se num país mais evoluído democraticamente a sociedade forçar a aprovação de leis de proteção ao meio ambiente, as empresas não conseguirão competir com os produtos que chegam de países como a China onde existem menos restrições legais para a produção do lucro.
Logo, só a dominação dos macacos pode salvar o planeta, já que todos os projetos de transformação da sociedade faliram no século XX.
Estou apenas brincando de ser cínico...
O Testamento de Deus
4.0 6Quem gosta dos filmes de Quentin Tarantino deve ficar longe deste filme. Ele é tão açucarado que poderá dar náuseas a quem sente fascínio pela violência.
Quem gosta de faroeste, e não se incomoda, como eu, com o maniqueísmo infantilóide que o caracteriza, achará que o filme do diretor Jacques Tourneur é borocoxô, isto é, enfadonho, maçante, tedioso. Faroeste sem bandido de verdade é como cerveja sem álcool; é como espaguete à bolonhesa sem provolone; é como comer uma boa feijoada sem nenhum apetite. Na minha modesta opinião, não funciona.
Em outras palavras, sem um mocinho se vingando de um bandido violento e cruel, o enredo de O testamento de Deus fica bem frouxo.
Trata-se na verdade de um filme religioso e não de um faroeste. Só o cenário lembra um autêntico bang-bang. Para quem gosta de filmes do gênero, recomendo usar um lenço no final do filme.
Choque de Ódios
3.8 6Minha curtição: assistir um faroeste produzido nos anos 1950, filmado em Cinemascope. O prazer é maior quando vejo o filme no meu projetor Home Teather, em sala escura.
O enredo do filme é bem burocrático, sem nenhuma originalidade, sem nenhuma surpresa. Choque de ódios chega a copiar a cena final de Matar ou morrer.
Mas por ser um amante incorrigível de faroeste, gostei muito do filme.
Renegando Meu Sangue
3.9 12Algumas frases patrióticas exaltando a União de todos sob uma só bandeira me embrulharam o estômago.
Assisti o filme sem saber que já havia visto. Se fosse um faroeste do John Ford assistiria várias vezes sempre com o mesmo prazer.
A Esposa de Villon
3.9 2Em termos pictóricos, o Japão pobre e antigo tinha mais charme que o Japão rico e moderno. A fotografia desse Japão devastado moralmente pela guerra foi o que mais me seduziu assistindo o filme.
Será que eu estaria sendo machista ao assinalar que a feminilidade e os mistérios de Sachi enfeitiçam os corações de homens como eu?
Não sei se entendi a intenção de Osamu Dazai, autor do romance que inspirou o roteiro do filme. Parece que ele se sentia revoltado pela rendição do Japão na guerra e por não terem todos lutado até o fim.
Depois da traição recíproca, Sachi diz a Otani que o importante é que eles continuavam vivos. Dazai parece lamentar esse final conformista após todos terem traído a sua dignidade. Os japoneses teriam perdido a dignidade aceitando a derrota na guerra? Naquela época, o nacionalismo incutido no povo pelos militares era fanático. Aparentemente, também seduzido por esse nacionalismo, o escritor Osamu Dazai narra suas amarguras observando a que níveis um homem pode se rebaixar ao perder a dignidade. Para Dazai, a perda da dignidade significava os japoneses terem abandonado os seus nobres ideais de morrer pela pátria.
Felizmente, hoje, apenas uma reduzida elite direitista e fanática continua defendendo esse nacionalismo estúpido. Nacionalismo que, como uma flauta mágica, desperta o ódio e arrasta os povos à guerra.
Golpe de Misericordia
3.9 9Dorothy Malone jovem interpreta Julie Ann Winslow, o tipo de mulher que os homens escolhem para casar.
Colorado Carson não é flor que se cheire. Imprestável para o casamento.
Raoul Walsh nos ensina a escolher a mulher certa com quem podemos passar o resto de nossas vidas. O ensinamento evitaria desilusões e muitos aborrecimentos. Mas parece que gostamos de dar cabeçada.
Nos filmes de Hollywood, pessoas fora da lei
não podem escapar vivas. Seria inadmissível o mocinho e a mocinha terem fugido para o México para serem felizes para sempre, como é regra nos faroestes clássicos.
O Resgate do Bandoleiro
3.6 16 Assista AgoraO Felipe nos conta que o filme foi rodado nas trilhas e montanhas de Lone Pine, Califórnia. O cenário filmado em widescreen confere um toque grandioso a um faroeste B produzido em poucas semanas.
Incrível como um bom roteiro transforma uma produção barata em um filme gostoso de assistir.
Maureen O'Sullivan continuava bonita aos 46 anos.
Caravana de Bravos
3.7 13Se tem uma coisa que me enche de felicidade é assistir um faroeste de John Ford, em branco e preto, das décadas de 1940 e 1950.
Para aumentar ainda mais o meu prazer, a cópia em DVD estava ótima.
Gostei das canções, vibrei com as danças, fiquei extasiado, mais uma vez, com as belíssimas paisagens do semiárido dos EUA.
Precisei desligar o meu senso crítico para não estragar tanto barato. Sei do genocídio dos índios americanos. Mas foi impossível não ficar impressionado com a bravura dos pioneiros que desbravaram o Oeste estadunidense enfrentado os piores obstáculos. Ford gosta de glorificar a saga de homens que tiveram a coragem de enfrentar um território tão inóspito. Através do cinema ele contribui para construir a identidade de uma nação.
Cairo 678
4.3 120A raiz do problema do assédio sexual parece estar na repressão sexual. Esta só existe em sociedades civilizadas, isto é, em sociedades que desenvolveram a agricultura, a propriedade, o sentimento de posse, a família patriarcal, os tabus sexuais, o sentimento de ciúme, o tratamento da mulher como coisa que os homens desejam possuir etc.
Antes do advento da civilização, a sexualidade era tratada como uma coisa natural como tantas outras. Quando as sociedades civilizadas começaram a reprimir a sexualidade, surgiram a noção de pecado, as perversões, a prostituição, a pornografia, a masturbação, as neuroses, a frigidez, a impotência, o voyeurismo e o assédio a mulheres.
Antes de ser vítima de assédio, Fayza era vítima da repressão sexual. Não conseguia fazer sexo com o desesperado marido. Este, por sua vez, também vítima da repressão, praticou o assédio sexual num ônibus. Um outro assediador confessou que assediava porque não tinha dinheiro para casar.
Se não existisse repressão sexual, se a sexualidade não fosse problema para ninguém, os homens não precisariam ficar assediando as mulheres utilizando estratégias ridículas como a do limão no bolso da calça.
Sonho com uma sociedade que eduque as pessoas desde a adolescência para a prática saudável do sexo, sem qualquer tipo de neura, da mesma forma natural que os nossos ancestrais encaravam a sexualidade. Aí, coisas escabrosas como a pedofilia ficariam guardadas nos livros de história como aberrações típicas da era das trevas.
Está na hora de as feministas refletirem mais sobre as origens, as consequências e soluções para a repressão sexual, percebendo que os homens também são vítimas desse mal nefasto.
Num mundo em que todas as pessoas fossem realizadas sexualmente, o ódio seria menos intenso e as relações sociais seriam muitíssimo menos agressivas.
Sevillanas
3.9 3Acabei de assistir de novo este filme estupendo. A palavra cult está desgastada demais para expressar o que sinto por esta obra prima de Carlos Saura. Só não assisto mais vezes porque tenho receio de desgastar algo que adoro. Crianças pobres, como já fui, fazem o mesmo: deixam de comer aquele último naco delicioso de linguiça, com pena, deixando de comê-lo para saboreá-lo só no fim da refeição.
O conceito nietzschiano de dionisíaco exprime bem o que é Sevillanas. Emoção, sensualidade, paixão, explosão demoníaca de cores, de ritmo bruxo, de sangue fervendo nas veias.
Juventude Transviada
3.9 546 Assista AgoraDesconfio que Juventude transviada seja um dos marcos do puercentrismo, ou seja, da colocação dos jovens no centro do mundo.
Na década de 1950, tínhamos os anos dourados do capitalismo. Os EUA eram a nação mais rica do mundo hiperdisparado. Os pais de classe média podiam dar todas as coisas que os filhos desejassem. Mas estavam tão envolvidos com a fascinante luta para ganhar rios de dinheiro que não tinham mais tempo para dar atenção aos filhos. O resultado foi o que o filme mostra.
Juventude transviada tem um diagnóstico diferente. O filme defende a tese de que o jovem sente a necessidade da figura de um pai forte para se sentir seguro. Jim Stark se sente perdido porque o pai é fraco, não domina sua mulher, agindo como um covarde. Na escola, ele precisa mostrar a si mesmo que não é covarde como o pai. Essa seria a explicação para o fenômeno da juventude rebelde da época. Uma simplificação basbaque da realidade.
Toast: A História de uma Criança com Fome
3.6 503 Assista AgoraO filme parecia interessante por envolver comida e culinária. Aos poucos, as cenas começam a produzir irritação, graças ao pai e ao filho mimado que são insuportáveis.
O roteirista tem um olhar aristocrático e trata a faxineira, Sra. Joan Porter, de forma caricata e depreciativa sem explicar por que a vida que ela levou no passado não lhe permitiu um refinamento de modos. Felizmente, Helena Bonham Carter consegue despertar na gente uma certa empatia com a personagem.
A trilha sonora alivia um pouco a pentelhice do pai e do filho.
A Trapaça
4.0 36 Assista AgoraA sociedade dividida em classes, regida pela lei de mercado, obriga todo indivíduo a responsabilizar-se solitariamente pela sua sobrevivência e de sua família. Na esfera da luta pela sobrevivência, a lei de mercado copia a lei da selva. Na selva capitalista, os mais fortes dominam e exploram os mais fracos.
No filme de Fellini, os vigaristas, não fazendo parte da classe dos mais fortes, procuram sobreviver sendo os mais espertos, enganando assim os fracos.
Vi um documentário na TV a cabo sobre a renda básica universal. De acordo com os intelectuais liberais que propõe esse programa, todo cidadão, do nascimento até a morte, receberia uma espécie de bônus mensal do governo. Existe uma cidade no Canadá que aplica esse programa com ótimos resultados.
Os pensadores liberais que defendem a renda básica universal acham que a proposta salvaria o capitalismo eliminando suas principais mazelas. Ela evitaria, por exemplo, os gastos trilionários do Estado com a previdência social. Acho que esse programa reduziria a violência de forma brutal e isso cortaria ainda mais os gastos do Estado. A renda poupada seria distribuída igualmente a todos os cidadãos.
Com o passar do tempo, as pessoas não precisariam mais preocupar-se com a questão da sobrevivência e perderiam até o instinto de posse. Esses pensadores acham que a propriedade privada desapareceria. Sem donos, as fábricas seriam geridas pela comunidade.
No filme de Fellini fica claro que a luta pela sobrevivência imposta pelas leis de mercado transforma as pessoas ou em predadoras, ou em presas. A culpa não é das pessoas. Augusto, Roberto e Picasso não precisariam enganar outras pessoas para sobreviver se existisse a renda básica universal. Fellini revela uma certa ternura por esses pobres vigaristas porque sabe que estes não são os verdadeiros culpados pela existência da lei da selva.
A humanidade existe há centenas de milhares de anos. A descoberta da propriedade privada e a divisão da sociedade em classes aconteceram há cerca de seis mil anos, após o desenvolvimento da agricultura. O capitalismo e o mercado como instituição existem há cerca de quinhentos anos. O homem nem sempre foi perverso. Quando o homem não tinha ainda o instinto de posse, vivendo em comunidade, onde todos eram iguais, a solidariedade e não a competição orientava a vida de todos. A luta pela sobrevivência era coletiva. Mas a luta pela sobrevivência obrigava os homens primitivos a fazerem guerra para preservar o território de onde extraíam alimentos através da caça e da coleta. Não era o tipo de sociedade desejado por pensadores como Karl Marx.
Dizem que a proposta da renda básica universal eliminaria a fonte de todos os problemas da humanidade: a luta pela sobrevivência e o instinto de posse que gera o desejo de acumular riqueza.
Enfim, a perversidade não é um atributo natural do homem. A forma de organização da sociedade pode favorecer a situação do lobo devorando os demais lobos. O lobo seria movido pelo instinto de sobrevivência ou pelo desejo de acumular riqueza.
A ideologia conservadora dissemina a ideia de que a violência nasce da perversidade natural do homem. Assim, a forma de organização da sociedade jamais é questionada. Para os conservadores, a solução seria a repressão implacável contra os maus.
Homens e Deuses
3.8 124No filme Homens e deuses, uma autoridade governamental da ex-colônia diz que os franceses são os responsáveis pela violência que impera em seu país. Quem estudou História, Sociologia e Política sabe que essa afirmação faz sentido.
A França foi uma das nações imperialistas responsáveis pela colonização da África. A Igreja Católica teve participação importante nessa colonização. Impondo uma religião exótica aos povos colonizados e destruindo, assim, a sua identidade cultural, a Igreja transformou os nativos em mendigos humanos degradados, desprovidos de alma, fáceis de serem dominados politicamente. Método semelhante foi empregado pela Grã-Bretanha para colonizar a China, com uma diferença — o ópio, nesse caso, substituiu a religião. No caso da colonização francesa, a religião foi o ópio do povo.
No filme, oito monges franceses tentam amenizar os resultados catastróficos provocados pela colonização francesa. Esses bem intencionados monges tentam combater o câncer com aspirina e são revelados ao mundo como santos, mártires, quase deuses. Salvam as suas almas, salvam a imagem da França e da Igreja Católica, mas não salvam o povo massacrado pelos resultados históricos do colonialismo francês.
Cristo queria salvar a humanidade. Uma das receitas para a salvação era que todos amassem o inimigo. Se todo mundo seguisse fielmente essa recomendação, não existiria violência no planeta. Os oito monges tentam seguir essa recomendação de Cristo, amando inclusive os terroristas. Fizeram sua parte distribuindo aspirina a pacientes carcomidos pelo câncer. Câncer cuja origem está na colonização francesa.
Merece destaque uma bela cena com uma associação inebriante: a última ceia ilustrada pela música Lac des cygnes, op. 20, de Tchaikovsky, regada a um vinho que, pelo sorriso dos monges, parece ser majestoso.
A Maçã
3.9 101Após a revolução de 1979, os aiatolás impuseram ao Irã um islamismo radical. Por conta disso, o Irã tem uma das piores desigualdades de gênero do mundo. Mulheres precisam cobrir suas cabeças com um véu preto e vestir uma espécie de batina preta até o calcanhar para não revelar a sensualidade natural do corpo feminino. As iranianas mais modernas usam roupas e lenços coloridos.
Algumas meninas foram atacadas por iranianos radicais com ácido no rosto, por não terem trajado o véu de forma adequada. Existem táxi e vagões de metrô femininos. Mulheres não podem cantar profissionalmente. Uma jovem iraniana, Reyhaneh Jabbari, foi condenada à morte pelo assassinato de um homem que a estuprou.
Na cultura iraniana, a honra da mulher é considerada algo sagrado. Para os radicais, se ela mostrar o rosto a um homem, pode manchar a sua honra, provocando consequências graves para a sua vida.
Vamos ao filme. Os pais de Zahra e Massoumeh aprisionam suas filhas gêmeas. O pai justifica o cativeiro: a mãe, por ser cega, não poderia garantir a honra das filhas se elas ficassem livres na rua. O pai cita o livro Conselho aos Pais: “Uma menina é como uma flor. Se o sol brilha sobre elas, elas perdem a cor. O olhar do homem é como o sol e a menina é como uma flor.” O pai enfatiza que oferecer suas filhas ao olhar de outros homens seria como colocar algodão próximo ao fogo.
Vizinhos denunciam os pais de Zahra e Massoumeh à Secretaria do Bem Estar da Família por manterem as filhas no cativeiro há 11 anos. O espírito comunitário ainda permanece vivo no Irã. As vizinhas dizem que as gêmeas são como filhas para elas.
No filme, a assistente social representa o Estado iraniano. A intervenção da assistente social na vida privada da família das gêmeas é tão severa que desponta o princípio defendido pelos adeptos mais radicais do Liberalismo: o Estado não pode interferir na vida privada dos indivíduos. Cada um faz o que bem entende em sua vida privada.
Samira Makhmalbaf mostra que a intervenção do Estado moderno, mesmo que tirânica, pode amenizar a opressão da cultura iraniana sobre as mulheres. Certamente, a diretora faz parte da intelectualidade que defende a modernização de costumes no Irã.
No filme, um garotinho brinca com uma vara com barbante em cuja ponta tem uma maçã.
Guiadas pela maçã na ponta do barbante, as duas meninas, sensíveis e inteligentes, imbecilizadas por uma cultura tradicional opressiva, saem pelas ruas e descobrem a liberdade e começam a desenvolver a mente, a linguagem, a capacidade de desfrutar as coisas belas que a vida oferece — como a amizade com outras crianças.
Acho que a maçã representa a mão do Estado moderno.
Da janela de um sobrado, o garotinho faz a maçã rodear a cabeça da mãe cega. A maçã estimula a consciência da mulher que tem o cérebro dominado e petrificado por um islamismo radical. De repente, ela desperta e consegue pegar a maçã. Ou seja, o Estado deve cumprir o papel de guia para despertar o cérebro das mulheres sufocadas e cegadas pela cultura tradicional.
Interiores
4.0 230Woody Allen deve ter lido Freud e Nietzsche.
Influência de Nietzsche: A exacerbação da racionalidade mata a vida e transforma tudo em deserto gelado. Esse deserto é desenhado pelas cores frias e neutras de um apartamento decorado de forma meticulosamente apolínea; pelos sentimentos controlados dos personagens; pelo sentido da existência transformado num objetivo racional; pelas justificativas formuladas racionalmente para as decisões. Expressando o fogo dionisíaco que corre em suas veias, a madrasta traz um pouco de vida a uma família devastada pela racionalidade. Se as três filhas tivessem tido a madrasta como a verdadeira mãe não teriam ficado tão neuróticas e, provavelmente, seriam menos infelizes na vida adulta.
A influência de Freud se revela no complexo de Electra explícito e no sentimento de culpa atroz de Joey. A atração incestuosa da filha pelo pai teria ficado mais excitante se tivesse ficado implícito como no filme: Comer. Beber. Viver, de Ang Lee, onde um pai cozinheiro tem três filhas adultas e arranja uma namorada que mata a primogênita de ciúmes. A família de tipo nuclear é uma riquíssima fonte de neuroses.
O Lutador
3.7 2Dei nota 4 apenas por ser aficionado por filmes de faroeste. O enredo é bem manjado. Mas somos como crianças que não se cansam de ouvir sempre as mesmas histórias da carochinha.
Por isso, assisti a mais esse faroeste com prazer e emoção.
O vilão do filme, da mesma forma que os coronéis do Nordeste, é dono de tudo. Até da alma dos moradores da cidade. O povo, coitado, precisou de um herói para se libertar da opressão do oligarca. Triste do povo que necessita de heróis.
Apocalypse Now
4.3 1,2K Assista AgoraAssisti a versão Redux de 202 minutos e achei o filme arrastado e interminável. Não consegui entrar no embalo do filme. Depois de três horas, comecei a cochilar e precisei voltar o DVD várias vezes.
Falemos do enredo. A guerra moderna é a maior insanidade produzida pelo imperialismo. Insanos são aqueles que convivem com a insanidade a se comportam como se fossem sãos — como os surfistas do filme. As pessoas consideradas insanas são as mais lúcidas. Para citar um exemplo, Vincent van Gogh era louco varrido. Coronel Kurtz foi considerado insano pelos imbecis que engendraram e que comandavam e apoiavam a guerra. Estes eram os verdadeiros insanos.
Notei nos comentários o seguinte: algumas pessoas que assistiram a versão Redux não gostaram do filme.
Vou seguir o conselho do Jefferson Mendes e assistir a versão original de 153 minutos. De preferência em blu-ray.
Apocalypse Now Redux
4.4 20Dos filmes sobre a guerra do Vietnã, gostei mais do Platoon. Achei esta versão interminável. Bateu um sono no final, cochilei várias vezes e fiquei voltando o DVD para assistir a parte que tinha perdido. Acho que isso pode ter prejudicado a nota que dei ao filme.
Tampopo: Os Brutos Também Comem Spaghetti
4.0 67Apesar do tom de comédia, o filme tem uma crítica ácida à sociedade japonesa machista. Refiro-me à cena da mulher que está morrendo e tem uma sobrevida ao receber a ordem do marido para preparar o jantar. A mulher no Japão é educada para dar a vida pelo marido e pelos filhos, como uma verdadeira escrava. Resultado: as mulheres não querem mais saber de casamento.
No final, durante a apresentação dos créditos, não é que aparece o alimento mais importante do bicho humano? Tudo graças ao casamento.
Depois de ver o filme, fiquei com uma vontade danada de dar um pause na minha dieta low carb.
O Dia Depois de Amanhã
3.2 1,2K Assista AgoraAcabei de ver um documentário sobre jovens pobres que não conseguem o primeiro emprego. As empresas não cumprem a lei denominada Jovens Aprendizes. Estamos fomentando futuros criminosos que irão roubar e matar cidadãos inocentes com muito ódio no coração.
Paralelamente, muita gente acha que a questão ambiental depende da boa vontade de empresas e governantes.
Numa economia de mercado, a empresa precisa competir para sobreviver. Se for generosa com os jovens desempregados e seguir medidas para a preservação do meio ambiente, pode acabar sendo superada pelos concorrentes, sobretudo do exterior.
Os governantes precisam prioritariamente proteger o lucro das empresas para estimular o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. Não podem priorizar o meio ambiente e o bem estar da população. Aqueles que não fazem isso acabam caindo.
Logo, acho que a salvação do planeta depende da mudança do sistema econômico. A produção e o comércio deveriam visar o bem estar da sociedade e a preservação do planeta e não a multiplicação do capital investido.
Para que isso fosse possível, as unidades de produção de bens deveriam pertencer à comunidade e ser regidas pela cooperação e não pela concorrência. Todos teriam trabalho e o mínimo necessário para viver com dignidade. Com a distribuição de trabalho para todos o tempo da jornada diária cairia muito. O tempo livre seria dedicado ao estudo científico e filosófico; à atividade artística, comunitária e esportiva; ao turismo etc.
A democracia deveria ser a mais direta e menos representativa possível.
Sem envolver a mudança do sistema econômico, acho uma perda de tempo incrível as discussões intermináveis sobre a desigualdade social, miséria, fome e destruição do meio ambiente.
O Mercador de Veneza
3.6 125 Assista AgoraA filosofia grega e o cristianismo são os fundamentos da civilização ocidental. Desde pelo menos a Idade Média, os judeus têm sido perseguidos e chacinados como assassinos de Jesus Cristo. Durante as Cruzadas, por exemplo, os judeus tiveram seus bens pilhados e foram mortos como moscas.
A situação dos judeus não melhorou na Idade Moderna. Shakespeare não escapou da visão preconceituosa que a sociedade da época tinha dos judeus.
Em O mercador de Veneza, o judeu é retratado como um homem vil, de coração duro, impiedoso e desumano que coloca o dinheiro acima de tudo. O mercador cristão, ao contrário, aparece como um homem misericordioso, bondoso, humano.
Depois do holocausto dos judeus na Segunda Guerra, acho que O mercador de Veneza soa como uma justificativa para o crime hediondo praticado pelos nazistas.
Há quem ache que a obra de arte não deve ser avaliada por critérios éticos e morais, mas apenas estéticos. Além disso, O mercador de Veneza seria apenas expressão da visão de mundo que reinava em determinado contexto histórico. Por isso, não seria justo avaliar essa obra com a visão de mundo que temos hoje. É possível pensar dessa maneira?
Adeus, Minha Concubina
4.2 98A primeira vez que assisti o filme, nos anos noventa, estava com o olhar despreparado. Não frui da forma como poderia ter fruído.
Desta vez, limpei minha cabeça poluída por filmes comerciais e pelo lixo que consumo vendo televisão.
A imponência da Ópera de Pequim é arrebatadora. Pena que não tive formação para sentir o mesmo êxtase que o povo chinês sentia ao assistir esse grande monumento da cultura universal.
Uma das coisas que mais gosto do cinema chinês é o encadeamento da história do país com a narrativa ficcional.
Estou baixando Red amnesia. Espero que o filme mostre com detalhes e de forma mais profunda as mazelas da revolução cultural de Mao.
Infelizmente, a cópia em DVD não era de boa qualidade. Adeus, minha concubina merece ser assistido em blu-ray ou 4K.