O filme é muito bem construído. Destaque para o excelente roteiro que nos proporciona uma história articulada e envolvente. A maneira como vamos sendo conduzidos na trama é genial, resultado de uma direção e fotografia impecáveis. A crítica social se percebe nas entrelinhas, no jogo de câmera e nos personagens e ações bem construídas.
Deixo aqui algumas análise que fiz, enquanto assistia e após assistir.
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A crítica social fica evidente para espectadores bem atentos em situações como as cenas que envolvem a calcinha encontrada no carro. Um mesmo objeto é empregado de forma pejorativa para manter a moral e os bons costumes (na cena em que a esposa cobra do marido sobre a calcinha e ele despreza o objeto), mas também é usado como fonte de prazer (na cena do sexo no sofá).
Outro ponto que merece destaque são as cenas de contraste, como as que envolvem o "cheiro de pobre", cenas que entram em evidência com as que mostram o excesso de limpeza na casa dos ricos. Ki-woo comenta com a filha dos patrões que tudo ali parece estar sempre arrumado. Outras cenas mostram o contraste entre realidades sociais. Exemplo disso está em cenas como as do carro, em que a patroa diz que a chuva foi uma benção, quando vemos, minutos antes, a família pobre perder a casa.
O desfecho do filme como que escancara muitas coisas e reflete uma raiva contida de Kim Ki-taek, o pai da família pobre. Temos aqui um pai que vê sua filha ser atacada e a indiferença de seu patrão, cuja única preocupação é pegar a chaves e ir embora com a família. O patrão, antes de sair do local, vira sua cabeça e faz a mesma cara de nojo, já conhecida, quando olha para a cena. Kim reage perdendo a razão e atacando o patrão. Uma revolta contida por algum tempo aqui tem espaço para sair.
Senti um rebuliço ao sair do cinema. Como se tanta coisa ficasse evidente e tantas outras pudessem ser analisadas. É um filme que nos ensina muito, tanto sobre cinema e o trabalho envolvido para construção de um bom filme quanto sobre nossa própria realidade humana. Se puxarmos para o Brasil, quantas dessas situações ou similares devem existir no cenário de imensa desigualdade social em que vivemos?
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraO filme é muito bem construído. Destaque para o excelente roteiro que nos proporciona uma história articulada e envolvente. A maneira como vamos sendo conduzidos na trama é genial, resultado de uma direção e fotografia impecáveis. A crítica social se percebe nas entrelinhas, no jogo de câmera e nos personagens e ações bem construídas.
Deixo aqui algumas análise que fiz, enquanto assistia e após assistir.
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A crítica social fica evidente para espectadores bem atentos em situações como as cenas que envolvem a calcinha encontrada no carro. Um mesmo objeto é empregado de forma pejorativa para manter a moral e os bons costumes (na cena em que a esposa cobra do marido sobre a calcinha e ele despreza o objeto), mas também é usado como fonte de prazer (na cena do sexo no sofá).
Outro ponto que merece destaque são as cenas de contraste, como as que envolvem o "cheiro de pobre", cenas que entram em evidência com as que mostram o excesso de limpeza na casa dos ricos. Ki-woo comenta com a filha dos patrões que tudo ali parece estar sempre arrumado. Outras cenas mostram o contraste entre realidades sociais. Exemplo disso está em cenas como as do carro, em que a patroa diz que a chuva foi uma benção, quando vemos, minutos antes, a família pobre perder a casa.
O desfecho do filme como que escancara muitas coisas e reflete uma raiva contida de Kim Ki-taek, o pai da família pobre. Temos aqui um pai que vê sua filha ser atacada e a indiferença de seu patrão, cuja única preocupação é pegar a chaves e ir embora com a família. O patrão, antes de sair do local, vira sua cabeça e faz a mesma cara de nojo, já conhecida, quando olha para a cena. Kim reage perdendo a razão e atacando o patrão. Uma revolta contida por algum tempo aqui tem espaço para sair.
Senti um rebuliço ao sair do cinema. Como se tanta coisa ficasse evidente e tantas outras pudessem ser analisadas. É um filme que nos ensina muito, tanto sobre cinema e o trabalho envolvido para construção de um bom filme quanto sobre nossa própria realidade humana. Se puxarmos para o Brasil, quantas dessas situações ou similares devem existir no cenário de imensa desigualdade social em que vivemos?