Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
A adaptação do conto original - que é uma espécie de reinvenção da parábola do Filho Pródigo - é muito eficiente: ficamos interessados no que vai acontecer a partir daquela predição paterna e, quando ocorre a reviravolta, ficamos impressionados frente à relevância da lição de moral acostada. Os traços em 3D são ótimos (o agradecimento, nos créditos finais, à equipe de alunos é oportuno e merecido) e, conforme percebi, o currículo do diretor possui vários títulos merecedores de interesse. Muito bom este primeiro contato! (WPC>)
Magnífico em abordagem e estrutura: parte de um pressuposto histórico grego, avança para uma atualização capitalista e termina na translação essencialmente brasileira, com todos os problemas associados ao quinhão de desigualdade derivado. Montagem incrível, direção de som idem. Além da narração fascinante e crítica do Paulo César Pereio. Adorei! (WPC>)
A narração do Pereio é ótima, e a explicação é assertiva e, de fato, otimista, como outras pessoas disseram. É acadêmico e convencional em pesquisa e formato, mas sensato e bem montado, contando com o talento organizador do Hirszman. Não conhecia. Achei uma graça! (WPC>)
Curto e divertido. Amei o instante em que a protagonista canta a música-título pela segunda vez e, ao término, recebe aplausos, consciente de que isso aconteceria. É um curta-metragem sobre a ciência da 'perfomance', a partir de uma personagem feminina eminentemente empoderadora. Uma fofura! (WPC>)
Gosto muito do longa-metragem original, do qual este excerto foi reaproveitado. Porém, não sei se compreendi bem a proposta e/ou se apreciei o rumo "instalativo" ao qual ele se propôs. Sou apaixonadíssimo pelo diretor, claro, mas este curta-metragem (se é que se pode dizer isso) não funcionou muito bem, em seu descolamento do projeto anterior, e adesão a um outro, quiçá forçado em seu despejo de capital simbólico-intelectual. Fascinante em seu potencial brechtiano, claro, mas mui decepcionante em termos de autenticidade autoral: em sua "manipulação", algo se perde, é danificado na atualização. Uma pena! (WPC>)
Não conhecia o filme nem o diretor. E, como de praxe, acho suspeitoso (ou não) que esteja viralizando agora. Faz sentido, para as convenções da época, a utilização do pretexto cômico para a exposição da nudez feminina, ofertada ao deleite dos espectadores masculinos. Mas não entendi a piada, não é um filme que sobrevive bem em suas intenções eróticas. Há algo de mui problemático nas relações de dominação apresentadas, seja entre o escultor e suas musas, seja no fato de que apenas um homem controla três mulheres. Enquanto curiosidade histórico-cinematográfica, entretanto, possui o seu charme... (WPC>)
Não conhecia este filme, fiquei impressionado perante a pujança de sua crítica: começa pelo fim, é sobremaneira inclemente na narração e culmina numa ironia esplêndida, após o despojamento forçado de todos os bens do protagonista, incluindo as suas roupas. Pesado, ainda que soe também engraçado. Magnífico! (WPC>)
Descobri este curta-metragem animado num DVD sobre "os amigos do Gato Fritz", e ri com os exageros rimados do gato protagonista, esculachado pelo corvo esperto que logo percebe que ele faz jus ao título: supersticioso ao extremo, tadinho. Fiquei curioso para conhecer mais sobre a equipe responsável: é bem divertido! (WPC>)
Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)
Assisti a este curta-metragem depois de ler "O Diário de Anne Frank" e de saber que o filme foi proibido em algumas escolas norte-americanas. A listagem é preocupante e "explicável" pelo ideário progressivamente conservador e censurador da lógica protetoral da extrema-direita. A diretora serve de poderosos testemunhos (principalmente infantis) para demonstrar o quão preparadas estão as novas gerações para compreender as questões associadas ao que chamam de identitarismo. Gosto muito do posicionamento da cidadã centenária, no inicio, mas não expor as razões dos censuradores, pois "suas vozes já foram ouvidas", pareceu-me uma estratégia pouco funcional, para quem não sabe em quais contextos os banimentos ocorreram. É um filme, portanto, que serve muito mais pela exposição temática que pela condução em si, mas que impulsiona um necessário debate. Isso importa! (WPC>)
Esplêndido reaproveitamento de um maravilhoso material de arquivo, onde testemunhamos o surgimento e o (re)encontro de vários gênios (e privilegiados) em encontros repletos de vida e arte, de imersão expressiva e de diversão estendida. Nem sempre se consegue ouvir a ótima narração do Fausto Fawcett, mas é um delicioso exercício reconhecer e compreender a importância cultural e artística de quem aparece na tela: amei o detalhe metalingüístico do comentário sobre o próprio trabalho do Ivan Cardoso! (risos) - WPC>
O tema é muito interessante e as histórias de vidas dos candidatos a empréstimos são ótimas, mas a estrutura do documentário é jornalística em excesso, técnica, fria, pouco interessante em âmbito estilístico. Como tal, por mais que torçamos por aqueles personagens reais e que aprendamos algo - humanisticamente, inclusive - com todo o processo relatado, é um filme que não empolga, que pode ser confundido com uma reportagem da New Yorker, conforme crédito produtivo. Fiquei muito interessado em saber mais sobre o assunto, mas o produto aqui derivado não funciona tanto... Infelizmente! (WPC>)
Antes de assistir a este curta-metragem, descobri que trata-se de um projeto trifásico do diretor, que está preparando o seu primeiro curta-metragem. Achei o mote tramático-ensaístico muito bonito e fiquei encantado pela 'joie de vivre' da velhinha japonesa que relembra com orgulho as suas pesquisas com lepidópteros e a amizade com a avó do realizador, que migrara do Japão para o Brasil, onde encantou-se pela nação que a acolheu. A fotografia paisagística é belíssima e há elementos que remetes aos primeiros trabalhos de Naomi Kawase. Deveras gracioso! (WPC>)
Depois de, em tom de brincadeira, eu ter experimentado um charuto pela primeira vez, este filme apareceu para mim, como dica de exibição - e, além de ser uma descoberta coincidente, foi também muito divertida. Ri com as situações absurdas (alguém até brincou "não seria um cigarrinho alucinógeno?"), enquanto minha mãe, ao meu lado na sessão, estranhava as traquinagens das fadinhas safadinhas, que chegam mesmo a levantar a parte de trás da saia para o fumante. Considerado o ano de produção, achei as trucagens inovadoras. E as situações hilárias, ainda que estapafúrdias, como o próprio ato de fumar (risos) - WPC>
Um curta-metragem sobre avós que me encantou pela leveza, pela comunhão entre ambas as mulheres, no que tange ao reconhecimento de uma família escolhida pela contingência matrimonial de outrem. Ótima montagem e depoimentos mui graciosos. Fofinho! (WPC>)
Aqui, infelizmente, não consegui mergulhar a proposta... Por algum motivo, reagi de maneira "purista", não consegui me divertir com as múltiplas manipulações a partir de imagens de ERA UMA VEZ NO OESTE. Preciso rever o curta-metragem? Preciso estudar mais sobre as intenções tscherkasskianas? Tudo indica que sim. Por ora, fica a minha apreciação apenas mediana. (WPC>)
Curtinho e fascinante. Surpreendente - para os padrões tscherkasskianos - a seqüência de abertura, justamente por conta da abertura (risos). Logo em seguida, os cacoetes mágicos do diretor se instalam, num frenesi típico dos 'trailers'. Divertido, portanto. Bem mais "leve" que outros experimentos similares! (WPC>)
Meu favorito do diretor, até agora. Tem elementos do Kubelka e do Godard, numa mistura de ruídos e distorções visuais e imagéticas que é totalmente tscherkasskiana: amei a variação de vozes femininas e masculinas, em meio à publicidade de automóveis. Ou seja, para além da masturbação experimental (delícia!), parece haver também um franco discurso anticapitalista. Amei, amei, amei! (WPC>)
O Olhar Singular de Ozualdo R. Candeias
3.8 1Formalmente, o documentário tenta emular certo experimentalismo, quando seria muito interessante mesmo se aderisse ao tradicionalismo didático: os depoimentos do diretor homenageado são tão sóbrios e inteligentes - enquanto continuador de Erich von Stroheim e do Buñuel realista - que quedamos impactados perante o que é mostrado e confirmado. A montagem de cenas de obras do grande Ozualdo Candeias é muito oportuna. Um curta-metragem discreto porém assertivo. Para quem ama este gênio de nosso cinema, obrigatório! (WPC>)
A América Do Sul
3.3 1Obcecado pelo diretor que sou, não conhecia este filme. O que tornou-se "explicável" nos primeiros segundos de projeção: em verdade, é um debate sobre curtas-metragens dados como perdidos, nem moldes que antecipam extras de DVD. Pouco a pouco, o que não se parecia considerar um filme em si (por conta do registro em vídeo, enquanto debate) torna-se uma obra exemplar, na qual o diretor demonstra uma erudição acachapante, com muitas críticas a uma concepção arrivista da Antropologia. Fiquei surpreso ao descobrir o "caminhoneiro da Boca do Lixo" tão afinado aos discursos acadêmicos, para que consiga implodi-los, de maneira inteligentíssima. Depoimentos magistrais, registros mui singulares de épocas e lugares, e um filme (sim, filme) obrigatório para se conhecer mais sobre a imponência deste grande realizador brasileiro! (WPC>)
Aziz
3.8 5A adaptação do conto original - que é uma espécie de reinvenção da parábola do Filho Pródigo - é muito eficiente: ficamos interessados no que vai acontecer a partir daquela predição paterna e, quando ocorre a reviravolta, ficamos impressionados frente à relevância da lição de moral acostada. Os traços em 3D são ótimos (o agradecimento, nos créditos finais, à equipe de alunos é oportuno e merecido) e, conforme percebi, o currículo do diretor possui vários títulos merecedores de interesse. Muito bom este primeiro contato! (WPC>)
Megalopolis
3.9 5Magnífico em abordagem e estrutura: parte de um pressuposto histórico grego, avança para uma atualização capitalista e termina na translação essencialmente brasileira, com todos os problemas associados ao quinhão de desigualdade derivado. Montagem incrível, direção de som idem. Além da narração fascinante e crítica do Paulo César Pereio. Adorei! (WPC>)
Ecologia
3.8 5A narração do Pereio é ótima, e a explicação é assertiva e, de fato, otimista, como outras pessoas disseram. É acadêmico e convencional em pesquisa e formato, mas sensato e bem montado, contando com o talento organizador do Hirszman. Não conhecia. Achei uma graça! (WPC>)
Não! Não! Mil Vezes Não!
3.6 1Curto e divertido. Amei o instante em que a protagonista canta a música-título pela segunda vez e, ao término, recebe aplausos, consciente de que isso aconteceria. É um curta-metragem sobre a ciência da 'perfomance', a partir de uma personagem feminina eminentemente empoderadora. Uma fofura! (WPC>)
In omaggio all`arte italiana!
2.7 1 Assista AgoraGosto muito do longa-metragem original, do qual este excerto foi reaproveitado. Porém, não sei se compreendi bem a proposta e/ou se apreciei o rumo "instalativo" ao qual ele se propôs. Sou apaixonadíssimo pelo diretor, claro, mas este curta-metragem (se é que se pode dizer isso) não funcionou muito bem, em seu descolamento do projeto anterior, e adesão a um outro, quiçá forçado em seu despejo de capital simbólico-intelectual. Fascinante em seu potencial brechtiano, claro, mas mui decepcionante em termos de autenticidade autoral: em sua "manipulação", algo se perde, é danificado na atualização. Uma pena! (WPC>)
O Sonho do Escultor
3.1 2Não conhecia o filme nem o diretor. E, como de praxe, acho suspeitoso (ou não) que esteja viralizando agora. Faz sentido, para as convenções da época, a utilização do pretexto cômico para a exposição da nudez feminina, ofertada ao deleite dos espectadores masculinos. Mas não entendi a piada, não é um filme que sobrevive bem em suas intenções eróticas. Há algo de mui problemático nas relações de dominação apresentadas, seja entre o escultor e suas musas, seja no fato de que apenas um homem controla três mulheres. Enquanto curiosidade histórico-cinematográfica, entretanto, possui o seu charme... (WPC>)
O Lento, Seguro, Gradual e Relativo Strip-tease do Zé Fusquinha
4.4 3Não conhecia este filme, fiquei impressionado perante a pujança de sua crítica: começa pelo fim, é sobremaneira inclemente na narração e culmina numa ironia esplêndida, após o despojamento forçado de todos os bens do protagonista, incluindo as suas roupas. Pesado, ainda que soe também engraçado. Magnífico! (WPC>)
O Gato Supersticioso
3.5 1Descobri este curta-metragem animado num DVD sobre "os amigos do Gato Fritz", e ri com os exageros rimados do gato protagonista, esculachado pelo corvo esperto que logo percebe que ele faz jus ao título: supersticioso ao extremo, tadinho. Fiquei curioso para conhecer mais sobre a equipe responsável: é bem divertido! (WPC>)
Entretempos, Entremeios
4.0 1Um trabalho de pesquisa riquíssimo e uma narração prenhe de sensibilidade. Como sergipano, emocionei-me ao entrar e contato com registros de uma época que não vivi, mas cujos acontecimentos conheço através dos relatos apaixonados de amigos. A abertura do filme é muito boa, quando a diretora revela o acaso que lhe permitiu desenterrar um valioso tesouro. Há brincadeiras válidas com a montagem, mas, do meio para o final, algumas imagens são excessivamente reiteradas, tornando-se repetitivas, bem como o tempo excessivo concedido a uma apresentação contemporânea de dança, que, nalguns sentidos, compete com o que é trazido à tona em alguns depoimentos, no que tange ao desleixo hodierno do local representado. Os efeitos de envelhecimento imagético nem sempre funcionam (quando aparece alguém manuseando um telefone celular, por exemplo, soou mais que anacrônico, mas esteticamente problemático, sem propósito) e a trilha cancional está muito calcada em projetos similares do Kléber Mendonça Filho, tal como acontece com a divisão capitular. Afora isso, somente elogios à execução, à escolha dos entrevistados, à captação de "fantasmas" afetivos (num complemento descritivo mui acertado da realizadora) e à relevância do que é mostrado e emulado. Para quem não é do Estado e não conhece o CULTART, fica evidente o interesse do média-metragem, no que tange à rememoração bem-vinda, de algo sobremaneira marcante para a cultura sergipana. Por vezes, o filme assume ares de manifesto (quanto à demonstração do estágio atual de desuso do ambiente) e pode ser aproveitado como extensão reivindicativa, a fim de que apresentações semelhantes àquelas mencionadas voltem a ocorrer no local. De minha parte, estou na torcida. Gostei muito! (WPC>)
Dirty Girls
4.3 5No começo, a impressão era a de que eu assistia a um extra dirigido por Paul Thomas Anderson, para um DVD da banda Sonic Youth. Pouco a pouco, fui notando que, ao documentar as reações das pessoas do colégio às "garotas sujas" do título - zineiras 'riot girls' -, o diretor registrava uma mudança geracional de paradigma, uma ascensão orgânica do feminismo adolescente, que abraça lutas transversais. importantíssimas para a fruição musical dos artistas que elas citam. Neste sentido, o filme é muito importante por aquilo que traz à tona, ainda que não o seja muito enquanto produto cinematográfico específico. Mas merece ser considerado como tão seminal quanto o PUNK ROCK HARDCORE, dirigido por Adelina Pontual, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ao término da sessão, fiz questão de recomendá-lo a algumas amigas, que, obviamente, identificaram-se bastante. Uhuuuuu! (WPC>
Jerovi
3.5 1Primeiro, uma confissão: da mesma maneira que, na Literatura, ainda tenho problemas de concentração/recepção com a Poesia, em Cinema, filmes silenciosos demoram um pouco para me cativarem. Foi o que aconteceu aqui. Porém, vamos ao segundo ponto: a despeito de meu travamento inicial, logo percebi a conjunção estilístico-imagética entre motes de Jonas Mekas e Jean Genet, numa conotação muito própria, em que a masturbação surge como tema e ônus, como solução e como perigo, como convite ao prazer e deixa para a perdição... O mito de Narciso é recontado de maneira belíssima e sensual, numa versão em curta-metragem que, estranhamente, era estranha para mim. Gostei, mas preciso voltar a ele, já sabendo do que se trata. Fascina, deveras: isso ninguém nega! (WPC>)
O Nosso Pai
3.5 7A sinopse promete mais que o filme entrega, no sentido de que a imersão no "plano improvável" soa um tanto infantilizado, numa crença de "salvação mundial" que, na prática, é menos funcional que aplicável. A interação entre o excelente trio de atrizes é muito bacana, mas o deslumbramento da personagem de Grace Passô traz à tona um problema de composição orgânica, no sentido de que sua argumentação lacradora beira o delírio, desperdiçando as possibilidades de interação com as demais irmãs. Ah, é um enredo sobre o surgimento de distúrbios psicológicos, acentuados pelo confinamento no contexto de poderio bolsonarista? Se for assim, talvez até sirva, enquanto contra-exemplo. Mas é um trabalho bastante inferior aos demais projetos da diretora! (WPC>)
O ABC da Proibição de Livros
3.6 30Assisti a este curta-metragem depois de ler "O Diário de Anne Frank" e de saber que o filme foi proibido em algumas escolas norte-americanas. A listagem é preocupante e "explicável" pelo ideário progressivamente conservador e censurador da lógica protetoral da extrema-direita. A diretora serve de poderosos testemunhos (principalmente infantis) para demonstrar o quão preparadas estão as novas gerações para compreender as questões associadas ao que chamam de identitarismo. Gosto muito do posicionamento da cidadã centenária, no inicio, mas não expor as razões dos censuradores, pois "suas vozes já foram ouvidas", pareceu-me uma estratégia pouco funcional, para quem não sabe em quais contextos os banimentos ocorreram. É um filme, portanto, que serve muito mais pela exposição temática que pela condução em si, mas que impulsiona um necessário debate. Isso importa! (WPC>)
Heliorama
3.7 2Esplêndido reaproveitamento de um maravilhoso material de arquivo, onde testemunhamos o surgimento e o (re)encontro de vários gênios (e privilegiados) em encontros repletos de vida e arte, de imersão expressiva e de diversão estendida. Nem sempre se consegue ouvir a ótima narração do Fausto Fawcett, mas é um delicioso exercício reconhecer e compreender a importância cultural e artística de quem aparece na tela: amei o detalhe metalingüístico do comentário sobre o próprio trabalho do Ivan Cardoso! (risos) - WPC>
The Barber of Little Rock
3.3 18O tema é muito interessante e as histórias de vidas dos candidatos a empréstimos são ótimas, mas a estrutura do documentário é jornalística em excesso, técnica, fria, pouco interessante em âmbito estilístico. Como tal, por mais que torçamos por aqueles personagens reais e que aprendamos algo - humanisticamente, inclusive - com todo o processo relatado, é um filme que não empolga, que pode ser confundido com uma reportagem da New Yorker, conforme crédito produtivo. Fiquei muito interessado em saber mais sobre o assunto, mas o produto aqui derivado não funciona tanto... Infelizmente! (WPC>)
Kokoro - De Coração a Coração
3.0 1Antes de assistir a este curta-metragem, descobri que trata-se de um projeto trifásico do diretor, que está preparando o seu primeiro curta-metragem. Achei o mote tramático-ensaístico muito bonito e fiquei encantado pela 'joie de vivre' da velhinha japonesa que relembra com orgulho as suas pesquisas com lepidópteros e a amizade com a avó do realizador, que migrara do Japão para o Brasil, onde encantou-se pela nação que a acolheu. A fotografia paisagística é belíssima e há elementos que remetes aos primeiros trabalhos de Naomi Kawase. Deveras gracioso! (WPC>)
Princess Nicotine; or, The Smoke Fairy
4.0 3Depois de, em tom de brincadeira, eu ter experimentado um charuto pela primeira vez, este filme apareceu para mim, como dica de exibição - e, além de ser uma descoberta coincidente, foi também muito divertida. Ri com as situações absurdas (alguém até brincou "não seria um cigarrinho alucinógeno?"), enquanto minha mãe, ao meu lado na sessão, estranhava as traquinagens das fadinhas safadinhas, que chegam mesmo a levantar a parte de trás da saia para o fumante. Considerado o ano de produção, achei as trucagens inovadoras. E as situações hilárias, ainda que estapafúrdias, como o próprio ato de fumar (risos) - WPC>
Vovó & Avó
3.7 25 Assista AgoraUm curta-metragem sobre avós que me encantou pela leveza, pela comunhão entre ambas as mulheres, no que tange ao reconhecimento de uma família escolhida pela contingência matrimonial de outrem. Ótima montagem e depoimentos mui graciosos. Fofinho! (WPC>)
Erotique
4.0 1 Assista AgoraErótico e alucinante. Pulsante e metacinematográfico. Cheio de vida e erotismo. Numa palavra: tscherkasskiano! (WPC>)
Instructions for a Light and Sound Machine
3.6 4 Assista AgoraAqui, infelizmente, não consegui mergulhar a proposta... Por algum motivo, reagi de maneira "purista", não consegui me divertir com as múltiplas manipulações a partir de imagens de ERA UMA VEZ NO OESTE. Preciso rever o curta-metragem? Preciso estudar mais sobre as intenções tscherkasskianas? Tudo indica que sim. Por ora, fica a minha apreciação apenas mediana. (WPC>)
Get Ready
3.3 3 Assista AgoraCurtinho e fascinante. Surpreendente - para os padrões tscherkasskianos - a seqüência de abertura, justamente por conta da abertura (risos). Logo em seguida, os cacoetes mágicos do diretor se instalam, num frenesi típico dos 'trailers'. Divertido, portanto. Bem mais "leve" que outros experimentos similares! (WPC>)
Manufraktur
3.4 4 Assista AgoraMeu favorito do diretor, até agora. Tem elementos do Kubelka e do Godard, numa mistura de ruídos e distorções visuais e imagéticas que é totalmente tscherkasskiana: amei a variação de vozes femininas e masculinas, em meio à publicidade de automóveis. Ou seja, para além da masturbação experimental (delícia!), parece haver também um franco discurso anticapitalista. Amei, amei, amei! (WPC>)