É interessante notar que os personagens de Jacques Demy, mesmo em tramas aparentemente ingênuas como as de "Os Guarda-Chuvas do Amor"(1964) ou "Pele de Asno"(1970), estão sempre às voltas c\ dilemas morais... No filme em questão, temos um rapaz inicialmente estudioso e sensato que, primeiro por influência de um amigo e, posteriormente pela necessidade de impressionar uma bela e experiente mulher, acaba tornando-se um jogador compulsivo. Mas o fato é que quem rouba mesmo a cena aqui é Jeanne Moreau, graças aos seus inegáveis, talento, charme e carisma. Destaque também p\ a ótima trilha sonora composta por Michel Legrand.
"Esteja onde estiver, procuro sempre a presença de uma mulher para poder me sentir bem. Se, no metrô, por exemplo, outro homem senta ao meu lado, trato imediatamente de mudar de lugar!" Assim falou o divertidíssimo personagem Fergus que é, sem dúvida, a melhor coisa do filme "A Noiva Estava de Preto". Este que é, com certeza, o mais hitchcockiano filme de Truffaut, apesar de apresentar algumas boas ideias (tais como o equilíbrio entre tensão e humor que quase sempre caracterizava a obra hitchcockiana) e de contar c\ os inegáveis talento e carisma de Jeanne Moreau, nem sempre funciona como deveria, pois algumas situações são bastante inverossímeis, mesmo levando em conta que o próprio mentor de Truffaut (Hitchcock) já havia lhe ensinado que "As vezes, é preciso deixar a verossimilhança de lado p\ se compor uma cena"... Destaque p\ o hilário personagem "Fergus", vivido por Charles Denner que, não por acaso, anos depois, viveria o protagonista de "O Homem que Amava as Muheres", também dirigido por Truffaut.
Salvo a "exuberância" e o inexplicável carisma de Christina Lindberg, pouca coisa destaca-se em "Exponerad". A direção é competente e a trilha sonora também é muito boa. No entanto, a trama propriamente dita, praticamente inexiste, sendo contada apenas por meio dos confusos devaneios da protagonista. Obs: ainda que apenas por sua raridade, o filme vale uma conferida...
Esta divertida paródia a "Velozes e Furiosos" (a abertura é quase idêntica a do segundo filme da franquia norte-americana), está longe de ser um dos melhores trabalhos do grande Bigas Luna. Mas tem lá seu valor, sobretudo se pensarmos que, por ter sido escrito e rodado em 2006, o filme de Bigas, já antecipava certos comportamentos que caracterizam a juventude contemporânea: ostentação, dependência extrema do universo virtual (internet, celulares e vídeo game) e, como não poderia deixar de ser, a compulsão pelas insuportáveis "selfies".
"Olha, pelo que li e ouvi a respeito, ela não era propriamente, por assim dizer, uma pessoa de hábitos recomendáveis"... Divertidíssimo suspense policial em tom "chanchadesco" que prova que não é necessário fazer um filme "engajado" p\ se discutir temas como machismo, corrupção policial, impunidade das elites, etc. Ah, que saudade da época em que era possível fazer cinema de gênero no Brasil... Aliás, nada contra o verdadeiro cinema de autor (todos sabem que amo Godard e Antonioni), mas o que irrita muito em relação ao cinema brasileiro contemporâneo, é a insistência em produzir filmes pseudo-autorais que, ironicamente, só podem ser feitos se contarem c\ a presença de atores "globais" em seu elenco. Irônica contradição, não é mesmo? Mas, voltando a "Retrato Falado de uma Mulher sem Pudor", o filme conta c\ ótimas atuações de Serafim Gonzalez e Paulo César Peréio, só pra citar alguns nomes mais notáveis. Destaque também p\ a pequena, mas sempre luminosa participação da eterna musa: Nicole Puzzi.
A cada filme de Alfredo Sternheim que assisto, apenas comprovo seu talento p\ expor a hipocrisia de caráter social e religiosa do classe medianismo nosso de cada dia... Obs: também é fato que Sternheim não parece ser uma pessoa fácil de se lidar, pois tentei em vão entrevista-lo p\ meu documentário "Boca Livre", sobre o cinema da boca do lixo paulistana (movimento no qual Sternheim foi figura de peso). Enfim, como diria Scorsese: "A obra é maior que o autor"; por isso mesmo, perdoei "Alfredinho" (como o chamam seus amigos) em função de seu inegável talento e inteligência! Mas voltando ao filme propriamente dito, "Pureza Proibida" aborda de forma hábil temas como hipocrisia religiosa (de matriz católica), racismo, etc. E também de forma pioneira, já prevê o processo de "demonização" das religiões e rituais afro-brasileiros, tão em voga no Brasil contemporâneo... Destaque p\ a linda trilha sonora e também p\ as presenças da belíssima musa, Rossana Ghessa e do primeiro astro negro do cinema brasileiro: Zózimo Bulbul.
E bastou uma câmera na mão associada a fotografia tosca (onde ao menos salva-se o charme da imagem granulada) p\ que Harmony Korine ganhasse o "certificado Dogma 95" e se torna-se um cineasta fashion! Mas o fato é que o cara demonstra talento em termos de direção, fazendo um interessante uso do "faux raccord" e escolhendo bem os movimentos de câmera. Merece também destaque o bom trabalho de montagem. No entanto, faltou ao diretor\roteirista compreender que, compor uma narrativa não-linear buscando referências na nouvelle vague e no movimento Dogma 95, não significa abandonar qualquer resquício de história, conforme vemos aqui. O que demonstra uma interpretação equivocada acerca do que representaram tais movimentos de renovação da estética cinematográfica, bem como utilização igualmente equivocada e oportunista das ideias praticadas por Andy Warhol e Paul Morrissey no cinema americano underground. Obs: também é fato que um sujeito capaz de ter em seu filme, o grande Werner Herzog e sua inconfundível voz, simulando sexo vestindo de mulher e dizendo coisas do tipo: "Gosto de coisas verdadeiras e não espalhafatosas. Gosto do final de Dirty Harry, aquilo é verdadeiro". Merece meu respeito!
Trama extremamente previsível e até inverossímil... Salvo o carisma de Charlotte Gainsbourg e Chiara Mastroianni, nada mais se destaca neste filme bem mediano... Às vezes me pego pensando: O que seria do novo cinema francês caso não houvessem figuras como François Ozon, Christophe Honoré e Olivier Assayas? Questão preocupante...
Um verdadeiro amontoado de clichês, desnecessariamente longo, etc. A única coisa que aqui se destaca é a presença da bela Mila Kunis (provando que pode ser uma atriz de verdade) e do sempre carismático Adrien Brody. Quanto a Liam Neeson, um dia já foi uma ator de verdade, mas, já há tempos, tem perdido credibilidade por escolher mal seus trabalhos e, além disso, desenvolveu um irritante estilo de "atuação genérica" bastante cômoda e insípida. Obs: será que o diretor\roteirista (Paul Haggis) ainda não se eu conta do quão desgastada já está a velha fórmula das "diversas tramas paralelas que se cruzam no decorrer da história" (um modismo característico do final dos anos 90) e de que tal recurso já não é mais novidade desde "Pulp Fiction"(1994) e "Short Cuts"(1993)? Haja paciência p\ tamanho rocambole...
A primeira coisa que chama a atenção ao vermos a "Fêmea do Mar" é a evidente influência exercida por "Teorema"(1969) de Pasolini, na composição desta trama. O que não é demérito algum, pelo contrário, apenas comprova o incrível talento do autêntico intelectual do Cinema da Boca (Ody Fraga) p\ compor esta espécie de versão "comercialmente viável" do clássico pasoliniano. Por meio da célebre figura do estranho que penetra no interior de uma família convencional, demolindo seus valores de ordem religiosa e social, típicos da sempre conservadora classe média, Ody consegue a proeza de, num filme acessível ao grande público, discutir questões como liberdade sexual, homossexualismo, monogamia, etc. Destaque p\ o competente trabalho de fotografia a cargo de Cláudio Portioli e p\ a ótima participação do grande Jean Garrett como ator!! Obs: o filme beneficia-se muito da presença de Aldine Muller (no auge da beleza), mas quem rouba a cena mesmo é Neide Ribeiro, transbordando charme e sensualidade em cada momento em que entra em cena... Amém, sr. Fraga!
"Você é do tempo em que Deus trazia o chicote ao invés de bondade no olhar?" Assim falou a fotógrafa vivida pela grande Maria Della Costa. É no mínimo interessante vermos um veterano das chanchadas cinquentistas (Carlos Coimbra) dirigindo este divertidíssimo "suspense esotérico", junto a figuras que se tornariam conhecidas, ao longo dos anos 70 e 80, por sua vinculação à lendária "Boca do Lixo" paulistana. O trabalho de direção é competente, usando e abusando do zoom tipicamente setentista. Merece menção também a fotografia a cargo do grande Antônio Meliande. No entanto, algumas limitações técnicas, geram um humor quase involuntário em determinadas cenas; mas isso em nada compromete o resultado final, servindo apenas p\ tornar o filme ainda mais divertido! Destaque p\ as participações da ótima Wanda Cosmo (vivendo uma insana e moralista empregada) e também p\ a sempre bela e charmosa, Kate Lyra.
"Eles (os brancos) jamais serão capazes de entenderem certas coisas; logo alguém irá levar as mãos à cabeça e dizer, 'Oh, mas eu adoro Bessie Smith'. Sem, no entanto, jamais entender sobre o que de fato ela canta"... Apesar de diálogos afiados como este, "Masculino\Feminino" demonstra até mesmo p\ o mais "godardiano" dos seres vivos (eu mesmo) que monsieur Godard também era capaz de errar, produzindo filmes menores... O filme em questão, já peca pelo fato de não se definir se realmente pretende falar sobre as diferenças entre os sexos, ou se preferia adotar um pseudo-engajamento político e antibelicista. Enfim, esse deslize situado entre obras-primas indiscutíveis do mesmo período, tais como "Alphaville"(1965), "Pierrot Le Fou"(1965) e "Made in USA"(1966); serve apenas p\ provar que Godard também era humano... Obs: destaque p\ as pequenas, mas sempre luminosas presenças de Françoise Hardy e Brigitte Bardot.
A competente atuação de Alain Delon, aqui representa a pureza perdida num mundo (ou sociedade) dominado pela necessidade de ascender socialmente, custe o que custar... É interessante notar, mesmo levando em conta questões culturais particulares dos italianos, tais como a suposta tendência ao "passionalismo"; o quanto a estética neorrealista (ainda presente neste filme sessentista) se apoiava no tradicional melodrama. Obs: merece destaque a presença de Annie Girardot, cuja personagem (Nadia) transborda charme e sensualidade a cada momento em que entra em cena. Aliás, é curiosa a menção ao martírio de cristo, durante a cena em que Nadia é apunhalada por seu amante (Simone) e abre os braços, em torno do corpo do rapaz como se estivesse sendo "crucificada por conta de seus pecados". Linda cena!
Esta foi a primeira vez em que não fiquei extasiado após ver um filme do grande Billy Wilder... Ok, os diálogos geniais e acidamente irônicos de sempre, continuam lá; há também uma interessante reflexão sobre a total incapacidade de muitas celebridades (inclusive, nos dias de hoje) no sentido de lidarem c\ o passar dos anos e, consequentemente, c\ o fato de não estarem mais no auge de suas carreiras... No entanto, visto que o filme em questão é claramente influenciado por um dos maiores clássicos do diretor\roteirista ("Crepúsculo dos Deuses"), ele acaba pecando tanto pela repetição do tema, como pelo fato de não desenvolvê-lo c\ a mesma eficiência e originalidade do filme de referência... O próprio ritmo de "Fedora", ao contrário do que normalmente ocorreria num filme de Wilder, é um tanto "travado", prolongando-se em algumas sequências desnecessárias, etc. Outro detalhe importante: chega a ser constrangedor aquele diálogo em que o protagonista diz: "Hollywood foi dominada por barbudos que não se preocupam c\ roteiros e preferem fazer tudo c\ câmera na mão"... Nesta clara referência à geração de diretores como Coppola, Scorsese, De Palma, Cassavetes etc; fica evidente que, por mais que Billy Wilder tenha, em seu tempo, travado grandes batalhas p\ driblar a censura temática (Código Hays) imposta pelos grande estúdios e tenha, desse modo, conseguido fazer "cinema autoral" mesmo sob as rédeas da mediocridade imposta pelos velhos produtores, no fim das contas, vemos que Wilder estava acostumado a ser "paparicado" pelos velhos estúdios e, portanto, assim como a protagonista de "Fedora", ele também não sabia como lidar c\ o suposto fim do "Star System" e do próprio "Sistema de Estúdios". Obs2: mas o fato é que o homem que dirigiu e roteirizou obra-primas indiscutíveis como "Crepúsculo dos Deuses", "Farrapo Humano", "Pacto de Sangue", "Quanto Mais Quente Melhor", "Se meu apartamento falasse", etc; merece total perdão por alguns deslizes, não é mesmo?
Com exceção da simpática figura do D.J\locutor de rádio que de forma criativa narra um episódio de violência ocorrido no passado, utilizando apenas sua eloquente voz e algumas fotos para tanto, pouco se destaca de fato em "Branco Sai, Preto Fica". Ah, tem também a hilária execução da "dança do jumento". De resto, o que vemos na maior parte do filme, é uma recorrência de longas sequências repetitivas e desnecessárias que acabam por tornar o filme um longo exercício de experimentalismo vazio disfarçado de "linguagem autoral". No entanto, "Branco Sai, Preto Fica" tem lá seu valor, sobretudo no sentido de mostrar que é, sim, possível fazer cinema de baixo custo no Brasil e, o que é mais importante: sem precisar recorrer à presença das já desgastadíssimas "estrelas" da Globo em seu elenco. Ponto pra vocês por isso!
Magistral atuação da ainda muito jovem, Isabelle Adjani, iniciando sua jornada a caminho de tornar-se uma das maiores atrizes de todos os tempos! Destaque também p\ o estilo de direção "econômico" utilizado por Truffaut, caracterizado por muitos cortes rápidos (não necessariamente corte-secos) que dão agilidade e objetividade à trama. Obs: fico imaginando o quanto um típico diretor norte-americano médio iria "pesar a mão" ao dirigir um típico drama de época como este... Por isso mesmo, digo: amém François Truffaut por sua originalidade ao dirigir esta bela história de amor!
Duas coisas me chamaram a atenção ao ver esta espécie de reencarnação de um dos maiores mitos do cinema oitentista: 1) Exatamente por agora tratar-se de uma superprodução, a história de "Mad Max" perdeu sua ingenuidade e, sobretudo, a originalidade que caracterizava o clássico filme de 1979, uma produção barata, mas que supria sua limitação em termos de recursos técnicos, por meio de muita criatividade e um bom roteiro. 2) É fato também que em "Estrada da Fúria", o velho Mad Max acabou se tornando um personagem coadjuvante em seu próprio filme que é, na verdade, protagonizado pela carismática personagem vivida por Charlize Theron! Enfim, "Estrada da Fúria" tem lá seus méritos: fazer menção à crise de abastecimento de água que assola o mundo moderno ( e não apenas São Paulo), foi uma grande sacada...
"A melhor maneira de enfrentar o mal é não resistindo a ele, pois, agindo assim, talvez façamos nossos algozes (devido à surpresa que atitude lhes causará) se arrependerem de praticá-lo contra nós"... Interessante reflexão desenvolvida pela irmã do protagonista de "Winter Sleep". Como é de praxe nos filmes de Ceylam, a fotografia é belíssima e o trabalho de direção de arte (embora modesto), também é bastante competente, mesclando pequenas doses cores quentes, aos tons pastéis que caracterizam a paleta de cores básica do filme. Obs: em termos gerais, gostei bastante do filme, apenas achei desnecessário o evidente prolongamento desnecessário da narrativa (ainda que o competente elenco e o bom trabalho de direção sejam capazes de "segurar" a trama) que visa, obviamente, reforçar o caráter "autoral" do filme e enquadrá-lo à típica estética dos filmes feitos sob encomenda p\ vencerem os grandes festivais europeus... Obs2: o casal de protagonistas é um show à parte, sobretudo a exoticamente bela e talentosa atriz, Melisa Sözen.
"Espero que não lhe aconteça nada enquanto você não estiver totalmente coberta"... Eis apenas um pequeno exemplo dos diálogos geniais e sempre carregados de ironia que caracterizam a filmografia do grande Billy Wilder. Em "Pacto de Sangue", considerado o "filme inaugural" do subgênero noir, vemos todos os ingredientes que se tornariam característicos desta que é, na minha opinião, a mais eficiente fórmula de cinema de gênero já desenvolvida pelo cinema norte americano: um anti-herói de caráter duvidoso, mas angustiado por crise de consciência, tendo como contraponto o estereótipo máximo da femme fatale que, obviamente, tinha que ser loira (mesmo que usando uma peruca); bela fotografia de inspiração expressionista; clima de total descrença nos valores antes defendidos pela sociedade, etc. Obs: nos dias de hoje, é difícil termos a real noção do quanto este filme era de fato revolucionário em relação à moral então vigente na terra do Tio Sam: Imaginem o que significava, naquele momento, em plena vigência do Código Hays (código de autocensura estabelecido pelos estúdios norte-americanos), fazer um filme protagonizado por um casal de adúlteros que, ainda por cima, cometem um assassinato motivado por ganância! Em resumo, escândalo total junto a sempre puritana sociedade norte-americana! Não por acaso, a atriz Barbara Stanwyck, relutou p\ aceitar viver (de forma magistral, aliás) a protagonista do filme, só mudando de ideia ao ouvir do próprio diretor, a seguinte provocação: "você é uma atriz ou um rato?" Obs2: eis aqui uma obra-prima indiscutível e obrigatória!
"Inteligência não deve caminhar junto c\ abandono; amor é abandono, portanto, os intelectuais não deveriam amar"... Assim falou o protagonista de "Desejo que Atormenta". A presença de Claudia Cardinale impressiona, não só por sua beleza, mas também pela qualidade de sua atuação! Após vermos "Desejo que Atormenta, a pergunta que fica é: o filme estaria falando apenas sobre infidelidade\traição, ou, nas entrelinhas, muito mais sobre a libertação feminina em relação às convenções sociais daquele período? Sobretudo após presenciarmos o drama vivido pela irmã solitária e frustrada do protagonista, a segunda opção parece bem mais viável... Em suma, isto é cinema da melhor qualidade!
O que mais chama a atenção em "Estranho Acidente" é a precisão dos movimentos de câmera que, em geral, são praticados por uma grua que "passeia" livremente pelos cenários, até encerrar seus movimentos num plano fechado (quase sempre um close) no rosto dos personagens. Merece também destaque a descontinuidade entre som e imagem praticada pelo diretor naquela sequência onde o protagonista reencontra uma antiga ex-namorada. Obs: é fato que a fase européia da carreira de Losey, caracterizou-se por um viés bem mais experimental do que vemos em seus primeiros filmes, caracterizados por um ritmo bem mais ágil, tipicamente norte-americano. Em outra palavras, "Estranho Acidente" não é um filme p\ todo tipo de público, pois seu desenvolvimento se dá de forma lenta e sutil. Mas, para os espectadores destemidos, a recompensa é garantida!
Um melodrama c\ pitadas de comédia popular e musical, onde o resultado é até bem melhor do que o esperado! Não por acaso, passei minha infância e adolescência inteiras ouvindo minha falar esse filme, mas só agora o assisti... Para quem ainda tem alguma dúvida sobre o quanto nossas populares "chanchadas" dos anos 50 beberam na sempre abundante fonte da vertente mais comercial do cinema italiano, basta prestar atenção às cenas das quais participa o pai da protagonista (um ótimo ator cômico, aliás). Reparem, inclusive, no quanto ele se assemelha ao nosso lendário Zé Trindade, uma das mais icônicas figuras da boa e velha chanchada brasileira! Obs: é também interessante notar que, ao longo da trama de "Dio Come ti Amo", um comportamento mais "livre" das convenções sociais até chega a ser permitido as personagens mais velhos (como a governanta), mas nunca à "pura e angelical" protagonista da trama, pois, como ela mesma diz ao cantar, logo no início do filme: "Eu não tenho idade para amar"...
Em certos momentos, parece uma espécie de versão italiana de "Little Miss Sunshine", adaptada ao ritmo tipicamente europeu que caracteriza o filme em questão... Mas, "As Maravilhas" tem lá suas qualidades, tais como a forma através da qual retrata o conflito entre um pai rígido e (até certo ponto explorador) e sua filha pré-adolescente, em momento de descoberta da sexualidade... Obs: a personagem vivida por Monica Vitti poderia ser melhor aproveitada na trama...
O primeiro comentário que me ocorre após ver esse filme é: Como eu poderia não amar um país onde até mesmo no exército existe pausa p\ o cigarro? Isso é que é total desapego às normas do politicamente correto hoje vigentes em todo o mundo... Vive la France!! Brincadeiras à parte, "Amor à Primeira Briga" tem lá suas qualidades, como, por exemplo, o jovem casal de protagonistas que, de início, parece que não vai dar conta de "segurar" o filme, mas, aos poucos, os atores crescem em cena, a cada momento...
A Baía dos Anjos
3.8 30É interessante notar que os personagens de Jacques Demy, mesmo em tramas aparentemente ingênuas como as de "Os Guarda-Chuvas do Amor"(1964) ou "Pele de Asno"(1970), estão sempre às voltas c\ dilemas morais... No filme em questão, temos um rapaz inicialmente estudioso e sensato que, primeiro por influência de um amigo e, posteriormente pela necessidade de impressionar uma bela e experiente mulher, acaba tornando-se um jogador compulsivo. Mas o fato é que quem rouba mesmo a cena aqui é Jeanne Moreau, graças aos seus inegáveis, talento, charme e carisma. Destaque também p\ a ótima trilha sonora composta por Michel Legrand.
A Noiva Estava de Preto
3.9 99"Esteja onde estiver, procuro sempre a presença de uma mulher para poder me sentir bem. Se, no metrô, por exemplo, outro homem senta ao meu lado, trato imediatamente de mudar de lugar!" Assim falou o divertidíssimo personagem Fergus que é, sem dúvida, a melhor coisa do filme "A Noiva Estava de Preto". Este que é, com certeza, o mais hitchcockiano filme de Truffaut, apesar de apresentar algumas boas ideias (tais como o equilíbrio entre tensão e humor que quase sempre caracterizava a obra hitchcockiana) e de contar c\ os inegáveis talento e carisma de Jeanne Moreau, nem sempre funciona como deveria, pois algumas situações são bastante inverossímeis, mesmo levando em conta que o próprio mentor de Truffaut (Hitchcock) já havia lhe ensinado que "As vezes, é preciso deixar a verossimilhança de lado p\ se compor uma cena"... Destaque p\ o hilário personagem "Fergus", vivido por Charles Denner que, não por acaso, anos depois, viveria o protagonista de "O Homem que Amava as Muheres", também dirigido por Truffaut.
Diary of a Rape
2.4 6 Assista AgoraSalvo a "exuberância" e o inexplicável carisma de Christina Lindberg, pouca coisa destaca-se em "Exponerad". A direção é competente e a trilha sonora também é muito boa. No entanto, a trama propriamente dita, praticamente inexiste, sendo contada apenas por meio dos confusos devaneios da protagonista. Obs: ainda que apenas por sua raridade, o filme vale uma conferida...
Eu Sou Juani
2.8 11Esta divertida paródia a "Velozes e Furiosos" (a abertura é quase idêntica a do segundo filme da franquia norte-americana), está longe de ser um dos melhores trabalhos do grande Bigas Luna. Mas tem lá seu valor, sobretudo se pensarmos que, por ter sido escrito e rodado em 2006, o filme de Bigas, já antecipava certos comportamentos que caracterizam a juventude contemporânea: ostentação, dependência extrema do universo virtual (internet, celulares e vídeo game) e, como não poderia deixar de ser, a compulsão pelas insuportáveis "selfies".
Retrato Falado de uma Mulher Sem Pudor
2.8 5"Olha, pelo que li e ouvi a respeito, ela não era propriamente, por assim dizer, uma pessoa de hábitos recomendáveis"... Divertidíssimo suspense policial em tom "chanchadesco" que prova que não é necessário fazer um filme "engajado" p\ se discutir temas como machismo, corrupção policial, impunidade das elites, etc. Ah, que saudade da época em que era possível fazer cinema de gênero no Brasil... Aliás, nada contra o verdadeiro cinema de autor (todos sabem que amo Godard e Antonioni), mas o que irrita muito em relação ao cinema brasileiro contemporâneo, é a insistência em produzir filmes pseudo-autorais que, ironicamente, só podem ser feitos se contarem c\ a presença de atores "globais" em seu elenco. Irônica contradição, não é mesmo? Mas, voltando a "Retrato Falado de uma Mulher sem Pudor", o filme conta c\ ótimas atuações de Serafim Gonzalez e Paulo César Peréio, só pra citar alguns nomes mais notáveis. Destaque também p\ a pequena, mas sempre luminosa participação da eterna musa: Nicole Puzzi.
Pureza Proibida
3.0 4A cada filme de Alfredo Sternheim que assisto, apenas comprovo seu talento p\ expor a hipocrisia de caráter social e religiosa do classe medianismo nosso de cada dia... Obs: também é fato que Sternheim não parece ser uma pessoa fácil de se lidar, pois tentei em vão entrevista-lo p\ meu documentário "Boca Livre", sobre o cinema da boca do lixo paulistana (movimento no qual Sternheim foi figura de peso). Enfim, como diria Scorsese: "A obra é maior que o autor"; por isso mesmo, perdoei "Alfredinho" (como o chamam seus amigos) em função de seu inegável talento e inteligência! Mas voltando ao filme propriamente dito, "Pureza Proibida" aborda de forma hábil temas como hipocrisia religiosa (de matriz católica), racismo, etc. E também de forma pioneira, já prevê o processo de "demonização" das religiões e rituais afro-brasileiros, tão em voga no Brasil contemporâneo... Destaque p\ a linda trilha sonora e também p\ as presenças da belíssima musa, Rossana Ghessa e do primeiro astro negro do cinema brasileiro: Zózimo Bulbul.
Julien Donkey-Boy
3.8 37E bastou uma câmera na mão associada a fotografia tosca (onde ao menos salva-se o charme da imagem granulada) p\ que Harmony Korine ganhasse o "certificado Dogma 95" e se torna-se um cineasta fashion! Mas o fato é que o cara demonstra talento em termos de direção, fazendo um interessante uso do "faux raccord" e escolhendo bem os movimentos de câmera. Merece também destaque o bom trabalho de montagem. No entanto, faltou ao diretor\roteirista compreender que, compor uma narrativa não-linear buscando referências na nouvelle vague e no movimento Dogma 95, não significa abandonar qualquer resquício de história, conforme vemos aqui. O que demonstra uma interpretação equivocada acerca do que representaram tais movimentos de renovação da estética cinematográfica, bem como utilização igualmente equivocada e oportunista das ideias praticadas por Andy Warhol e Paul Morrissey no cinema americano underground. Obs: também é fato que um sujeito capaz de ter em seu filme, o grande Werner Herzog e sua inconfundível voz, simulando sexo vestindo de mulher e dizendo coisas do tipo: "Gosto de coisas verdadeiras e não espalhafatosas. Gosto do final de Dirty Harry, aquilo é verdadeiro". Merece meu respeito!
3 Corações
2.9 40 Assista AgoraTrama extremamente previsível e até inverossímil... Salvo o carisma de Charlotte Gainsbourg e Chiara Mastroianni, nada mais se destaca neste filme bem mediano... Às vezes me pego pensando: O que seria do novo cinema francês caso não houvessem figuras como François Ozon, Christophe Honoré e Olivier Assayas? Questão preocupante...
Terceira Pessoa
3.3 200 Assista AgoraUm verdadeiro amontoado de clichês, desnecessariamente longo, etc. A única coisa que aqui se destaca é a presença da bela Mila Kunis (provando que pode ser uma atriz de verdade) e do sempre carismático Adrien Brody. Quanto a Liam Neeson, um dia já foi uma ator de verdade, mas, já há tempos, tem perdido credibilidade por escolher mal seus trabalhos e, além disso, desenvolveu um irritante estilo de "atuação genérica" bastante cômoda e insípida. Obs: será que o diretor\roteirista (Paul Haggis) ainda não se eu conta do quão desgastada já está a velha fórmula das "diversas tramas paralelas que se cruzam no decorrer da história" (um modismo característico do final dos anos 90) e de que tal recurso já não é mais novidade desde "Pulp Fiction"(1994) e "Short Cuts"(1993)? Haja paciência p\ tamanho rocambole...
A Fêmea do Mar
3.1 20A primeira coisa que chama a atenção ao vermos a "Fêmea do Mar" é a evidente influência exercida por "Teorema"(1969) de Pasolini, na composição desta trama. O que não é demérito algum, pelo contrário, apenas comprova o incrível talento do autêntico intelectual do Cinema da Boca (Ody Fraga) p\ compor esta espécie de versão "comercialmente viável" do clássico pasoliniano. Por meio da célebre figura do estranho que penetra no interior de uma família convencional, demolindo seus valores de ordem religiosa e social, típicos da sempre conservadora classe média, Ody consegue a proeza de, num filme acessível ao grande público, discutir questões como liberdade sexual, homossexualismo, monogamia, etc. Destaque p\ o competente trabalho de fotografia a cargo de Cláudio Portioli e p\ a ótima participação do grande Jean Garrett como ator!! Obs: o filme beneficia-se muito da presença de Aldine Muller (no auge da beleza), mas quem rouba a cena mesmo é Neide Ribeiro, transbordando charme e sensualidade em cada momento em que entra em cena... Amém, sr. Fraga!
O Signo de Escorpião
3.2 10"Você é do tempo em que Deus trazia o chicote ao invés de bondade no olhar?" Assim falou a fotógrafa vivida pela grande Maria Della Costa. É no mínimo interessante vermos um veterano das chanchadas cinquentistas (Carlos Coimbra) dirigindo este divertidíssimo "suspense esotérico", junto a figuras que se tornariam conhecidas, ao longo dos anos 70 e 80, por sua vinculação à lendária "Boca do Lixo" paulistana. O trabalho de direção é competente, usando e abusando do zoom tipicamente setentista. Merece menção também a fotografia a cargo do grande Antônio Meliande. No entanto, algumas limitações técnicas, geram um humor quase involuntário em determinadas cenas; mas isso em nada compromete o resultado final, servindo apenas p\ tornar o filme ainda mais divertido! Destaque p\ as participações da ótima Wanda Cosmo (vivendo uma insana e moralista empregada) e também p\ a sempre bela e charmosa, Kate Lyra.
Masculino-Feminino
3.9 159 Assista Agora"Eles (os brancos) jamais serão capazes de entenderem certas coisas; logo alguém irá levar as mãos à cabeça e dizer, 'Oh, mas eu adoro Bessie Smith'. Sem, no entanto, jamais entender sobre o que de fato ela canta"... Apesar de diálogos afiados como este, "Masculino\Feminino" demonstra até mesmo p\ o mais "godardiano" dos seres vivos (eu mesmo) que monsieur Godard também era capaz de errar, produzindo filmes menores... O filme em questão, já peca pelo fato de não se definir se realmente pretende falar sobre as diferenças entre os sexos, ou se preferia adotar um pseudo-engajamento político e antibelicista. Enfim, esse deslize situado entre obras-primas indiscutíveis do mesmo período, tais como "Alphaville"(1965), "Pierrot Le Fou"(1965) e "Made in USA"(1966); serve apenas p\ provar que Godard também era humano... Obs: destaque p\ as pequenas, mas sempre luminosas presenças de Françoise Hardy e Brigitte Bardot.
Rocco e Seus Irmãos
4.4 125A competente atuação de Alain Delon, aqui representa a pureza perdida num mundo (ou sociedade) dominado pela necessidade de ascender socialmente, custe o que custar... É interessante notar, mesmo levando em conta questões culturais particulares dos italianos, tais como a suposta tendência ao "passionalismo"; o quanto a estética neorrealista (ainda presente neste filme sessentista) se apoiava no tradicional melodrama. Obs: merece destaque a presença de Annie Girardot, cuja personagem (Nadia) transborda charme e sensualidade a cada momento em que entra em cena. Aliás, é curiosa a menção ao martírio de cristo, durante a cena em que Nadia é apunhalada por seu amante (Simone) e abre os braços, em torno do corpo do rapaz como se estivesse sendo "crucificada por conta de seus pecados". Linda cena!
Fedora
3.9 32Esta foi a primeira vez em que não fiquei extasiado após ver um filme do grande Billy Wilder... Ok, os diálogos geniais e acidamente irônicos de sempre, continuam lá; há também uma interessante reflexão sobre a total incapacidade de muitas celebridades (inclusive, nos dias de hoje) no sentido de lidarem c\ o passar dos anos e, consequentemente, c\ o fato de não estarem mais no auge de suas carreiras... No entanto, visto que o filme em questão é claramente influenciado por um dos maiores clássicos do diretor\roteirista ("Crepúsculo dos Deuses"), ele acaba pecando tanto pela repetição do tema, como pelo fato de não desenvolvê-lo c\ a mesma eficiência e originalidade do filme de referência... O próprio ritmo de "Fedora", ao contrário do que normalmente ocorreria num filme de Wilder, é um tanto "travado", prolongando-se em algumas sequências desnecessárias, etc. Outro detalhe importante: chega a ser constrangedor aquele diálogo em que o protagonista diz: "Hollywood foi dominada por barbudos que não se preocupam c\ roteiros e preferem fazer tudo c\ câmera na mão"... Nesta clara referência à geração de diretores como Coppola, Scorsese, De Palma, Cassavetes etc; fica evidente que, por mais que Billy Wilder tenha, em seu tempo, travado grandes batalhas p\ driblar a censura temática (Código Hays) imposta pelos grande estúdios e tenha, desse modo, conseguido fazer "cinema autoral" mesmo sob as rédeas da mediocridade imposta pelos velhos produtores, no fim das contas, vemos que Wilder estava acostumado a ser "paparicado" pelos velhos estúdios e, portanto, assim como a protagonista de "Fedora", ele também não sabia como lidar c\ o suposto fim do "Star System" e do próprio "Sistema de Estúdios". Obs2: mas o fato é que o homem que dirigiu e roteirizou obra-primas indiscutíveis como "Crepúsculo dos Deuses", "Farrapo Humano", "Pacto de Sangue", "Quanto Mais Quente Melhor", "Se meu apartamento falasse", etc; merece total perdão por alguns deslizes, não é mesmo?
Branco Sai, Preto Fica
3.5 173Com exceção da simpática figura do D.J\locutor de rádio que de forma criativa narra um episódio de violência ocorrido no passado, utilizando apenas sua eloquente voz e algumas fotos para tanto, pouco se destaca de fato em "Branco Sai, Preto Fica". Ah, tem também a hilária execução da "dança do jumento". De resto, o que vemos na maior parte do filme, é uma recorrência de longas sequências repetitivas e desnecessárias que acabam por tornar o filme um longo exercício de experimentalismo vazio disfarçado de "linguagem autoral". No entanto, "Branco Sai, Preto Fica" tem lá seu valor, sobretudo no sentido de mostrar que é, sim, possível fazer cinema de baixo custo no Brasil e, o que é mais importante: sem precisar recorrer à presença das já desgastadíssimas "estrelas" da Globo em seu elenco. Ponto pra vocês por isso!
A História de Adèle H.
3.9 129Magistral atuação da ainda muito jovem, Isabelle Adjani, iniciando sua jornada a caminho de tornar-se uma das maiores atrizes de todos os tempos! Destaque também p\ o estilo de direção "econômico" utilizado por Truffaut, caracterizado por muitos cortes rápidos (não necessariamente corte-secos) que dão agilidade e objetividade à trama. Obs: fico imaginando o quanto um típico diretor norte-americano médio iria "pesar a mão" ao dirigir um típico drama de época como este... Por isso mesmo, digo: amém François Truffaut por sua originalidade ao dirigir esta bela história de amor!
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraDuas coisas me chamaram a atenção ao ver esta espécie de reencarnação de um dos maiores mitos do cinema oitentista: 1) Exatamente por agora tratar-se de uma superprodução, a história de "Mad Max" perdeu sua ingenuidade e, sobretudo, a originalidade que caracterizava o clássico filme de 1979, uma produção barata, mas que supria sua limitação em termos de recursos técnicos, por meio de muita criatividade e um bom roteiro. 2) É fato também que em "Estrada da Fúria", o velho Mad Max acabou se tornando um personagem coadjuvante em seu próprio filme que é, na verdade, protagonizado pela carismática personagem vivida por Charlize Theron! Enfim, "Estrada da Fúria" tem lá seus méritos: fazer menção à crise de abastecimento de água que assola o mundo moderno ( e não apenas São Paulo), foi uma grande sacada...
Sono de Inverno
4.0 133 Assista Agora"A melhor maneira de enfrentar o mal é não resistindo a ele, pois, agindo assim, talvez façamos nossos algozes (devido à surpresa que atitude lhes causará) se arrependerem de praticá-lo contra nós"... Interessante reflexão desenvolvida pela irmã do protagonista de "Winter Sleep". Como é de praxe nos filmes de Ceylam, a fotografia é belíssima e o trabalho de direção de arte (embora modesto), também é bastante competente, mesclando pequenas doses cores quentes, aos tons pastéis que caracterizam a paleta de cores básica do filme. Obs: em termos gerais, gostei bastante do filme, apenas achei desnecessário o evidente prolongamento desnecessário da narrativa (ainda que o competente elenco e o bom trabalho de direção sejam capazes de "segurar" a trama) que visa, obviamente, reforçar o caráter "autoral" do filme e enquadrá-lo à típica estética dos filmes feitos sob encomenda p\ vencerem os grandes festivais europeus... Obs2: o casal de protagonistas é um show à parte, sobretudo a exoticamente bela e talentosa atriz, Melisa Sözen.
Pacto de Sangue
4.3 247 Assista Agora"Espero que não lhe aconteça nada enquanto você não estiver totalmente coberta"... Eis apenas um pequeno exemplo dos diálogos geniais e sempre carregados de ironia que caracterizam a filmografia do grande Billy Wilder. Em "Pacto de Sangue", considerado o "filme inaugural" do subgênero noir, vemos todos os ingredientes que se tornariam característicos desta que é, na minha opinião, a mais eficiente fórmula de cinema de gênero já desenvolvida pelo cinema norte americano: um anti-herói de caráter duvidoso, mas angustiado por crise de consciência, tendo como contraponto o estereótipo máximo da femme fatale que, obviamente, tinha que ser loira (mesmo que usando uma peruca); bela fotografia de inspiração expressionista; clima de total descrença nos valores antes defendidos pela sociedade, etc. Obs: nos dias de hoje, é difícil termos a real noção do quanto este filme era de fato revolucionário em relação à moral então vigente na terra do Tio Sam: Imaginem o que significava, naquele momento, em plena vigência do Código Hays (código de autocensura estabelecido pelos estúdios norte-americanos), fazer um filme protagonizado por um casal de adúlteros que, ainda por cima, cometem um assassinato motivado por ganância! Em resumo, escândalo total junto a sempre puritana sociedade norte-americana! Não por acaso, a atriz Barbara Stanwyck, relutou p\ aceitar viver (de forma magistral, aliás) a protagonista do filme, só mudando de ideia ao ouvir do próprio diretor, a seguinte provocação: "você é uma atriz ou um rato?" Obs2: eis aqui uma obra-prima indiscutível e obrigatória!
Desejo Que Atormenta
3.3 4 Assista Agora"Inteligência não deve caminhar junto c\ abandono; amor é abandono, portanto, os intelectuais não deveriam amar"... Assim falou o protagonista de "Desejo que Atormenta". A presença de Claudia Cardinale impressiona, não só por sua beleza, mas também pela qualidade de sua atuação! Após vermos "Desejo que Atormenta, a pergunta que fica é: o filme estaria falando apenas sobre infidelidade\traição, ou, nas entrelinhas, muito mais sobre a libertação feminina em relação às convenções sociais daquele período? Sobretudo após presenciarmos o drama vivido pela irmã solitária e frustrada do protagonista, a segunda opção parece bem mais viável... Em suma, isto é cinema da melhor qualidade!
Estranho Acidente
3.5 14O que mais chama a atenção em "Estranho Acidente" é a precisão dos movimentos de câmera que, em geral, são praticados por uma grua que "passeia" livremente pelos cenários, até encerrar seus movimentos num plano fechado (quase sempre um close) no rosto dos personagens. Merece também destaque a descontinuidade entre som e imagem praticada pelo diretor naquela sequência onde o protagonista reencontra uma antiga ex-namorada. Obs: é fato que a fase européia da carreira de Losey, caracterizou-se por um viés bem mais experimental do que vemos em seus primeiros filmes, caracterizados por um ritmo bem mais ágil, tipicamente norte-americano. Em outra palavras, "Estranho Acidente" não é um filme p\ todo tipo de público, pois seu desenvolvimento se dá de forma lenta e sutil. Mas, para os espectadores destemidos, a recompensa é garantida!
Dio, Come Ti Amo!
3.7 84Um melodrama c\ pitadas de comédia popular e musical, onde o resultado é até bem melhor do que o esperado! Não por acaso, passei minha infância e adolescência inteiras ouvindo minha falar esse filme, mas só agora o assisti... Para quem ainda tem alguma dúvida sobre o quanto nossas populares "chanchadas" dos anos 50 beberam na sempre abundante fonte da vertente mais comercial do cinema italiano, basta prestar atenção às cenas das quais participa o pai da protagonista (um ótimo ator cômico, aliás). Reparem, inclusive, no quanto ele se assemelha ao nosso lendário Zé Trindade, uma das mais icônicas figuras da boa e velha chanchada brasileira! Obs: é também interessante notar que, ao longo da trama de "Dio Come ti Amo", um comportamento mais "livre" das convenções sociais até chega a ser permitido as personagens mais velhos (como a governanta), mas nunca à "pura e angelical" protagonista da trama, pois, como ela mesma diz ao cantar, logo no início do filme: "Eu não tenho idade para amar"...
As Maravilhas
3.6 45 Assista AgoraEm certos momentos, parece uma espécie de versão italiana de "Little Miss Sunshine", adaptada ao ritmo tipicamente europeu que caracteriza o filme em questão... Mas, "As Maravilhas" tem lá suas qualidades, tais como a forma através da qual retrata o conflito entre um pai rígido e (até certo ponto explorador) e sua filha pré-adolescente, em momento de descoberta da sexualidade... Obs: a personagem vivida por Monica Vitti poderia ser melhor aproveitada na trama...
Amor à Primeira Briga
3.1 32 Assista AgoraO primeiro comentário que me ocorre após ver esse filme é: Como eu poderia não amar um país onde até mesmo no exército existe pausa p\ o cigarro? Isso é que é total desapego às normas do politicamente correto hoje vigentes em todo o mundo... Vive la France!! Brincadeiras à parte, "Amor à Primeira Briga" tem lá suas qualidades, como, por exemplo, o jovem casal de protagonistas que, de início, parece que não vai dar conta de "segurar" o filme, mas, aos poucos, os atores crescem em cena, a cada momento...