Li o livro quase dez anos atrás, e foi espantoso reencontrar cenas que eu já tinha imaginado hoje, na telona. É o tipo de filme que deve ser visto no cinema, de verdade. Esta foi a mais fiel e interessante adaptação de um livro para filme que eu já vi - adaptou, trouxe elementos novos e afirmou o que era canônico das Crônicas de Duna. Espero de coração que o Villeneuve assine as produções subsequentes, caso haja uma franquia, e que este filme jogue luz de volta a essa série de livros tão querida. Mora no meu coração... Assistido em 1/03/2024!
Apesar do sucesso da série, e o humor fino (e ao mesmo tempo escrachado) que desenvolveu nos seus primeiros anos, “31 Minutos - O Filme” não consegue atingir os patamares que a produção para a TV estabeleceu, não funcionando nem como a comédia ‘independente’ que tenta ser... As altivas direções televisivas de Alvaro Díaz e Pedro Peirano não são suficientes para dar conta da linguagem cinematográfica que o filme exige. Depois de assistir ao material original, ver o filme parece uma experiência “menor”, ou pelo menos “pouco proveitosa”, mesmo sem comparar diretamente a episódios ou ápices específicos. Aqui e ali, há piadas características e situações abjetas, claro, mas num geral, o filme não consegue transmitir o timing e a pegada da série que o originou, e acaba fracassando em ambas as coisas. Para além disso, nota-se que, no “casting” dos personagens, alguns clássicos ficaram de fora, como o Super Meia Man; e há, por vezes, fantoches demais (ou elementos demais, por assim dizer) em cada cena, o que bagunça um pouco a compreensão do longa. Com a série, porém, não tem erro! Corre lá!
“Juan Carlos Bodoque: Esto fue mi Nota Verde, soy Juan Carlos Bodoque.”
O supergrupo de K-pop BLACKPINK ganha, pela primeira vez, um documentário sobre o seu início de carreira. “Light Up the Sky” é a primeira produção da Netflix com a Coréia do Sul sobre este gênero musical que, nas últimas décadas, conseguiu criar inúmeros nichos de consumo pelo mundo. E não é para menos. Grupos assinados por gigantes como a YG Entertainment movimentam toda uma economia, e representam, no caso da Coréia, um soft power através da música - o mesmo que o Japão conseguiu, há muitos anos, com os mangás e animes. A cultura não tem barreiras de idioma, e a prova disso é o sucesso absoluto que o quarteto atingiu no ocidente, onde talvez uma parcela relativamente pequena de seus fãs saiba coreano, japonês e/ou tailandês, para poder acompanhar o que dizem... Qualquer que seja o caso, é inegável que BLACKPINK se apresenta como um produto cultural relevante, ainda que nunca se tenha ouvido falar a respeito. Para além disso, o documentário, como uma propaganda positiva, funciona perfeitamente, uma vez que evita, a todo custo, quaisquer partes “ruins” ou “indesejáveis” que envolvam o trabalho que Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa fazem desembocar tão arduamente. Ainda que seja explicitamente parcial, trata-se de um bom documentário, ao que vale a pena dar uma chance.
“Jennie: Ser dita na minha cara que não sou boa nas coisas que faço e tentar seguir em frente... É realmente difícil.”
Visitar os spin-offs da superprodução “Invocação do Mal” é, quase sempre, uma experiência mediana. Com “Annabelle 2: A Criação do Mal”, isso já era de se esperar - o que não torna, infelizmente, a visita menos penosa... A segunda instalação da franquia “Annabelle”, iniciada por um filme ainda pior que este, toma lugar num cenário clássico do Terror dos anos 2000: uma casa no meio do nada, um poço misterioso, e uma família em desespero. A questão, como se tem dito, não é a repetição dos elementos, mas a inadaptação deles aos novos formatos que o Terror vem tomando, sobretudo nos últimos anos... O que se tem visto, mundialmente, é uma verdadeira renovação do Terror enquanto gênero, sem perder os seus recursos clássicos, como jumpscares e a mitologia cristã/católica versus o diabo/demônio, por exemplo. O Novo Terror, que gerou filmes como “A Bruxa” (2015), “Hereditário” (2018), e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), tem se valido de elementos semelhantes, porém reinventados a um público que, certamente, já se cansou da fórmula refeita inúmeras vezes, que consagrou filmes parecidos com este. Falo sobre isso sempre: é importante dar uma olhada nos longas que vem sendo produzidos hoje, e que possuem uma roupagem que foge do que se convencionou. Filmes como os da franquia “Annabelle”, se muito, passam longe de marcar positivamente os amantes do gênero. É preciso conhecer novas formas de produzir e se reinventar, sempre e sempre. Se não for isso, será sempre o cansaço da volta, e a espera por algo novo ou diferente que, a depender de direções como esta, nunca vai chegar.
“Janice: Perdoe-me, Pai, pois estou prestes a pecar.”
Clássico do terror dos anos 90, o longa de Neil Jordan explora o universo vampiresco a partir de uma excêntrica dupla de vampiros. Tendo sido roteirizado pela Anne Rice, a autora do livro, "Entrevista com o Vampiro” conta com as irreverentes atuações de Tom Cruise, Brad Pitt e um irreconhecível Antonio Banderas. Para completar, ainda temos a Kirsten Dunst em começo de carreira (literalmente começo, aos 11 anos!), mandando super bem também. Em relação aos aspectos técnicos, trata-se de uma boa montagem, com ágil edição, mas efeitos especiais medianos (sobretudo a maquiagem de Cruise, que é uma verdadeira bola fora nesta produção). E assim como em “Supernatural” e “On The Road”, temos aqui também uma obra em que os dois protagonistas homens exalam uma tensão sexual quase que infinita, ainda que nunca se veja, efetivamente, nada em tela. O elemento da adoção de Claudia torna tudo isso ainda mais implícito, dada a responsabilidade que o casal de vampiros passa a ter ao criar uma “criança que nunca vai crescer”. De qualquer maneira, é uma referência, sem dúvidas. Faz uma boa homenagem aos primeiros contos de vampiros, e adiciona à sua mitologia elementos que realmente funcionam, e que entretém sem grandes dificuldades. Certamente, em relação aos mais recentes livros e filmes que abordam o assunto, este longa dá de dez a zero sem descanso. Assista! Realmente vale a pena.
“Lestat: Ninguém podia resistir a mim, nem mesmo você, Louis. Louis: Eu tentei. Lestat: [sorrindo] E quanto mais você tentava, mais eu te queria.”
A comédia social dirigida por Lucien Jean-Baptiste (que também protagoniza o longa) é definitivamente um must-see. “Ele Tem Mesmo os Seus Olhos” narra a história “invertida” de uma adoção inter-racial, e os excêntricos e curiosos desdobramentos que podem segui-la. O filme, de maneira geral, incute um discurso anti-racista de forma sutil e leve. Apesar de tratar, especialmente, da situação negra numa França politicamente branca, a produção se sobressai por explicitar o fenômeno contrário a esse, em que casais brancos que adotam crianças não-brancas sejam vistos de forma diferente à retratada aqui. O estranhamento, os questionamentos, os comentários são todos pelo menos distintos, o que torna a visita a este filme uma experiência marcante e inesquecível. Aliás, há de se reconhecer a edição finíssima do longa, que garante a dinâmica perfeita, e torna essa hora e meia muito mais ágil e eficaz na entrega de sua mensagem... Incrível!
Caramba... A (surpreendentemente bem-feita) adaptação do thriller considerado “infilmável” de Stephen King chega à Netflix em 2017 de maneira sorrateira, quase despercebida, e como é bizarro que não se fale tanto dela... “Jogo Perigoso”, primeira transposição ao cinema do livro homônimo do Rei do Terror, narra a história de uma situação que ocorre a um casal em crise, e que pode, por pior que isso soe, acontecer de verdade com alguém. A partir de um incidente infeliz que acomete um dos personagens, somos brindados com uma dose cavalar de incerteza e ansiedade, de medo e desespero. O característico (e hoje clássico) Terror que faz desembocar Stephen King tem, entre outras marcas, a quase sempre presente fidedignidade; são situações parecidas com a realidade, e que ninguém questiona ser passíveis de tomar lugar de fato. Tal grau de realismo é, talvez, o maior trunfo de sua literatura; por isso, filmes como este se apresentam superlativamente perturbadores. E para além dessas coisas, o longa maneja ser instigante partindo praticamente de uma única personagem, presa a uma cama por quase todo o tempo. Um dos desafios daqueles “roteiros mínimos”, em que, com a menor quantidade possível de elementos, tenta-se contar uma boa (e traumatizante) história. Acredito que este é um desses bons casos. Um filme que vale uma visita preparada. Respira fundo que lá vem trauma...
“Jessie: Só me desamarra logo e a gente conversa. Gerald: E se eu não desamarrar? Jessie: O quê? Gerald: E se eu não desamarrar?”
Pérola do cinema estadunidense sobre Educação (ficando atrás somente do seminal “Sociedade dos Poetas Mortos”), FREEDOM WRITERS é um daqueles filmes que meio que nasceu clássico, ainda que tenha envelhecido mal em certos aspectos. Sendo revisitada hoje, a produção estrelada por Hilary Swank tem uma pitada de “white saviour”, como tem sido repetidamente apontado por ativistas da internet, o que deve ser reconhecido, embora não represente um empecilho para o filme em si. De maneira geral, o filme entrega um drama bem construído, e se baseia numa premissa incrível: no quão transformadora pode ser a licenciatura quando abordada por métodos não-tradicionais e específicos, voltados para determinadas vivências e biografias... O drama vivido pelos alunos desta escola é real, tenebrosamente real, e só de pensar que uma revolução de pensamento possa de fato ter ocorrido em um ambiente complexo como este, enche o nosso coração de orgulho e admiração pelo poder das palavras. Toda pessoa que estuda Letras ou deseja se tornar docente deveria dar uma olhada neste longa... Busque saber do método inovador que Erin Gruwell desenvolveu na vida real, com a ajuda de todos os seus alunos. Vale muito a pena conhecer o seu trabalho!
“Eva: Gente branca querendo respeito como se merecessem de graça.”
Como alguns documentários, “O Dilema das Redes” produz ao mesmo tempo uma visita repetitiva e um tanto superficial sobre este que é o grande tema da contemporaneidade. THE SOCIAL DILEMMA, primeira produção da Netflix sobre o problema das tecnologias de comunicação, é um filme dinâmico, e tem algo exclusivo a seu favor: as entrevistas com ex-funcionários das gigantes empresas que hoje dominam a forma como nos comunicamos: Google, Facebook, Instagram, Whatsapp e muitas outras... Ainda que se vejam, aqui e ali, informações novas (como a justificativa para o botão “curtir” do Facebook pelo seu próprio criador), a sensação é que o filme dá uma pincelada leve sobre o tema, expondo pontos gerais que, para qualquer pessoa que já entrou em contato com este conteúdo antes (ou já ouviu qualquer um dos entrevistados), já são senso comum. Há, também, um problema com a dramatização do longa, que parece didática e exagerada demais para ser levada a sério. Reconheço a importância de seguir falando a respeito, repetindo as advertências e insistindo na revisão dos hábitos de consumo que temos - essas são as mensagens mais poderosas que o filme traz. Entretanto, a verdade é que mesmo as soluções que os funcionários sugerem, como desativar notificações de alguns aplicativos ou evitar usar o celular em determinadas situações, são atitudes desproporcionais ao tamanho do problema, que chega a ser escutar o que falamos com nossos amigos e personalizar inclusive que tipo de conteúdo somos mais “passíveis de desejar”. O ideal, ainda que pareça utópico, seria que os celulares e outros dispositivos não dispusessem a nossa informação às empresas por padrão, ou pelo menos não impusessem isso para poder funcionar. Como foi dito noutro doc, os Direitos Digitais precisam estar vinculados aos Direitos Humanos, para que nossa privacidade seja sempre respeitada (e nunca hackeada). Enquanto os Direitos Humanos não contemplarem os Direitos Digitais, a manipulação e a revenda de informações será inescrupulosa, e inequivocamente presente.
“Sófocles: Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição."
Um filme leve e divertido. NO STRINGS ATTACHED, produção de 2011 do Ivan Reitman (responsável pelo sucesso dos anos 80 “Os Caça-Fantasmas” e por outras comédias menores) é um romance simples, direto ao ponto, e com alguns momentos interessantes. A trama, protagonizada pela excelente Natalie Portman e por um Ashton Kutcher confortável, explora a relação “inesperada” que surge a partir de uma “amizade com benefícios” entre os dois. Como outras produções que abordam este tema (em especial, a cópia escarrada “Amizade Colorida”, que saiu meses depois), é um filme evidentemente clichê e previsível, mas que cumpre sua função no que lhe tange a forma e a sua execução. Destaque para o fato de que, ainda que haja resquícios de pensamentos machistas e às vezes até gordofóbicos em alguns desses filmes, “Sexo sem Compromisso” se sai até que razoavelmente bem, considerando o contexto em que foi produzido e a mentalidade de então, dez anos atrás. Como um divertimento “sem compromisso”, retém o espectador e funciona, mesmo que, para alguns, moderadamente.
Eli: [batendo na porta de Adam] Não consigo focar no meu pornô com todo esse sexo real acontecendo do meu lado!
Uma produção leve, e com alguns aspectos bacanas. GATOS, FIOS DENTAIS E AMASSOS é uma comédia/drama naquele estilo “coming of age”, em que a protagonista passa pela temerosa fase da puberdade, e vai descobrindo o corpo, o social e, principalmente, o outro. A representatividade neste universo branco está devidamente feita, ainda que com alguns problemas bastante sérios; o fato de Georgia ser uma menina “feia” contribui para que algumas lições sejam possivelmente tiradas do filme, mesmo que, eticamente, ela seja uma protagonista extremamente egoísta, e não aprenda com os seus erros em momento algum... Problemas de construção de arco em produções como essa se encontram aos montes, mas não devemos nos ater a buscar comentários político-sociais e/ou representações absolutamente diversas em filmes que não se propõem a fazê-lo, ou sequer pensam nisso. O fato é que, apesar das boas intenções, GATOS... é uma comédia mediana, com alguns pontos positivos no sentido do entretenimento, e negativos no sentido representativo, se é que se deve falar assim. Entre as produções de sua geração, não é uma que se sobressai. E, sobre elas, “Meninas Malvadas”, de alguns anos antes, ainda se mostra um referencial aparentemente imbatível. Se fosse para escolher entre uma e outra, eu reveria "Meninas Malvadas", com certeza.
”Georgia Nicolson: Eu não me importo mais com parecer perfeita, isso é tão superestimado! Não preciso de uma cirurgia plástica ou de cabelo loiro, porque meu namorado deus-do-sexo gosta de mim DO JEITO QUE EU SOU!”
A irreverente e memorável atuação de Jack Black neste que é um de seus maiores sucessos segue sendo, quase vinte anos depois, diversão garantida. ESCOLA DE ROCK, filme que chamou a atenção do mundo para a musicalidade do Tenacious D, apresenta uma história simples e curiosa: o quê aconteceria se um roqueiro fracassado desse aulas numa escola particular, como o professor substituto com quem vive? O resultado, como era de se esperar, é uma coleção de situações bizarras e cômicas, sobretudo pela relação que se estabelece entre a “rebeldia” do rock clássico com a “rigidez” do ensino formal. O que a Música passa a representar, para os alunos privilegiados dessa escola, é talvez uma das coisas mais bonitas de que se tem notícia; é sobre como a Arte pode, de fato, ajudar um aluno a se expressar, se entender melhor, coisa que outras disciplinas talvez não produzam com a mesma eficácia. E não é para menos: esta é a comédia com tema musical de maior receita do mundo, até 2015. Se esses não são motivos suficientes para dar uma olhada neste clássico de Jack Black, eu não sei quais podem ser. Para ver repetidas vezes!
“Dewey Finn: Eu tenho sido tocado pelas suas crianças... E tenho certeza que toquei elas também.”
O hoje referencial “filme de monstro” THE MUMMY, assinado por Stephen Sommers, ainda se apresenta, vinte anos mais tarde, como um filme divertido, didático e “para toda a família”, como boa parte dos blockbusters de sua época. Evidentemente, “A Múmia” não é um filme que se leva tão a sério e, como característica das superproduções voltadas ao público infanto-juvenil, tem deslizes sociais, étnicos e até machistas, embora não se deva esperar de um filme “pipoca” como este um documentário realístico sobre o Egito Antigo... Ainda que tenha seus problemas de representação do povo árabe, este clássico dos filmes B tem, sim, sua dose de entretenimento garantida nas reviravoltas que dá e nas boas atuações de todo o elenco, e em especial nos trabalhos de Brendan Fraser e de uma Rachel Weisz em começo de carreira. De fato, é daqueles para assistir “desligando o cérebro”, como alguns dizem, o que não significa que seja um filme enfadonho ou pouco movimentado. É só não pensar que os povos retratados em películas como esta assim o são na realidade, como é costumeiro fazer com os povos asiáticos e sul-africanos, por exemplo. Um divertimento passageiro.
“Evelyn: [abrindo o sarcófago] Ah, tenho sonhado com isso desde que era menininha. Rick: Você sonha com gente morta?”
Steven Spielberg, com seu cinema referencial e sempre divertido, nos apresenta em “Catch me If You Can” a excêntrica história de um falsificador de identidades (ou, como chamamos por aqui, um baita agiota). Este filme esmiuça de maneira absolutamente instigante a biografia de Frank Abagnale, como contada pelo próprio: um notável vigarista, que se passou por diversas profissões (médico, FBI, piloto de avião...) e pagava tudo com seus cheques sem fundo. A falsificação de cheques, inclusive, o levaria ainda mais longe - mas contá-lo é entregar um pouco da surpresa que este filme guarda tão bem. Não diferente dos outros sucessos de Spielberg, PRENDA-ME... é mais uma das pérolas assinadas pelo diretor, estrelada por dois competentíssimos protagonistas, e conduzida de maneira cheia de fôlego. Dos seus mais recentes trabalhos, é um dos mais aclamados, e não é pra menos; trata-se de uma biografia, no mínimo, bastante incomum. Assista sem medo! Vale muito a pena.
“Frank Abagnale Jr.: Ah, as pessoas só sabem aquilo que você conta a elas, Carl.”
A difícil tarefa de abordar o legado ambíguo de Polanski. REPULSION é o segundo trabalho em longa-metragem do diretor franco-polaco Roman Polanski, e o primeiro de sua carreira a ser feito totalmente em inglês. O longa explora o deterioramento físico e mental que acomete Carol, uma jovem inglesa que é constantemente assediada e que possui, como o nome já diz, uma pronunciada repulsa ao sexo e à sua própria sexualidade. Trata-se, sim, de um filme com tomadas inovadoras, e todo um tratamento na trilha sonora, que casa perfeitamente com o clima de terror/suspense que sustenta toda a produção. Suas falhas incluem principalmente ser um filme lento e longo, unidimensional em seus núcleos e ligeiramente pretensioso na sua abordagem. Entretanto, é pelo menos estranho assistir a um filme que aborda violação e paranoia, por exemplo, quando dirigido por um homem que ainda hoje é perseguido pelo estupro que confessou cometer a uma menina de 13 anos, e por outros casos mais recentes de abuso sexual. Falar sobre o cinema de Polanski é falar do legado ambíguo de um homem que ao mesmo tempo que foi condenado por estupro em 1978, foi o recordista mundial de Césares das décadas seguintes - um cineasta que coleciona êxitos de todas as premiações europeias das quais participou. Por um lado, trata-se de um longa com estética distinta do que se fazia dos anos 60, a época de Audrey Hepburn em “Bonequinha de Luxo” e de “A Noviça Rebelde”, do mesmo ano. Roman desmistifica a “musa” sem ação e sem profundidade, e cria verdadeiros enigmas psicológicos e narrativos carregados por elas. Por outro lado, Polanski representa a epítome do homem branco que venceu os julgamentos contra si e seguiu fazendo cinema do seu jeito, ainda que foragido do sistema penal que o sentenciou à prisão naquela época... O filme em si não é ruim, mas é super-estimado. E talvez já seja a hora de olharmos (incluso eu) para os trabalhos mais recentes das novas gerações do Cinema. Tem muita gente boa fazendo trabalhos verdadeiros e inesquecíveis hoje mesmo. E talvez agora seja o tempo de optarmos por outro cinema.
Tenho sentimentos encontrados... “Retrato de uma Jovem em Chamas” é o quarto longa da diretora Céline Sciamma, que ficou conhecida pelo seu muito bem-avaliado “Tomboy”, um drama de 2011 que lhe rendeu vários prêmios em festivais europeus. Nesta nova instalação, mais robusta e poética (e mais “artística” de modo geral), Sciamma retrata a complexa relação que se dá entre duas mulheres que, por motivos de força maior, não poderão estar juntas - e explora detidamente a poesia que se pode pintar a partir desta infinita possibilidade... Evitando os clichês ultrarromânticos ou os desfechos trágicos, "Retrato...” é uma pérola viva e furta-cor de quão longe pode ir uma língua romântica como o Francês, em sua gramática quase que “feita-para-amar”; num amor que é velho-menina, que é trilha de lençóis e culpa, medo e maravilha. Trata-se de um filme recheado de tomadas incríveis, quase pinturas, e de diálogos poéticos, ainda que sem a dramaticidade excessiva dos romances antigos... Com cortes rápidos, atuações precisas e um roteiro que sabe aonde vai, este é um daqueles filmes que nos impressiona de tão bonito, tão bem-montado que é. E representa, ao mesmo tempo, um passo à frente em relação às produções anteriores da diretora, e também um passo atrás, um mergulho profundo e imperecível na geografia francesa, e no seu pesar, e no seu (quase insuportável) silêncio. O silêncio de um amor que ainda anda nos tangos, no vão dos oceanos...
“Héloïse: Todos os amantes sentem que estão inventando alguma coisa?”
O escritor Truman Capote, autor de um dos considerados melhores livros da história norte-americana, “A Sangue Frio”, ganhou em 2005 uma cinebiografia estrelada por Philip Seymour Hoffman, cujo talento lhe renderia de uma vez o Oscar, o BAFTA e o Globo de Ouro daquele ano... O longa, assinado por Bennett Miller, obteve êxito na bilheteria e foi, num geral, bastante premiado: todos os coadjuvantes receberam pelo menos uma indicação também. Ainda que tenha alguns problemas de condução - em alguns momentos, o filme parece mais longo do que realmente é -, a história da relação entre Truman e os assassinos da família Clutter vai se desenvolvendo de maneira intrigante e perigosa, como em todo bom drama policial. Elogiar o extenso trabalho de pesquisa que Hoffman fez aqui é cair nos clichês em que todos nós caímos; sua atuação como Capote vai além de um simples retrato de maneirismos e da distinta forma de falar que o autor tinha - trata-se de uma baita homenagem a este homem que, durante tantos anos, visitou dois assassinos condenados à morte, a fim de humanizá-los através de suas palavras tão precisas, tão preciosas. É um filme incrível. Assista!
“Truman Capote: Se eu sair daqui sem entender você, o mundo vai te ver como um monstro. Para sempre. E eu não quero isso.”
MULAN, a clássica animação lançada em 98, segue sendo uma referência tanto para seu gênero quanto para as questões sociais que aborda. Tendo recebido múltiplas indicações a prêmios (do Oscar ao Globo de Ouro), já se percebia então por quê a produção estadunidense viria para ficar - para muito além de sua receita e de seu legado para a Disney, "Mulan” de fato estava em outro patamar, e isso ainda é bastante evidente... A história da jovem chinesa que não se identifica com aspectos da socialização feminina, e passa a lutar no exército no lugar de seu pai, é bastante famosa, e por todas as boas razões: “Mulan” é um conto sobre ser mulher numa sociedade machista e estagnada, e subverter as expectativas - o status quo, as “coisas como sempre foram”. A história de Fa Mulan é a de toda menina que um dia pensou que a Cultura não a considerava, ou que dela esperava algo que não podia dar ou ser, ou pelo menos não queria; é contra isso que se constrói a jornada de amor-próprio, empatia e justiça social que se transborda em "Mulan”. Longe de ser o único filme que trata bem do assunto, este é talvez um dos mais acessíveis, sobretudo por se tratar de uma animação (teoricamente destinada ao público infantil) que fala sobre guerra, sexismo e machismo, e de forma bem lúdica e simples. Não se bastando nisso, o longa ainda traz uma história super envolvente e encanta, até hoje, crianças e adultos. Se você ainda não viu, faça-se este favor, e veja! Vale muito a pena.
“Mulan: Shang, eu os vi nas montanhas. Você tem que acreditar em mim! Shang: Por quê eu deveria? Mulan: Por que outro motivo eu voltaria? Você disse que confiava em Ping. Por quê com Mulan é diferente?”
O Grupo Chaski, fundado no Peru em 1982, lançou um de seus mais importantes filmes no fim daquela década. JULIANA, que viria para abalar as estruturas sociais que se mantinham firmes no país, é uma película dos co-fundadores Fernando Espinoza e Alejandro Legaspi, e se tornou referência na América Latina com um cinema social “novo”, ainda que com problemas antigos... O longa conta a história de Juliana, uma menina que sofre com os abusos e maus-tratos de seu padrasto, e que decide fugir para encontrar a sua sorte nas ruas. A produção aborda a infância peruana na situação de rua - trata sobre crianças desamparadas, desabrigadas e exploradas, que Juliana acaba conhecendo em seu caminho. Muitas vezes com sonhos, desejos e a curiosidade, que é sagrada na infância, essas crianças sem nome e sem rosto são vistas, ainda hoje, pelos ônibus peruanos cantando por alguns trocados. A relevância social que esta narrativa possui, não só para o Peru, mas para toda a Latino-América, é inegável, e ainda impressiona. Embora, para os padrões de hoje, pareça um filme “escuro demais”, com poucos recursos de iluminação e cenografia, nada pode tirar o poder do depoimento desta vida, de uma menina tão valente como Juliana, e com toda a coragem que lhe coube e que cabe, ainda hoje, pelas ruas de Lima. Notar que este problema se repete mesmo trinta anos depois de seu lançamento é perceber, também, a importância que o Cinema tem para a historiografia de uma região; para a sua análise e para o seu zelo. Zelo este que, de fato, nunca se deveria negar a alguém que está aprendendo a ser - a alguém como Juliana, a alguém como o Peru. Incrível.
“Chico: La vida está hecha de la misma tela con la que se hacen los sueños."
“Uma vez que você faz algo, você nunca esquece. Mesmo que não possa lembrá-lo...” Filme definitivo do Estúdio Ghibli, certamente o mais adorado e comentado entre eles (e por todas as razões certas), A VIAGEM DE CHIHIRO é um convite a um mundo surreal, ambos apaixonante e divertido, no qual realidade e ficção se entrelaçam numa teia de sonhos sem rosto, feitos só de cores, só de cores... CHIHIRO é o segundo longa a levar o Oscar de Melhor Animação, além de colecionar prêmios e reconhecimento por ambas sua inovação artística e latente poesia, facilmente perceptíveis na jornada de auto-conhecimento pela qual passa a protagonista. As leituras possíveis para cada cena são riquíssimas, e todos os elementos para um bom filme (condução, trilha, roteiro e ter o que dizer) se encontram aqui inequívocos. É daqueles que nasceu clássico, tão bom que é, e nos quais se pode mergulhar à vontade, várias vezes até, sem que se perca o sentido. Difícil traçar paralelos que façam jus a este filme, mesmo no cinema ocidental - ele talvez pudesse ser pensado como um encontro entre “O Labirinto do Fauno”, do Guillermo del Toro, e “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze - respeitando-se, claro, os diferentes enredos e linguagens que estes filmes possuem; mas pensar o cinema oriental sob os moldes do ocidental é, sem dúvidas, equivocar-se... Falar mais, ou teorizar sobre os significados de cada cena, é estragar a experiência para uma pessoa que ainda não a teve. É suficiente dizer que se trata do maior sucesso do Estúdio Ghibli até hoje, e se tornou um marco cultural tanto para o Japão, quanto para o restante do mundo, que tão profundamente se apaixonou por ele... Assista sem medo!
“Chihiro [para o Sem-Rosto]: Eu não quero dinheiro seu. O que eu quero você não pode me dar.”
Outra fantástica instalação do diretor Hayao Miyazaki, O CASTELO ANIMADO é um dos mais bem-sucedidos longas do Estúdio Ghibli, perdendo em popularidade e receita apenas para o irretocável “A Viagem de Chihiro”, lançado apenas três anos antes. Primeiro, é importante dizer que este filme é incrivelmente bem-planejado. Direção de arte, cenários e detalhes afinadíssimos entre si - um daqueles casos em que a identidade visual do trabalho chega a falar tão alto que, às vezes, sobrepuja até o enredo em si. Depois, a ótima dublagem e a notável escolha, ainda que pouco comum, de manter uma protagonista “da terceira idade” em praticamente toda uma animação “para crianças”. Entretanto, mesmo que tenha seus êxitos técnicos, é importante ressaltar, também, que se percebem certos problemas de pacing (lentidão) e de uma narrativa ligeiramente falocentrada - no sentido de que Sophie é claramente a protagonista, embora possua um papel secundário em sua própria história. Há, ainda, uma barriga da qual o filme não se recupera, em torno do último terço da obra, que realmente prejudica a sua fruição por completo... Mesmo assim, O CASTELO ANIMADO é sem dúvidas um trabalho com muito mais pontos bons do que ruins, tendo sido amplamente considerado como uma das melhores animações de seu país. Só por isso, já vale a pena experimentá-lo. Entre sem bater!
Um conto fofíssimo sobre uma amizade ‘nas nuvens’... MEU AMIGO TOTORO, uma das primeiras animações do (hoje lendário) Estúdio Ghibli, ainda se apresenta como o filme leve, bonito e inesquecivelmente doce de anos atrás... O formato “anime”, que nos anos 80 teve um verdadeiro boom no mercado mundial (e também uma inegável reinvenção artística com o Ghibli), tem em “Totoro” uma fábula simples, fofa e divertida, sobre a improvável amizade que surge entre uma menina curiosa e um espírito da floresta... Os êxitos que este longa atingiu são uma prova da qualidade de cinema que fez desembocar (ainda que, para alguns, não seja um dos melhores de seu diretor, Hayao Miyazaki); de 1988 para cá, recebeu prêmios como o Anime Grand Prix, da Animage, e chegou a ser eleito, pela revista Time Out, como o melhor filme de animação da história. Tendo provavelmente inspirado outros longas aclamados, como “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze, MEU AMIGO TOTORO é uma experiência singular na filmografia de Miyazaki, tendo sido cultuado como um clássico e referenciado múltiplas vezes, sobretudo nos filmes seguintes do Estúdio Ghibli - do qual, inclusive, Totoro é desde então seu logotipo oficial. Daqueles filmes que acalentam o coração. Para ver e sentir sem nenhum medo!
“Tatsuo Kusakabe: Trees and people used to be good friends. I saw that tree and decided to buy the house. Hope Mom likes it too. Okay, let's pay our respects then get home for lunch.”
Duna: Parte 2
4.4 613Li o livro quase dez anos atrás, e foi espantoso reencontrar cenas que eu já tinha imaginado hoje, na telona. É o tipo de filme que deve ser visto no cinema, de verdade. Esta foi a mais fiel e interessante adaptação de um livro para filme que eu já vi - adaptou, trouxe elementos novos e afirmou o que era canônico das Crônicas de Duna. Espero de coração que o Villeneuve assine as produções subsequentes, caso haja uma franquia, e que este filme jogue luz de volta a essa série de livros tão querida. Mora no meu coração... Assistido em 1/03/2024!
Pobres Criaturas
4.1 1,1K Assista AgoraVi no festival de cinema do Rio, duas semanas atrás.
Acho que nunca vou conseguir esquecer esse filme. É realmente impressionante, e o maior trabalho do Yorgos desde o Kinodontas.
Attenberg
3.3 73 Assista AgoraAcho que estou envelhecendo rsrsrs
31 Minutos - O Filme
3.3 82Apesar do sucesso da série, e o humor fino (e ao mesmo tempo escrachado) que desenvolveu nos seus primeiros anos, “31 Minutos - O Filme” não consegue atingir os patamares que a produção para a TV estabeleceu, não funcionando nem como a comédia ‘independente’ que tenta ser...
As altivas direções televisivas de Alvaro Díaz e Pedro Peirano não são suficientes para dar conta da linguagem cinematográfica que o filme exige. Depois de assistir ao material original, ver o filme parece uma experiência “menor”, ou pelo menos “pouco proveitosa”, mesmo sem comparar diretamente a episódios ou ápices específicos. Aqui e ali, há piadas características e situações abjetas, claro, mas num geral, o filme não consegue transmitir o timing e a pegada da série que o originou, e acaba fracassando em ambas as coisas.
Para além disso, nota-se que, no “casting” dos personagens, alguns clássicos ficaram de fora, como o Super Meia Man; e há, por vezes, fantoches demais (ou elementos demais, por assim dizer) em cada cena, o que bagunça um pouco a compreensão do longa.
Com a série, porém, não tem erro!
Corre lá!
“Juan Carlos Bodoque: Esto fue mi Nota Verde, soy Juan Carlos Bodoque.”
BLACKPINK: Light Up the Sky
3.9 83O supergrupo de K-pop BLACKPINK ganha, pela primeira vez, um documentário sobre o seu início de carreira. “Light Up the Sky” é a primeira produção da Netflix com a Coréia do Sul sobre este gênero musical que, nas últimas décadas, conseguiu criar inúmeros nichos de consumo pelo mundo.
E não é para menos. Grupos assinados por gigantes como a YG Entertainment movimentam toda uma economia, e representam, no caso da Coréia, um soft power através da música - o mesmo que o Japão conseguiu, há muitos anos, com os mangás e animes. A cultura não tem barreiras de idioma, e a prova disso é o sucesso absoluto que o quarteto atingiu no ocidente, onde talvez uma parcela relativamente pequena de seus fãs saiba coreano, japonês e/ou tailandês, para poder acompanhar o que dizem...
Qualquer que seja o caso, é inegável que BLACKPINK se apresenta como um produto cultural relevante, ainda que nunca se tenha ouvido falar a respeito. Para além disso, o documentário, como uma propaganda positiva, funciona perfeitamente, uma vez que evita, a todo custo, quaisquer partes “ruins” ou “indesejáveis” que envolvam o trabalho que Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa fazem desembocar tão arduamente.
Ainda que seja explicitamente parcial, trata-se de um bom documentário, ao que vale a pena dar uma chance.
“Jennie: Ser dita na minha cara que não sou boa nas coisas que faço e tentar seguir em frente... É realmente difícil.”
Annabelle 2: A Criação do Mal
3.3 1,1K Assista AgoraVisitar os spin-offs da superprodução “Invocação do Mal” é, quase sempre, uma experiência mediana. Com “Annabelle 2: A Criação do Mal”, isso já era de se esperar - o que não torna, infelizmente, a visita menos penosa...
A segunda instalação da franquia “Annabelle”, iniciada por um filme ainda pior que este, toma lugar num cenário clássico do Terror dos anos 2000: uma casa no meio do nada, um poço misterioso, e uma família em desespero. A questão, como se tem dito, não é a repetição dos elementos, mas a inadaptação deles aos novos formatos que o Terror vem tomando, sobretudo nos últimos anos...
O que se tem visto, mundialmente, é uma verdadeira renovação do Terror enquanto gênero, sem perder os seus recursos clássicos, como jumpscares e a mitologia cristã/católica versus o diabo/demônio, por exemplo. O Novo Terror, que gerou filmes como “A Bruxa” (2015), “Hereditário” (2018), e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), tem se valido de elementos semelhantes, porém reinventados a um público que, certamente, já se cansou da fórmula refeita inúmeras vezes, que consagrou filmes parecidos com este.
Falo sobre isso sempre: é importante dar uma olhada nos longas que vem sendo produzidos hoje, e que possuem uma roupagem que foge do que se convencionou. Filmes como os da franquia “Annabelle”, se muito, passam longe de marcar positivamente os amantes do gênero. É preciso conhecer novas formas de produzir e se reinventar, sempre e sempre.
Se não for isso, será sempre o cansaço da volta, e a espera por algo novo ou diferente que, a depender de direções como esta, nunca vai chegar.
“Janice: Perdoe-me, Pai, pois estou prestes a pecar.”
Entrevista Com o Vampiro
4.1 2,2K Assista AgoraClássico do terror dos anos 90, o longa de Neil Jordan explora o universo vampiresco a partir de uma excêntrica dupla de vampiros.
Tendo sido roteirizado pela Anne Rice, a autora do livro, "Entrevista com o Vampiro” conta com as irreverentes atuações de Tom Cruise, Brad Pitt e um irreconhecível Antonio Banderas. Para completar, ainda temos a Kirsten Dunst em começo de carreira (literalmente começo, aos 11 anos!), mandando super bem também.
Em relação aos aspectos técnicos, trata-se de uma boa montagem, com ágil edição, mas efeitos especiais medianos (sobretudo a maquiagem de Cruise, que é uma verdadeira bola fora nesta produção). E assim como em “Supernatural” e “On The Road”, temos aqui também uma obra em que os dois protagonistas homens exalam uma tensão sexual quase que infinita, ainda que nunca se veja, efetivamente, nada em tela. O elemento da adoção de Claudia torna tudo isso ainda mais implícito, dada a responsabilidade que o casal de vampiros passa a ter ao criar uma “criança que nunca vai crescer”.
De qualquer maneira, é uma referência, sem dúvidas. Faz uma boa homenagem aos primeiros contos de vampiros, e adiciona à sua mitologia elementos que realmente funcionam, e que entretém sem grandes dificuldades. Certamente, em relação aos mais recentes livros e filmes que abordam o assunto, este longa dá de dez a zero sem descanso.
Assista! Realmente vale a pena.
“Lestat: Ninguém podia resistir a mim, nem mesmo você, Louis.
Louis: Eu tentei.
Lestat: [sorrindo] E quanto mais você tentava, mais eu te queria.”
Ele Tem Mesmo os Seus Olhos
3.6 53A comédia social dirigida por Lucien Jean-Baptiste (que também protagoniza o longa) é definitivamente um must-see. “Ele Tem Mesmo os Seus Olhos” narra a história “invertida” de uma adoção inter-racial, e os excêntricos e curiosos desdobramentos que podem segui-la.
O filme, de maneira geral, incute um discurso anti-racista de forma sutil e leve. Apesar de tratar, especialmente, da situação negra numa França politicamente branca, a produção se sobressai por explicitar o fenômeno contrário a esse, em que casais brancos que adotam crianças não-brancas sejam vistos de forma diferente à retratada aqui. O estranhamento, os questionamentos, os comentários são todos pelo menos distintos, o que torna a visita a este filme uma experiência marcante e inesquecível.
Aliás, há de se reconhecer a edição finíssima do longa, que garante a dinâmica perfeita, e torna essa hora e meia muito mais ágil e eficaz na entrega de sua mensagem...
Incrível!
Jogo Perigoso
3.5 1,1K Assista AgoraCaramba...
A (surpreendentemente bem-feita) adaptação do thriller considerado “infilmável” de Stephen King chega à Netflix em 2017 de maneira sorrateira, quase despercebida, e como é bizarro que não se fale tanto dela...
“Jogo Perigoso”, primeira transposição ao cinema do livro homônimo do Rei do Terror, narra a história de uma situação que ocorre a um casal em crise, e que pode, por pior que isso soe, acontecer de verdade com alguém. A partir de um incidente infeliz que acomete um dos personagens, somos brindados com uma dose cavalar de incerteza e ansiedade, de medo e desespero.
O característico (e hoje clássico) Terror que faz desembocar Stephen King tem, entre outras marcas, a quase sempre presente fidedignidade; são situações parecidas com a realidade, e que ninguém questiona ser passíveis de tomar lugar de fato. Tal grau de realismo é, talvez, o maior trunfo de sua literatura; por isso, filmes como este se apresentam superlativamente perturbadores.
E para além dessas coisas, o longa maneja ser instigante partindo praticamente de uma única personagem, presa a uma cama por quase todo o tempo. Um dos desafios daqueles “roteiros mínimos”, em que, com a menor quantidade possível de elementos, tenta-se contar uma boa (e traumatizante) história. Acredito que este é um desses bons casos. Um filme que vale uma visita preparada.
Respira fundo que lá vem trauma...
“Jessie: Só me desamarra logo e a gente conversa.
Gerald: E se eu não desamarrar?
Jessie: O quê?
Gerald: E se eu não desamarrar?”
Escritores da Liberdade
4.2 1,1K Assista AgoraPérola do cinema estadunidense sobre Educação (ficando atrás somente do seminal “Sociedade dos Poetas Mortos”), FREEDOM WRITERS é um daqueles filmes que meio que nasceu clássico, ainda que tenha envelhecido mal em certos aspectos.
Sendo revisitada hoje, a produção estrelada por Hilary Swank tem uma pitada de “white saviour”, como tem sido repetidamente apontado por ativistas da internet, o que deve ser reconhecido, embora não represente um empecilho para o filme em si. De maneira geral, o filme entrega um drama bem construído, e se baseia numa premissa incrível: no quão transformadora pode ser a licenciatura quando abordada por métodos não-tradicionais e específicos, voltados para determinadas vivências e biografias...
O drama vivido pelos alunos desta escola é real, tenebrosamente real, e só de pensar que uma revolução de pensamento possa de fato ter ocorrido em um ambiente complexo como este, enche o nosso coração de orgulho e admiração pelo poder das palavras. Toda pessoa que estuda Letras ou deseja se tornar docente deveria dar uma olhada neste longa...
Busque saber do método inovador que Erin Gruwell desenvolveu na vida real, com a ajuda de todos os seus alunos. Vale muito a pena conhecer o seu trabalho!
“Eva: Gente branca querendo respeito como se merecessem de graça.”
O Dilema das Redes
4.0 594 Assista AgoraComo alguns documentários, “O Dilema das Redes” produz ao mesmo tempo uma visita repetitiva e um tanto superficial sobre este que é o grande tema da contemporaneidade.
THE SOCIAL DILEMMA, primeira produção da Netflix sobre o problema das tecnologias de comunicação, é um filme dinâmico, e tem algo exclusivo a seu favor: as entrevistas com ex-funcionários das gigantes empresas que hoje dominam a forma como nos comunicamos: Google, Facebook, Instagram, Whatsapp e muitas outras...
Ainda que se vejam, aqui e ali, informações novas (como a justificativa para o botão “curtir” do Facebook pelo seu próprio criador), a sensação é que o filme dá uma pincelada leve sobre o tema, expondo pontos gerais que, para qualquer pessoa que já entrou em contato com este conteúdo antes (ou já ouviu qualquer um dos entrevistados), já são senso comum. Há, também, um problema com a dramatização do longa, que parece didática e exagerada demais para ser levada a sério.
Reconheço a importância de seguir falando a respeito, repetindo as advertências e insistindo na revisão dos hábitos de consumo que temos - essas são as mensagens mais poderosas que o filme traz. Entretanto, a verdade é que mesmo as soluções que os funcionários sugerem, como desativar notificações de alguns aplicativos ou evitar usar o celular em determinadas situações, são atitudes desproporcionais ao tamanho do problema, que chega a ser escutar o que falamos com nossos amigos e personalizar inclusive que tipo de conteúdo somos mais “passíveis de desejar”.
O ideal, ainda que pareça utópico, seria que os celulares e outros dispositivos não dispusessem a nossa informação às empresas por padrão, ou pelo menos não impusessem isso para poder funcionar. Como foi dito noutro doc, os Direitos Digitais precisam estar vinculados aos Direitos Humanos, para que nossa privacidade seja sempre respeitada (e nunca hackeada). Enquanto os Direitos Humanos não contemplarem os Direitos Digitais, a manipulação e a revenda de informações será inescrupulosa, e inequivocamente presente.
“Sófocles: Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição."
Sexo Sem Compromisso
3.3 2,2K Assista AgoraUm filme leve e divertido.
NO STRINGS ATTACHED, produção de 2011 do Ivan Reitman (responsável pelo sucesso dos anos 80 “Os Caça-Fantasmas” e por outras comédias menores) é um romance simples, direto ao ponto, e com alguns momentos interessantes.
A trama, protagonizada pela excelente Natalie Portman e por um Ashton Kutcher confortável, explora a relação “inesperada” que surge a partir de uma “amizade com benefícios” entre os dois. Como outras produções que abordam este tema (em especial, a cópia escarrada “Amizade Colorida”, que saiu meses depois), é um filme evidentemente clichê e previsível, mas que cumpre sua função no que lhe tange a forma e a sua execução.
Destaque para o fato de que, ainda que haja resquícios de pensamentos machistas e às vezes até gordofóbicos em alguns desses filmes, “Sexo sem Compromisso” se sai até que razoavelmente bem, considerando o contexto em que foi produzido e a mentalidade de então, dez anos atrás.
Como um divertimento “sem compromisso”, retém o espectador e funciona, mesmo que, para alguns, moderadamente.
Eli: [batendo na porta de Adam] Não consigo focar no meu pornô com todo esse sexo real acontecendo do meu lado!
Gatos, Fios Dentais e Amassos
3.4 577 Assista AgoraUma produção leve, e com alguns aspectos bacanas.
GATOS, FIOS DENTAIS E AMASSOS é uma comédia/drama naquele estilo “coming of age”, em que a protagonista passa pela temerosa fase da puberdade, e vai descobrindo o corpo, o social e, principalmente, o outro. A representatividade neste universo branco está devidamente feita, ainda que com alguns problemas bastante sérios; o fato de Georgia ser uma menina “feia” contribui para que algumas lições sejam possivelmente tiradas do filme, mesmo que, eticamente, ela seja uma protagonista extremamente egoísta, e não aprenda com os seus erros em momento algum...
Problemas de construção de arco em produções como essa se encontram aos montes, mas não devemos nos ater a buscar comentários político-sociais e/ou representações absolutamente diversas em filmes que não se propõem a fazê-lo, ou sequer pensam nisso. O fato é que, apesar das boas intenções, GATOS... é uma comédia mediana, com alguns pontos positivos no sentido do entretenimento, e negativos no sentido representativo, se é que se deve falar assim.
Entre as produções de sua geração, não é uma que se sobressai. E, sobre elas, “Meninas Malvadas”, de alguns anos antes, ainda se mostra um referencial aparentemente imbatível.
Se fosse para escolher entre uma e outra, eu reveria "Meninas Malvadas", com certeza.
”Georgia Nicolson: Eu não me importo mais com parecer perfeita, isso é tão superestimado! Não preciso de uma cirurgia plástica ou de cabelo loiro, porque meu namorado deus-do-sexo gosta de mim DO JEITO QUE EU SOU!”
Escola de Rock
3.7 1,2K Assista AgoraA irreverente e memorável atuação de Jack Black neste que é um de seus maiores sucessos segue sendo, quase vinte anos depois, diversão garantida.
ESCOLA DE ROCK, filme que chamou a atenção do mundo para a musicalidade do Tenacious D, apresenta uma história simples e curiosa: o quê aconteceria se um roqueiro fracassado desse aulas numa escola particular, como o professor substituto com quem vive? O resultado, como era de se esperar, é uma coleção de situações bizarras e cômicas, sobretudo pela relação que se estabelece entre a “rebeldia” do rock clássico com a “rigidez” do ensino formal.
O que a Música passa a representar, para os alunos privilegiados dessa escola, é talvez uma das coisas mais bonitas de que se tem notícia; é sobre como a Arte pode, de fato, ajudar um aluno a se expressar, se entender melhor, coisa que outras disciplinas talvez não produzam com a mesma eficácia. E não é para menos: esta é a comédia com tema musical de maior receita do mundo, até 2015. Se esses não são motivos suficientes para dar uma olhada neste clássico de Jack Black, eu não sei quais podem ser.
Para ver repetidas vezes!
“Dewey Finn: Eu tenho sido tocado pelas suas crianças... E tenho certeza que toquei elas também.”
A Múmia
3.5 1,0K Assista AgoraO hoje referencial “filme de monstro” THE MUMMY, assinado por Stephen Sommers, ainda se apresenta, vinte anos mais tarde, como um filme divertido, didático e “para toda a família”, como boa parte dos blockbusters de sua época.
Evidentemente, “A Múmia” não é um filme que se leva tão a sério e, como característica das superproduções voltadas ao público infanto-juvenil, tem deslizes sociais, étnicos e até machistas, embora não se deva esperar de um filme “pipoca” como este um documentário realístico sobre o Egito Antigo...
Ainda que tenha seus problemas de representação do povo árabe, este clássico dos filmes B tem, sim, sua dose de entretenimento garantida nas reviravoltas que dá e nas boas atuações de todo o elenco, e em especial nos trabalhos de Brendan Fraser e de uma Rachel Weisz em começo de carreira.
De fato, é daqueles para assistir “desligando o cérebro”, como alguns dizem, o que não significa que seja um filme enfadonho ou pouco movimentado. É só não pensar que os povos retratados em películas como esta assim o são na realidade, como é costumeiro fazer com os povos asiáticos e sul-africanos, por exemplo.
Um divertimento passageiro.
“Evelyn: [abrindo o sarcófago] Ah, tenho sonhado com isso desde que era menininha.
Rick: Você sonha com gente morta?”
Prenda-me Se For Capaz
4.2 1,6K Assista AgoraSteven Spielberg, com seu cinema referencial e sempre divertido, nos apresenta em “Catch me If You Can” a excêntrica história de um falsificador de identidades (ou, como chamamos por aqui, um baita agiota).
Este filme esmiuça de maneira absolutamente instigante a biografia de Frank Abagnale, como contada pelo próprio: um notável vigarista, que se passou por diversas profissões (médico, FBI, piloto de avião...) e pagava tudo com seus cheques sem fundo. A falsificação de cheques, inclusive, o levaria ainda mais longe - mas contá-lo é entregar um pouco da surpresa que este filme guarda tão bem.
Não diferente dos outros sucessos de Spielberg, PRENDA-ME... é mais uma das pérolas assinadas pelo diretor, estrelada por dois competentíssimos protagonistas, e conduzida de maneira cheia de fôlego. Dos seus mais recentes trabalhos, é um dos mais aclamados, e não é pra menos; trata-se de uma biografia, no mínimo, bastante incomum.
Assista sem medo! Vale muito a pena.
“Frank Abagnale Jr.: Ah, as pessoas só sabem aquilo que você conta a elas, Carl.”
Repulsa ao Sexo
4.0 461 Assista AgoraA difícil tarefa de abordar o legado ambíguo de Polanski.
REPULSION é o segundo trabalho em longa-metragem do diretor franco-polaco Roman Polanski, e o primeiro de sua carreira a ser feito totalmente em inglês. O longa explora o deterioramento físico e mental que acomete Carol, uma jovem inglesa que é constantemente assediada e que possui, como o nome já diz, uma pronunciada repulsa ao sexo e à sua própria sexualidade.
Trata-se, sim, de um filme com tomadas inovadoras, e todo um tratamento na trilha sonora, que casa perfeitamente com o clima de terror/suspense que sustenta toda a produção. Suas falhas incluem principalmente ser um filme lento e longo, unidimensional em seus núcleos e ligeiramente pretensioso na sua abordagem.
Entretanto, é pelo menos estranho assistir a um filme que aborda violação e paranoia, por exemplo, quando dirigido por um homem que ainda hoje é perseguido pelo estupro que confessou cometer a uma menina de 13 anos, e por outros casos mais recentes de abuso sexual.
Falar sobre o cinema de Polanski é falar do legado ambíguo de um homem que ao mesmo tempo que foi condenado por estupro em 1978, foi o recordista mundial de Césares das décadas seguintes - um cineasta que coleciona êxitos de todas as premiações europeias das quais participou.
Por um lado, trata-se de um longa com estética distinta do que se fazia dos anos 60, a época de Audrey Hepburn em “Bonequinha de Luxo” e de “A Noviça Rebelde”, do mesmo ano. Roman desmistifica a “musa” sem ação e sem profundidade, e cria verdadeiros enigmas psicológicos e narrativos carregados por elas. Por outro lado, Polanski representa a epítome do homem branco que venceu os julgamentos contra si e seguiu fazendo cinema do seu jeito, ainda que foragido do sistema penal que o sentenciou à prisão naquela época...
O filme em si não é ruim, mas é super-estimado. E talvez já seja a hora de olharmos (incluso eu) para os trabalhos mais recentes das novas gerações do Cinema. Tem muita gente boa fazendo trabalhos verdadeiros e inesquecíveis hoje mesmo.
E talvez agora seja o tempo de optarmos por outro cinema.
“Carol: Nós precisamos consertar esta rachadura.”
Retrato de uma Jovem em Chamas
4.4 899 Assista AgoraTenho sentimentos encontrados...
“Retrato de uma Jovem em Chamas” é o quarto longa da diretora Céline Sciamma, que ficou conhecida pelo seu muito bem-avaliado “Tomboy”, um drama de 2011 que lhe rendeu vários prêmios em festivais europeus. Nesta nova instalação, mais robusta e poética (e mais “artística” de modo geral), Sciamma retrata a complexa relação que se dá entre duas mulheres que, por motivos de força maior, não poderão estar juntas - e explora detidamente a poesia que se pode pintar a partir desta infinita possibilidade...
Evitando os clichês ultrarromânticos ou os desfechos trágicos, "Retrato...” é uma pérola viva e furta-cor de quão longe pode ir uma língua romântica como o Francês, em sua gramática quase que “feita-para-amar”; num amor que é velho-menina, que é trilha de lençóis e culpa, medo e maravilha. Trata-se de um filme recheado de tomadas incríveis, quase pinturas, e de diálogos poéticos, ainda que sem a dramaticidade excessiva dos romances antigos...
Com cortes rápidos, atuações precisas e um roteiro que sabe aonde vai, este é um daqueles filmes que nos impressiona de tão bonito, tão bem-montado que é. E representa, ao mesmo tempo, um passo à frente em relação às produções anteriores da diretora, e também um passo atrás, um mergulho profundo e imperecível na geografia francesa, e no seu pesar, e no seu (quase insuportável) silêncio.
O silêncio de um amor que ainda anda nos tangos, no vão dos oceanos...
“Héloïse: Todos os amantes sentem que estão inventando alguma coisa?”
Capote
3.8 373 Assista AgoraO escritor Truman Capote, autor de um dos considerados melhores livros da história norte-americana, “A Sangue Frio”, ganhou em 2005 uma cinebiografia estrelada por Philip Seymour Hoffman, cujo talento lhe renderia de uma vez o Oscar, o BAFTA e o Globo de Ouro daquele ano...
O longa, assinado por Bennett Miller, obteve êxito na bilheteria e foi, num geral, bastante premiado: todos os coadjuvantes receberam pelo menos uma indicação também. Ainda que tenha alguns problemas de condução - em alguns momentos, o filme parece mais longo do que realmente é -, a história da relação entre Truman e os assassinos da família Clutter vai se desenvolvendo de maneira intrigante e perigosa, como em todo bom drama policial.
Elogiar o extenso trabalho de pesquisa que Hoffman fez aqui é cair nos clichês em que todos nós caímos; sua atuação como Capote vai além de um simples retrato de maneirismos e da distinta forma de falar que o autor tinha - trata-se de uma baita homenagem a este homem que, durante tantos anos, visitou dois assassinos condenados à morte, a fim de humanizá-los através de suas palavras tão precisas, tão preciosas.
É um filme incrível. Assista!
“Truman Capote: Se eu sair daqui sem entender você, o mundo vai te ver como um monstro. Para sempre. E eu não quero isso.”
Mulan
4.2 1,1K Assista AgoraMULAN, a clássica animação lançada em 98, segue sendo uma referência tanto para seu gênero quanto para as questões sociais que aborda. Tendo recebido múltiplas indicações a prêmios (do Oscar ao Globo de Ouro), já se percebia então por quê a produção estadunidense viria para ficar - para muito além de sua receita e de seu legado para a Disney, "Mulan” de fato estava em outro patamar, e isso ainda é bastante evidente...
A história da jovem chinesa que não se identifica com aspectos da socialização feminina, e passa a lutar no exército no lugar de seu pai, é bastante famosa, e por todas as boas razões: “Mulan” é um conto sobre ser mulher numa sociedade machista e estagnada, e subverter as expectativas - o status quo, as “coisas como sempre foram”. A história de Fa Mulan é a de toda menina que um dia pensou que a Cultura não a considerava, ou que dela esperava algo que não podia dar ou ser, ou pelo menos não queria; é contra isso que se constrói a jornada de amor-próprio, empatia e justiça social que se transborda em "Mulan”. Longe de ser o único filme que trata bem do assunto, este é talvez um dos mais acessíveis, sobretudo por se tratar de uma animação (teoricamente destinada ao público infantil) que fala sobre guerra, sexismo e machismo, e de forma bem lúdica e simples. Não se bastando nisso, o longa ainda traz uma história super envolvente e encanta, até hoje, crianças e adultos.
Se você ainda não viu, faça-se este favor, e veja!
Vale muito a pena.
“Mulan: Shang, eu os vi nas montanhas. Você tem que acreditar em mim!
Shang: Por quê eu deveria?
Mulan: Por que outro motivo eu voltaria? Você disse que confiava em Ping. Por quê com Mulan é diferente?”
Juliana
3.9 5O Grupo Chaski, fundado no Peru em 1982, lançou um de seus mais importantes filmes no fim daquela década. JULIANA, que viria para abalar as estruturas sociais que se mantinham firmes no país, é uma película dos co-fundadores Fernando Espinoza e Alejandro Legaspi, e se tornou referência na América Latina com um cinema social “novo”, ainda que com problemas antigos...
O longa conta a história de Juliana, uma menina que sofre com os abusos e maus-tratos de seu padrasto, e que decide fugir para encontrar a sua sorte nas ruas. A produção aborda a infância peruana na situação de rua - trata sobre crianças desamparadas, desabrigadas e exploradas, que Juliana acaba conhecendo em seu caminho. Muitas vezes com sonhos, desejos e a curiosidade, que é sagrada na infância, essas crianças sem nome e sem rosto são vistas, ainda hoje, pelos ônibus peruanos cantando por alguns trocados. A relevância social que esta narrativa possui, não só para o Peru, mas para toda a Latino-América, é inegável, e ainda impressiona.
Embora, para os padrões de hoje, pareça um filme “escuro demais”, com poucos recursos de iluminação e cenografia, nada pode tirar o poder do depoimento desta vida, de uma menina tão valente como Juliana, e com toda a coragem que lhe coube e que cabe, ainda hoje, pelas ruas de Lima.
Notar que este problema se repete mesmo trinta anos depois de seu lançamento é perceber, também, a importância que o Cinema tem para a historiografia de uma região; para a sua análise e para o seu zelo. Zelo este que, de fato, nunca se deveria negar a alguém que está aprendendo a ser - a alguém como Juliana, a alguém como o Peru.
Incrível.
“Chico: La vida está hecha de la misma tela con la que se hacen los sueños."
A Viagem de Chihiro
4.5 2,3K Assista Agora“Uma vez que você faz algo, você nunca esquece. Mesmo que não possa lembrá-lo...”
Filme definitivo do Estúdio Ghibli, certamente o mais adorado e comentado entre eles (e por todas as razões certas), A VIAGEM DE CHIHIRO é um convite a um mundo surreal, ambos apaixonante e divertido, no qual realidade e ficção se entrelaçam numa teia de sonhos sem rosto, feitos só de cores, só de cores...
CHIHIRO é o segundo longa a levar o Oscar de Melhor Animação, além de colecionar prêmios e reconhecimento por ambas sua inovação artística e latente poesia, facilmente perceptíveis na jornada de auto-conhecimento pela qual passa a protagonista. As leituras possíveis para cada cena são riquíssimas, e todos os elementos para um bom filme (condução, trilha, roteiro e ter o que dizer) se encontram aqui inequívocos.
É daqueles que nasceu clássico, tão bom que é, e nos quais se pode mergulhar à vontade, várias vezes até, sem que se perca o sentido. Difícil traçar paralelos que façam jus a este filme, mesmo no cinema ocidental - ele talvez pudesse ser pensado como um encontro entre “O Labirinto do Fauno”, do Guillermo del Toro, e “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze - respeitando-se, claro, os diferentes enredos e linguagens que estes filmes possuem; mas pensar o cinema oriental sob os moldes do ocidental é, sem dúvidas, equivocar-se...
Falar mais, ou teorizar sobre os significados de cada cena, é estragar a experiência para uma pessoa que ainda não a teve. É suficiente dizer que se trata do maior sucesso do Estúdio Ghibli até hoje, e se tornou um marco cultural tanto para o Japão, quanto para o restante do mundo, que tão profundamente se apaixonou por ele...
Assista sem medo!
“Chihiro [para o Sem-Rosto]: Eu não quero dinheiro seu. O que eu quero você não pode me dar.”
O Castelo Animado
4.5 1,3K Assista AgoraOutra fantástica instalação do diretor Hayao Miyazaki, O CASTELO ANIMADO é um dos mais bem-sucedidos longas do Estúdio Ghibli, perdendo em popularidade e receita apenas para o irretocável “A Viagem de Chihiro”, lançado apenas três anos antes.
Primeiro, é importante dizer que este filme é incrivelmente bem-planejado. Direção de arte, cenários e detalhes afinadíssimos entre si - um daqueles casos em que a identidade visual do trabalho chega a falar tão alto que, às vezes, sobrepuja até o enredo em si. Depois, a ótima dublagem e a notável escolha, ainda que pouco comum, de manter uma protagonista “da terceira idade” em praticamente toda uma animação “para crianças”.
Entretanto, mesmo que tenha seus êxitos técnicos, é importante ressaltar, também, que se percebem certos problemas de pacing (lentidão) e de uma narrativa ligeiramente falocentrada - no sentido de que Sophie é claramente a protagonista, embora possua um papel secundário em sua própria história. Há, ainda, uma barriga da qual o filme não se recupera, em torno do último terço da obra, que realmente prejudica a sua fruição por completo...
Mesmo assim, O CASTELO ANIMADO é sem dúvidas um trabalho com muito mais pontos bons do que ruins, tendo sido amplamente considerado como uma das melhores animações de seu país. Só por isso, já vale a pena experimentá-lo.
Entre sem bater!
“Sophie: O coração é um fardo pesado.”
Meu Amigo Totoro
4.3 1,3K Assista AgoraUm conto fofíssimo sobre uma amizade ‘nas nuvens’...
MEU AMIGO TOTORO, uma das primeiras animações do (hoje lendário) Estúdio Ghibli, ainda se apresenta como o filme leve, bonito e inesquecivelmente doce de anos atrás...
O formato “anime”, que nos anos 80 teve um verdadeiro boom no mercado mundial (e também uma inegável reinvenção artística com o Ghibli), tem em “Totoro” uma fábula simples, fofa e divertida, sobre a improvável amizade que surge entre uma menina curiosa e um espírito da floresta...
Os êxitos que este longa atingiu são uma prova da qualidade de cinema que fez desembocar (ainda que, para alguns, não seja um dos melhores de seu diretor, Hayao Miyazaki); de 1988 para cá, recebeu prêmios como o Anime Grand Prix, da Animage, e chegou a ser eleito, pela revista Time Out, como o melhor filme de animação da história. Tendo provavelmente inspirado outros longas aclamados, como “Onde Vivem os Monstros”, de Spike Jonze, MEU AMIGO TOTORO é uma experiência singular na filmografia de Miyazaki, tendo sido cultuado como um clássico e referenciado múltiplas vezes, sobretudo nos filmes seguintes do Estúdio Ghibli - do qual, inclusive, Totoro é desde então seu logotipo oficial.
Daqueles filmes que acalentam o coração. Para ver e sentir sem nenhum medo!
“Tatsuo Kusakabe: Trees and people used to be good friends. I saw that tree and decided to buy the house. Hope Mom likes it too. Okay, let's pay our respects then get home for lunch.”