“Quando eles oferecem alguma coisa deles, é por educação; eles sabem que vamos dizer 'não'” Entre luta de classes e feminismos, esse conselho que a doméstica Val dá a sua filha Jéssica soa como uma síntese de todo o desconforto que o filme "Que Hora Ela Volta?" de Anna Muylaert carrega na interação entre os seus personagens e que inevitavelmente se transpõe para fora da tela. Os risos que a personalidade espontânea da personagem de Regina Casé, que pode se confundir com várias pessoas que talvez tenhamos conhecido, tentam esconder uma profunda análise de um país que carrega na sua superfície todos os resquícios de um histórico escravocrata, desigual e machista. Seja pela tão comum história da mulher que abandona a filha para trabalhar, seja pela arquitetura que Jéssica anseia estudar na universidade pública ou por todos os códigos de conduta subentendidos por Val para que a sua relação com os patrões não ultrapasse os limites do tolerável. Essas atitudes de subserviência, ao invés de provocar uma impaciência com a personagem, conseguem despertar um interesse por toda a história que vem atrás de seu trabalho como babá e doméstica. Isso se deve muito à sensibilidade do filme e a construção das personagens de maneira verossímil e sujeitas a identificação do público. A patroa, por exemplo, não faz questão de ser, conscientemente, alguém ruim mas tampouco faz questão de rever seus privilégios. Jéssica, ao contrário da mãe, não adota para si a postura "subalterna" que Val tenta te transmitir, mas por outro lado, busca a sobrevivência dentro de meios limitadores tanto quanto a mãe. Sua presença na casa dos patrões onde mora a mãe é caótica, ao evidenciar todos os males que se escondiam por debaixo das formais relações que ali aconteciam. Sua personalidade, porém, é sonhadora e nela todos depositamos esperança. Em uma emblemática e poderosa cena que resume esse sentimento, Val resolve entrar na piscina que nunca se permitiu entrar e que em vão tentou proibir à Jéssica anteriormente. Contudo, a piscina foi esvaziada e resta-lhe apenas alguns dedos de água e a comemoração de uma conquista que não era para ser dela e da filha. Não era o mergulho que Val buscava, mas era a experiência de estar num lugar que nunca foi dela.
Apesar de incorrerem em um erro frequente de diluir a transexualidade no cinema na homossexualidade, ignorando personagens e questões específicas, o documentário é um ótimo norte e panorama sobre os gays no cinema. A excelente montagem dá uma ideia bem cronológica sobre como as opressões se traduziram nos filmes e o depoimento da Shirley McLaine sobre o filme "Infâmia" é assustador, a sexualidade dos personagens era tão subentendida que nem ao menos nos bastidores se falava abertamente sobre ela.
Tão atual quanto necessário, é assustador pensar que o filme trás um retrato preciso dos nossos tempos de whatsapp. Sobretudo pela escárnio sofrido pela personagem, no filme feito por adolescentes e na vida real por pessoas de todas as idades, em tudo que é meio possível. Se considerarmos o filme como um convite à reflexão do que o machismo e a cultura do estupro é capaz de fazer, assisti-lo pode se tornar um experiência enriquecedora. Mas além disso, o contexto que rodeia Ale amplia o alcance dramático do filme e nos permite pensar em como escolhas e atitudes aparentemente bobas, mas difíceis de serem julgadas como o isolamento de Ale depois de seu suposto desaparecimento, pode criar consequências desastrosas. Um bom filme, para pensar como filme e como instrumento de debate e esclarecimento. Machistas: fuck off!
Fui assistir ao filme com um tremendo medo de ser tomado pela criticas quase unânimes em afirmar o filme como fraco. Felizmente, Sofia Coppola tem uma das minhas direções favoritas, então foi fácil tomar um conclusão mais autoral do filme. Mas se por um lado eu pude contar com a bagagem da diretora pra ver o filme por outro isso só me ajudou a quebrar a cara, porque mesmo com toda a admiração que tenho por ela, não consegui ser conquistado pelo filme. Tudo é em prol da superficialidade, o que dependendo da condução do roteiro e direção, pode ser válido, porém o que vemos é um ode excessivo a um lifestyle que a Sofia Coppola certamente já testemunhou durante toda sua vida, sendo filha de Hollywood, mas que nesse filme não soube usar a seu favor. Nos filmes anteriores tínhamos personagens que embora reafirmassem seu contexto social, tinham uma inquietude e deslocamento que incomodava a quem assistisse, e esse incômodo gerava toda uma sensibilidade por parte do publico, graças também ao brilhante simbolismo da diretora. Em Bling Ring o que temos são personagens nada deslocados e completamente inseridos, sendo uma caricatura de uma juventude frívola e insensível. O que poderia ser um filme brilhante, nas mãos de alguém com talento que sabe escolher temas e enredos promissores se tornou mais um caso do "superficial pelo superficial", o que ao invés de levantar questões só nos mostra o já é fato, chegando ao ponto de parecer redundante e uma caricatura com aspecto de rascunho. Dos intermináveis "fabulous!" as constantes invasões, nada parece acrescentar ao discurso de porque que aqueles jovens estavam fazendo aqui. A tentativa de propor a critica, claro, é obvia, até pela situação real da história e pela trilha sonora meio gangstá que serviu de apoio para a construção dos personagens, mas tudo vai ficando cansativo no filme, e quando você acha que aparece um gancho para a construção de uma diálogo com o publico, como por exemplo a relação de Marc e Rebbeca, que poderia ser dar força ao filme, tudo se mostra fracamente explorado. Filmes como Paranoid Park, de Gus Van Sant souberam explorar melhor a juventude hoje, também num contexto de jovens criminosos, e até mesmo Um Lugar Qualquer, filme anterior de Sofia, nos trouxe cenas muito interessante sobre alguém imerso em uma Los Angeles fria vestida sob cores quentes. Espero que a Sofia continue fazendo filmes, e saiba ouvir mais a si mesmo.
Acabei de ver o filme e parece que saí de um estado de entorpecimento. Tive a mesma sensação quando vi outro do mesmo roteirista, o KIDS. Talvez seja meio que marca do cara, nos colocar num universo meio surreal e chapado, sem roteiro mas com uma direção que agrada. Em certos pontos, esse clima de "flutuação" dá um certo cansaço, mas se encaixa perfeitamente nos anseios das personagens. Gostei. :)
Roteiro foda! Mais do que um romancezinho efêmero ou um "antes do amanhecer gay", o filme é bastante honesto com a temática gay, ao juntar dois personagens com comportamentos tão distintos durante um final de semana <3 O filme é rechado de provocações reflexivas, principalmente para quem é homossexual. O comportamento deslocado de Russell, a pretensa insensibilidade do Glenn, e os constantes "fagotts" ao longo do filme, nos fazem perceber o amor e auto-descoberta através das fragilidades e certeza dos personagens.
Metalinguagem em seu auge! Vi o filme muito como um desafio ao publico, de modo geral, acostumado com uma esquizofrenia de sons e imagens. Além de um retrato de uma transição histórica, o filme me trouxe muitas reflexões. Será que de fato, damos ouvidos ao que assistimos, no sentido de buscar entender o que se vê? Será que todo avanço seria um imposição, e todo o passado é batido? O filme, pra mim, é a prova de que não. Muito criativo ♥ e a cena do sonho é filha da puta de tão sensacional. Divaguei demaaais ao ver o filme, mas não pude evitar!
Nos sufoca e nos prende ao mesmo tempo, esse filme é fascinante!! Se Gus Van Sant conseguiu abrir um pouco meus olhos para o tema com "Elefante", este despertou uma avalanche de reflexões. Recomendo.
Uma graça, os filmes do John Hughes tem uma importância ainda maior do que as pessoas pensam. São tocantes, simples e passam sempre uma agradavel sensação de como é bom ser jovem, ainda com todas os pesares. ♥ Esse é maravilhoso, mesmo que o final(tanto o da edição final quanto o original) tenha sido decepcionante.
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Que Horas Ela Volta?
4.3 3,0K Assista Agora“Quando eles oferecem alguma coisa deles, é por educação; eles sabem que vamos dizer 'não'”
Entre luta de classes e feminismos, esse conselho que a doméstica Val dá a sua filha Jéssica soa como uma síntese de todo o desconforto que o filme "Que Hora Ela Volta?" de Anna Muylaert carrega na interação entre os seus personagens e que inevitavelmente se transpõe para fora da tela. Os risos que a personalidade espontânea da personagem de Regina Casé, que pode se confundir com várias pessoas que talvez tenhamos conhecido, tentam esconder uma profunda análise de um país que carrega na sua superfície todos os resquícios de um histórico escravocrata, desigual e machista. Seja pela tão comum história da mulher que abandona a filha para trabalhar, seja pela arquitetura que Jéssica anseia estudar na universidade pública ou por todos os códigos de conduta subentendidos por Val para que a sua relação com os patrões não ultrapasse os limites do tolerável. Essas atitudes de subserviência, ao invés de provocar uma impaciência com a personagem, conseguem despertar um interesse por toda a história que vem atrás de seu trabalho como babá e doméstica. Isso se deve muito à sensibilidade do filme e a construção das personagens de maneira verossímil e sujeitas a identificação do público. A patroa, por exemplo, não faz questão de ser, conscientemente, alguém ruim mas tampouco faz questão de rever seus privilégios. Jéssica, ao contrário da mãe, não adota para si a postura "subalterna" que Val tenta te transmitir, mas por outro lado, busca a sobrevivência dentro de meios limitadores tanto quanto a mãe. Sua presença na casa dos patrões onde mora a mãe é caótica, ao evidenciar todos os males que se escondiam por debaixo das formais relações que ali aconteciam. Sua personalidade, porém, é sonhadora e nela todos depositamos esperança. Em uma emblemática e poderosa cena que resume esse sentimento, Val resolve entrar na piscina que nunca se permitiu entrar e que em vão tentou proibir à Jéssica anteriormente. Contudo, a piscina foi esvaziada e resta-lhe apenas alguns dedos de água e a comemoração de uma conquista que não era para ser dela e da filha. Não era o mergulho que Val buscava, mas era a experiência de estar num lugar que nunca foi dela.
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O Outro Lado de Hollywood
4.3 77Apesar de incorrerem em um erro frequente de diluir a transexualidade no cinema na homossexualidade, ignorando personagens e questões específicas, o documentário é um ótimo norte e panorama sobre os gays no cinema. A excelente montagem dá uma ideia bem cronológica sobre como as opressões se traduziram nos filmes e o depoimento da Shirley McLaine sobre o filme "Infâmia" é assustador, a sexualidade dos personagens era tão subentendida que nem ao menos nos bastidores se falava abertamente sobre ela.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K Assista AgoraTão atual quanto necessário, é assustador pensar que o filme trás um retrato preciso dos nossos tempos de whatsapp. Sobretudo pela escárnio sofrido pela personagem, no filme feito por adolescentes e na vida real por pessoas de todas as idades, em tudo que é meio possível. Se considerarmos o filme como um convite à reflexão do que o machismo e a cultura do estupro é capaz de fazer, assisti-lo pode se tornar um experiência enriquecedora. Mas além disso, o contexto que rodeia Ale amplia o alcance dramático do filme e nos permite pensar em como escolhas e atitudes aparentemente bobas, mas difíceis de serem julgadas como o isolamento de Ale depois de seu suposto desaparecimento, pode criar consequências desastrosas. Um bom filme, para pensar como filme e como instrumento de debate e esclarecimento. Machistas: fuck off!
Invocação do Mal
3.8 3,9K Assista Agorasão 02:30 da manhã e eu acabei de ver o filme. porque diabos eu decidi vê-lo a essa hora mesmo?
Bling Ring - A Gangue de Hollywood
3.0 1,7K Assista AgoraFui assistir ao filme com um tremendo medo de ser tomado pela criticas quase unânimes em afirmar o filme como fraco. Felizmente, Sofia Coppola tem uma das minhas direções favoritas, então foi fácil tomar um conclusão mais autoral do filme. Mas se por um lado eu pude contar com a bagagem da diretora pra ver o filme por outro isso só me ajudou a quebrar a cara, porque mesmo com toda a admiração que tenho por ela, não consegui ser conquistado pelo filme. Tudo é em prol da superficialidade, o que dependendo da condução do roteiro e direção, pode ser válido, porém o que vemos é um ode excessivo a um lifestyle que a Sofia Coppola certamente já testemunhou durante toda sua vida, sendo filha de Hollywood, mas que nesse filme não soube usar a seu favor. Nos filmes anteriores tínhamos personagens que embora reafirmassem seu contexto social, tinham uma inquietude e deslocamento que incomodava a quem assistisse, e esse incômodo gerava toda uma sensibilidade por parte do publico, graças também ao brilhante simbolismo da diretora. Em Bling Ring o que temos são personagens nada deslocados e completamente inseridos, sendo uma caricatura de uma juventude frívola e insensível. O que poderia ser um filme brilhante, nas mãos de alguém com talento que sabe escolher temas e enredos promissores se tornou mais um caso do "superficial pelo superficial", o que ao invés de levantar questões só nos mostra o já é fato, chegando ao ponto de parecer redundante e uma caricatura com aspecto de rascunho. Dos intermináveis "fabulous!" as constantes invasões, nada parece acrescentar ao discurso de porque que aqueles jovens estavam fazendo aqui. A tentativa de propor a critica, claro, é obvia, até pela situação real da história e pela trilha sonora meio gangstá que serviu de apoio para a construção dos personagens, mas tudo vai ficando cansativo no filme, e quando você acha que aparece um gancho para a construção de uma diálogo com o publico, como por exemplo a relação de Marc e Rebbeca, que poderia ser dar força ao filme, tudo se mostra fracamente explorado. Filmes como Paranoid Park, de Gus Van Sant souberam explorar melhor a juventude hoje, também num contexto de jovens criminosos, e até mesmo Um Lugar Qualquer, filme anterior de Sofia, nos trouxe cenas muito interessante sobre alguém imerso em uma Los Angeles fria vestida sob cores quentes. Espero que a Sofia continue fazendo filmes, e saiba ouvir mais a si mesmo.
As Vantagens de Ser Invisível
4.2 6,9K Assista Agoraalguem sabe quando sai em dvd?
Spring Breakers: Garotas Perigosas
2.4 2,0K Assista AgoraAcabei de ver o filme e parece que saí de um estado de entorpecimento. Tive a mesma sensação quando vi outro do mesmo roteirista, o KIDS. Talvez seja meio que marca do cara, nos colocar num universo meio surreal e chapado, sem roteiro mas com uma direção que agrada. Em certos pontos, esse clima de "flutuação" dá um certo cansaço, mas se encaixa perfeitamente nos anseios das personagens. Gostei. :)
Final de Semana
3.9 518 Assista AgoraRoteiro foda! Mais do que um romancezinho efêmero ou um "antes do amanhecer gay", o filme é bastante honesto com a temática gay, ao juntar dois personagens com comportamentos tão distintos durante um final de semana <3 O filme é rechado de provocações reflexivas, principalmente para quem é homossexual. O comportamento deslocado de Russell, a pretensa insensibilidade do Glenn, e os constantes "fagotts" ao longo do filme, nos fazem perceber o amor e auto-descoberta através das fragilidades e certeza dos personagens.
O Artista
4.2 2,1K Assista AgoraMetalinguagem em seu auge! Vi o filme muito como um desafio ao publico, de modo geral, acostumado com uma esquizofrenia de sons e imagens. Além de um retrato de uma transição histórica, o filme me trouxe muitas reflexões. Será que de fato, damos ouvidos ao que assistimos, no sentido de buscar entender o que se vê? Será que todo avanço seria um imposição, e todo o passado é batido? O filme, pra mim, é a prova de que não. Muito criativo ♥ e a cena do sonho é filha da puta de tão sensacional.
Divaguei demaaais ao ver o filme, mas não pude evitar!
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraNos sufoca e nos prende ao mesmo tempo, esse filme é fascinante!! Se Gus Van Sant conseguiu abrir um pouco meus olhos para o tema com "Elefante", este despertou uma avalanche de reflexões. Recomendo.
A Garota de Rosa-Shocking
3.6 535 Assista AgoraUma graça, os filmes do John Hughes tem uma importância ainda maior do que as pessoas pensam. São tocantes, simples e passam sempre uma agradavel sensação de como é bom ser jovem, ainda com todas os pesares. ♥
Esse é maravilhoso, mesmo que o final(tanto o da edição final quanto o original) tenha sido decepcionante.