Waldemar Januszczak é um alvo fácil para os críticos. Ele é cheio de si mesmo, um fanático espalhafatoso e tem aquele ar meio gentil meio reprovador de um professor hiperativo.
Baroque! começa de forma tradicional com uma tomada da praça de São Pedro em Roma. O próprio Januszczak se esconde na paisagem e chama: "Estou aqui! Aqui em cima, olhando para todos esses católicos!" Isso é dito com certo desdém, embora o traço espalhafatoso possa ser removido sem que ninguém perceba. Seu projeto é traçar a rota do barroco desde a basílica de São Pedro até a catedral de São Paulo (Londres). Como ele próprio admite, não será fácil: embora o barroco tenha um início bem reconhecido como uma reação contra a reforma protestante, não existe uma fronteira geográfica ou temporal.
Januszczak, entretanto, é destemido. Assim como num velho filme da Disney sobre a natureza, ele gosta de antropomorfizar em detrimento do assunto:"O Barroco desce do pedestal e vai atrás de você." Ele também é pródigo nos efeitos intensamente dramáticos: quando fala de Caravaggio, entra numa capela escura, segura uma vela em frente da cara e sussurra. Depois, um pouco confuso com questões retóricas - "Eu ligo para isso? Não mesmo." - ele parte com seu jeito largo de caminhar para outra atração.
Isso poderia enfurecer qualquer um, mas é apenas outro exemplo de narradores enredados em seus próprios maneirismos. Mas Baroque é um programa maravilhoso, um dos mais excitantes e inspiradores documentários de arte que eu assisti ultimamente. Certamente, Janszczak recorre a auto indulgência, mas sempre se controla. Somos submetidos a um duplo ataque, de paixão e de cultura.
É claro que a maioria dos narradores quer apresentar informações com o máximo de paixão possível. No geral, existe um equilíbrio: paixão demais, pouca cultura, ou vice versa. Ao mesmo tempo, Januszczak é um ótimo guia. Quando ele se inclina sobre um pequeno pátio concebido pelo arquiteto barroco Francesco Borromini - "na minha opinião o melhor arquiteto que já existiu " - é difícil não fazer o mesmo.
Como alguém que já esteve na basílica de São Pedro e contemplou imóvel o florescer da mais bela arquitetura e arte ocidentais, o efeito de aqui ser conduzido pela mão é como enxergar um mundo novo depois de uma operação de catarata. Não é pouco para um programa de 3 horas.
Resenha extraída do jornal The Thelegraph.