Adaptação de "A Besta" de Cesare Pavese, este Joelho de Ártemis é um diálogo extraído do livro Diálogos com Leucò: dois homens se encontram e discorrem sobre sonhos, fantasmagorias e morte.
Aqui, o radicalismo estético expresso no plano fixo e na linguagem antiquada impedem qualquer interferência entre o diálogo e a audição, entre o enquadramento e o olhar.
Fruto do luto pela morte de sua esposa, Danièle Huillet, esse é um filme que, por trás de sua aparência intelectualizada, deve ser pensado com o coração.
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ÉS A TERRA E A MORTE
És a terra e a morte.
A tua estação é a treva
e o silêncio. Não há coisa
que viva mais do que tu
afastada da manhã
Quando pareces despertar
toda tu és dor,
está-te no olhar e no sangue
mas não a sentes. Vives
como vive uma pedra,
como a terra dura.
E há sonhos que te vestem,
movimentos, soluços
que ignoras. A dor
Como a água de um lago
estremece e envolve-te.
Há círculos à flor da água.
Deixas que se desvaneçam.
És a terra e a morte.
Cesare Pavese, em O Vício Absurdo, & etc
(Tradução de Rui Caeiro)