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Grau de compatibilidade cinéfila
Baseado em avaliações em comum

Tetralogia pavesiana

Textos de apoio sobre Diálogos com Leucó:
https://obenedito.com.br/o-tempo-fabular-dos-dialogos-de-pavese/
http://www.materialdelectura.unam.mx/images/stories/pdf5/cesare-pavese.1-1.pdf (espanhol)

Trecho extraído de "Moral da percepção. Da nuvem à resistência, Straub-Huillet", em "A Rampa", Serge Daney.

Lá onde Nietzsche dizia que "o único ser que conhecemos é o ser que representa", os Straub poderiam responder: só existe por certo aquele que resiste. À natureza, à língua, ao tempo, aos textos, aos deuses, a Deus, aos patrões, aos nazistas. À mãe e ao pai. É assim que o plano, átomo de base do cinema straubniano é a o produto, o resto, ou melhor, a restância, de uma tripla existência: dos textos aos corpos, dos lugares aos textos e dos corpos aos lugares. Seria necessário acrescentar uma quarta: a do público ao plano assim "talhado", resistência obstinada do público de cinema a alguma coisa intratável e que o nega como público. (...)
Os seis diálogos que compõem a primeira parte do filme tomam ares de um evento único: os deuses separaram-se dos homens. Toda a proximidade com eles tornou-se caduca, e assim a aliança, a promiscuidade, a mistura. É a nova lei que no primeiro plano do filme a ninfa Néfele, a nuvem, sentada em sua árvore, anuncia a Íxion. "Existem monstros", diz ela. A partir desse momento, aqueles que - como os centauros - participavam de uma dupla natureza sabem que são monstros e se escondem. Cada diálogo marca um aprofundamento da separação. Em resumo: os deuses se dessolidarizaram dos homens, os abandonaram (segundo diálogo: "A quimera"); eles separam os homens das coisas dando a estas um nome (terceiro diálogo: "Os cegos"; eles os separam deles mesmos e os transformam em bestas (quarto diálogo: "O homem-lobo"); eles os separam uns dos outros por meio de sacrifícios (quinto díalogo: L'Invité [O convidado]); e a separação é total quando eles se contentam, ociosos, em assistir a esses sacrifícios (sexto diálogo: Les Feux [Os fogos).(...)
Esse último diálogo marca, ao mesmo tempo que o fim da primeira parte, o início da resistência, se não da revolta, e prefigura a segunda parte - a parte "moderna" - por meio do tema dos fogos. (...) A resistência começa no momento em que, terminada sua separação dos deuses, os homens imaginam ser o espetáculo com o qual os deuses têm prazer, de longe. Início da resistência, e portanto início da pose, do teatro. Há um gosto de teatro antigo nos Straub, da toga e do manto, que reenvia tanto a Cecil B. De Mille quanto às situações de terror que ele conota. Início da complacência, do estetismo, de um "tu me viste" reservado ao corpo humano. Entre a despreocupação de Íxion que não leva muito a sério o que a ninfa diz a ele (primeiro diálogo) e o primeiro "Não!" (sexto diálogo: a câmera está no nível da mão do rapaz, uma mão que hesita ainda em se fazer punho), a distância entre os deuses e os homens, à força de se aprofundar, tornou-se o espaço de contemplação estética (...).
É pois uma única e mesma coisa, a infelicidade dos homens e sua transformação em objetos de prazer estéticos para os deuses em pleno lazer. Claro, os deuses são também os patrões, os espectadores - todos esses que não trabalham. E resistir a eles é de início recusar-se a ser olhado. É, por exemplo, dar-lhes as costas.
Recusa do espetáculo, afronta feita ao espectador-deus, esssa criança mimada. Para descrever os deuses a Íxion, Néfele diz: "Eles tateiam de longe, com os olhos, as narinas, os lábios". A fabricação do plano straubniano está inteiramente numa prática do enquadramento que rompe com essa distância, que ensina a "olhar de perto", que deforma o espaço homogêneo da contemplação paranóica por onde os deuses-espectadores destituem os homens (os atores) de sua infelicidade e por onde os homens, para satisfazê-los, tornam-se palhaços de sua condição, transformada em destino. É essa recusa de um mundo anterior, de um plano anterior, que confere a Dalla nube essa sensibilidade imediata, patética, onde a lembrança de um mundo "onde estamos em casa", de uma intimidade com as coisas, deve ser confiada aos sentidos mais ligados à periferia do corpo - à audição, ao tato. Não ao olhar.

Lista editada há 6 anos

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  1. Da Nuvem À Resistência (Dalla nube alla resistenza)

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  3. As Feiticeiras, Mulheres Entre Elas (Le streghe, femmes entre elles)

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  4. O Joelho de Ártemis (Le genou d'Artémide)

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