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Nascimento: 16 de Setembro de 1924 (92 years)

Falecimento: 8 de Novembro de 2016

Paris - França

Entre o preto-e-branco frenético de O Acossado (1960), o azul banhado de mar e céu de O Desprezo (1963), ou o vermelho revolucionário de A Maoísta (1967), três das mais de dezena e meia de filmes que fez com Jean-Luc Godard, Raoul Coutard inscreveu definitivamente o seu nome na história da Nouvelle Vague, e através dela na lenda do cinema mundial.

O director de fotografia francês morreu aos 92 anos, na sua casa perto de Bayonne, no Sudoeste do país, depois de uma longa doença que o obrigou a ser internado numa clínica na comuna de Labenne.

Além de Godard, Raoul Coutard trabalhou com François Truffaut (Não Disparem Sobre o Pianista, 1960; Jules e Jim, 1961; Angústia, 1964), com Jacques Demy (Lola, 1960) e com Jean Rouch (Chronique d’un Été, 1961), mas também, depois, com Costa-Gavras (Z, 1969; A Confissão, 1970). Ou seja, acompanhou as figuras maiores do cinema francês da década de 1960, quando este revolucionou a forma de filmar, de enquadrar a realidade e de ver e mostrar o mundo.

Ao todo, Coutard “fotografou” mais de 80 filmes, tendo terminado a sua carreira já na viragem do século, entre 1993-2001, trabalhando com Philippe Garrel (La Naissance de l’Amour; O Coração Fantasma, uma produção de Paulo Branco, e o único estreado em Portugal; e Sauvage Innocence), com quem, escreve o jornalista do Le Monde Mathieu Macheret, regressou ao preto-e-branco e “ao espírito da Nouvelle Vague”.

Antes, e pelo meio da sua carreira, Coutard experimentou também a realização, assinando três filmes com que retomou algo da sua experiência autobiográfica quando foi repórter de guerra na Indochina: Hoa-Binh (1970), uma história com crianças em pleno Vietname em guerra; Comandos: Operação Leopardo (1980), encenação de uma operação do exército francês em África; e o policial S.A.S. – Terror em São Salvador (1982).

Estava então já muito longe da glória conquistada nas décadas de 60-70 – e em 1984 ainda filma com Godard, Prénom: Carmen, premiado no Festival de Veneza –, quando o seu lema era “filmar simples”, com luz natural e câmara à mão, aproveitando o contraste próprio do preto-e-branco e sem forçar os efeitos que a manipulação da fotografia sempre permite.

Como exemplo desta filosofia, Mathieu Macheret evoca O Desprezo, “o mais belo filme que [Raoul Coutard] iluminou”. “Este grande folgazão de rosto talhado à navalha e gesto seguro, imortalizado no seu ofício, o olho para sempre pregado ao visor deste aparelho que nunca foi mais do que a extensão do seu próprio olhar” – assim caracteriza o crítico do Le Monde a figura do operador de câmara que “mais duravelmente inscreveu o seu estilo visual iconoclasta na consciência colectiva”.

Não deixa de ser curioso que a chegada de Coutard ao cinema tenha acontecido em circunstâncias algo fortuitas. Nascido em 1924, em Paris, filho de um contabilista da empresa farmacêutica Roche, Raoul pensou estudar Química, mas acabaria por optar pelo curso de Fotografia, cujas propinas eram mais baratas. Com 21 anos, oferece-se como voluntário ao exército francês, tendo ido parar à Indochina, onde o seu país, logo após o termo da Segunda Guerra Mundial, se envolveria em novo conflito, que duraria uma década. Durante grande parte desse período, Coutard trabalhou como fotógrafo para os serviços de informação do exército francês. Terminada a guerra, em 1954, decidiu manter-se na região a trabalhar como repórter fotográfico freelance para a revista Indochine Sud-est Asiatique, mas também para a Paris-Match, a Life, a Time.

É aí que encontra e se torna amigo de Pierre Schoendoerffer (1928-2012), com quem viria a ter a sua primeira experiência no cinema, ao filmar para ele o documentário La Passe du Diable (1958). Na evocação que faz da biografia de Coutard, o El País cita a situação algo anedótica em que o fotógrafo aceitou trabalhar com Schoendoerffer, pois pensava que estava a ser contratado como fotógrafo e não como director de fotografia, já que nunca tinha experimentado trabalhar com uma câmara de filmar.

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