Aline Castanhari

No final do filme aparece a nota que o roteiro foi baseado em relatos populares e de tribunais da época. Esta é uma informação muitíssimo relevante para se interpretar a obra. O filme se passa no séc. XVII, período após a turbulenta e sangrenta reforma religiosa e contrarreforma. O fanatismo religioso era a marca da época e a sua formatação social: as pessoas eram separada entre fiéis e hereges. A própria contrarreforma no séc. XVI resgatou a Inquisição e a "caçada às bruxas". Outra característica da época é o patriarcalismo. A mulher estava à margem da sociedade, além de ser vista como uma constante ameaça à moralidade. A mulher era o vestígio de Eva que levou Adão à perdição; a personificação da tentação do demônio. Eu vejo que foram todos estes elementos históricos que fizeram o diretor construir este roteiro. A concepção de bruxa que se tinha na época era exatamente a explorada pelo filme: a mulher satânica, pervertida, sedutora e assassina. E qualquer mulher poderia ser na verdade "uma bruxa". Qualquer evento negativo poderia ser justificado pela presença de uma bruxa na família. O filme explora muito este estigma da mulher, o qual resultou grande feminicídio. E ainda resulta.
A meu ver é esta a abordagem de "The Witch": a bruxa do séc XVII, a mulher do séx XVIII.

Só por expor a história de Nise da Silveirao o filme já merece 5 estrela. Grandiosa mulher, grandiosa luta. Excelente roteiro e atuações. Ver este filme é um presente.

Fui ver este filme no cinema exclusivamente para acompanhar uma amiga que queria muito vê-lo. E fiquei a dizendo como eu era uma super amiga por topar ver filme de terror zuado por ela. Tinha certeza que este filme seria trash no maior grau possível. E calei a minha boca! Ótimo filme! Ótimo roteiro! Conseguiu não ser clichê como a grande maioria do estilo. Filme que visa muito mais do que apenas dar sustinhos. Tem história, tem estrutura e nexo. Não é um Sexto Sentido da vida, mas dentro de sua proposta conseguiu qualidade. Principalmente para ver com os amigos, vale muito à pena. Mais uma lição da vida sobre não julgar pelas aparências...