Tente imaginar uma história do H.P. Lovecraft, adaptada pelo Stephen King e transformada em filme pelo John Carpenter, no início dos anos 90. Dá meio que isso aqui. Children of The Corn e In The Mouth of Madness são talvez as grandes inspirações pra criar o clima desse filme. Mas a história mesmo se baseia na mitologia grega de Nêmesis (título alternativo do filme que ajudaria melhor numa explicação final). O erros ficam mais por conta do protagonista que não é lá grandes coisa, e diversas situações forçadas só pro filme acontecer. Roteiro que não quis trabalhar muito essa parte, meio preguiçoso. Mas todo o climão, a trilha sonora que parece que o próprio Carpenter compôs e o mistério do que tá acontecendo, seguram a nossa atenção até o final. Daí chega o final. Eu sou suspeito pra falar, pois amo finais abertos a interpretações. Nesse caso isso é um pouco mais elevado. Mas ainda assim. A ideia básica do que tá acontecendo fica óbvia quando o filme acaba. Cabe ao público tentar “desvendar” cada detalhe e entender como eles se relacionam. Creio que isso que fez grande parte das pessoas torcerem o nariz pra esse filme. Cada um gosta do que gosta. Mas se tenho como defender esse tipo de filme, tentem abrir mais a cabeça pra isso. Não traz nada de ruim, só aumenta a nossa capacidade criativa, expande os nossos pensamentos, mostra que o cinema pode transcender as telas e funcionar da mesma forma que a literatura, por exemplo, onde a interpretação e imaginação são necessárias. Eu vejo como um ótimo exercício pra mente. Sem contar que é ótimo debater depois com pessoas com perspectivas diferentes da sua. Filme curto (1h15), direto ao ponto, com um ótimo clima saudosista e um final bem inesperado e bem trabalhado, mesmo que não seja super criativo.
Um conto de ambição, amor e as decisões difíceis que temos de fazer para chegar lá, o Mahogany é um dos papéis mais emblemáticos de Diana Ross. É sobre uma mulher dividida entre seguir os sonhos que ela teve durante a maior parte de sua vida e apoiar o homem pelo qual ela se apaixonou. Suas escolhas levam a consequências pesadas. Curiosidade: Solange e seu marido Alan Ferguson organizaram uma exibição de mogno para os convidados do casamento antes da cerimônia. # BlackLoveGoals
O bem-estar era tão estigmatizado para as mulheres negras nos anos 70 quanto é hoje, talvez até mais. Ainda assim, isso não impediu que os escritores Lester e Tina Pine e o diretor John Berry quebrassem o molde de blaxploitation popular na época para fazer um filme sobre uma pobre mulher negra apaixonada. Claudine (Diahann Carroll) é uma mãe de seis anos que é forçada a esconder seu novo amante para manter seus benefícios sociais intactos. As coisas ficam complicadas quando seus filhos não gostam de seu novo amor, sua filha mais velha fica grávida e ela se depara com uma proposta de casamento. Anunciada como uma comédia, Claudine ainda assume algumas coisas bem sérias.
Esse filme foi feito por e para uma gama muito definitiva de gay: os burgueses, classe A. Alem disso, eu sei que o filme seja feito para adolescentes/crianças, o que envolve ter adolescente que não falam palavrão e agem como se hormônios não existissem. Mas... precisava ser tão infantil e tosco? A trama central de amores cruzados criado pelo protagonista me parece bastante datada. É algo que faria sentido em um filme teen dos anos 90, mas que, além de não convencer nos dias de hoje, aqui oferece uma versão anêmica dessas comédias de erros em que busca inspiração. Comparado com filmes adolescentes mais recentes, como "Cidades de papel", "As vantagens de ser invisível" e "A mentira", "Com amor, Simon" deixa muito a desejar em termos de roteiro e construção de personagens. É o típico exemplo de um filme que não leva a sério seu público-alvo e menospreza sua inteligência. E por falar em desenvolvimento de personagens, eu queria dizer que fazia tempo que eu não detestava tanto um personagem como eu detestei o Simon. E aqui muita gente pode dizer "mas nossa o personagem tem 17 anos, você esperava que ele tivesse maturidade????", mas eu acho muito difícil de torcer pra que um personagem tão egoísta tenha um final feliz. Eu não acho que seja fundamental ter empatia por um personagem, mas aqui o quão babaca o protagonista é o tempo todo pesou demais pra mim. Porém, o filme não é de todo ruim. Decepcionando as que gostam de me ver esbravejando sobre as problemáticas de um filme, dessa vez eu não tenho do que reclamar. A cena da conversa com a mãe pós-saída do armário é uma das melhores que eu já vi em um filme, porque em nenhum momento ela faz o assunto ser sobre ela, ou como ela vai ter que se adaptar a ele; ela oferece o suporte para que ele possa ser ele mesmo, sem se preocupar em como isso a afeta. O filme claramente tem uma proposta ideológica que é assimilacionista e é muito honesto quanto a isso. A cena onde ele brinca com a ideia de "como seria se heteros tivessem que se assumir" é um epítome das políticas do assimilacionismo, e a ideia de que hetero/homo podem funcionar e existir em um binário sem hierarquias. Qualquer pessoa um pouco envolvida em estudos de história LGBT vê o porquê essa cena vende uma ideia ingênua, mas, embora eu não concorde com o argumento que o filme constrói, ele não chega a me ofender. É um filme que luta pela ideia de que heteros devem aceitar gays porque nós somos "normais" e "iguais a vocês", mas que nunca recorre ao ataque pejorativo a identidades dissidentes. Não sei da onde os gays que foram responsáveis por essa bomba tiraram que vender um filme com uma narrativa do processo de assumir ser gay é uma atitude libertadora. Não sei em que mundo eles vivem, mas pelo menos no meu e no de todos as pessoas que ainda não possuem independência, isso não funciona. Isso é perigoso. Quantas notícias não saem dizendo que jovens homossexuais foram mortos dentro da própia casa pelo simples fato de se assumir? Mesmo num nível individual, até entre as pessoas mais assumidamente gays há pouquíssimas que não estejam no armário com alguém que seja pessoal, econômica ou institucionalmente importante para elas. Além disso, a elasticidade mortífera da presunção heterossexista significa que, como Wendy em Peter Pan, as pessoas encontram novos muros que surgem à volta delas até quando cochilam. Cada encontro com uma nova turma de estudantes, para não falar de um novo chefe, assistente social, gerente de banco, senhorio, médico, constrói novos armários cujas leis características de ótica e física exigem, pelo menos da parte de pessoas gays, novos levantamentos, novos cálculos, novos esquemas e demandas de sigilo ou exposição. Mesmo uma pessoa gay assumida lida diariamente com interlocutores que ela não sabe se sabem ou não. É igualmente difícil adivinhar, no caso de cada interlocutor, se, sabendo, considerariam a informação importante. No nível mais básico, tampouco é inexplicável que alguém que queira um emprego, guarda dos filhos ou direitos de visita, proteção contra violência, contra 'terapia', contra estereótipos distorcidos, contra o escrutínio insultuoso, contra a interpretação forçada de seu produto corporal, possa escolher deliberadamente entre ficar ou voltar para o armário em algum ou em todos os segmentos de sua vida. O armário gay não é uma característica apenas das vidas de pessoas gays. Mas, para muitas delas, ainda é a característica fundamental da vida social, e há poucas pessoas gays, por mais corajosas e sinceras que sejam de hábito, por mais afortunadas pelo apoio de suas comunidades imediatas, em cujas vidas o armário não seja ainda uma presença formadora.
A Deusa da Vingança
2.8 179 Assista AgoraTente imaginar uma história do H.P. Lovecraft, adaptada pelo Stephen King e transformada em filme pelo John Carpenter, no início dos anos 90. Dá meio que isso aqui. Children of The Corn e In The Mouth of Madness são talvez as grandes inspirações pra criar o clima desse filme. Mas a história mesmo se baseia na mitologia grega de Nêmesis (título alternativo do filme que ajudaria melhor numa explicação final). O erros ficam mais por conta do protagonista que não é lá grandes coisa, e diversas situações forçadas só pro filme acontecer. Roteiro que não quis trabalhar muito essa parte, meio preguiçoso. Mas todo o climão, a trilha sonora que parece que o próprio Carpenter compôs e o mistério do que tá acontecendo, seguram a nossa atenção até o final. Daí chega o final. Eu sou suspeito pra falar, pois amo finais abertos a interpretações. Nesse caso isso é um pouco mais elevado. Mas ainda assim. A ideia básica do que tá acontecendo fica óbvia quando o filme acaba. Cabe ao público tentar “desvendar” cada detalhe e entender como eles se relacionam. Creio que isso que fez grande parte das pessoas torcerem o nariz pra esse filme. Cada um gosta do que gosta. Mas se tenho como defender esse tipo de filme, tentem abrir mais a cabeça pra isso. Não traz nada de ruim, só aumenta a nossa capacidade criativa, expande os nossos pensamentos, mostra que o cinema pode transcender as telas e funcionar da mesma forma que a literatura, por exemplo, onde a interpretação e imaginação são necessárias. Eu vejo como um ótimo exercício pra mente. Sem contar que é ótimo debater depois com pessoas com perspectivas diferentes da sua. Filme curto (1h15), direto ao ponto, com um ótimo clima saudosista e um final bem inesperado e bem trabalhado, mesmo que não seja super criativo.
Mahogany
3.4 10Um conto de ambição, amor e as decisões difíceis que temos de fazer para chegar lá, o Mahogany é um dos papéis mais emblemáticos de Diana Ross. É sobre uma mulher dividida entre seguir os sonhos que ela teve durante a maior parte de sua vida e apoiar o homem pelo qual ela se apaixonou. Suas escolhas levam a consequências pesadas. Curiosidade: Solange e seu marido Alan Ferguson organizaram uma exibição de mogno para os convidados do casamento antes da cerimônia. # BlackLoveGoals
Claudine
3.2 6O bem-estar era tão estigmatizado para as mulheres negras nos anos 70 quanto é hoje, talvez até mais. Ainda assim, isso não impediu que os escritores Lester e Tina Pine e o diretor John Berry quebrassem o molde de blaxploitation popular na época para fazer um filme sobre uma pobre mulher negra apaixonada. Claudine (Diahann Carroll) é uma mãe de seis anos que é forçada a esconder seu novo amante para manter seus benefícios sociais intactos. As coisas ficam complicadas quando seus filhos não gostam de seu novo amor, sua filha mais velha fica grávida e ela se depara com uma proposta de casamento. Anunciada como uma comédia, Claudine ainda assume algumas coisas bem sérias.
Com Amor, Simon
4.0 1,2K Assista AgoraEsse filme foi feito por e para uma gama muito definitiva de gay: os burgueses, classe A. Alem disso, eu sei que o filme seja feito para adolescentes/crianças, o que envolve ter adolescente que não falam palavrão e agem como se hormônios não existissem. Mas... precisava ser tão infantil e tosco? A trama central de amores cruzados criado pelo protagonista me parece bastante datada. É algo que faria sentido em um filme teen dos anos 90, mas que, além de não convencer nos dias de hoje, aqui oferece uma versão anêmica dessas comédias de erros em que busca inspiração. Comparado com filmes adolescentes mais recentes, como "Cidades de papel", "As vantagens de ser invisível" e "A mentira", "Com amor, Simon" deixa muito a desejar em termos de roteiro e construção de personagens. É o típico exemplo de um filme que não leva a sério seu público-alvo e menospreza sua inteligência.
E por falar em desenvolvimento de personagens, eu queria dizer que fazia tempo que eu não detestava tanto um personagem como eu detestei o Simon. E aqui muita gente pode dizer "mas nossa o personagem tem 17 anos, você esperava que ele tivesse maturidade????", mas eu acho muito difícil de torcer pra que um personagem tão egoísta tenha um final feliz. Eu não acho que seja fundamental ter empatia por um personagem, mas aqui o quão babaca o protagonista é o tempo todo pesou demais pra mim.
Porém, o filme não é de todo ruim. Decepcionando as que gostam de me ver esbravejando sobre as problemáticas de um filme, dessa vez eu não tenho do que reclamar. A cena da conversa com a mãe pós-saída do armário é uma das melhores que eu já vi em um filme, porque em nenhum momento ela faz o assunto ser sobre ela, ou como ela vai ter que se adaptar a ele; ela oferece o suporte para que ele possa ser ele mesmo, sem se preocupar em como isso a afeta. O filme claramente tem uma proposta ideológica que é assimilacionista e é muito honesto quanto a isso. A cena onde ele brinca com a ideia de "como seria se heteros tivessem que se assumir" é um epítome das políticas do assimilacionismo, e a ideia de que hetero/homo podem funcionar e existir em um binário sem hierarquias. Qualquer pessoa um pouco envolvida em estudos de história LGBT vê o porquê essa cena vende uma ideia ingênua, mas, embora eu não concorde com o argumento que o filme constrói, ele não chega a me ofender. É um filme que luta pela ideia de que heteros devem aceitar gays porque nós somos "normais" e "iguais a vocês", mas que nunca recorre ao ataque pejorativo a identidades dissidentes.
Não sei da onde os gays que foram responsáveis por essa bomba tiraram que vender um filme com uma narrativa do processo de assumir ser gay é uma atitude libertadora. Não sei em que mundo eles vivem, mas pelo menos no meu e no de todos as pessoas que ainda não possuem independência, isso não funciona. Isso é perigoso. Quantas notícias não saem dizendo que jovens homossexuais foram mortos dentro da própia casa pelo simples fato de se assumir? Mesmo num nível individual, até entre as pessoas mais assumidamente gays há pouquíssimas que não estejam no armário com alguém que seja pessoal, econômica ou institucionalmente importante para elas. Além disso, a elasticidade mortífera da presunção heterossexista significa que, como Wendy em Peter Pan, as pessoas encontram novos muros que surgem à volta delas até quando cochilam. Cada encontro com uma nova turma de estudantes, para não falar de um novo chefe, assistente social, gerente de banco, senhorio, médico, constrói novos armários cujas leis características de ótica e física exigem, pelo menos da parte de pessoas gays, novos levantamentos, novos cálculos, novos esquemas e demandas de sigilo ou exposição. Mesmo uma pessoa gay assumida lida diariamente com interlocutores que ela não sabe se sabem ou não. É igualmente difícil adivinhar, no caso de cada interlocutor, se, sabendo, considerariam a informação importante. No nível mais básico, tampouco é inexplicável que alguém que queira um emprego, guarda dos filhos ou direitos de visita, proteção contra violência, contra 'terapia', contra estereótipos distorcidos, contra o escrutínio insultuoso, contra a interpretação forçada de seu produto corporal, possa escolher deliberadamente entre ficar ou voltar para o armário em algum ou em todos os segmentos de sua vida. O armário gay não é uma característica apenas das vidas de pessoas gays. Mas, para muitas delas, ainda é a característica fundamental da vida social, e há poucas pessoas gays, por mais corajosas e sinceras que sejam de hábito, por mais afortunadas pelo apoio de suas comunidades imediatas, em cujas vidas o armário não seja ainda uma presença formadora.