É um filme sobre identidade e identificações. Para aqueles que se sentem um menos um no mundo. Sobretudo, sobre o engano das identificações (causa e semelhança são engodos), metáforas que permeiam no ar. É sobre este ponto de identidade que o filme lança interrogações. A luz no final do túnel pode ser um trem vindo em nossa direção!
Filme muito emocionante que nos faz pensar a experiência da "loucura", a paternidade, culpa, resinificação e tentativas de se fazer justiça. Eu diria que não é um filme para todo mundo assistir.
O que se odeia no louco? Odeia-se a sua liberdade, a sua verdade (deveras, por vezes, não recalcada), a sua infantilidade que não fora corrompida pelas males do adulto civilizado. Odeia-se porque a loucura do outro revela a nossa loucura, e que a nossa busca de sentido para a existência é sempre pautado por motivos, em sua essência - sem lógica! O "louco" portanto, não é assim tão louco, já que todos nós deliramos.
A saída pelo morte tomada por um personagem, deve ser discutido para além do filme. Para mim, não ficou claro todos os meandros dessa história e nem se ele é o avó da Ova. Pode ser, mas.... O interessante a ser pensado é que um homem carregado pela culpa resolve que a morte é reduto a ser tomado. Qual foi o crime dele? Tão brutal quanto a morte que Memo poderia ter.
É um filme sobre a inocência que encara a nossa busca patética por uma vida adulta séria. É preciso se viver com o mínimo de leveza para suportar o imponderável da vida.
Túmulo dos vagalumes é um filme que trata talvez da tentativa de se elaborar um luto, nunca vencido ou esquecido. O corpo atinge a ordem do insuportável e impalpável, todos os prefixos ineptos à vida ganham formas. A ordem é do negativo que avança deteriorando rapidamente as forças que comungam na sobrevivência. Onde o insondável e as sombras do simbólico vão se exaurindo pouco a pouco, por vez ascendem-se na casa os vagalumes iluminando as esperanças, trazendo memórias acalmando a realidade dura, cruel e fria da guerra. Neste cenário o tempo não é mais o que permeia os ponteiros do relógio, ele é fino, oco e mestre em catalisar a dor. A sonda da transferência é o que mais dói no filme, ela nos leva para os recônditos mais sombrios da psique humana, somos os protagonistas e os impostores. Poderia a metáfora da luz do dia finda-se apenas próximo do raiar do sol, mas a luz deteriore-se diante de um grande sopro, e ela leva tudo, inclusive a sombra de nós.
O filme O Sopro do Coração (le souffle au coeur) conta a história do adolescente Laurent Chevalier, quatorze anos, que possui uma relação ambivalente com o seus pais. Sua mãe Clarice tem uma aproximação mais afetuosa com ele, demostrando maior preocupação comparada aos outros filhos e o seu pai Charles, um ginecologista conservador que mantém uma relação de conflito . Lawrence é o último dos três cavalheiros da família, diferente dos outros irmãos é mais sensível, aprecia Jazz, Boris Vian, Marcel Camus e tem um gato chamado Joseph.
Em psicanálise estudamos que o cordão psicológico é cortado por voltados dos quatorze anos de idade, quando o adolescente deixa as fruições infantis e passa para o despertar da sexualidade, deixando suas características polimórficas bissexuais.
Acredito que a escolha de Louis Malle do casal possuir três filhos não foi à toa, no mínimo até mesmo uma sugestão inconsciente do mito de Zeus e Europa, onde este primeiro em forma animal transforma-se num belo touro branco (simbolizando os instintos, sexualidade e fertilidade) e encanta uma jovem mortal gerando três filhos com ela. As sistêmicas relações familiares são explicadas numa dança de triângulos. No filme a estrutura é formada pela Mãe, Pai, dois filhos primogênitos e o irmão casula, estes dois primeiros vivem numa simbiose, gostos parecidos, brincadeiras com o mais novo, num laço de aprendizado e proteção. A grande problemática de Laurent vem, por partes, de vínculos conflituosos com o seu pai, que tem a função de cortar a ilusão infantil mostrando que o mesmo vive em um ambiente de regras. Antes de tudo é necessário conhecermos os complexos que se dividem em três: Complexo de Castração, Complexo de Édipo e Complexo de Édipo (no qual, Laurent possui) e Complexo Compartilhado pelos Irmãos.
Na cena edípica percebemos que a criança se apaixona fortemente pela mãe. Dificilmente o menino se verá no papel do pai se este não manter uma boa relação com a mesma.
Após ver Clarice saindo com um estranho em um carro quando voltava da escola, Laurent fica revoltado, quebra uma garrafa de leite já na sua casa e vai ao consultório do pai avisá-lo. Charles nem chega a prestar escuta ao filho; expulsa ele veemente chamando-o de louco e pede para a sua secretária acompanha-lo. Com muita raiva, Laurent volta para casa, rasga uma camisa branca, escolhe um livro na estante J’irai cracher sur vos tombe (Vou cuspir em seu túmulo) do escritor Boris Vian e se tranca no quarto para se masturbar.
A masturbação funciona como descarga de tensão, na adolescência é a tentativa de construir o luto da castração (perda infantil) e enfrentar as ansiedades geradas pelas inexperiências e vontade de se autoafirmar. Nesta fase, os impulsos sexuais principalmente no menino, estão à flor da pele.
Clarice e Charles viajam para Paris e na ausência dos pais os filhos fazem uma festa libertina, convidando vários amigos e também mulheres. Laurent flerta com uma jovem e depois seus irmãos leva-o para uma festa onde o mesmo perde a sua virgindade com Freda, uma mulher mais velha que ele. Mais uma vez, observamos nesta cena há um ponto de congruência no papel de identificação de Freda com Clarice na mente de Laurent. No recrutamento do ginásio o menino fica doente e depois é diagnosticado com uma infecção cardiovascular chamada “sopro no coração”. Laurent junto com sua mãe procura uma cura no Bourbon-les-Eaux. Ilhados da sua família, ele desenvolve um vínculo mais profundo com Clarice. Na festa de 14 de julho consuma-se a passagem ao ato, numa cena de sexo com sua mãe. Os estudos em psicanálise indicam que tal ato pode acarretar sérios problemas na idade adulta.
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3.6 219 Assista AgoraÉ um filme sobre identidade e identificações. Para aqueles que se sentem um menos um no mundo. Sobretudo, sobre o engano das identificações (causa e semelhança são engodos), metáforas que permeiam no ar. É sobre este ponto de identidade que o filme lança interrogações. A luz no final do túnel pode ser um trem vindo em nossa direção!
Homem Pelicano
3.8 4Um dos melhores filmes que assisti na vida pela TV Cultura. Alguém sabe o link para baixá-lo?
Milagre na Cela 7
4.1 1,2K Assista AgoraFilme muito emocionante que nos faz pensar a experiência da "loucura", a paternidade, culpa, resinificação e tentativas de se fazer justiça. Eu diria que não é um filme para todo mundo assistir.
O que se odeia no louco? Odeia-se a sua liberdade, a sua verdade (deveras, por vezes, não recalcada), a sua infantilidade que não fora corrompida pelas males do adulto civilizado. Odeia-se porque a loucura do outro revela a nossa loucura, e que a nossa busca de sentido para a existência é sempre pautado por motivos, em sua essência - sem lógica! O "louco" portanto, não é assim tão louco, já que todos nós deliramos.
A saída pelo morte tomada por um personagem, deve ser discutido para além do filme. Para mim, não ficou claro todos os meandros dessa história e nem se ele é o avó da Ova. Pode ser, mas.... O interessante a ser pensado é que um homem carregado pela culpa resolve que a morte é reduto a ser tomado. Qual foi o crime dele? Tão brutal quanto a morte que Memo poderia ter.
É um filme sobre a inocência que encara a nossa busca patética por uma vida adulta séria. É preciso se viver com o mínimo de leveza para suportar o imponderável da vida.
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
3.9 662 Assista AgoraQuando você sabe que o filme se baseia na história do luto do diretor; que perdeu o pai. O filme ganha mais ainda um outro sentido.
Túmulo dos Vagalumes
4.6 2,2KTúmulo dos vagalumes é um filme que trata talvez da tentativa de se elaborar um luto, nunca vencido ou esquecido. O corpo atinge a ordem do insuportável e impalpável, todos os prefixos ineptos à vida ganham formas. A ordem é do negativo que avança deteriorando rapidamente as forças que comungam na sobrevivência.
Onde o insondável e as sombras do simbólico vão se exaurindo pouco a pouco, por vez ascendem-se na casa os vagalumes iluminando as esperanças, trazendo memórias acalmando a realidade dura, cruel e fria da guerra. Neste cenário o tempo não é mais o que permeia os ponteiros do relógio, ele é fino, oco e mestre em catalisar a dor. A sonda da transferência é o que mais dói no filme, ela nos leva para os recônditos mais sombrios da psique humana, somos os protagonistas e os impostores. Poderia a metáfora da luz do dia finda-se apenas próximo do raiar do sol, mas a luz deteriore-se diante de um grande sopro, e ela leva tudo, inclusive a sombra de nós.
O Sopro do Coração
4.0 97O filme O Sopro do Coração (le souffle au coeur) conta a história do adolescente Laurent Chevalier, quatorze anos, que possui uma relação ambivalente com o seus pais. Sua mãe Clarice tem uma aproximação mais afetuosa com ele, demostrando maior preocupação comparada aos outros filhos e o seu pai Charles, um ginecologista conservador que mantém uma relação de conflito . Lawrence é o último dos três cavalheiros da família, diferente dos outros irmãos é mais sensível, aprecia Jazz, Boris Vian, Marcel Camus e tem um gato chamado Joseph.
Em psicanálise estudamos que o cordão psicológico é cortado por voltados dos quatorze anos de idade, quando o adolescente deixa as fruições infantis e passa para o despertar da sexualidade, deixando suas características polimórficas bissexuais.
Acredito que a escolha de Louis Malle do casal possuir três filhos não foi à toa, no mínimo até mesmo uma sugestão inconsciente do mito de Zeus e Europa, onde este primeiro em forma animal transforma-se num belo touro branco (simbolizando os instintos, sexualidade e fertilidade) e encanta uma jovem mortal gerando três filhos com ela.
As sistêmicas relações familiares são explicadas numa dança de triângulos. No filme a estrutura é formada pela Mãe, Pai, dois filhos primogênitos e o irmão casula, estes dois primeiros vivem numa simbiose, gostos parecidos, brincadeiras com o mais novo, num laço de aprendizado e proteção. A grande problemática de Laurent vem, por partes, de vínculos conflituosos com o seu pai, que tem a função de cortar a ilusão infantil mostrando que o mesmo vive em um ambiente de regras. Antes de tudo é necessário conhecermos os complexos que se dividem em três: Complexo de Castração, Complexo de Édipo e Complexo de Édipo (no qual, Laurent possui) e Complexo Compartilhado pelos Irmãos.
Na cena edípica percebemos que a criança se apaixona fortemente pela mãe. Dificilmente o menino se verá no papel do pai se este não manter uma boa relação com a mesma.
Após ver Clarice saindo com um estranho em um carro quando voltava da escola, Laurent fica revoltado, quebra uma garrafa de leite já na sua casa e vai ao consultório do pai avisá-lo. Charles nem chega a prestar escuta ao filho; expulsa ele veemente chamando-o de louco e pede para a sua secretária acompanha-lo. Com muita raiva, Laurent volta para casa, rasga uma camisa branca, escolhe um livro na estante J’irai cracher sur vos tombe (Vou cuspir em seu túmulo) do escritor Boris Vian e se tranca no quarto para se masturbar.
A masturbação funciona como descarga de tensão, na adolescência é a tentativa de construir o luto da castração (perda infantil) e enfrentar as ansiedades geradas pelas inexperiências e vontade de se autoafirmar. Nesta fase, os impulsos sexuais principalmente no menino, estão à flor da pele.
Clarice e Charles viajam para Paris e na ausência dos pais os filhos fazem uma festa libertina, convidando vários amigos e também mulheres. Laurent flerta com uma jovem e depois seus irmãos leva-o para uma festa onde o mesmo perde a sua virgindade com Freda, uma mulher mais velha que ele. Mais uma vez, observamos nesta cena há um ponto de congruência no papel de identificação de Freda com Clarice na mente de Laurent. No recrutamento do ginásio o menino fica doente e depois é diagnosticado com uma infecção cardiovascular chamada “sopro no coração”. Laurent junto com sua mãe procura uma cura no Bourbon-les-Eaux. Ilhados da sua família, ele desenvolve um vínculo mais profundo com Clarice. Na festa de 14 de julho consuma-se a passagem ao ato, numa cena de sexo com sua mãe. Os estudos em psicanálise indicam que tal ato pode acarretar sérios problemas na idade adulta.
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