Um filme concebido num mundo atormentado pela tensão da guerra fria, transformando o maior temor das pessoas em uma realidade, vivida aqui pelos personagens. A terceira guerra é a metáfora que embala o filme. Se fosse feito hoje, penso que o pano de fundo facilmente seria a pandemia. As pessoas desesperadas com o perigo que ronda à volta, sem sair de casa. A sensação de que a morte nunca esteve tão perto. No fim das contas, são elementos que estão aí no filme: o medo da morte, a destruição e o renascimento. Um bom filme. Já vi o Stalker e tenho interesse em ver mais do Tarkovski.
Antes de assistir, fiquei me perguntando: Como Chaplin faria comédia com uma história de assassinato de mulheres? Fui com pouca expectativa e acabei completamente surpreendido com um ótimo filme, que além do humor, tem boas reflexões e críticas sociais - que permanecem muito atuais. Vendo pela história do lançamento, uma obra um tanto injustiçada que não teve sua apreciação à época e talvez por isso mesmo pouco falada.
Eu achava que Enter The Void era pesado. Só achava! Assistir filmes do Gaspar Noé é pura loucura. Sempre explorando o lado mais podre da humanidade, sem o mínimo de pudor. Não poupa o espectador hora nenhuma. Tem que ter estômago! É interessante notar como o realismo do filme se articula com uma espécie de onirismo: parece um daqueles pesadelos pesadíssimos que temos à noite e que, apesar de nos perturbar bastante, logo passa. Mas, antes fosse!
Em tempo: bom filme, mas dificilmente recomendável, rs. Direção genial, câmeras bêbadas e uma ótima sacada na forma de contar a história.
Pra quem não tá acostumado ainda com a linguagem artística do Jodorowsky, esse filme pode ser bem difícil, ainda mais se for a primeira experiência com o diretor. Apesar disso, com baixo orçamento e outras tretas, esse filme consegue ser uma grande realização e já dá pista de alguns elementos consagrados que viriam aparecer nos filmes seguintes e se constituir como marcas do cinema de Jodorowsky. Pra quem já adentrou esse universo surrealista, vale a pena. Sem dúvida, é um filme que dialoga muito com o inconsciente!
Apesar disso, é interessante notar que tal apreço pela estética, nesse caso, acabou sacrificando muito da veracidade da história, mesmo sabendo que esse não é o foco do filme em si. Temos uma família que mora no meio da floresta e isolada da sociedade capitalista, mas que mesmo assim, vestem as roupas da cidade, todas elas muito limpas e passadas; e todos com os cabelos cortados e bem tratados. Apesar dessa contradição, a estética aqui é muito interessante, lembrando a “Pequena Miss Sunshine”, até mesmo pelo estilo do filme no geral.
Mas, o grande forte da obra está mesmo no conflito dos padrões culturais entre a família nuclear (Ben e as crianças) e os parentes que residem na cidade. É nesse ponto que as melhores cenas se desenrolam e exploram o fato de como estilos de vida e pensamentos distintos filtram a percepção da realidade, criando padrões morais e ideológicos diferentes.
Apesar do filme ter toda essa aura fantástica, já impressa no próprio título da obra, a história revela que aqui não existem heróis e vilões. Ao contrário da interpretação de muitas pessoas que assistiram ao filme, não acho que exista de fato um grande enaltecimento de qualquer perspectiva ideológica sustentada pelos grupos de personagens aqui. Na verdade, todos eles, sem exceção, apresentam seus problemas que são apontados na trama.
Ben, apesar de ser um pai atencioso e presente, é falho em muitos momentos. Seus filhos sabem muito bem se virar na natureza, mas ao entrar em contato com o mundo externo, se atrapalham e se revelam extremamente ingênuos. Eles não tem qualquer acesso a outro referencial ideológico que não venha do próprio pai e acabam reproduzindo todas suas ideias e falas, que em alguns momentos chegam a ser bastante estereotipadas – com exceção de Rellian, que é quem começa a questionar os comportamentos e pensamentos do pai, rebelando-se e fazendo com que toda a sua noção de perfeição paterna caia por terra; e posteriormente, Bodevan, que pega carona na revolta do irmão mais novo e passa a defender seu desejo de ir para a universidade, optando pelo seu próprio estilo de vida.
Por outro lado, Ben não faz cerimônia, é explícito na educação das crianças e não deseja alimentar qualquer tipo de tabu, enquanto a família da cidade vive alimentando a ilusão de que precisa proteger as crianças a qualquer custo. Os pais fazem todo um malabarismo para falar de temas como a doença e a morte, e o excesso de mimos faz com que seus filhos se tornem verdadeiros pirralhos, sem qualquer conteúdo ou senso crítico sobre a realidade. Por outro lado, parecem estar relativamente mais preparados para interagir com o mundo social no qual estão inseridos, em comparação com as crianças de Ben.
Enfim, o desenvolvimento do filme prende bem à medida que os conflitos são expostos, mas no final acaba se perdendo em seus floreios e em seus contornos fantasiosos.
No geral, a vantagem desse filme é que dá pra sair muito suco da laranja! Dá pra abstrair muita coisa e gerar muita discussão, o que é muito positivo pra qualquer filme. No fim das contas, recomendo, vale a pena.
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O Sacrifício
4.3 147Um filme concebido num mundo atormentado pela tensão da guerra fria, transformando o maior temor das pessoas em uma realidade, vivida aqui pelos personagens. A terceira guerra é a metáfora que embala o filme. Se fosse feito hoje, penso que o pano de fundo facilmente seria a pandemia. As pessoas desesperadas com o perigo que ronda à volta, sem sair de casa. A sensação de que a morte nunca esteve tão perto. No fim das contas, são elementos que estão aí no filme: o medo da morte, a destruição e o renascimento. Um bom filme. Já vi o Stalker e tenho interesse em ver mais do Tarkovski.
Monsieur Verdoux
4.2 126 Assista AgoraAntes de assistir, fiquei me perguntando: Como Chaplin faria comédia com uma história de assassinato de mulheres? Fui com pouca expectativa e acabei completamente surpreendido com um ótimo filme, que além do humor, tem boas reflexões e críticas sociais - que permanecem muito atuais. Vendo pela história do lançamento, uma obra um tanto injustiçada que não teve sua apreciação à época e talvez por isso mesmo pouco falada.
Luzes da Cidade
4.6 624 Assista AgoraÉ interessante pensar como que um filme feito há quase um século consegue ainda permanecer tão cativante nos dias de hoje. Muito bom, viva a arte!
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraApesar de ser muito interessante, será que ninguém vai comentar sobre...
Que m**** de final ridículo foi aquele?
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraSensacional!
Irreversível
4.0 1,8K Assista AgoraEu achava que Enter The Void era pesado. Só achava!
Assistir filmes do Gaspar Noé é pura loucura. Sempre explorando o lado mais podre da humanidade, sem o mínimo de pudor. Não poupa o espectador hora nenhuma. Tem que ter estômago!
É interessante notar como o realismo do filme se articula com uma espécie de onirismo: parece um daqueles pesadelos pesadíssimos que temos à noite e que, apesar de nos perturbar bastante, logo passa. Mas, antes fosse!
Em tempo: bom filme, mas dificilmente recomendável, rs. Direção genial, câmeras bêbadas e uma ótima sacada na forma de contar a história.
Fando e Lis
3.9 61Pra quem não tá acostumado ainda com a linguagem artística do Jodorowsky, esse filme pode ser bem difícil, ainda mais se for a primeira experiência com o diretor. Apesar disso, com baixo orçamento e outras tretas, esse filme consegue ser uma grande realização e já dá pista de alguns elementos consagrados que viriam aparecer nos filmes seguintes e se constituir como marcas do cinema de Jodorowsky. Pra quem já adentrou esse universo surrealista, vale a pena. Sem dúvida, é um filme que dialoga muito com o inconsciente!
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraUm filme muito bom. Infelizmente, um pouco previsível em alguns momentos. Gostei muita da estética no geral, incluindo fotografia e figurinos.
Apesar disso, é interessante notar que tal apreço pela estética, nesse caso, acabou sacrificando muito da veracidade da história, mesmo sabendo que esse não é o foco do filme em si. Temos uma família que mora no meio da floresta e isolada da sociedade capitalista, mas que mesmo assim, vestem as roupas da cidade, todas elas muito limpas e passadas; e todos com os cabelos cortados e bem tratados. Apesar dessa contradição, a estética aqui é muito interessante, lembrando a “Pequena Miss Sunshine”, até mesmo pelo estilo do filme no geral.
Mas, o grande forte da obra está mesmo no conflito dos padrões culturais entre a família nuclear (Ben e as crianças) e os parentes que residem na cidade. É nesse ponto que as melhores cenas se desenrolam e exploram o fato de como estilos de vida e pensamentos distintos filtram a percepção da realidade, criando padrões morais e ideológicos diferentes.
Apesar do filme ter toda essa aura fantástica, já impressa no próprio título da obra, a história revela que aqui não existem heróis e vilões. Ao contrário da interpretação de muitas pessoas que assistiram ao filme, não acho que exista de fato um grande enaltecimento de qualquer perspectiva ideológica sustentada pelos grupos de personagens aqui. Na verdade, todos eles, sem exceção, apresentam seus problemas que são apontados na trama.
Ben, apesar de ser um pai atencioso e presente, é falho em muitos momentos. Seus filhos sabem muito bem se virar na natureza, mas ao entrar em contato com o mundo externo, se atrapalham e se revelam extremamente ingênuos. Eles não tem qualquer acesso a outro referencial ideológico que não venha do próprio pai e acabam reproduzindo todas suas ideias e falas, que em alguns momentos chegam a ser bastante estereotipadas – com exceção de Rellian, que é quem começa a questionar os comportamentos e pensamentos do pai, rebelando-se e fazendo com que toda a sua noção de perfeição paterna caia por terra; e posteriormente, Bodevan, que pega carona na revolta do irmão mais novo e passa a defender seu desejo de ir para a universidade, optando pelo seu próprio estilo de vida.
Por outro lado, Ben não faz cerimônia, é explícito na educação das crianças e não deseja alimentar qualquer tipo de tabu, enquanto a família da cidade vive alimentando a ilusão de que precisa proteger as crianças a qualquer custo. Os pais fazem todo um malabarismo para falar de temas como a doença e a morte, e o excesso de mimos faz com que seus filhos se tornem verdadeiros pirralhos, sem qualquer conteúdo ou senso crítico sobre a realidade. Por outro lado, parecem estar relativamente mais preparados para interagir com o mundo social no qual estão inseridos, em comparação com as crianças de Ben.
Enfim, o desenvolvimento do filme prende bem à medida que os conflitos são expostos, mas no final acaba se perdendo em seus floreios e em seus contornos fantasiosos.
No geral, a vantagem desse filme é que dá pra sair muito suco da laranja! Dá pra abstrair muita coisa e gerar muita discussão, o que é muito positivo pra qualquer filme. No fim das contas, recomendo, vale a pena.