Como diriam alguns estadunidenses: esta adaptação, assim como o conto original da Shirley Jackson - que foi publicado originalmente na revista "New Yorker" na década de 1940 e causou nas semanas seguintes uma revogação em massa das assinaturas da revista -, assusta porque é "so likely" em termos de alguns cotidianos e hábitos dos nossos irmãos do Norte.
Surpreendente, no mínimo. "Às vezes ele encontra um dia de felicidade [...]. Outras imagens se apresentam, se misturam, no museu que talvez seja o da sua memória".
O formato de montagem da narrativa do(s) filme(s)/fotografia(s), que parecem literalmente uma história em quadrinhos no qual as páginas folheiam-se por si, ao espectador; o roteiro, que não deixa nada a dever às obras de sci-fi que estouravam, desde os anos 1940, no mundo ocidental e que atraíam um público cada vez mais amplo em diversas mídias. A sensibilidade ao falar da memória e de suas permanências, mas também dos seus desafogos e buracos que se fazem presente em seu caminho construído. O figurino dos atores que, apesar de tão simples, passam uma sensação de "futuro-mas-não-tão-distante", que chega a encucar - e aterrorizar - quem assiste; a maestria de Chris Marker que, em um projeto tão ousado, faz cada "cena" ser realçada aos olhos, convidando cada um a montar as sequências que permeiam os espaços em branco dos quadrinhos deste pequeno-grandiosíssimo gibi de quase meia hora, e que constrói um "futuro" aterrorizante a partir de locais como a esquina de um grande centro urbano qualquer ou a pista de um aeroporto que, certamente, não precisa ser nominado.
O medo, tão latente principalmente na década de 1960, de um conflito mundial que, imbuído de um potencial nuclear altamente destrutivo a nível planetário, levou as discussões então restritas aos livros de ficção-científica e suas zines consumidas então por um nicho muito específico de leitores à ordem do dia de intelectuais e pensadores, grandes setores da mídia e mais espaços das demais "artes".
Tremenda distopia, e das mais tocantes, o tal do "La Jetée".
Escreve a romancista francesa Marguerite Yourcenar no curto artigo "Para onde vai a alma dos animais?", escrito em 1981 e presente no livro "O tempo, esse grande escultor":
"Narra um conto das Mil e Uma Noites que a Terra e os animais tremeram no dia em que Deus criou o homem. Esta visão admirável de poeta adquire um significado total para nós, que sabemos, bem melhor que o contista árabe da Idade Média, quanto a Terra e os animais tinham razão em tremer. [...] O cavalo, para um parisiense, não passa desse animal mitológico, dopado e arrastado além de suas forças, que nos faz ganhar algum dinheiro quando acertamos no páreo de um 'grande prêmio'. Exposta em fatias cuidadosamente envoltas em papel celofane num supermercado, ou conservada em latas, a carne [de cavalo] deixa de ser sentida como tendo sido a de um animal vivo. Ousamos mesmo dizer que nossos açougues, onde pendem de ganchos quartos de animais que mal se acabaram de abater, de aspecto tão atroz para quem não está acostumado a isso a ponto de certos amigos meus, estrangeiros, mudarem de calçada em Paris, quando os percebem de longe, talvez até sejam um bem, na medida em que testemunham a violência que o homem inflige aos animais".
Vi o curta do Gaspar Noé, em certeza, tem mais de ano; li esse textinho ontem. Impossível não se remeter ao universo cruento e, porque não, "realístico" (com todas as aspas e cautela inclusos ao termo) trazido em "Carne" por seu diretor.
Interessantíssima a proposta de uma crítica à sociedade e aos diversos padrões que nos cercam. ''O cinema da alma é também o mais exclusivamente atento às aparências, aquele onde o olhar tem mais importância'', já dizia o crítico de cinema André Bazin (1918-1958): ''Matheus'' é uma verdadeira ode ao eterno processo de resistência no qual estamos submetidos enquanto seres humanos do século XXI.
Vamos Falar do Brasil: Tortura
4.1 6"Diferentemente de outros períodos históricos, ninguém poderá dizer, a esta altura, que não sabe de nada"
Munchausen
3.6 17O silêncio como uma estratégia do diretor para trabalhar o
"egoísmo" constante, como disseram mais abaixo, da mãe para com o filho
Espetáculo.
The Lottery
4.1 1Como diriam alguns estadunidenses: esta adaptação, assim como o conto original da Shirley Jackson - que foi publicado originalmente na revista "New Yorker" na década de 1940 e causou nas semanas seguintes uma revogação em massa das assinaturas da revista -, assusta porque é "so likely" em termos de alguns cotidianos e hábitos dos nossos irmãos do Norte.
A Pista
4.5 185Surpreendente, no mínimo.
"Às vezes ele encontra um dia de felicidade [...]. Outras imagens se apresentam, se misturam, no museu que talvez seja o da sua memória".
O formato de montagem da narrativa do(s) filme(s)/fotografia(s), que parecem literalmente uma história em quadrinhos no qual as páginas folheiam-se por si, ao espectador; o roteiro, que não deixa nada a dever às obras de sci-fi que estouravam, desde os anos 1940, no mundo ocidental e que atraíam um público cada vez mais amplo em diversas mídias.
A sensibilidade ao falar da memória e de suas permanências, mas também dos seus desafogos e buracos que se fazem presente em seu caminho construído.
O figurino dos atores que, apesar de tão simples, passam uma sensação de "futuro-mas-não-tão-distante", que chega a encucar - e aterrorizar - quem assiste; a maestria de Chris Marker que, em um projeto tão ousado, faz cada "cena" ser realçada aos olhos, convidando cada um a montar as sequências que permeiam os espaços em branco dos quadrinhos deste pequeno-grandiosíssimo gibi de quase meia hora, e que constrói um "futuro" aterrorizante a partir de locais como a esquina de um grande centro urbano qualquer ou a pista de um aeroporto que, certamente, não precisa ser nominado.
O medo, tão latente principalmente na década de 1960, de um conflito mundial que, imbuído de um potencial nuclear altamente destrutivo a nível planetário, levou as discussões então restritas aos livros de ficção-científica e suas zines consumidas então por um nicho muito específico de leitores à ordem do dia de intelectuais e pensadores, grandes setores da mídia e mais espaços das demais "artes".
Tremenda distopia, e das mais tocantes, o tal do "La Jetée".
Carne
3.7 98Escreve a romancista francesa Marguerite Yourcenar no curto artigo "Para onde vai a alma dos animais?", escrito em 1981 e presente no livro "O tempo, esse grande escultor":
"Narra um conto das Mil e Uma Noites que a Terra e os animais tremeram no dia em que Deus criou o homem. Esta visão admirável de poeta adquire um significado total para nós, que sabemos, bem melhor que o contista árabe da Idade Média, quanto a Terra e os animais tinham razão em tremer.
[...] O cavalo, para um parisiense, não passa desse animal mitológico, dopado e arrastado além de suas forças, que nos faz ganhar algum dinheiro quando acertamos no páreo de um 'grande prêmio'. Exposta em fatias cuidadosamente envoltas em papel celofane num supermercado, ou conservada em latas, a carne [de cavalo] deixa de ser sentida como tendo sido a de um animal vivo. Ousamos mesmo dizer que nossos açougues, onde pendem de ganchos quartos de animais que mal se acabaram de abater, de aspecto tão atroz para quem não está acostumado a isso a ponto de certos amigos meus, estrangeiros, mudarem de calçada em Paris, quando os percebem de longe, talvez até sejam um bem, na medida em que testemunham a violência que o homem inflige aos animais".
Vi o curta do Gaspar Noé, em certeza, tem mais de ano; li esse textinho ontem. Impossível não se remeter ao universo cruento e, porque não, "realístico" (com todas as aspas e cautela inclusos ao termo) trazido em "Carne" por seu diretor.
Círculo Vicioso
3.8 2Olá indústria.
Matheus
5.0 1Interessantíssima a proposta de uma crítica à sociedade e aos diversos padrões que nos cercam.
''O cinema da alma é também o mais exclusivamente atento às aparências, aquele onde o olhar tem mais importância'', já dizia o crítico de cinema André Bazin (1918-1958): ''Matheus'' é uma verdadeira ode ao eterno processo de resistência no qual estamos submetidos enquanto seres humanos do século XXI.
Inside
4.4 120Ilha do Medo dos anos 2000
Doodlebug
3.8 138Inception da inception
The 3Rs
3.2 10Damn,isso foi legal.
É Hora de Viajar
4.1 71 Assista AgoraUma dica: apenas vejam em 3D.Sim,vale muito a pena.
Um Menino e Seu Átomo
3.9 38Science wins