O filme é muito bom, mas acho que há uma desvirtuação da mensagem antimilitar do "roteiro original", o livro homônimo de Erich Remarque lançado em 1929: em momento algum do livro
Paul recai na fúria militar no campo de batalha, como vemos na última parte
do filme, ao menos que me recorde.
A iniciativa desta nova versão volta-se mais à exploração dos combates nas trincheiras e no cotidiano na frente de batalha do que à exploração do "lugar psicológico" do soldado, algo mais presente nas primeiras versões cinematográficas e explorada a rodo pelo Remarque na obra. Achei muito interessante pôr em cena o Erzberger, um dos grandes da política alemã naquele momento em 1918 e que buscava a paz há anos, e o Hindemburgo, um dos comandantes alemães da frente Ocidental - fronteira Alemanha/França e Bélgica, como partes de um mesmo jogo: por um lado explorando os esforços de um pela paz, sujeito a provocações e sarcasmos pelo oponente francês, enquanto o outro, cercado de conforto e luxo, se assemelha a uma criança brincando com soldadinhos perto da fogueira. Senti falta de maiores explicações em off sobre ambos os personagens para o espectador, já que imagino que ambos sujeitos não sejam tão familiares ao público a ponto de jogá-los a esmo na narrativa.
o final infame relatório do dia na Frente, que é de onde retira-se o nome original do livro, "all quiet on Western front" ou "nada de novo no front" pra gente, no final.
Como um todo, é uma produção bem interessante: as atuações são convincentes, o enredo é interessante, e a construção de algumas cenas, com recursos como sobreposições e flashbacks, também me agradou. A
O problema é que não há clímax. O resultado final é de que estamos lendo uma matéria investigativa ou assistindo a uma reportagem de telejornal, em que estamos atentos para saber como as coisas se desenrolaram e não necessariamente o quê.
Talvez a melhor atuação de Harrison Ford na carreira após "A última cruzada" do Indiana Jones.
"Acima..." tem bem a vibe dos filmes do Pakula, aqueles tipos de thriller de burocracia como "Todos os homens..." e "A trama", em que o suspense se constrói na busca por determinado arquivo numa pilha de papéis ou nas estratégias em como explorar mais a fundo o testemunho daquela fonte chave.
A trama é muito bem construída, e a carga emocional que H. Ford entrega é coisa de maluco. Raul Julia também está muito bem, e o clímax na reta final é muito especial.
Um filme é muito bom quando ele te prende por quase 3hrs sem necessidade alguma de ação, apenas pelo próprio fio condutor da narrativa contada. Não deixa de ser divertido pensar como o JFK, à diferença do "Todos os homens..." por exemplo, não tem nem algo que chegue perto de um clímax: é a construção de ideias e de deslocamentos seguidos, uns em cima dos outros. Na direção, acho que isso se constata pelos cortes rápidos: são poucas as cenas mais longas (lembro a do julgamento de Clay já próximo ao fim), e muito interessante a sacada de pôr cortes rápidos que muitas vezes misturam gravações reais com as atuações dos atores. Menino esperto o Oliver Stone nessa produção.
Se nada disso interessa, vale pelo seguinte fato: ainda é um dos melhores exemplares do cinema-paranoia.
O Duna de Villeneuve é lindo, é fiel à obra do Frank Herbert, e é uma boa introdução ao universo, literalmente falando, que é a trajetória do Paul Atreides. Só há um problema, aqui: foi vendido como filme, quando na verdade tem toda a cara de primeiro episódio de uma série. Não temos
A faceta menos conhecida do Astor: o "Tubarão" sob as lentes da família, meio nova-iorquino e meio porteño, prodígio mas mal pago, destemperado mas dedicadíssimo aos estudos, um dos mais fiéis amigos de seu pai mas um pai, em parte, muito distante de seus filhos. Rico e contraditório, como suas próprias músicas. As imagens de acervo são belíssimas, e impactam (e me emocionaram) pela qualidade da restauração: os anos 1950 e 1960 nunca tiveram tanto movimento quanto vemos aqui. E é uma agradável surpresa saber que o Piazzolla foi mais um, dentre tantos, descoberto pelo Carlos Gardel no período estadunidense deste.
Revisto, e é incrível como o roteiro disso daqui dá um olé em todo esse cinema recente de super-heróis que, de uns quinze anos pra cá, só falam e focam em universos ou histórias "sombrias/adultas". A história é muito bem construída, a primeira "parte" do filme, e aqui penso até aquele momento pouco após o surgimento do Coringa propriamente dito, é uma boa trama policial, e não vemos nem de longe a ansiedade que boa parte dos filmes carregam hoje de querer apresentar trocentas coisas em espaços curtíssimos de tempo; os arcos se constroem mutuamente, com o (bom) arco do Knox/Vale, as tensões da comemoração do bicentenário de Gotham, a presença dos mafiosos no departamento de polícia da cidade, etc. O ponto negativo é o escanteamento do Harvey Dent, basicamente sem utilidade alguma na história inteira.
O grande pecado desse Batman são as cenas de ação com o próprio... Batman, mas perfeitamente explicável pelo fato do traje ser basicamente uma armadura: é até fácil encontrar entrevistas do Michael Keaton reclamando de como a roupa o deixava praticamente como um boneco não-articulado. Em compensação, e isso é realmente admirável, o Tim Burton criou uma série de parâmetros que diria que nenhum filme do universo de heróis alcançou depois - com exceção do Dick Tracy, talvez: um visual único que extrapola esse próprio nicho de cinema. Este Batman ainda traz a melhor Gotham, de um passado opulento mas em contínua decadência, o Coringa do Nicholson ainda é o Coringa mais fiel e com a identidade mais "afiada".
Gratíssima surpresa, que não deixa de ser um lembrete a todos aqueles que juram que nada do universo cinematográfico de heróis antes do Homem de Ferro se salva.
É o não-noir com cara de noir, e com um dos protagonistas com síndrome de Super-Homem hollywoodiano, ou "idealista" conforme dito tantas vezes, mais contraventores da história do cinema moderno.
Definitivamente não é um filme ruim. Parece um pouco deslocado pela construção dos personagens, mesmo já sendo um filme dos anos 1990 com toda a carga de violência que o cinema da década recebia herdado dos 80, mas lembrando um daqueles tantos filmes da Era de Ouro do cinema norte-americano. Porque "Firma" empurra, desde os primeiros segundos, o personagem perfeito, com a vida perfeita, construída em cima de suor e muito estudo e trabalho, e até
os segredos que poderiam comprometer a imagem de perfeição do personagem principal parecem, no fim,
não terem importância alguma. O gosto do agridoce, aqui no começo, chega é palatável, mas é um constrangimento que é gostoso de acompanhar. É o clichê bem feito, muitíssimo bem trabalhado.
Mitch é o self-made man perfeito: leal, compromissado, estudioso, batalhador. Impecável em público, domina também as situações no privado do lar. É o planejador perfeito, sempre um passo à frente de todos, sejam da Lei, sejam os sujos. É a cara do começo dos anos 90: não acredita no Estado de forma nenhuma, porque sabe que a justiça, em que pese ser uma das armas, não é o braço mais confiável do Leviatã. É a caricatura ideológica perfeita que cercava o início daquela década.
É um filme estranho: o Gus Van Sant quis tratar do isolamento do Blake-Kurt, mas transformou tudo numa grande sessão de passeio. Não sabemos os porquês: por que o Blake é/está assim? Por que um dos colegas, o Donovan, é evitado? O que "Últimos dias" quer passar, no fim?
Por evitar um lado mais material da coisa, "Últimos" vira um grande recorte de contemplação de ambientes, com a duração de pouco mais de hora e meia, em que Blake mal e mal é parte de uma paisagem, do qual está presente apenas fisicamente, quase como um borrão nas tomadas amplas da natureza, quase como um móvel que calça pantufas e usa óculos escuros coloridos no interior de quartos, cozinha, da estufa. Blake mal fala, e quando se comunica o faz por balbucios, frases incompletas, um abnegado social. Evita contatos pessoais, evita as ligações de telefone, se sente apto para sentar junto -não conversar- com o vendedor das páginas amarelas (interpretado por um vendedor real, diga-se), e o mais próximo que estabelece de comunicação é com uma executiva de gravadoras, aqui interpretada pela Kim Gordon, ex-Sonic Youth e amiga pessoal do Kurt na vida real. Gus parece que escolhe o caminho mais fácil pra contar a história: o dos clichês; não há saída pro Blake porque quem o cerca não liga pra ele, e tudo o mais parece não fazer sentido segundo "Últimos". É o pior dos niilismos, aquele mais barato.
Mas, em parte por escolher este caminho, algumas passagens de "Últimos" são lindíssimas à perspectiva do espectador -em que pese no que a história se baseia, evidentemente: a última jam praticada em estúdio, em que um Blake isolado arranha uns acordes, engana com umas letras mal-arranjadas, dá um pouco do tom daquilo que deve ter sido o último exercício criativo do Kurt. E, claro,
o encontro do jardineiro com o corpo de Blake na estufa, largado no chão ao modo daquelas tantas sonecas do personagem que acompanhamos ao longo do "Últimos", mas que já está morto, em que acompanhamos o espírito/alma ou o diabo que seja fazendo um último esforço para sumir do plano, nu e livre, sem ao menos uma olhada para aquilo que deixou no plano terrestre.
A nota que o filme tem aqui talvez assuste quem queira ver, mas não é pra tanto. Só não iria com tanta sede pra não se decepcionar: porque "Últimos", do mesmo modo que o "Elefante" do mesmo diretor, é uma história visualmente bonita, mas muito mal-contada, de um acontecimento real.
Lindo porque expõe como absolutamente tudo numa sociedade, da economia aos planejamentos sociais, das grandes obras arquitetônicas à casa de um contrabandista, de um povo lido majoritariamente (de forma errônea) enquanto homogêneo ao indivíduo - ou três, como aqui mais em específico - à parte dos meios urbanos e aparentemente à distância das decisões centrais de um governo qualquer, pode se transformar de uma forma muito drástica num espaço curto de tempo, para o bem ou para o mal.
É curioso porque um documentário tão majoritariamente good-vibes como este do Jon Alpert deixa algumas reflexões muito interessantes, independentemente de nacionalidade e temporalidades. As lições desse documentário, pelo menos pra mim, evidentemente, são: conseguimos criar consciência dessas transformações cotidianas e imparáveis que também nos atingem? Somos capazes de construir uma consciência minimamente histórica, que explica menos pra onde vamos, mas, e principalmente, como chegamos aonde estamos? E, a exemplo de
Tem um charme excessivamente brega? Sim, mas até aí tudo normal em um desses filmes recentes do Woody Allen. Mas, por ser justamente um filme recente do Woody Allen, não imaginava encontrar toda a dose de poesia que "Meia-noite em Paris" carrega. Poesia nem pela presença
não-imaginária de todos os grandes personagens das artes
no filme, que fizeram Paris ter o imaginário - artístico/intelectual - que carrega ainda hoje, mas pelas próprias ideias de Gil sobre seu romance e seu personagem principal, o sujeito completamente afundado no pior dos passados: aqueles de nostalgia.
Se pensar direitinho, é a história do V de Vingança na perspectiva de um burocrata incomodado com a condição pobre -moralmente falando, não financeira- dele mesmo.
Talvez seja um dos filmes mais melancólicos da última década porque explore o sujeito que tem o talento, o conhecimento do mundo ao redor, os contatos, mas simplesmente parece estar... fora de época, ou fora de moda, e com a cabeça um tanto perturbada.
É um filme tão irônico que percebemos na última cena no Gaslight que
o novato que se apresenta naquele momento é o Bob Dylan,
um sujeito que compartilha, ou compartilhava até aqueles começos de 1960, de muito dos sonhos, trejeitos, e objetivos que o próprio Davis carregava consigo. Mas com um diferencial: irá estourar, enquanto o coitado do descendente de galeses-que-não-parece-galês parece fadado, muito por ações próprias, àquela rotina, tão bem construída e que parece um círculo, mas com diferenças pontuais em certas fases, ao qual somos apresentados.
Não deixa de ter uma certeza beleza poética o "arco" do gato:
me pareceu ali uma representação da turbulência que são os relacionamentos que o Davis cria, e que não consegue manter.
Como é um filme basicamente sobre derrotas, não deixa de ser quase uma terapia. É como se os irmãos Coen tivessem optado por levar ao cinema aquela última estrofe de um dos primeiros sucessos do incipiente "rival" do Davis: "the vagabond who's rapping at your door is standing in the clothes that you once wore/ strike another match, go start anew and it's all over now, Baby Blue"
Por menos que gostemos, por mais que seja difícil, há a necessidade de mudanças. Caso contrário, seremos ressentidos, prisioneiros numa estrada autodestrutiva que nem o Davis, esse Baby Blue.
Os Assassinatos de Starved Rock
3.6 5Ótimo documentário, mas ainda acho que é um vacilo gigantesco o
de não aguardar o resultado dos exames de DNA que acabaram por não bater com os de Chester Weger.
A Verdadeira História do Roubo do Século
3.5 6"En barrio de ricachones
sin armas ni rencores
es solo plata y no
amores"
Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraO filme é muito bom, mas acho que há uma desvirtuação da mensagem antimilitar do "roteiro original", o livro homônimo de Erich Remarque lançado em 1929: em momento algum do livro
Paul recai na fúria militar no campo de batalha, como vemos na última parte
A iniciativa desta nova versão volta-se mais à exploração dos combates nas trincheiras e no cotidiano na frente de batalha do que à exploração do "lugar psicológico" do soldado, algo mais presente nas primeiras versões cinematográficas e explorada a rodo pelo Remarque na obra.
Achei muito interessante pôr em cena o Erzberger, um dos grandes da política alemã naquele momento em 1918 e que buscava a paz há anos, e o Hindemburgo, um dos comandantes alemães da frente Ocidental - fronteira Alemanha/França e Bélgica, como partes de um mesmo jogo: por um lado explorando os esforços de um pela paz, sujeito a provocações e sarcasmos pelo oponente francês, enquanto o outro, cercado de conforto e luxo, se assemelha a uma criança brincando com soldadinhos perto da fogueira. Senti falta de maiores explicações em off sobre ambos os personagens para o espectador, já que imagino que ambos sujeitos não sejam tão familiares ao público a ponto de jogá-los a esmo na narrativa.
E ah, que PECADO não inserir
o final infame relatório do dia na Frente, que é de onde retira-se o nome original do livro, "all quiet on Western front" ou "nada de novo no front" pra gente, no final.
O Expresso da Meia-Noite
4.1 476 Assista AgoraMeu coração quase pulou pra fora quando
na última cena, com o Hayes já saído do complexo, se encurva e anda constrangido quando vê um caminhão militar vindo em sua direção.
O Desconhecido
3.1 64 Assista AgoraComo um todo, é uma produção bem interessante: as atuações são convincentes, o enredo é interessante, e a construção de algumas cenas, com recursos como sobreposições e flashbacks, também me agradou. A
degradação psicológica
operação policial
Henry tem um passado de crimes
O problema é que não há clímax. O resultado final é de que estamos lendo uma matéria investigativa ou assistindo a uma reportagem de telejornal, em que estamos atentos para saber como as coisas se desenrolaram e não necessariamente o quê.
Acima de Qualquer Suspeita
3.6 102 Assista AgoraTalvez a melhor atuação de Harrison Ford na carreira após "A última cruzada" do Indiana Jones.
"Acima..." tem bem a vibe dos filmes do Pakula, aqueles tipos de thriller de burocracia como "Todos os homens..." e "A trama", em que o suspense se constrói na busca por determinado arquivo numa pilha de papéis ou nas estratégias em como explorar mais a fundo o testemunho daquela fonte chave.
A trama é muito bem construída, e a carga emocional que H. Ford entrega é coisa de maluco. Raul Julia também está muito bem, e o clímax na reta final é muito especial.
Matilda: O Musical
3.6 155 Assista AgoraQUE FILMINHO LINDO BIXO
Ressurreição: Retalhos de um Crime
3.6 151 Assista AgoraCronemberg de padre foi o motivo do meu colapso, doutor.
JFK: A Pergunta Que Não Quer Calar
3.9 157 Assista AgoraUm filme é muito bom quando ele te prende por quase 3hrs sem necessidade alguma de ação, apenas pelo próprio fio condutor da narrativa contada. Não deixa de ser divertido pensar como o JFK, à diferença do "Todos os homens..." por exemplo, não tem nem algo que chegue perto de um clímax: é a construção de ideias e de deslocamentos seguidos, uns em cima dos outros. Na direção, acho que isso se constata pelos cortes rápidos: são poucas as cenas mais longas (lembro a do julgamento de Clay já próximo ao fim), e muito interessante a sacada de pôr cortes rápidos que muitas vezes misturam gravações reais com as atuações dos atores. Menino esperto o Oliver Stone nessa produção.
Se nada disso interessa, vale pelo seguinte fato: ainda é um dos melhores exemplares do cinema-paranoia.
Licorice Pizza
3.5 597A outra face da mesma moeda de Vício Inerente.
Cosmópolis
2.7 1,0K Assista Agora106 minutos de nada.
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraO Duna de Villeneuve é lindo, é fiel à obra do Frank Herbert, e é uma boa introdução ao universo, literalmente falando, que é a trajetória do Paul Atreides.
Só há um problema, aqui: foi vendido como filme, quando na verdade tem toda a cara de primeiro episódio de uma série. Não temos
desfechos ou clímaxs
Negócio Arriscado
3.3 192 Assista AgoraJoel,
o anti-herói
Piazzolla: Os Anos do Tubarão
4.5 6A faceta menos conhecida do Astor: o "Tubarão" sob as lentes da família, meio nova-iorquino e meio porteño, prodígio mas mal pago, destemperado mas dedicadíssimo aos estudos, um dos mais fiéis amigos de seu pai mas um pai, em parte, muito distante de seus filhos. Rico e contraditório, como suas próprias músicas.
As imagens de acervo são belíssimas, e impactam (e me emocionaram) pela qualidade da restauração: os anos 1950 e 1960 nunca tiveram tanto movimento quanto vemos aqui. E é uma agradável surpresa saber que o Piazzolla foi mais um, dentre tantos, descoberto pelo Carlos Gardel no período estadunidense deste.
Batman
3.5 831 Assista AgoraRevisto, e é incrível como o roteiro disso daqui dá um olé em todo esse cinema recente de super-heróis que, de uns quinze anos pra cá, só falam e focam em universos ou histórias "sombrias/adultas". A história é muito bem construída, a primeira "parte" do filme, e aqui penso até aquele momento pouco após o surgimento do Coringa propriamente dito, é uma boa trama policial, e não vemos nem de longe a ansiedade que boa parte dos filmes carregam hoje de querer apresentar trocentas coisas em espaços curtíssimos de tempo; os arcos se constroem mutuamente, com o (bom) arco do Knox/Vale, as tensões da comemoração do bicentenário de Gotham, a presença dos mafiosos no departamento de polícia da cidade, etc. O ponto negativo é o escanteamento do Harvey Dent, basicamente sem utilidade alguma na história inteira.
O grande pecado desse Batman são as cenas de ação com o próprio... Batman, mas perfeitamente explicável pelo fato do traje ser basicamente uma armadura: é até fácil encontrar entrevistas do Michael Keaton reclamando de como a roupa o deixava praticamente como um boneco não-articulado.
Em compensação, e isso é realmente admirável, o Tim Burton criou uma série de parâmetros que diria que nenhum filme do universo de heróis alcançou depois - com exceção do Dick Tracy, talvez: um visual único que extrapola esse próprio nicho de cinema. Este Batman ainda traz a melhor Gotham, de um passado opulento mas em contínua decadência, o Coringa do Nicholson ainda é o Coringa mais fiel e com a identidade mais "afiada".
Gratíssima surpresa, que não deixa de ser um lembrete a todos aqueles que juram que nada do universo cinematográfico de heróis antes do Homem de Ferro se salva.
A Firma
3.4 179 Assista AgoraÉ o não-noir com cara de noir, e com um dos protagonistas com síndrome de Super-Homem hollywoodiano, ou "idealista" conforme dito tantas vezes, mais contraventores da história do cinema moderno.
Definitivamente não é um filme ruim. Parece um pouco deslocado pela construção dos personagens, mesmo já sendo um filme dos anos 1990 com toda a carga de violência que o cinema da década recebia herdado dos 80, mas lembrando um daqueles tantos filmes da Era de Ouro do cinema norte-americano. Porque "Firma" empurra, desde os primeiros segundos, o personagem perfeito, com a vida perfeita, construída em cima de suor e muito estudo e trabalho, e até
os segredos que poderiam comprometer a imagem de perfeição do personagem principal parecem, no fim,
É o clichê bem feito, muitíssimo bem trabalhado.
Mitch é o self-made man perfeito: leal, compromissado, estudioso, batalhador. Impecável em público, domina também as situações no privado do lar. É o planejador perfeito, sempre um passo à frente de todos, sejam da Lei, sejam os sujos. É a cara do começo dos anos 90: não acredita no Estado de forma nenhuma, porque sabe que a justiça, em que pese ser uma das armas, não é o braço mais confiável do Leviatã.
É a caricatura ideológica perfeita que cercava o início daquela década.
Últimos Dias
2.9 348 Assista AgoraÉ um filme estranho: o Gus Van Sant quis tratar do isolamento do Blake-Kurt, mas transformou tudo numa grande sessão de passeio. Não sabemos os porquês: por que o Blake é/está assim? Por que um dos colegas, o Donovan, é evitado? O que "Últimos dias" quer passar, no fim?
Por evitar um lado mais material da coisa, "Últimos" vira um grande recorte de contemplação de ambientes, com a duração de pouco mais de hora e meia, em que Blake mal e mal é parte de uma paisagem, do qual está presente apenas fisicamente, quase como um borrão nas tomadas amplas da natureza, quase como um móvel que calça pantufas e usa óculos escuros coloridos no interior de quartos, cozinha, da estufa.
Blake mal fala, e quando se comunica o faz por balbucios, frases incompletas, um abnegado social. Evita contatos pessoais, evita as ligações de telefone, se sente apto para sentar junto -não conversar- com o vendedor das páginas amarelas (interpretado por um vendedor real, diga-se), e o mais próximo que estabelece de comunicação é com uma executiva de gravadoras, aqui interpretada pela Kim Gordon, ex-Sonic Youth e amiga pessoal do Kurt na vida real.
Gus parece que escolhe o caminho mais fácil pra contar a história: o dos clichês; não há saída pro Blake porque quem o cerca não liga pra ele, e tudo o mais parece não fazer sentido segundo "Últimos". É o pior dos niilismos, aquele mais barato.
Mas, em parte por escolher este caminho, algumas passagens de "Últimos" são lindíssimas à perspectiva do espectador -em que pese no que a história se baseia, evidentemente: a última jam praticada em estúdio, em que um Blake isolado arranha uns acordes, engana com umas letras mal-arranjadas, dá um pouco do tom daquilo que deve ter sido o último exercício criativo do Kurt. E, claro,
o encontro do jardineiro com o corpo de Blake na estufa, largado no chão ao modo daquelas tantas sonecas do personagem que acompanhamos ao longo do "Últimos", mas que já está morto, em que acompanhamos o espírito/alma ou o diabo que seja fazendo um último esforço para sumir do plano, nu e livre, sem ao menos uma olhada para aquilo que deixou no plano terrestre.
A nota que o filme tem aqui talvez assuste quem queira ver, mas não é pra tanto. Só não iria com tanta sede pra não se decepcionar: porque "Últimos", do mesmo modo que o "Elefante" do mesmo diretor, é uma história visualmente bonita, mas muito mal-contada, de um acontecimento real.
Cuba e o Cameraman
4.4 107 Assista AgoraLindo porque expõe como absolutamente tudo numa sociedade, da economia aos planejamentos sociais, das grandes obras arquitetônicas à casa de um contrabandista, de um povo lido majoritariamente (de forma errônea) enquanto homogêneo ao indivíduo - ou três, como aqui mais em específico - à parte dos meios urbanos e aparentemente à distância das decisões centrais de um governo qualquer, pode se transformar de uma forma muito drástica num espaço curto de tempo, para o bem ou para o mal.
É curioso porque um documentário tão majoritariamente good-vibes como este do Jon Alpert deixa algumas reflexões muito interessantes, independentemente de nacionalidade e temporalidades.
As lições desse documentário, pelo menos pra mim, evidentemente, são: conseguimos criar consciência dessas transformações cotidianas e imparáveis que também nos atingem? Somos capazes de construir uma consciência minimamente histórica, que explica menos pra onde vamos, mas, e principalmente, como chegamos aonde estamos? E, a exemplo de
Lilo,
Meia-Noite em Paris
4.0 3,8K Assista AgoraTem um charme excessivamente brega? Sim, mas até aí tudo normal em um desses filmes recentes do Woody Allen.
Mas, por ser justamente um filme recente do Woody Allen, não imaginava encontrar toda a dose de poesia que "Meia-noite em Paris" carrega. Poesia nem pela presença
não-imaginária de todos os grandes personagens das artes
Brazil, o Filme
3.8 401 Assista AgoraSe pensar direitinho, é a história do V de Vingança na perspectiva de um burocrata incomodado com a condição pobre -moralmente falando, não financeira- dele mesmo.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraÉ quase como o Augusto dos Anjos escreveu no Cismas do Destino: "a noite fecundava o ovo dos vícios animais".
Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
3.8 529 Assista AgoraTalvez seja um dos filmes mais melancólicos da última década porque explore o sujeito que tem o talento, o conhecimento do mundo ao redor, os contatos, mas simplesmente parece estar... fora de época, ou fora de moda, e com a cabeça um tanto perturbada.
É um filme tão irônico que percebemos na última cena no Gaslight que
o novato que se apresenta naquele momento é o Bob Dylan,
Mas com um diferencial: irá estourar, enquanto o coitado do descendente de galeses-que-não-parece-galês parece fadado, muito por ações próprias, àquela rotina, tão bem construída e que parece um círculo, mas com diferenças pontuais em certas fases, ao qual somos apresentados.
Não deixa de ter uma certeza beleza poética o "arco" do gato:
me pareceu ali uma representação da turbulência que são os relacionamentos que o Davis cria, e que não consegue manter.
Como é um filme basicamente sobre derrotas, não deixa de ser quase uma terapia. É como se os irmãos Coen tivessem optado por levar ao cinema aquela última estrofe de um dos primeiros sucessos do incipiente "rival" do Davis:
"the vagabond who's rapping at your door
is standing in the clothes that you once wore/
strike another match, go start anew
and it's all over now, Baby Blue"
Por menos que gostemos, por mais que seja difícil, há a necessidade de mudanças. Caso contrário, seremos ressentidos, prisioneiros numa estrada autodestrutiva que nem o Davis, esse Baby Blue.
Burroughs
3.9 2Burroughs ri, em certos momentos do documentário. E isso já basta.
Deus da Carnificina
3.8 1,4KO véio Polanski realmente curte um teatrão em tela grande, né