Fantástico pela remasterização e recuperação das gravações em vídeo da década de 1950 e 1960. Há passagens que parecem, literalmente, gravada por atores, e demorei certo tempo para perceber que era um material digitalizado e totalmente reelaborado. Filmagens do Brasil de fins da década de 1950 são maravilhosas, e esse aspecto técnico é digno de exaltação.
Infelizmente, é um documentário "homenagem". Muito romantismo, pouca crítica. Com exceção de Paulo César Caju, todos os outros convidados passam um pano monstro pro homem Edson Arantes do Nascimento. Claro que, por ser um documentário cujo objeto é uma única pessoa, os holofotes se voltam todos ao Pelé. Porém, senti falta de um pouco de luz aos demais companheiros: em nenhum momento, por exemplo, se cita o nome "Garrincha" no documentário inteiro.
A passagem sobre a ditadura militar, tão comentada pela mídia e crítica especializada, nem acrescenta muita novidade. Antes, o que me chamou a atenção foi como o Pelé
Filmaço. Aponta uma narrativa que desromantiza grande parte do mito das Forças Armadas alemãs, quando da Guerra Mundial, que construía todos os seus soldados como loucos e cegos fanáticos pela fúria nazista.
Essa humanização em "Das boot", somada à qualidade de se contar uma história de mais de três horas sobre um grupo pequeno de pessoas trancafiado num submarino - o que, acho, não é absolutamente nada fácil para um roteirista e diretor com tal responsabilidade -, me conquistaram.
Enfadonho e chato, como qualquer novela aristocrática; curiosamente, e pelos mesmos fatores, também por isso belíssimo.
Me pareceu Scorsese mirando "Barry Lyndon" do Kubrick, em certos momentos. As passagens da "Época da Inocência" em que vemos a transição de pinturas/fotografias à "realidade" são lindas, assim como toda a construção dessa NY que, apesar de em um país abertamente democrático e federal do "we the people", para alguns do além-mar ainda era um reduto nobre tão luxuoso quanto aqueles de Nice, Lausanne ou Londres.
Infelizmente, achei super cansativo em certos momentos. O respiro final, como
quando se aventa até uma possibilidade de assassinato May por Newland
, até dá uma energia, mas nada que me salvou muito numa avaliação geral.
Em certo momento, a narradora do filme informa sobre a casa da vovó (e também de seus cachorrinhos) Manson Mingott que, incrustada numa metrópole cada vez mais de linhas modernas e de massa, ela parecia ter sua mobília e arquitetura retirada dos velhos contos franceses, lidos e verdadeira moda da alta casta da nobreza europeia daqueles momentos. Esse poderia ser, em certas proporções, até o comentário geral sobre "Época".
Cansativo, mas belo; luxuoso, mas também dispensável em grandes partes.
Estava lendo uma crônica escrita pela Rachel de Queiroz, no tempo em que a cearense escrevia para alguns jornais do Rio de Janeiro naqueles anos de pós-guerra. No texto "Viagem à Europa", foi impossível lê-lo e não lembrar de toda a narrativa do "Vá e Veja".
Escreve Rachel, ao refletir sobre toda a destruição do continente, como "ainda há as crianças, Senhor, as crianças, todo o maltratado mundo de crianças nevrosadas pela guerra, tornadas adultas antes do tempo, semifamintas ou totalmente famintas". "Crianças que vagueiam pelos campos escavacados, pelas ruínas povoadas de fantasmas, que não esperam de ninguém nem comida nem carinho, crianças nascidas na guerra e para as quais a paz entre os homens é uma estranha novidade", conforme escreve.
É uma atividade imaginativa estranhíssima - e forte - a de ponderar o que foi a vida dos tantos Floryas, jovens treinados à força pelo instinto mais baixo e bárbaro de sobrevivência pelas circunstâncias criadas pelos nazistas, e mesmo o seu futuro num país -e vida - escorraçado. "Não sei qual a tremenda lição que a nós, de tão longe e relativamente tão bem amparados ainda, nos daria essa visão da Europa. Talvez nos ensinasse um novo heroísmo; e talvez também nos contagiasse do seu desespero", conclui a cearense.
Forma um complemento interessante com o "Da 5 Bloods" do Spike Lee, lançado neste nosso ano. Como alguns comentaram mais abaixo, Oliver Stone aborda como um processo sequencial de mentiras, voltadas ao ao corpo jovem de uma sociedade, comprometeu uma geração inteira numa guerra. Afinal, embebeceu muitos que, embalados por um popular anticomunismo e pela promessa de levar a civilização à Ásia (quase uma repaginação contemporânea estadunidense do famoso "fardo do homem branco"), não hesitaram em atender ao "chamado do dever" ocidental pela "liberdade", e que no fim só seriam encaminhados à morte e mutilação.
Infelizmente, "Nascido..." pra mim se destaca - e muito - por sua primeira parte. Acho que a construção da infância do Ron Kovic certamente mexeu muito, à época, com boa parte dos estadunidenses que o assistiram. Afinal, é a típica imagem vendida da família nuclear norte-americana: brancos, classe média (baixa), casinha de subúrbios, muitas crianças na mesma família, pai veterano, encontro com colegas num dinner e coisas do tipo. Inclusive, logo no início, temos a grande cena que já vale o filme inteiro: naquelas salinhas apertadas, toda uma família reunida assiste, na TV pequenininha, a declaração de guerra lida pelo John Kennedy ao Vietnã do Norte. Vemos, nos olhos da mãe, se atiçarem o desejo de ver seu filho, ainda novo, num lugar importante ao lado do presidente dos EUA; e notamos também a esperança e compreensão de boa parte daqueles que estão ao lado do presidente, como Jackie Kennedy, Nixon e um já idoso Ike Eisenhower, serem recepcionadas muito positivamente, e de forma acrítica, pela família de espectadores do outro lado
Empolgação de uma nação, antes do conflito, que logo se tornará em apreensão, terror e depressão para muitos daqueles convocados pelo draft, que pegarão a longa viagem para os confins asiáticos numa luta contra um inimigo desconhecido em um ambiente igualmente estranho.
No mais, todo o resto me pareceu ter muito potencial não desenvolvido. Por exemplo, o enfermeiro negro Willie, aberto às causas dos direitos civis e anti-guerra, ou mesmo o irmão Tommy, um fã de Bob Dylan que parece sempre acanhado quando ao lado do irmão retornado do conflito, poderiam ter sido muito melhor aproveitados. O que não quer dizer que não exista boas cenas e diálogos, claro.
Fotografia maravilhosa.Por outro lado, chatíssimo. A narrativa é tão confusa quanto o cotidiano daqueles que estão sendo abordados no Tempelhof, o que, no fim, também pode ter sido a intenção.
Num mural de esquina, um grande painel entrega maiores informações sobre a demografia daquele bairro. Grafitados em parte alta do muro estão homens de feições latino-americanas e negros, e bandeiras de diversos países também estão ali representadas na arte: lembro da bandeira da Jamaica, de Porto-Rico e de uma outra nação que, provavelmente, deve ser do Sudeste Asiático. "Do the right thing", entretanto, não se passa em nenhuma dessas nações. Na verdade, o mural se encontra no Brooklyn, dos maiores bairros de Nova Iorque, e mais: não em qualquer localidade dessa Big Apple. É em Bedford-Stuyvesant, ou Bed-Stuy para os mais íntimos, onde a história será contada. Sim, eu sei que você também notou, onde o Chris mora. E, já em seus primeiros minutos de "Faça...", Spike Lee ousa mostrar ao que veio.
A cena inicial, que poderíamos chamar de abertura, já expõe o recado de que o que estamos pra ver aqui não é lá muito convencional. Ao som de Fight the power, do Public Enemy, escutamos que "Elvis was a hero to most, but he never meant shit to me [...], straight up racist that sucker was, simple and plain. mother fuck him and John Wayne", enquanto uma mulher, de feições "sudacas", enfia punchs e jabs e, também, se traveste nas roupas do Rei do Rock enquanto executa passos de dança na frente daqueles típicos apartamentos nova-iorquinos de classes baixas. Não é só um filme sobre identidade ou resistência que teremos, é o aviso passado. É sobre uma convivência étnica que, se tem tons pacíficos e amenos em certos pontos dentro daqueles elementos ali presentes, até com pitadas de comédia e do bonachão cotidiano, também pode explodir de modo incontrolável quando o peso daquilo que alguns chamam de "estruturas-de-poder" literalmente baixa nessa área, ganhando tons cada vez mais descontroláveis justamente por um elemento: o racismo.
Curiosamente, o S. Lee opta pelo não-convencional pra contar, em boa parte das duas horas, um dia na vida daqueles sujeitos. É meio que a proposta de Ulisses, do James Joyce, transportada pro cinema. Só que, se na proposta joyciana a odisseia do Leopold Bloom nos parece um tanto distantes (me refiro, nesse ponto, ao narrar da história), em "Faça..." sentimos uma aproximação quase que natural das situações apresentadas. Por exemplo, não me diga que na sua rua não há velhos como ML ou Sweetie Dick Willie, ou mesmo aquele "sujeito lerdo", para ficarmos numa expressão usada aqui, como o Smile, ou até aqueles que, por andarem em grupo constantemente, lembram mais integrantes de uma gangue, como a frequentada por um jovem Martin Lawrence aqui?
É a riqueza social trabalhada num recorte espacial extremamente curto. Nesse bairro de maioria negra, ouvimos o radialista gritar "wake up!", lemos jornais (até em espanhol!) vendidos, observamos Mookie se arrastar pra mais um dia de trabalho na pizzaria do Sal, e porto-riquenhos realizarem batalhas de som com um sujeito negro de quase dois metros de altura. Mas nos é jogado a parte suja desse convívio. Piadas com os donos orientais da mercearia, que têm dificuldade ainda na língua anglófona, mas que "ou são geniais" por terem feito um comércio dar muito certo ali - ou "os negões" de Bed-Stuy que são muito burros, conforme alentado - estão presentes. Assim como a desconfiança de um sujeito de ascendência italiana, filho do proprietário da pizzaria local. E, aqui, temos uma das melhores cenas da vida:
centralizados, fundo parado, e cada escolhido de uma etnia desse bolo nova-iorquina que tá ali escorraça, sem papas na língua, "o outro". São os policiais detonando aqueles pobres da área, Mookie xingando os italianos, e um revoltado Pino despejando todo o seu ódio racial.
Uma conversa franca mesmo, pra mostrar que nem Spike Lee está à distância do que (infelizmente, ainda) é dito, e nem que "Faça..." se encontra num pedestal que não traga como a coisa é, em termos linguísticos, na nossa vida real de todo dia.
O personagem de J. Turturro, Pino, pra mim acaba sendo uma das figuras essenciais pro filme. Não só pelo roteiro que o Lee o entregou, mas pela atuação que faz lembrar sempre aquele sujeito que todo mundo conhece. "Olha, não é que não goste de negro", como chega a afirmar, ou, quando confrontado com aquelas figuras negras de sucesso, que se sae com um "they aren't really black". A resposta de Mookie, inclusive, parece válida até hoje: "nós começamos a civilização".
E é espantoso como a cena derradeira é, literalmente, quase um retrato do que ainda presenciamos. Numa escalonada de situações, um negro,
aquele lá gigante, o Raheem, é sufocado por policiais. Erguido pelo pescoço com um cassetete, em meio a gritos do bairro inteiro que via, sem acreditar, no que estava se desenrolando, o cara do som stereo perde a vida e, como um saco de batatas, é arremessado - morto - na calçada.
o garoto, chegam a gritar. Pelo despreparo policial e sua inconsequência desastrosa, Bed-Stuy estoura em revolta, e o peso todo da já comentada "estrutura-de-poder" vem, magistralmente, à tona. Quase uma aula de sociologia.
"Burn it down" vira o grito de guerra. Você com certeza viu coisa semelhante mês atrás, naquela reta final de Maio. Nesse momento, inclusive, várias insurreições populares, como essa do Brooklyn, vêm correndo soltas por aí, talvez na sua cidade até. Naquele mural étnico, que comentei no início, uma frase acima das artes do grafite: "Bed-Stuy - do or die". Um chamado, mais que um lema, dos nossos tempos.
Confesso que me irritou, como filme, por alguns escapes clichês em certos pontos. Temos o casal que vive da literatura, de passado acadêmico e presente novelista, com o filho turbulento, os questionamentos da atividade; temos também o indivíduo externo a isso tudo que vem e, como uma cobrinha, solta umas peçonhas aqui e acolá que causam um terremoto nessa pequena pirâmide familiar.Temos flashbacks que se sobrepõe a algumas atividades do "presente", um joguinho porco de câmeras às vezes - Estocolmo vista de cima, como enchimento de linguiça - e coisinhas do tipo.
Mas tem diálogos memoráveis. Sobre família, atividade profissional, relações, traições,
Diria que "Esposa" quase tocou aquele potencial pra ser um clássico, daqueles que marcam época mesmo. Como não é, fica como uma excelente pedida, um tremendo alerta sobre o mercado editorial e o meio universitário e um retrato que nem é tão estranho àqueles que, de um modo ou de outro, escolhem e vivem de escrever. Afinal o mundo não tá cheio só de gente chata e sem criatividade, como diria C. Bukowski. Tá entupido de ghostwriters também.
Não caiam na conversa de alguns empolgados mais abaixo. Nicole Kidman não salva esse filme. Ele todo é capenga, arrastado, sem gancho e vida. Artificial, tenta criar um ambiente típico de suspense que não encanta em momento algum. Tramas superficiais (Shelby, o "pai" da Shelby) tomam boa conta de boa parte do "Destroyer", e antes parecem muito mais aqueles parágrafos que você bate o olho e jura que é enrolação da parte do autor. Tomadas clichês de L. A, como skatistas numa ruela debaixo da ponte, dinners imundos, presença latina (mecânicos, traficantes, gângsters) nas ruas imundas da Califórnia, etc.
Mas ele vai ficar marcado pra mim porque é o primeiro filme em muito tempo que me lembro de ter a N. Kidman numa atuação fraquíssima. O que, por si só, é uma façanha da parte da direção.
Decepcionante, e pra dizer o mínimo. E já adianto que, como fã-boy safado dos dois primeiros, nem esperava mais que uma avaliação mediana própria disso aqui. Mas me surpreende como, quando você acha que eles não conseguem, alguém tem a capacidade de enfiar mais uma facada e rodar ela no que restou do "Exterminador". O que é uma pena pra franquia. Sem pensar em comparações, os dois primeiros são fantásticos: uma boa história, um thriller ótimo no primeiro, um clássico monstro do cinema ação-brucutu no segundo, sempre resta algum tico de esperança de que alguém com boas intenções e ideias possa resgatar o fiapo de dignidade e fazer algo nem digno, mas minimamente palatável desse universo. Bizarramente, o "Salvação" pra mim passa na média de final de ano. Todo o restante não, e esse aqui incluso. Na verdade, o "Destino Sombrio" todo é digno de pena. O retorno da Sarah Connor é literalmente triste e não funciona, as protagonistas não tem carisma, o Arnoldão volta parecendo um sapo inchado, o roteiro não tem pé nem cabeça e temos furos a rodo.
Mas deixando de implicar: "Destino Sombrio" é raso - e burro. Como explicar
o surgimento da Legion? Ou como pensar por que AQUELE futuro da Skynet não ocorreu?
E o pior ainda tava por vir: a explicação do porquê o Exterminador "original" virou aquele redneck mequetrefe expõe a preguiça com que os responsáveis pensaram esse filme. É impressionante como isso daqui não agrada nem os fãs ardorosos e nem aqueles que, simplesmente, esperavam um bang-bang pra se divertir à toa. Pouquíssimas cenas empolgam, e aqui fica o registro daquela tomada nas casas de detenção de imigrantes - que em particular lembra, minimamente, os bons momentos shooter do 2 -, e nem as investidas cômicas ou de flashback funcionam.
Pessoalmente, colocaria no mesmo nível (horroroso) do 3. E o pior é imaginar como todos os furos desse aqui provavelmente vão alimentar, por um bom tempo ainda, mais facadas como essa na franquia. Esse Exterminador deveria ser, para o bem de toda a cronologia, o canto - feio e rouco - do cisne. Mas parece que, e me dando a liberdade de fazer um trocadilho tão ruim quanto o filme, um destino muito sombrio ainda nos aguarda.
Que doidera: ele dá uma escalonada bem cedo, constrói uma narrativa clichêzona sob um certo ângulo dá situação até dar um twist inicial e fecha tudo com um TWIST DUPLO CARPADO bem inesperado.
Eu diria que se não fosse uma produção de orçamento mediano aos padrões atuais (5 milhões de Trumps, segundo o Google) e se estivesse em mãos um pouco mais experientes que a do J. Edgerton, poderia dar um caldo até mais grosso. O dedo do Joel parece que caiu melhor no roteiro que na direção e na atuação - esta última bem mediana, pra mim. De todo modo, não deixa de ser uma surpresa.
Não diria que é uma "cinebiografia", como posto na sinopse aqui. O recorte escolhido pelo Stanley Tucci pega, poderíamos dizer, os últimos meses de vida do Alberto Giacometti e, mais em específico, seu processo de criação do retrato de James Lord no ano de 1964 em Paris.
É um bom filme, se pensarmos em termos de duração e roteiro. Aborda muito bem o processo criativo do A. Giacometti - por mais que não pareça, ao fim, tão criativo, bem como alguns aspectos de seu cotidiano nesta fase final de carreira. Pra quem sofre com ansiedades, transtornos e se cobra bastante pelos próprios trabalhos, poderia dizer até que me identifiquei com o artista (mesmo que, infelizmente, me falte os milhões).
Filme muito simpático, no fim das contas. A cena de negociação
Das maiores definições de "enlatado americano" que vi recentemente. Pior é assistir e pensar como isso poderia facilmente ser um episódio daquelas séries que o pessoal curtia tanto há uns 15 anos atrás, como Cold Case, CSI ou NCIS.
Infelizmente, super rápido. Me surpreende conseguir entrevistas com gente de peso dentro do cenário musical para entregar algo tão raso. Como Lucas disse logo abaixo, falta quase que o básico. Discordo só do material: a equipe do B. Oakes até conseguiu. O que faltou foi literalmente desenvolvimento.
Triste, porque a história do Robert Johnson é espetacular, vista sob quaisquer ângulo: questões de etnia, do Sul violento e racista estadunidense, do blues desenvolvido e da gigantesca influência legada ao soul, ao rock e a tantos outros gêneros musicais. Aqui a Netflix ficou devendo. E muito.
A cena toda é muito simbólica: num bar típico do sudeste asiático, em que mesas longas e tábuas que servem como cadeiras lutam por um espaço próprio e artificial contra rios e árvores da natureza vietnamita, dois estrangeiros conversam e flertam. Ele, negro e estadunidense, e ela loirinha, francesa. Ambos jovens. Ela, Hedy Bouvier, solta uma frase incauta e curta, mas que pode simplesmente ressoar em qualquer recorte, cenário ou época da história humana: "uma guerra nunca acaba para os envolvidos".
"Destacamento Blood" é um filme sobre o Vietnã, é verdade. Mas a sinopse para por aí, e me atrevo em ir mais além: são mais de duas horas e meia não apenas sobre as experiências de uma guerra devastadora a todos os envolvidos, mas que também se voltam ao como memórias sobre esta se transformam. E Spike Lee, numa ascendente de qualidade fodida desde o "Infiltrado na Klan", desenvolve de modo primoroso o jogo que propôs. Se acompanhamos, na maior parte das vezes, os quatro amigos idosos que retornam ao país asiático para buscar os restos de Norm - líder e quinto integrante do esquadrão Blood, falecido em combate -, também somos jogados
flashbacks, me perguntei "mas porra, eles estão reencenando o conflito lá ou algo do tipo?", e só com o decorrer fui me tocar da sacada genial que permeia "Destacamento". Ao vermos Paul, Otis, Eddie e Melvin já velhos e idosos lutando na guerra, o que temos ali não é o factual.
São lembranças. Imponentes e invencíveis, incansáveis e letais, verdadeiras máquinas da morte, estes senhores assim leem sua participação no conflito. Mesmo contra jovens vietnamitas escondidos em escarpas montanhosas ou nas florestas, nada, absolutamente nada pode parar eles. Idade como problema? Não para o Esquadrão Blood.
Mas, ora só, lembranças muitas vezes são criadas, (re)transformadas, embaralham e jogam com a memória - e, por suposto, com aquilo que realmente se passou. Quando
os companheiros (e David) se veem envoltos em dificuldades no interior da floresta - e após acharem os restos de Norm, o ouro, os franceses e vietnamitas malandros, quase que tudo ao mesmo tempo -, vemos a idade voltar a ser descarregada nos ombros de cada um, e a partir daí sim acompanhamos o desenrolar
da construção memoriográfica dessa situação. É uma jogada muito bem sacada, essa de "Destacamento". Um destes senhores, que ainda literalmente se alimenta e vive só por suas lembranças, diz que Deus disse para ele que "fodam-se os filhos da puta". O que
Paul não esperava é que, em seus momentos finais, tudo o que realmente aconteceu naquele campo de batalha nos anos 1970 voltasse com tanta força sobre ele: quando um inimigo vietnamita entra num perímetro aliado, Paul o destroça com uma rajada de metralhadora e atinge, também,o
camarada Norm - o mais politizado, progressista, líder dos Blood. "Nosso Malcom [X] e Martin [Luther King]", conforme um dos velhos veteranos.
No mais, boas sacadas e "citações" muito bem feitas são realizadas aqui. Em uma tomada em um rio caudaloso, numa transição do urbano para o rural, ouvimos a "Cavalgada das Valquírias" tocando. Porém, os estadunidenses que retornam aos rios do Vietnã não buscam e caçam minas marítimas, mas sim afastam fios de eletricidade com tênis presos neles. O barquinho, inclusive, carrega uma bandeira do Estado comunista vietnamita, com sua inconfundível estrela num fundo vermelho em destaque. O que embala o ambiente não é mais um radinho de pilha que toca Marvin Gaye, Aretha ou Rolling Stones. O som ao redor é de comerciantes barulhentos, que insistem na venda de frutas, aves, quinquilharias - e que também não se esquecem do que ocorreu ali pouco mais de quarenta anos atrás.
No fim, e assim como o "Apocalypse Now" de F. F. Coppola que marcou uma geração pelo seu Kurtz balbuciando sobre um certo "horror", "Destacamento Blood" traz sua readaptação quando um Otis, centralizado pela câmera e deitado no chão, fala sobre um tal de "madness". Quase que inerente àquele palco, a "loucura" de Lee se torna tão marcante e presente quanto o "horror" (nunca apresentado, de fato) kurtziano. Puro inferno na Terra, foi o Vietnã. Mas Spike Lee também é muito hábil em mostrar que o inferno não está apenas ali, à distância e num país tropical e fodido qualquer: sem exclusividade territorial, pode mesmo estar "dentro de casa", em próprio território natal, onde eventos e situações deixam marcas tão profundas quanto as feridas de batalha ou os destroços do psicológico acumulados pelo combate. E, mais que isso, são antes sociais e mesmo estruturais. Nesse ponto, a descoberta dos Blood
"São donas-de-casa ricas que têm por única ocupação a busca por culturas esotéricas". Obrigado pela nova definição da minha vida, Woody. Mas sem o "rich", claro.
Nunca uma tradução brasileira foi tão fiel ao que é o filme. Ponto altíssimo pra trilha sonora, que parece daqueles rpgs cyberpunks antigaços de SNES (alô, Shadowrun), e por (alguns) diálogos interessantes, como os do hospital entre um James fodidaço e uma Catherine repentinamente filosófica - e que sempre tirará uma frase de efeito nos cenários mais inimagináveis possíveis a partir daí.
Como não li o livro, acho que me sinto como o pessoal que assistiu o Vício Inerente do Paul Thomas Anderson, baseado no homônimo de Thomas Pynchon, e ficou boiando tanto o quanto eu fiquei após terminar aqui. Curiosamente, em que pese os destaques gráficos pras maquiagens (próteses e cicatrizes à rodo) e pros cenários de batidas e destruição, acho que é o Cronenberg menos Cronenberg que vi até agora.
Fico imaginando a tarefa hercúlea do diretor de elenco aqui, responsável por convencer e juntar essa galera pra um filme com esse roteiro. E destaque, claro, pra um James Spader que ainda surfava no auge da carreira e que parecia destinado a ser um dos grandes em Hollywood pós-Abaixo de Zero e Stargate.
Foi terminar "O homem do prego" e lembrar, quase que automaticamente, de alguns poemas do Jerzy Ficowski. Como Sol, Ficowski foi também um sobrevivente da barbárie nazista nos campos - além de ter sido um resistente polonês, mas não judeu. Também como Sol, enfrentou dificuldade em expor as memórias do que viu sobre o extermínio.
No seu "Epitáfio do morto em vida", Ficowski escreve: "Acossado, temeu mortalmente por longos cinco anos esta lua do fígado que lhe alumiava por dentro com gelo
Este mar morto dos alentos no qual sem afundar se cobria com sal de desesperança
Temia mortalmente o livro de Moisés, a dezena de seus dedos e o crespo Monte Sinai de medo mas sobreviveu
Mas sobreviveu a si mesmo".
Foi como um morto em vida, um "morto-vivo" - como um personagem o troça -, que Sol (e tantos outros) passou o resto de sua vida: a longa espera do desejo de uma morte que virá não quando ele quer, mas que virá quando ele menos esperar.
Um pouquinho confuso por certos cortes e tomadas de cenas, mas que se explica pela pretensão de dar um "punch" diferente dos demais filmes do gênero. "Paraíso" é belíssimo. Pela fotografia em preto-e-branco e pela fidelidade estética naquilo em que fez de tema, já que circula desde delegacias parisienses aos campos de extermínio nazistas, e por aquilo que Bandine comentou mais abaixo e que entendo por "humanização" de uma História, "Paraíso" lhe toca no íntimo pelo não-comum dos filmes sobre o drama da caçada humana perpetrada pelos nazistas.
Como o Bandine fez o comentário definitivo, queria comentar só como dos três arcos narrativos, foi o de Helmut o que mais me surpreendeu. Não pela questão de "jovens com formação acadêmica" que se enfiaram de cabeça nas loucuras do nazismo, e que aqui é tão bem debatido numa de suas ~entrevistas~ no miolo de "Paraíso", nem pela disciplina arraigada no trato com seus pares e prisioneiros no campo. Isso, até em veículos midiáticos mais amplos, já recebiam uma atenção especial. Mas além da prova destas hipocrisias de crença, me pegou pelo contrapé ver num personagem uma assunção do Übermensch pelo pensamento nazista. Distorcido e vilipendiado do significado original, do Nietzsche, vemos aqui no "Paraíso" como na prática esta categoria filosófica foi, por sua adaptação, literalmente transformada numa crença quase utópica na "imortalidade germânica" ou em merdas racistas do tipo.
Não confiem nesta média baixa do Filmow. Isso aqui vale uma chance e, pra professores, é quase uma mina de ouro para usos em sala e debates dos mais diversos tipos, do Fundamental ao meio acadêmico.
Suspensão rápido, direto ao ponto, entupido de furos (como um pessoal aqui até já comentou), cortadas muito rápidas em termos de roteiro/história e uma história-base que no fim nem faz muito sentido.
Mas o que me impressionou mesmo é como o molequinho é A CARA do Jake Gyllenhaal.
Revi, e só reafirmo meu amor por todo o filme. Da introdução de um Johnny maldosamente irônico com a irmã, com a icônica "eles estão vindo te pegar, Bárbara", até ao cabaré improvisado que é um bocado de gente com personalidade diferente aprendendo (ou não) a se lidarem enquanto o mundo lá fora está literalmente virado pelo avesso.
Além, claro, das entradas jornalísticas por rádio e tevê. Minha favorita, inclusive, ainda é a do incrédulo repórter de tevê afirmar como "reports, incredible as they may seem, are not the results of mass hysteria".
Em um dos momentos mais turbulentos que uma pessoa pode passar na vida, em que todos os sintomas de um puta burnout de trabalho, da difícil situação de uma distância afetiva e social com outros sujeitos e em que uma doença carcome, aos poucos, sua mãe, um dos melhores ouvintes de Margherita é um ator falastrão e picareta de quinta categoria trazido Deus sabe de onde do fim dos EUA: "Titus, Lucretius... o que serão de todos eles? De todos aqueles livros?". É o desabafo, aqui sobre o conhecimento e seu aporte material, os livros, que poderão se esvair ou perder significado com a morte de sua mãe, uma idosa professora de latim. Ela é dita em pleno set, pouco antes da filmagem de uma cena. Pá-pum: super rápida, mensagem jogada na cara - como tem de ser, diria.
"Minha mãe" me parece um filme, antes, mais sobre o lidar com as agruras que surgem em uma determinada etapa da vida. E esse é um ponto curioso: apesar de toda a questão envolvendo a mãe presente, é em torno do amplo círculo social de Margherita que ele se desenrola. Como não leio sinopses geralmente antes de ver filmes, por vezes caio totalmente nas mãos da montagem deles. Aqui, demorei a perceber até onde sonhos, realidade, amores e pensamentos distintos surgem, se estabelecem e terminam. De uma
jovem Margherita, que dá de cara com sua "velha eu" abruptamente na fila de um cinema
, até a alguns recortes que perpassam "bem ao lado" dos personagens (para ficarmos na palavra da nossa diretora), como as cenas de seu irmão no escritório de advocacia ou como boa parte das cenas com Vittorio e Lívia, fazem o produto final que "Minha mãe" é um tanto confuso. Além do mais, a construção de alguns destes personagens, no fim, nem chegam perto do impacto que notamos que Nani Moretti queria passar. Ou, caso você queira ser mais poético, podemos interpretar que neste quesito o filme simplesmente traz um pouco desse recorte do que é uma vida para ele: atribulada, à distância, enervante, com pitadas de grosseria, rápidas.
Por outro lado, gostei muito dos recortes sobre as atividades e o dia-a-dia no set com Margherita. Desde a cena inicial, em que acompanhamos as filmagens de um filme no qual operários invadem uma fábrica, passando por policiais violentos (mas sem armas de fogo ou balas de borracha - aprende, Brasil) e jatos d'água, até ao cotidiano estressante do figurino, escolhas de elenco, maquiagem... Por sinal, destaque à cena da coletiva de imprensa: babacão como é, o ator importado direto da América puxa pra si (e à força) todos os holofotes, mente nas suas respostas, faz caras e bocas, se diverte à beça. Margherita, no entanto, está quase que completamente absorta, alheia, distante; todas as perguntas parecem a mesma, todos os jornalistas parecem iguais, todos ao lado dela ali na mesa lembram aquelas pecinhas velhas do Lego: em que pese uns mais cheinhos ou altos, todos e tudo exatamente iguais. E é este o grande destaque aqui, ao menos pra mim: é John Turturro, que parece interpretar este estadunidense típico - galanteador, arrogante, metido a centro do universo e que foi "dispensado por S. Kubrick -, que me roubou as atenções. Alguns episódios, como o da cantina, o citado inicialmente ou o do jantar com a família da diretora, ganham uma pitada maravilhosa "de cores" com a presença do Barry.
Infelizmente, não achei o "Minha mãe" tão bom quanto outros do próprio N. Moretti. O que não significa, é claro, que seja ruim. Apesar de tudo isso que comentei, a sensibilidade dele voa altíssimo, e é isto que me irá fazer recordar dele daqui pra frente.
Super interessante a proposta do "Bom dia, Babilônia": ao mesmo tempo em que é um relato da dura vida dos imigrantes - aqui italianos - nos Estados Unidos de começos do século XX, também funciona como um belo retrato, colorido, alegre e mesmo romântico, da indústria cinematográfica hollywoodiana.
Na vida real encontramos casos semelhantes aos de Nicola e Andrea: como breve exemplo, o pai do quadrinista Will Eisner (o mestre dessa arte, nome do maior prêmio oferecido aos seus profissionais) tem paralelos que bem poderiam ser aos dos irmãos Bonanno; se Shmuel Eisner fora, na sua Áustria natal, um habilidoso pintor, na sua nova vida americana exerceria a mesma profissão... mas com paredes. Afinal, não raro trabalhos degradantes e de péssimas condições são entregues a duras penas, ainda hoje, até mesmo àqueles sujeitos que em sua terra natal destacavam-se pela habilidade na manufatura e no ofício de suas profissões e em outras artes. Se duvida disso, faça um experimento social e converse com um imigrante (ou descendente) na sua cidade: pelo menos um exemplo deste tipo este lhe contará.
Mas o curioso de "Bom dia" é que, até mais ou menos aos 60% de filme, o desenvolvimento da proposta e do roteiro se desenvolve de maneira justa. A narrativa é muitíssimo bem amarrada, temos cenas maravilhosas - como as dos irmãos estupefatos, próximo a uma linha de trem, com o perigo que correram com o avanço deste sob sua carroça enquanto dormiam - e o encontro desta primeira proposta, de uma narrativa sobre a dura vida daqueles que tentaram a sorte na América, com aquela outra sobre o glamour e a crescente opulência do cinema em Hollywood é feita da maneira mais correta possível. Quase como se não sentíssemos, nos damos conta que passamos a acompanhar também a feitura de um clássico do cinema mundial neste mesmo filme: o "Intolerância", do (já) polêmico D. W. Griffith que, anos antes, fizera a Bíblia visual estadunidense: "O nascimento de uma Nação".
O problema é que, nestes 40% restantes, a maionese desanda: além destas duas histórias, temos a inclusão da Primeira Guerra Mundial e da
de Andrea e Nicola a serem contadas nesta mesma produção de duas horas fechadas. Se "Bom dia, Babilônia" era super-coeso, justo e afinado até aqui, agora vira uma correria, desengonçado e apressado. Mas ainda assim bonito; em que pese a pressa e o "fast-foward" apertado na condução da história, a cena final é, também por sua ironia, belíssima.
Ainda assim, prefiro ficar com a proposta das duas primeiras narrativas apresentadas que, por si só, já funcionariam sem estes acréscimos posteriores.
Acho que muito já foi dito sobre o "Bohemian Rhapsody". Fazendo uma analogia com o Queen, se o Freddie Mercury dizia que "minha voz vem da energia da plateia", já que "quanto melhor ela for, melhor eu fico", fica válido pensar como "Bohemian" foi feito pra ser assistido no cinema com todo o canto, choro, emoção e o poder da música que a banda passava. Um filme, antes, feito para a participação ativa de seu público. Foi um método um tanto preguiçoso? Bem, pra mim sim - em partes; afinal, recortar os
trinta minutos finais do filme e compor como sendo a apresentação no Live Aid
foi bem canhestro, apesar de toda a empolgação e emoção que suscita pra qualquer um que assista.
Mas como tudo isso já foi dito pelo público (até nos comentários do Filmow, mais antigos) e pela crítica, queria só levantar como o "Bohemian" poderia ter sido menos "romântico" do que foi. Alguém pode até dizer: "porra bixo, tu jura que a Fox iria jogar 52 milhões de Trumps pro Bryan Singer fazer um puta filme crítico que ousasse arranhar a imagem da banda e dos integrantes, até por contar com dois deles na produção do filme e justo num momento em que a banda havia retomado o mínimo de atividades e buscava um novo espaço pra um novo público num novo século"?
Bem, não diria desconstruir, mas pelo menos apresentar algumas situações próximas do que realmente foram - e aqui penso até como produto, filme pronto mesmo. Por exemplo: é sabido que a aproximação de F. Mercury com B. May e Roger Taylor teve um intermediário; aliás, mais que um intermediário, um amigo mesmo. Tim Staffell foi quem levou o ainda Farrokh Bulsara para conhecer Taylor e May, e a partir daí o processo se deu. O que quero dizer é: apresentar o Staffell como um puta personagem genérico que simplesmente quitou do Smile quando bem quis e como se não tivesse relevância nenhuma no negócio é meio foda. Em termos de drama, um pouquinho poderia ter sido acrescentado na história, e não custa lembrar que este foi apenas um exemplo: ao longo de "Bohemian" várias situações que destoam bastante do que (provavelmente) ocorreu são apresentadas.
Mas em que pese estas distâncias ficcionais da liberdade criativa do roteirista/diretores/produtores, pra mim o "Bohemian" conseguiu passar um pouco da magia que a banda teve. Não achei, como alguns chegaram a comentar na época de lançamento, que o filme desprezava os outros integrantes, por exemplo.
E só pra fechar o comentário e mostrar como a metodologia e escolhas musicais do Queen, que são exemplarmente encontradas na feitura da música homônima ao filme e que mistura ópera, rock e delírios de grandiosidade e mixórdia em pouco mais de 6 minutos, eram recepcionadas à época, cito um trecho de uma reportagem do Mikal Gilmore que, aqui no Brasil, saiu na Rolling Stone n°95 de 2014: "Quando o grupo [Queen] estava gravando em um estúdio ao lado do Sex Pistols, Sid Vicious perguntou a Mercury: 'Então você é o tal de Freddie Platinum [piadinha com o sobrenome 'Mercúrio'] que está levando balé para as massas?' Ao que o vocalista respondeu: 'Ah, senhor Ferocious [outra piadinha com sobrenome, agora do Vicious]. Estamos fazendo nosso melhor, querido'."
Porra, Bryan Singer: se tu meteu um carinha interpretando o Bob Geldof, bem que poderia ter dramatizado essa situação do encontro dos dois aí também.
Pelé
3.6 77Fantástico pela remasterização e recuperação das gravações em vídeo da década de 1950 e 1960. Há passagens que parecem, literalmente, gravada por atores, e demorei certo tempo para perceber que era um material digitalizado e totalmente reelaborado. Filmagens do Brasil de fins da década de 1950 são maravilhosas, e esse aspecto técnico é digno de exaltação.
Infelizmente, é um documentário "homenagem". Muito romantismo, pouca crítica. Com exceção de Paulo César Caju, todos os outros convidados passam um pano monstro pro homem Edson Arantes do Nascimento.
Claro que, por ser um documentário cujo objeto é uma única pessoa, os holofotes se voltam todos ao Pelé. Porém, senti falta de um pouco de luz aos demais companheiros: em nenhum momento, por exemplo, se cita o nome "Garrincha" no documentário inteiro.
A passagem sobre a ditadura militar, tão comentada pela mídia e crítica especializada, nem acrescenta muita novidade. Antes, o que me chamou a atenção foi como o Pelé
não queria disputar a Copa de 1970, e foi objeto de uma intervenção direta do próprio governo ditatorial à disputa da competição.
O Barco: Inferno no Mar
4.2 175 Assista AgoraFilmaço. Aponta uma narrativa que desromantiza grande parte do mito das Forças Armadas alemãs, quando da Guerra Mundial, que construía todos os seus soldados como loucos e cegos fanáticos pela fúria nazista.
Essa humanização em "Das boot", somada à qualidade de se contar uma história de mais de três horas sobre um grupo pequeno de pessoas trancafiado num submarino - o que, acho, não é absolutamente nada fácil para um roteirista e diretor com tal responsabilidade -, me conquistaram.
A Época da Inocência
3.5 249 Assista AgoraEnfadonho e chato, como qualquer novela aristocrática; curiosamente, e pelos mesmos fatores, também por isso belíssimo.
Me pareceu Scorsese mirando "Barry Lyndon" do Kubrick, em certos momentos.
As passagens da "Época da Inocência" em que vemos a transição de pinturas/fotografias à "realidade" são lindas, assim como toda a construção dessa NY que, apesar de em um país abertamente democrático e federal do "we the people", para alguns do além-mar ainda era um reduto nobre tão luxuoso quanto aqueles de Nice, Lausanne ou Londres.
Infelizmente, achei super cansativo em certos momentos. O respiro final, como
quando se aventa até uma possibilidade de assassinato May por Newland
Em certo momento, a narradora do filme informa sobre a casa da vovó (e também de seus cachorrinhos) Manson Mingott que, incrustada numa metrópole cada vez mais de linhas modernas e de massa, ela parecia ter sua mobília e arquitetura retirada dos velhos contos franceses, lidos e verdadeira moda da alta casta da nobreza europeia daqueles momentos.
Esse poderia ser, em certas proporções, até o comentário geral sobre "Época".
Cansativo, mas belo; luxuoso, mas também dispensável em grandes partes.
Vá e Veja
4.5 754 Assista AgoraEstava lendo uma crônica escrita pela Rachel de Queiroz, no tempo em que a cearense escrevia para alguns jornais do Rio de Janeiro naqueles anos de pós-guerra. No texto "Viagem à Europa", foi impossível lê-lo e não lembrar de toda a narrativa do "Vá e Veja".
Escreve Rachel, ao refletir sobre toda a destruição do continente, como "ainda há as crianças, Senhor, as crianças, todo o maltratado mundo de crianças nevrosadas pela guerra, tornadas adultas antes do tempo, semifamintas ou totalmente famintas".
"Crianças que vagueiam pelos campos escavacados, pelas ruínas povoadas de fantasmas, que não esperam de ninguém nem comida nem carinho, crianças nascidas na guerra e para as quais a paz entre os homens é uma estranha novidade", conforme escreve.
É uma atividade imaginativa estranhíssima - e forte - a de ponderar o que foi a vida dos tantos Floryas, jovens treinados à força pelo instinto mais baixo e bárbaro de sobrevivência pelas circunstâncias criadas pelos nazistas, e mesmo o seu futuro num país -e vida - escorraçado.
"Não sei qual a tremenda lição que a nós, de tão longe e relativamente tão bem amparados ainda, nos daria essa visão da Europa. Talvez nos ensinasse um novo heroísmo; e talvez também nos contagiasse do seu desespero", conclui a cearense.
Nascido em 4 de Julho
3.7 243 Assista AgoraForma um complemento interessante com o "Da 5 Bloods" do Spike Lee, lançado neste nosso ano. Como alguns comentaram mais abaixo, Oliver Stone aborda como um processo sequencial de mentiras, voltadas ao ao corpo jovem de uma sociedade, comprometeu uma geração inteira numa guerra.
Afinal, embebeceu muitos que, embalados por um popular anticomunismo e pela promessa de levar a civilização à Ásia (quase uma repaginação contemporânea estadunidense do famoso "fardo do homem branco"), não hesitaram em atender ao "chamado do dever" ocidental pela "liberdade", e que no fim só seriam encaminhados à morte e mutilação.
Infelizmente, "Nascido..." pra mim se destaca - e muito - por sua primeira parte. Acho que a construção da infância do Ron Kovic certamente mexeu muito, à época, com boa parte dos estadunidenses que o assistiram. Afinal, é a típica imagem vendida da família nuclear norte-americana: brancos, classe média (baixa), casinha de subúrbios, muitas crianças na mesma família, pai veterano, encontro com colegas num dinner e coisas do tipo.
Inclusive, logo no início, temos a grande cena que já vale o filme inteiro: naquelas salinhas apertadas, toda uma família reunida assiste, na TV pequenininha, a declaração de guerra lida pelo John Kennedy ao Vietnã do Norte. Vemos, nos olhos da mãe, se atiçarem o desejo de ver seu filho, ainda novo, num lugar importante ao lado do presidente dos EUA; e notamos também a esperança e compreensão de boa parte daqueles que estão ao lado do presidente, como Jackie Kennedy, Nixon e um já idoso Ike Eisenhower, serem recepcionadas muito positivamente, e de forma acrítica, pela família de espectadores do outro lado
Empolgação de uma nação, antes do conflito, que logo se tornará em apreensão, terror e depressão para muitos daqueles convocados pelo draft, que pegarão a longa viagem para os confins asiáticos numa luta contra um inimigo desconhecido em um ambiente igualmente estranho.
No mais, todo o resto me pareceu ter muito potencial não desenvolvido. Por exemplo, o enfermeiro negro Willie, aberto às causas dos direitos civis e anti-guerra, ou mesmo o irmão Tommy, um fã de Bob Dylan que parece sempre acanhado quando ao lado do irmão retornado do conflito, poderiam ter sido muito melhor aproveitados.
O que não quer dizer que não exista boas cenas e diálogos, claro.
"Deus está tão morto quanto minhas pernas"
Aeroporto Central
3.4 7 Assista AgoraFotografia maravilhosa.Por outro lado, chatíssimo.
A narrativa é tão confusa quanto o cotidiano daqueles que estão sendo abordados no Tempelhof, o que, no fim, também pode ter sido a intenção.
Faça a Coisa Certa
4.2 398Num mural de esquina, um grande painel entrega maiores informações sobre a demografia daquele bairro. Grafitados em parte alta do muro estão homens de feições latino-americanas e negros, e bandeiras de diversos países também estão ali representadas na arte: lembro da bandeira da Jamaica, de Porto-Rico e de uma outra nação que, provavelmente, deve ser do Sudeste Asiático.
"Do the right thing", entretanto, não se passa em nenhuma dessas nações. Na verdade, o mural se encontra no Brooklyn, dos maiores bairros de Nova Iorque, e mais: não em qualquer localidade dessa Big Apple. É em Bedford-Stuyvesant, ou Bed-Stuy para os mais íntimos, onde a história será contada. Sim, eu sei que você também notou, onde o Chris mora.
E, já em seus primeiros minutos de "Faça...", Spike Lee ousa mostrar ao que veio.
A cena inicial, que poderíamos chamar de abertura, já expõe o recado de que o que estamos pra ver aqui não é lá muito convencional. Ao som de Fight the power, do Public Enemy, escutamos que "Elvis was a hero to most, but he never meant shit to me [...], straight up racist that sucker was, simple and plain. mother fuck him and John Wayne", enquanto uma mulher, de feições "sudacas", enfia punchs e jabs e, também, se traveste nas roupas do Rei do Rock enquanto executa passos de dança na frente daqueles típicos apartamentos nova-iorquinos de classes baixas.
Não é só um filme sobre identidade ou resistência que teremos, é o aviso passado. É sobre uma convivência étnica que, se tem tons pacíficos e amenos em certos pontos dentro daqueles elementos ali presentes, até com pitadas de comédia e do bonachão cotidiano, também pode explodir de modo incontrolável quando o peso daquilo que alguns chamam de "estruturas-de-poder" literalmente baixa nessa área, ganhando tons cada vez mais descontroláveis justamente por um elemento: o racismo.
Curiosamente, o S. Lee opta pelo não-convencional pra contar, em boa parte das duas horas, um dia na vida daqueles sujeitos. É meio que a proposta de Ulisses, do James Joyce, transportada pro cinema. Só que, se na proposta joyciana a odisseia do Leopold Bloom nos parece um tanto distantes (me refiro, nesse ponto, ao narrar da história), em "Faça..." sentimos uma aproximação quase que natural das situações apresentadas.
Por exemplo, não me diga que na sua rua não há velhos como ML ou Sweetie Dick Willie, ou mesmo aquele "sujeito lerdo", para ficarmos numa expressão usada aqui, como o Smile, ou até aqueles que, por andarem em grupo constantemente, lembram mais integrantes de uma gangue, como a frequentada por um jovem Martin Lawrence aqui?
É a riqueza social trabalhada num recorte espacial extremamente curto. Nesse bairro de maioria negra, ouvimos o radialista gritar "wake up!", lemos jornais (até em espanhol!) vendidos, observamos Mookie se arrastar pra mais um dia de trabalho na pizzaria do Sal, e porto-riquenhos realizarem batalhas de som com um sujeito negro de quase dois metros de altura.
Mas nos é jogado a parte suja desse convívio. Piadas com os donos orientais da mercearia, que têm dificuldade ainda na língua anglófona, mas que "ou são geniais" por terem feito um comércio dar muito certo ali - ou "os negões" de Bed-Stuy que são muito burros, conforme alentado - estão presentes. Assim como a desconfiança de um sujeito de ascendência italiana, filho do proprietário da pizzaria local.
E, aqui, temos uma das melhores cenas da vida:
centralizados, fundo parado, e cada escolhido de uma etnia desse bolo nova-iorquina que tá ali escorraça, sem papas na língua, "o outro". São os policiais detonando aqueles pobres da área, Mookie xingando os italianos, e um revoltado Pino despejando todo o seu ódio racial.
O personagem de J. Turturro, Pino, pra mim acaba sendo uma das figuras essenciais pro filme. Não só pelo roteiro que o Lee o entregou, mas pela atuação que faz lembrar sempre aquele sujeito que todo mundo conhece. "Olha, não é que não goste de negro", como chega a afirmar, ou, quando confrontado com aquelas figuras negras de sucesso, que se sae com um "they aren't really black". A resposta de Mookie, inclusive, parece válida até hoje: "nós começamos a civilização".
E é espantoso como a cena derradeira é, literalmente, quase um retrato do que ainda presenciamos. Numa escalonada de situações, um negro,
aquele lá gigante, o Raheem, é sufocado por policiais. Erguido pelo pescoço com um cassetete, em meio a gritos do bairro inteiro que via, sem acreditar, no que estava se desenrolando, o cara do som stereo perde a vida e, como um saco de batatas, é arremessado - morto - na calçada.
"Não precisavam
matar
"Burn it down" vira o grito de guerra. Você com certeza viu coisa semelhante mês atrás, naquela reta final de Maio. Nesse momento, inclusive, várias insurreições populares, como essa do Brooklyn, vêm correndo soltas por aí, talvez na sua cidade até.
Naquele mural étnico, que comentei no início, uma frase acima das artes do grafite: "Bed-Stuy - do or die".
Um chamado, mais que um lema, dos nossos tempos.
A Esposa
3.8 557 Assista Agora"I am a kingmaker".
Confesso que me irritou, como filme, por alguns escapes clichês em certos pontos. Temos o casal que vive da literatura, de passado acadêmico e presente novelista, com o filho turbulento, os questionamentos da atividade; temos também o indivíduo externo a isso tudo que vem e, como uma cobrinha, solta umas peçonhas aqui e acolá que causam um terremoto nessa pequena pirâmide familiar.Temos flashbacks que se sobrepõe a algumas atividades do "presente", um joguinho porco de câmeras às vezes - Estocolmo vista de cima, como enchimento de linguiça - e coisinhas do tipo.
Mas tem diálogos memoráveis. Sobre família, atividade profissional, relações, traições,
perdão (?).
Afinal o mundo não tá cheio só de gente chata e sem criatividade, como diria C. Bukowski. Tá entupido de ghostwriters também.
O Peso do Passado
3.0 140Não caiam na conversa de alguns empolgados mais abaixo. Nicole Kidman não salva esse filme. Ele todo é capenga, arrastado, sem gancho e vida.
Artificial, tenta criar um ambiente típico de suspense que não encanta em momento algum. Tramas superficiais (Shelby, o "pai" da Shelby) tomam boa conta de boa parte do "Destroyer", e antes parecem muito mais aqueles parágrafos que você bate o olho e jura que é enrolação da parte do autor. Tomadas clichês de L. A, como skatistas numa ruela debaixo da ponte, dinners imundos, presença latina (mecânicos, traficantes, gângsters) nas ruas imundas da Califórnia, etc.
Mas ele vai ficar marcado pra mim porque é o primeiro filme em muito tempo que me lembro de ter a N. Kidman numa atuação fraquíssima. O que, por si só, é uma façanha da parte da direção.
O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio
3.1 724 Assista AgoraDecepcionante, e pra dizer o mínimo. E já adianto que, como fã-boy safado dos dois primeiros, nem esperava mais que uma avaliação mediana própria disso aqui. Mas me surpreende como, quando você acha que eles não conseguem, alguém tem a capacidade de enfiar mais uma facada e rodar ela no que restou do "Exterminador".
O que é uma pena pra franquia. Sem pensar em comparações, os dois primeiros são fantásticos: uma boa história, um thriller ótimo no primeiro, um clássico monstro do cinema ação-brucutu no segundo, sempre resta algum tico de esperança de que alguém com boas intenções e ideias possa resgatar o fiapo de dignidade e fazer algo nem digno, mas minimamente palatável desse universo. Bizarramente, o "Salvação" pra mim passa na média de final de ano. Todo o restante não, e esse aqui incluso.
Na verdade, o "Destino Sombrio" todo é digno de pena. O retorno da Sarah Connor é literalmente triste e não funciona, as protagonistas não tem carisma, o Arnoldão volta parecendo um sapo inchado, o roteiro não tem pé nem cabeça e temos furos a rodo.
Mas deixando de implicar: "Destino Sombrio" é raso - e burro. Como explicar
o surgimento da Legion? Ou como pensar por que AQUELE futuro da Skynet não ocorreu?
É impressionante como isso daqui não agrada nem os fãs ardorosos e nem aqueles que, simplesmente, esperavam um bang-bang pra se divertir à toa. Pouquíssimas cenas empolgam, e aqui fica o registro daquela tomada nas casas de detenção de imigrantes - que em particular lembra, minimamente, os bons momentos shooter do 2 -, e nem as investidas cômicas ou de flashback funcionam.
Pessoalmente, colocaria no mesmo nível (horroroso) do 3. E o pior é imaginar como todos os furos desse aqui provavelmente vão alimentar, por um bom tempo ainda, mais facadas como essa na franquia. Esse Exterminador deveria ser, para o bem de toda a cronologia, o canto - feio e rouco - do cisne.
Mas parece que, e me dando a liberdade de fazer um trocadilho tão ruim quanto o filme, um destino muito sombrio ainda nos aguarda.
O Presente
3.4 832 Assista AgoraQue doidera: ele dá uma escalonada bem cedo, constrói uma narrativa clichêzona sob um certo ângulo dá situação até dar um twist inicial e fecha tudo com um TWIST DUPLO CARPADO bem inesperado.
Eu diria que se não fosse uma produção de orçamento mediano aos padrões atuais (5 milhões de Trumps, segundo o Google) e se estivesse em mãos um pouco mais experientes que a do J. Edgerton, poderia dar um caldo até mais grosso.
O dedo do Joel parece que caiu melhor no roteiro que na direção e na atuação - esta última bem mediana, pra mim. De todo modo, não deixa de ser uma surpresa.
O Último Retrato
3.1 19 Assista AgoraNão diria que é uma "cinebiografia", como posto na sinopse aqui.
O recorte escolhido pelo Stanley Tucci pega, poderíamos dizer, os últimos meses de vida do Alberto Giacometti e, mais em específico, seu processo de criação do retrato de James Lord no ano de 1964 em Paris.
É um bom filme, se pensarmos em termos de duração e roteiro. Aborda muito bem o processo criativo do A. Giacometti - por mais que não pareça, ao fim, tão criativo, bem como alguns aspectos de seu cotidiano nesta fase final de carreira.
Pra quem sofre com ansiedades, transtornos e se cobra bastante pelos próprios trabalhos, poderia dizer até que me identifiquei com o artista (mesmo que, infelizmente, me falte os milhões).
Filme muito simpático, no fim das contas. A cena de negociação
com o cafetão de Caroline
Terror na Antártida
2.6 338 Assista AgoraDas maiores definições de "enlatado americano" que vi recentemente.
Pior é assistir e pensar como isso poderia facilmente ser um episódio daquelas séries que o pessoal curtia tanto há uns 15 anos atrás, como Cold Case, CSI ou NCIS.
ReMastered: O Diabo na Encruzilhada
3.8 54 Assista AgoraInfelizmente, super rápido.
Me surpreende conseguir entrevistas com gente de peso dentro do cenário musical para entregar algo tão raso.
Como Lucas disse logo abaixo, falta quase que o básico. Discordo só do material: a equipe do B. Oakes até conseguiu.
O que faltou foi literalmente desenvolvimento.
Triste, porque a história do Robert Johnson é espetacular, vista sob quaisquer ângulo: questões de etnia, do Sul violento e racista estadunidense, do blues desenvolvido e da gigantesca influência legada ao soul, ao rock e a tantos outros gêneros musicais.
Aqui a Netflix ficou devendo. E muito.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraA cena toda é muito simbólica: num bar típico do sudeste asiático, em que mesas longas e tábuas que servem como cadeiras lutam por um espaço próprio e artificial contra rios e árvores da natureza vietnamita, dois estrangeiros conversam e flertam.
Ele, negro e estadunidense, e ela loirinha, francesa. Ambos jovens. Ela, Hedy Bouvier, solta uma frase incauta e curta, mas que pode simplesmente ressoar em qualquer recorte, cenário ou época da história humana: "uma guerra nunca acaba para os envolvidos".
"Destacamento Blood" é um filme sobre o Vietnã, é verdade. Mas a sinopse para por aí, e me atrevo em ir mais além: são mais de duas horas e meia não apenas sobre as experiências de uma guerra devastadora a todos os envolvidos, mas que também se voltam ao como memórias sobre esta se transformam. E Spike Lee, numa ascendente de qualidade fodida desde o "Infiltrado na Klan", desenvolve de modo primoroso o jogo que propôs.
Se acompanhamos, na maior parte das vezes, os quatro amigos idosos que retornam ao país asiático para buscar os restos de Norm - líder e quinto integrante do esquadrão Blood, falecido em combate -, também somos jogados
(e de forma desprevenida) nas lembranças de cada um desses sujeitos.
flashbacks, me perguntei "mas porra, eles estão reencenando o conflito lá ou algo do tipo?", e só com o decorrer fui me tocar da sacada genial que permeia "Destacamento".
Ao vermos Paul, Otis, Eddie e Melvin já velhos e idosos lutando na guerra, o que temos ali não é o factual.
Mas, ora só, lembranças muitas vezes são criadas, (re)transformadas, embaralham e jogam com a memória - e, por suposto, com aquilo que realmente se passou. Quando
os companheiros (e David) se veem envoltos em dificuldades no interior da floresta - e após acharem os restos de Norm, o ouro, os franceses e vietnamitas malandros, quase que tudo ao mesmo tempo -, vemos a idade voltar a ser descarregada nos ombros de cada um, e a partir daí sim acompanhamos o desenrolar
É uma jogada muito bem sacada, essa de "Destacamento". Um destes senhores, que ainda literalmente se alimenta e vive só por suas lembranças, diz que Deus disse para ele que "fodam-se os filhos da puta". O que
Paul não esperava é que, em seus momentos finais, tudo o que realmente aconteceu naquele campo de batalha nos anos 1970 voltasse com tanta força sobre ele: quando um inimigo vietnamita entra num perímetro aliado, Paul o destroça com uma rajada de metralhadora e atinge, também,o
"Nosso Malcom [X] e Martin [Luther King]", conforme um dos velhos veteranos.
No mais, boas sacadas e "citações" muito bem feitas são realizadas aqui.
Em uma tomada em um rio caudaloso, numa transição do urbano para o rural, ouvimos a "Cavalgada das Valquírias" tocando. Porém, os estadunidenses que retornam aos rios do Vietnã não buscam e caçam minas marítimas, mas sim afastam fios de eletricidade com tênis presos neles. O barquinho, inclusive, carrega uma bandeira do Estado comunista vietnamita, com sua inconfundível estrela num fundo vermelho em destaque. O que embala o ambiente não é mais um radinho de pilha que toca Marvin Gaye, Aretha ou Rolling Stones. O som ao redor é de comerciantes barulhentos, que insistem na venda de frutas, aves, quinquilharias - e que também não se esquecem do que ocorreu ali pouco mais de quarenta anos atrás.
No fim, e assim como o "Apocalypse Now" de F. F. Coppola que marcou uma geração pelo seu Kurtz balbuciando sobre um certo "horror", "Destacamento Blood" traz sua readaptação quando um Otis, centralizado pela câmera e deitado no chão, fala sobre um tal de "madness". Quase que inerente àquele palco, a "loucura" de Lee se torna tão marcante e presente quanto o "horror" (nunca apresentado, de fato) kurtziano.
Puro inferno na Terra, foi o Vietnã.
Mas Spike Lee também é muito hábil em mostrar que o inferno não está apenas ali, à distância e num país tropical e fodido qualquer: sem exclusividade territorial, pode mesmo estar "dentro de casa", em próprio território natal, onde eventos e situações deixam marcas tão profundas quanto as feridas de batalha ou os destroços do psicológico acumulados pelo combate. E, mais que isso, são antes sociais e mesmo estruturais. Nesse ponto, a descoberta dos Blood
do assassinato de Luther King
Uma boa pedida. Grandíssima fase a do Spike Lee.
Um Dia de Chuva em Nova York
3.2 292 Assista Agora"São donas-de-casa ricas que têm por única ocupação a busca por culturas esotéricas".
Obrigado pela nova definição da minha vida, Woody. Mas sem o "rich", claro.
Crash: Estranhos Prazeres
3.6 328 Assista AgoraNunca uma tradução brasileira foi tão fiel ao que é o filme.
Ponto altíssimo pra trilha sonora, que parece daqueles rpgs cyberpunks antigaços de SNES (alô, Shadowrun), e por (alguns) diálogos interessantes, como os do hospital entre um James fodidaço e uma Catherine repentinamente filosófica - e que sempre tirará uma frase de efeito nos cenários mais inimagináveis possíveis a partir daí.
Como não li o livro, acho que me sinto como o pessoal que assistiu o Vício Inerente do Paul Thomas Anderson, baseado no homônimo de Thomas Pynchon, e ficou boiando tanto o quanto eu fiquei após terminar aqui.
Curiosamente, em que pese os destaques gráficos pras maquiagens (próteses e cicatrizes à rodo) e pros cenários de batidas e destruição, acho que é o Cronenberg menos Cronenberg que vi até agora.
Fico imaginando a tarefa hercúlea do diretor de elenco aqui, responsável por convencer e juntar essa galera pra um filme com esse roteiro.
E destaque, claro, pra um James Spader que ainda surfava no auge da carreira e que parecia destinado a ser um dos grandes em Hollywood pós-Abaixo de Zero e Stargate.
O Homem do Prego
4.1 47Foi terminar "O homem do prego" e lembrar, quase que automaticamente, de alguns poemas do Jerzy Ficowski. Como Sol, Ficowski foi também um sobrevivente da barbárie nazista nos campos - além de ter sido um resistente polonês, mas não judeu.
Também como Sol, enfrentou dificuldade em expor as memórias do que viu sobre o extermínio.
No seu "Epitáfio do morto em vida", Ficowski escreve:
"Acossado, temeu mortalmente por longos cinco anos
esta lua do fígado que lhe alumiava por dentro com gelo
Este mar morto dos alentos no qual sem afundar
se cobria com sal de desesperança
Temia mortalmente o livro de Moisés, a dezena de seus dedos
e o crespo Monte Sinai de medo
mas sobreviveu
Mas sobreviveu
a si mesmo".
Foi como um morto em vida, um "morto-vivo" - como um personagem o troça -, que Sol (e tantos outros) passou o resto de sua vida: a longa espera do desejo de uma morte que virá não quando ele quer, mas que virá quando ele menos esperar.
Paraíso
3.8 20 Assista AgoraUm pouquinho confuso por certos cortes e tomadas de cenas, mas que se explica pela pretensão de dar um "punch" diferente dos demais filmes do gênero.
"Paraíso" é belíssimo. Pela fotografia em preto-e-branco e pela fidelidade estética naquilo em que fez de tema, já que circula desde delegacias parisienses aos campos de extermínio nazistas, e por aquilo que Bandine comentou mais abaixo e que entendo por "humanização" de uma História, "Paraíso" lhe toca no íntimo pelo não-comum dos filmes sobre o drama da caçada humana perpetrada pelos nazistas.
Como o Bandine fez o comentário definitivo, queria comentar só como dos três arcos narrativos, foi o de Helmut o que mais me surpreendeu. Não pela questão de "jovens com formação acadêmica" que se enfiaram de cabeça nas loucuras do nazismo, e que aqui é tão bem debatido numa de suas ~entrevistas~ no miolo de "Paraíso", nem pela disciplina arraigada no trato com seus pares e prisioneiros no campo. Isso, até em veículos midiáticos mais amplos, já recebiam uma atenção especial.
Mas além da prova destas hipocrisias de crença, me pegou pelo contrapé ver num personagem uma assunção do Übermensch pelo pensamento nazista. Distorcido e vilipendiado do significado original, do Nietzsche, vemos aqui no "Paraíso" como na prática esta categoria filosófica foi, por sua adaptação, literalmente transformada numa crença quase utópica na "imortalidade germânica" ou em merdas racistas do tipo.
Não confiem nesta média baixa do Filmow. Isso aqui vale uma chance e, pra professores, é quase uma mina de ouro para usos em sala e debates dos mais diversos tipos, do Fundamental ao meio acadêmico.
Refém do Medo
2.6 320 Assista AgoraSuspensão rápido, direto ao ponto, entupido de furos (como um pessoal aqui até já comentou), cortadas muito rápidas em termos de roteiro/história e uma história-base que no fim nem faz muito sentido.
Mas o que me impressionou mesmo é como o molequinho é A CARA do Jake Gyllenhaal.
A Noite dos Mortos-Vivos
4.0 549 Assista AgoraRevi, e só reafirmo meu amor por todo o filme.
Da introdução de um Johnny maldosamente irônico com a irmã, com a icônica "eles estão vindo te pegar, Bárbara", até ao cabaré improvisado que é um bocado de gente com personalidade diferente aprendendo (ou não) a se lidarem enquanto o mundo lá fora está literalmente virado pelo avesso.
Além, claro, das entradas jornalísticas por rádio e tevê. Minha favorita, inclusive, ainda é a do incrédulo repórter de tevê afirmar como "reports, incredible as they may seem, are not the results of mass hysteria".
Classicaço.
Minha Mãe
3.7 61 Assista AgoraEm um dos momentos mais turbulentos que uma pessoa pode passar na vida, em que todos os sintomas de um puta burnout de trabalho, da difícil situação de uma distância afetiva e social com outros sujeitos e em que uma doença carcome, aos poucos, sua mãe, um dos melhores ouvintes de Margherita é um ator falastrão e picareta de quinta categoria trazido Deus sabe de onde do fim dos EUA: "Titus, Lucretius... o que serão de todos eles? De todos aqueles livros?".
É o desabafo, aqui sobre o conhecimento e seu aporte material, os livros, que poderão se esvair ou perder significado com a morte de sua mãe, uma idosa professora de latim. Ela é dita em pleno set, pouco antes da filmagem de uma cena.
Pá-pum: super rápida, mensagem jogada na cara - como tem de ser, diria.
"Minha mãe" me parece um filme, antes, mais sobre o lidar com as agruras que surgem em uma determinada etapa da vida. E esse é um ponto curioso: apesar de toda a questão envolvendo a mãe presente, é em torno do amplo círculo social de Margherita que ele se desenrola.
Como não leio sinopses geralmente antes de ver filmes, por vezes caio totalmente nas mãos da montagem deles. Aqui, demorei a perceber até onde sonhos, realidade, amores e pensamentos distintos surgem, se estabelecem e terminam.
De uma
jovem Margherita, que dá de cara com sua "velha eu" abruptamente na fila de um cinema
Ou, caso você queira ser mais poético, podemos interpretar que neste quesito o filme simplesmente traz um pouco desse recorte do que é uma vida para ele: atribulada, à distância, enervante, com pitadas de grosseria, rápidas.
Por outro lado, gostei muito dos recortes sobre as atividades e o dia-a-dia no set com Margherita. Desde a cena inicial, em que acompanhamos as filmagens de um filme no qual operários invadem uma fábrica, passando por policiais violentos (mas sem armas de fogo ou balas de borracha - aprende, Brasil) e jatos d'água, até ao cotidiano estressante do figurino, escolhas de elenco, maquiagem...
Por sinal, destaque à cena da coletiva de imprensa: babacão como é, o ator importado direto da América puxa pra si (e à força) todos os holofotes, mente nas suas respostas, faz caras e bocas, se diverte à beça. Margherita, no entanto, está quase que completamente absorta, alheia, distante; todas as perguntas parecem a mesma, todos os jornalistas parecem iguais, todos ao lado dela ali na mesa lembram aquelas pecinhas velhas do Lego: em que pese uns mais cheinhos ou altos, todos e tudo exatamente iguais.
E é este o grande destaque aqui, ao menos pra mim: é John Turturro, que parece interpretar este estadunidense típico - galanteador, arrogante, metido a centro do universo e que foi "dispensado por S. Kubrick -, que me roubou as atenções. Alguns episódios, como o da cantina, o citado inicialmente ou o do jantar com a família da diretora, ganham uma pitada maravilhosa "de cores" com a presença do Barry.
Infelizmente, não achei o "Minha mãe" tão bom quanto outros do próprio N. Moretti. O que não significa, é claro, que seja ruim.
Apesar de tudo isso que comentei, a sensibilidade dele voa altíssimo, e é isto que me irá fazer recordar dele daqui pra frente.
Bom dia, Babilônia
3.6 11Super interessante a proposta do "Bom dia, Babilônia": ao mesmo tempo em que é um relato da dura vida dos imigrantes - aqui italianos - nos Estados Unidos de começos do século XX, também funciona como um belo retrato, colorido, alegre e mesmo romântico, da indústria cinematográfica hollywoodiana.
Na vida real encontramos casos semelhantes aos de Nicola e Andrea: como breve exemplo, o pai do quadrinista Will Eisner (o mestre dessa arte, nome do maior prêmio oferecido aos seus profissionais) tem paralelos que bem poderiam ser aos dos irmãos Bonanno; se Shmuel Eisner fora, na sua Áustria natal, um habilidoso pintor, na sua nova vida americana exerceria a mesma profissão... mas com paredes.
Afinal, não raro trabalhos degradantes e de péssimas condições são entregues a duras penas, ainda hoje, até mesmo àqueles sujeitos que em sua terra natal destacavam-se pela habilidade na manufatura e no ofício de suas profissões e em outras artes. Se duvida disso, faça um experimento social e converse com um imigrante (ou descendente) na sua cidade: pelo menos um exemplo deste tipo este lhe contará.
Mas o curioso de "Bom dia" é que, até mais ou menos aos 60% de filme, o desenvolvimento da proposta e do roteiro se desenvolve de maneira justa.
A narrativa é muitíssimo bem amarrada, temos cenas maravilhosas - como as dos irmãos estupefatos, próximo a uma linha de trem, com o perigo que correram com o avanço deste sob sua carroça enquanto dormiam - e o encontro desta primeira proposta, de uma narrativa sobre a dura vida daqueles que tentaram a sorte na América, com aquela outra sobre o glamour e a crescente opulência do cinema em Hollywood é feita da maneira mais correta possível.
Quase como se não sentíssemos, nos damos conta que passamos a acompanhar também a feitura de um clássico do cinema mundial neste mesmo filme: o "Intolerância", do (já) polêmico D. W. Griffith que, anos antes, fizera a Bíblia visual estadunidense: "O nascimento de uma Nação".
O problema é que, nestes 40% restantes, a maionese desanda: além destas duas histórias, temos a inclusão da Primeira Guerra Mundial e da
maternidade das esposas
Se "Bom dia, Babilônia" era super-coeso, justo e afinado até aqui, agora vira uma correria, desengonçado e apressado. Mas ainda assim bonito; em que pese a pressa e o "fast-foward" apertado na condução da história, a cena final é, também por sua ironia, belíssima.
Ainda assim, prefiro ficar com a proposta das duas primeiras narrativas apresentadas que, por si só, já funcionariam sem estes acréscimos posteriores.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraAcho que muito já foi dito sobre o "Bohemian Rhapsody". Fazendo uma analogia com o Queen, se o Freddie Mercury dizia que "minha voz vem da energia da plateia", já que "quanto melhor ela for, melhor eu fico", fica válido pensar como "Bohemian" foi feito pra ser assistido no cinema com todo o canto, choro, emoção e o poder da música que a banda passava. Um filme, antes, feito para a participação ativa de seu público.
Foi um método um tanto preguiçoso? Bem, pra mim sim - em partes; afinal, recortar os
trinta minutos finais do filme e compor como sendo a apresentação no Live Aid
Mas como tudo isso já foi dito pelo público (até nos comentários do Filmow, mais antigos) e pela crítica, queria só levantar como o "Bohemian" poderia ter sido menos "romântico" do que foi.
Alguém pode até dizer: "porra bixo, tu jura que a Fox iria jogar 52 milhões de Trumps pro Bryan Singer fazer um puta filme crítico que ousasse arranhar a imagem da banda e dos integrantes, até por contar com dois deles na produção do filme e justo num momento em que a banda havia retomado o mínimo de atividades e buscava um novo espaço pra um novo público num novo século"?
Bem, não diria desconstruir, mas pelo menos apresentar algumas situações próximas do que realmente foram - e aqui penso até como produto, filme pronto mesmo. Por exemplo: é sabido que a aproximação de F. Mercury com B. May e Roger Taylor teve um intermediário; aliás, mais que um intermediário, um amigo mesmo.
Tim Staffell foi quem levou o ainda Farrokh Bulsara para conhecer Taylor e May, e a partir daí o processo se deu. O que quero dizer é: apresentar o Staffell como um puta personagem genérico que simplesmente quitou do Smile quando bem quis e como se não tivesse relevância nenhuma no negócio é meio foda. Em termos de drama, um pouquinho poderia ter sido acrescentado na história, e não custa lembrar que este foi apenas um exemplo: ao longo de "Bohemian" várias situações que destoam bastante do que (provavelmente) ocorreu são apresentadas.
Mas em que pese estas distâncias ficcionais da liberdade criativa do roteirista/diretores/produtores, pra mim o "Bohemian" conseguiu passar um pouco da magia que a banda teve. Não achei, como alguns chegaram a comentar na época de lançamento, que o filme desprezava os outros integrantes, por exemplo.
E só pra fechar o comentário e mostrar como a metodologia e escolhas musicais do Queen, que são exemplarmente encontradas na feitura da música homônima ao filme e que mistura ópera, rock e delírios de grandiosidade e mixórdia em pouco mais de 6 minutos, eram recepcionadas à época, cito um trecho de uma reportagem do Mikal Gilmore que, aqui no Brasil, saiu na Rolling Stone n°95 de 2014:
"Quando o grupo [Queen] estava gravando em um estúdio ao lado do Sex Pistols, Sid Vicious perguntou a Mercury: 'Então você é o tal de Freddie Platinum [piadinha com o sobrenome 'Mercúrio'] que está levando balé para as massas?' Ao que o vocalista respondeu: 'Ah, senhor Ferocious [outra piadinha com sobrenome, agora do Vicious]. Estamos fazendo nosso melhor, querido'."
Porra, Bryan Singer: se tu meteu um carinha interpretando o Bob Geldof, bem que poderia ter dramatizado essa situação do encontro dos dois aí também.