Cinéfilos Anônimos

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A obra é um ensaio poético que flerta com seus sentidos

Você vai ao cinema já sabendo que vai assistir uma animação francesa em parceria com o Stúdio Ghibli, do mestre Hayao Miyazaki (“A Viagem de Chihiro”), é claro que já vamos preparados para assistir mais uma ótima produção. O estúdio Ghibli dispensa apresentações por tudo que já produziu, o mesmo para a França, que hoje é umas das grandes potências em animações. Unidas, criaram a obra que tem todas as características para levar o filme a ser um marco histórico do gênero.

A Tartaruga Vermelha é uma brilhante experiência sensorial, que faz o espectador sentir através do personagem (cujo nome nunca saberemos), todo o drama, desespero e solidão através de um espetáculo visual oferecido e efeitos sonoros tecnicamente sensoriais que, sem diálogo algum durante seus 80 minutos, transmitem com respeito à relação humanista e ecológica que gira em torno de toda a trama.

A trama gira em torno de um náufrago perdido em uma pequena ilha deserta, contando as dificuldades do personagem através de uma noite chuvosa em meio a uma forte tempestade ao estilo Robinson Crusoé, que aparece inerte num paraíso tropical, desacordado, com o seu corpo espalhado nas belas areias de sua nova e inesperada moradia. Esse roteiro poderia muito bem ser mais um roteiro comum sobre “perdido na ilha”, mas não, o roteiro encontra um caminho para uma linda história sobre respeito dos mais variados tipos inimagináveis. Caberá a você espectador, de seu estado de espírito, desbravar e interpretar as metáforas oferecidas dentro desta narrativa silenciosa.

Tecnicamente, o filme é impecável, toda a beleza visual e o peso do selo Ghibli estão nele, movimentos, detalhes da ilha, traços nos seres vivos que ali existem, mudanças das paletas de cores entre o dia e a noite, passeando pelas cores quentes diurnas intercaladas entre o azul do mar, do verde da paisagem tropical ao vermelho que representam a paixão e a tartaruga e, cores noturnas num belo cinza de céu estrelado.

A Tartaruga Vermelha - Banner tira

Vale ressaltar também toda a estética criada para o personagem, dos rabiscos para um olhar sempre triste e cabisbaixo aos sinais corporais do naufragado, dialoga (sem nenhuma palavra) toda a melancolia vivida por ele para cada etapa de sua jornada na ilha. Minha vontade era colocar cada cena em quadros e deixá-los nas paredes de casa para sempre.

Outro ponto de excelência da produção é o uso da trilha e os efeitos sonoros, tudo trabalhado no mais alto nível artístico, é uma aula de como a música pode ser importante na compreensão de cada cena e os mais variados sentimentos que o personagem proporciona em cada momento.

Encontrar adjetivos para falar desta produção dirigida por Michael Dudok de Wit é uma tarefa difícil, parece não ser suficiente, mas é fato que essa animação, que está concorrendo ao Oscar 2017 da categoria, merece muito respeito por todos, não só respeito, como a própria estatueta. A concorrência é grande, a categoria vem de cinco produções magníficas. Mas, independente de ganhar ou não, a Tartaruga Vermelha já é um marco para a animação.

Vá ao cinema, veja esta pintura de 80 minutos e encha seu coração de sentimentos sinceros e bonitos, vai te transformar!

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