Eu ADOREI! Demorou pro Brasil ter uma "malhação" sem censuras. Que elenco delicioso. Fotografia de chiclete, adorei o contraste da cidade cinza com a explosão de cores.
E quem não adora um inferninho não é mesmo, desde Party Monsters, só não foi quem não soube.
Viva a arte, viva o espírito revolucionário da juventude. Viva o desejo de transformação. Demorou foi muito pra ter uma série dessa pra chamarmos de nossa.
Nossa que série foda da poha! Eu me sinto tão privilegiada por viver esse tempo, que mesmo sombrio em diversos aspectos, vive em outros tantas emancipações... Tudo nessa série é revolucionário.
Não consigo nem escrever. Me gerou diversos desdobramentos emocionais, mentais e materiais. Sou grata <3
Eita caraia senti o baque!!!!! Nem sei por onde começar ou o que necessariamente comentar.... São tantos os vieses... Achei a direção incrível, a forma como escolhemos contar uma história por vezes clichê é o que salva um filme de cair na exaustiva repetição de dramas familiares que já estamos cansados de ver. É desse jeito que a direção de arte se torna para mim fundamental, englobando desde a filmagem, quanto os efeitos visuais, assim como a maquiagem e o figurino, que deram maior potência aos personagens, representantes de um sotaque norte americano blasé, mas que, sendo a trama o além do óbvio, faz um trabalho contextualizado e pertinente das questões políticas atuais de gênero e sexualidade e que poderia ser acusado de tudo, menos de superficiais.
Seria terrível falar de todos, mas o "Nate" é a incorporação fiel do estereótipo machista, tendo seu corpo masculino sufocado pela performance de gênero que o fixa, efeito da tradição patriarcal como herança do pai que tão bem o representa, é por fora a figura do herói idealizado pela manada social e por dentro a fragmentação do que a figura de fora lhe causa, duelando consigo mesmo e com as sequelas deixadas pela história e educação familiar que se sustenta na base dos valores sociais de recalque: a família tradicional, o capitalismo e a moral cristã = a hipocrisia.
Os oito episódios vai dando forma ao elemento de desequilíbrio e tensão, carregado pelo personagem Nate que, encapsulado na regra heteronormativa, vai escapando pelas beiradas do próprio corpo, exercendo toda sua misoginia e homofobia como expressão do seu desejo reprimido, até o grande e derradeiro clímax do recalque em que esse mesmo corpo suprimido e extremamente sobrecarregado pela pressão de ser perfeito, rompe de todas as formas possíveis em violência (ápice muito bem representado no momento do confronto com a figura do pai, com certeza Freud explica esse duelo se pensarmos pela ótica do mito da horda primeva).... Nate é sem dúvida ainda mais interessante em sua complexidade do que o seu patriarca a quem ama e odeia pelos mesmos motivos.
As personagens femininas então...outra trabalheira ter a pretensão de analisar uma por uma...talvez as que mais se destaquem para mim, enquanto coadjuvantes que dialogam com o viés do estereótipo feminino enquanto falta a ser preenchida, seria a Kat que tinha tudo para ser uma personagem ainda mais poderosa, mas que por sua necessidade de ser amada por um homem fracassa miseravelmente na missão, se perdendo pelo caminho.... E aí sua liberação sexual acaba se aproximando na verdade, de uma reação ao desamor com que os homens a trata, do que uma extrema autonomia e independência dessa figura masculina que independente de quem sejam, como ela mesmo disse, são extremamente patéticos... O que faz com que os homens ocupem o lugar oposto do que ela é e representa com toda sua expressividade e desenvolvimento, mas que, como disse, apesar de almejar essa autonomia, acaba saindo tudo meio dentro do desastre...
Fica aí, ainda pendente de resolução, essa 'constante feminina' frequentemente suspensa/levantada nas representações cinematográficas - da mulher que está sempre reagindo a existência do homem, não conseguindo romper com essa lógica/dinâmica - em que, mesmo exercendo alguma transgressão, são incapazes de superar o masculino, raramente encontrando consolo em si mesmas própria ou salvação...
Afinal, queremos ou não queremos nos salvar e passar também essa imagem?
O mesmo ocorre com a destroçada Cassey que é a expressão da resiliência em caco de vidro. Levando os restos de si para a experiência do viver, se torna, enquanto efeito de sua história, uma mulher sedenta, mal resolvida e tristemente frágil, ao mesmo tempo que dona de um corpo que não só vive mas sobrevive a diversas situações complexas de humilhação, discriminação, preconceito e etc.... ficando presa no outro contraste do corpo feminino que sangra mas não morre....
Maddy também é outra personagem marcante, ela seria uma versão feminina daquilo que equivale ao Nate, é a única capaz de se auto-gerir com alguma auto-confiança e rebeldia mesmo que toda fudida, é capaz de objetificar o outro sem ter crises existenciais por isso, mas ainda assim, reproduz o feminino que não consegue resistir a sedução do símbolo masculino de poder: o atleta branco e acaba por se submeter mesmo que a contragosto - ambos nesse caso, fazem dessa dinâmica um masoquismo cruel, mas Nate enquanto homem, consegue jogar mais sujo e baixo que ela para não perder o poder. (A cena dele prestando depoimento cínico na delegacia em frente ao pai foi genial para representar quão sagaz é a retórica de um macho alfa branco em defesa dos seus privilégios).....
Quais as figuras femininas que não se submeteram ao masculino em hipótese alguma? A insossa protagonista Rue, masculinizada pelo desleixo estético, é a dependente química que consegue vislumbrar outra possibilidade de existência ao se apaixonar pela figura que transgride o masculino: Jules. O caso dela é tão fechado e sem furos que não tem graça de comentar. Jules de fato salva a insossa Rue. O feminino de Jules equivale ao desleixo da imatura Rue. Jules é a mais saudável de todos. A artista encontra na poesia seu motivo. Nisso deveria ensinar todas as outras.
O que dá tempero a série são os personagens de desestabilização que ao meu ver, são os mais fortes Kat, Nate, Maddy e Cassey e claro a Jules e ai a Rue enquanto narradora, fica até de boa ela ser insossa, nem chega a ser uma crítica.... rs
Permanece em mim o desejo de amadurecimento dos personagens a partir de suas experiências com o fim do ensino médio, até porque também seria demais esperar deles maturidade e auto-crítica que só adquirimos, na melhor das hipóteses uns 10 anos mais tarde e ainda assim capengando... e se fizer terapia. hahahahha
PS: minha crítica de forma alguma pretende zerar todas as questões envolvidas nessa série. Várias questões que não comentei. Não estou por exemplo, buscando uniformizar as reações e ações dos personagens, até porque a própria série faz o trabalho de apresentar a história de cada um, para assim entendermos melhor suas motivações e seus limites enquanto seres dotados de subjetividade. Além de claro, estarmos falando de dramas vivenciados por adolescentes....
Tendo tudo isso em vista, busquei pensar estereótipos e questões mais abertas de gênero e sexualidade que estão em jogo, independente de quem somos ou onde estamos, mas seguimos ora reproduzindo ora transgredindo.
Boca a Boca (1ª Temporada)
3.8 168 Assista AgoraEu ADOREI!
Demorou pro Brasil ter uma "malhação" sem censuras. Que elenco delicioso.
Fotografia de chiclete, adorei o contraste da cidade cinza com a explosão de cores.
E quem não adora um inferninho não é mesmo, desde Party Monsters, só não foi quem não soube.
Viva a arte, viva o espírito revolucionário da juventude. Viva o desejo de transformação.
Demorou foi muito pra ter uma série dessa pra chamarmos de nossa.
<3
Pose (1ª Temporada)
4.7 434Nossa que série foda da poha!
Eu me sinto tão privilegiada por viver esse tempo, que mesmo sombrio em diversos aspectos, vive em outros tantas emancipações...
Tudo nessa série é revolucionário.
Não consigo nem escrever. Me gerou diversos desdobramentos emocionais, mentais e materiais. Sou grata <3
Euphoria (1ª Temporada)
4.3 892Eita caraia senti o baque!!!!!
Nem sei por onde começar ou o que necessariamente comentar....
São tantos os vieses... Achei a direção incrível, a forma como escolhemos contar uma história por vezes clichê é o que salva um filme de cair na exaustiva repetição de dramas familiares que já estamos cansados de ver.
É desse jeito que a direção de arte se torna para mim fundamental, englobando desde a filmagem, quanto os efeitos visuais, assim como a maquiagem e o figurino, que deram maior potência aos personagens, representantes de um sotaque norte americano blasé, mas que, sendo a trama o além do óbvio, faz um trabalho contextualizado e pertinente das questões políticas atuais de gênero e sexualidade e que poderia ser acusado de tudo, menos de superficiais.
Seria terrível falar de todos, mas o "Nate" é a incorporação fiel do estereótipo machista, tendo seu corpo masculino sufocado pela performance de gênero que o fixa, efeito da tradição patriarcal como herança do pai que tão bem o representa, é por fora a figura do herói idealizado pela manada social e por dentro a fragmentação do que a figura de fora lhe causa, duelando consigo mesmo e com as sequelas deixadas pela história e educação familiar que se sustenta na base dos valores sociais de recalque: a família tradicional, o capitalismo e a moral cristã = a hipocrisia.
Os oito episódios vai dando forma ao elemento de desequilíbrio e tensão, carregado pelo personagem Nate que, encapsulado na regra heteronormativa, vai escapando pelas beiradas do próprio corpo, exercendo toda sua misoginia e homofobia como expressão do seu desejo reprimido, até o grande e derradeiro clímax do recalque em que esse mesmo corpo suprimido e extremamente sobrecarregado pela pressão de ser perfeito, rompe de todas as formas possíveis em violência (ápice muito bem representado no momento do confronto com a figura do pai, com certeza Freud explica esse duelo se pensarmos pela ótica do mito da horda primeva).... Nate é sem dúvida ainda mais interessante em sua complexidade do que o seu patriarca a quem ama e odeia pelos mesmos motivos.
As personagens femininas então...outra trabalheira ter a pretensão de analisar uma por uma...talvez as que mais se destaquem para mim, enquanto coadjuvantes que dialogam com o viés do estereótipo feminino enquanto falta a ser preenchida, seria a Kat que tinha tudo para ser uma personagem ainda mais poderosa, mas que por sua necessidade de ser amada por um homem fracassa miseravelmente na missão, se perdendo pelo caminho....
E aí sua liberação sexual acaba se aproximando na verdade, de uma reação ao desamor com que os homens a trata, do que uma extrema autonomia e independência dessa figura masculina que independente de quem sejam, como ela mesmo disse, são extremamente patéticos...
O que faz com que os homens ocupem o lugar oposto do que ela é e representa com toda sua expressividade e desenvolvimento, mas que, como disse, apesar de almejar essa autonomia, acaba saindo tudo meio dentro do desastre...
Fica aí, ainda pendente de resolução, essa 'constante feminina' frequentemente suspensa/levantada nas representações cinematográficas - da mulher que está sempre reagindo a existência do homem, não conseguindo romper com essa lógica/dinâmica - em que, mesmo exercendo alguma transgressão, são incapazes de superar o masculino, raramente encontrando consolo em si mesmas própria ou salvação...
Afinal, queremos ou não queremos nos salvar e passar também essa imagem?
O mesmo ocorre com a destroçada Cassey que é a expressão da resiliência em caco de vidro. Levando os restos de si para a experiência do viver, se torna, enquanto efeito de sua história, uma mulher sedenta, mal resolvida e tristemente frágil, ao mesmo tempo que dona de um corpo que não só vive mas sobrevive a diversas situações complexas de humilhação, discriminação, preconceito e etc.... ficando presa no outro contraste do corpo feminino que sangra mas não morre....
Maddy também é outra personagem marcante, ela seria uma versão feminina daquilo que equivale ao Nate, é a única capaz de se auto-gerir com alguma auto-confiança e rebeldia mesmo que toda fudida, é capaz de objetificar o outro sem ter crises existenciais por isso, mas ainda assim, reproduz o feminino que não consegue resistir a sedução do símbolo masculino de poder: o atleta branco e acaba por se submeter mesmo que a contragosto - ambos nesse caso, fazem dessa dinâmica um masoquismo cruel, mas Nate enquanto homem, consegue jogar mais sujo e baixo que ela para não perder o poder. (A cena dele prestando depoimento cínico na delegacia em frente ao pai foi genial para representar quão sagaz é a retórica de um macho alfa branco em defesa dos seus privilégios).....
Quais as figuras femininas que não se submeteram ao masculino em hipótese alguma? A insossa protagonista Rue, masculinizada pelo desleixo estético, é a dependente química que consegue vislumbrar outra possibilidade de existência ao se apaixonar pela figura que transgride o masculino: Jules. O caso dela é tão fechado e sem furos que não tem graça de comentar. Jules de fato salva a insossa Rue. O feminino de Jules equivale ao desleixo da imatura Rue. Jules é a mais saudável de todos. A artista encontra na poesia seu motivo. Nisso deveria ensinar todas as outras.
O que dá tempero a série são os personagens de desestabilização que ao meu ver, são os mais fortes Kat, Nate, Maddy e Cassey e claro a Jules e ai a Rue enquanto narradora, fica até de boa ela ser insossa, nem chega a ser uma crítica.... rs
Permanece em mim o desejo de amadurecimento dos personagens a partir de suas experiências com o fim do ensino médio, até porque também seria demais esperar deles maturidade e auto-crítica que só adquirimos, na melhor das hipóteses uns 10 anos mais tarde e ainda assim capengando... e se fizer terapia. hahahahha
PS: minha crítica de forma alguma pretende zerar todas as questões envolvidas nessa série. Várias questões que não comentei. Não estou por exemplo, buscando uniformizar as reações e ações dos personagens, até porque a própria série faz o trabalho de apresentar a história de cada um, para assim entendermos melhor suas motivações e seus limites enquanto seres dotados de subjetividade. Além de claro, estarmos falando de dramas vivenciados por adolescentes....
Tendo tudo isso em vista, busquei pensar estereótipos e questões mais abertas de gênero e sexualidade que estão em jogo, independente de quem somos ou onde estamos, mas seguimos ora reproduzindo ora transgredindo.