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Pecadores
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Ruptura é um fenômeno, pelo menos, na bolha da cultura pop. As redes sociais estão aí para provar isso. Viralizou, então está na boca do povo.
Considerada a Lost-que-deu-certo, Ruptura pega um tema universal e relevante (o mundo do trabalho) e transforma num entretenimento ambicioso, com toques kafkianos. É uma sátira sombria sobre os absurdos da lógica capitalista de metas e resultados, na qual se exige demais de “colaboradores” que não veem muito sentido no que estão fazendo.
Como já disseram, é uma série feita por nerds para o grande público. O nível de detalhe da produção é impressionante. E é isso o que tem garantido seu status de icônica, como foram Sopranos, Breaking Bad, Mad Men e outras. Cada uma trazendo características específicas que as tornaram inovadoras.
O pesadelo de Ruptura é um deleite audiovisual com sua mescla de referências na arquitetura, decoração, figurinos e músicas de décadas passadas, principalmente, dos anos 1960 a 1980. Tudo embalado por fotografia, montagem e efeitos especiais e sonoros que nos fazem imergir nesse universo literalmente frio e angustiante. O ótimo time de roteiristas, diretores e atores conseguem criar personagens e situações que mexem com a gente, do ponto de vista emocional, político e estético.
Outro fator de engajamento é o mistério. O que tem muito a ver com a própria mitologia da série. Afinal, qual é o grande plano da Lumon? E aqui entramos num ponto fundamental. À medida que acompanhamos a aflição crescente dos funcionários, ao tentar entender as normas da empresa e as motivações de seus superiores, percebemos que o problema, a inadequação, nada mais é do que uma reação bem razoável diante da visão de mundo bizarra de quem está no poder. A filosofia da empresa aqui ganha ares de seita corporativa, extrapolando um contexto real, no qual mitificação e fascismo são os princípios que guiam os ricos e poderosos. O que acaba proporcionando em Ruptura tanto momentos de puro terror como de comédia conscientemente cringe.
Como narrativa, Ruptura permite leituras marxistas, mas não o é em si. Está mais para o que o americano considera como uma obra liberal, progressista. O sofrimento dos trabalhadores é bastante real. Mas desprezar figuras como Elon Musk (sendo Kier e Eagan versões ainda mais excêntricas de Musk) não significa necessariamente ser contra todo o sistema (aí vai uma piscadela pra você, dona Apple). Ao contrário da primeira temporada de Andor, esta sim uma obra marxista-leninista até o osso, que provavelmente foi produzida porque os chefões da Disney são uns idiotas. Ainda bem.
Ruptura é televisão de altíssimo nível. O novato Dan Erickson criou a série e o experiente Ben Stiller a fez acontecer. Espero que termine na terceira temporada, em nome da coesão e do impacto da história que querem contar. Até agora tudo está indo muito bem.
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Flow
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Com jeito de game de mundo aberto, Flow nos encantou com seus animais realistas e ambientação, ao mesmo tempo, deslumbrante, assustadora e enigmática. O roteiro nos convida a literalmente embarcar numa aventura com reflexões filosóficas surpreendentes. A técnica dessa animação será uma nova tendência? Com certeza, não. Mas fica um exemplo encorajador de que existe vida além dos estúdios de Hollywood. Oscar merecidíssimo.
Últimos recados
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Breno
Ta rolando a campanha para o lançamento do livro "Eles Vivem" de Ray Nelson que contem o conto que inspirou John Carpenter a fazer o filme.
Trabalho impecável da Editora Diário Macabro
Da uma olhadinha 😉 -
Filmow
O Oscar 2017 está logo aí e teremos o nosso tradicional BOLÃO DO OSCAR FILMOW!
Serão 3 vencedores no Bolão com prêmios da loja Chico Rei para os três participantes que mais acertarem nas categorias da premiação. (O 1º lugar vai ganhar um kit da Chico Rei com 01 camiseta + 01 caneca + 01 almofada; o 2º lugar 01 camiseta da Chico Rei; e o 3º lugar 01 almofada da Chico Rei.)
Vem participar da brincadeira com a gente, acesse https://filmow.com/bolao-do-oscar/ para votar.
Boa sorte! :)* Lembrando que faremos uma transmissão ao vivo via Facebook e Youtube da Casa Filmow na noite da cerimônia, dia 26 de fevereiro. Confirme presença no evento https://www.facebook.com/events/250416102068445/
Pecadores é um triunfo. Um filme de terror abusado, que vai muito além do gênero ao subvertê-lo em sua ambição de criar uma obra com inegável frescor e inventividade. Mesmo com uma premissa já explorada à exaustão, o diretor Ryan Coogler mostra maturidade e pleno domínio cinematográfico. Mais uma prova de que, no fim das contas, o que mais importa é a execução da ideia, o desafio da linguagem.
Os detalhes e o cuidado da produção em recriar um pedaço do delta do Mississipi dos anos 1930 é a porta de entrada para um mundo fascinante que tanto exalta a cultura preta norte-americana (além de retratar outras minorias com muita personalidade) quanto coloca o dedo em feridas sociais abertas, como racismo, apagamento histórico e barreiras quase intransponíveis para construir um futuro. Mas a riqueza do filme está em mostrar e discutir tudo isso por meio de personagens muito bem desenvolvidos e por uma atmosfera vibrante que tem a música, principalmente o blues, como fio condutor. Pecadores é um filme que merece ser visto no cinema.