Poucos diretores souberam explorar a dor e a angústia existenciais, aquele sofrimento que ultrapassa a dimensão física, de forma tão competente como Bergman, tanto na técnica quanto na sensibilidade. Mas em Vergonha, sem prejuízo dessas qualidades, há alguns problemas que colocam o filme em nível inferior aos demais. Que Liv Ullmann está absurdamente bela em suas composições gestuais, não há dúvida. Que Max von Sydow esbanja, como sempre, sensibilidade e domínio em sua atuação, também não há o que se questionar. O mesmo se pode dizer do excelente Hans Alfredson, que consegue, apenas com sua presença, impôr um outro tom a qualquer cena em que apareça. A fotografia de Sven Nykvst sempre impecável. A direção de Bergman mantém a já conhecida e aclamada competência, mas acaba sendo comprometida pelo roteiro. A própria guerra, por exemplo, que deveria ser o elemento propulsor dos conflitos entre os personagens pode ser facilmente substituída por qualquer evento. A impressão que fica é que aquele casal poderia ser transportado para qualquer situação ou lugar que o despedaçamento entre os dois também estaria exposto. Bem, neste caso, a principal questão que o filme se propõe a discutir perde a importância e, consequentemente, algumas ações (eu disse "algumas") tornam-se arbitrárias e inconsistentes, como a apontada por Fábio Caldas no comentário anterior. Há claro cenas belíssimas que só o mestre Bergman seria capaz de compor, como a dos corpos que Raquel citou abaixo. É um bom filme, nada além disso.
Vergonha
4.3 118Poucos diretores souberam explorar a dor e a angústia existenciais, aquele sofrimento que ultrapassa a dimensão física, de forma tão competente como Bergman, tanto na técnica quanto na sensibilidade. Mas em Vergonha, sem prejuízo dessas qualidades, há alguns problemas que colocam o filme em nível inferior aos demais. Que Liv Ullmann está absurdamente bela em suas composições gestuais, não há dúvida. Que Max von Sydow esbanja, como sempre, sensibilidade e domínio em sua atuação, também não há o que se questionar. O mesmo se pode dizer do excelente Hans Alfredson, que consegue, apenas com sua presença, impôr um outro tom a qualquer cena em que apareça. A fotografia de Sven Nykvst sempre impecável. A direção de Bergman mantém a já conhecida e aclamada competência, mas acaba sendo comprometida pelo roteiro. A própria guerra, por exemplo, que deveria ser o elemento propulsor dos conflitos entre os personagens pode ser facilmente substituída por qualquer evento. A impressão que fica é que aquele casal poderia ser transportado para qualquer situação ou lugar que o despedaçamento entre os dois também estaria exposto. Bem, neste caso, a principal questão que o filme se propõe a discutir perde a importância e, consequentemente, algumas ações (eu disse "algumas") tornam-se arbitrárias e inconsistentes, como a apontada por Fábio Caldas no comentário anterior. Há claro cenas belíssimas que só o mestre Bergman seria capaz de compor, como a dos corpos que Raquel citou abaixo. É um bom filme, nada além disso.