“A região metropolitana de Salvador possui o município com a maior taxa de homicídios do Brasil, sendo que a metade desses crimes têm relação direta com o tráfico de drogas. Dados apontam que a maioria dos aliciados pelo tráfico são jovens da faixa etária de quinze a vinte e cinco anos”.
A realidade baiana é pano de fundo para o documentário que conta a vida de Jonas, um garoto que sempre esteve envolvido com as artes circenses. De um lado, o desenrolar da história mostra o desejo do menino em fazer parte do circo itinerante comandado por sua família. De outro, a desaprovação da mãe que almeja uma vida melhor para seu filho através do sistema educacional, buscando na escola um lugar de acalento e segurança longe das estatísticas do noticiário.
Em alguns momentos, a direção de Gomes parece pressionar o desenvolvimento de alguns conflitos, fugindo um pouco da naturalidade típica de documentários. De qualquer forma, este é apenas um detalhe para um filme que encontra no marasmo adolescente de Jonas, a possibilidade de fazer do seu próprio quintal, a maneira limitada de realizar os seus sonhos.
- Uma entrevista super legal da diretora do filme para o site CinePipocaCult. Paula Gomes fala sobre seu contato com Jonas e da relação do jovem com o cinema após a produção. (goo.gl/k1Cvkt)
Com 27 anos e ainda presa em seus devaneios adolescentes, Frances começa a enxergar melhor a realidade após sua melhor amiga se mudar do apartamento que dividiam. A partir disso, é frustração atrás de frustração, enquanto todo o seu círculo social parece estar indo muito bem, obrigado.
Acho que todo mundo já foi um pouco de Frances no decorrer da sua vida, ou ainda vai ser. A personagem te conquista pela capacidade de identificação e você acaba adorando o seu lado positivo e inconsequente de lidar com as dificuldades. Às vezes, a gente simplesmente tem que seguir em frente e abraçar as oportunidades que a vida tem para oferecer no momento.
“É isso que eu quero em um relacionamento, o que meio que explica porque estou solteira agora. É difícil de explicar. É uma coisa quando você tá com alguém e você ama a pessoa e vocês sabem disso. Vocês estão juntos, mas é uma festa, sabe? Os dois estão conversando com pessoas diferentes. Você tá lá sorrindo e olha para o outro lado da sala e vocês trocam olhares. Mas não porque são possessivos ou que seja algo sexual, mas apenas porque aquela é a pessoa da sua vida. E isso é engraçado e triste, mas só porque esta vida vai terminar. E é esse mundo secreto que existe bem ali em público, mas imperceptível, que ninguém vai ficar sabendo. É tipo como dizem, uma outra dimensão que existe ao nosso redor, mas não temos a habilidade de notar. Sabe? É isso. É isso que quero de um relacionamento. Ou da vida, eu acho. Amor. Parece que tô viajando, mas não tô…”
Uma cinebiografia que acerta ao contar uma história atípica da maneira mais irreverente e divertida possível. I, Tonya não é um grande marco para a sétima arte, mas todo o conjunto da obra é muito competente e comprometido no que lança às telas. As atuações são ótimas, a trilha sonora oitentista sabe conquistar e a quebra da quarta parede me faz querer assistir mais filmes do mesmo estilo, pois funciona muito bem para a dinâmica deste aqui. Outro ponto positivo são os depoimentos dos envolvidos para contar a história de Harding, cada um dando o seu ponto de vista incongruente sobre os fatos, mecanismo que funciona para que seus cento e vinte minutos de duração passem voando. Merecia uma indicação ao Oscar de melhor filme, certamente!
- Uma coisa muito interessante na vida de Tonya é que ela sempre foi uma boa patinadora, mas nunca foi reconhecida da maneira que merecia devido a sua estrutura familiar, sua vida financeira e seus problemas pessoais. É doideira pensar que isso refletia na avaliação dos jurados nos campeonatos. Mas é a vida, né? Às vezes, é tudo uma questão de imagem. Às vezes, as pessoas são reconhecidas pelos motivos errados. ;)
- A cena final do julgamento de Tonya é surpreendentemente triste, Margot Robbie está incrível no papel principal. - Sebastian Stan tá muito charmoso de bigode, pena que é o próprio diabo encarnado nesse personagem. Que relacionamento abusivo, bicho. - Pode entrar, Alisson Janney. O Oscar de melhor atriz coadjuvante é todo seu!
“A natureza tem maneiras astutas de descobrir nossos pontos fracos”.
Anoitece e a chuva cai. Elio deita-se no colo dos seus pais, ao passo que sua mãe traduz do alemão uma das novelas presentes na obra L'Heptaméron. “É melhor falar ou morrer?”, indaga serenamente enquanto conta uma história entre dois personagens que desenvolvem um vínculo muito maior do que uma simples amizade, porém ocultado pela falta de coragem em permitir amar e ser amado.
Call Me By Your Name desenha um dos romances mais bonitos do cinema. Mais do que isso, é a ponderação de Elio diante dos seus sentimentos: ele prefere falar do que morrer. Sua história com Oliver é cercada de sutileza, onde os olhares e gestos constroem um amor marcado pelo agora. Dessa forma, o diálogo final do protagonista com seu pai é nada mais do que a incontestável ideia sobre a preciosidade do tempo: nós perdemos muito no meio do caminho ao ocultarmos os sentimentos que guardamos dentro do peito.
Sorte daqueles que agarram com força a dádiva de se apaixonar. Mais sorte ainda é de quem pode viver isso de maneira recíproca.
Jonas e o Circo sem Lona
4.2 33“A região metropolitana de Salvador possui o município com a maior taxa de homicídios do Brasil, sendo que a metade desses crimes têm relação direta com o tráfico de drogas. Dados apontam que a maioria dos aliciados pelo tráfico são jovens da faixa etária de quinze a vinte e cinco anos”.
A realidade baiana é pano de fundo para o documentário que conta a vida de Jonas, um garoto que sempre esteve envolvido com as artes circenses. De um lado, o desenrolar da história mostra o desejo do menino em fazer parte do circo itinerante comandado por sua família. De outro, a desaprovação da mãe que almeja uma vida melhor para seu filho através do sistema educacional, buscando na escola um lugar de acalento e segurança longe das estatísticas do noticiário.
Em alguns momentos, a direção de Gomes parece pressionar o desenvolvimento de alguns conflitos, fugindo um pouco da naturalidade típica de documentários. De qualquer forma, este é apenas um detalhe para um filme que encontra no marasmo adolescente de Jonas, a possibilidade de fazer do seu próprio quintal, a maneira limitada de realizar os seus sonhos.
- Uma entrevista super legal da diretora do filme para o site CinePipocaCult. Paula Gomes fala sobre seu contato com Jonas e da relação do jovem com o cinema após a produção. (goo.gl/k1Cvkt)
Frances Ha
4.1 1,5K Assista AgoraCom 27 anos e ainda presa em seus devaneios adolescentes, Frances começa a enxergar melhor a realidade após sua melhor amiga se mudar do apartamento que dividiam. A partir disso, é frustração atrás de frustração, enquanto todo o seu círculo social parece estar indo muito bem, obrigado.
Acho que todo mundo já foi um pouco de Frances no decorrer da sua vida, ou ainda vai ser. A personagem te conquista pela capacidade de identificação e você acaba adorando o seu lado positivo e inconsequente de lidar com as dificuldades. Às vezes, a gente simplesmente tem que seguir em frente e abraçar as oportunidades que a vida tem para oferecer no momento.
“É isso que eu quero em um relacionamento, o que meio que explica porque estou solteira agora. É difícil de explicar. É uma coisa quando você tá com alguém e você ama a pessoa e vocês sabem disso. Vocês estão juntos, mas é uma festa, sabe? Os dois estão conversando com pessoas diferentes. Você tá lá sorrindo e olha para o outro lado da sala e vocês trocam olhares. Mas não porque são possessivos ou que seja algo sexual, mas apenas porque aquela é a pessoa da sua vida. E isso é engraçado e triste, mas só porque esta vida vai terminar. E é esse mundo secreto que existe bem ali em público, mas imperceptível, que ninguém vai ficar sabendo. É tipo como dizem, uma outra dimensão que existe ao nosso redor, mas não temos a habilidade de notar. Sabe? É isso. É isso que quero de um relacionamento. Ou da vida, eu acho. Amor. Parece que tô viajando, mas não tô…”
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraTodos nós temos a nossa própria verdade.
Uma cinebiografia que acerta ao contar uma história atípica da maneira mais irreverente e divertida possível. I, Tonya não é um grande marco para a sétima arte, mas todo o conjunto da obra é muito competente e comprometido no que lança às telas. As atuações são ótimas, a trilha sonora oitentista sabe conquistar e a quebra da quarta parede me faz querer assistir mais filmes do mesmo estilo, pois funciona muito bem para a dinâmica deste aqui. Outro ponto positivo são os depoimentos dos envolvidos para contar a história de Harding, cada um dando o seu ponto de vista incongruente sobre os fatos, mecanismo que funciona para que seus cento e vinte minutos de duração passem voando. Merecia uma indicação ao Oscar de melhor filme, certamente!
- Uma coisa muito interessante na vida de Tonya é que ela sempre foi uma boa patinadora, mas nunca foi reconhecida da maneira que merecia devido a sua estrutura familiar, sua vida financeira e seus problemas pessoais. É doideira pensar que isso refletia na avaliação dos jurados nos campeonatos. Mas é a vida, né? Às vezes, é tudo uma questão de imagem. Às vezes, as pessoas são reconhecidas pelos motivos errados. ;)
- A cena final do julgamento de Tonya é surpreendentemente triste, Margot Robbie está incrível no papel principal.
- Sebastian Stan tá muito charmoso de bigode, pena que é o próprio diabo encarnado nesse personagem. Que relacionamento abusivo, bicho.
- Pode entrar, Alisson Janney. O Oscar de melhor atriz coadjuvante é todo seu!
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista Agora“A natureza tem maneiras astutas de descobrir nossos pontos fracos”.
Anoitece e a chuva cai. Elio deita-se no colo dos seus pais, ao passo que sua mãe traduz do alemão uma das novelas presentes na obra L'Heptaméron. “É melhor falar ou morrer?”, indaga serenamente enquanto conta uma história entre dois personagens que desenvolvem um vínculo muito maior do que uma simples amizade, porém ocultado pela falta de coragem em permitir amar e ser amado.
Call Me By Your Name desenha um dos romances mais bonitos do cinema. Mais do que isso, é a ponderação de Elio diante dos seus sentimentos: ele prefere falar do que morrer. Sua história com Oliver é cercada de sutileza, onde os olhares e gestos constroem um amor marcado pelo agora. Dessa forma, o diálogo final do protagonista com seu pai é nada mais do que a incontestável ideia sobre a preciosidade do tempo: nós perdemos muito no meio do caminho ao ocultarmos os sentimentos que guardamos dentro do peito.
Sorte daqueles que agarram com força a dádiva de se apaixonar. Mais sorte ainda é de quem pode viver isso de maneira recíproca.