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Ed Wood
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“You people are insane! You're wasting your lives making shit! Nobody cares! These movies are terrible!”
Ed Wood acompanha a trajetória do entusiasta a diretor de cinema Edward Davis Wood Jr. (Johnny Depp), que sonha em fazer seus próprios filmes e durante esse processo é acompanhado de outras figuras tão excêntricas e peculiares quanto ele mesmo, como um já decadente e viciado Bela Lugosi (Martin Landau, que ganhou um Oscar por sua performance), a apresentadora de filmes de horror Vampira (Lisa Marie, na época casada com Tim Burton) uma espécie de protótipo de Elvira da época, o assumido homossexual Bunny Breckinridge (Bill Murray) e muitos outros personagens interpretados por nomes de peso: a surpreendente Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Vincent D’Onofrio, etc.
Mesmo com uma trama por vezes melancólica, Ed Wood é inteiramente permeado por um charme e senso de humor únicos que contagiam o expectador, uma ótima escolha para uma história que poderia ter sido adaptada de forma bem mais dramática e pessimista e, dentre várias escolhas da direção de Burton gosto como, mesmo que peculiares, os personagens de Ed Wood nunca beiram a caricatura, característica típica das obras do diretor, uma escolha possivelmente motivada por se tratar de pessoas reais (muitas delas ainda vivas na época), os personagens do longa são únicos por natureza.
Para mim, Ed Wood é uma cinebiografia por acaso (ou talvez a forma correta de se fazer uma cinebiografia), isso faz algum sentido? após sua morte, Wood ganhou o título de Pior Diretor de Todos os Tempos por conta de seus filmes (Glen ou Glenda, A Noiva do Monstro e o mais famoso de todos: Plano 9 do Espaço Sideral), certamente Burton reconheceu-se na paixão de Wood pelo cinema e contou a história do infame diretor da melhor maneira possível, sem esconder ou mascarar quem ele era, conhecemos sobre seu cross-dressing, sobre suas relações pessoais e profissionais.
E que saudade que eu tava de ver um filme bom e criativo do Burton, recentemente ele vem se envolvendo em projetos sem alma (o que foi aquele live action de Dumbo?) ou que parecem quase uma autoparódia (O Lar das Crianças Peculiares ou sei lá como chama esse filme).
As performances de Ed Wood também são incrivelmente fenomenais, Depp captura bem a paixão e determinação de Wood pelo cinema, Bill Murray dispensa palavras, Sarah Jessica Parker está DIVINA, mas o destaque mesmo fica para Martin Landau, que parece mais com Bela Lugosi do que o próprio (esse filme poderia se chamar Bela Lugosi e eu não reclamaria), o único desempenho que considerei abaixo da média foi de Lisa Marie como Vampirq, mas pudera, é um papel difícil e fiquei sabendo que ela foi dublada nesse filme. Estranhamente, o preto e branco faz com a película pareça contemporânea, não um filme dos anos 1990.
A cena mais emblemática para mim é o encontro de Wood, considerado O Pior Piretor…, com Orson Welles, eleito O Melhor Diretor…, ambos estão na mesma situação, renegados por Hollywood, desesperados por financiamento. Nesse momento me vem à mente o quase-filme de Welles no Brasil, a semelhança de Ed Wood com José Mojica (ambos enfrentaram a Igreja Católica durante a produção de suas obras de horror), penso em como a suposta rixa entre Lugosi e Karloff daria uma ótima temporada de Feud e, por fim, me questiono o que Sganzerla acharia de Ed Wood. Li que Ed Wood foi um fracasso financeiro e retornou apenas US$ 13,8 milhões contra um orçamento de US$ 18 milhões, de certa forma isso soa naturalmente correto.
-publicado 14 de julho de 2024 no letterboxd @stollendance -
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Vinte minutos iniciais de “Encontros e Desencontros”, é inevitável, penso se tratar da versão americana de um filme do Wong Kar-Wai sobre amor e solidão na cidade, mas, seja lá o que isso quer dizer, não é, são substancialmente diferentes no enfoque e opostos na abordagem.
Durante o resto do longa, continuo voltando para seu nome original, “Lost in Translation”, acho graça na ironia porque “Encontros e Desencontros” não é ruim, porém “Lost in Translation” é um dos títulos mais acertivos e adequados que um filme já recebeu. Por certo, a obra de Sofia Coppola se equipara ao processo de uma tradução onde, na teoria, o sentido das palavras deveria ser equivalente, mas, na prática, as palavras nunca serão as mesmas.
Os personagens de Lost in Translation estão perdidos, sozinhos no meio da multidão da metrópole. Diferente do público, eles ainda não sabem que vão se interessar um pelo outro, é um exercício inesperado e gradual. O espectador imagina milhares de possíveis cenários para o fim dessa história, exceto um: o final que aconteceria na vida real, justamente o escolhido por Coppola. Não estamos em In the Mood for Love, seja factual ou imaginária, não há qualquer tipo de tensão, não há flerte e não há motivo para trair sem que haja uma testemunha. A síntese está justo na cena final, quando os dizeres incompreensíveis do protagonista são entendidos por ambos os lados.
O filme também aborda um embate cultural que assumo não ser intencional (Sofia Coppola não é uma diretora conhecida pela consciência racial), e que pode ser interpretado de muitas formas.
-publicado 15 de julho de 2024 no letterboxd @stollendance -
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“Não me belisca os peitos, porra!
Por que é que vocês acham que mulher gosta de ser beliscada?”
Primeiro de tudo, A Mulher que Inventou o Amor é uma pornochanchada, significa dizer que, mesmo que não tenha sexo explícito, o público ia ao cinema pelo teor erótico. Claro que muitos cineastas utilizaram do gênero para falar de outros temas, e até o subverteram, mas é bom ter em mente o que o rótulo de pornochanchada traz consigo. A Mulher que Inventou o Amor é mais que uma pornochanchada ao mesmo tempo que ainda o é.
Me pergunto comigo mesmo durante a exibição como as pessoas reagiriam a A Mulher que Inventou o Amor hoje em dia, um período sem espaço para a subjetividade, onde uma personagem com trajetória tão simples como Bella Baxter causa polêmica. Vejamos, o filme de Jean Garret começa com uma analogia quase batida de tão óbvia da mulher como um pedaço de carne, mas não deixa de ser efetiva, li uma review por aqui que utiliza do manequim dos créditos iniciais para afirmar que esse filme “é uma história sobre uma mulher ou uma boneca, ou uma mulher que torna-se boneca, ou uma boneca que torna-se mulher”, ninguém resumiu melhor.
Dado o exemplo de outra pornochanchada, em A Dama da Lotação de Neville d'Almeida, a personagem principal, interpretado por Sônia Braga, “se entrega a todos para continuar amando seu marido”, como dito no cartaz do filme, já na obra de Garret é quase o contrário: a emancipação da personagem não se dá pelo sexo (ou melhor, não SOMENTE pelo sexo), Tallulah (Aldine Müller) é considerada uma pessoa agressiva por simplesmente assumir um papel de gênero considerado masculino, ela começa a enxergar o homem como carne, não existe mais o tal amor romântico. Este filme é muito mais denunciatório que empoderador, seja lá o que isto quer dizer. Em determinado momento o diretor apresenta uma plateia comum assistindo a um filme de sexo no cinema, nos sentimos incomodados com um personagem masculino que assedia a protagonista do filme, Garret tá quase jogando na cara do público a hipocrisia do espectador.
-publicado em 20 de abril de 2024 no letterboxd @stollendance -