A nota aqui no Filmow realmente me surpreendeu. Eu esperava bem menos.
Jane Eyre é um dos meus romances preferidos e apesar desse não ser um filme ruim, é uma adaptação muito fraca e confusa.
Não acho necessário entrar no mérito do enredo que já é bem conhecido mas achei a química entre Michael Fassbender e Mia Wasikowska fraca, senão inexistente. Certamente não no nível que os personagens Jane e Rochester exigem. Os personagens são pessoas atormentadas com um passado difícil e tumultuoso que deixou cicatrizes. Ambos se sentem à parte do mundo e o encontro dessas duas almas perdidas é visto pelos dois como um milagre, algo raro e precioso. Mas no filme não se percebe nenhuma paixão, desejo... Nada. Se eu já não tivesse lido o livro, o amor deles não faria o menor sentido.
Em especial, Michael Fassbender é um péssimo Rochester. Rochester é um personagem excêntrico, sombrio, dominador e com tendência à mudanças bruscas de humor (hora gentil, hora grosseiro). O ator não conseguiu passar a complexidade de sentimentos do personagem.
Tanta coisa precisou ser cortada (e a edição parece que foi feita de forma aleatória) para que o romance coubesse no tempo do filme que a linha narrativa se perde e não faz sentido para quem não conhece a história previamente. Na verdade acho que é impossível fazer uma boa adaptação de Jane Eyre para um filme de 2 horas pois o romance é longo demais, muita coisa acontece e tem muitas reviravoltas.
Rochester deveria ser feio e a aparência de Jane é mais de uma vez descrita no livro como comum, sem graça... Fassbender e Wasikowska são bonitos demais para seus respectivos papéis. Mas esse parece ser um ponto no qual a maioria das adaptações pecam, então não é um demérito tão grande para esse filme em específico.
Em suma, não é um filme ruim, mas a adaptação realmente não me agradou. Falta emoção. A série feita em 2006 pela BBC é muito superior.
Quando eu assisti pela primeira vez, foi uma revelação para mim. Eu tinha 18 anos e nunca havia visto os outsiders da sociedade serem retratados como protagonistas no cinema. Descontando a ingenuidade da época e o quanto isso é mais comum hoje (inclusive ser artificialmente diferente virou mais uma commodity à ser vendida pelo sistema) ainda acho a história, as atuações e a ambientação perfeitas. Geralmente é subestimado como apenas um coming of age, mas acho que o que realmente torna esse filme especial é a busca de Enid por algo real e significativo em um mundo moderno feito de plástico. Daí vem o nome do filme, o mundo fantasma onde ele se passa é definido por sua indefinibilidade. Não se sabe em que lugar dos Estados Unidos ele é situado. Não é uma cidade grande que se destaca pelas atividades culturais e nem uma cidade pequena que se caracterize pelo conforto e falso senso de segurança. O que fica claro é a falta de espírito de um lugar onde até os "authentic 50's dinners", grupos de hip hop e bandas de blues são claramente emulados para parecerem algo que não são. Ninguém é realmente feliz no filme, mas todos colocam um sorriso no rosto e seguem a vida. E é isso que incomoda Enid. Enid não é atraída por Seymour (see more? Aquele que vê mais? Acho simbólico que ele não exista na HQ) por ele ser um colecionador de discos excêntrico, mas por ele ser sincero na forma como vive sua vida. Ele não usa a música como acessório de si mesmo, para dar a si a certeza de que é melhor que os outros. Ele é um cara com uma paixão real inevitável, mesmo que não seja considerado descolado. Em certo momento ele diz que odeia seus próprios interesses. A busca de Enid fica clara através do cartaz da "Coon Chicken", visando mostrar o quanto a sociedade não mudou, ela acaba passando por racista. Como Seymour diz, as pessoas continuam se odiando, mas hoje escondem melhor. Rebecca aceita melhor que não pode mudar o mundo e se conforma com a sociedade dita normal. Assim, depois da formatura fica claro que a amizade dela e de Enid vai se extinguindo lentamente e elas estão indo por caminhos separados na vida. Cada vez é mais claro que a busca por uma casa para morarem juntas, o sonho da sétima série é apenas um teatro para não enfrentar a verdade, uma tentativa de sobrevida. Um dos momentos chave da amizade delas, do quanto seus caminhos estão invariavelmente separados e que passa um pouco despercebido é na cena do café. Quando Rebecca rejeita o apelo de Enid pelos "weirdos" como sendo o povo delas. No fim, Enid vai embora, ela quer desaparecer pois vê que não pode contar com ninguém. Nem com o velhinho que esperava o ônibus todos os dias. Rebecca está trabalhando o dia todo, seu pai vai casar com uma mulher que ela odeia e Seymour a decepcionou duas vezes, primeiro se conformando ao namorar uma mulher que não era do tipo dele que tenta matar tudo que há de verdadeiro nele (sob seu consentimento) e depois voltando a ficar interessado por Enid subitamente apenas porque eles foram para a cama (com ajuda de uma garrafa de champagne). Há quem interprete o final como suicídio de Enid. Pessoalmente eu não vejo assim. Sempre imaginei Enid chegando em outra cidade e fazendo aquilo que sempre disse que ia fazer: desaparecer. Não em um sentido de fugir de seus próprios problemas. Mas como uma segunda chance de começar de novo em um lugar mais verdadeiro. Mas essa é uma das coisas que faz esse filme se destacar, sua aparente simplicidade esconde profundidade e dá margem para uma série de interpretações de seus personagens e do final um tanto que surreal.
Jane Eyre
3.9 787 Assista AgoraA nota aqui no Filmow realmente me surpreendeu. Eu esperava bem menos.
Jane Eyre é um dos meus romances preferidos e apesar desse não ser um filme ruim, é uma adaptação muito fraca e confusa.
Não acho necessário entrar no mérito do enredo que já é bem conhecido mas achei a química entre Michael Fassbender e Mia Wasikowska fraca, senão inexistente. Certamente não no nível que os personagens Jane e Rochester exigem. Os personagens são pessoas atormentadas com um passado difícil e tumultuoso que deixou cicatrizes. Ambos se sentem à parte do mundo e o encontro dessas duas almas perdidas é visto pelos dois como um milagre, algo raro e precioso. Mas no filme não se percebe nenhuma paixão, desejo... Nada. Se eu já não tivesse lido o livro, o amor deles não faria o menor sentido.
Em especial, Michael Fassbender é um péssimo Rochester. Rochester é um personagem excêntrico, sombrio, dominador e com tendência à mudanças bruscas de humor (hora gentil, hora grosseiro). O ator não conseguiu passar a complexidade de sentimentos do personagem.
Tanta coisa precisou ser cortada (e a edição parece que foi feita de forma aleatória) para que o romance coubesse no tempo do filme que a linha narrativa se perde e não faz sentido para quem não conhece a história previamente. Na verdade acho que é impossível fazer uma boa adaptação de Jane Eyre para um filme de 2 horas pois o romance é longo demais, muita coisa acontece e tem muitas reviravoltas.
Rochester deveria ser feio e a aparência de Jane é mais de uma vez descrita no livro como comum, sem graça... Fassbender e Wasikowska são bonitos demais para seus respectivos papéis. Mas esse parece ser um ponto no qual a maioria das adaptações pecam, então não é um demérito tão grande para esse filme em específico.
Em suma, não é um filme ruim, mas a adaptação realmente não me agradou. Falta emoção. A série feita em 2006 pela BBC é muito superior.
Ghost World: Aprendendo a Viver
3.7 540Quando eu assisti pela primeira vez, foi uma revelação para mim. Eu tinha 18 anos e nunca havia visto os outsiders da sociedade serem retratados como protagonistas no cinema. Descontando a ingenuidade da época e o quanto isso é mais comum hoje (inclusive ser artificialmente diferente virou mais uma commodity à ser vendida pelo sistema) ainda acho a história, as atuações e a ambientação perfeitas.
Geralmente é subestimado como apenas um coming of age, mas acho que o que realmente torna esse filme especial é a busca de Enid por algo real e significativo em um mundo moderno feito de plástico.
Daí vem o nome do filme, o mundo fantasma onde ele se passa é definido por sua indefinibilidade. Não se sabe em que lugar dos Estados Unidos ele é situado. Não é uma cidade grande que se destaca pelas atividades culturais e nem uma cidade pequena que se caracterize pelo conforto e falso senso de segurança. O que fica claro é a falta de espírito de um lugar onde até os "authentic 50's dinners", grupos de hip hop e bandas de blues são claramente emulados para parecerem algo que não são. Ninguém é realmente feliz no filme, mas todos colocam um sorriso no rosto e seguem a vida. E é isso que incomoda Enid.
Enid não é atraída por Seymour (see more? Aquele que vê mais? Acho simbólico que ele não exista na HQ) por ele ser um colecionador de discos excêntrico, mas por ele ser sincero na forma como vive sua vida. Ele não usa a música como acessório de si mesmo, para dar a si a certeza de que é melhor que os outros. Ele é um cara com uma paixão real inevitável, mesmo que não seja considerado descolado. Em certo momento ele diz que odeia seus próprios interesses. A busca de Enid fica clara através do cartaz da "Coon Chicken", visando mostrar o quanto a sociedade não mudou, ela acaba passando por racista. Como Seymour diz, as pessoas continuam se odiando, mas hoje escondem melhor.
Rebecca aceita melhor que não pode mudar o mundo e se conforma com a sociedade dita normal. Assim, depois da formatura fica claro que a amizade dela e de Enid vai se extinguindo lentamente e elas estão indo por caminhos separados na vida. Cada vez é mais claro que a busca por uma casa para morarem juntas, o sonho da sétima série é apenas um teatro para não enfrentar a verdade, uma tentativa de sobrevida. Um dos momentos chave da amizade delas, do quanto seus caminhos estão invariavelmente separados e que passa um pouco despercebido é na cena do café. Quando Rebecca rejeita o apelo de Enid pelos "weirdos" como sendo o povo delas.
No fim, Enid vai embora, ela quer desaparecer pois vê que não pode contar com ninguém. Nem com o velhinho que esperava o ônibus todos os dias. Rebecca está trabalhando o dia todo, seu pai vai casar com uma mulher que ela odeia e Seymour a decepcionou duas vezes, primeiro se conformando ao namorar uma mulher que não era do tipo dele que tenta matar tudo que há de verdadeiro nele (sob seu consentimento) e depois voltando a ficar interessado por Enid subitamente apenas porque eles foram para a cama (com ajuda de uma garrafa de champagne).
Há quem interprete o final como suicídio de Enid. Pessoalmente eu não vejo assim. Sempre imaginei Enid chegando em outra cidade e fazendo aquilo que sempre disse que ia fazer: desaparecer. Não em um sentido de fugir de seus próprios problemas. Mas como uma segunda chance de começar de novo em um lugar mais verdadeiro. Mas essa é uma das coisas que faz esse filme se destacar, sua aparente simplicidade esconde profundidade e dá margem para uma série de interpretações de seus personagens e do final um tanto que surreal.
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