Arthur

Pra quem não entendeu, o Babadook na verdade é um personagem imaginário criado pela própria mãe para jogar toda sua mágoa, tristeza e depressão no filho.
Babadook é uma metáfora da depressão que a mãe carrega em si após a morte de seu marido que, no seu interior, julga o filho como o principal responsável por essa morte. A mãe então escreve um livro para "assombrar" o filho (que já é problemático) criando um bode expiatório de toda sua frustração. O menino, carregado de sua inocência infantil, abraça todo o terror criado pela mãe e começa a presenciar o Babadook.
Na cena final, vemos a mãe alimentando o monstro, demonstrando que, por mais que não possa "matar seu monstro interior", pode conviver com ele trancado em um local dentro de si, alimentando-o as vezes, mas sem deixa-lo sair do controle.

O filme traz uma crítica ao comportamento humano: de culturas, hábitos e de como temos o costume de impor nossos pensamentos do que é certo e errado sobre outras pessoas.
No começo do filme temos uma cena que acaba passando despercebida, mas que já traz uma ideia do que se trata o filme: na cena que o pai da família avista a mulher "selvagem" (que não possui o mesmo modelo de vida que a dele) ele a vê nua, mesmo na realidade ela estando com roupa. Nesta cena, fica claro que o pai julga como "nu" aquele modelo de vida "selvagem" diferente do seu, então ele começa a "modelar" esta mulher segundo o seu pesamento do que é um modelo certo de vida.

O filme todo se trata disso: pessoas julgando outras por serem diferentes.
Temos várias cenas que demonstram isso: a filha mais velha sendo julgada na escola; a filha mais nova sendo chamada a atenção por comer a massa de biscoito do seu jeito; a filha mais nova chamando a atenção do irmão por não comer o biscoito de homenzinho começando pela cabeça; a professora que julga a filha mais velha devido a uma possível gravidez; e claro: o pai julgando a mulher como "selvagem".

O filme também retrata como opiniões fortes (muitas vezes erradas, como a do pai) pode refletir em pessoas ao seu redor (como refletiu no filho); de como algumas pessoas são submissas e coniventes a padrões sociais errados (no caso da mãe); de como, muitas vezes, julgamos o nosso modelo de vida como certo e os demais como errado.

Por que a mulher "selvagem" estava errada? Por que ela não poderia continuar vivendo no seu jeito "primitivo" de vida? O modelo de vida dela é errado? Por que tanto julgar outros diferentes modelos de vida e impôr padrões sociais?

O final sangrento, com aquele tão sonhado gostinho de vingança fecha com chave de ouro este filme.
E para reafirmar ainda mais a crítica do filme: temos uma cena pós crédito bem viajada onde a filha mais nova, após fugir com a mulher "selvagem" encontra um novo mundo e, diante de um monstro, não o teme, revelando as flores daquele "monstro desconhecido".