Eduardo Coutinho é um dos mais conceituados documentaristas do cinema brasileiro, sem delongas. Ele buscou mostrar um Brasil muitas vezes ignorado em detrimento a uma falsa imagem de homogeneização nacional com tamanha honestidade que deveria ser pré-requisito para qualquer documentarista. A sutileza dos movimentos de câmera, o silêncio que diz muito, seguido da fluidez de um raciocínio em conclusão, fazem da direção um meio a parte para um fim, partindo do princípio de não roteirizar, como anunciado no começo do filme: "sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar". O documentário não falha nessa proposta, mostrando pessoas cheias de memórias e vivências, com relatos que são fontes riquíssimas para a história oral. A morte é um tema recorrente uma vez que, as entrevistas se dão sempre com pessoas idosas e que muitas vezes evocam a temática de maneira natural assim como, a religiosidade mostra-se presente em quase todo o documentário. O filme transborda alteridade e delicadeza, não se fundamenta no princípio mesquinho de "dar voz", pelo contrário, como telespectadores somos a audição, a visão, a fruição e a sensibilidade.
Seguramente um dos melhores filmes do Lynch, se não for o melhor. É uma obra prima, destas que serão lembradas por muito tempo e que marcam a história do cinema. É um filme complexo, creio que para a maioria das pessoas é necessário assistir mais de uma vez, assim como foi para mim mas, posso garantir que tudo está lá! Possuí sentido e significado lógico, não são apenas planos montados aleatoriamente como alguns sugerem. Estamos habituados a filmes que não exigem tanta reflexão e que dizem tudo linearmente para nós, este é um pouco diferente neste sentido, quem não gosta de um bom desafio com certeza o detestará. David Lynch é provocador e deixa várias dicas ao longo da trama como, por exemplo, o homem no clube silêncio dizendo "tudo é uma ilusão".
Minha análise parte do princípio que a personagem de Naomi Watts é na verdade a Diane e não Betty como o começo do filme sugere, assim como, Rita é na verdade Camilla. O final do filme é essencial para a compreensão de que tudo foi um sonho, apesar de parecer um pesadelo, é a mais pura realidade de Diane. Ela estava sonhando durante toda trama com um mundo que ela não podia viver na sua vida real, ao contrário, ela queria esquecer de certas coisas que fez e se arrependeu. É aquela sensação horrível que temos quando acordamos de um sonho muito bom e percebemos que o mundo real não é nada daquilo. A cena da festa na casa do diretor mostra muito bem como é a vida de Diane, os sonhos parecem muito mais atrativos neste sentido. É um filme pesado quando compreendemos, destes que fazem você sentir-se mal em relação a personagem principal, seus medos, arrependimentos e inseguranças. A cena final, do suicídio de Diane, que mostra como ela não conseguiu suportar a dura realidade que vivia e é atormentada pela culpa é de dar calafrios. É exatamente por isso que é muito marcante, quando uma obra de arte mexe de verdade com suas emoções pode ter certeza que é uma boa obra de arte.
Excelente filme! Traz a tona questões importantes presentes na sociedade estadunidense com a pena de morte, a pobreza e o racismo que muitas vezes não são mostrados nos filmes que retratam os Estados Unidos.
Além disso, o roteiro ainda conta com um desfecho sensacional, totalmente adverso ao finais convencionais. O desenvolvimento do mesmo se direciona a dois finais clichês: Matthew é inocente e mesmo assim ele é morto ou a irmã Helen consegue provar sua inocência e ele é solto. Acontece que o final não é nenhum destes, o que causa um certo incômodo ao telespectador principalmente aqueles mais habituados aos filmes ditos "block busters".
Nem vou comentar a excelente atuação de Seann Penn e Susan Sarandon, estes dispensam os meus comentários.
Primeiramente, quero destacar a produção do filme. A fotografia amarelada, a ambientação juntamente com a trilha sonoro trazem uma incrível sensação bucólica em que as tensões do enredo são refletidas diretamente no espectador. A atuação do Jake Gyllenhaal também me chamou a atenção, ele fazendo dois papéis que apesar de tudo, possuem personalidades diferentes e isso é extremamente visível a partir do modo como os personagem se movimentam. Quanto ao roteiro, penso que duas passagens do filme podem nos ajudar a esclarecer, as duas aulas de Adam Bell. Na primeira em que ele trata das ditaduras ele diz a seguinte frase: "Censuraram todos os meios de expressão do indivíduo. E é importante lembrar que isso é um padrão que se repete ao longo da história." Neste sentido, pensando em um padrão que se repete ao longo da história, tendo a pensar que o filme é um padrão que se repete também e que o começo dele é na verdade o final e que ele segue um padrão circular e repetitivo. Minha desconfiança para tal está na chave que é encontrada no envelope ao final do filme que é a mesma chave que ele usa para abrir a porta no começo. Quem está indo para o local com as dançarinas é na verdade o Adam e não o Anthony, dando uma continuidade circular ao filme. Depois disso aparece a Helen sozinha, ela foi na verdade abandonada pelo Adam naquele momento, em que, ao final do filme ele diz pra ela: "Você tem alguma coisa pra fazer hoje a noite? Por que acho que terei de sair". O começo do filme é portanto essa saída que ele anunciou. É como se a frase dita por ele na primeira aula ecoa-se em nossas cabeças ao longo do filme, como um prenúncio. A segunda passagem é a outra aula: "Hegel disse que os maiores eventos do mundo acontecem duas vezes, e então Karl Marx adicionou: a primeira vez foi uma tragédia, a segunda foi uma farsa. É estranho pensar que os maiores pensadores do mundo estão preocupados que esse século vai ser uma repetição do último. Agora a uma observação interessante: Um ato criativo de memória para se lembrar algo, para se lembrar de alguém, é estar sempre disfarçado de emoções." Essa parte ajuda a reafirmar o que foi dito anteriormente da ideia de roteiro circular e repetitivo contudo, podemos pensar outras questões aqui. O evento mais trágico no filme, penso que é o acidente de carro de Mary e Anthony enquanto que, Adam parece viver uma farsa com a Helen. Para a psicanálise a aranha que no centro absorve grande introspecção, simboliza o ser narcisista e é isso que leva os dois personagens a fugirem de suas rotinas e se encontrar um com o outro, os desejos individuais presentes com representação nas mulheres que não são a namorada e a esposa, respectivamente. Não se trata de julgar se eles são a mesma pessoa e sim que eles possuem emoções diferentes. A vida deles é uma teia de aranha que se costura e se aproxima mais e mais até chegar ao centro. Bom, isso é uma interpretação, esse tipo de filme principalmente, tem relação entre o leitura do livro, a representação feita, o individuo que o assistiu e o momento em que foi assistido. É bem complexo e tenho certeza que não existe apenas uma interpretação mas sim, várias. "Caos is the order yet undeciphered".
O Fim e o Princípio
4.3 65Eduardo Coutinho é um dos mais conceituados documentaristas do cinema brasileiro, sem delongas. Ele buscou mostrar um Brasil muitas vezes ignorado em detrimento a uma falsa imagem de homogeneização nacional com tamanha honestidade que deveria ser pré-requisito para qualquer documentarista. A sutileza dos movimentos de câmera, o silêncio que diz muito, seguido da fluidez de um raciocínio em conclusão, fazem da direção um meio a parte para um fim, partindo do princípio de não roteirizar, como anunciado no começo do filme: "sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar". O documentário não falha nessa proposta, mostrando pessoas cheias de memórias e vivências, com relatos que são fontes riquíssimas para a história oral. A morte é um tema recorrente uma vez que, as entrevistas se dão sempre com pessoas idosas e que muitas vezes evocam a temática de maneira natural assim como, a religiosidade mostra-se presente em quase todo o documentário. O filme transborda alteridade e delicadeza, não se fundamenta no princípio mesquinho de "dar voz", pelo contrário, como telespectadores somos a audição, a visão, a fruição e a sensibilidade.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraSeguramente um dos melhores filmes do Lynch, se não for o melhor. É uma obra prima, destas que serão lembradas por muito tempo e que marcam a história do cinema. É um filme complexo, creio que para a maioria das pessoas é necessário assistir mais de uma vez, assim como foi para mim mas, posso garantir que tudo está lá! Possuí sentido e significado lógico, não são apenas planos montados aleatoriamente como alguns sugerem. Estamos habituados a filmes que não exigem tanta reflexão e que dizem tudo linearmente para nós, este é um pouco diferente neste sentido, quem não gosta de um bom desafio com certeza o detestará. David Lynch é provocador e deixa várias dicas ao longo da trama como, por exemplo, o homem no clube silêncio dizendo "tudo é uma ilusão".
Minha análise parte do princípio que a personagem de Naomi Watts é na verdade a Diane e não Betty como o começo do filme sugere, assim como, Rita é na verdade Camilla. O final do filme é essencial para a compreensão de que tudo foi um sonho, apesar de parecer um pesadelo, é a mais pura realidade de Diane. Ela estava sonhando durante toda trama com um mundo que ela não podia viver na sua vida real, ao contrário, ela queria esquecer de certas coisas que fez e se arrependeu. É aquela sensação horrível que temos quando acordamos de um sonho muito bom e percebemos que o mundo real não é nada daquilo. A cena da festa na casa do diretor mostra muito bem como é a vida de Diane, os sonhos parecem muito mais atrativos neste sentido. É um filme pesado quando compreendemos, destes que fazem você sentir-se mal em relação a personagem principal, seus medos, arrependimentos e inseguranças. A cena final, do suicídio de Diane, que mostra como ela não conseguiu suportar a dura realidade que vivia e é atormentada pela culpa é de dar calafrios. É exatamente por isso que é muito marcante, quando uma obra de arte mexe de verdade com suas emoções pode ter certeza que é uma boa obra de arte.
Os Últimos Passos de um Homem
4.0 246 Assista AgoraExcelente filme! Traz a tona questões importantes presentes na sociedade estadunidense com a pena de morte, a pobreza e o racismo que muitas vezes não são mostrados nos filmes que retratam os Estados Unidos.
Além disso, o roteiro ainda conta com um desfecho sensacional, totalmente adverso ao finais convencionais. O desenvolvimento do mesmo se direciona a dois finais clichês: Matthew é inocente e mesmo assim ele é morto ou a irmã Helen consegue provar sua inocência e ele é solto. Acontece que o final não é nenhum destes, o que causa um certo incômodo ao telespectador principalmente aqueles mais habituados aos filmes ditos "block busters".
O Homem Duplicado
3.7 1,8K Assista AgoraPrimeiramente, quero destacar a produção do filme. A fotografia amarelada, a ambientação juntamente com a trilha sonoro trazem uma incrível sensação bucólica em que as tensões do enredo são refletidas diretamente no espectador. A atuação do Jake Gyllenhaal também me chamou a atenção, ele fazendo dois papéis que apesar de tudo, possuem personalidades diferentes e isso é extremamente visível a partir do modo como os personagem se movimentam. Quanto ao roteiro, penso que duas passagens do filme podem nos ajudar a esclarecer, as duas aulas de Adam Bell. Na primeira em que ele trata das ditaduras ele diz a seguinte frase: "Censuraram todos os meios de expressão do indivíduo. E é importante lembrar que isso é um padrão que se repete ao longo da história." Neste sentido, pensando em um padrão que se repete ao longo da história, tendo a pensar que o filme é um padrão que se repete também e que o começo dele é na verdade o final e que ele segue um padrão circular e repetitivo. Minha desconfiança para tal está na chave que é encontrada no envelope ao final do filme que é a mesma chave que ele usa para abrir a porta no começo. Quem está indo para o local com as dançarinas é na verdade o Adam e não o Anthony, dando uma continuidade circular ao filme. Depois disso aparece a Helen sozinha, ela foi na verdade abandonada pelo Adam naquele momento, em que, ao final do filme ele diz pra ela: "Você tem alguma coisa pra fazer hoje a noite? Por que acho que terei de sair". O começo do filme é portanto essa saída que ele anunciou. É como se a frase dita por ele na primeira aula ecoa-se em nossas cabeças ao longo do filme, como um prenúncio. A segunda passagem é a outra aula: "Hegel disse que os maiores eventos do mundo acontecem duas vezes, e então Karl Marx adicionou: a primeira vez foi uma tragédia, a segunda foi uma farsa. É estranho pensar que os maiores pensadores do mundo estão preocupados que esse século vai ser uma repetição do último. Agora a uma observação interessante: Um ato criativo de memória para se lembrar algo, para se lembrar de alguém, é estar sempre disfarçado de emoções." Essa parte ajuda a reafirmar o que foi dito anteriormente da ideia de roteiro circular e repetitivo contudo, podemos pensar outras questões aqui. O evento mais trágico no filme, penso que é o acidente de carro de Mary e Anthony enquanto que, Adam parece viver uma farsa com a Helen. Para a psicanálise a aranha que no centro absorve grande introspecção, simboliza o ser narcisista e é isso que leva os dois personagens a fugirem de suas rotinas e se encontrar um com o outro, os desejos individuais presentes com representação nas mulheres que não são a namorada e a esposa, respectivamente. Não se trata de julgar se eles são a mesma pessoa e sim que eles possuem emoções diferentes. A vida deles é uma teia de aranha que se costura e se aproxima mais e mais até chegar ao centro. Bom, isso é uma interpretação, esse tipo de filme principalmente, tem relação entre o leitura do livro, a representação feita, o individuo que o assistiu e o momento em que foi assistido. É bem complexo e tenho certeza que não existe apenas uma interpretação mas sim, várias. "Caos is the order yet undeciphered".
A Praia
3.2 692 Assista AgoraO filme é bom em vários aspectos, contudo, tenta naturalizar o individualismo e a vida urbana. Neste sentido, o roteiro deixa a desejar.
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Febre do Rato
4.0 657"O placar pode até não ser justo, mas a partida é boa pra caralho" - Essa frase define muito bem o filme.
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