O diretor e roteirista francês Luc Besson faz com que Lucy não seja um simples filme de ação ou ficção científica, devido ao seu roteiro criativo com referências matemáticas e históricas. Em pleno século 21, o longa coloca em debate diversos assuntos atuais e relevantes para o nosso cotidiano, como comportamento, tráfico de drogas e a capacidade humana na era tecnológica. Tudo isso é associado e construído de uma forma de fácil assimilação e com pouca repetitividade.
Scarlett Johansson é Lucy, a protagonista da trama, com um papel que parece ter sido feito sob medida para a atriz. Uma mulher forte, determinada e destemida, exatamente tudo o que ela vem representando em seus filmes. A norte-americana Lucy mora em Taiwan, onde, por acaso, acaba caindo nas mãos de traficantes chineses, sendo submetida a servir seu corpo de “mala” para levar uma nova droga para a Europa. Entretanto, a substância acaba vazando dentro dela, e ao absorvê-la a jovem passa a adquirir gradativamente poderes especiais.
Baseado na falsa teoria de que os humanos utilizam apenas 10% de seu cérebro, talvez não por acreditarem no fato, e sim para atribuir uma verossimilhança a história. O longa intercala as cenas de ação de Scarlett com a palestra do professor Samuel Norman, interpretado por Morgan Freeman, que apresenta dados sobre o poder da capacidade humana. Cada passo dado por Lucy é explicado indiretamente por Norman, bem como o que está acontecendo no cérebro da garota, criando-se desta forma uma espécie de narrador dos fatos.
Ao decorrer da obra são identificadas diversas referências, entre elas podemos relembrar de Matrix e Sem Limites. Contudo, o que mais marcou foram as analogias criadas no primeiro ato, o qual faz menção ao filme de Charles Chaplin, Tempos Modernos. Esse tipo de metáfora apesar de bem batida, é interessante, porém, a trama peca ao utiliza-la somente no começo da história e esquecendo-a durante o resto do longa. Isso faz com que esse elemento não se seja consistente na narrativa, perdendo o seu valor.
A trama inteira gira em torno de uma pergunta: Será que a humanidade está pronta para tanto conhecimento? Várias reflexões são geradas com base nesse questionamento, na quais criam inúmeras interpretações subjetivas pelo público. Acompanhado pela trilha sonora, essas questões se tornam mais intensas na história. Todos os sentimentos de Lucy são refletidos pelo som que lhe segue. Desde a música instrumental leve ao mais hardcore, podemos sentir o efeito dominó que é causado dentro dela ao atingir cada vez mais o poder de sua capacidade cerebral. Dentro disso, os efeitos visuais e a maquiagem tornam o sci-fi muito mais real, fazem com que o espectador acredite naquela história, deixando a ficção de lado.
Conhecido como o Michael Bay, o francês, Luc Besson erra ao colocar muitas cenas de ação no projeto, desconstruindo o ideal da trama. Para desrotular o longa de ficção científica foi necessário colocar mais cenas de ação desnecessárias para a narrativa. A perseguição dos chineses ou coreanos – algo que não é deixado claro -, acaba sendo cansativa e sem graça. Os olhos puxados metidos a “Yakuza” se tornam verdadeiras piadas no decorrer da história, fazendo deste, talvez, o maior erro do filme.
Lucy é um filme que atrai por sua estética e roteiro muito bem trabalhados. Fazendo a trama virar uma reflexão sobre o comportamento humano nos tempos atuais, mesmo não sendo uma obra científica com dados reais. Mas ao tentar sair do rótulo de sci-fi para tornar um longa de ação, ele acaba vendendo sua parte de menos significância, podendo assim decepcionar os fãs que irão aos cinemas à procura de uma boa ação.
Por: Caroline Venco