Bruno

É interessante sair da esfera do cinema que estamos acostumados, da minha geração, de filmes mainstream com produções soberbas e filmes alternativos que tem habilidades mais que suficientes para se equiparar ao alcance dos grandes estúdios, trazendo criatividade e assuntos que não passam pelo crivo da diretoria financeira. Dançando no escuro, se enquadra nesse último tipo, mas inserido em uma época que pensar fora da caixinha custava na qualidade da imagem, ao mesmo tempo que incrementava seu valor visual e significativo.

Assistir a um filme do Von Trier, que num primeiro momento mais parece uma gravação caseira da década de 90 é definitivamente irritante. Assistir aqueles takes e zooms amadores incomoda, ao mesmo tempo que nos mostrar a simplicade nas feições de Bjork encanta e mesmeriza. Há um olhar suave e bondoso, de uma personagem que carrega o mundo nas costas. Você sente a angústia por saber obviamente o que vai acontecer, mesmo assim se surpreendendo no caminho, e tem a necessidade básica, de por a personagem nas costas e sair correndo o mais longe possível daquela tristeza.

Lars von trier é um cara malvado. É um ser que enxerga o mundo por uma ótica descrente de coisas boas, que abraça a tristeza, o chocante, a violência e a dor. E faz questão de ser visceral sobre isso sempre que pode, até que enxerguemos com a clareza e simplicidade que ele enxerga a desgraça, e acha beleza nisso. E apesar de pequenos incômodos no roteiro, na falta de construção e propósito em alguns personagens e cenas, é um filme bonito, que provoca emoção. Acho que é o musical mais triste e pé no chão que já assisti, apesar de todas as alegrias delusionais de sua protagonista.

Um filme de ficção científica. Um filme sobre amor. Sobre aliens, humanos, sobre erros, acertos, viver sem pensar nas consequências. Viver e pensar nas consequências, ter medo delas, do estrago e da tristeza que trariam, sem realmente viver.

Extremamente tocante, é uma obra de assistir na ponta dos pés, é terrível o que faz com nossos cérebros, as especulações, é mágico. Um dos meus filmes favoritos. Precisei assistir 2 vezes seguidas, se você espectador não se entrega a história e não presta atenção aos detalhes, espere por muita confusão. Espere por muitas coisas e espero sinceramente que vocês vão assistir sem expectativas.

Deixe o filme fazer o trabalho dele.

Se Amy Adams foi má avaliada por alguém antes disso. Por favor, assistam A Chegada e atualizem seus conceitos sobre a atriz mais maravilhosa que esta produção poderia ter escolhido. Do diretor e roteiristas, eu só tenho que dar um beijo em cada.

Vejam e Ouçam, é uma obra prima audiovisual.

Como avaliar um filme com direção, luz, fotografia, cenários, figurinos, maquiagem e produção impecáveis? Com uma protagonista linda, que precisa interpretar uma personagem que reconhece a própria beleza e sua delicadeza de traços, seu rosto sereno e sorriso conquistador nos faz parecer o ser mais puro e inocente que já pisou em L.A?

Como avaliar um filme tão bom e tão miseravelmente ruim?

Roteiro e nexo foram tomar uns drinks depois de uma das sessões de foto e nunca mais voltaram. O filme se constrói ao redor da vida da personagem, somos aqueles que acompanham os baby steps esperando que a coisa leve algum lugar em frente. E assim acompanhamos, a nosso mal prazer.

Os erros do filme, foram introduzir conceitos e ideias sem planejamento, distorcendo completamente a história para um outro tópico, que só houve leve menção no meio do filme. Pegar o mundano e torna-lo surreal, é aceitável, com embasamento, com algo que de imersão e realidade a sua viagem louca. O que não foi bem este caso. Um filme lindíssimo, interessante até certo ponto, pra aqueles que gostam do tema ou do carisma da atriz principal, mas que rola montanha abaixo e possui seus últimos 20 minutos de pura perdição e falta de nexo. Ansiei e muito pelos créditos surgirem na tela.