Logo de cara vou reservar as minhas congratulações a Ben Affleck. Finalmente eu consegui gostar de uma atuação desse ator pragmático e sem muitas expressões cativantes. O engraçado é que são exatamente essas características as responsáveis por moldar o caráter de um personagem aparentemente indeciso, pouco corajoso e que não sabe como lidar com as situações de seu cotidiano da melhor forma. A genialidade de Fincher ao pescar que essa combinação daria certo é evidente.
Quanto ao filme, mais uma vez esse diretor fantástico veio nos lembrar que nem tudo são contos de fadas. Fiquei apaixonado pela trilha sonora calculada e bem definida para cada momento da trama. Tamanho alinhamento faz Gone Girl resgatar antigas discussões sobre a natureza cruel, violenta e egoísta do homem moderno, assim como o trabalho da mídia em mitificar, endeusar, blasfemar e manipular, tudo com doses homeopáticas de sarcasmo e loucura.
É difícil se aprofundar muito sem estragar as reviravoltas do filme mas é possível dizer que levantar da cadeira no final sem se sentir um pouco tonto não é uma possibilidade.
Por condições de árvore genealógica e certa preguiça, assisti ao Philadelphia (1993) com 21 anos de atraso.
Certamente esse filme foi um dos primeiros grandes veículos de diálogo frontal com a sociedade sobre um assunto delicado e praticamente intocável como a AIDS num período repleto de tabus. Nada melhor do que contar com um dos maiores atores do cinema contemporâneo em sua atuação mais reverenciada para transmitir essa mensagem numa trama sem muitos rodeios e bem retilínea. O Oscar de melhor ator recebido por Tom Hanks é indiscutível.
Mesmo que os clichês sejam evidentes e o desfecho inevitavelmente previsível com uma moral onde todos são levados a reflexão em cima de personalidades distintas que ultrapassam barreiras de preconceito conseguindo estabelecer um vínculo de afeto independente de paradigmas pessoais, o trabalho é tão sincero e bem interpretado que fica impossível não se emocionar e raciocinar a problemática da doença e das relações pessoais independente de opção sexual.
Pela conjuntura da época, o valor da obra é incomensurável.
Um filme que tem como aspectos positivos a busca pela saída da zona de conforto do cinema nacional, atuações boas por parte dos protagonistas, um embasamento psicológico tenso na constituição do thriller e fotografia agradável.
Quanto aos muitos pontos ruins, destacam-se o abandono ao passado responsável pela definição das personalidades dos protagonistas, a identidade nula dos personagens secundários, a participação do Bope digna de piada, os flashbacks de curta duração, as cenas de susto sonoro clichês e o desfecho mais do que óbvio.
Mas pra falar a verdade, nada de muito diferente desses filmes de suspense/terror americanos que brasileiro tenda vender como obra prima contemporânea. A real é que eu fiquei tenso por muito tempo, esperei uma história que não existia e rezei para que o final previsível chegasse logo. Pra quem gosta desse tipo de entretenimento, não entendo um porquê para o filme ser tão criticado. Infelizmente comigo isso não funciona muito.
É uma pena que um filme com tanto potencial para debate tenha resolvido partir para o caminho do clichê barato e da redenção do cristianismo à qualquer custo.
Eu, que fui atraído pela sinopse e passei alguns momentos do filme com bastante interesse nos baluartes que se travariam no decorrer de cada fase, saí do cinema puto com tamanho maniqueísmo barato e preconceituoso com as outras crenças. Mesmo não tendo nenhuma religiosidade e passando longe de crer nos dogmas que as religiões mais alastradas do mundo pregam, me pareceu absolutamente infundado e de mau gosto a postura que o autor resolveu caricaturar a fé de personagens com origens muçulmanas ou asiáticas, entrelaçadas a extremismos e imposições familiares bruscas que de fato não representam a parte bonita de tais culturais, ou até mesmo no tato com o pensamento ateísta, realizado sempre de maneira completamente leviana e sem discussão, apenas por imposição, enquanto os cristão adotavam uma personalidade retilineamente coerente, serena e equilibrada, repleta de argumentos na busca pelo sentido da fé.
É uma pena que um tema tão amplo a discussões sadias e absolutamente proveitosas para o crescimento de nós como pessoas tenha sido finalizado com a mais absurda das hipocrisias: a imposição de um dogma depois de quase duas horas de crítica ao dogma imposto pelo professor ateu.
Simplesmente trocaram o 80 pelo 8 da mesma forma errônea e impositiva de antes. Nada menos do que um retrato do que acontece no mundo real. Por essas e outras que eu entendo e defino a religião, qualquer uma delas, como um cercadinho de arame farpado em que você se esconde para instigar os seus preconceitos específicos.
Um roteiro burro, preconceituoso e mal aproveitado!
Por fatores óbvios, grande parte da repercussão de "Praia do Futuro" se restringiu às fortes cenas de sexo entre dois homens, os belíssimos atores Wagner Moura e Clemens Schick. Entretanto, as transas em si não foram um fator preponderante capaz de moldar as minhas opiniões acerca do filme embora comentários vazios dentro do cinema do tipo "Não aguento mais tanta boiolagem" ou "É sério que eu vou ter que ver a bunda do Wagner Moura o tempo todo?" apenas atestem que, nem de perto, o filme está digerido para qualquer público. O que de fato é até bom...
Entendi o início como bem definido. Captar a personalidade de Donato foi fácil, possibilitando uma rápida percepção das crises de consciência que poderiam vir a ocorrer futuramente, frente à impotência diante do grande incidente do "Capítulo I" do filme. O ponto que não me convenceu nem me agradou foi a rapidez com que as coisas aconteceram logo em seguida.
Me pareceu claro que o "amigo" motociclista de Konrad que veio a morrer afogado no início da trama, era o seu grande parceiro, provavelmente um namorado. A repentina cena de sexo entre Konrad e Donato, dentro de um carro, no meio da rua, logo após uma morte completamente doloroso para ambos (por motivos distintos, é claro), poucos minutos depois deles se conhecerem, me desceu como forçação de barra. A cena claramente não foi de um casal homossexual fazendo amor e sim de dois homossexuais trepando. Até aí nenhum problema mas pela sensibilidade dos personagens, eu não achei coerente. O fato de o Donato ter sido o passivo reforça, pelo menos pra mim, a ideia de sentimento de culpa, como se aquilo não passasse de um momento repentino. Essa ideia da passividade se mostra com algum fundamento quando é Konrad que se encontra nessa posição logo após chamar seu amante de covarde, na parte final, atestando uma ideia de "Me entregarei completamente. Eu não deveria ter agido daquela forma". Mas enfim... Isso é apenas uma impressão pontual.
No Capítulo II, a esfera dramática passa a dar lugar a um romance típico onde o apaixonado larga tudo indo em busca de seu grande amor.
Outro momento incoerente! Donato sempre nutriu um amor gigantesco por seu irmão caçula Ayrton, não fazendo o menor sentido a mudança repentina para a Alemanha. O personagem bem definido na primeira parte, acabava de se esconder dentro de um novo, enquanto o alemão continuava firme dentro de sua sensibilidade fria e Ayrton transformava o Speed Racer em um menino rancoroso com muita amargura guardada após o abandono covarde de Aquaman.
Chegamos então à Parte III e final, onde os protagonistas são obrigados a ocupar o mesmo ponto da história.
Me pareceu óbvio que Ayrton surgiria em algum momento, já que ele tinha grande importância para o desenvolvimento das emoções de Donato. A cena do elevador é repleta de intensidade. A troca de socos e pontapés misturada com abraços e beijos foi belíssima. Jesuíta Barbosa conseguiu transmitir o olhar perfeito ao personagem mais emblemático, para mim. de toda essa história.
Ás vésperas do fim, poucas cenas tiveram grande relevância no contexto macro.
A rebeldia juvenil teve que ser moldada pelo únicos responsáveis por aquele menino sofrido. Até que o momento da praia sem água também coroou com muita beleza a genuinidade que alavancou o filme em seus primeiros desenrolares.
A Fotografia definitivamente é um diferencial. Algumas cenas se alongam mais que o normal mas o objetivo de Karim Aïnouz é alcançado. A naturalidade da homossexualidade também me pareceu plena.
A comprovação disso vem por Ayrton que, em momento algum, se mostrou resistente com a opção de seu irmão, tendo a marcante frase "Você é um viado egoísta que gosta de dar o cu escondido nesse Polo Norte!" uma conotação absolutamente perfeita com a agressão direcionada ao sofrimento que Donato causou e não à sua sexualidade em si.
Por pouco o meu "3,5" não virou "4,0" graças à magnífica reflexão final acerca de medo e coragem. É um roteiro que vale a pena mas que não deveria estar no circuito normal! Pelo menos por enquanto.
É realmente complicado ir ao cinema assistir a um filme supostamente engraçado com vários comediantes que eu definitivamente gosto muito e dar de cara com o que foi esse Copa de Elite. A ideia de parodiar outros filmes nacionais à la franquias americanas como "Todo Mundo Em Pânico" ou "Inatividade Paranormal" parecia boa. Só parecia. A história absolutamente sem pé nem cabeça se perdeu entre piadas vergonha alheia ou risadas absolutamente esporádicas estimuladas muito mais pela caracterização dos atores do que por uma graça em si. Em certos momentos, parecia que os próprios personagens se encabulavam com a cena forçada e desistiam dela antes do fim, não nos permitindo esboçar reação. Definitivamente não sei o que salvar desse roteiro. Vai ver de fato não houve roteirista...
Um instigante mistério espanhol onde as previsibilidades se consumam no imprevisível.
A trama basicamente ocorre toda dentro de um Instituto de Medicina Legal e Forense, temperada por cenas "dèja-vú" e "reconstituições simuladas", cujo contexto se dá pelo desaparecimento do corpo de uma bem sucedida empresária diagnosticada morta por conta de um enfarto.
O roteiro nos prende por conta de seu bom ritmo e pelos pontuais desvendamentos ou hipotetizações que vão tornando o quebra-cabeça aparentemente mais bem resolvido. Nesse ponto, o telespectador parece se confrontar com possibilidades de desfecho bem específicas e pouco embaçadas, sem que haja muito o que inventar ou deduzir acerca do desenrolar.
Eis então que as personalidades dos personagens ultrapassam um ponto superficial e de representação exclusivamente cênica para um contexto de total relevância na história.
A empresária carente, com crises de meia idade e "troll" ao extremo tem seus motivos explicitados. O viúvo ganancioso e adúltero justifica as suas características. O delegado preso à perda do passado eleva as suas amarguras à chave dos crime.
O final é inesperado e muito bem encaixado. Embora eu estivesse aguardando por reviravoltas causadas pelos próprios protagonistas desse desfecho, a criatividade do autor conseguiu me ultrapassar.
Com mais alguns minutos de filme, quem ficaria maluco seria eu.
O personagem vivido por Leonardo DiCaprio, Teddy Daniels, é um detetive enviado para investigar o desaparecimento de uma paciente em um asilo psiquiátrico de criminosos. Ao longo de sua investigação, começa a desconfiar que a ilha seja um local onde se fazem diversas experiências com os doentes, como em outros contextos de guerra, e se vê preso em uma conspiração. Daniels acaba sendo contagiado pelo medo, e deixa sua obsessão sobre o caso tomar conta de si mesmo,
até que futuramente somos induzidos a crer que não se tem nada de errado com o hospital, mas sim com ele mesmo.
A loucura do detetive é contestada quando a obra chega ao seu final e eu ainda não consegui cravar uma opinião específica sobre a pergunta posterior: afinal, ele era/estava ou não "maluco"?
Eu poderia afirmar que sim sobre os argumentos:
-> Ele foi levado a ilha pois possuía muitos questionamentos acerca do local por conta de suas investigações sobre a pessoa que incendiou sua casa, podendo acabar se tornando um problema.
-> No final, Chuck pergunta “Qual é o próximo passo, chefe?” e em seguida o chama pelo nome de Teddy, e não Andrews (Suposto nome verdadeiro), o que me causou confusão extrema.
-> Outro momento que ajuda a dar forças a esta tese é que bem no começo, em uma conversa com Chuck sobre a morte de sua esposa, ele diz: "mas foi a fumaça que a matou e não o fogo”, deixando claro que ela não morreu com um tiro. Haveria necessidade de tanta especificidade dentro de um suposto mundo de fantasia?
Mas considero a tese de que ele é sim louco bem mais cabível graças a essa crítica impecável que acabei de ler:
"Di Caprio encena um personagem que vai até uma Ilha-Presídio, onde se situa um manicômio judiciário. Ele é viúvo, ex militar e policial, em uma importante missão (uma explícita e outras implícitas, reveladas aos poucos). Leva consigo, além da astúcia e coragem de um agente federal norte americano, a marca traumática das lembranças dos campos de concentração nazistas, pois que servira no exército durante a segunda guerra. Essas lembranças o atormentam fortemente, misturando-se a fragmentos de sonhos, visões e memórias de experiências.
No navio a caminho da Ilha, ele conhece o parceiro, policial que o acompanhará na missão de descobrir o paradeiro de uma suposta paciente/presa que fugira – essa era a missão explícita. Contudo, as razões de estarem ambos ali, bem como a lealdade do colega, vão sendo colocadas em xeque na medida em que Di Caprio vai ficando perturbado por ouvir vozes, ter visões, pesadelos, enxaquecas, fotofobia e freqüente mal estar. Junto a isso, sem saber, ele está ingerindo neurolépticos e sendo submetido a sessões regulares de “terapia” que pretendem confrontá-lo com “a verdade” latente: ele não é quem pensa que é e está ali porque também é louco e criminoso.
Descobrimos no decorrer do filme que o personagem Teddy Daniels, interpretado por Di Caprio, matou sua mulher após perceber que ela assassinara os 3 filhos do casal. (O tema lembrou-me a história de Medéia… Mas no filme, a mãe assassina não parece ter a intenção de matar os próprios filhos para se vingar do marido: ela comete os crimes em meio a um surto psicótico pouco explorado na trama)
O delírio do protagonista vai sendo desmantelado à força, por meio do confronto compulsório com “dados de realidade” – fotos, nomes, noções de tempo e espaço, revelação de identidades. A lucidez vai se produzindo como um efeito da eficácia do método terapêutico preconizado pelo personagem de Ben Kingsley, o psiquiatra. O “tratamento” desconstrói a defesa psíquica delirante do personagem, obrigando-o a se defrontar com os vestígios mnêmicos de seu ato homicida.
Uma vez recuperada a memória do evento traumático, Teddy passa a culpar-se terrivelmente e se sentir um monstro.
Qual a serventia dessa lucidez, afinal?!
Em sua loucura e parcial amnésia, o personagem ao menos tinha um ideal pelo qual lutar. Não era um monstro, mas um herói em potencial, disposto a salvar vidas (e, na expressão cultural e onipotente do delírio, a “salvar o próprio país”).
Claro que esse herói era capaz de sofrer e por isso mesmo se voltava para a ação. Lembrava-se desde o iníco do filme, por exemplo, de que não conseguira salvar os judeus nos campos de concentração invadidos por sua tropa, pois chegaram tarde demais, quando muitos já estavam mortos. Isso o motivava a agir profissionalmente com mais astúcia e prontidão.
Interessante pensar que essa memória do holocausto evoca – e ao mesmo tempo encobre – uma outra: a da morte de seus próprios filhos e do assassinato de sua mulher, que talvez pudessem ter sido evitados caso ele não tivesse se omitido diante da percepção da loucura da esposa. Ao invés disso, à época, ele bebeu e se anestesiou…
E quando, já perto do fim, ele já está supostamente “curado” da psicose, somos jogados numa ambigüidade de compreensões que, mais do que servir para nos confundir, serve para nos apresentar o desfecho do filme como um paradoxo da razão ilhada pela memória do insuportável.
Na cena final, ele se dirige ao psiquiatra como se aquele ainda fosse o velho parceiro policial do delírio. Dessa maneira, parece reavivar um status e uma importância que lhe foram arrancados junto com o delírio. Mas não é só isso…
Na brincadeira de retomar o delírio - via jogo de encenação – ele acaba fazendo uma escolha ética: livrar-se do peso insuportável da culpa e da dor, ainda que pra isso tivesse que perder a própria capacidade de escolha.
Ora, sem a esposa, sem os filhos, sem o amigo, sem o delírio (que lhe permitia ser um outro “si mesmo”), e ainda por cima, física e psiquicamente “ilhado”, já não tinha mais nada a perder. Sua escolha, aparentemente irracional, nesta condição está informada pela mais justa razão: livrar-se de sua miserável existência entregando-se à lobotomia.
Eis o paradoxo: seu gesto mais lúcido foi entregar a própria lucidez de bandeja. Afinal, esta não lhe serviria mais pra nada, muito menos pra sobreviver à corrosiva e dilacerante dor de existir atravessado pela a culpa, pelo horror e pela solidão.
Retomando a cena final, o personagem de Di Caprio, aparentemente resignado e consciente, vira-se para o psiquiatra como quem inesperadamente volta a delirar, mas, ao contrário, está apenas partilhando com seu semelhante um impasse ético-existencial passível de se colocar a qualquer ser humano:
“O que é menos pior: (sobre)viver como um monstro, ou escolher morrer como um homem bom?”
Noutros termos, poderíamos colocar o dilema assim: o que é pior, viver ilhado em uma terrível verdade ou instaurar (ao preço da amnésia, da subserviência e da morte subjetiva) uma condição existencial menos tortuosa?
Ou ainda: você preferia ser uma cauda de jacaré ou uma cabeça de lagartixa?
Vejamos que, nesse contexto, ”morrer (no tempo natural da vida) como um homem bom” remete-se não à figura mítica do herói americano – afinal, seu delírio já tinha sido eficazmente demolido – , mas à ideia de um homem dócil, inofensivo, sem passado comprometedor e que segue de maneira obediente as regras sociais.
Se o protagonista é porta voz do autor da obra, poderíamos supor que Denis Lehane prefere escapar da lucidez terrorífica (ainda que dotada de alguma liberdade), possivelmente a mesma que por vezes motiva um suicida a concluir seu ato.
Então, a escolha do personagem é pelo suicídio. No caso, simbólico, porque escolhe (deixar) matar sua consciência pesada de jacaré para ter uma vida lagartixa, seguindo – como uma cauda – o comando de outra cabeça, mesmo que “pequena”."
O vencedor do Oscar de 1978 é um filme extremamente simples e absolutamente complexo. É facílimo se identificar com os personagens dentro de todas as crises de consciência que qualquer ser humano que se relaciona se deparará ao longo da vida. Tudo, desde a linguagem, a religião, ou o sexo é encarado frontalmente nas cenas em que ele fala com a câmera no meio de uma conversa, ignorando completamente as pessoas ao seu redor, conseguindo deixar claro que aquilo se trata de um filme sem perder a consistência emocional que nos assola. Os "dèjá vu" nesse tom de diálogo com o telespectador incrementam essa insistência do diretor e protagonista em discutir as suas angústias com quem está assistindo. O filme é uma esplêndida lição sarcástica da vida à dois!
O pé atrás com mais um filme americano ufanista e egoísta, dessa vez, não se concretizou cem por cento. Tá certo que dos 120 minutos, metade é investida em cenas de tiroteio com certas doses de exagero por conta dos soldado protagonistas serem praticamente invencíveis. Mesmo assim, as cenas são muito boas, especialmente pelo excelente audiovisual.
A sinopse é simplória e o roteiro se resume a ida de quatro soldados americanos para longínquas montanhas afegãs em busca de um talibã cabeça. Algumas coisas dão errado e um confronto quase que interminável nos prende à tela.
A nota 6, acima de filmes que eu não suporto como The Hurt Locker, Zero Dark Thirty ou Argo veio por conta do desfecho, que surpreende um pouco mostrando laços afetivos entre "inimigos mortais", tirando aquele ar americano demasiadamente heroico às custas de vidas tidas, aparentemente, como de menor valor. O que não quer dizer que a repetição de alguns desses vícios hollywoodianos que sempre me desagradam não tenham ocorrido.
A trama de "Alemão" se inicia com a falsa impressão de um filme urbano com crítica nacional bem definida à lá "Tropa de Elite", mas estagna no drama fictício referente aos cinco policiais infiltrados protagonistas.
Nada de muito importante acontece, não há discussão de problemáticas sociais, tampouco critica política, negativa ou positiva, à questão das UPPs. A definição das personalidades dos personagens é um pouco embaçada, exceto pela de Caio Blat.
A expectativa pelo final é boa por conta de uma constante atmosfera de tensão e indefinição mas o roteiro peca por se resumir ao desfecho dos protagonistas, ignorando os fatores externos e a magnitude do contexto.
Não absorvi nada digno de reflexão mas consegui me entreter com mais um filme marginal brasileiro regular, dessa vez sem favela cenográfica.
"La Piel Que Habito" é o roteiro mais inacreditável dos quase duzentos filmes que eu ranqueei até hoje. A obra é praticamente completa, a começar pelo título. "A Pele Que Habito" sintetiza profundamente as crises entre corpo e alma que cada um pode sentir dentro de uma atmosfera completamente perturbadora, sendo evidenciada a cada enigma gradativamente desvendado ao longo dessas incansáveis duas horas. Entre questionamentos sobre a evolução da ciência, a psicopatia de um cirurgião absolutamente competente e obcecado pelas duas mulheres de sua vida, perdidas tragicamente, e diversas doses circunstanciais de insanidade à la Almodóvar, a manipulação do telespectador vai se tornando cada vez mais intensa e assombrosa, nos vidrando em cenas de drama ou suspense com pitadas homeopáticas de terror. Algumas cenas impressionam pela potência e os autores não deixam a desejar mas nada é capaz de superar a força do roteiro cru. É inacreditável a capacidade que o diretor tem de viajar pelo tempo da trama e construir uma história de complexidade ímpar conseguindo fazer com que fiquemos estupefatos na sucessão de uma cena para outra em ritmo uniforme. As reviravoltas só param quando os créditos aparecem! Como se não bastasse toda a genialidade de um desenrolar tão psicodélico, o desfecho nos brinda com questionamentos sobre os limites que estamos dispostos a ultrapassar e os sacrifícios que estamos dispostos a fazer, seja pela evolução tecnológica capaz de recriar um ser humano ou seja por uma luta pela sobrevivência capaz de conciliar corpo e mente antagônicos. Não seria exagero afirmar que a última fala tem uma conotação de súplica para a que humanidade seja enxergada de alguma maneira por trás de toda a evolução e perfeição técnica imperante. Jamais a superficialidade dessa última se sobreporá à intensidade da primeira. É, sem sombra de dúvidas, um filme imperdível!
A minha melhor experiência visual dentro de um cinema em vinte e um anos! Me senti flutuando em diversos momentos. O audiovisual é inacreditável. A história é bem simples mas a atmosfera de tensão te gruda na cadeira. O desfecho em nenhum momento me pareceu definido sob aquela máxima clichê de sempre. Sandra Bullock e George Clooney estão muitíssimo bem dentro do valor de seus personagens que, com personalidades completamente distintas, fazem das experiências de angústia um elo com os telespectadores, seja pela serenidade dele ou pela intensidade dela. Acho que não restam dúvidas quanto ao destino dos prêmios técnicos do Oscar 2014. Tudo deslumbrante. Cuarón é o meu favorito pela direção sensacional. O azar de Gravity foi cair no mesmo ano de 12 Years. Assistam em 3D e percam-se nas profundezas do universo!
Seguindo a tônica de Wolf of Wall Street, American Hustle é outro filme fraco onde o telespectador fica o tempo inteiro aguardando por uma reviravolta ou aumento de intensidade que não acontece em momento algum. O. Russell, pelo segundo ano consecutivo, não me empolgou. Nem de perto. As atuações são absolutamente modestas com ressalva para a bela caracterização de Christian Bale, que também não chega a merecer uma consagração como Best Actor. A novamente favorita ao Oscar Jennifer Lawrence, atual queridinha de Hollywood, não tem valor nenhum para o roteiro. Sua meia dúzia de cenas fáceis numa reedição da personagem "doidinha e bipolar" de Silver Linings não acrescenta em nada à história e de pouco entretém, exceto pela cena de Live and Let Die que é engraçada. No mais, a trilha sonora é de alta qualidade. 10 indicações parece piada.
Minha maior decepção nessa edição do Academy Awards. Não vi nada de Martin Scorsese, não absorvi absolutamente nada do filme, não fui provocado em momento algum, não entendi o porquê das três horas de duração e, de bom, só as atuações do Di Caprio e Jonah Hill. Concordo que o filme diverte mas eu não estava ali para isso. Ri tanto quanto em Superbad ou outro besteirol do gênero, a diferença é a magnitude de Wolf of Wall Street. Dentre tantas "histórias verídicas" adaptadas, essa é a menos interessante dos últimos tempos. Oscar pra mim só se for o de Overrated Movie.
Captain Phillips é mais um exemplo do entretenimento clichê americano apimentado por algumas doses de sensacionalismo dentro de uma atmosfera de tensão, baseada em fatos reais, é claro, com certa lentidão até o óbvio final feliz. O fato de tudo ocorrer dentro de um navio me agradou, já que a questão dos piratas modernos jamais esteve na minha realidade. É claro que um filme cujo protagonista é ninguém menos que Tom Hanks jamais poderia ser ignorado. Sua atuação é bem normal, já que o personagem não permitia muito, mas os últimos quinze minutos são dignos do tamanho desse gênio. Mesmo assim, o resultado final não é nada de extraordinário. Como odiei o último vencedor do Oscar de Melhor Filme, eu diria que Capitão Phillips seria um Argo melhorado, sendo a embaixada o navio e o personagem do Ben Affleck o do Tom Hanks. Pra uma Tela Quente está de bom tamanho...
Mais um leve e agradável exemplar de drama "baseado em uma história real" do Oscar 2014. Um filme sensível moldado por fatos incríveis. Em nenhum momento o seu curso é desviado ou a personalidade de seus protagonistas se embaça. As surpresas vão acontecendo em momentos pontuais e a química de Martin e Philomena só aumenta. O confronto entre uma velhinha convicta e um jornalista ateu bem sucedido no âmbito dos dogmas religiosos não fica exagerado em nenhum momento. A questão da homossexualidade também é abordada com absoluta leveza e naturalidade. A cena final alcança a plenitude da essência dos noventa e oito minutos. Um exemplo de roteiro simples e despretensioso que, tendo seus pilares em uma incrível história de vida além de ser guiado por ótimas atuações, atinge um ótimo resultado nas telonas. Possivelmente a minha quarta opção nessa escala de nove filmes candidatos à Best Picture.
Chiwetel Ejiofor brilhante, Lupita Nyong'o brilhante. Michael Fassbender impecável. Roteiro perfeito. Um cru inacreditável capaz de fazer cada cena se tornar antológica. Best Picture digníssimo!
Pecuinhas históricas norte americanas (Norte vs Sul) à parte, não percebi muitos exageros nas personalidades dos homens brancos do norte e do sul. Me pareceu tudo muito plausível dentro daquele contexto. Gostei do desenrolar da vida do protagonista até o filme começar a acontecer e, por mais lastimável que possa ser, acreditei na veracidade de grande parte da adaptação desse roteiro.
Há tempos, nada me impactou tanto quanto a cena de Solomon enforcado. Foram alguns minutos angustiantes de frente para um ser humano agonizando numa árvore, sobrevivendo com as pontas dos pés no chão, onde só se ouvia a respiração ofegante, o ranger da corda e o contato do pé com a lama. É absolutamente corrosivo e impactante, mas é impossível de virar o rosto. A cena é absurda e esfrega na nossa cara uma realidade de pouco mais de cem anos, nos levando até a última gota de crueldade que pode haver dentro de um homem. Tudo numa realidade muitíssimo próxima, o que assusta ainda mais.
E o que dizer do estupro da escrava? Das chibatadas que Solomon foi obrigado a dar na escrava personagem de Nyong'o por conta de um pedaço de sabão? Da enrolada de Solomon no personagem de Fassbender depois da "traição" do x9 da carta? Das frases de efeito? Dos diálogos? Tudo em perfeita sincronia.
Os cento e trinta e cinco minutos não me cansaram em um só segundo, o que nem de perto significa que trata-se de um filme fácil. A mistura de sensações ruins te afogam do início ao fim e, entre incredulidade e esperança, um desfecho vai paulatinamente surgindo.
Como se não bastasse, nos deparamos com a última cena, onde Solomon reencontra a família após os seus 'doze anos de escravidão' e não consegue fazer nada além de chorar e pedir desculpas, como se coubesse a ele pedir desculpas por alguma coisa.
O clímax fica para o último momento, onde ele é apresentado a seu neto, também batizado de Solomon. É sublime! As últimas lágrimas caíram do meu rosto dando lugar às palmas dentro do cinema (fato que eu não vivenciava há tempos).
Dallas Buyers Club impressiona pelo vigor de Mattew McConaughey e Jared Leto, indo muito além dos tão repercutidos quilos que os atores tiveram que perder para encarnar os fenomenais aidéticos Ron e Rayon, nos contemplando com dois personagens de magnitudes distintas e resultados expressivos. Já adianto que são os meus favoritos para os Oscars de Best Actor e Best Supporting Actor.
Eu concordo que o filme seja um drama mas nem de perto a sua intenção foi nos fazer debulhar em lágrimas em face de personagens sofridos ou de um desfecho dolorosamente impactante. A dosagem entra as cenas de desespero e impotência frente a uma doença altamente destrutiva e pouco conhecida na época e a tentativa incessante de correr todos os riscos por um dia a mais de vida, criaram um clima de luta sem agonia do início ao fim, o que me agradou.
Além das atuações e da história central, o filme prende pelo seu leque de contestações. O vírus HIV e o estilo de vida dos protagonistas servem apenas de intercessão entre abordagens no âmbito da homofobia, críticas severas à indústria farmacêutica e às contrariedades de certas ações do sistema judiciário americano.
Para entrar na minha lista de favoritos, achei que faltou alguma cena de maior impacto ou alguma reviravolta diferente do curso. Foi tudo muito "mais do mesmo", o que não tira os méritos desse bom roteiro.
No final das contas, o cowboy cabra macho ser posto contra a parede por um travesti, tendo que agir de mãos dadas em prol de seus próprios destinos, pode servir de lição para muita gente.
Certamente esse é um dos filmes mais incomuns dos últimos tempos. Nessa atmosfera, a restrição e a dificuldade de argumentação aumentam, mas não custa tentar. Então vamos por partes.
Concordo cem por cento que, como Roteiro Original, Her é forte. Também concordo com os amantes do filme que a amplitude de seu roteiro o torna bastante interessante no que diz respeito as fases de um relacionamento, independente do tom de ficção do filme, por se utilizar de crises existenciais de qualquer casal dentro de uma atmosfera futurística (nem tanto assim) para questionar o nosso presente, sendo essa crítica final (a no âmbito dos nossos atuais "casamentos" com iPads, iTouchs e iPhones) o que de melhor eu pude absorver.
Eis então que surge o maior problema do filme: o seu ritmo. Sinceramente, em sua segunda metade, obviamente depois da aparição relâmpago da maravilhosa Olivia Wilde (rs), eu comecei a ficar de saco cheio. Não aguentava mais a voz forçadamente meiga da Scarlett Johansson em diálogos intermináveis com o solitário Joaquin Phoenix em cena (visualmente), sem contar que, em dado momento, começou a me parecer óbvio o desfecho dos IOS. Eis então que o filme parou de render para mim.
Li mais de dez críticas à respeito e todas foram extremamente positivas. Uma ou duas pessoas se desgastaram como eu. Não sei se revendo o filme algo possa ser absorvido de maneira diferente mas, infelizmente, Her não funcionou comigo dessa vez, tanto é que a personagem que mais me agradou foi a Catherine (Rooney Mara), justamente a pessoa mais próxima da racionalidade dentro da minha realidade atual.
Ps: o bonequinho virtual mal educado foi o clímax, rs.
Sob os meus olhos, Nebraska filme teve dois segredos: a magnífica fotografia e a delicadeza genuína dos personagens, cada um dentro de suas peculiaridades.
Ao contrário de muitos outros filmes em preto e branco, o contexto de Nebraska é atual e o audiovisual tem como intuito aflorar a sensibilidade das belíssimas imagens do longa, seja em momentos de reflexão com paisagens profundas e praticamente estáticas ou nas incessantes caminhadas (literalmente) do protagonista em busca de seu maior desejo.
Em nenhum momento o cenário de melancolia ultrapassa a barreira do agradável, e as belíssimas atuações de Bruce Dern e June Squibb conseguem cativar totalmente o telespectador inclusive nos momentos de exagero, seja pro "8" de Woody ou pro "80" de Kate.
Will Forte atuando como David Grant também não deixa a desejar em seu co-protagonismo. A imagem inicial de filho omisso se transforma no fiel escudeiro de seu pai, alternando momentos de crise de consciência e lealdade total.
O desfecho é o melhor imaginável dentro da obra. Poucos conseguiriam unir diferentes tipos de sentimento com tamanha coesão como fez Alexander Payne.
>SPOILLER< {Quando a atendente da agência pergunta ao filho de Woody se ele sofria de Alzheimer e a resposta dada é "Não. Ele apenas acredita no que as pessoas dizem para ele.", uma overdose de emoções tomou conta de mim e nada mais poderia diminuir a beleza desse roteiro.}
Para quem foi ao cinema com medo de chegar em casa destruído após um novo filme de "velhinhos" à la "Amour", Nebraska conseguiu me surpreender positivamente, se tornando, sem qualquer exagero, o melhor filme cult do ano!
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraLogo de cara vou reservar as minhas congratulações a Ben Affleck. Finalmente eu consegui gostar de uma atuação desse ator pragmático e sem muitas expressões cativantes. O engraçado é que são exatamente essas características as responsáveis por moldar o caráter de um personagem aparentemente indeciso, pouco corajoso e que não sabe como lidar com as situações de seu cotidiano da melhor forma. A genialidade de Fincher ao pescar que essa combinação daria certo é evidente.
Quanto ao filme, mais uma vez esse diretor fantástico veio nos lembrar que nem tudo são contos de fadas. Fiquei apaixonado pela trilha sonora calculada e bem definida para cada momento da trama. Tamanho alinhamento faz Gone Girl resgatar antigas discussões sobre a natureza cruel, violenta e egoísta do homem moderno, assim como o trabalho da mídia em mitificar, endeusar, blasfemar e manipular, tudo com doses homeopáticas de sarcasmo e loucura.
É difícil se aprofundar muito sem estragar as reviravoltas do filme mas é possível dizer que levantar da cadeira no final sem se sentir um pouco tonto não é uma possibilidade.
Fincher não faz filme ruim.
Filadélfia
4.2 908 Assista AgoraPor condições de árvore genealógica e certa preguiça, assisti ao Philadelphia (1993) com 21 anos de atraso.
Certamente esse filme foi um dos primeiros grandes veículos de diálogo frontal com a sociedade sobre um assunto delicado e praticamente intocável como a AIDS num período repleto de tabus. Nada melhor do que contar com um dos maiores atores do cinema contemporâneo em sua atuação mais reverenciada para transmitir essa mensagem numa trama sem muitos rodeios e bem retilínea. O Oscar de melhor ator recebido por Tom Hanks é indiscutível.
Mesmo que os clichês sejam evidentes e o desfecho inevitavelmente previsível com uma moral onde todos são levados a reflexão em cima de personalidades distintas que ultrapassam barreiras de preconceito conseguindo estabelecer um vínculo de afeto independente de paradigmas pessoais, o trabalho é tão sincero e bem interpretado que fica impossível não se emocionar e raciocinar a problemática da doença e das relações pessoais independente de opção sexual.
Pela conjuntura da época, o valor da obra é incomensurável.
Isolados
2.5 328 Assista AgoraUm filme que tem como aspectos positivos a busca pela saída da zona de conforto do cinema nacional, atuações boas por parte dos protagonistas, um embasamento psicológico tenso na constituição do thriller e fotografia agradável.
Quanto aos muitos pontos ruins, destacam-se o abandono ao passado responsável pela definição das personalidades dos protagonistas, a identidade nula dos personagens secundários, a participação do Bope digna de piada, os flashbacks de curta duração, as cenas de susto sonoro clichês e o desfecho mais do que óbvio.
Mas pra falar a verdade, nada de muito diferente desses filmes de suspense/terror americanos que brasileiro tenda vender como obra prima contemporânea. A real é que eu fiquei tenso por muito tempo, esperei uma história que não existia e rezei para que o final previsível chegasse logo. Pra quem gosta desse tipo de entretenimento, não entendo um porquê para o filme ser tão criticado. Infelizmente comigo isso não funciona muito.
Deus Não Está Morto
2.8 1,4K Assista AgoraÉ uma pena que um filme com tanto potencial para debate tenha resolvido partir para o caminho do clichê barato e da redenção do cristianismo à qualquer custo.
Eu, que fui atraído pela sinopse e passei alguns momentos do filme com bastante interesse nos baluartes que se travariam no decorrer de cada fase, saí do cinema puto com tamanho maniqueísmo barato e preconceituoso com as outras crenças. Mesmo não tendo nenhuma religiosidade e passando longe de crer nos dogmas que as religiões mais alastradas do mundo pregam, me pareceu absolutamente infundado e de mau gosto a postura que o autor resolveu caricaturar a fé de personagens com origens muçulmanas ou asiáticas, entrelaçadas a extremismos e imposições familiares bruscas que de fato não representam a parte bonita de tais culturais, ou até mesmo no tato com o pensamento ateísta, realizado sempre de maneira completamente leviana e sem discussão, apenas por imposição, enquanto os cristão adotavam uma personalidade retilineamente coerente, serena e equilibrada, repleta de argumentos na busca pelo sentido da fé.
É uma pena que um tema tão amplo a discussões sadias e absolutamente proveitosas para o crescimento de nós como pessoas tenha sido finalizado com a mais absurda das hipocrisias: a imposição de um dogma depois de quase duas horas de crítica ao dogma imposto pelo professor ateu.
Simplesmente trocaram o 80 pelo 8 da mesma forma errônea e impositiva de antes. Nada menos do que um retrato do que acontece no mundo real. Por essas e outras que eu entendo e defino a religião, qualquer uma delas, como um cercadinho de arame farpado em que você se esconde para instigar os seus preconceitos específicos.
Um roteiro burro, preconceituoso e mal aproveitado!
Praia do Futuro
3.4 935 Assista AgoraPor fatores óbvios, grande parte da repercussão de "Praia do Futuro" se restringiu às fortes cenas de sexo entre dois homens, os belíssimos atores Wagner Moura e Clemens Schick. Entretanto, as transas em si não foram um fator preponderante capaz de moldar as minhas opiniões acerca do filme embora comentários vazios dentro do cinema do tipo "Não aguento mais tanta boiolagem" ou "É sério que eu vou ter que ver a bunda do Wagner Moura o tempo todo?" apenas atestem que, nem de perto, o filme está digerido para qualquer público. O que de fato é até bom...
Entendi o início como bem definido. Captar a personalidade de Donato foi fácil, possibilitando uma rápida percepção das crises de consciência que poderiam vir a ocorrer futuramente, frente à impotência diante do grande incidente do "Capítulo I" do filme. O ponto que não me convenceu nem me agradou foi a rapidez com que as coisas aconteceram logo em seguida.
Me pareceu claro que o "amigo" motociclista de Konrad que veio a morrer afogado no início da trama, era o seu grande parceiro, provavelmente um namorado. A repentina cena de sexo entre Konrad e Donato, dentro de um carro, no meio da rua, logo após uma morte completamente doloroso para ambos (por motivos distintos, é claro), poucos minutos depois deles se conhecerem, me desceu como forçação de barra. A cena claramente não foi de um casal homossexual fazendo amor e sim de dois homossexuais trepando. Até aí nenhum problema mas pela sensibilidade dos personagens, eu não achei coerente. O fato de o Donato ter sido o passivo reforça, pelo menos pra mim, a ideia de sentimento de culpa, como se aquilo não passasse de um momento repentino. Essa ideia da passividade se mostra com algum fundamento quando é Konrad que se encontra nessa posição logo após chamar seu amante de covarde, na parte final, atestando uma ideia de "Me entregarei completamente. Eu não deveria ter agido daquela forma". Mas enfim... Isso é apenas uma impressão pontual.
No Capítulo II, a esfera dramática passa a dar lugar a um romance típico onde o apaixonado larga tudo indo em busca de seu grande amor.
Outro momento incoerente! Donato sempre nutriu um amor gigantesco por seu irmão caçula Ayrton, não fazendo o menor sentido a mudança repentina para a Alemanha. O personagem bem definido na primeira parte, acabava de se esconder dentro de um novo, enquanto o alemão continuava firme dentro de sua sensibilidade fria e Ayrton transformava o Speed Racer em um menino rancoroso com muita amargura guardada após o abandono covarde de Aquaman.
Chegamos então à Parte III e final, onde os protagonistas são obrigados a ocupar o mesmo ponto da história.
Me pareceu óbvio que Ayrton surgiria em algum momento, já que ele tinha grande importância para o desenvolvimento das emoções de Donato. A cena do elevador é repleta de intensidade. A troca de socos e pontapés misturada com abraços e beijos foi belíssima. Jesuíta Barbosa conseguiu transmitir o olhar perfeito ao personagem mais emblemático, para mim. de toda essa história.
Ás vésperas do fim, poucas cenas tiveram grande relevância no contexto macro.
A rebeldia juvenil teve que ser moldada pelo únicos responsáveis por aquele menino sofrido. Até que o momento da praia sem água também coroou com muita beleza a genuinidade que alavancou o filme em seus primeiros desenrolares.
A Fotografia definitivamente é um diferencial.
Algumas cenas se alongam mais que o normal mas o objetivo de Karim Aïnouz é alcançado.
A naturalidade da homossexualidade também me pareceu plena.
A comprovação disso vem por Ayrton que, em momento algum, se mostrou resistente com a opção de seu irmão, tendo a marcante frase "Você é um viado egoísta que gosta de dar o cu escondido nesse Polo Norte!" uma conotação absolutamente perfeita com a agressão direcionada ao sofrimento que Donato causou e não à sua sexualidade em si.
Por pouco o meu "3,5" não virou "4,0" graças à magnífica reflexão final acerca de medo e coragem. É um roteiro que vale a pena mas que não deveria estar no circuito normal! Pelo menos por enquanto.
Copa de Elite
1.8 343É realmente complicado ir ao cinema assistir a um filme supostamente engraçado com vários comediantes que eu definitivamente gosto muito e dar de cara com o que foi esse Copa de Elite. A ideia de parodiar outros filmes nacionais à la franquias americanas como "Todo Mundo Em Pânico" ou "Inatividade Paranormal" parecia boa. Só parecia. A história absolutamente sem pé nem cabeça se perdeu entre piadas vergonha alheia ou risadas absolutamente esporádicas estimuladas muito mais pela caracterização dos atores do que por uma graça em si. Em certos momentos, parecia que os próprios personagens se encabulavam com a cena forçada e desistiam dela antes do fim, não nos permitindo esboçar reação. Definitivamente não sei o que salvar desse roteiro. Vai ver de fato não houve roteirista...
O Corpo
4.1 1,0KUm instigante mistério espanhol onde as previsibilidades se consumam no imprevisível.
A trama basicamente ocorre toda dentro de um Instituto de Medicina Legal e Forense, temperada por cenas "dèja-vú" e "reconstituições simuladas", cujo contexto se dá pelo desaparecimento do corpo de uma bem sucedida empresária diagnosticada morta por conta de um enfarto.
O roteiro nos prende por conta de seu bom ritmo e pelos pontuais desvendamentos ou hipotetizações que vão tornando o quebra-cabeça aparentemente mais bem resolvido. Nesse ponto, o telespectador parece se confrontar com possibilidades de desfecho bem específicas e pouco embaçadas, sem que haja muito o que inventar ou deduzir acerca do desenrolar.
Eis então que as personalidades dos personagens ultrapassam um ponto superficial e de representação exclusivamente cênica para um contexto de total relevância na história.
A empresária carente, com crises de meia idade e "troll" ao extremo tem seus motivos explicitados. O viúvo ganancioso e adúltero justifica as suas características. O delegado preso à perda do passado eleva as suas amarguras à chave dos crime.
O final é inesperado e muito bem encaixado. Embora eu estivesse aguardando por reviravoltas causadas pelos próprios protagonistas desse desfecho, a criatividade do autor conseguiu me ultrapassar.
"Tic-Tac..."
Ilha do Medo
4.2 4,0K Assista AgoraCom mais alguns minutos de filme, quem ficaria maluco seria eu.
O personagem vivido por Leonardo DiCaprio, Teddy Daniels, é um detetive enviado para investigar o desaparecimento de uma paciente em um asilo psiquiátrico de criminosos. Ao longo de sua investigação, começa a desconfiar que a ilha seja um local onde se fazem diversas experiências com os doentes, como em outros contextos de guerra, e se vê preso em uma conspiração. Daniels acaba sendo contagiado pelo medo, e deixa sua obsessão sobre o caso tomar conta de si mesmo,
até que futuramente somos induzidos a crer que não se tem nada de errado com o hospital, mas sim com ele mesmo.
A loucura do detetive é contestada quando a obra chega ao seu final e eu ainda não consegui cravar uma opinião específica sobre a pergunta posterior: afinal, ele era/estava ou não "maluco"?
Eu poderia afirmar que sim sobre os argumentos:
-> Ele foi levado a ilha pois possuía muitos questionamentos acerca do local por conta de suas investigações sobre a pessoa que incendiou sua casa, podendo acabar se tornando um problema.
-> No final, Chuck pergunta “Qual é o próximo passo, chefe?” e em seguida o chama pelo nome de Teddy, e não Andrews (Suposto nome verdadeiro), o que me causou confusão extrema.
-> Outro momento que ajuda a dar forças a esta tese é que bem no começo, em uma conversa com Chuck sobre a morte de sua esposa, ele diz: "mas foi a fumaça que a matou e não o fogo”, deixando claro que ela não morreu com um tiro. Haveria necessidade de tanta especificidade dentro de um suposto mundo de fantasia?
Mas considero a tese de que ele é sim louco bem mais cabível graças a essa crítica impecável que acabei de ler:
"Di Caprio encena um personagem que vai até uma Ilha-Presídio, onde se situa um manicômio judiciário. Ele é viúvo, ex militar e policial, em uma importante missão (uma explícita e outras implícitas, reveladas aos poucos). Leva consigo, além da astúcia e coragem de um agente federal norte americano, a marca traumática das lembranças dos campos de concentração nazistas, pois que servira no exército durante a segunda guerra. Essas lembranças o atormentam fortemente, misturando-se a fragmentos de sonhos, visões e memórias de experiências.
No navio a caminho da Ilha, ele conhece o parceiro, policial que o acompanhará na missão de descobrir o paradeiro de uma suposta paciente/presa que fugira – essa era a missão explícita. Contudo, as razões de estarem ambos ali, bem como a lealdade do colega, vão sendo colocadas em xeque na medida em que Di Caprio vai ficando perturbado por ouvir vozes, ter visões, pesadelos, enxaquecas, fotofobia e freqüente mal estar. Junto a isso, sem saber, ele está ingerindo neurolépticos e sendo submetido a sessões regulares de “terapia” que pretendem confrontá-lo com “a verdade” latente: ele não é quem pensa que é e está ali porque também é louco e criminoso.
Descobrimos no decorrer do filme que o personagem Teddy Daniels, interpretado por Di Caprio, matou sua mulher após perceber que ela assassinara os 3 filhos do casal. (O tema lembrou-me a história de Medéia… Mas no filme, a mãe assassina não parece ter a intenção de matar os próprios filhos para se vingar do marido: ela comete os crimes em meio a um surto psicótico pouco explorado na trama)
O delírio do protagonista vai sendo desmantelado à força, por meio do confronto compulsório com “dados de realidade” – fotos, nomes, noções de tempo e espaço, revelação de identidades. A lucidez vai se produzindo como um efeito da eficácia do método terapêutico preconizado pelo personagem de Ben Kingsley, o psiquiatra. O “tratamento” desconstrói a defesa psíquica delirante do personagem, obrigando-o a se defrontar com os vestígios mnêmicos de seu ato homicida.
Uma vez recuperada a memória do evento traumático, Teddy passa a culpar-se terrivelmente e se sentir um monstro.
Qual a serventia dessa lucidez, afinal?!
Em sua loucura e parcial amnésia, o personagem ao menos tinha um ideal pelo qual lutar. Não era um monstro, mas um herói em potencial, disposto a salvar vidas (e, na expressão cultural e onipotente do delírio, a “salvar o próprio país”).
Claro que esse herói era capaz de sofrer e por isso mesmo se voltava para a ação. Lembrava-se desde o iníco do filme, por exemplo, de que não conseguira salvar os judeus nos campos de concentração invadidos por sua tropa, pois chegaram tarde demais, quando muitos já estavam mortos. Isso o motivava a agir profissionalmente com mais astúcia e prontidão.
Interessante pensar que essa memória do holocausto evoca – e ao mesmo tempo encobre – uma outra: a da morte de seus próprios filhos e do assassinato de sua mulher, que talvez pudessem ter sido evitados caso ele não tivesse se omitido diante da percepção da loucura da esposa. Ao invés disso, à época, ele bebeu e se anestesiou…
E quando, já perto do fim, ele já está supostamente “curado” da psicose, somos jogados numa ambigüidade de compreensões que, mais do que servir para nos confundir, serve para nos apresentar o desfecho do filme como um paradoxo da razão ilhada pela memória do insuportável.
Na cena final, ele se dirige ao psiquiatra como se aquele ainda fosse o velho parceiro policial do delírio. Dessa maneira, parece reavivar um status e uma importância que lhe foram arrancados junto com o delírio. Mas não é só isso…
Na brincadeira de retomar o delírio - via jogo de encenação – ele acaba fazendo uma escolha ética: livrar-se do peso insuportável da culpa e da dor, ainda que pra isso tivesse que perder a própria capacidade de escolha.
Ora, sem a esposa, sem os filhos, sem o amigo, sem o delírio (que lhe permitia ser um outro “si mesmo”), e ainda por cima, física e psiquicamente “ilhado”, já não tinha mais nada a perder. Sua escolha, aparentemente irracional, nesta condição está informada pela mais justa razão: livrar-se de sua miserável existência entregando-se à lobotomia.
Eis o paradoxo: seu gesto mais lúcido foi entregar a própria lucidez de bandeja. Afinal, esta não lhe serviria mais pra nada, muito menos pra sobreviver à corrosiva e dilacerante dor de existir atravessado pela a culpa, pelo horror e pela solidão.
Retomando a cena final, o personagem de Di Caprio, aparentemente resignado e consciente, vira-se para o psiquiatra como quem inesperadamente volta a delirar, mas, ao contrário, está apenas partilhando com seu semelhante um impasse ético-existencial passível de se colocar a qualquer ser humano:
“O que é menos pior: (sobre)viver como um monstro, ou escolher morrer como um homem bom?”
Noutros termos, poderíamos colocar o dilema assim: o que é pior, viver ilhado em uma terrível verdade ou instaurar (ao preço da amnésia, da subserviência e da morte subjetiva) uma condição existencial menos tortuosa?
Ou ainda: você preferia ser uma cauda de jacaré ou uma cabeça de lagartixa?
Vejamos que, nesse contexto, ”morrer (no tempo natural da vida) como um homem bom” remete-se não à figura mítica do herói americano – afinal, seu delírio já tinha sido eficazmente demolido – , mas à ideia de um homem dócil, inofensivo, sem passado comprometedor e que segue de maneira obediente as regras sociais.
Se o protagonista é porta voz do autor da obra, poderíamos supor que Denis Lehane prefere escapar da lucidez terrorífica (ainda que dotada de alguma liberdade), possivelmente a mesma que por vezes motiva um suicida a concluir seu ato.
Então, a escolha do personagem é pelo suicídio. No caso, simbólico, porque escolhe (deixar) matar sua consciência pesada de jacaré para ter uma vida lagartixa, seguindo – como uma cauda – o comando de outra cabeça, mesmo que “pequena”."
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa
4.1 1,1K Assista AgoraO vencedor do Oscar de 1978 é um filme extremamente simples e absolutamente complexo. É facílimo se identificar com os personagens dentro de todas as crises de consciência que qualquer ser humano que se relaciona se deparará ao longo da vida. Tudo, desde a linguagem, a religião, ou o sexo é encarado frontalmente nas cenas em que ele fala com a câmera no meio de uma conversa, ignorando completamente as pessoas ao seu redor, conseguindo deixar claro que aquilo se trata de um filme sem perder a consistência emocional que nos assola. Os "dèjá vu" nesse tom de diálogo com o telespectador incrementam essa insistência do diretor e protagonista em discutir as suas angústias com quem está assistindo. O filme é uma esplêndida lição sarcástica da vida à dois!
O Grande Herói
3.8 471 Assista AgoraO pé atrás com mais um filme americano ufanista e egoísta, dessa vez, não se concretizou cem por cento. Tá certo que dos 120 minutos, metade é investida em cenas de tiroteio com certas doses de exagero por conta dos soldado protagonistas serem praticamente invencíveis. Mesmo assim, as cenas são muito boas, especialmente pelo excelente audiovisual.
A sinopse é simplória e o roteiro se resume a ida de quatro soldados americanos para longínquas montanhas afegãs em busca de um talibã cabeça. Algumas coisas dão errado e um confronto quase que interminável nos prende à tela.
A nota 6, acima de filmes que eu não suporto como The Hurt Locker, Zero Dark Thirty ou Argo veio por conta do desfecho, que surpreende um pouco mostrando laços afetivos entre "inimigos mortais", tirando aquele ar americano demasiadamente heroico às custas de vidas tidas, aparentemente, como de menor valor. O que não quer dizer que a repetição de alguns desses vícios hollywoodianos que sempre me desagradam não tenham ocorrido.
Típico filme de "Tela Quente".
Alemão
2.8 380A trama de "Alemão" se inicia com a falsa impressão de um filme urbano com crítica nacional bem definida à lá "Tropa de Elite", mas estagna no drama fictício referente aos cinco policiais infiltrados protagonistas.
Nada de muito importante acontece, não há discussão de problemáticas sociais, tampouco critica política, negativa ou positiva, à questão das UPPs. A definição das personalidades dos personagens é um pouco embaçada, exceto pela de Caio Blat.
A expectativa pelo final é boa por conta de uma constante atmosfera de tensão e indefinição mas o roteiro peca por se resumir ao desfecho dos protagonistas, ignorando os fatores externos e a magnitude do contexto.
Não absorvi nada digno de reflexão mas consegui me entreter com mais um filme marginal brasileiro regular, dessa vez sem favela cenográfica.
A Pele que Habito
4.2 5,1K Assista Agora"La Piel Que Habito" é o roteiro mais inacreditável dos quase duzentos filmes que eu ranqueei até hoje. A obra é praticamente completa, a começar pelo título. "A Pele Que Habito" sintetiza profundamente as crises entre corpo e alma que cada um pode sentir dentro de uma atmosfera completamente perturbadora, sendo evidenciada a cada enigma gradativamente desvendado ao longo dessas incansáveis duas horas.
Entre questionamentos sobre a evolução da ciência, a psicopatia de um cirurgião absolutamente competente e obcecado pelas duas mulheres de sua vida, perdidas tragicamente, e diversas doses circunstanciais de insanidade à la Almodóvar, a manipulação do telespectador vai se tornando cada vez mais intensa e assombrosa, nos vidrando em cenas de drama ou suspense com pitadas homeopáticas de terror.
Algumas cenas impressionam pela potência e os autores não deixam a desejar mas nada é capaz de superar a força do roteiro cru.
É inacreditável a capacidade que o diretor tem de viajar pelo tempo da trama e construir uma história de complexidade ímpar conseguindo fazer com que fiquemos estupefatos na sucessão de uma cena para outra em ritmo uniforme. As reviravoltas só param quando os créditos aparecem!
Como se não bastasse toda a genialidade de um desenrolar tão psicodélico, o desfecho nos brinda com questionamentos sobre os limites que estamos dispostos a ultrapassar e os sacrifícios que estamos dispostos a fazer, seja pela evolução tecnológica capaz de recriar um ser humano ou seja por uma luta pela sobrevivência capaz de conciliar corpo e mente antagônicos.
Não seria exagero afirmar que a última fala tem uma conotação de súplica para a que humanidade seja enxergada de alguma maneira por trás de toda a evolução e perfeição técnica imperante. Jamais a superficialidade dessa última se sobreporá à intensidade da primeira.
É, sem sombra de dúvidas, um filme imperdível!
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraA minha melhor experiência visual dentro de um cinema em vinte e um anos! Me senti flutuando em diversos momentos. O audiovisual é inacreditável. A história é bem simples mas a atmosfera de tensão te gruda na cadeira. O desfecho em nenhum momento me pareceu definido sob aquela máxima clichê de sempre. Sandra Bullock e George Clooney estão muitíssimo bem dentro do valor de seus personagens que, com personalidades completamente distintas, fazem das experiências de angústia um elo com os telespectadores, seja pela serenidade dele ou pela intensidade dela. Acho que não restam dúvidas quanto ao destino dos prêmios técnicos do Oscar 2014. Tudo deslumbrante. Cuarón é o meu favorito pela direção sensacional. O azar de Gravity foi cair no mesmo ano de 12 Years. Assistam em 3D e percam-se nas profundezas do universo!
Trapaça
3.4 2,2K Assista AgoraSeguindo a tônica de Wolf of Wall Street, American Hustle é outro filme fraco onde o telespectador fica o tempo inteiro aguardando por uma reviravolta ou aumento de intensidade que não acontece em momento algum. O. Russell, pelo segundo ano consecutivo, não me empolgou. Nem de perto. As atuações são absolutamente modestas com ressalva para a bela caracterização de Christian Bale, que também não chega a merecer uma consagração como Best Actor. A novamente favorita ao Oscar Jennifer Lawrence, atual queridinha de Hollywood, não tem valor nenhum para o roteiro. Sua meia dúzia de cenas fáceis numa reedição da personagem "doidinha e bipolar" de Silver Linings não acrescenta em nada à história e de pouco entretém, exceto pela cena de Live and Let Die que é engraçada. No mais, a trilha sonora é de alta qualidade. 10 indicações parece piada.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraMinha maior decepção nessa edição do Academy Awards. Não vi nada de Martin Scorsese, não absorvi absolutamente nada do filme, não fui provocado em momento algum, não entendi o porquê das três horas de duração e, de bom, só as atuações do Di Caprio e Jonah Hill. Concordo que o filme diverte mas eu não estava ali para isso. Ri tanto quanto em Superbad ou outro besteirol do gênero, a diferença é a magnitude de Wolf of Wall Street. Dentre tantas "histórias verídicas" adaptadas, essa é a menos interessante dos últimos tempos. Oscar pra mim só se for o de Overrated Movie.
Capitão Phillips
4.0 1,6K Assista AgoraCaptain Phillips é mais um exemplo do entretenimento clichê americano apimentado por algumas doses de sensacionalismo dentro de uma atmosfera de tensão, baseada em fatos reais, é claro, com certa lentidão até o óbvio final feliz. O fato de tudo ocorrer dentro de um navio me agradou, já que a questão dos piratas modernos jamais esteve na minha realidade. É claro que um filme cujo protagonista é ninguém menos que Tom Hanks jamais poderia ser ignorado. Sua atuação é bem normal, já que o personagem não permitia muito, mas os últimos quinze minutos são dignos do tamanho desse gênio. Mesmo assim, o resultado final não é nada de extraordinário. Como odiei o último vencedor do Oscar de Melhor Filme, eu diria que Capitão Phillips seria um Argo melhorado, sendo a embaixada o navio e o personagem do Ben Affleck o do Tom Hanks. Pra uma Tela Quente está de bom tamanho...
Philomena
4.0 925 Assista AgoraMais um leve e agradável exemplar de drama "baseado em uma história real" do Oscar 2014. Um filme sensível moldado por fatos incríveis. Em nenhum momento o seu curso é desviado ou a personalidade de seus protagonistas se embaça. As surpresas vão acontecendo em momentos pontuais e a química de Martin e Philomena só aumenta. O confronto entre uma velhinha convicta e um jornalista ateu bem sucedido no âmbito dos dogmas religiosos não fica exagerado em nenhum momento. A questão da homossexualidade também é abordada com absoluta leveza e naturalidade. A cena final alcança a plenitude da essência dos noventa e oito minutos. Um exemplo de roteiro simples e despretensioso que, tendo seus pilares em uma incrível história de vida além de ser guiado por ótimas atuações, atinge um ótimo resultado nas telonas. Possivelmente a minha quarta opção nessa escala de nove filmes candidatos à Best Picture.
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KChiwetel Ejiofor brilhante, Lupita Nyong'o brilhante. Michael Fassbender impecável. Roteiro perfeito. Um cru inacreditável capaz de fazer cada cena se tornar antológica. Best Picture digníssimo!
Pecuinhas históricas norte americanas (Norte vs Sul) à parte, não percebi muitos exageros nas personalidades dos homens brancos do norte e do sul. Me pareceu tudo muito plausível dentro daquele contexto. Gostei do desenrolar da vida do protagonista até o filme começar a acontecer e, por mais lastimável que possa ser, acreditei na veracidade de grande parte da adaptação desse roteiro.
Há tempos, nada me impactou tanto quanto a cena de Solomon enforcado. Foram alguns minutos angustiantes de frente para um ser humano agonizando numa árvore, sobrevivendo com as pontas dos pés no chão, onde só se ouvia a respiração ofegante, o ranger da corda e o contato do pé com a lama. É absolutamente corrosivo e impactante, mas é impossível de virar o rosto. A cena é absurda e esfrega na nossa cara uma realidade de pouco mais de cem anos, nos levando até a última gota de crueldade que pode haver dentro de um homem. Tudo numa realidade muitíssimo próxima, o que assusta ainda mais.
E o que dizer do estupro da escrava? Das chibatadas que Solomon foi obrigado a dar na escrava personagem de Nyong'o por conta de um pedaço de sabão? Da enrolada de Solomon no personagem de Fassbender depois da "traição" do x9 da carta? Das frases de efeito? Dos diálogos? Tudo em perfeita sincronia.
Os cento e trinta e cinco minutos não me cansaram em um só segundo, o que nem de perto significa que trata-se de um filme fácil. A mistura de sensações ruins te afogam do início ao fim e, entre incredulidade e esperança, um desfecho vai paulatinamente surgindo.
Como se não bastasse, nos deparamos com a última cena, onde Solomon reencontra a família após os seus 'doze anos de escravidão' e não consegue fazer nada além de chorar e pedir desculpas, como se coubesse a ele pedir desculpas por alguma coisa.
O clímax fica para o último momento, onde ele é apresentado a seu neto, também batizado de Solomon. É sublime! As últimas lágrimas caíram do meu rosto dando lugar às palmas dentro do cinema (fato que eu não vivenciava há tempos).
O MELHOR FILME DO ANO!
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraDallas Buyers Club impressiona pelo vigor de Mattew McConaughey e Jared Leto, indo muito além dos tão repercutidos quilos que os atores tiveram que perder para encarnar os fenomenais aidéticos Ron e Rayon, nos contemplando com dois personagens de magnitudes distintas e resultados expressivos. Já adianto que são os meus favoritos para os Oscars de Best Actor e Best Supporting Actor.
Eu concordo que o filme seja um drama mas nem de perto a sua intenção foi nos fazer debulhar em lágrimas em face de personagens sofridos ou de um desfecho dolorosamente impactante. A dosagem entra as cenas de desespero e impotência frente a uma doença altamente destrutiva e pouco conhecida na época e a tentativa incessante de correr todos os riscos por um dia a mais de vida, criaram um clima de luta sem agonia do início ao fim, o que me agradou.
Além das atuações e da história central, o filme prende pelo seu leque de contestações. O vírus HIV e o estilo de vida dos protagonistas servem apenas de intercessão entre abordagens no âmbito da homofobia, críticas severas à indústria farmacêutica e às contrariedades de certas ações do sistema judiciário americano.
Para entrar na minha lista de favoritos, achei que faltou alguma cena de maior impacto ou alguma reviravolta diferente do curso. Foi tudo muito "mais do mesmo", o que não tira os méritos desse bom roteiro.
No final das contas, o cowboy cabra macho ser posto contra a parede por um travesti, tendo que agir de mãos dadas em prol de seus próprios destinos, pode servir de lição para muita gente.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraCertamente esse é um dos filmes mais incomuns dos últimos tempos. Nessa atmosfera, a restrição e a dificuldade de argumentação aumentam, mas não custa tentar. Então vamos por partes.
Concordo cem por cento que, como Roteiro Original, Her é forte. Também concordo com os amantes do filme que a amplitude de seu roteiro o torna bastante interessante no que diz respeito as fases de um relacionamento, independente do tom de ficção do filme, por se utilizar de crises existenciais de qualquer casal dentro de uma atmosfera futurística (nem tanto assim) para questionar o nosso presente, sendo essa crítica final (a no âmbito dos nossos atuais "casamentos" com iPads, iTouchs e iPhones) o que de melhor eu pude absorver.
Eis então que surge o maior problema do filme: o seu ritmo. Sinceramente, em sua segunda metade, obviamente depois da aparição relâmpago da maravilhosa Olivia Wilde (rs), eu comecei a ficar de saco cheio. Não aguentava mais a voz forçadamente meiga da Scarlett Johansson em diálogos intermináveis com o solitário Joaquin Phoenix em cena (visualmente), sem contar que, em dado momento, começou a me parecer óbvio o desfecho dos IOS. Eis então que o filme parou de render para mim.
Li mais de dez críticas à respeito e todas foram extremamente positivas. Uma ou duas pessoas se desgastaram como eu. Não sei se revendo o filme algo possa ser absorvido de maneira diferente mas, infelizmente, Her não funcionou comigo dessa vez, tanto é que a personagem que mais me agradou foi a Catherine (Rooney Mara), justamente a pessoa mais próxima da racionalidade dentro da minha realidade atual.
Ps: o bonequinho virtual mal educado foi o clímax, rs.
Nebraska
4.1 1,0K Assista AgoraSob os meus olhos, Nebraska filme teve dois segredos: a magnífica fotografia e a delicadeza genuína dos personagens, cada um dentro de suas peculiaridades.
Ao contrário de muitos outros filmes em preto e branco, o contexto de Nebraska é atual e o audiovisual tem como intuito aflorar a sensibilidade das belíssimas imagens do longa, seja em momentos de reflexão com paisagens profundas e praticamente estáticas ou nas incessantes caminhadas (literalmente) do protagonista em busca de seu maior desejo.
Em nenhum momento o cenário de melancolia ultrapassa a barreira do agradável, e as belíssimas atuações de Bruce Dern e June Squibb conseguem cativar totalmente o telespectador inclusive nos momentos de exagero, seja pro "8" de Woody ou pro "80" de Kate.
Will Forte atuando como David Grant também não deixa a desejar em seu co-protagonismo. A imagem inicial de filho omisso se transforma no fiel escudeiro de seu pai, alternando momentos de crise de consciência e lealdade total.
O desfecho é o melhor imaginável dentro da obra. Poucos conseguiriam unir diferentes tipos de sentimento com tamanha coesão como fez Alexander Payne.
>SPOILLER< {Quando a atendente da agência pergunta ao filho de Woody se ele sofria de Alzheimer e a resposta dada é "Não. Ele apenas acredita no que as pessoas dizem para ele.", uma overdose de emoções tomou conta de mim e nada mais poderia diminuir a beleza desse roteiro.}
Para quem foi ao cinema com medo de chegar em casa destruído após um novo filme de "velhinhos" à la "Amour", Nebraska conseguiu me surpreender positivamente, se tornando, sem qualquer exagero, o melhor filme cult do ano!