Filme de pura imersão. Aberto a trocentas interpretações. Dois homens culpados e reféns de seus segredos presos num purgatório. O resultado é a autodestruição conjunta. Pouco importa o significado da "luz". A jornada já havia sido exaustiva demais.
Vampirinho e Duende Verde entregam atuações esplendorosas. Seus olhos e gestos traduziram os personagens o tempo inteiro. Ambos assustam e manipulam a própria insanidade. Reproduzem monólogos muito potentes. Merecem ser reconhecidos nessa temporada de premiações.
É comédia, drama e suspense igualmente eficiente em todos os setores. Não há gênero determinante e a mistura acaba sendo tão homogênea e sem rupturas que não nos permite determinar onde termina um e inicia o outro. Esse artesanato só potencializa a crítica vivaz. As atuações expressivas são a cereja do bolo. Excelente!
Um roteiro rico em detalhes chega a ser revigorante. A cada porta de armário deixada aberta... A cada cabelo cortado... A cada cadarço desamarrado... Não há nada mais real do que a contemplação de uma maturidade demorada, à luz do despedaçar de um amor que sempre vai existir mesmo que se rejeite o curso tomado pelas más escolhas. Não à toa brigas e cartas representam os clímax do filme, da vida. Genuíno.
"El Camino" nada mais é do que um episódio mediano e estendido de Breaking Bad, repleto de flashbacks soltos e com aquele ar de nostalgia pela maior série de todos os tempos. Tecnicamente segue impecável. Gostei da preservação da história encerrada. Agora conhecemos o fim do Jesse. Saudades.
Por ser um personagem subversivo, caótico e, portanto, imprevisível, o icônico Coringa conquista, por si só, quem busca uma fuga da mesmice nesse tipo de filme. O vilão antissistêmico, anárquico, sem nada a perder, seduz o imaginário de quem se revolta contra injustiças cotidianas.
O sarcasmo e o humor sórdido proporcionam a experiência incomum de divertir aterrorizando, tornando natural que entremos na sessão simpatizando com o personagem. Enquanto em outros roteiros o que se viu foi uma caricatura já pronta, em 2019 o objetivo é estudar a sua construção.
O Coringa de Jack Nicholson é burlesco e cartunesco, servindo de trampolim para o Batman de 1989. O Coringa de Heath Leadger é misterioso e enigmático, protagonista em uma trilogia de confronto. O Coringa de Joaquin Phoenix adentra às profundezas da mente de um vilão ainda em formação.
A performance vai além do figurino, do olhar psicopata e do sorriso perturbador. Ele não só está magérrimo como consegue explorar a própria magreza com o objetivo de que ela transmita ao personagem um aspecto doente, decrepito, torto. As risadas parecem corroer corpo e mente.
Aliada a isso, a câmera se recusa a cortar as cenas e prefere passear calmamente pelos cenários, viciada em acompanhar os personagens, em planos quase sempre de baixo para cima. Ao melhor estilo Breaking Bad, a fotografia brinca de acordo com o estado de espírito do protagonista.
Os mesmos intermináveis degraus subidos de maneira sofrida, melancólica e sem vida por Arthur, são descidos suavemente, de maneira plena e radiante, com passos de dança dando luz ao vivo Coringa, o personagem que encontra a paz de espírito no caos.
Assim como o resgate feito pela ambulância em forma de nascimento. Com as mãos entrelaçadas por debaixo dos braços, trazendo-o para fora da janela, sendo exposto no capô em meio ao caos, no centro da multidão eufórica, no mesmo dia em que Bruce perde os pais.
Lembrei do filme "Mother"
Quanto aos gritinhos e palminhas no cinema, vale ressaltar que o Coringa não é herói. Não é tampouco anti-herói. A partir do momento em que ele passa a se vingar de forma indiferente e brutal, tomado por um discurso imediatista, a vítima se torna cúmplice de todo o mal social que o fora causado.
O filme mais hype dos últimos anos, busca metaforizar a nossa terra de dimensões continentais, abrigo dos mais diferentes povos, costumes, realidades e condições de vida, em seu retrato mais distópico. São duas horas de busca por representatividade cultural e política.
Partindo da premissa lógica de que é muito mais fácil se interessar pelo mais emblemático, pelo mais notório esteticamente e pelo mais robusto socialmente, uma parte acaba sendo desprezada. Então que bom que ainda exista diretores com responsabilidade social e lentes de aumento.
Não parece ser uma tarefa simples obter algum prestígio no cenário do cinema nacional e se utilizar dele para inclinar um dos holofotes que estão sempre voltados para os mesmos lugares, mirando para onde todo mundo se recusa a olhar. Se recusa sequer a saber que existe.
Contudo, entretanto, todavia, com relação ao roteiro, para que ocorra toda essa ambientação, a primeira hora do filme é longa, lenta, contemplativa, repleta de planos com pouquíssima coisa acontecendo. Há uma certa confusão quanto a relevância de cada personagem. Surgem dúvidas.
Quando as hipóteses do filme vão se revelando, é simplória a problemática daquele contexto se reduzindo à uma burguesia nacional que priva o povo da água, enquanto o imperialismo americano encarrega-se de matá-lo, por mero prazer de um grupo comandado por um imigrante nazista.
Seguindo com as caricaturas, o povo abandonado do sertão de Pernambuco não tem o hábito de ir à igreja, transa à vontade, ignora tabus moralistas, compartilha de um psicotrópico misterioso. É muita informação traçando a personalidade da personagem principal: a alterna Bacurau.
Com relação a pegada Black Mirror Mr. Tarantino, embora eu concorde que a violência não seja utilizada da mesma maneira cosmética e cartunizada buscando o simples intuito de entreter, é cansativa a sequência de homicídios brutais em curto lapso temporal. As cenas não me seduzem.
De positivo, sobram referências sensíveis. O museu e a escola sendo os lugares garantidores de proteção. Paulistas se comparando aos gringos e virando chacota. Explorador furtando artefato histórico do museu. Guisado. Suco de caju. Música americana.
Little Miss Sunshine se configura a partir de um patriarca americanão anos 90, uma mãe à deriva na manutenção da família, um avô milico viciado e coruja, um tio gay intelectual e depressivo, um adolescente esquisitão repleto de conflitos internos e uma doce menina maior do que o seu ego.
A partir desses traçados, vamos guiando o enredo rumo aos mais diversos contextos reflexivos, de maneira agradável e elementar. Um filme de pessoas comuns, com assuntos comuns e com um desempenho sensacional de um elenco totalmente sincronizado. Um clássico do início do milênio.
Que se desfecha na ironia de um concurso que expõem todas as meninas como adultas enquanto a Olive, a única agindo genuinamente como criança, consegue chocar as dondocas com uma coreografia tão infantil e engraçada que jamais seria capaz de expressar metade da vulgaridade de suas filhotas.
Quem não sentiu vontade de subir naquele palco e rebolar com a família, bom sujeito não é.
A personagem de Christian Bale, além de si mesmo, é cada um dos que o circundam. É o narcisismo na forma mais profunda. É o pensamento sórdido e ganancioso bambeando na linha tênue entre o imaginário e o empirismo. Um dos psicopatas mais humanizados do cinema. De tão singular, não sei nem se existiu. Agora me deem licença pois eu preciso devolver uns videotapes.
três pessoas muito bonitas fazendo absolutamente nada, chuva de detalhes desconexos, seita hippie zumbi, roteiro do porra nenhuma ao lugar nenhum, câmera podólatra, carros maneiros, cachorro legal e sangue. Tudo isso por noventa milhões de dólares.
Ah se o Andy pudesse ter assistido ao menos ao trailler desse filme... Ele com certeza teria me salvado de boa parte das minhas angústias. Não sou obrigado a ter que lidar com os carmas da vida adulta e seus momentos de solidão e introspectividade assistindo ao meu desenho favorito.
Dramas à parte, quando Toy Story 3 chegou ao fim com a doação dos brinquedos à Bonnie, a sensação de que o arco narrativo da trilogia havia se cumprido perfeitamente, só demonizou a possibilidade de continuação da franquia pura e simplesmente pelo sucesso óbvio de bilheteria.
Acontece que os gênios da Pixar conseguiram unir o útil ao agradável e alcançaram a justificativa perfeita para a continuação através da constatação de que a verdadeira trajetória dramática da série ainda não havia chegado ao fim: a dependência emocional de Woody. As reflexões são sensacionais do início ao fim.
Embora o filme esteja longe de ser ruim, a falta de criatividade na dinâmica da história e nas novas conjunturas me cansaram um pouco. Os anseios do Woody foram quase os mesmos, a coadjuvação do Buzz foi quase a mesma, as fugas foram quase as mesmas, o estilo das cenas de tensão foi quase o mesmo, as propostas dos novos personagens foram quase as mesmas e por aí vai.
Assistir foi nostálgico e é claro que dá pra rir e chorar, mas o 3 é o final mais justo conosco.
Chuva de verão, fumaça de cigarro, farelo de biscoito e leite derramado. Metáforas tão leves quanto a frase de Belchior que dá identidade ao filme e nos leva à libertação de Rosa, se permitindo cuidar de si mesma com a transgressão do regador em seu jardim. Além da faceta "Dom Casmurro", o filme é sobre a beleza genuína das nossas inseguranças cotidianas, a partir de modelos que nos impomos na base do "mentiras sinceras me interessam". Sentimentos reais transmitem melhor um recado e as atuações esplendorosas foram a cereja do bolo. A reflexão é sobre o medo de morrer, o medo de perder, o medo de se perder. Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina...
Fica até difícil saber por onde começar. Os diálogos e as frases de efeito são sensacionais. As atuações infantis são esplendorosas. A última cena me arranca, à força, um esboço de sorriso em meio a um impotente soluçar. Por curiosidade, busquei no dicionário e pude verificar que a palavra "Cafarnaum" se define como "lugar em que se guardam muitos objetos, desordem". É exatamente o que ilustra o inferno de Zain desde a sua concepção. O caos das relações humanas contemporâneas, a desordem de concreto, a insalubridade como forma. Os personagens genuinamente vorazes, esfolam cada ferida. A fotografia é poderosa, altamente expositiva. A sensação é quase de claustrofobia quando somada à ensurdecedora sinfonia urbana com doses de choro de criança. Se o inferno arde, esse filme não tem salvador. É a prova cabal de que falhamos enquanto sociedade. O protagonista é a centralização da nossa falta de empatia. É poesia que dilacera. É silêncio que urge angústia.
Me sentindo um pouco envergonhado por ter ficado angustiado com esse conto de fadas emo country da Lady Gaga com direito a Bradley Cooper o focinho do Eddie Vedder. Nasce uma estrela pois o show tem que continuar. Brazil, I'm devastated. Vem estatueta por aí.
Killmonger: Why, so you can lock me up? Just bury me in the ocean with my ancestors who jumped from ships, 'cause they knew death was better than bondage.
Eu imagino que a última cena possa ter parecido brochante para alguns. Entretanto, a ideia me pareceu ser exatamente essa de gerar um incômodo latente mas bem contextualizado. Do vencedor que, quando percebe, é o vencido. Abigail não passou de mais um coelho na vida da rainha. Sarah perdeu o que mais lhe rendeu esforços ao longo da vida, o poder, mas deixou claro que Abigail também não seria exatamente uma vencedora. A rainha Anne, aprisionada desde sempre aos seus próprios fantasmas, termina fadada à sombra de suas próprias loucuras. O filme é sobre o verbo "perder".
Conto 1 - Excesso de confiança mata. Conto 2 - Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Conto 3 - Obsolência programada. Conto 4 - Não está morto quem peleia. Conto 5 - Apressado come cru. Conto 6 - Isso é tudo, pessoal.
Sério, já estou há umas quatro horas nesse filme (?) e não consigo superar. Ter que decidir entre Sugar Puffs ou Kellogg's Frosties e enterro ou esquartejamento é demais para mim. Não tenho maturidade para ser manipulado por um streaming. Estou bêbado de metalinguagem. Black Mirror, você foi longe demais!
Logicamente o filme emociona pelo que representa a potência da história de Freddie Mercury e a obra do Queen, uma das maiores bandas da história da humanidade. É fascinante conhecer um pouco mais sobre alguns bastidores específicos e poder reverenciar um dos artistas mais completos e enérgicos de todos os tempos.
Agora, sobre o roteiro especificamente, eu confesso que fiquei um pouco decepcionado. A atuação tão elogiada de Rami Malek não me comoveu. Os trejeitos são caricatos e repetitivos do início ao fim. Se por um lado Freddie transbordava confiança e presença, tornando a sua energia transcendente, no filme os vícios impossibilitaram essa congruência.
Além disso, as cenas mais reflexivas que buscavam contextualizar o momento histórico da banda, foram muito pouco aprofundadas. Como o objetivo era inserir os maiores hits em cada corte, as datas foram se atropelando e a evolução do filme é ruim, não permitindo que se adentrasse à mente do Freddie e aos seus fantasmas com maior disposição.
Filminho pseudocult que faz força para abordar "tabus" à qualquer preço. Considerando a falta de força de vontade do roteiro e a fragilidade das atuações, tudo se torna pobre e preguiçoso, sendo trágica a falta de profundidade das cenas.
Desde os primeiros instantes, romantiza o assédio, banaliza características depressivas, relativiza o suicídio e introduz o tema da homossexualidade para nem sequer abordá-lo decentemente. Desfecho irrisório. Em síntese, é uma das piores coisas que eu pude assistir esse ano.
Spoiller necessário: depois de quase duas horas, o advogado que reluta o filme inteiro para não transgredir a lei, pega nas duas armas dos crimes, toma banho no sangue derramado, altera a cena e foge de casa sendo inocente.
Woody Allen e seu tesão pessimista trágico. Como não se identificar com as nuances do filme, que vão te confundindo, seduzindo, ao mesmo tempo em que desperta os dramas morais. A metáfora da bola que pinga na rede, refém da sorte. As analogias com os desdobramentos futuros à luz de Dostoiévski, Trainspotting, esporte de alto rendimento. A rotina claustrofóbica, a zona de conforto. Ninguém faz filme de vida real como esse cara.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraFilme de pura imersão. Aberto a trocentas interpretações. Dois homens culpados e reféns de seus segredos presos num purgatório. O resultado é a autodestruição conjunta. Pouco importa o significado da "luz". A jornada já havia sido exaustiva demais.
Vampirinho e Duende Verde entregam atuações esplendorosas. Seus olhos e gestos traduziram os personagens o tempo inteiro. Ambos assustam e manipulam a própria insanidade. Reproduzem monólogos muito potentes. Merecem ser reconhecidos nessa temporada de premiações.
Horror e poesia. Simbolismo puro.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraÉ comédia, drama e suspense igualmente eficiente em todos os setores. Não há gênero determinante e a mistura acaba sendo tão homogênea e sem rupturas que não nos permite determinar onde termina um e inicia o outro. Esse artesanato só potencializa a crítica vivaz. As atuações expressivas são a cereja do bolo. Excelente!
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraUm roteiro rico em detalhes chega a ser revigorante. A cada porta de armário deixada aberta... A cada cabelo cortado... A cada cadarço desamarrado... Não há nada mais real do que a contemplação de uma maturidade demorada, à luz do despedaçar de um amor que sempre vai existir mesmo que se rejeite o curso tomado pelas más escolhas. Não à toa brigas e cartas representam os clímax do filme, da vida. Genuíno.
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista Agora"El Camino" nada mais é do que um episódio mediano e estendido de Breaking Bad, repleto de flashbacks soltos e com aquele ar de nostalgia pela maior série de todos os tempos. Tecnicamente segue impecável. Gostei da preservação da história encerrada. Agora conhecemos o fim do Jesse. Saudades.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraPor ser um personagem subversivo, caótico e, portanto, imprevisível, o icônico Coringa conquista, por si só, quem busca uma fuga da mesmice nesse tipo de filme. O vilão antissistêmico, anárquico, sem nada a perder, seduz o imaginário de quem se revolta contra injustiças cotidianas.
O sarcasmo e o humor sórdido proporcionam a experiência incomum de divertir aterrorizando, tornando natural que entremos na sessão simpatizando com o personagem. Enquanto em outros roteiros o que se viu foi uma caricatura já pronta, em 2019 o objetivo é estudar a sua construção.
O Coringa de Jack Nicholson é burlesco e cartunesco, servindo de trampolim para o Batman de 1989. O Coringa de Heath Leadger é misterioso e enigmático, protagonista em uma trilogia de confronto. O Coringa de Joaquin Phoenix adentra às profundezas da mente de um vilão ainda em formação.
A performance vai além do figurino, do olhar psicopata e do sorriso perturbador. Ele não só está magérrimo como consegue explorar a própria magreza com o objetivo de que ela transmita ao personagem um aspecto doente, decrepito, torto. As risadas parecem corroer corpo e mente.
Aliada a isso, a câmera se recusa a cortar as cenas e prefere passear calmamente pelos cenários, viciada em acompanhar os personagens, em planos quase sempre de baixo para cima. Ao melhor estilo Breaking Bad, a fotografia brinca de acordo com o estado de espírito do protagonista.
As metáforas também são ótimas.
Os mesmos intermináveis degraus subidos de maneira sofrida, melancólica e sem vida por Arthur, são descidos suavemente, de maneira plena e radiante, com passos de dança dando luz ao vivo Coringa, o personagem que encontra a paz de espírito no caos.
Assim como o resgate feito pela ambulância em forma de nascimento. Com as mãos entrelaçadas por debaixo dos braços, trazendo-o para fora da janela, sendo exposto no capô em meio ao caos, no centro da multidão eufórica, no mesmo dia em que Bruce perde os pais.
Quanto aos gritinhos e palminhas no cinema, vale ressaltar que o Coringa não é herói. Não é tampouco anti-herói. A partir do momento em que ele passa a se vingar de forma indiferente e brutal, tomado por um discurso imediatista, a vítima se torna cúmplice de todo o mal social que o fora causado.
Coringa é vilão. O mais humano de todos eles.
Bacurau
4.3 2,8K Assista AgoraO filme mais hype dos últimos anos, busca metaforizar a nossa terra de dimensões continentais, abrigo dos mais diferentes povos, costumes, realidades e condições de vida, em seu retrato mais distópico. São duas horas de busca por representatividade cultural e política.
Partindo da premissa lógica de que é muito mais fácil se interessar pelo mais emblemático, pelo mais notório esteticamente e pelo mais robusto socialmente, uma parte acaba sendo desprezada. Então que bom que ainda exista diretores com responsabilidade social e lentes de aumento.
Não parece ser uma tarefa simples obter algum prestígio no cenário do cinema nacional e se utilizar dele para inclinar um dos holofotes que estão sempre voltados para os mesmos lugares, mirando para onde todo mundo se recusa a olhar. Se recusa sequer a saber que existe.
Contudo, entretanto, todavia, com relação ao roteiro, para que ocorra toda essa ambientação, a primeira hora do filme é longa, lenta, contemplativa, repleta de planos com pouquíssima coisa acontecendo. Há uma certa confusão quanto a relevância de cada personagem. Surgem dúvidas.
Quando as hipóteses do filme vão se revelando, é simplória a problemática daquele contexto se reduzindo à uma burguesia nacional que priva o povo da água, enquanto o imperialismo americano encarrega-se de matá-lo, por mero prazer de um grupo comandado por um imigrante nazista.
Seguindo com as caricaturas, o povo abandonado do sertão de Pernambuco não tem o hábito de ir à igreja, transa à vontade, ignora tabus moralistas, compartilha de um psicotrópico misterioso. É muita informação traçando a personalidade da personagem principal: a alterna Bacurau.
Com relação a pegada Black Mirror Mr. Tarantino, embora eu concorde que a violência não seja utilizada da mesma maneira cosmética e cartunizada buscando o simples intuito de entreter, é cansativa a sequência de homicídios brutais em curto lapso temporal. As cenas não me seduzem.
De positivo, sobram referências sensíveis. O museu e a escola sendo os lugares garantidores de proteção. Paulistas se comparando aos gringos e virando chacota. Explorador furtando artefato histórico do museu. Guisado. Suco de caju. Música americana.
Quem nasce em Bacurau é gente.
Pequena Miss Sunshine
4.1 2,8K Assista AgoraLittle Miss Sunshine se configura a partir de um patriarca americanão anos 90, uma mãe à deriva na manutenção da família, um avô milico viciado e coruja, um tio gay intelectual e depressivo, um adolescente esquisitão repleto de conflitos internos e uma doce menina maior do que o seu ego.
A partir desses traçados, vamos guiando o enredo rumo aos mais diversos contextos reflexivos, de maneira agradável e elementar. Um filme de pessoas comuns, com assuntos comuns e com um desempenho sensacional de um elenco totalmente sincronizado. Um clássico do início do milênio.
Que se desfecha na ironia de um concurso que expõem todas as meninas como adultas enquanto a Olive, a única agindo genuinamente como criança, consegue chocar as dondocas com uma coreografia tão infantil e engraçada que jamais seria capaz de expressar metade da vulgaridade de suas filhotas.
Quem não sentiu vontade de subir naquele palco e rebolar com a família, bom sujeito não é.
Psicopata Americano
3.7 1,9K Assista AgoraA personagem de Christian Bale, além de si mesmo, é cada um dos que o circundam. É o narcisismo na forma mais profunda. É o pensamento sórdido e ganancioso bambeando na linha tênue entre o imaginário e o empirismo. Um dos psicopatas mais humanizados do cinema. De tão singular, não sei nem se existiu. Agora me deem licença pois eu preciso devolver uns videotapes.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista Agoratrês pessoas muito bonitas fazendo absolutamente nada, chuva de detalhes desconexos, seita hippie zumbi, roteiro do porra nenhuma ao lugar nenhum, câmera podólatra, carros maneiros, cachorro legal e sangue. Tudo isso por noventa milhões de dólares.
Toy Story 4
4.1 1,4K Assista AgoraAh se o Andy pudesse ter assistido ao menos ao trailler desse filme... Ele com certeza teria me salvado de boa parte das minhas angústias. Não sou obrigado a ter que lidar com os carmas da vida adulta e seus momentos de solidão e introspectividade assistindo ao meu desenho favorito.
Dramas à parte, quando Toy Story 3 chegou ao fim com a doação dos brinquedos à Bonnie, a sensação de que o arco narrativo da trilogia havia se cumprido perfeitamente, só demonizou a possibilidade de continuação da franquia pura e simplesmente pelo sucesso óbvio de bilheteria.
Acontece que os gênios da Pixar conseguiram unir o útil ao agradável e alcançaram a justificativa perfeita para a continuação através da constatação de que a verdadeira trajetória dramática da série ainda não havia chegado ao fim: a dependência emocional de Woody. As reflexões são sensacionais do início ao fim.
Embora o filme esteja longe de ser ruim, a falta de criatividade na dinâmica da história e nas novas conjunturas me cansaram um pouco. Os anseios do Woody foram quase os mesmos, a coadjuvação do Buzz foi quase a mesma, as fugas foram quase as mesmas, o estilo das cenas de tensão foi quase o mesmo, as propostas dos novos personagens foram quase as mesmas e por aí vai.
Assistir foi nostálgico e é claro que dá pra rir e chorar, mas o 3 é o final mais justo conosco.
Como Nossos Pais
3.8 444Chuva de verão, fumaça de cigarro, farelo de biscoito e leite derramado. Metáforas tão leves quanto a frase de Belchior que dá identidade ao filme e nos leva à libertação de Rosa, se permitindo cuidar de si mesma com a transgressão do regador em seu jardim. Além da faceta "Dom Casmurro", o filme é sobre a beleza genuína das nossas inseguranças cotidianas, a partir de modelos que nos impomos na base do "mentiras sinceras me interessam". Sentimentos reais transmitem melhor um recado e as atuações esplendorosas foram a cereja do bolo. A reflexão é sobre o medo de morrer, o medo de perder, o medo de se perder. Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina...
Cafarnaum
4.6 673 Assista AgoraFica até difícil saber por onde começar. Os diálogos e as frases de efeito são sensacionais. As atuações infantis são esplendorosas. A última cena me arranca, à força, um esboço de sorriso em meio a um impotente soluçar. Por curiosidade, busquei no dicionário e pude verificar que a palavra "Cafarnaum" se define como "lugar em que se guardam muitos objetos, desordem". É exatamente o que ilustra o inferno de Zain desde a sua concepção. O caos das relações humanas contemporâneas, a desordem de concreto, a insalubridade como forma. Os personagens genuinamente vorazes, esfolam cada ferida. A fotografia é poderosa, altamente expositiva. A sensação é quase de claustrofobia quando somada à ensurdecedora sinfonia urbana com doses de choro de criança. Se o inferno arde, esse filme não tem salvador. É a prova cabal de que falhamos enquanto sociedade. O protagonista é a centralização da nossa falta de empatia. É poesia que dilacera. É silêncio que urge angústia.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista AgoraMe sentindo um pouco envergonhado por ter ficado angustiado com esse conto de fadas emo country da Lady Gaga com direito a Bradley Cooper o focinho do Eddie Vedder. Nasce uma estrela pois o show tem que continuar. Brazil, I'm devastated. Vem estatueta por aí.
Pantera Negra
4.2 2,3K Assista AgoraT'Challa: We can still heal you...
Killmonger: Why, so you can lock me up? Just bury me in the ocean with my ancestors who jumped from ships, 'cause they knew death was better than bondage.
A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraRoteiro complexo e muito intrigante.
Atuações extremamente potentes.
Trilha sonora instrumental linear.
Enquadramento sensacional.
Fotografia magnífica.
Diálogos fodas.
Então pulemos ao possível defeito do filme mais claro de todos, o final "corta-vibe" para olhares desatentos:
Eu imagino que a última cena possa ter parecido brochante para alguns. Entretanto, a ideia me pareceu ser exatamente essa de gerar um incômodo latente mas bem contextualizado. Do vencedor que, quando percebe, é o vencido. Abigail não passou de mais um coelho na vida da rainha. Sarah perdeu o que mais lhe rendeu esforços ao longo da vida, o poder, mas deixou claro que Abigail também não seria exatamente uma vencedora. A rainha Anne, aprisionada desde sempre aos seus próprios fantasmas, termina fadada à sombra de suas próprias loucuras. O filme é sobre o verbo "perder".
A Balada de Buster Scruggs
3.7 534 Assista AgoraSinopses:
Conto 1 - Excesso de confiança mata.
Conto 2 - Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Conto 3 - Obsolência programada.
Conto 4 - Não está morto quem peleia.
Conto 5 - Apressado come cru.
Conto 6 - Isso é tudo, pessoal.
Filme foda!
Black Mirror: Bandersnatch
3.5 1,4KSério, já estou há umas quatro horas nesse filme (?) e não consigo superar. Ter que decidir entre Sugar Puffs ou Kellogg's Frosties e enterro ou esquartejamento é demais para mim. Não tenho maturidade para ser manipulado por um streaming. Estou bêbado de metalinguagem. Black Mirror, você foi longe demais!
Sensacional.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraApenas relembrando: "Ele soa como nós."
David Duke sobre Jair Bolsonaro.
Spike Lee na ferida.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraLogicamente o filme emociona pelo que representa a potência da história de Freddie Mercury e a obra do Queen, uma das maiores bandas da história da humanidade. É fascinante conhecer um pouco mais sobre alguns bastidores específicos e poder reverenciar um dos artistas mais completos e enérgicos de todos os tempos.
Agora, sobre o roteiro especificamente, eu confesso que fiquei um pouco decepcionado. A atuação tão elogiada de Rami Malek não me comoveu. Os trejeitos são caricatos e repetitivos do início ao fim. Se por um lado Freddie transbordava confiança e presença, tornando a sua energia transcendente, no filme os vícios impossibilitaram essa congruência.
Além disso, as cenas mais reflexivas que buscavam contextualizar o momento histórico da banda, foram muito pouco aprofundadas. Como o objetivo era inserir os maiores hits em cada corte, as datas foram se atropelando e a evolução do filme é ruim, não permitindo que se adentrasse à mente do Freddie e aos seus fantasmas com maior disposição.
No mais, saudades!
The show must go on...
Fala Comigo
2.9 183 Assista AgoraFilminho pseudocult que faz força para abordar "tabus" à qualquer preço. Considerando a falta de força de vontade do roteiro e a fragilidade das atuações, tudo se torna pobre e preguiçoso, sendo trágica a falta de profundidade das cenas.
Desde os primeiros instantes, romantiza o assédio, banaliza características depressivas, relativiza o suicídio e introduz o tema da homossexualidade para nem sequer abordá-lo decentemente. Desfecho irrisório. Em síntese, é uma das piores coisas que eu pude assistir esse ano.
Haja "força de vontade" para premiar esta obra.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraDev Patel concorrendo a Ator COADJUVANTE (?) -..............................................
Alguém explica.
Cabo do Medo
3.8 906 Assista AgoraSpoiller necessário: depois de quase duas horas, o advogado que reluta o filme inteiro para não transgredir a lei, pega nas duas armas dos crimes, toma banho no sangue derramado, altera a cena e foge de casa sendo inocente.
Scorsese tava doidão de Corote nessa hora.
Ponto Final: Match Point
3.9 1,4K Assista AgoraWoody Allen e seu tesão pessimista trágico. Como não se identificar com as nuances do filme, que vão te confundindo, seduzindo, ao mesmo tempo em que desperta os dramas morais. A metáfora da bola que pinga na rede, refém da sorte. As analogias com os desdobramentos futuros à luz de Dostoiévski, Trainspotting, esporte de alto rendimento. A rotina claustrofóbica, a zona de conforto. Ninguém faz filme de vida real como esse cara.
Túmulo dos Vagalumes
4.6 2,2K"Por que os vaga-lumes morrem tão cedo?"
Poesia que incomoda. Trilha esplendorosamente melancólica. Animação imperdível.