A verdade é que quando você senta para assistir a algum filme desse gênero, os preceitos básicos nacionalistas, a redenção, o heroísmo e todo a exaltação ao clássico canastrão americano herói de guerra, acabam vindo à cabeça e a tendência é achar a produção "muito bem feita" ou um baita "mais do mesmo". Nada muito além disso.
Acontece que a primeira parte dessas duas horas e vinte de filme, percorridas num período pré campo de batalha, te vinculam ao personagem além do óbvio. Os problemas de família fazem sentido, o romance é suave e bonitinho, o orgulho é gerido de maneira gradativa e quem assiste começa a se interessar pela história devido a identificação com o personagem patinho feio.
Adentrando ao tiroteio, os parâmetros técnicos são impecáveis e o filme é muito bonito pra quem curte pessoas mutiladas e granadas explodindo em meio ao caso. O heroísmo toma conta do contexto geral e sai tudo dentro da mais absoluta previsibilidade.
Quem fala que a relação de León e Mathilda tem alguma coisa a ver com pedofilia, não entende absolutamente nada sobre empatia. Um dos mais sublimes encontros entre a brutalidade e o afeto.
"You're not going to lose me. You've given me a taste for life. I wanna be happy. Sleep in a bed, have roots. And you'll never be alone again, Mathilda. Please, go now, baby, go. Calm down, I'll meet you at Tony's in an hour, I love you, now go, go now."
Sobre Christopher Nolan: dos dez longas já dirigidos pelo diretor, desde 1998, o único que eu ainda não assisti trata-se da estreia, "Following". Quanto aos demais, temos alguns dos meus filmes favoritos de todos os tempos, como Memento, The Prestige, The Dark Knight e Inception.
Dito isso, só resta considerar que Dunkirk não é ruim mas não é Nolan inspirado. É muito bom tecnicamente (blablabla) mas um puta de um roteiro pobre. Todos os personagens são iguais esteticamente e pouco marcantes. A empatia acontece muito mais pelo desespero do que pela relevância de cada um em seu contexto na obra. O filme não é de guerra e sim sobre a sobrevivência num pequeno pedaço da guerra. O inimigo é praticamente invisível. Drama morno. Suspense morno.
Hipnotizado com um dos filmes mais sensoriais da história do cinema. Drama mais Thriller da vida. Angustiante, corrosivo, sufocante. Trilha sonora inacreditável, atuações esplendorosas. Estou absolutamente devastado e em posição fetal junto aos personagens. Um absurdo!
Engraçado no final, quando cada um se posiciona de forma fetal, o quão escancarado fica o teor primitivo de nossas ações e a total vulnerabilidade a qual estamos entregues nos momentos em que precisamos lidar com as consequências de nossas más decisões. Parece que fui espancado.
Poesia, fotografia e trilha sonora a parte, as quase duas horas e quinze de filme me cansaram bastante. O roteiro é simples e o charme fica por conta da autodescoberta dos protagonistas e dos diálogos marcantes em diversos momentos da trama.
Entretanto, vamos a alguns questionamentos banais:
Qual a relevância de duas cenas conseguintes com o Oliver mostrando o seu machucado? Qual a relevância da cena do sangramento do nariz? Qual a relevância da cena do vômito?
Direcionando a uma reflexão mais relevante, surgem novos questionamentos:
O filme busca, o tempo inteiro, a sutileza na descoberta do sentimento de Elio e Oliver e evita quaisquer esteriótipos para moldá-los ao filme. Entretanto, o protagonista que parecia não possuir tanta atração assim por Marzia, sempre que tinha um momento de insegurança com Oliver, agia instantaneamente no impulso de procurá-la. Afinal de contas, ele nutria tesão por ela? O rapaz era bissexual? Marzia era uma válvula de escape?
A necessidade de deixar tudo subentendido pode funcionar. Ou não.
É inevitável se deparar com uma fábula onde uma doce mulher muda desfruta da amizade de sua companheira de trabalho, mulher negra forte, e da cumplicidade de um senhor homossexual com alma de artista, com quem divide o mesmo teto, encaixando a base perfeita para intensificar a busca por um amor disforme, confrontante com a arrogância do homem branco, misógino e racista, que encontra na exaltação religiosa o álibi perfeito para uma suposta comprovação de sua superioridade moral ao invés de conforto espiritual e propagação de amor em todos as suas formas.
Mais do que a poesia e as nuances hipnotizantes de fotografia, trilha-sonora e demais aspectos tecnicamente excelentes, o roteiro sabe inserir a parte mais frágil da corda num cenário de resistência com uma suavidade capaz de preservar intacto o brilho nos olhos de quem assiste a cada desenvolvimento. O trabalho metalinguístico sobre o poder do que se tem em tela torna-se evidente quando monstro, humano e ser divino se concentram num único personagem turvo, amante de música e cinema, sensitivo e reativo, à procura não de identidade mas de liberdade.
Embora a solidão seja o combustível das relações interpessoais na trama, a reflexão que fica é contrária e, em momento algum, o sentimento intencional de esperança é dissolvido.
"Unable to perceive the shape of You, I find You all around me. Your presence fills my eyes with Your love, It humbles my heart, For You are everywhere."
Se o poema foi sussurrado por alguém apaixonado, eu não sei. Tampouco afirmaria que Deus está em todas as coisas. Só que o recado deixado passa por aí. Resta a você decidir.
The Post é o talento de Spielberg, Streep e Hanks numa trama simplória e burocrática. A construção dos personagens foi bem legal, o filme é tecnicamente bem encaixado e repleto de discursos éticos. Só. Uma única publicação é o plano de fundo para as duas horas de filme. Mais ou menos como Spotlight, a problemática principal é ignorada e a redação do jornal vira protagonista. Pra mim, não é suficiente.
A sociedade machista que agride o gênero com associações incabíveis quanto a orientação sexual, o policial que insiste em chamar uma trans pelo seu nome de registro, a delegada experiente que exala desconfiança a cada questionamento travestido de zelo, as pessoas que "não são preconceituosas" encobertas pela capa do desconforto e da falta de tato, as micro-agressões despercebidas pela distância ao lugar de fala. Filme na ferida!
É sempre interessante conhecer biografias relevantes como a de Tonya Harding, afinal, cada um de nós carrega o peso de sua existência resguardado em baús do tesouro em que nem todo mundo poderá ter acesso.
Muito triste, contudo, o labirinto de violência do qual Tonya se torna incapaz de escapar. Durante todo o filme, é comprovado que a opressão não é combustível apto a fazer alguém se destacar em suas atividades. Por diversas vezes, a personagem se auto sabota por não saber como lidar com os abusos frontais inseridos em seu cotidiano desde a infância. O "american way of life" foi só mais um ingrediente para corroer o seu talento.
O tom tragicômico da trama funciona bem, aborda a vida da protagonista de uma forma mais leve, mas não tira a potência da carga emocional.
Venero filmes "menos é mais". História que engana ao inclinar ao clichê adolescente mas que confronta com o carisma de uma protagonista incrível, além da despretensiosidade de toda uma contextualização temporal resumida a um único período transitório. Mais meio, menos início e fim podem fazer a diferença positivamente. Em relação aos parâmetros mais técnicos, amei os cortes sequenciais e a força da cidade de Sacramento como plano de fundo para as emoções e os paralelos traçados no desenrolar dos encontros de Lady Bird consigo mesma.
E para os chatos de plantão que cornetaram a nomeação (e vitória) à Best Motion Picture do Globo de Ouro na categoria "Musical or Comedy", obviamente o filme é cômico. Diálogos hilários e cenas divertidíssimas em meio aos perrengues do cotidiano de uma adolescente rebelde.
A metáfora da vida se resume nela mesma. E nada melhor do que essa frase para explicar o poder desse filme em sua overdose de metáforas virtuais, flutuando entre as extremidades da liberdade humana em sua essência. Aflição, riso, asco, tristeza, tudo ao mesmo tempo, o tempo todo.
O motivo pelo qual esses clássicos blockbusters massacrantes fazem tanto sucesso é o mesmo que explica a forte audiência de programas à lá "Cidade Alerta"? Eu realmente não consigo entender como a banalização do sangue pelo sangue gera tanto entretenimento. Vocês que me perdoem mas a história contada em três longas horas, é completamente simplória e sem muitos desmembramentos empolgantes. São raríssimos os momentos de imprevisibilidade e a evolução da trama não me transportou a lugar nenhum. Vi pouco início, muito meio e nenhum fim.
Scarface é um marco histórico e, sim, é fraco!
O que não tira o brilhantismo do sensacional Al Pacino e da hipnotizadora Michelle Pfeiffer.
Eta filme esquisito. Nem bom, nem ruim. Nem terror, nem comédia. Nem cansativo, nem rápido.
O roteiro é uma verdadeira salada. A ausência de respostas incomoda por conta da simplicidade de cenários. É basicamente um nevoeiro dentro do bar. As várias micro-reviravoltas dentro da história desembocam em outras reviravoltas e nunca em conclusões. Gosto dos personagens mas os bons diálogos são igualmente inconclusivos. A irreverência vai dando lugar a tensão sem muito cuidado com o roteiro. Há um pouco de início, muito de meio e nada de fim.
Thriller subversivo, esquisito e resistente. Menos susto, menos boneca e menos demônio. Mais modulação de personagem, vida real e asco. Finalmente um terror oldschool no novo milênio.
Independente de preferência estilística, Eyes Wide Shut é coberto por tantas nuances e contempla tantas interpretações e possibilidades que é perfeito para destilar o tom particular de um diretor místico como Kubrick, da música às orgias céticas, cobertas pelo charme da escassez de respostas definitivas. Até agora, não sei o que pode ou não ser invenção dos personagens. O que surge é uma cadeia de questionamentos.
Seria possível que o fato de Alice ter confessado sua atração por outros homens tenha despertado em seu marido um lado que até mesmo ele desconhecia?
Será que, ao imaginar sua esposa com o marinheiro, ele tenha ficado excitado - sendo que esta excitação se manifestaria através de um impulso de vingança/adultério?
Será que o Dr. William Harford estaria usando a confissão de sua esposa como uma mera desculpa para liberar seus próprios instintos sexuais primários?
Seria sua raiva um disfarce para sua frustração por saber que Alice era mais honesta do que ele, já que pelo menos ela conseguia admitir que outras pessoas a atraíam?
O que pesa mais em nossas atitudes é o fato de termos uma tendência a manter múltiplos parceiros ou o de vivermos segundo os modelos estabelecidos pela sociedade?
Cada pergunta tem um cadeado distinto, com inúmeras fechaduras. Cada personagem, através de sua comunicação sexual, leva a reflexões sobre monogamia, sedução, flerte, tesão, fantasia, família, lealdade, fidelidade. O filme extremamente é sensual, o que permite a abertura de lacunas sobre a personalidade de cada agente, embora o desfecho seja fraco e mastigado demais em relação a um velho padrão moralista das relações humanas.
Vai ver, Kubrick é tão genial que debochou e eu nem percebi...
Arrival reflete sobre a natureza de nossas existências através da justaposição de momentos profundamente contrastantes mas também similares. E se em nossas vidas estamos presos ao tempo e à ordem "do que tiver que ser, vai ser", em nossas memórias não há correntes. Não é à toa que percorremos caminhos que já conhecemos enquanto buscamos preencher vazios que jamais desaparecerão. E quando sucumbimos ao pavor diante do desconhecido, a reação óbvia do ser que aqui habita é a agressão a curto prazo. Somos bem covardes.
"Manchester by the Sea" é um dos filmes mais sinceros que eu já vi. Nada é superficial e a aparente falta de pretensão do roteiro, nos desloca para o centro das relações humanas dos personagens. Tudo é como tem que ser, sem exagero, sem melodrama. Depressão, culpa, pena, desleixo, desajeito, tudo é temperado com sutileza, como acontece na vida aqui fora. Uns lidam melhor do que outros. Uns superam mais rápido do que outros. Uns jamais saberão controlar as situações mais traumáticas. Contudo, a verdade é que o show vai ter sempre que continuar, seja com o trauma entranhado, capaz de fazer um ser humano desaprender completamente a lidar com suas relações interpessoais (Lee), ou com uma insensibilidade, quase que planejada, refém dos mecanismos de defesa adolescentes mais clássicos da humanidade (Patrick).
O ponto alto do filme é justamente o emaranhado de situações corriqueiras, desembaçando a origem dos personagens por meio de flashbacks pincelados, primorosamente, por uma fotografia capaz de mesclar alegria e melancolia com o filme no mudo. Os cortes de paisagens para momentos de outrora me ambientaram, rapidamente, no contexto da trama. Ficar perdido no tempo-espaço é impossível.
Gostei bastante das 6 indicações ao Oscar (Filme, Diretor, Roteiro Original, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante) mas não apostaria em nenhuma estatueta conquistada. O que não me agradou foi a trilha sonora. Muitas vezes, as músicas selecionadas para matar o espectador de tristeza, me mataram de tédio. Relevei.
o diálogo entre dois ex que sempre se amarão profundamente mas já não possuem qualquer tato para lidar com as proporções do maior trauma de suas vidas, certamente seria um dos favoritos. Desabei ao realizar que é justamente o amor que eles sentem um pelo outro que os impede de ficarem juntos, já que é esse sentimento a lembrança do que construíram e perderam.
Certamente, um dos meus filmes preferidos de 2016.
Declarada aberta a saga de comentários baseadas em críticas de Oscar 2017. Pois bem, embora Animais Noturnos só esteja concorrendo a estatueta de Ator Coadjuvante, o filme flertou com outras várias indicações.
O que incomoda são as incongruências inacreditáveis da Academia. Os caras se enrolam na própria puxação de saco e avacalham várias nomeações. Aaron Taylor-Johnson, indicado e vencedor do último Golde Globe após a boa atuação como o vilão de Animais Noturnos, sequer entrou como nomeado no Oscar. Pior. teve que assistir ao colega de elenco Michael Shannon, o xerife clichê canastrão do filme, tomar a sua vaga na disputa. Eu preferia ver os dois de fora do que essa triste substituição.
Não satisfeitos, ignoraram os protagonistas. Fiquei com pena da Amy Adams pelo conjunto da obra de seus dois filmes mas confesso que a não indicação do Gyllenhaal me incomodou ainda mais. O cara esteve muito bem novamente.
Mas enfim, quanto ao roteiro em si, achei incrível. Instigante, com várias linhas narrativas que largam o efeito déjà vu raso e constroem uma linha objetiva na história. Tudo tem sentido e o livro dentro do filme, em exercício praticamente metalinguístico, remonta a personalidade dos protagonistas sempre inseguras, indecisas, muito em face de suas inconsistências emocionais, para desenhar um desfecho inevitável.
O thriller é relevante e o filme se torna zero cansativo justamente pela congruência dessas linhas narrativas que se entrelaçam sem ter que forçar o raciocínio do telespectador à exaustão. A sonoplastia também me agradou.
Sempre muito complicado fazer considerações a um filme de 30, 40 anos atrás, sem sentir as forças imperantes na época e os seus impactos sociais.
Acontece que é inquestionável a ousadia do filme em determinadas cenas. O roteiro aborda relacionamento homoafetivo, aceitação social, xenofobia, tráfico vs uso, teoria da pena, crime e castigo e tantas outras discussões relevantes ainda em 2017, quase quatro décadas depois, com bastante potencia.
Antes de questionar os clichês mais do que evidentes, levemos os quarenta anos de distanciamento em consideração.
Além disso, a trilha sonora é magnífica e as atuações do protagonista e do velhinho Max são incríveis, muito acima da média.
Ainda que a evolução do Roteiro seja lenta, as atuações são convincentes e a pressão sobre os entendimentos contemporâneos em casos de crime contra a dignidade sexual, fortalecem os questionamentos acerca do valor probatório do depoimento das possíveis vítimas, e sua suficiência para a condenação do agressor e, consequentemente, sua rejeição social. A reflexão é pertinente e o filme conclui o seu objetivo.
Por mais que, em se tratando de crimes contra a liberdade sexual, que geralmente são praticados obscuramente, em condições clandestinas, a palavra da vítima assuma relevante valor probatório, a falta de corroboração dos fatos por outros elementos de autoria e materialidade, reforçam a possibilidade de injustiça em casos mais embaçados.
Outro questionamento levantado, cerca a modalidade do "depoimento sem dano", técnica utilizada para tentar minimizar o sofrimento de crianças possíveis vítimas de abuso, que muitas vezes ultrapassa o limite da razoabilidade pela busca por um detalhamento dos fatos à qualquer custo, sem medir tons de personalidade, vinculando possibilidades criminológicas em meias verdades retiradas, quase que à força, de um depoimento cuja vítima talvez não possua o discernimento necessário para balancear as suas relações interpessoais e as consequências de suas acusações.
Antes de mais nada, não cometam o mesmo erro que eu cometi. Os volumes I e II tem que ser assistidos em curto lapso temporal. Não são continuações. O filme é um só, em que o primeiro volume desenvolve a psicologia do segundo. É preciso preservar o contexto integral da obra. Se tiver fôlego, assista aos dois de uma só vez.
Pois bem, o primeiro volume retrata o encontro de Joe e Seligman à luz das cenas de maior impacto sexual onde o libido e a sensualidade são obrigatórios quase que o tempo inteiro. As primeiras duas horas se passam prendendo o telespectador mas sem desenhar cem por cento o objetivo da trama. Quem só assistiu a primeira parte não sabe se gostou ou não do que viu e saiu do filme com o clássico "what the fuck?" latejando.
É muito por conta disso que, ao contrário da opinião da maioria, considero o volume dois ainda mais interessante. Além de estabelecer com clareza o vínculo e as semelhanças dos protagonistas, o filme escancara inúmeras problemáticas. A zona de conforto é abandonada quase que psicoticamente e temas como monogamia, machismo, liberdade individual, envelhecimento, antissociabilidade, politicamente correto e até mesmo religião, formam uma verdadeiro emaranhado de discussões fundamentadas e bem desconstruídas nos diversos diálogos marcantes dentro do quarto.
Tudo isso aliado ao distanciamento da câmera, ao Heavy Metal alemão do início com o Jimmy Hendrix melancólico do fim, aos minutos de tela preta, a nebulosidade que carrega a trama e o final integralmente chocante, tornam esse filme, literalmente, foda pra caralho.
Os dois eram um só. Se completavam 50% pra frente e 50% pra trás. A curiosidade do protagonista tornou-se inevitável. A angústia e busca pela "assexualidade" da protagonista também. Final mais do que justo. Só gostaria de ter visto o tiro (pra ter certeza em quem pegou, rs).
Definitivamente thrillers espiritistas não me comovem. É sempre o mesmo susto, a mesma falta de história, os mesmos seres endemoniados cômicos, as mesmas cadeiras flutuando e os mesmos atores secundários sem expressão. O filme é muito "mais do mesmo", não entendo o clamor. Do início ao fim, a evolução é cem por cento óbvia e retilínea. Não há atmosfera de mistério e os contextos que moldam a história são simplórios. Os dias se passam abruptamente, com raras cenas antes do anoitecer. Grande parte do filme se dá com pessoas dormindo e portas se abrindo, à lá "Paranormal Activity", em evidente sinal de desgaste do gênero. Tudo isso reforçado pela clássica dose de sensacionalismo do "Baseado em Fatos Reais".
Bonita fotografia.
Assistirei ao 2 mas, pelo andar da carruagem, seguirei a minha sina em busca de um filme de terror bom. Dos trocentos que já pude assistir, o melhor não foi muito além do "mais ou menos".
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraA verdade é que quando você senta para assistir a algum filme desse gênero, os preceitos básicos nacionalistas, a redenção, o heroísmo e todo a exaltação ao clássico canastrão americano herói de guerra, acabam vindo à cabeça e a tendência é achar a produção "muito bem feita" ou um baita "mais do mesmo". Nada muito além disso.
Acontece que a primeira parte dessas duas horas e vinte de filme, percorridas num período pré campo de batalha, te vinculam ao personagem além do óbvio. Os problemas de família fazem sentido, o romance é suave e bonitinho, o orgulho é gerido de maneira gradativa e quem assiste começa a se interessar pela história devido a identificação com o personagem patinho feio.
Adentrando ao tiroteio, os parâmetros técnicos são impecáveis e o filme é muito bonito pra quem curte pessoas mutiladas e granadas explodindo em meio ao caso. O heroísmo toma conta do contexto geral e sai tudo dentro da mais absoluta previsibilidade.
No final das contas, me agradou.
O Profissional
4.3 2,2K Assista AgoraQuem fala que a relação de León e Mathilda tem alguma coisa a ver com pedofilia, não entende absolutamente nada sobre empatia. Um dos mais sublimes encontros entre a brutalidade e o afeto.
"You're not going to lose me. You've given me a taste for life. I wanna be happy. Sleep in a bed, have roots. And you'll never be alone again, Mathilda. Please, go now, baby, go. Calm down, I'll meet you at Tony's in an hour, I love you, now go, go now."
Frozen: Uma Aventura Congelante
3.9 3,0K Assista AgoraLIVRISTOU > LERIGOU
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraSobre Christopher Nolan: dos dez longas já dirigidos pelo diretor, desde 1998, o único que eu ainda não assisti trata-se da estreia, "Following". Quanto aos demais, temos alguns dos meus filmes favoritos de todos os tempos, como Memento, The Prestige, The Dark Knight e Inception.
Dito isso, só resta considerar que Dunkirk não é ruim mas não é Nolan inspirado. É muito bom tecnicamente (blablabla) mas um puta de um roteiro pobre. Todos os personagens são iguais esteticamente e pouco marcantes. A empatia acontece muito mais pelo desespero do que pela relevância de cada um em seu contexto na obra. O filme não é de guerra e sim sobre a sobrevivência num pequeno pedaço da guerra. O inimigo é praticamente invisível. Drama morno. Suspense morno.
A trilha sonora é, de longe, o ápice.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraHipnotizado com um dos filmes mais sensoriais da história do cinema. Drama mais Thriller da vida. Angustiante, corrosivo, sufocante. Trilha sonora inacreditável, atuações esplendorosas. Estou absolutamente devastado e em posição fetal junto aos personagens. Um absurdo!
Engraçado no final, quando cada um se posiciona de forma fetal, o quão escancarado fica o teor primitivo de nossas ações e a total vulnerabilidade a qual estamos entregues nos momentos em que precisamos lidar com as consequências de nossas más decisões. Parece que fui espancado.
Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraPoesia, fotografia e trilha sonora a parte, as quase duas horas e quinze de filme me cansaram bastante. O roteiro é simples e o charme fica por conta da autodescoberta dos protagonistas e dos diálogos marcantes em diversos momentos da trama.
Entretanto, vamos a alguns questionamentos banais:
Qual a relevância de duas cenas conseguintes com o Oliver mostrando o seu machucado? Qual a relevância da cena do sangramento do nariz? Qual a relevância da cena do vômito?
Direcionando a uma reflexão mais relevante, surgem novos questionamentos:
O filme busca, o tempo inteiro, a sutileza na descoberta do sentimento de Elio e Oliver e evita quaisquer esteriótipos para moldá-los ao filme. Entretanto, o protagonista que parecia não possuir tanta atração assim por Marzia, sempre que tinha um momento de insegurança com Oliver, agia instantaneamente no impulso de procurá-la. Afinal de contas, ele nutria tesão por ela? O rapaz era bissexual? Marzia era uma válvula de escape?
A necessidade de deixar tudo subentendido pode funcionar. Ou não.
A Forma da Água
3.9 2,7KÉ inevitável se deparar com uma fábula onde uma doce mulher muda desfruta da amizade de sua companheira de trabalho, mulher negra forte, e da cumplicidade de um senhor homossexual com alma de artista, com quem divide o mesmo teto, encaixando a base perfeita para intensificar a busca por um amor disforme, confrontante com a arrogância do homem branco, misógino e racista, que encontra na exaltação religiosa o álibi perfeito para uma suposta comprovação de sua superioridade moral ao invés de conforto espiritual e propagação de amor em todos as suas formas.
Mais do que a poesia e as nuances hipnotizantes de fotografia, trilha-sonora e demais aspectos tecnicamente excelentes, o roteiro sabe inserir a parte mais frágil da corda num cenário de resistência com uma suavidade capaz de preservar intacto o brilho nos olhos de quem assiste a cada desenvolvimento. O trabalho metalinguístico sobre o poder do que se tem em tela torna-se evidente quando monstro, humano e ser divino se concentram num único personagem turvo, amante de música e cinema, sensitivo e reativo, à procura não de identidade mas de liberdade.
Embora a solidão seja o combustível das relações interpessoais na trama, a reflexão que fica é contrária e, em momento algum, o sentimento intencional de esperança é dissolvido.
"Unable to perceive the shape of You,
I find You all around me.
Your presence fills my eyes with Your love,
It humbles my heart,
For You are everywhere."
Se o poema foi sussurrado por alguém apaixonado, eu não sei. Tampouco afirmaria que Deus está em todas as coisas. Só que o recado deixado passa por aí. Resta a você decidir.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraThe Post é o talento de Spielberg, Streep e Hanks numa trama simplória e burocrática. A construção dos personagens foi bem legal, o filme é tecnicamente bem encaixado e repleto de discursos éticos. Só. Uma única publicação é o plano de fundo para as duas horas de filme. Mais ou menos como Spotlight, a problemática principal é ignorada e a redação do jornal vira protagonista. Pra mim, não é suficiente.
Às vezes menos é mais. Não foi o caso.
Uma Mulher Fantástica
4.1 422 Assista AgoraA sociedade machista que agride o gênero com associações incabíveis quanto a orientação sexual, o policial que insiste em chamar uma trans pelo seu nome de registro, a delegada experiente que exala desconfiança a cada questionamento travestido de zelo, as pessoas que "não são preconceituosas" encobertas pela capa do desconforto e da falta de tato, as micro-agressões despercebidas pela distância ao lugar de fala. Filme na ferida!
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraÉ sempre interessante conhecer biografias relevantes como a de Tonya Harding, afinal, cada um de nós carrega o peso de sua existência resguardado em baús do tesouro em que nem todo mundo poderá ter acesso.
Muito triste, contudo, o labirinto de violência do qual Tonya se torna incapaz de escapar. Durante todo o filme, é comprovado que a opressão não é combustível apto a fazer alguém se destacar em suas atividades. Por diversas vezes, a personagem se auto sabota por não saber como lidar com os abusos frontais inseridos em seu cotidiano desde a infância. O "american way of life" foi só mais um ingrediente para corroer o seu talento.
O tom tragicômico da trama funciona bem, aborda a vida da protagonista de uma forma mais leve, mas não tira a potência da carga emocional.
A cena do espelho eleva Margot Robbie de patamar.
Lady Bird: A Hora de Voar
3.8 2,1K Assista AgoraVenero filmes "menos é mais". História que engana ao inclinar ao clichê adolescente mas que confronta com o carisma de uma protagonista incrível, além da despretensiosidade de toda uma contextualização temporal resumida a um único período transitório. Mais meio, menos início e fim podem fazer a diferença positivamente. Em relação aos parâmetros mais técnicos, amei os cortes sequenciais e a força da cidade de Sacramento como plano de fundo para as emoções e os paralelos traçados no desenrolar dos encontros de Lady Bird consigo mesma.
E para os chatos de plantão que cornetaram a nomeação (e vitória) à Best Motion Picture do Globo de Ouro na categoria "Musical or Comedy", obviamente o filme é cômico. Diálogos hilários e cenas divertidíssimas em meio aos perrengues do cotidiano de uma adolescente rebelde.
Boa película.
Trainspotting: Sem Limites
4.2 1,9K Assista AgoraA metáfora da vida se resume nela mesma. E nada melhor do que essa frase para explicar o poder desse filme em sua overdose de metáforas virtuais, flutuando entre as extremidades da liberdade humana em sua essência. Aflição, riso, asco, tristeza, tudo ao mesmo tempo, o tempo todo.
Scarface
4.4 1,8K Assista AgoraO motivo pelo qual esses clássicos blockbusters massacrantes fazem tanto sucesso é o mesmo que explica a forte audiência de programas à lá "Cidade Alerta"? Eu realmente não consigo entender como a banalização do sangue pelo sangue gera tanto entretenimento. Vocês que me perdoem mas a história contada em três longas horas, é completamente simplória e sem muitos desmembramentos empolgantes. São raríssimos os momentos de imprevisibilidade e a evolução da trama não me transportou a lugar nenhum. Vi pouco início, muito meio e nenhum fim.
Scarface é um marco histórico e, sim, é fraco!
O que não tira o brilhantismo do sensacional Al Pacino e da hipnotizadora Michelle Pfeiffer.
O Bar
3.2 569Eta filme esquisito.
Nem bom, nem ruim.
Nem terror, nem comédia.
Nem cansativo, nem rápido.
O roteiro é uma verdadeira salada. A ausência de respostas incomoda por conta da simplicidade de cenários. É basicamente um nevoeiro dentro do bar. As várias micro-reviravoltas dentro da história desembocam em outras reviravoltas e nunca em conclusões. Gosto dos personagens mas os bons diálogos são igualmente inconclusivos. A irreverência vai dando lugar a tensão sem muito cuidado com o roteiro. Há um pouco de início, muito de meio e nada de fim.
Grave
3.4 1,1KThriller subversivo, esquisito e resistente.
Menos susto, menos boneca e menos demônio.
Mais modulação de personagem, vida real e asco.
Finalmente um terror oldschool no novo milênio.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraIndependente de preferência estilística, Eyes Wide Shut é coberto por tantas nuances e contempla tantas interpretações e possibilidades que é perfeito para destilar o tom particular de um diretor místico como Kubrick, da música às orgias céticas, cobertas pelo charme da escassez de respostas definitivas. Até agora, não sei o que pode ou não ser invenção dos personagens. O que surge é uma cadeia de questionamentos.
Seria possível que o fato de Alice ter confessado sua atração por outros homens tenha despertado em seu marido um lado que até mesmo ele desconhecia?
Será que, ao imaginar sua esposa com o marinheiro, ele tenha ficado excitado - sendo que esta excitação se manifestaria através de um impulso de vingança/adultério?
Será que o Dr. William Harford estaria usando a confissão de sua esposa como uma mera desculpa para liberar seus próprios instintos sexuais primários?
Seria sua raiva um disfarce para sua frustração por saber que Alice era mais honesta do que ele, já que pelo menos ela conseguia admitir que outras pessoas a atraíam?
O que pesa mais em nossas atitudes é o fato de termos uma tendência a manter múltiplos parceiros ou o de vivermos segundo os modelos estabelecidos pela sociedade?
Cada pergunta tem um cadeado distinto, com inúmeras fechaduras. Cada personagem, através de sua comunicação sexual, leva a reflexões sobre monogamia, sedução, flerte, tesão, fantasia, família, lealdade, fidelidade. O filme extremamente é sensual, o que permite a abertura de lacunas sobre a personalidade de cada agente, embora o desfecho seja fraco e mastigado demais em relação a um velho padrão moralista das relações humanas.
Vai ver, Kubrick é tão genial que debochou e eu nem percebi...
Tempo de Matar
4.1 568 Assista AgoraMickey Mouse: (?????)
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraArrival reflete sobre a natureza de nossas existências através da justaposição de momentos profundamente contrastantes mas também similares. E se em nossas vidas estamos presos ao tempo e à ordem "do que tiver que ser, vai ser", em nossas memórias não há correntes. Não é à toa que percorremos caminhos que já conhecemos enquanto buscamos preencher vazios que jamais desaparecerão. E quando sucumbimos ao pavor diante do desconhecido, a reação óbvia do ser que aqui habita é a agressão a curto prazo. Somos bem covardes.
Filme incrível.
- If you could see your whole life from start to finish, would you change things?
- Maybe I'd say what I felt more often. I don't know...
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista Agora"Manchester by the Sea" é um dos filmes mais sinceros que eu já vi. Nada é superficial e a aparente falta de pretensão do roteiro, nos desloca para o centro das relações humanas dos personagens. Tudo é como tem que ser, sem exagero, sem melodrama. Depressão, culpa, pena, desleixo, desajeito, tudo é temperado com sutileza, como acontece na vida aqui fora. Uns lidam melhor do que outros. Uns superam mais rápido do que outros. Uns jamais saberão controlar as situações mais traumáticas. Contudo, a verdade é que o show vai ter sempre que continuar, seja com o trauma entranhado, capaz de fazer um ser humano desaprender completamente a lidar com suas relações interpessoais (Lee), ou com uma insensibilidade, quase que planejada, refém dos mecanismos de defesa adolescentes mais clássicos da humanidade (Patrick).
O ponto alto do filme é justamente o emaranhado de situações corriqueiras, desembaçando a origem dos personagens por meio de flashbacks pincelados, primorosamente, por uma fotografia capaz de mesclar alegria e melancolia com o filme no mudo. Os cortes de paisagens para momentos de outrora me ambientaram, rapidamente, no contexto da trama. Ficar perdido no tempo-espaço é impossível.
Gostei bastante das 6 indicações ao Oscar (Filme, Diretor, Roteiro Original, Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante) mas não apostaria em nenhuma estatueta conquistada. O que não me agradou foi a trilha sonora. Muitas vezes, as músicas selecionadas para matar o espectador de tristeza, me mataram de tédio. Relevei.
Se houvesse um Oscar de Melhor Cena,
o diálogo entre dois ex que sempre se amarão profundamente mas já não possuem qualquer tato para lidar com as proporções do maior trauma de suas vidas, certamente seria um dos favoritos. Desabei ao realizar que é justamente o amor que eles sentem um pelo outro que os impede de ficarem juntos, já que é esse sentimento a lembrança do que construíram e perderam.
Certamente, um dos meus filmes preferidos de 2016.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista AgoraDeclarada aberta a saga de comentários baseadas em críticas de Oscar 2017. Pois bem, embora Animais Noturnos só esteja concorrendo a estatueta de Ator Coadjuvante, o filme flertou com outras várias indicações.
O que incomoda são as incongruências inacreditáveis da Academia. Os caras se enrolam na própria puxação de saco e avacalham várias nomeações. Aaron Taylor-Johnson, indicado e vencedor do último Golde Globe após a boa atuação como o vilão de Animais Noturnos, sequer entrou como nomeado no Oscar. Pior. teve que assistir ao colega de elenco Michael Shannon, o xerife clichê canastrão do filme, tomar a sua vaga na disputa. Eu preferia ver os dois de fora do que essa triste substituição.
Não satisfeitos, ignoraram os protagonistas. Fiquei com pena da Amy Adams pelo conjunto da obra de seus dois filmes mas confesso que a não indicação do Gyllenhaal me incomodou ainda mais. O cara esteve muito bem novamente.
Mas enfim, quanto ao roteiro em si, achei incrível. Instigante, com várias linhas narrativas que largam o efeito déjà vu raso e constroem uma linha objetiva na história. Tudo tem sentido e o livro dentro do filme, em exercício praticamente metalinguístico, remonta a personalidade dos protagonistas sempre inseguras, indecisas, muito em face de suas inconsistências emocionais, para desenhar um desfecho inevitável.
O thriller é relevante e o filme se torna zero cansativo justamente pela congruência dessas linhas narrativas que se entrelaçam sem ter que forçar o raciocínio do telespectador à exaustão. A sonoplastia também me agradou.
Um filme naturalmente bom.
O Expresso da Meia-Noite
4.1 476 Assista AgoraSempre muito complicado fazer considerações a um filme de 30, 40 anos atrás, sem sentir as forças imperantes na época e os seus impactos sociais.
Acontece que é inquestionável a ousadia do filme em determinadas cenas. O roteiro aborda relacionamento homoafetivo, aceitação social, xenofobia, tráfico vs uso, teoria da pena, crime e castigo e tantas outras discussões relevantes ainda em 2017, quase quatro décadas depois, com bastante potencia.
Antes de questionar os clichês mais do que evidentes, levemos os quarenta anos de distanciamento em consideração.
Além disso, a trilha sonora é magnífica e as atuações do protagonista e do velhinho Max são incríveis, muito acima da média.
Midnight Express é relevante.
A Caça
4.2 2,0K Assista AgoraAinda que a evolução do Roteiro seja lenta, as atuações são convincentes e a pressão sobre os entendimentos contemporâneos em casos de crime contra a dignidade sexual, fortalecem os questionamentos acerca do valor probatório do depoimento das possíveis vítimas, e sua suficiência para a condenação do agressor e, consequentemente, sua rejeição social. A reflexão é pertinente e o filme conclui o seu objetivo.
Por mais que, em se tratando de crimes contra a liberdade sexual, que geralmente são praticados obscuramente, em condições clandestinas, a palavra da vítima assuma relevante valor probatório, a falta de corroboração dos fatos por outros elementos de autoria e materialidade, reforçam a possibilidade de injustiça em casos mais embaçados.
Outro questionamento levantado, cerca a modalidade do "depoimento sem dano", técnica utilizada para tentar minimizar o sofrimento de crianças possíveis vítimas de abuso, que muitas vezes ultrapassa o limite da razoabilidade pela busca por um detalhamento dos fatos à qualquer custo, sem medir tons de personalidade, vinculando possibilidades criminológicas em meias verdades retiradas, quase que à força, de um depoimento cuja vítima talvez não possua o discernimento necessário para balancear as suas relações interpessoais e as consequências de suas acusações.
O filme é relevante.
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraAntes de mais nada, não cometam o mesmo erro que eu cometi. Os volumes I e II tem que ser assistidos em curto lapso temporal. Não são continuações. O filme é um só, em que o primeiro volume desenvolve a psicologia do segundo. É preciso preservar o contexto integral da obra. Se tiver fôlego, assista aos dois de uma só vez.
Pois bem, o primeiro volume retrata o encontro de Joe e Seligman à luz das cenas de maior impacto sexual onde o libido e a sensualidade são obrigatórios quase que o tempo inteiro. As primeiras duas horas se passam prendendo o telespectador mas sem desenhar cem por cento o objetivo da trama. Quem só assistiu a primeira parte não sabe se gostou ou não do que viu e saiu do filme com o clássico "what the fuck?" latejando.
É muito por conta disso que, ao contrário da opinião da maioria, considero o volume dois ainda mais interessante. Além de estabelecer com clareza o vínculo e as semelhanças dos protagonistas, o filme escancara inúmeras problemáticas. A zona de conforto é abandonada quase que psicoticamente e temas como monogamia, machismo, liberdade individual, envelhecimento, antissociabilidade, politicamente correto e até mesmo religião, formam uma verdadeiro emaranhado de discussões fundamentadas e bem desconstruídas nos diversos diálogos marcantes dentro do quarto.
Tudo isso aliado ao distanciamento da câmera, ao Heavy Metal alemão do início com o Jimmy Hendrix melancólico do fim, aos minutos de tela preta, a nebulosidade que carrega a trama e o final integralmente chocante, tornam esse filme, literalmente, foda pra caralho.
Vai marcar época.
E pra quem criticou a cena final:
Os dois eram um só. Se completavam 50% pra frente e 50% pra trás. A curiosidade do protagonista tornou-se inevitável. A angústia e busca pela "assexualidade" da protagonista também. Final mais do que justo. Só gostaria de ter visto o tiro (pra ter certeza em quem pegou, rs).
Invocação do Mal
3.8 3,9K Assista AgoraDefinitivamente thrillers espiritistas não me comovem. É sempre o mesmo susto, a mesma falta de história, os mesmos seres endemoniados cômicos, as mesmas cadeiras flutuando e os mesmos atores secundários sem expressão. O filme é muito "mais do mesmo", não entendo o clamor. Do início ao fim, a evolução é cem por cento óbvia e retilínea. Não há atmosfera de mistério e os contextos que moldam a história são simplórios. Os dias se passam abruptamente, com raras cenas antes do anoitecer. Grande parte do filme se dá com pessoas dormindo e portas se abrindo, à lá "Paranormal Activity", em evidente sinal de desgaste do gênero. Tudo isso reforçado pela clássica dose de sensacionalismo do "Baseado em Fatos Reais".
Bonita fotografia.
Assistirei ao 2 mas, pelo andar da carruagem, seguirei a minha sina em busca de um filme de terror bom. Dos trocentos que já pude assistir, o melhor não foi muito além do "mais ou menos".