Diante dos olhos marejados da persona de Isabelle Huppert, captamos as dores e sensibilidade desta mulher que precisa enfrentar os limites que a vida insiste impor. É quando simples rupturas no cotidiano parecem ser catástrofes que é necessário enfrentar. O tom naturalista firmado em diálogos tão nítidos e próximos de nós, na construção humana da protagonista tão intelectual e feminina, é um primor. Sem soar melodramática, temos uma narrativa elegante. Irônico observar o quanto a professora, que procura ministrar a filosofia existencial aos seus discípulos, ter que ela mesma entrar em processo de reorganização existencial e também emocional. Tendo que se auto-educar e buscar sentido diante do mundo que parece não ser tão acolhedor. E sendo questionada, inclusive, por outros que compõe seus caminhos (marido, filhos, mãe dependente), até um aluno (Roman Kolinka, ótimo!) com o qual fecunda uma exímia aproximação. Belíssimo trabalho cinematográfico "gente como a gente".
Enquanto a assustadora trilha sonora de Scott Walker evoca o senso de algo tenebroso que está por vir, nos deparamos com uma narrativa firmada em sutilezas e "dito por não dito" que exploram a vivência do tal protagonista-mirim que, como o título mesmo se justifica, irá se converter em uma importante figura social. A revolta do pequeno Prescott (através da interpretação dúbia do pequeno Tom Sweet) contra a crença religiosa, ao materno e às regras de seus representantes dá o tom inicial à bomba relógio que vai se formando no decorrer da narrativa. A direção impõe um ritmo necessário às respirações dos personagens, aliada à estrutura clássica de diálogos e formatos centrados que revelam-se um estudo sobre "a natureza do mal", quase um senso estilístico Haneke de ser. O que fica evidente é que sabiamente Brady Corbet, ancorado pelo rigor estético de uma fotografia perfeita e direção de arte pontual, exemplifica um micro estudo social humanista que exemplifica o surgimento do fascismo. Inteligente trabalho cinematográfico.
O olhar de Viggo Mortensen responde a tudo que um ator, com o exato domínio da interpretação, deseja mostrar através de seu personagem. Transmite sentimento, verdade, fragilidades e emoção em cena. Grande ator!
Recordações não se desbotam. O encontro de dois ex amantes que confrontam os antigos sentimentos, sensações e memórias de uma relação intensa através de uma noite, apenas. É curioso como o filme fecunda, dentro do seu tom "gente como a gente", os diálogos e a tal intimidade que esse casal parece recriar. Condicionados em sua vida atual, onde a dor e a infelicidade parecem assumir estranhos contornos - não é à toa que a fotografia é toda monocromática, simbolizando a melancolia e cotidiano sem brilho de cada um -, captamos as razões e situações que levaram ao rompimento. Enquanto a química em cena entre Mark Duplass e Sarah Paulson transborda sintonia e verdade pulsante, temos uma nítida crônica sobre os amores que se perdem às fragilidades emocionais do destino e que se fragmentam com o tempo. É difícil relembrar a juventude e ver que o ser adulto preserva boa dose de amargura. Um filme plenamente humano.
Em tempos de caos do circo político, uma trama espanhola que dialoga com o universo podre das artimanhas do meio através do protagonista, um deputado que confronta os limites da fragilidade quando se depara com uma intriga com consequências sangrentas. Narrativa direta, ainda que fragmentada no vai-vem do tempo, que coloca três personagens em ação, utilizando-se de um suspense que questiona os interesses e oportunismos humanos em busca do lugar ao sol. Porém, por vezes, rende-se ao tom Supercine, ainda que seja honesto no que exibe em cena. Quem é quem? Por trás do poder, existem as máscaras que acabam por cair no chão. Restam surpresas pelos caminhos.
O que parece ser um enigma investigativo policial, converte-se numa odisseia obscura sobre a natureza mórbida e misteriosa do mal. Hong-jin Na fecunda o seu estudo sobre a representação da manifestação "mística-sobrenatural" através de uma narrativa cuidada e que não apela para sustos fáceis. Pelo contrário, induz o público dentro da atmosfera humana e que experimenta o exercício de horror psicológico com nuances e simbologias assustadoras. O centro de discussão, além de tantos que o inteligente roteiro fornece, é como nós podemos permanecer na linha escura da dúvida diante de situações tão alimentadas pela paranormalidade e existencialidade além do cerne terreno humano, onde nem mesmo a fé é capaz de afagar certos conflitos horrendos que a vida é capaz de apresentar. E um filme que dialoga com conflitos e dogmas espirituais, terrenos e psicológicos, de forma cruel e astuta, é pra ser admirado.
"Se você admite que não há esperança, então você garante que não haverá esperança. Se você admite que há um instinto para a liberdade, que existem oportunidades de mudar as coisas, então há a possibilidade de que possa contribuir para a construção de um mundo melhor." Noam Chomsky.
Roteiro e produção do John Hughes que, pra variar, era mestre em destrancar as ânsias e fragilidades emocionais da juventude 80's. Aqui temos a fetiche-feminina, Molly Ringwald (como era ótima atriz!), que exibe seus questionamentos sentimentais enquanto representa a típica garota que sente-se atraída pelo ricaço da escola de coração mole (Andrew McCarthy com seu sorriso envolvente). O que percebemos é uma trama agridoce, com todo seu verniz comportamental e atmosférico da década, permeada de frases e exclamações da época e com uma trilha sonora representativa: "If You Leave" da Orchestral Manoeuvres in The Dark ou até um mero detalhe como o poster de The Smiths, na parede da loja de discos, onde a protagonista trabalha, revela o cuidado de Hughes em dialogar conosco através do teor musical também.
Aparente inocente, vai além no tratamento dado à juventude. John Hugues, com seu cinema autoral, habitualmente destrancava dilemas, anseios e perspetivas da puberdade dentro do seio americano. "Way of teenager life". Aqui temos o jovem que cria sonhos e ilude-se nos desejos ofertados à garota-popular - Lea Thompson, ultra patricinha 80s - da escola que inevitavelmente o esnoba. Com seus olhos azúis e apelo juvenil, Eric Stolz convence a nós com seu garoto romantizado, contraste perfeito à sua amiga confidente, uma Mary Stuart Masterson masculinizada e no estereótipo perfeito de feminista, contra as regras da moça-direita. É claro que o público nota que por trás dessa amizade existe muito mais pano pra manga. Qual amor é mais verdadeiro? E a ironia sentimental está pronta num delicioso filme humano e fluído. "É melhor ficar com alguém por motivos errados que solitário por razões certas..."
Irônico como Lorenzo Vigas, primeiramente, exibe o homem de 50 anos (Armando) que leva garotos ao seu apartamento, para se despir em sua frente enquanto se masturba, para depois desconstruir seu filme. É quando aproxima os caminhos desse homem com um dos garotos (Elder), fecunda uma relação ambígua entre ambos. Uma trama que vai além do voyeurismo, trazendo outros contornos aos personagens centrais. Interessante como os personagens são vistos de costas, andando pelas ruas com a câmera colada atrás de si. Câmera na mão que confere um tom documental à obra. E o roteiro é humano: Enquanto Armando é o ser solitário e melancólico socialmente, enclausurado em si mesmo, que necessita do outro, mesmo que uma imagem comprada pelo seu dinheiro - Elder nos remete àqueles ragazzi do cinema de Pasolini, insolete e sem amarras, juventude consequente do sistema violento de mundo. Mas, há camadas maiores ali nas relações e nas percepções de cada um dos dois - como fragilidades, carências, abusos sofridos e tudo mais que vem exposto em silêncios e lacunas colocadas propositalmente na narrativa. Estes contrastes de ambos e essa aproximação complexa que tornam esse trabalho indispensável.
O filme inteiro, se notar, preserva as noções da memórias da personagem Clara. E é interessante como todo o roteiro afirma a situação das memórias humanas. A Clara resiste físico e emocionalmente em relação às suas próprias lembranças. O edifício Aquarius é um elemento físico de seu império de vida feminino, é elemento e símbolo de onde ela se construiu como mulher, como se reestruturou na doença, onde cuidou dos filhos e viveu todos os anos. A sua ligação com o passado está bem atrelada ao apartamento, à memória que ela não quer apagar caso fosse entregue à construtora que queria destruir fisicamente aquilo tudo. Que não deixa de ser uma associação: a demolição física do prédio seria, para ela, a demolição de suas memórias, digamos assim.
Kleber usa, o tempo todo, a noção e simbolismo da memória, do passado, do tempo em seu filme. Tanto que temos (assim como o fez mais forte em O Som Ao Redor), a ligação de personagens "antigos" com a "atualidade", como nas situações da personagem da "empregada" do passado, que aparece em uma cena do álbum de família (elemento de nostalgia, memória e passado) e se fortalece em dois momentos: na cena em que a empregada aparece em um sonho da Clara, andando pela casa, segurando o colar (que trata da relação servil de patrão e empregado), apontando pra ela que havia sangue em seu peito (onde o câncer foi curado, analogia também ao "câncer dos cupins" que desestrutura o físico edfício Aquarius e também a alma de Clara, ou seja, destrói as lembranças e memórias). E essa mesma empregada aparece em outro momento, saindo do corredor para o banheiro, quando Clara quase cruza seu caminho no apartamento.
Ou seja, é a noção de que o passado está bem presente e persistente o tempo todo na alma e coração da protagonista.
Então, quanto a isso, o roteiro é bem inteligente e perceptivo. A situação da tia, Lucia, no começo, é só uma analogia ao tempo e à memória também. Uma mulher que guarda em si todo o tempo dentro, nas lembranças, sendo que tem a cômoda como referência e ponto-físico para que suas memórias não se acabem. Vamos pensar: claro que não precisamos de um álbum de fotografia ou uma cômoda ou uma cama para deixarmos de lembrar de um passado, de associarmos a uma situação e momento vivido, né? Claro que não, mas fica mais fácil quando temos fotos e objetos antigos para relembrar e sempre voltar ao tempo. São pontos de referências físicas, enfim. A cômoda para Lúcia - assim como o Aquarius para Clara. E imagino que nenhuma das duas gostaria de desfazer desses "objetos" em função disso, era importante para elas isso.
Tanto que se observarem, naquele mesmo sonho onde a Clara vê a empregada em seu quarto e observa o peito sangrando, aparece um rápido flash em que vemos a sala dela destroçada, toda destruída (corrosão do tempo) e a cômoda toda suja, com as gavetas abertas e também destruída no meio da sala (mais uma vez, um simbolismo e associação da relação da cômoda com uma memória que poderia estar condenada, com a ação dos cupins que iria destruir toda aquela preservação do passado dela e também de sua tia).
Eu acho que o filme é bem forte e interessante nessas situações simbólicas sobre as noções do tempo, memória, lembranças. Pra mim, Kleber Mendonça Filho é um grande cronista social e do psicológico.
A perversão burguesa. Ou o vazio humano. Neville D'Almeida desconstrói a juventude elitista, sem perspectivas e ambições existenciais. A não ser, a preocupação desenfreada pelo sexo e pelo uso das drogas, sem freios e totalmente imersa na vida artificial. Fecunda-se a narrativa no traquejo diálogo-teatro, em cima da laje, com uma sedutora vista para o mar, em uma faveja do Rio, em que se convergem os delírios emotivos, a overdose da putaria, a baderna coletiva da imaturidade. Com certa ironia, já que não deixa de ser uma sátira disfarçada, a narrativa provoca. O cenário solar, sob a perspectiva do terraço no Morro do Vidigal, é onde são descortinados os verbos de cada um dos jovens "marginais putos-ricos" em que a solidão, na realidade, é que se mostra ser um grande aliado. "Tem muita gente escrota neste mundo", verbaliza em dado momento uma das jovens, uma Bruna Linzmeyer que se destaca pela personagem com nítidos questionamentos, logo uma "prostituta" de classe inferior aos demais e que acaba por ter dilemas e vive tão "cafetinada" quanto as outras patricinhas ricas com fetiches nas favelas. Interessante estudo da teia vazia que impulsiona a bolha fake de mundo das classes. Pois é, nada mais verdadeiro e cruel que isso.
A desconstrução da cumplicidade. Ou o retrato do afeto que se desbota após 6 anos. Como driblar as divergências e desgastes de uma relação? Fecunda a intimidade da relação do jovem casal que fragiliza-se como copo que se quebra no chão, mas é difícil lidar com os cacos que não parecem recompor a forma anterior. Ótima interação entre Farmiga e Rosenfield que defendem os personagens, da alegria à destruição. Temos uma linguagem bem naturalista, dentro de uma narrativa que faz questão de exibir o tom "gente como a gente". Lembra outros filmes com propostas semelhantes comi "Namorados Para Sempre" e "Loucamente Apaixonados", mas sem imitá-los já que a direção de Hannah Fidel tem personalidade. Simples, objetivo e ainda assim promove reflexão. "É o fim da minha infância. Eu preciso crescer agora?".
"A queda é fatal. Me abstive de você por anos, mas cometi o erro de recair na esperança de te encontrar ou saber de você. Esse sentimento absurdo devorou a fraca base sobre a qual havia construído minha nova vida. Agora, não tenho mais nada. Só você existe. Sua ausência enche minha vida completamente e a destrói."
"Vi certas coisas que vocês não acreditariam. Naves de ataque ardendo ao largo de Orion. Vi raios C. cintilando na escuridão junto ao Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos irão se perder no tempo como lágrimas na chuva. Eis o tempo de morrer."
"É assustador como cheguei perto da destruição. Nossa mortalidade e dos outros, mais particularmente a nossa, é a mais difícil e intratável que a vida pode nos dar. É claro que é natural que queiramos ignorar ou minimizar o frio triste fim que espera a todos nós (...) Parei de submeter minha vontade aos caprichos dos outros. De renunciar meu próprio julgamento e deferência àqueles a quem nada devo e por quem tenho pouco respeito. Muito facilmente deixei minha determinação enfraquecer."
"Uma vez, a alma era perfeita e possuía asas. Levitava no Céu onde apenas as criaturas aladas conseguiam. Mas a alma perdeu as asas e caiu na Terra. E lá assumiu um corpo terreno. E agora, enquanto vive nesse corpo, nenhum sinal exterior de asas é visto. Embora as raízes dessas asas ainda estejam lá: A natureza delas é tentar erguer o corpo terreno."
O Que Está Por Vir
3.8 102 Assista AgoraDiante dos olhos marejados da persona de Isabelle Huppert, captamos as dores e sensibilidade desta mulher que precisa enfrentar os limites que a vida insiste impor. É quando simples rupturas no cotidiano parecem ser catástrofes que é necessário enfrentar. O tom naturalista firmado em diálogos tão nítidos e próximos de nós, na construção humana da protagonista tão intelectual e feminina, é um primor. Sem soar melodramática, temos uma narrativa elegante. Irônico observar o quanto a professora, que procura ministrar a filosofia existencial aos seus discípulos, ter que ela mesma entrar em processo de reorganização existencial e também emocional. Tendo que se auto-educar e buscar sentido diante do mundo que parece não ser tão acolhedor. E sendo questionada, inclusive, por outros que compõe seus caminhos (marido, filhos, mãe dependente), até um aluno (Roman Kolinka, ótimo!) com o qual fecunda uma exímia aproximação. Belíssimo trabalho cinematográfico "gente como a gente".
A Infância de Um Líder
3.1 59 Assista AgoraEnquanto a assustadora trilha sonora de Scott Walker evoca o senso de algo tenebroso que está por vir, nos deparamos com uma narrativa firmada em sutilezas e "dito por não dito" que exploram a vivência do tal protagonista-mirim que, como o título mesmo se justifica, irá se converter em uma importante figura social. A revolta do pequeno Prescott (através da interpretação dúbia do pequeno Tom Sweet) contra a crença religiosa, ao materno e às regras de seus representantes dá o tom inicial à bomba relógio que vai se formando no decorrer da narrativa. A direção impõe um ritmo necessário às respirações dos personagens, aliada à estrutura clássica de diálogos e formatos centrados que revelam-se um estudo sobre "a natureza do mal", quase um senso estilístico Haneke de ser. O que fica evidente é que sabiamente Brady Corbet, ancorado pelo rigor estético de uma fotografia perfeita e direção de arte pontual, exemplifica um micro estudo social humanista que exemplifica o surgimento do fascismo. Inteligente trabalho cinematográfico.
O Jardim das Palavras
4.0 363"É por isso que eu gosto da chuva, com ela vem o cheiro do céu."
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraO olhar de Viggo Mortensen responde a tudo que um ator, com o exato domínio da interpretação, deseja mostrar através de seu personagem. Transmite sentimento, verdade, fragilidades e emoção em cena. Grande ator!
Sete Homens e Um Destino
3.6 575 Assista Agora"O que perdemos no fogo, achamos nas cinza."
Blue Jay
3.8 265 Assista AgoraRecordações não se desbotam. O encontro de dois ex amantes que confrontam os antigos sentimentos, sensações e memórias de uma relação intensa através de uma noite, apenas. É curioso como o filme fecunda, dentro do seu tom "gente como a gente", os diálogos e a tal intimidade que esse casal parece recriar. Condicionados em sua vida atual, onde a dor e a infelicidade parecem assumir estranhos contornos - não é à toa que a fotografia é toda monocromática, simbolizando a melancolia e cotidiano sem brilho de cada um -, captamos as razões e situações que levaram ao rompimento. Enquanto a química em cena entre Mark Duplass e Sarah Paulson transborda sintonia e verdade pulsante, temos uma nítida crônica sobre os amores que se perdem às fragilidades emocionais do destino e que se fragmentam com o tempo. É difícil relembrar a juventude e ver que o ser adulto preserva boa dose de amargura. Um filme plenamente humano.
Rastro de Maldade
3.7 408 Assista Agora"A dor é a forma que o corpo tem para se comunicar".
A Despedida
3.7 43Ver que o corpo limita os desejos de uma mente ainda juvenil, é o pior tormento.
Detrás del Poder
2.7 1Em tempos de caos do circo político, uma trama espanhola que dialoga com o universo podre das artimanhas do meio através do protagonista, um deputado que confronta os limites da fragilidade quando se depara com uma intriga com consequências sangrentas. Narrativa direta, ainda que fragmentada no vai-vem do tempo, que coloca três personagens em ação, utilizando-se de um suspense que questiona os interesses e oportunismos humanos em busca do lugar ao sol. Porém, por vezes, rende-se ao tom Supercine, ainda que seja honesto no que exibe em cena. Quem é quem? Por trás do poder, existem as máscaras que acabam por cair no chão. Restam surpresas pelos caminhos.
O Lamento
3.9 433 Assista AgoraO que parece ser um enigma investigativo policial, converte-se numa odisseia obscura sobre a natureza mórbida e misteriosa do mal. Hong-jin Na fecunda o seu estudo sobre a representação da manifestação "mística-sobrenatural" através de uma narrativa cuidada e que não apela para sustos fáceis. Pelo contrário, induz o público dentro da atmosfera humana e que experimenta o exercício de horror psicológico com nuances e simbologias assustadoras. O centro de discussão, além de tantos que o inteligente roteiro fornece, é como nós podemos permanecer na linha escura da dúvida diante de situações tão alimentadas pela paranormalidade e existencialidade além do cerne terreno humano, onde nem mesmo a fé é capaz de afagar certos conflitos horrendos que a vida é capaz de apresentar. E um filme que dialoga com conflitos e dogmas espirituais, terrenos e psicológicos, de forma cruel e astuta, é pra ser admirado.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista Agora"Se você admite que não há esperança, então você garante que não haverá esperança. Se você admite que há um instinto para a liberdade, que existem oportunidades de mudar as coisas, então há a possibilidade de que possa contribuir para a construção de um mundo melhor." Noam Chomsky.
A Garota de Rosa-Shocking
3.6 535 Assista AgoraRoteiro e produção do John Hughes que, pra variar, era mestre em destrancar as ânsias e fragilidades emocionais da juventude 80's. Aqui temos a fetiche-feminina, Molly Ringwald (como era ótima atriz!), que exibe seus questionamentos sentimentais enquanto representa a típica garota que sente-se atraída pelo ricaço da escola de coração mole (Andrew McCarthy com seu sorriso envolvente). O que percebemos é uma trama agridoce, com todo seu verniz comportamental e atmosférico da década, permeada de frases e exclamações da época e com uma trilha sonora representativa: "If You Leave" da Orchestral Manoeuvres in The Dark ou até um mero detalhe como o poster de The Smiths, na parede da loja de discos, onde a protagonista trabalha, revela o cuidado de Hughes em dialogar conosco através do teor musical também.
Elle
3.8 886"Vergonha não é uma emoção que nos impeça de agir."
Os Aventureiros do Bairro Proibido
3.7 569 Assista Agora'It's all in the reflexes.''
Alguém Muito Especial
3.6 232Aparente inocente, vai além no tratamento dado à juventude. John Hugues, com seu cinema autoral, habitualmente destrancava dilemas, anseios e perspetivas da puberdade dentro do seio americano. "Way of teenager life". Aqui temos o jovem que cria sonhos e ilude-se nos desejos ofertados à garota-popular - Lea Thompson, ultra patricinha 80s - da escola que inevitavelmente o esnoba. Com seus olhos azúis e apelo juvenil, Eric Stolz convence a nós com seu garoto romantizado, contraste perfeito à sua amiga confidente, uma Mary Stuart Masterson masculinizada e no estereótipo perfeito de feminista, contra as regras da moça-direita. É claro que o público nota que por trás dessa amizade existe muito mais pano pra manga. Qual amor é mais verdadeiro? E a ironia sentimental está pronta num delicioso filme humano e fluído. "É melhor ficar com alguém por motivos errados que solitário por razões certas..."
Amanda Knox
3.6 229 Assista Agora"Fear makes people crazy."
De Longe Te Observo
3.4 86Irônico como Lorenzo Vigas, primeiramente, exibe o homem de 50 anos (Armando) que leva garotos ao seu apartamento, para se despir em sua frente enquanto se masturba, para depois desconstruir seu filme. É quando aproxima os caminhos desse homem com um dos garotos (Elder), fecunda uma relação ambígua entre ambos. Uma trama que vai além do voyeurismo, trazendo outros contornos aos personagens centrais. Interessante como os personagens são vistos de costas, andando pelas ruas com a câmera colada atrás de si. Câmera na mão que confere um tom documental à obra. E o roteiro é humano: Enquanto Armando é o ser solitário e melancólico socialmente, enclausurado em si mesmo, que necessita do outro, mesmo que uma imagem comprada pelo seu dinheiro - Elder nos remete àqueles ragazzi do cinema de Pasolini, insolete e sem amarras, juventude consequente do sistema violento de mundo. Mas, há camadas maiores ali nas relações e nas percepções de cada um dos dois - como fragilidades, carências, abusos sofridos e tudo mais que vem exposto em silêncios e lacunas colocadas propositalmente na narrativa. Estes contrastes de ambos e essa aproximação complexa que tornam esse trabalho indispensável.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraO filme inteiro, se notar, preserva as noções da memórias da personagem Clara. E é interessante como todo o roteiro afirma a situação das memórias humanas. A Clara resiste físico e emocionalmente em relação às suas próprias lembranças. O edifício Aquarius é um elemento físico de seu império de vida feminino, é elemento e símbolo de onde ela se construiu como mulher, como se reestruturou na doença, onde cuidou dos filhos e viveu todos os anos. A sua ligação com o passado está bem atrelada ao apartamento, à memória que ela não quer apagar caso fosse entregue à construtora que queria destruir fisicamente aquilo tudo. Que não deixa de ser uma associação: a demolição física do prédio seria, para ela, a demolição de suas memórias, digamos assim.
Kleber usa, o tempo todo, a noção e simbolismo da memória, do passado, do tempo em seu filme. Tanto que temos (assim como o fez mais forte em O Som Ao Redor), a ligação de personagens "antigos" com a "atualidade", como nas situações da personagem da "empregada" do passado, que aparece em uma cena do álbum de família (elemento de nostalgia, memória e passado) e se fortalece em dois momentos: na cena em que a empregada aparece em um sonho da Clara, andando pela casa, segurando o colar (que trata da relação servil de patrão e empregado), apontando pra ela que havia sangue em seu peito (onde o câncer foi curado, analogia também ao "câncer dos cupins" que desestrutura o físico edfício Aquarius e também a alma de Clara, ou seja, destrói as lembranças e memórias). E essa mesma empregada aparece em outro momento, saindo do corredor para o banheiro, quando Clara quase cruza seu caminho no apartamento.
Ou seja, é a noção de que o passado está bem presente e persistente o tempo todo na alma e coração da protagonista.
Então, quanto a isso, o roteiro é bem inteligente e perceptivo. A situação da tia, Lucia, no começo, é só uma analogia ao tempo e à memória também. Uma mulher que guarda em si todo o tempo dentro, nas lembranças, sendo que tem a cômoda como referência e ponto-físico para que suas memórias não se acabem. Vamos pensar: claro que não precisamos de um álbum de fotografia ou uma cômoda ou uma cama para deixarmos de lembrar de um passado, de associarmos a uma situação e momento vivido, né? Claro que não, mas fica mais fácil quando temos fotos e objetos antigos para relembrar e sempre voltar ao tempo. São pontos de referências físicas, enfim. A cômoda para Lúcia - assim como o Aquarius para Clara. E imagino que nenhuma das duas gostaria de desfazer desses "objetos" em função disso, era importante para elas isso.
Tanto que se observarem, naquele mesmo sonho onde a Clara vê a empregada em seu quarto e observa o peito sangrando, aparece um rápido flash em que vemos a sala dela destroçada, toda destruída (corrosão do tempo) e a cômoda toda suja, com as gavetas abertas e também destruída no meio da sala (mais uma vez, um simbolismo e associação da relação da cômoda com uma memória que poderia estar condenada, com a ação dos cupins que iria destruir toda aquela preservação do passado dela e também de sua tia).
Eu acho que o filme é bem forte e interessante nessas situações simbólicas sobre as noções do tempo, memória, lembranças. Pra mim, Kleber Mendonça Filho é um grande cronista social e do psicológico.
A Frente Fria que a Chuva Traz
2.5 152 Assista AgoraA perversão burguesa. Ou o vazio humano. Neville D'Almeida desconstrói a juventude elitista, sem perspectivas e ambições existenciais. A não ser, a preocupação desenfreada pelo sexo e pelo uso das drogas, sem freios e totalmente imersa na vida artificial. Fecunda-se a narrativa no traquejo diálogo-teatro, em cima da laje, com uma sedutora vista para o mar, em uma faveja do Rio, em que se convergem os delírios emotivos, a overdose da putaria, a baderna coletiva da imaturidade. Com certa ironia, já que não deixa de ser uma sátira disfarçada, a narrativa provoca. O cenário solar, sob a perspectiva do terraço no Morro do Vidigal, é onde são descortinados os verbos de cada um dos jovens "marginais putos-ricos" em que a solidão, na realidade, é que se mostra ser um grande aliado. "Tem muita gente escrota neste mundo", verbaliza em dado momento uma das jovens, uma Bruna Linzmeyer que se destaca pela personagem com nítidos questionamentos, logo uma "prostituta" de classe inferior aos demais e que acaba por ter dilemas e vive tão "cafetinada" quanto as outras patricinhas ricas com fetiches nas favelas. Interessante estudo da teia vazia que impulsiona a bolha fake de mundo das classes. Pois é, nada mais verdadeiro e cruel que isso.
6 Anos
2.8 329 Assista AgoraA desconstrução da cumplicidade. Ou o retrato do afeto que se desbota após 6 anos. Como driblar as divergências e desgastes de uma relação? Fecunda a intimidade da relação do jovem casal que fragiliza-se como copo que se quebra no chão, mas é difícil lidar com os cacos que não parecem recompor a forma anterior. Ótima interação entre Farmiga e Rosenfield que defendem os personagens, da alegria à destruição. Temos uma linguagem bem naturalista, dentro de uma narrativa que faz questão de exibir o tom "gente como a gente". Lembra outros filmes com propostas semelhantes comi "Namorados Para Sempre" e "Loucamente Apaixonados", mas sem imitá-los já que a direção de Hannah Fidel tem personalidade. Simples, objetivo e ainda assim promove reflexão. "É o fim da minha infância. Eu preciso crescer agora?".
Julieta
3.8 530 Assista Agora"A queda é fatal. Me abstive de você por anos, mas cometi o erro de recair na esperança de te encontrar ou saber de você. Esse sentimento absurdo devorou a fraca base sobre a qual havia construído minha nova vida. Agora, não tenho mais nada. Só você existe. Sua ausência enche minha vida completamente e a destrói."
Blade Runner: O Caçador de Andróides
4.1 1,6K Assista Agora"Vi certas coisas que vocês não acreditariam. Naves de ataque ardendo ao largo de Orion. Vi raios C. cintilando na escuridão junto ao Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos irão se perder no tempo como lágrimas na chuva. Eis o tempo de morrer."
Amor & Amizade
3.2 90 Assista Agora"É assustador como cheguei perto da destruição. Nossa mortalidade e dos outros, mais particularmente a nossa, é a mais difícil e intratável que a vida pode nos dar. É claro que é natural que queiramos ignorar ou minimizar o frio triste fim que espera a todos nós (...) Parei de submeter minha vontade aos caprichos dos outros. De renunciar meu próprio julgamento e deferência àqueles a quem nada devo e por quem tenho pouco respeito. Muito facilmente deixei minha determinação enfraquecer."
Cavaleiro de Copas
3.2 412 Assista Agora"Uma vez, a alma era perfeita e possuía asas. Levitava no Céu onde apenas as criaturas aladas conseguiam. Mas a alma perdeu as asas e caiu na Terra. E lá assumiu um corpo terreno. E agora, enquanto vive nesse corpo, nenhum sinal exterior de asas é visto. Embora as raízes dessas asas ainda estejam lá: A natureza delas é tentar erguer o corpo terreno."