Apenas um sentimento de que esse filme realmente falou comigo hoje, por meio daquela perfeita mensagem dentro da carteira presenteada por Sean O'Connell. Ler a logo da LIFE ali foi como encontrar o bilhete que contém a justa sabedoria para o bom viver, dentro de uma garrafa de vidro perdida numa praia qualquer, depois de percorrer um oceano inteiro através do movimento das ondas até chegar por acaso em nossas mãos.
Às vezes estamos tão desconectados da realidade, vivendo de forma apática e tão distantes dos nossos sonhos, que esquecemos que o propósito último se encontra nas variadas experiências de ver o mundo e senti-lo. E como o fotógrafo nos lembra: o que é belo não clama por atenção. Mas para vê-lo, precisamos ir ao seu encontro, nos deparar com os perigos que virão, olhar atrás dos muros e chegar mais perto.
O mais importante sobre isso é que não se exige uma câmera para registrar o belo, basta voltar os olhos para dentro daquele precioso momento e ali ficar, no interior dele durante o tempo que nos for necessário. É também este o significado de atenção plena e talvez por isso que, ao menos para mim, estas sejam as ocasiões em que verdadeiramente me sinto completa e todo o vazio natural da existência se esgota, porque ali me preencho com a autêntica beleza de estar presente percebendo o mundo e sentindo-o. Este o sentido que me integra à experiência de viver e que posso revisitar sempre, em qualquer tempo ou lugar.
Diante dessa premissa, a melhor instrução de todas as pistas desvendadas por Walter Mitty é: uma vez aqui, divirta-se nessa viagem!
Dentre tantas reflexões sobre a maternidade e o luto precoce, esse filme traz uma problemática que ultimamente todas as mulheres héteros e cis que conheço reclamam: seus companheiros só dão apoio quando as coisas estão bem. Quando tudo vai mal e desmorona, elas que segurem a barra delas, a deles e a da relação. Nos primeiros trinta minutos pensamos "que marido e pai incrível ele vai ser!", mas no restante do filme vemos a sua transformação no que realmente é, mais um cara babaca.
- Deu muita confusão o outro festival? - Deu, deu bastante. - Mesmo assim, é a favor? - Mesmo assim, eu sou a favor. Eu acho bacana, os hippies. - E você estava dizendo agora há pouco o quê? Muita sem-vergonhice, como é? - Eu acho bastante depravação. Eles abusam bastante. - Mesmo assim, você é a favor do festival? - Sou a favor.
Esta era uma das minhas séries favoritas e que eu sempre defendi, a despeito de todas as críticas. Contudo, a partir dessa quarta temporada houve uma derrocada narrativa grotesca em muitos aspectos.
Nos primeiros episódios, Claire, personagem corajosa e sábia, ao invés de ponderar qual a melhor saída para a situação que se constituiu na casa de Jocasta, simplesmente resolve, por conta própria, tomar uma atitude que estava pondo em risco a vida de TODOS dentro da casa. Outras resoluções poderiam ter sido engendradas ali, mas Claire escolhe a mais vulnerável possível, e vulnerável não apenas para o Rufus. Sinceramente, é de difícil compreensão entender como uma personagem eminentemente inteligente, que sobreviveu a situações aterradoras, tenha tomado as atitudes que tomou. Claire já havia sido avisada sobre o que aconteceria com o próprio Rufus e com outros escravos, que seriam brutalmente torturados e mortos para servir de exemplo aos demais. Para mim, houve uma falha substancial na construção da personagem de Claire nesse momento. Claire não é uma personagem que, tendo sido diversas vezes alertada e sabendo o que estava prestes a acontecer, ficaria parada dentro de um quarto vendo janelas sendo quebradas, ameaças de invasão, sem fazer nada além de deixar o caos se instaurar de vez. Claire precisou ser levada a uma situação em que não havia mais tantas escolhas, para tomar uma resolução. Além disso, também sinto que houve nessa primeira parte da temporada uma falha da narrativa em si, que poderia muito bem ter possibilitado outro desfecho para a vida de Rufus. Dentro de um universo ficcional como o dessa série, em que o impossível é quase sempre possível, poderiam sim ter salvado o personagem de Rufus e tê-lo feito representar um papel importante na trama. Embora essa temporada esteja voltada para temáticas da escravidão e do contato com indígenas americanos, percebam que nenhum personagem negro ou indígena passa a fazer parte do núcleo da história, são apenas coadjuvantes de pequeno valor. A história tinha uma oportunidade única ali de oferecer representatividade, mas continua sendo uma série de brancos para brancos.
está na construção da personagem de Bree. Particularmente nessa temporada, ela é apresentada como uma mulher à frente de seu tempo (para o início dos anos 70), dona de si e que sabe o que quer. De repente, há um hiato narrativo em que vemos Bree aceitar diversas imposições de um estilo de vida e de costumes completamente arcaicos, 200 anos na retaguarda de seu verdadeiro tempo. Depois que Brianna volta para o passado, a única atitude verdadeiramente inteligente que a personagem teve foi a estratégia que ela elaborou junto a John Grey para evitar um casamento sem amor. Com exceção disso, parece que a personagem é reduzida em sua relevância e passa a ser simplesmente utilizada para dar sentido a trama de Roger e para abordar temas sérios, como estupro e aborto. E penso que este, talvez, tenha sido o pior momento da temporada.
o estupro é utilizado como argumento para o desenrolar narrativo. Que isso aconteça uma ou duas vezes, ainda desce. Mas a série inteira está utilizando desse artifício argumentativo e sem o menor cuidado. Nessa temporada fica ainda pior, pois além do estupro consumado, vemos a personagem de Brianna aceitar ter o filho de seu estuprador e, além disso, ir vê-lo na cadeia e perdoá-lo pela agressão. Bree afirma que escolheu ter o filho porque existia a possibilidade de ser do Roger, mas ela sabe que é de Bonnet. Tanto que, um pouco antes de dar à luz, ela vai a prisão para perdoá-lo e dizer que a criança será cuidada para nunca ser igual a ele. NÃO FAZ SENTIDO!!! Ela sempre soube que era de Bonnet, ela NÃO estava escolhendo ter o filho "porque havia uma possibilidade de ser do Roger". A narrativa fica subestimando a inteligência dos espectadores, esperando que compremos qualquer justificativa para as ações dos personagens, mas não dá! É aterrador assistir o desdobramento dessa trama de Brianna. Principalmente quando ela decide que a única forma de ter um pouco de paz de espírito é se ela for ver o seu estuprador para conceder-lhe perdão... Gente, para. Esse tema é muito caro e delicado para ser tratado da maneira superficial e negligente com que foi. Vemos apenas gatilho em cima de gatilho e o espectador que engula.
Belíssima fotografia-viva, mas confesso que não consegui estabelecer o pacto ficcional com o filme. Não sei se porquê me falta algum conhecimento sobre a cultura tailandesa ou mesmo a respeito do budismo, mas o caso foi que mesmo tendo me deixado levar despretensiosamente pelas paisagens, cores, e simbolismos evocados, não consegui apreciá-lo por inteiro.
"Enfim, é assim que após uns doze anos de ausência e apesar do medo, eu decidi voltar a vê-los. Há uma gama de motivações, que vem de nós mesmos, que não se relaciona a ninguém mais além de nós, que nos impulsiona a sair pela vida afora, a não olhar para trás. Da mesma forma, existe uma variedade tão grande de motivações quanto essas que nos fazem voltar. Foi assim que após todos esses anos, tomei a decisão de voltar atrás. De fazer a viagem...
para anunciar minha morte. Anunciá-la eu próprio e sentir poder dar a mim mesmo e aos outros, pela última vez... a ilusão de estar até este extremo senhor de mim mesmo".
Olha, Villeneuve já se mostrou capaz de conduzir uma obra de ficção científica, mas eu sinceramente sinto que a tarefa de dirigir Dune deveria ser entregue a Jodorowsky. O cara passou a vida inteira idealizando o filme, criou storyboard preparando toda a linguagem visual para ser transportada ao cinema, que inclusive influenciou posteriormente diversos filmes de sci-fi; além do fato de ter uma proposta revolucionária e filosófica para o longa.
Se Frank Herbert é o pai, Jodorowsky é o padrinho.
O medo é tão bem performado no olhar e discurso dos personagens que é quase como um personagem oculto, mas que se encontra presente em todas as três possibilidades narrativas como um fantasma sempre à espreita.
Assim como Kundera estava para a literatura, Kieślowski estava para o cinema: ambos conceberam obras politicamente engajadas e de denúncia frente as atrocidades de regimes autoritários. Ambientado no final da década de 1970 na Polônia subjugada pela URSS, o enredo oferece também uma gama de reflexões que constituem o autêntico movimento da narrativa.
Kieślowski propõe em "Przypadek" um passeio filosófico circundado por questões metafísicas fundamentais: que é a liberdade? temos livre-arbítrio? Deus existe? Esses enigmas percorrem a história revelando que, diante de cada escolha e episódio aleatório ou imprevisível, podemos nos encontrar frente ao limiar de uma nova e singular existência para nós. Uma atitude que tomamos ou deixamos de tomar pode abrir um horizonte de possibilidades para sermos um outro que não este que até aqui se apresentou.
Diante desse pressuposto, a história apresenta três possibilidades do que poderiam ter acontecido a Witek. Em todos os casos, porém, o filme enuncia os mesmos questionamentos ao espectador: qual o momento exato em que passado e futuro se tornam irremediáveis perante as nossas escolhas? onde se escondem e se atravessam as fronteiras do destino? como as vicissitudes do acaso interferem nas nossas decisões? que papel Deus (se existe) desempenha diante do livre-arbítrio e da grande roda da fortuna?
É uma obra tanto ousada, por empreender uma dura crítica ao totalitarismo stalinista em plena URSS, como também perspicaz, na medida em que Kieślowski se utiliza justamente desse cenário ditatorial para abordar o tema da liberdade e a evidente constatação de que cidadão algum pode gozar da plenitude de seus direitos se é vítima de censura ou perseguição ideológica.
Dos melhores enredos com temática jurídica que já assisti e um pratão cheio para quem curte as peripécias que o direito penal percorre. Preminger nos apresenta uma sofisticada trama que entrelaça dois crimes cuja autoria e consumação são suspeitáveis e duvidosas, a princípio, ao espectador.
Se de início estamos mais interessados em saber o que realmente aconteceu na fatídica noite do assassinato de Barney Quill, com o desdobrar-se dos fatos, somos embalados docilmente a um cenário de tribunal e arguições onde o que mais nos instiga e estimula o olhar não é mais a cronologia dos eventos ou a veracidade das acusações, mas sim a forma com a qual aquele julgamento vai sendo conduzido, as ardilosas argumentações apresentadas pelas partes, o modo pelo qual as testemunhas do caso são direcionadas pela defesa e acusação a fim de favorecer a um dos lados. E nesse decurso, as atuações de James Stewart e George C. Scott são preciosíssimas para imprimir uma atmosfera de embate jurídico.
É fabuloso também as variações de humor e afeições que sentimos diante de cada personagem, especialmente os que estão diretamente envolvidos no caso. Senti isso em particular com a Laura Manion, em razão de alegar ter sofrido estupro. É sabido que, em um tribunal do júri nas décadas de 50/60, o testemunho de uma mulher abusada era (e ainda é) frequentemente nulificado por uma série de narrativas caluniosas que situavam-na no imaginário social como uma pessoa dissimulada, interesseira, infiel e sedutoramente provocativa: em resumo, she was asking for it.
Sob uma ótica histórico-feminista, é de difícil tarefa manter-se neutra diante do testemunho legal de uma mulher que alega ter sido vítima de abuso sexual. Situações como essa fazem resgatar um certo sentimento de incômodo pelo fato de que o Direito no ocidente pouco ou nada tem sido de gentil perante o depoimento feminino nos tribunais. Era exceção dar validade a essa voz, que comumente tinha cor e classe social. Contudo, sob uma perspectiva jurídica, é indispensável manter-se atento e conscientemente imparcial frente as provas, evidências e a constituição dos fatos - do contrário não é possível um julgamento justo. Para mim, esta é uma das atraentes armadilhas que Preminger consegue astuciosamente arremessar aos espectadores, ao atiçar e confundir nossas crenças e valores pessoais.
Confesso que meu primeiro encontro com Bukowski foi desagradável. Há uns oito anos, comprei "Fabulário Geral do Delírio Cotidiano" porque alguém que admirava na época falava maravilhas do véi. A visão unilateral masculina e evidentemente repleta de misoginia que atravessavam a leitura me fizeram construir uma imagem bem antipática a qualquer coisa que o envolvesse. Até que ano passado li pela primeira vez alguns de seus poemas e vi que, por trás dessa caricatura de velho safado, existia um profundo lastro de sensibilidade na obra poética que reflete a irremediável tragédia da condição humana. Desde então, tenho lido Bukowski com certa frequência e considerado-o um dos maiores poetas do séc. XX. E esse documentário é justamente interessante para conhecer esse outro lado do Buk.
Uma das cenas mais marcantes do documentário é quando Bukowski lê, por engano, "The Shower":
Bom Dia, Verônica (3ª Temporada)
2.7 177 Assista AgoraÉ como disse aquele bebum:
"Tava ruim, agora parece que piorou".
This Is Us (6ª Temporada)
4.7 268 Assista AgoraConseguiu a proeza de desbancar Gilmore Girls e se tornou a minha série favorita.
A Vida Secreta de Walter Mitty
3.8 2,0K Assista AgoraApenas um sentimento de que esse filme realmente falou comigo hoje, por meio daquela perfeita mensagem dentro da carteira presenteada por Sean O'Connell. Ler a logo da LIFE ali foi como encontrar o bilhete que contém a justa sabedoria para o bom viver, dentro de uma garrafa de vidro perdida numa praia qualquer, depois de percorrer um oceano inteiro através do movimento das ondas até chegar por acaso em nossas mãos.
Às vezes estamos tão desconectados da realidade, vivendo de forma apática e tão distantes dos nossos sonhos, que esquecemos que o propósito último se encontra nas variadas experiências de ver o mundo e senti-lo. E como o fotógrafo nos lembra: o que é belo não clama por atenção. Mas para vê-lo, precisamos ir ao seu encontro, nos deparar com os perigos que virão, olhar atrás dos muros e chegar mais perto.
O mais importante sobre isso é que não se exige uma câmera para registrar o belo, basta voltar os olhos para dentro daquele precioso momento e ali ficar, no interior dele durante o tempo que nos for necessário. É também este o significado de atenção plena e talvez por isso que, ao menos para mim, estas sejam as ocasiões em que verdadeiramente me sinto completa e todo o vazio natural da existência se esgota, porque ali me preencho com a autêntica beleza de estar presente percebendo o mundo e sentindo-o. Este o sentido que me integra à experiência de viver e que posso revisitar sempre, em qualquer tempo ou lugar.
Diante dessa premissa, a melhor instrução de todas as pistas desvendadas por Walter Mitty é: uma vez aqui, divirta-se nessa viagem!
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraDentre tantas reflexões sobre a maternidade e o luto precoce, esse filme traz uma problemática que ultimamente todas as mulheres héteros e cis que conheço reclamam: seus companheiros só dão apoio quando as coisas estão bem. Quando tudo vai mal e desmorona, elas que segurem a barra delas, a deles e a da relação. Nos primeiros trinta minutos pensamos "que marido e pai incrível ele vai ser!", mas no restante do filme vemos a sua transformação no que realmente é, mais um cara babaca.
Downton Abbey (6ª Temporada)
4.5 248Mary insuportável, meu maior ranço de personagens femininas em séries de época.
A Maldição da Mansão Bly
3.9 924 Assista AgoraJust perfectly splendid!
Gosto de Cereja
4.0 225 Assista Agoravais abdicar de experimentar o gosto das cerejas? - isto bem que poderia ser uma epígrafe de "o mito de sísifo".
Sem Maturidade Para Isso (1ª Temporada)
4.0 42Surpreendentemente bom.
O Barato de Iacanga
4.2 76Mano do céu, o Brasil de 2020 precisa de mais pessoas como a senhorinha deste diálogo:
- Deu muita confusão o outro festival?
- Deu, deu bastante.
- Mesmo assim, é a favor?
- Mesmo assim, eu sou a favor. Eu acho bacana, os hippies.
- E você estava dizendo agora há pouco o quê? Muita sem-vergonhice, como é?
- Eu acho bastante depravação. Eles abusam bastante.
- Mesmo assim, você é a favor do festival?
- Sou a favor.
HAHAHAHAHAHA VIREI FÃ
Jovens, Loucos e Rebeldes
3.7 447 Assista AgoraLinklater, Linklater, ainda bem que você cresceu...
Outlander (4ª Temporada)
4.2 184Esta era uma das minhas séries favoritas e que eu sempre defendi, a despeito de todas as críticas. Contudo, a partir dessa quarta temporada houve uma derrocada narrativa grotesca em muitos aspectos.
A começar por...
Nos primeiros episódios, Claire, personagem corajosa e sábia, ao invés de ponderar qual a melhor saída para a situação que se constituiu na casa de Jocasta, simplesmente resolve, por conta própria, tomar uma atitude que estava pondo em risco a vida de TODOS dentro da casa. Outras resoluções poderiam ter sido engendradas ali, mas Claire escolhe a mais vulnerável possível, e vulnerável não apenas para o Rufus.
Sinceramente, é de difícil compreensão entender como uma personagem eminentemente inteligente, que sobreviveu a situações aterradoras, tenha tomado as atitudes que tomou.
Claire já havia sido avisada sobre o que aconteceria com o próprio Rufus e com outros escravos, que seriam brutalmente torturados e mortos para servir de exemplo aos demais.
Para mim, houve uma falha substancial na construção da personagem de Claire nesse momento. Claire não é uma personagem que, tendo sido diversas vezes alertada e sabendo o que estava prestes a acontecer, ficaria parada dentro de um quarto vendo janelas sendo quebradas, ameaças de invasão, sem fazer nada além de deixar o caos se instaurar de vez. Claire precisou ser levada a uma situação em que não havia mais tantas escolhas, para tomar uma resolução.
Além disso, também sinto que houve nessa primeira parte da temporada uma falha da narrativa em si, que poderia muito bem ter possibilitado outro desfecho para a vida de Rufus. Dentro de um universo ficcional como o dessa série, em que o impossível é quase sempre possível, poderiam sim ter salvado o personagem de Rufus e tê-lo feito representar um papel importante na trama. Embora essa temporada esteja voltada para temáticas da escravidão e do contato com indígenas americanos, percebam que nenhum personagem negro ou indígena passa a fazer parte do núcleo da história, são apenas coadjuvantes de pequeno valor. A história tinha uma oportunidade única ali de oferecer representatividade, mas continua sendo uma série de brancos para brancos.
Outro problema evidente
está na construção da personagem de Bree. Particularmente nessa temporada, ela é apresentada como uma mulher à frente de seu tempo (para o início dos anos 70), dona de si e que sabe o que quer. De repente, há um hiato narrativo em que vemos Bree aceitar diversas imposições de um estilo de vida e de costumes completamente arcaicos, 200 anos na retaguarda de seu verdadeiro tempo. Depois que Brianna volta para o passado, a única atitude verdadeiramente inteligente que a personagem teve foi a estratégia que ela elaborou junto a John Grey para evitar um casamento sem amor. Com exceção disso, parece que a personagem é reduzida em sua relevância e passa a ser simplesmente utilizada para dar sentido a trama de Roger e para abordar temas sérios, como estupro e aborto. E penso que este, talvez, tenha sido o pior momento da temporada.
Mais uma vez,
o estupro é utilizado como argumento para o desenrolar narrativo. Que isso aconteça uma ou duas vezes, ainda desce. Mas a série inteira está utilizando desse artifício argumentativo e sem o menor cuidado. Nessa temporada fica ainda pior, pois além do estupro consumado, vemos a personagem de Brianna aceitar ter o filho de seu estuprador e, além disso, ir vê-lo na cadeia e perdoá-lo pela agressão. Bree afirma que escolheu ter o filho porque existia a possibilidade de ser do Roger, mas ela sabe que é de Bonnet. Tanto que, um pouco antes de dar à luz, ela vai a prisão para perdoá-lo e dizer que a criança será cuidada para nunca ser igual a ele. NÃO FAZ SENTIDO!!! Ela sempre soube que era de Bonnet, ela NÃO estava escolhendo ter o filho "porque havia uma possibilidade de ser do Roger". A narrativa fica subestimando a inteligência dos espectadores, esperando que compremos qualquer justificativa para as ações dos personagens, mas não dá!
É aterrador assistir o desdobramento dessa trama de Brianna. Principalmente quando ela decide que a única forma de ter um pouco de paz de espírito é se ela for ver o seu estuprador para conceder-lhe perdão... Gente, para. Esse tema é muito caro e delicado para ser tratado da maneira superficial e negligente com que foi. Vemos apenas gatilho em cima de gatilho e o espectador que engula.
Olhos que Condenam
4.7 680 Assista AgoraTerminei de assistir aqui e tô arrasada... Um soco no estômago necessário :(
Vidas sem Destino
3.7 659Teria adorado assisti-lo durante o final da minha adolescência, hoje não.
Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
3.6 196Belíssima fotografia-viva, mas confesso que não consegui estabelecer o pacto ficcional com o filme. Não sei se porquê me falta algum conhecimento sobre a cultura tailandesa ou mesmo a respeito do budismo, mas o caso foi que mesmo tendo me deixado levar despretensiosamente pelas paisagens, cores, e simbolismos evocados, não consegui apreciá-lo por inteiro.
Dias Selvagens
3.8 72Ouvir "Perfídia" durante uma passagem tocante do filme deixou um lastro de melancolia que só "O amor nos tempos do cólera" me causou até hoje.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraComentário necessário:
VIDA ETERNA AO SUS ❤️
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista Agora"Enfim, é assim que após uns doze anos de ausência e apesar do medo, eu decidi voltar a vê-los. Há uma gama de motivações, que vem de nós mesmos, que não se relaciona a ninguém mais além de nós, que nos impulsiona a sair pela vida afora, a não olhar para trás. Da mesma forma, existe uma variedade tão grande de motivações quanto essas que nos fazem voltar. Foi assim que após todos esses anos, tomei a decisão de voltar atrás. De fazer a viagem...
para anunciar minha morte. Anunciá-la eu próprio e sentir poder dar a mim mesmo e aos outros, pela última vez... a ilusão de estar até este extremo senhor de mim mesmo".
https://www.youtube.com/watch?v=sMeRXE8tVc0&feature=youtu.be
Duna: Parte 1
3.8 1,6K Assista AgoraOlha, Villeneuve já se mostrou capaz de conduzir uma obra de ficção científica, mas eu sinceramente sinto que a tarefa de dirigir Dune deveria ser entregue a Jodorowsky. O cara passou a vida inteira idealizando o filme, criou storyboard preparando toda a linguagem visual para ser transportada ao cinema, que inclusive influenciou posteriormente diversos filmes de sci-fi; além do fato de ter uma proposta revolucionária e filosófica para o longa.
Se Frank Herbert é o pai, Jodorowsky é o padrinho.
Incêndios
4.5 1,9KEsse aqui ganhou o prêmio de melhor plot twist da história do cinema.
História pedregosa e, com um plot twist desses, não tem como esquecer.
Sorte Cega
4.1 62 Assista AgoraO medo é tão bem performado no olhar e discurso dos personagens que é quase como um personagem oculto, mas que se encontra presente em todas as três possibilidades narrativas como um fantasma sempre à espreita.
Sorte Cega
4.1 62 Assista AgoraAssim como Kundera estava para a literatura, Kieślowski estava para o cinema: ambos conceberam obras politicamente engajadas e de denúncia frente as atrocidades de regimes autoritários. Ambientado no final da década de 1970 na Polônia subjugada pela URSS, o enredo oferece também uma gama de reflexões que constituem o autêntico movimento da narrativa.
Kieślowski propõe em "Przypadek" um passeio filosófico circundado por questões metafísicas fundamentais: que é a liberdade? temos livre-arbítrio? Deus existe? Esses enigmas percorrem a história revelando que, diante de cada escolha e episódio aleatório ou imprevisível, podemos nos encontrar frente ao limiar de uma nova e singular existência para nós. Uma atitude que tomamos ou deixamos de tomar pode abrir um horizonte de possibilidades para sermos um outro que não este que até aqui se apresentou.
Diante desse pressuposto, a história apresenta três possibilidades do que poderiam ter acontecido a Witek. Em todos os casos, porém, o filme enuncia os mesmos questionamentos ao espectador: qual o momento exato em que passado e futuro se tornam irremediáveis perante as nossas escolhas? onde se escondem e se atravessam as fronteiras do destino? como as vicissitudes do acaso interferem nas nossas decisões? que papel Deus (se existe) desempenha diante do livre-arbítrio e da grande roda da fortuna?
É uma obra tanto ousada, por empreender uma dura crítica ao totalitarismo stalinista em plena URSS, como também perspicaz, na medida em que Kieślowski se utiliza justamente desse cenário ditatorial para abordar o tema da liberdade e a evidente constatação de que cidadão algum pode gozar da plenitude de seus direitos se é vítima de censura ou perseguição ideológica.
Anatomia de um Crime
4.1 133 Assista AgoraDos melhores enredos com temática jurídica que já assisti e um pratão cheio para quem curte as peripécias que o direito penal percorre. Preminger nos apresenta uma sofisticada trama que entrelaça dois crimes cuja autoria e consumação são suspeitáveis e duvidosas, a princípio, ao espectador.
Se de início estamos mais interessados em saber o que realmente aconteceu na fatídica noite do assassinato de Barney Quill, com o desdobrar-se dos fatos, somos embalados docilmente a um cenário de tribunal e arguições onde o que mais nos instiga e estimula o olhar não é mais a cronologia dos eventos ou a veracidade das acusações, mas sim a forma com a qual aquele julgamento vai sendo conduzido, as ardilosas argumentações apresentadas pelas partes, o modo pelo qual as testemunhas do caso são direcionadas pela defesa e acusação a fim de favorecer a um dos lados. E nesse decurso, as atuações de James Stewart e George C. Scott são preciosíssimas para imprimir uma atmosfera de embate jurídico.
É fabuloso também as variações de humor e afeições que sentimos diante de cada personagem, especialmente os que estão diretamente envolvidos no caso. Senti isso em particular com a Laura Manion, em razão de alegar ter sofrido estupro. É sabido que, em um tribunal do júri nas décadas de 50/60, o testemunho de uma mulher abusada era (e ainda é) frequentemente nulificado por uma série de narrativas caluniosas que situavam-na no imaginário social como uma pessoa dissimulada, interesseira, infiel e sedutoramente provocativa: em resumo, she was asking for it.
Sob uma ótica histórico-feminista, é de difícil tarefa manter-se neutra diante do testemunho legal de uma mulher que alega ter sido vítima de abuso sexual. Situações como essa fazem resgatar um certo sentimento de incômodo pelo fato de que o Direito no ocidente pouco ou nada tem sido de gentil perante o depoimento feminino nos tribunais. Era exceção dar validade a essa voz, que comumente tinha cor e classe social. Contudo, sob uma perspectiva jurídica, é indispensável manter-se atento e conscientemente imparcial frente as provas, evidências e a constituição dos fatos - do contrário não é possível um julgamento justo. Para mim, esta é uma das atraentes armadilhas que Preminger consegue astuciosamente arremessar aos espectadores, ao atiçar e confundir nossas crenças e valores pessoais.
Bukowski: Born into This
4.5 137Confesso que meu primeiro encontro com Bukowski foi desagradável. Há uns oito anos, comprei "Fabulário Geral do Delírio Cotidiano" porque alguém que admirava na época falava maravilhas do véi. A visão unilateral masculina e evidentemente repleta de misoginia que atravessavam a leitura me fizeram construir uma imagem bem antipática a qualquer coisa que o envolvesse. Até que ano passado li pela primeira vez alguns de seus poemas e vi que, por trás dessa caricatura de velho safado, existia um profundo lastro de sensibilidade na obra poética que reflete a irremediável tragédia da condição humana. Desde então, tenho lido Bukowski com certa frequência e considerado-o um dos maiores poetas do séc. XX. E esse documentário é justamente interessante para conhecer esse outro lado do Buk.
Uma das cenas mais marcantes do documentário é quando Bukowski lê, por engano, "The Shower":
Linda, você trouxe isso pra mim.
"Quando você se afastar,
Faça devagar e suavemente
Faça como se eu tivesse morrendo
No meu sonho em vez da minha vida,
Amém."
Paris, Texas
4.3 697 Assista AgoraParis, Texas: a ausência pode ser nociva, mas o perdão é redentor.