“Well, sex appeal. Some guys got it - and some guys don't.”
• HOWARD THE DUCK (1986) •
Enquanto muitos apostariam no Hulk, Homem-Aranha ou X-Men ao pensar nos primeiros personagens da Marvel a serem adaptados no cinema, é 'Howard: O Super-Herói' quem, contrariando todas as expectativas, adentrou esse terreno. E um dos envolvidos, de forma ainda mais surpreendente, foi ninguém menos que George Lucas, criador de Star Wars.
Lucas, que foi produtor executivo do projeto, provavelmente enxergou em Howard algum potencial com o público infantil, o que na verdade evidencia o principal problema do longa: seu tom. Ao mesmo tempo que possui cenas com seios a mostra (ainda que de uma pata), seminudez e piadas com sexo, sua trama mostra-se extremamente infantil.
Um pato antropomórfico alienígena rabugento e de humor sórdido vem parar na Terra, onde fica amigo de uma cantora de bar e um cientista maluco. Ao descobrir que a máquina que o trouxe para nosso planeta irá servir de portal para seres malignos conhecidos como "Os Mestres Ocultos do Universo", Howard precisa impedi-los e salvar a humanidade.
Se a premissa por si só não é ridícula, a execução é. Apesar da proposta de transformar um personagem aparentemente infantil numa sátira adulta e de humor negro, o filme não sustenta tal ideia por muito tempo, já que a trama logo vira uma versão esculhambada de filmes infantis da época, como por exemplo o clássico 'E.T. O Extra-Terrestre'.
Além disso, a duração se estende mais do que deveria, sendo boa parte dela direcionada à cenas de humor fracas que em nada movem a trama. Para não dizer que é completamente isento de qualidades, o longa possui alguns efeitos práticos eficientes, como o próprio Howard e as criaturas do ato final, que são horrendas (num bom sentido).
No geral, 'Howard: O Super-Herói' não é ofensivamente ruim, mas é uma experiência esquisita e cansativa que demonstra como a falta de uma visão bastante clara em um obra pode levar a um resultado final inconsistente, praticamente esquizofrênico. Talvez não entre na lista dos dez piores filmes de super-herói já feitos, mas chega perto.
Swamp Thing: Me? Your Boyfriend? Abby Arcane: Why not? Swamp Thing: You said it yourself: I'm a plant. Abby Arcane: That's okay, I'm a vegetarian.
• THE RETURN OF SWAMP THING (1989) •
De forma surpreendente, o horroroso 'O Monstro do Pântano' ganhou uma continuação. Dessa vez sem Wes Craven na direção, 'A Volta do Monstro do Pântano' abraçou de vez o estilo trash que o primeiro apresentava de forma não-intencional, acabando por render uma experiência levemente superior - mas não se engane, o filme ainda é ruim.
A trama é basicamente a mesma do primeiro, com leves variações nos acontecimentos. Em alguns momentos, ela é até beneficiada por uma direção que brinca com a tosquice do personagem. Ainda assim, é uma sucessão de eventos majoritariamente desinteressantes e trechos ridículos - com direito à uma cena de sexo que se inicia com um pepino mágico (?).
Algo que pode ser elogiado, entretanto, são os trajes e efeitos práticos na construção de algumas criaturas, que até chegam a impressionar. Para cada uma delas, entretanto, há outros dez defeitos que reduzem ainda mais a qualidade do filme, por exemplo: como o Doutor Arcane sobreviveu aos eventos do primeiro filme e voltou a ser humano?
São esses e outros questionamentos que não valem a pena serem feitos após a experiência obtida em 'A Volta do Monstro do Pântano', que apesar de levemente superior ao predecessor, ainda é cansativamente repetitivo e esquecível. O único motivo que deve instigar alguém a ver este longa é uma mórbida e sombria curiosidade.
O Monstro do Pântano é um dos personagens mais complexos da DC Comics, sendo protagonista de alguns dos arcos de histórias mais elogiados da editora. Em 1982, o personagem ganhou um filme pelas mãos de Wes Craven, famoso criador da franquia 'Pânico' e 'A Hora do Pesadelo'. Infelizmente, o resultado não foi nada bom...
O obscuro 'O Monstro do Pântano' quase não possui roteiro, se resumindo a cansativas e desinteressantes perseguições e escapadas entre os personagens, que por sua vez são escritos e vividos de forma extremamente caricata pelos envolvidos. É basicamente uma hora e meia de absolutamente nada (seguido de mais nada) acontecendo.
O personagem que mais se destaca aqui é Arcane, mas não de forma positiva: o vilão é construído de forma tão caricata que cada mínima oração que sai de sua boca é uma frase de efeito que tenta parecer inteligente. Já o protagonista em nada merece elogios, com o pior ficando para seu traje: um pedaço de borracha completamente mal feito.
A experiência obtida aqui é completamente descartável e não deve ser sugerida nem à seus piores inimigos. O que pode ser absorvido dela é apenas a reflexão: como um cineasta que produziu obras tão populares conseguiu pegar um dos melhores quadrinhos da DC Comics e produzir um dos piores filmes de super-herói da história?
“You will be different, sometimes you'll feel like an outcast, but you'll never be alone. You will make my strength your own. You will see my life through your eyes, as your life will be seen through mine. The son becomes the father and the father becomes the son.”
• SUPERMAN RETURNS (2006) •
Com o ressurgimento do morcego em 'Batman Begins', de 2005, estava mais do que na hora da Warner Bros. ressuscitar o Superman nas telonas, que há vinte anos não ganhava um novo longa. Para isso, o estúdio contratou o famigerado diretor Bryan Singer, conhecido por ter levado ao cinema um famoso grupo de heróis da concorrência: os X-Men.
Com poucos minutos de filme, entretanto, já é notada uma diferença na abordagem que Christopher Nolan deu ao Cavaleiro das Trevas para a que Singer deu ao Último Filho de Krypton - enquanto o primeiro buscou a originalidade de sua própria visão, o outro se apoiou nas homenagens e referências aos primeiros filmes do herói.
'Superman: O Retorno' é, basicamente, uma homenagem à ‘Superman: O Filme’ (e um pouco a ‘Superman II: A Aventura Continua’), sendo inclusive uma continuação deles (nem Singer poderia levar em conta o terceiro e quarto filme, de tão ruins que foram). As referências vão desde a estrutura da trama até detalhes de acontecimentos, cenas e diálogos.
Um filme que poderia ser nostalgicamente cativante, entretanto, acaba tornando-se monótono e pouco criativo. Singer tenta a todo momento replicar a sensibilidade dos longas originais, mas não sabe como capturar a essência de uma época em que os super-heróis eram vistos de forma pura, como os símbolos que representavam.
O arco do protagonista no longa beira a insensatez, visto que, após cinco anos fora do planeta, Kal-El ainda está interessado em Lois Lane, que agora é uma mulher casada e com um filho. A jornada de ambos no filme soa como derivada do provável fetiche que o diretor tem em triângulos amorosos (já presente na trilogia dos mutantes na Fox).
Não há nada de destacável no elenco, que conta com a insípida Kate Bosworth como Lois Lane, os pouco presentes e por isso indiferentes Sam Huntington e Frank Langella como, respectivamente, Jimmy Olsen e Perry White; e Brandon Routh, que se possui carisma, aqui escondeu no mais profundo âmago de sua existência.
A única escalação que talvez chegue perto de ser elogiável é a de Kevin Spacey, que consegue dar alguma personalidade à figura do egocêntrico criminoso Lex Luthor. Ainda assim, seu personagem soa genérico e é pouco desenvolvido, com um flashback mal posicionado que apenas atesta a pouca inspiração do roteiro.
Essa falta de inspiração se estende ainda à Jason White, filho de Lois Lane com Richard White que, em certo momento da trama, se revela como sendo na verdade fruto da relação de Lois com o Superman. Esse "Superboy" não tem uma função no longa, sendo apenas a tentativa de um desenvolvimento temático que pouco vai à frente.
'Superman: O Retorno' não possui nada a acrescentar para o cânone intermidiático do personagem, sendo uma obra que causaria completa indiferença, não fosse o incômodo e inadequado sentimento de monotonia causado. Enquanto 'Batman Begins' foi o princípio de uma ótima trilogia, 'Superman: O Retorno' foi fadado a um justo esquecimento.
“And there will be peace. There will be peace when the people of the world, want it so badly, that their governments will have no choice but to give it to them. I just wish you could all see the Earth the way that I see it. Because when you really look at it, it's just one world.”
• SUPERMAN IV: THE QUEST FOR PEACE (1987) •
'Superman IV: Em Busca da Paz' continua a saga já desgastada pelo humor exagerado de Richard Lester e o tom camp de seus roteiros, que aqui não tem, novamente, muito de interessante a apresentar. Um pouco melhor que o terceiro longa, entretanto, 'Em Busca da Paz' possui alguma temática mínima a abordar através dos atos de seu herói.
Na trama, Superman decide acabar com todo armamento nuclear do planeta. Enquanto isso, Lex Luthor foge da prisão e rouba um fio de cabelo do herói, alterando-o geneticamente e o prendendo a um míssil que é lançado ao espaço. Ao atingir o Sol, a explosão dá origem ao Homem-Nuclear, um clone tão poderoso quanto o Superman - senão mais.
A grande reflexão do filme está na forma como o protagonista inocentemente acredita que, forçando os países a não terem mais armas nucleares, alcançará a tão desejada paz na Terra. É claro que o longa não desenvolve essa temática de forma eficiente, mas em meio à uma experiência tão desagradável, qualquer ponto positivo é elogiável.
Infelizmente, não demora muito para que o roteiro se torne uma sucessão de cenas desinteressantes. Há uma subtrama patética do Clarim Diário sendo comprado por um empresário que busca a venda de jornais através do sensacionalismo e pior ainda: uma sub-subtrama sobre a filha desse empresário se apaixonando por Clark Kent.
O Homem-Nuclear é provavelmente o pior componente do filme. Além de ser vivido por um ator cujas simples expressões já transmitem falta de talento, ainda é fonte de inúmeros diálogos caricatos e cenas de ação genéricas. Até mesmo as lutas contra Zod no segundo filme, que eram exageradas, são mais interessantes.
Ao lado de 'Superman III', 'Em Busca da Paz' é um dos piores filmes de super-herói de todos os tempos (mesmo que não ofenda tanto quanto outros). O único elemento que se mantém consistente em todos os filmes é Christopher Reeve, que mesmo quando não tem um bom material a ser trabalhado, ainda convence como o Superman mais carismático do cinema.
“People will do anything for love. They'll jump off cliffs for love. They'll drown themselves like lemmings. So... I'll make everybody love me.”
• SUPERGIRL (1984) •
Entre as dezenas de filmes de super-heróis lançados nas últimas décadas, muitos acabaram ficando perdidos no limbo do esquecimento, lembrados somente por poucos fãs que se recusam a deixá-los morrer. Esse é o caso de '<b>Supergirl</b>', longa que buscou introduzir a prima do Superman nos cinemas tal como o herói havia sido, anos antes.
Na trama, Kara Zor-El, uma remanescente da civilização kryptoniana de Argo City, acaba perdendo um importante artefato que mantinha a sobrevivência de seus habitantes. Ao descobrir que o objeto caiu na Terra, a garota decide ir para o planeta resgatá-lo, e é então que a gigantesca quantidade de problemas do filme começa…
Como estabelecido anteriormente, há uma urgência inerente na motivação da protagonista, que necessita do objeto para assegurar a sobrevivência do seu povo. Ao invés de arcar com tal consequência, entretanto, o roteiro cria uma trama completamente despropositada ondel Kara decide, por exemplo, se disfarçar de humana para ir estudar (?).
Como se já não fosse bizarro o suficiente o fato da protagonista mudar a cor de seu cabelo magicamente, adquirir roupas terráqueas e se matricular numa escola, os acontecimentos a seguir passam a ser cada vez mais incoerentes. O roteiro parece possuir pontos de trama em que almeja chegar, mas não sabe como fazê-lo orgânicamente.
A antagonista do longa é uma pérola à parte, visto que subitamente e, sem motivo algum, decide utilizar feitiçaria para se apossar do rapaz que sua amiga estava interessada. Para além de todos os problemas estruturais da obra, ela ainda constrói toda a motivação da vilã no fato desse rapaz não se interessar por ela, e sim pela Supergirl.
Além de caricata, a história do filme é cheia de coincidências e não desenvolve de forma decente absolutamente nenhum de seus elementos. Então existia uma cidade sobrevivente de Krypton? Como isso é possível? Supergirl sabe que é prima de Kal-El? Ela observava a Terra para ter a informação de que ele é o Superman?
Muitas outras críticas poderiam ser feitas ao longa, mas listar todos os seus defeitos seria um exercício difícil, desinteressante e improdutivo. 'Supergirl' é mal escrito, cansativo e uma experiência para se ter uma única vez (e olhe lá). Creio que afirmá-lo como um dos piores filmes de super-heróis da história - senão o pior - já seja o suficiente.
“You know a wise man once said, I think it was Attila the Hun, ‘It is not enough that I succeed, everyone else must fail’.”
• SUPERMAN III (1983) •
Após a saída de Richard Donner da franquia do Homem de Aço, o herói receberia ainda três filmes produzidos pelos irmãos Salkind com direção de Richard Lester. 'Superman II: A Aventura Continua', ainda possuía resquícios de inspiração, talvez resultado do trabalho de Donner antes de sua saída. Foi em 'Superman III' que a franquia foi pro ralo…
Na trama, o programador Gus Gorman é contratado pelo maligno empresário Ross Webster para criar um satélite de controle do clima e, dessa maneira, destruir plantações de café na Colômbia para então monopolizar o negócio. Em algum momento (e espere por uma longa demora até que isso ocorra), Superman acaba tendo que enfrentá-los.
O maior problema do longa é o fato dele possuir duas tramas diferentes sendo trabalhadas e, por boa parte da duração, nenhuma afetar a outra. De um lado, o "quase-vilão" caricato de Richard Pryor e suas interações idiotas, e de outro Clark Kent, que retorna à sua cidade Natal, Smallville, e acaba reencontrando Lana Lang, sua paixão de colégio.
A ausência de Lois Lane, Perry White e Jimmy Olsen, que só aparecem no começo do longa, é muito sentida - fora Lex Luthor, que sequer dá as caras. O motivo foi provavelmente a redução no orçamento, que caiu dos 54 milhões do segundo longa para 34 do terceiro. O resultado é praticamente um filme inteiro de trama filler para a franquia.
Pela falta de foco na trama, por sua premissa extremamente idiota, pelos alívios cômicos frequentes e exagerados e pela falta dos personagens carismáticos dos dois longas anteriores, 'Superman III' é o pior filme do herói. As únicas cenas que se salvam são as do Superman afetado pela kryptonita alterada, que são divertidamente bizarras.
“This ‘Superman’ is nothing of the kind; I've discovered his weakness. [...] He cares. He actually cares for these Earth people.”
• SUPERMAN II (1980) •
'Superman: O Filme', de 1978, foi um projeto bastante ambicioso. Não satisfeitos em lançar o primeiro grande longa de super-heróis nos cinemas, os irmãos Salkind - que detinham os direitos de adaptação do personagem - ainda aproveitaram para acordar com a Warner Bros. a produção de um segundo filme, que seria gravado junto do primeiro.
Problemas na produção do longa, entretanto, levaram a saída de Richard Donner, o diretor original do primeiro filme. Em seu lugar entrou então Richard Lester, anteriormente apenas um produtor associado. Como resultado tivemos este segundo filme, que no Brasil foi batizado de 'Superman II: A Aventura Continua'.
Nota-se com facilidade a saída de Donner da produção, pois o longa, em paralelo ao primeiro, é bem mais cheio de excessos e com uma sensibilidade artística consideravelmente menor. O filme não é ruim, possuindo ainda suas qualidades, que estão apenas ofuscadas em meio a uma quantidade maior de problemas.
Na trama, Superman precisa enfrentar Ursa, Non e o General Zod, três criminosos de Krypton que escaparam da Zona Fantasma, uma prisão intergaláctica na qual o tempo não passa. Em paralelo a isso, o azulão se vê diante de um sério dilema: sacrificar seus poderes por uma vida normal com Lois Lane ou continuar sendo o herói que o mundo precisa?
Continuando o desenvolvimento de personagem do primeiro longa, 'Superman II: A Aventura Continua' trabalha novamente as reflexões que surgem a partir da natureza do protagonista, dessa vez numa perspectiva mais humana e identificável, reforçando o peso de ser um herói e os sacrifícios que lhes são necessários.
O General Zod surge aqui como a antítese do Superman, demonstrando como o poder, quando presente em homens de baixo caráter, pode ser destrutivo. A ideia, infelizmente, para por aí, visto que os demais momentos do personagem se resumem a cenas de destruição exageradamente longas e pouca temática a ser analisada.
É nesse filme que somos apresentados à fonte inesgotável de poderes do Superman e demais kryptonianos, que passa a contar com teleporte, invisibilidade, criação de clones ilusórios, beijos que apagam a memória e o mais bizarro de todos: disparar um invólucro de plástico gigante a partir do símbolo em seu peito. Ah, as bizarrices dos quadrinhos Pré-Crise...
Em suma, 'Superman II: A Aventura Continua' é uma versão um pouco menos carismática e um tanto quanto mais exagerada do primeiro longa. Ele possui seus méritos, mas ao mesmo tempo rende uma experiência um pouco mais maçante que a do original. Ainda assim, é um filme decente, diferente do que seriam os dois últimos da franquia...
“They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all, their capacity for good, I have sent them you... my only son.”
• SUPERMAN (1978) •
Em 1938, o mundo contemplava o surgimento do que futuramente seria o maior super-herói de todos os tempos: Superman. Quarenta anos depois, o herói viria a ganhar seu primeiro longa-metragem cinematográfico em 'Superman: O Filme', dirigido por Richard Donner e estrelando Christopher Reeve como o Último Filho de Krypton.
Existem algumas temáticas e valores que uma primeira adaptação de respeito do personagem não poderia ignorar, e o longa sabe disso. Diferente de versões mais recentes do herói, Donner soube como apresentar o Superman para o público mainstream sem precisar de forma alguma desvirtua-lo de seus significados primordiais.
A direção do artista possui vários méritos em sua execução, desde o início, com a construção de Krypton como um mundo estéril e irreconhecível aos nossos olhos; à notável tensão em momentos como a morte de Jonathan Kent; e alguns singelos, porém lindos enquadramentos que buscam a simplicidade do cenário em que Clark cresceu.
O longa levanta assuntos como o motivo do herói ter sido enviado àquele mundo; a dicotomia entre possuir tamanho poder e mesmo assim ser incapaz de salvar o pai; a analogia messiânica inerente ao personagem; e a forma como a humanidade o vê - tudo isso sem tornar-se distante, mantendo o fator empático e a sensibilidade necessária.
O que impede o roteiro de ser ainda melhor é seu desenrolar a partir da metade, que torna-se um pouco mais "bobo" ao lidar com o Lex Luthor de Gene Hackman. Suas características remetem ao tipo de vilão presente na Era de Ouro dos quadrinhos, o que apesar de não ser necessariamente ruim, acaba por deixar a trama bem mais caricata.
Apesar do questionável plano de Luthor para obtenção da Austrália (?), o terceiro ato proporciona um desafio que serve como conclusão para o arco de Superman, no qual o herói supera a si mesmo ao voltar no tempo e impedir que seu amor, Lois Lane, morra soterrada - conquista que remete diretamente à morte do pai no início da trama.
A versão de Christopher Reeve do personagem é até hoje a melhor em mídias live-action e uma das mais bem construídas em geral, pois além de embasar-se num bom roteiro para criar um personagem complexo e profundo, ainda exala o carisma e a gentileza de seu intérprete, tornando prazeroso o acompanhar de sua jornada.
'Superman: O Filme' é uma bela história de origem, contando com toda a sinceridade que poderia a história de um herói que reflete sobre a natureza da própria existência e descobre seu lugar no mundo. Ele prova, além disso, como a narrativa dos super-heróis de quadrinhos praticamente nasceu para ser adaptada para os cinemas.
Após algumas décadas e a explosão da moda de filmes de super-heróis, o longa pode ter sido ultrapassado em vários quesitos, porém ainda mantém toda a sua qualidade e a simpatia com a qual foi concebido. Não é à toa que ele tenha sido o precursor do movimento, já que fez o público acreditar, pela primeira vez, que um homem poderia voar.
Em 'Avatar', um militar é contratado para fazer parte de uma equipe de exploração alienígena, numa incursão que o leva até o mundo de Pandora. O local, que é como uma versão mais selvagem da Terra, abriga os Na'vi, uma raça de humanóides azuis com cultura semelhante aos povos nativos do nosso próprio planeta.
Todos já conhecem e muitos até criticam a simplicidade e familiaridade da trama do longa, que é uma versão sci-fi de histórias como, por exemplo, 'Pocahontas'. Apesar das frequentes piadas feitas sobre a semelhança, existe algo de extremamente injusto na depreciação do longa simplesmente por sua premissa base.
Afinal, quantas reimaginações de narrativas já exaustivamente contadas nós tivemos na história humana? Mesmo considerando apenas a história recente, desde a invenção do cinema, o número ainda é absurdo. O problema em 'Avatar' talvez seja o fato dele não se basear diretamente numa trama já existente, e sim propor algo "novo".
Uma outra possibilidade é, claro, o fato do longa ter se tornado a maior bilheteria da história do cinema, fato que por si só já causa uma pré-expectativa no público, que associa o lucro de um filme com sua qualidade ou, pior ainda, complexidade. Esse é provavelmente o problema que mina parte das análises feitas sobre a obra.
Analisando de forma neutra, 'Avatar' é um ótimo exemplo do zeitgeist do cinema atual, em que as pessoas vão buscando algo incrível, um escapismo da vida real através da ficção científica e grandes efeitos especiais. E mesmo entrando em uma reflexão qualitativa, existem aqui, sim, alguns pontos positivos que devem ser ressaltados.
Afinal: qual o motivo de recontarmos tantas histórias? Não é pelas reflexões que elas nos trazem, a continuidade na expressão de uma mensagem ou o simples fascínio pelas emoções propiciadas? Pois, mesmo que já tenha sido feito antes, não há nada de vazio e muito menos errado nas temáticas que o longa traz, muito pelo contrário.
'Avatar' é a história de um homem que é inserido em outra cultura, que em meio a seus semelhantes, que buscam a riqueza material que pode ser extraída do outro povo, busca pelo valor cultural que pode ser transmitido por ele. É a batalha da ciência contra o militarismo, do estudo contra a guerra, da conciliação contra o conflito.
É claro que, dentro de tal estrutura e através de tal discussão, cada pessoa pode individualmente sentir-se mais ou menos tocada. Seguindo tal afirmação, não enxergo, particularmente, tanta sensibilidade no desenvolvimento dessa temática. Ela existe, é notável e funcional, mas não penetra tanto quanto outras obras do diretor.
O longa em momento algum atinge a empatia provocada por 'Titanic' ou nos coloca na tensa posição dos personagens de 'O Exterminador do Futuro', o que, em comparação, demonstra um pouco das limitações do roteiro. Para alguns, entretanto, essas limitações podem ser compensadas em um outro quesito de maior eficácia: os efeitos especiais.
Visualmente falando, 'Avatar' foi um divisor de águas no que tange o uso da captura de movimentos e a computação gráfica no cinema, e não apenas em uma questão de melhorar o que já existia, mas por preestabelecer a maneira como ela serviria não só para criar os personagens ou criaturas, mas todo o mundo que engloba a história.
Em geral, o longa pode não ser tão emocionante ou marcante como outros blockbusters mega milionários, perdendo ainda mais quando colocado ao lado de outros longas de James Cameron, mas é uma experiência consideravelmente cativante, que entretém, fascina visualmente e transmite suas mensagens perfeitamente.
'Titanic' é, por muitos motivos, um dos filmes mais marcantes do cinema. Além de ter sido a maior bilheteria da história na época de seu lançamento (e até hoje estando entre as três maiores), foi um dos longas mais premiados do Oscar, dividindo o primeiro lugar com 'Ben-Hur' e 'O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei', todos com 11 estatuetas.
Mas além dos fatores inegáveis que enfileiram-se como provas da magnitude do longa, no que mais ele obtem seu sucesso? É claro que seu apelo é instantâneo ao tratar de um dos acidentes mais conhecidos da história humana, mas existe algo no roteiro e a execução que potencializam de forma absurda seu impacto.
A princípio é impossível deixar de notar o próprio empenho de James Cameron na reconstrução do acidente, que não só parece real na execução dos efeitos, como também plausível da maneira como ocorre. Ainda assim, nada disso importaria se não fosse pelo impacto emocional das cenas, o que nos leva, de fato, ao grande trunfo da obra.
Cameron, após mergulhar entre os destroços do navio real, disse: "isso não é apenas uma história [...]. Foi um evento que aconteceu com pessoas reais que realmente morreram". Pode parecer óbvio mas, analisando em retrospectiva, esse é o maior mérito do longa: direcionar sua atenção não ao navio em si, mas para as pessoas que nele viajavam.
Mesmo que aborde o naufrágio com enorme destaque, reservando até mesmo sua metade final para uma representação extremamente realista do ocorrido, 'Titanic' não fala sobre destruição, não trata de morte e não é sobre o choque que poderia buscar causar no público, muito pelo contrário: é um retrato intimista do amor de dois passageiros.
O roteiro decide conduzir seu público pelo navio através da relação entre Rose e Jack, duas pessoas de mundos completamente diferentes que, por uma conexão que poucos filmes conseguem criar, apaixonam-se profundamente. Mas por que, entre tantos ali, logo os dois são tratados com tanta proeminência? Qual sua importância?
A resposta, a princípio, é: nenhuma. Assim como Rose e Jack, todos naquele navio possuíam suas dificuldades, suas virtudes, seus defeitos e almejavam suas próprias conquistas. Qualquer um deles poderia ser foco da atenção. É somente a partir do cuidado, desse carinho do próprio roteiro, que os personagens ganham nossa empatia.
É claro que, além disso, existe uma estratégia em tal abordagem. Sendo Rose um membro da classe alta e Jack um rapaz pobre que por acaso obteve a chance de entrar no navio, o roteiro consegue elaborar um retrato de ambos os mundos. É um 'Romeu e Julieta' em outro contexto, um contraste que gera riqueza e demonstra a visão do diretor.
Ao longo de 1h30min de filme (que passa rápido como o vento), a trama desenvolve a relação entre esses dois jovens de maneira a ressaltar o aprendizado que ele traz a ela. Mesmo que saibamos seu destino, é a viagem que importa, o tempo que passamos com eles e a absorção de sua mudança que interessa - pouco importa se morrerão.
Afinal, não é assim a vida? Lutamos, choramos, aprendemos, vencemos, comemoramos e amamos, sempre sabendo que um dia todas as nossas experiências deixarão de existir. Mesmo que trágico, é como a vida foi e sempre será: um sopro de energia que nos permite experimentar de tudo antes da morte, pois é a jornada que importa, e não o destino.
Cada minuto das três horas de 'Titanic' serve perfeitamente ao propósito da trama. Em sua primeira metade, um romance que penetra no coração e o arco de uma protagonista que aprende a viver. Na metade final, uma tragédia que destrói a alma e a conclusão de uma história que apenas se confirma como uma das maiores de todo o cinema.
Em um currículo que conta com 'Titanic', 'Avatar' e dois 'Exterminador do Futuro', não é de se admirar que alguns filmes menos ambiciosos de James Cameron tenham sido deixados de lado com o tempo. Esse é o caso de 'True Lies', que apesar de reservar sua parcela de fãs saudosistas, não possui nem de longe o mesmo apelo que as demais obras citadas.
Na trama, o sempre carismático Arnold Schwarzenegger é um agente secreto que esconde de sua esposa, vivida por Jamie Lee Curtis, a verdade sobre seu trabalho. Após descobrir uma "quase-traição" por parte da mulher, que buscava um escape para sua vida pacata, o espião decide pregar uma peça nela e acaba envolvendo ambos em uma operação terrorista.
É através dessa proposta no mínimo diferente de seus demais filmes que Cameron cria uma experiência descompromissada cujo principal interesse está em cenas de ação com pouca tensão e alívios cômicos fáceis. Na verdade, as piadas fazem parte do próprio desenrolar do longa, que mais caracteriza-se como uma comédia de ação que qualquer coisa.
Ao mesmo tempo que o filme diverte bastante em seus conflitos bem realizados, ele perde na proposta de humor um tanto quanto galhofa. É na espacialidade das perseguições e no abuso dos confrontos armados que a experiência se mostra mais cativante, enquanto nas piadas com traição que ele se mostra um pouco mais desinteressante e até estranho, em certo ponto.
De qualquer maneira, 'True Lies' é um entretenimento plenamente eficiente e lembra de forma agradável o tipo de filme que você veria passando na TV aberta e facilmente veria até o final. Pode não ser um dos mais espetaculares de James Cameron e esquecível mesmo ao ignorar as outras obras de sua carreira, mas rende uma experiência consideravelmente divertida.
Um cientista que se lamenta por certos momentos de sua vida decide, tamanha a sua frustração, quebrar as barreiras do espaço-tempo para alterar a própria história - uma trama comum e já bastante explorada em outros filmes de viagem no tempo. Existe, no entanto, algo de peculiar e até profundo na maneira como 'O Homem do Futuro' aborda essa história.
Talvez a forma como captura o clima de uma paixão intensa no ensino superior em plenos anos noventa remeta à uma certa nostalgia ou, para aqueles que não experimentaram a época, sua suposta sensação, fazendo o público, crente na experiência apresentada, recordar-se até mesmo de memórias inexistentes, elevando a narrativa à uma experiência onírica.
É claro que, sobre uma trama que abusa de certas convenções, tal característica pode acabar soando como uma cobertura saborosa para um bolo nem tanto, mas isso não reduz o longa à uma obra ruim. A sensação que ele passa supera bastante o puro estilo e torna-se substância, dando força a motivação de um protagonista que, não fosse isso, seria bem mais fraco.
Tal ponto é observado principalmente na forma como é construído o personagem de Zero, que apesar de ter uma motivação compreensível dentro da perspectiva de um romance, é inflado com os clichês do nerd que não só tem dificuldade de se relacionar com mulheres, como também nega de forma insistente as chances quando elas lhes são diretamente oferecidas.
Ainda assim, existem mais pontos positivos do que negativos a serem destacados aqui, e entre eles deve ser lembrado o som que o filme usa e abusa com frequência: 'Tempo Perdido', do Legião Urbana. Poucos longas conseguem tornar a letra de uma música analogia direta à sua trama sem soar cafona, mas o diretor Claudio Torres soube como fazê-lo.
Remete à frustração sobre fatos que, sendo ou não nossa culpa, causam a vontade de alterar trechos da nossa vida quando estes, na verdade, nos tornaram quem somos. Ao mesmo tempo que essa imutabilidade nos prende na perspectiva de espectadores decepcionados, também indica rumo a um futuro cheio de possibilidades - uma dicotomia inerente.
Apesar de performaticamente confuso, a mensagem de 'O Homem do Futuro' é como diz (e se contradiz) a letra de Renato Russo: "Todos os dias quando acordo / Não tenho mais o tempo que passou / Mas tenho muito tempo / Temos todo o tempo do mundo...". Mesmo de maneira simplória, o longa entende tal ideia e torna o pouco elaborado em algo singelamente belo.
Histórias de super-herói tem um lugar especial no coração dos fãs. Impressionam, emocionam e discutem temáticas de fácil absorção - não a toa tornaram-se um dos tipos de narrativa mais valorizados hoje em dia. Existe entretanto algo de irreal nessas histórias que, apesar de nos cativar, também pode ser visto através de uma perspectiva, no mínimo... Esquisita.
É com base nessa perspectiva que James Gunn desenvolve 'Super', a história de um "super-herói" que foge completamente daquilo que é belo e moral. Após ter a esposa supostamente sequestrada por um traficante de drogas, Frank, ou "Crimson Bolt', como se auto intitula, veste uma roupa colorida, pega uma arma qualquer e sai por aí espancando pessoas na rua.
'Super' usa de muita ironia para parodiar clássicos elementos do universo de quadrinhos, soando até mesmo crítico e provocando, em alguns momentos, questionamentos acerca do quão realmente divertidas são essas histórias. Mesmo que seu debate não gere de fato uma inversão das convenções que expõe satiricamente, o humor por ele gerado é funcional.
A questão aqui é enxergar através das lentes que o filme oferece aquela ideia já explorada em tantas outras obras: como seria um super-herói no mundo real? Uma pessoa com todos os seus traumas, dispondo apenas de materiais de fácil acesso e guiada por seu próprio senso de justiça? Sejamos honestos, é improvável que isso vá gerar um bom resultado.
Apesar de seu aparente baixo orçamento, o longa possui um elenco que conta com Liv Tyler como o interesse romântico do anti-herói, Michael Rooker como um capanga durão, Kevin Bacon como... bem, Kevin Bacon; e claro, Rainn Wilson como o protagonista. E mesmo com tantos nomes fortes, é Ellen Page como a desconfortável "Boltie" quem mais se destaca.
Anteriormente a Kitty Pride em X-Men, a atriz faz aqui uma versão quase ofensiva (e nem por isso menos coerente) da figura do nerd leitor de quadrinhos que enxerga seus personagens favoritos não como representantes de bons valores, mas sim fantasias de posse e poder. São as suas cenas em particular que reforçam o lado mais "pé no chão" que o longa transmite.
'Super' é, basicamente, o 'Kick Ass' que deu certo. A direção de Gunn perverte tanto a narrativa de herói padrão que chega a ser engraçado o fato da Marvel, maior disseminadora desse tipo de história nos dias atuais, ter o contratado pouco depois para dirigir 'Guardiões da Galáxia', não-ironicamente um dos melhores e mais sensíveis filmes de super-herói já feitos.
Não é só de super-heróis que vive James Gunn. Antes dos divertidamente galhofa 'Super', 'Guardiões da Galáxia' e 'O Esquadrão Suicida' (o primeiro sendo bem mais escrachado, é claro), o diretor havia dirigido 'Seres Rastejantes', que acompanha os moradores de uma pequena cidade tentando sobreviver à invasão de um ser alienígena violador de corpos. Mais trash que isso, impossível.
O longa já denota uma das características principais de Gunn, que é escrever tramas que tendam ao bizarro ou diferente sem nunca perder o senso de autoconsciência ou tornar-se subversivo demais. Isto é, existem piadas ácidas derivadas de um senso de humor levemente questionável, mas o texto parece sempre saber até que nível ir e, dessa forma, respeitar os limites do bom senso.
Apesar disso, o acerto no tom do longa não compensa o fato desse ser preenchido com personagens caricatos e um desenvolvimento narrativo previsível. Isto é, fazer uma coisa ruim de propósito não a torna automaticamente boa. 'Seres Rastejantes' não é um filme cuja proposta seja inerentemente execrável, mas não tem suficientes pontos criativos para se provar como um bom filme.
'Space Jam: Um Novo Legado' atesta dois problemas comuns em várias obras do cinema atual voltado para crianças. O primeiro, que é talvez menos problemático (ou não, dependendo da perspectiva), é o fator comercial, que transforma o filme num grande e entediante comercial das obras que empresa que o produz, a gigante do entretenimento Warner Bros., possui.
É claro que já não é de hoje que o cinema mainstream se vê repleto de longas que tem, entre alguns de seus intuitos, alavancar a venda de produtos e divulgar marcas. O problema é quando a exposição à estas torna-se óbvia e quase ofensiva ao espectador, que é forçadamente removido de seu papel de apreciador artístico e encaminhado diretamente ao lado "consumidor" da coisa.
Mesmo as participações de universos que em suas obras de origem são cativantes, como Game of Thrones, DC e os próprios Looney Tunes, aqui são esvaídos de seu apelo, de seu impacto e, principalmente, de seu carisma. Além disso, ninguém julgou questionável incluir na produção personagens e mundos que sequer são voltados para o público infantil, como Westeros e Pennywise?
O segundo problema, que talvez seja o grande defeito do longa, é a forma como ele trata seu público alvo, as crianças. Através de um roteiro quase vazio em ordem de tema e emoção, a trama conduz seu público por uma série de momentos desconexos, atuações irritantemente ruins e - apesar de estar relacionado à este último - personagens extremamente mal escritos.
A narrativa tenta, de forma clichê e robótica, apresentar um problemática na relação entre LeBron James e seu filho, que nunca deixam no sentimental alguma marca, muito pelo contrário: evidenciam a falta de sensibilidade ou alma do longa. Mesmo o suposto "atrativo principal" da obra, o basquete, aqui existe de forma inorgânicamente adaptada, ausente de regras e sem lógica alguma.
Em que momento as crianças tornaram-se apenas consumidores acéfalos que não podem apreciar um roteiro bem escrito, uma história cativante e personagens verossímeis? Em oposição ao que 'Space Jam: Um Novo Legado' parece acreditar, a resposta é NUNCA. Prestigiar esse longa é incentivar o mercado a gerar mais obras cínicas e que alienam o público infantil daquilo que é realmente honesto.
A conclusão do insípido 'Alien vs. Predador' deixou para os fãs uma bizarra surpresa: Predalien, uma horrível mescla entre as espécies xenomorfo e yautja. Somos então apresentados à 'Alien vs. Predador 2', que acompanha o terror causado pela criatura numa pacata cidade do Colorado. A grande questão é... cadê esse tal Predalien?
Com uma fotografia de pouca visibilidade e uma direção que parece derivar de alguém sem senso estético, o longa dificulta até mesmo a visibilidade do que quer que esteja em tela. Não que a melhora desse quesito fosse salvar a produção, visto que a trama, assim como no primeiro longa, é extremamente comum e fraca em sua execução.
O roteiro é uma sucessão caótica de cenas que não geram em seu resultado final uma jornada, em momento algum discutem alguma temática ou propiciam uma boa experiência. A sequência é uma versão piorada do longa anterior: personagens menos inteligentes, sequências de ação menos interessantes, roteiro menos existente.
Enquanto o primeiro 'Alien vs. Predador' é uma obra com uma proposta válida que apenas não consegue executá-la com muita criatividade, o segundo longa é ofensivamente preguiçoso, de pouco aproveitamento e incompetente em tudo que se propõe à fazer. O grande desafio é terminar o filme sem ter dado ao menos uma cochilada no meio.
Após um tempo sem filmes das franquias 'Alien' e 'Predador', executivos da Twentieth Century Fox viram nas duas sagas algum potencial de retorno. Surfando na onda dos quadrinhos que haviam feito considerável sucesso alguns anos antes, surgiu 'Alien vs. Predador', longa que não poderia ser mais óbvio do que o próprio título já sugere.
A trama - que existe única e exclusivamente para justificar o encontro entre as criaturas - fala sobre uma misteriosa pirâmide enterrada abaixo da Antártida, rapidamente tornando-se alvo de exploradores interessados em possíveis descobertas e/ou achados no local. Para seu azar, a construção é palco de um antigo embate entre duas espécies alienígenas.
Há pouco a se destacar no desenvolvimento da narrativa, que é extremamente simplória e carente de momentos mais memoráveis. Os encontros entre as duas criaturas, apesar de eficazes em seu devido contexto, não registram na memória e em momento algum realizam esse grande "feito" de ser a batalha épica que propõe inicialmente.
Ao invés disso, o roteiro se satisfaz no que é comum em filmes de terror genéricos, com direito à personagens esquecíveis, progressão de trama robótica, pouca tensão e nenhuma surpresa - em suma, uma produção genérica. Não há nada de particularmente horrível aqui, sendo sentida apenas a falta de maior criatividade e emoção.
'Alien vs. Predador' não é ofensivo como pode-se imaginar pelo histórico de filmes do tipo, mas mostra-se extremamente fraco. Ele no máximo distrai, mas nunca diverte como poderia. O curioso é que mesmo com a arrecadação mundial excedendo em apenas 100 milhões os custos de produção, o longa ainda ganharia uma sequência - essa sim horrível.
Após o ressurgimento da franquia 'Alien' com 'Prometheus' em 2012 e 'Alien: Covenant' em 2017, os executivos da Twentieth Century Fox decidiram que estava na hora de trazer novamente às telas seu "primo", 'Predador', cujo último filme havia sido em 2010. O resultado então foi 'O Predador', uma "soft sequel" que buscava ser o início da uma nova fase.
Como observado desde o primeiro longa, a franquia não é cheia de ideias impressionantes ou bem realizadas, fato esse reforçado a cada filme lançado. Em 'O Predador', não há o mínimo de refino no que tange os conceitos trabalhados, que vão desde o ridículo, quando é tentado algo novo, até o exagerado, quando simplesmente amplia o que já existe.
A grande ameaça do longa, o "Super Predador", é a prova viva disso. Um antagonista desinteressante, pouco inspirado e que não contribui em nada para a temática, a criatura é só mais um exemplar da síndrome que assola boa parte das sequências hollywoodianas, aquela antiga (e frequentemente errada) ideia: "se é maior, é melhor".
E mesmo com tais pontos já levantados, existe um problema ainda maior em 'O Predador': o tom. A trama se infla de piadas sarcásticas numa tentativa de referenciar o original, que em oposição à esse, era divertido por não se levar tão a sério. A experiência torna-se então cínica e vazia de honestidade - apenas copia o que havia dado certo anteriormente.
Diálogos extremamente vergonhosos, temáticas sem a menor sensibilidade (autismo é o próximo passo da evolução?) e efeitos visuais horríveis são outros dos problemas dessa bomba, que deixa ainda um gancho para uma continuação que, felizmente, nunca existirá. Será 'Prey', próximo longa da franquia para 2022, uma continuação mais digna?
É curioso que um personagem tão popular como o Predador não tenha em sua franquia um número tão grande de continuações, visto a quantidade de quadrinhos, jogos e crossovers com a presença da criatura. Foram necessários vinte anos após o segundo filme para ser lançada uma nova entrada para a franquia: o medíocre 'Predadores'.
Protagonizado pelo vencedor do Oscar Adrien Brody, o longa apresenta um grupo de pessoas que são sequestradas e lançadas em um planeta alienígena para serem caçadas pelos yautja, espécie a qual pertencem os famigerados predadores. A ideia em si não é ruim, mas tampouco causa grande expectativa. A execução, por sua vez, fica no meio termo.
O roteiro é previsível e não apresenta grandes emoções, mas é conduzido com suficiente constância para render um entretenimento eficiente. A utilização dos predadores não traz nenhuma novidade à franquia, mas também não deve ofender aqueles que viram os longas anteriores. Conclui-se que o grande problema do longa é a falta de criatividade.
Desde o início da experiência fica claro que os responsáveis pela obra decidiram que estava na hora de produzir um novo filme para a série, porém não possuíam ideias boas o suficiente para conduzir uma história cativante. Foi abraçado então o clássico pensamento executivo: "se o primeiro é bom, basta ampliar a escala para ter ainda mais sucesso".
O resultado de 'Predadores' não foi tão desastroso quanto se poderia esperar de uma obra com tal princípio, fato esse que seria evidenciado com o longa de 2018, que executa a mesma ideia de forma bem mais patética e cheia de exageros. Este, por enquanto, ainda estava no limite do aceitável. Mesmo bamboleando para o ruim, é capaz de entreter.
Com a popularidade do primeiro 'Predador', de 1987, surgiram alguns quadrinhos expandindo o universo do longa e atiçando a vontade para a produção de um segundo filme. Assim, não demoraria muito para que os executivos da 20th Century Fox fossem convencidos de que a ideia poderia render bons frutos. Mas será que foi o caso?
'Predador 2: A Caçada Continua' sofre por ser bem mais esquecível que seu antecessor, problema esse evidenciado, principalmente, pela direção nada inspirada, trama vazia de momentos destacáveis e os personagens, que são vividos por um elenco bem menos carismático. A saída de Arnold Schwarzenegger foi sentida e muito no resultado final.
Apesar de Danny Glover não estar mal, o ator não faz o suficiente para convencer como herói de ação, e seu sucesso nos embates mais aparenta derivar de sorte que de mérito próprio. Não existe, por exemplo, uma ideia boa como a do protagonista Dutch no primeiro longa, que utiliza barro como método de camuflagem ao visor da criatura.
Outros problemas estruturais atrapalham o andamento da obra, como a falta de consistência e objetividade do roteiro. Há detalhes que são citados com uma certa importância em alguns diálogos e depois deixados de lado, relações entre personagens mal trabalhadas e até mesmo cenas que não parecem ter necessidade alguma de existir.
Mesmo com tantas críticas a serem feitas, o longa na verdade não é tão sofrível como esse tipo de sequência costuma ser. Alguns pontos se salvam, como a proposta de situar o Predador em uma "selva de pedra", ainda mais em meio a essa guerra entre o crime e a polícia apresentada pela trama. O tom mais sério, além disso, cai muito bem.
'Predador 2: A Caçada Continua' não é um filme ruim no sentido mais forte da palavra, e pode até ser visto sem que ardam os olhos. Em alguns trechos, até entretém. Não compensa, infelizmente, todos os problemas da parte criativa, que tornam o que poderia ser uma obra aceitável e talvez até interessante numa experiência bastante... chata.
É de certa forma engraçado como 'O Predador' é frequentemente colocado lado a lado (ou ao menos comparado) com 'Alien: O Oitavo Passageiro', como se ambos fossem clássicos de mesmo nível. Isso pode até criar uma certa expectativa para quem planeja visitar a franquia pela primeira vez, porém a verdade é que as propostas são bem diferentes.
A trama, de fato, também trata de uma criatura alienígena que caça humanos um a um, mas foca bem mais na ação (e algumas vezes na comédia) que no terror. Este, quando presente, serve mais como auxílio na criação da tensão, que por sua vez é apenas uma forma de nos convencer da dificuldade de sobrevivência naquele contexto hostil.
Os personagens, apesar de não possuírem lá seu desenvolvimento e tampouco trabalharem em prol de uma temática bem aprofundada, são carismáticos e, em um certo nível, memoráveis. O protagonista vivido por Arnold Schwarzenegger, sempre cativante, é o que move a experiência. Sua persona de herói de ação aqui não ousa falhar.
O desenvolvimento do longa, entretanto, é de certa forma repetitivo e carece de maior criatividade, tanto em cenários quanto em contextos. O que impede o roteiro de tornar-se desinteressante, por outro lado, são as cenas e interações que se destacam de forma isolada, como os clássicos trechos de diálogo "you son of a bitch!" e "get to the choppa!".
Ainda assim, o principal elemento que 'O Predador' deixa para a cultura popular é, claro, a própria criatura que dá título ao longa. Mesmo não seja tão criativa ou instigante, o "yautja" serve com extrema eficiência ao papel de um caçador alienígena cujas habilidades parecem imbatíveis - sua simples presença denota uma morte certa.
A falta de elucidação acerca de sua mitologia acaba por contribuir à mística, com os únicos detalhes revelados sendo suas habilidades e a motivação, que não passa de um costume esportivo. O roteiro não tenta se disfarçar parecendo mais complexo do que realmente é, muito pelo contrário: o Predador existe claramente para servir como antagonista.
É dessa maneira que 'O Predador' mostra-se uma experiência divertida e memorável, apesar de não caracterizar-se como uma obra-prima do cinema ou um clássico irredutível. As ideias posteriores para a franquia, ainda que não sejam tão ofensivas quanto algumas apresentadas em 'Alien', não chegariam ao nível de qualidade desse primeiro longa.
'Alien: Covenant' é bastante consistente com a "parte um" desse prólogo da série, o infame 'Prometheus' - e não haveria nada mais condizente, dado o retorno do diretor Ridley Scott para esse capítulo da franquia. Com tal analogia surgem a mente lembranças desagradáveis que, ao assistir ao filme, apenas parecem repetir-se com grande fidelidade.
A nave covenant ruma com milhares de colonos em direção à um planeta que aparenta ser a nova esperança para o futuro da humanidade. Por algum imprevisto, os tripulantes são acordados e percebem a existência de um local ainda mais promissor, resolvendo descer para analisar. Este planeta, como é de se prever, acaba revelando certas... ameaças.
Assim como 'Prometheus', 'Covenant' apresenta uma série de personagens que não agem com a menor cautela, tomando decisões não só imprudentes, como completamente estúpidas e inverossímeis. Essas pessoas, que em momento algum despertam empatia, acabam por minar o principal mote da missão: a crença de que a humanidade realmente deve ser salva.
Em adicional, a experiência de rever o longa me faz pensar que o problema inicial dessa "duologia" de prequels é partir da premissa que explicar a origem dos xenomorfos é algo necessário. Parte do que torna a espécie tão interessante é sua aura de desconhecido, o conceito inicial do que é "alienígena": o forasteiro desconhecido que instiga medo.
Demonstrar que a evolução da espécie se deu a partir de um ser intencionado, além de remover completamente o mistério de sua natureza, ainda tira o bizarro que era pensar na evolução como ferramenta natural que moldou aquele ser tão ameaçador. E mesmo que tais fatores sejam deixados de lado, o longa não se sustenta, pois é falho nas próprias ideias.
Desde o anterior haviam seres que eram de alguma forma versões derivativas do xenomorfo, mas é apenas nesse que a criatura surge. O problema é que não existe cuidado algum, visto a ausência de uma linha conceitual que leve desde as ações dos engenheiros até o nascimento da espécie. Essa desordem se estende até mesmo à uma confusão temporal e espacial.
Ainda assim, há alguns detalhes em 'Covenant' que o colocam levemente acima de 'Prometheus' no ranking da franquia. Por não tentar soar existencialista ou brincar com questões complexas demais para suas capacidades, o longa permite que alguns momentos de ação e horror sejam apreciados de forma menos pretensiosa - mas nada que impressione.
'Alien: Covenant' não tem uma premissa agregadora e tampouco cumpre o que se propõe, oferecendo respostas à perguntas que não interessavam e deixando mais dúvidas que anteriormente. Junto de 'Prometheus', prova que não é o retorno de Ridley Scott que tornará 'Alien' tão bom quanto antes. Será que a série de Noah Hawley cumprirá esse papel?
Após dois fracos encontros com a franquia 'Predador', o xenomorfo (ou quase) retorna aos cinemas em 'Prometheus', prequel da série 'Alien' que marca ainda o retorno de seu idealizador original, Ridley Scott. O curioso, entretanto, foi a forma mais disfarçada com que a obra foi lançada, buscando criar um suspense acerca de sua relação com a franquia.
Apesar da direção de Scott gerar uma certa expectativa aos fãs do primeiro longa (que é até hoje o mais icônico da franquia), não é com muito requinte que o artista executa suas ideias. O filme superestima sua própria inteligência ao tentar lidar com uma questão tão complexa que é a origem da vida, uma vez que sequer sabe criar uma trama concisa.
Um grupo de exploradores segue para um planeta que, de acordo com achados pré-históricos na Terra, pode estar relacionado à origem da vida no planeta. Em um exercício cerebral básico, surge a seguinte questão: qual a primeira coisa a ser feita quando se planeja embarcar numa missão sem volta para um ambiente extremamente imprevisível?
Polpando você, caro leitor, de muito esforço mental, eu adianto a resposta: planejar suas ações. Em 'Prometheus', entretanto, seguimos a equipe de profissionais mais acéfala da face da Terra, que em momento algum antes da missão estabelece de forma clara o que será feito ao chegarem no destino. O resultado não poderia ser diferente: caos.
Cenas de integrantes do grupo removendo o capacete em um ambiente imprevisível e interagindo com formas de vida desconhecidas sem a menor precaução são frequentes no longa. Junte isso à diálogos clichê e atuações exageradamente teatrais e consiga não só personagens difíceis de se torcer, como também uma experiência extremamente irritante.
Concorrendo ao prêmio de pior cena do filme, temos: um explorador brincando com um alien como se fosse um bichinho inofensivo; a protagonista não só sobrevivendo à uma cirurgia excruciante sem anestesia como correndo sem o menor senso de fragilidade; e claro, a mulher que não sabe ir para os lados para escapar de um objeto vindo em sua direção.
Apesar de alguns fãs mais facilmente impressionáveis afirmarem o contrário, há pouquíssimo conteúdo a ser absorvido em 'Prometheus'. Além do roteiro já não ser muito inteligente, a expositividade exagerada ainda compromete o pouco de interessante que nele existe. Em todos os sentidos, não é exagero dizer que esse é o longa mais burro da franquia.
Howard: O Super-Herói
2.7 240 Assista Agora“Well, sex appeal. Some guys got it - and some guys don't.”
• HOWARD THE DUCK (1986) •
Enquanto muitos apostariam no Hulk, Homem-Aranha ou X-Men ao pensar nos primeiros personagens da Marvel a serem adaptados no cinema, é 'Howard: O Super-Herói' quem, contrariando todas as expectativas, adentrou esse terreno. E um dos envolvidos, de forma ainda mais surpreendente, foi ninguém menos que George Lucas, criador de Star Wars.
Lucas, que foi produtor executivo do projeto, provavelmente enxergou em Howard algum potencial com o público infantil, o que na verdade evidencia o principal problema do longa: seu tom. Ao mesmo tempo que possui cenas com seios a mostra (ainda que de uma pata), seminudez e piadas com sexo, sua trama mostra-se extremamente infantil.
Um pato antropomórfico alienígena rabugento e de humor sórdido vem parar na Terra, onde fica amigo de uma cantora de bar e um cientista maluco. Ao descobrir que a máquina que o trouxe para nosso planeta irá servir de portal para seres malignos conhecidos como "Os Mestres Ocultos do Universo", Howard precisa impedi-los e salvar a humanidade.
Se a premissa por si só não é ridícula, a execução é. Apesar da proposta de transformar um personagem aparentemente infantil numa sátira adulta e de humor negro, o filme não sustenta tal ideia por muito tempo, já que a trama logo vira uma versão esculhambada de filmes infantis da época, como por exemplo o clássico 'E.T. O Extra-Terrestre'.
Além disso, a duração se estende mais do que deveria, sendo boa parte dela direcionada à cenas de humor fracas que em nada movem a trama. Para não dizer que é completamente isento de qualidades, o longa possui alguns efeitos práticos eficientes, como o próprio Howard e as criaturas do ato final, que são horrendas (num bom sentido).
No geral, 'Howard: O Super-Herói' não é ofensivamente ruim, mas é uma experiência esquisita e cansativa que demonstra como a falta de uma visão bastante clara em um obra pode levar a um resultado final inconsistente, praticamente esquizofrênico. Talvez não entre na lista dos dez piores filmes de super-herói já feitos, mas chega perto.
A Volta do Monstro do Pântano
2.4 26 Assista AgoraSwamp Thing: Me? Your Boyfriend?
Abby Arcane: Why not?
Swamp Thing: You said it yourself: I'm a plant.
Abby Arcane: That's okay, I'm a vegetarian.
• THE RETURN OF SWAMP THING (1989) •
De forma surpreendente, o horroroso 'O Monstro do Pântano' ganhou uma continuação. Dessa vez sem Wes Craven na direção, 'A Volta do Monstro do Pântano' abraçou de vez o estilo trash que o primeiro apresentava de forma não-intencional, acabando por render uma experiência levemente superior - mas não se engane, o filme ainda é ruim.
A trama é basicamente a mesma do primeiro, com leves variações nos acontecimentos. Em alguns momentos, ela é até beneficiada por uma direção que brinca com a tosquice do personagem. Ainda assim, é uma sucessão de eventos majoritariamente desinteressantes e trechos ridículos - com direito à uma cena de sexo que se inicia com um pepino mágico (?).
Algo que pode ser elogiado, entretanto, são os trajes e efeitos práticos na construção de algumas criaturas, que até chegam a impressionar. Para cada uma delas, entretanto, há outros dez defeitos que reduzem ainda mais a qualidade do filme, por exemplo: como o Doutor Arcane sobreviveu aos eventos do primeiro filme e voltou a ser humano?
São esses e outros questionamentos que não valem a pena serem feitos após a experiência obtida em 'A Volta do Monstro do Pântano', que apesar de levemente superior ao predecessor, ainda é cansativamente repetitivo e esquecível. O único motivo que deve instigar alguém a ver este longa é uma mórbida e sombria curiosidade.
O Monstro do Pântano
2.4 60 Assista Agora“Everything's a dream when you're alone.”
• SWAMP THING (1982) •
O Monstro do Pântano é um dos personagens mais complexos da DC Comics, sendo protagonista de alguns dos arcos de histórias mais elogiados da editora. Em 1982, o personagem ganhou um filme pelas mãos de Wes Craven, famoso criador da franquia 'Pânico' e 'A Hora do Pesadelo'. Infelizmente, o resultado não foi nada bom...
O obscuro 'O Monstro do Pântano' quase não possui roteiro, se resumindo a cansativas e desinteressantes perseguições e escapadas entre os personagens, que por sua vez são escritos e vividos de forma extremamente caricata pelos envolvidos. É basicamente uma hora e meia de absolutamente nada (seguido de mais nada) acontecendo.
O personagem que mais se destaca aqui é Arcane, mas não de forma positiva: o vilão é construído de forma tão caricata que cada mínima oração que sai de sua boca é uma frase de efeito que tenta parecer inteligente. Já o protagonista em nada merece elogios, com o pior ficando para seu traje: um pedaço de borracha completamente mal feito.
A experiência obtida aqui é completamente descartável e não deve ser sugerida nem à seus piores inimigos. O que pode ser absorvido dela é apenas a reflexão: como um cineasta que produziu obras tão populares conseguiu pegar um dos melhores quadrinhos da DC Comics e produzir um dos piores filmes de super-herói da história?
Superman: O Retorno
2.6 778 Assista Agora“You will be different, sometimes you'll feel like an outcast, but you'll never be alone. You will make my strength your own. You will see my life through your eyes, as your life will be seen through mine. The son becomes the father and the father becomes the son.”
• SUPERMAN RETURNS (2006) •
Com o ressurgimento do morcego em 'Batman Begins', de 2005, estava mais do que na hora da Warner Bros. ressuscitar o Superman nas telonas, que há vinte anos não ganhava um novo longa. Para isso, o estúdio contratou o famigerado diretor Bryan Singer, conhecido por ter levado ao cinema um famoso grupo de heróis da concorrência: os X-Men.
Com poucos minutos de filme, entretanto, já é notada uma diferença na abordagem que Christopher Nolan deu ao Cavaleiro das Trevas para a que Singer deu ao Último Filho de Krypton - enquanto o primeiro buscou a originalidade de sua própria visão, o outro se apoiou nas homenagens e referências aos primeiros filmes do herói.
'Superman: O Retorno' é, basicamente, uma homenagem à ‘Superman: O Filme’ (e um pouco a ‘Superman II: A Aventura Continua’), sendo inclusive uma continuação deles (nem Singer poderia levar em conta o terceiro e quarto filme, de tão ruins que foram). As referências vão desde a estrutura da trama até detalhes de acontecimentos, cenas e diálogos.
Um filme que poderia ser nostalgicamente cativante, entretanto, acaba tornando-se monótono e pouco criativo. Singer tenta a todo momento replicar a sensibilidade dos longas originais, mas não sabe como capturar a essência de uma época em que os super-heróis eram vistos de forma pura, como os símbolos que representavam.
O arco do protagonista no longa beira a insensatez, visto que, após cinco anos fora do planeta, Kal-El ainda está interessado em Lois Lane, que agora é uma mulher casada e com um filho. A jornada de ambos no filme soa como derivada do provável fetiche que o diretor tem em triângulos amorosos (já presente na trilogia dos mutantes na Fox).
Não há nada de destacável no elenco, que conta com a insípida Kate Bosworth como Lois Lane, os pouco presentes e por isso indiferentes Sam Huntington e Frank Langella como, respectivamente, Jimmy Olsen e Perry White; e Brandon Routh, que se possui carisma, aqui escondeu no mais profundo âmago de sua existência.
A única escalação que talvez chegue perto de ser elogiável é a de Kevin Spacey, que consegue dar alguma personalidade à figura do egocêntrico criminoso Lex Luthor. Ainda assim, seu personagem soa genérico e é pouco desenvolvido, com um flashback mal posicionado que apenas atesta a pouca inspiração do roteiro.
Essa falta de inspiração se estende ainda à Jason White, filho de Lois Lane com Richard White que, em certo momento da trama, se revela como sendo na verdade fruto da relação de Lois com o Superman. Esse "Superboy" não tem uma função no longa, sendo apenas a tentativa de um desenvolvimento temático que pouco vai à frente.
'Superman: O Retorno' não possui nada a acrescentar para o cânone intermidiático do personagem, sendo uma obra que causaria completa indiferença, não fosse o incômodo e inadequado sentimento de monotonia causado. Enquanto 'Batman Begins' foi o princípio de uma ótima trilogia, 'Superman: O Retorno' foi fadado a um justo esquecimento.
Superman IV: Em Busca da Paz
2.6 234 Assista Agora“And there will be peace. There will be peace when the people of the world, want it so badly, that their governments will have no choice but to give it to them. I just wish you could all see the Earth the way that I see it. Because when you really look at it, it's just one world.”
• SUPERMAN IV: THE QUEST FOR PEACE (1987) •
'Superman IV: Em Busca da Paz' continua a saga já desgastada pelo humor exagerado de Richard Lester e o tom camp de seus roteiros, que aqui não tem, novamente, muito de interessante a apresentar. Um pouco melhor que o terceiro longa, entretanto, 'Em Busca da Paz' possui alguma temática mínima a abordar através dos atos de seu herói.
Na trama, Superman decide acabar com todo armamento nuclear do planeta. Enquanto isso, Lex Luthor foge da prisão e rouba um fio de cabelo do herói, alterando-o geneticamente e o prendendo a um míssil que é lançado ao espaço. Ao atingir o Sol, a explosão dá origem ao Homem-Nuclear, um clone tão poderoso quanto o Superman - senão mais.
A grande reflexão do filme está na forma como o protagonista inocentemente acredita que, forçando os países a não terem mais armas nucleares, alcançará a tão desejada paz na Terra. É claro que o longa não desenvolve essa temática de forma eficiente, mas em meio à uma experiência tão desagradável, qualquer ponto positivo é elogiável.
Infelizmente, não demora muito para que o roteiro se torne uma sucessão de cenas desinteressantes. Há uma subtrama patética do Clarim Diário sendo comprado por um empresário que busca a venda de jornais através do sensacionalismo e pior ainda: uma sub-subtrama sobre a filha desse empresário se apaixonando por Clark Kent.
O Homem-Nuclear é provavelmente o pior componente do filme. Além de ser vivido por um ator cujas simples expressões já transmitem falta de talento, ainda é fonte de inúmeros diálogos caricatos e cenas de ação genéricas. Até mesmo as lutas contra Zod no segundo filme, que eram exageradas, são mais interessantes.
Ao lado de 'Superman III', 'Em Busca da Paz' é um dos piores filmes de super-herói de todos os tempos (mesmo que não ofenda tanto quanto outros). O único elemento que se mantém consistente em todos os filmes é Christopher Reeve, que mesmo quando não tem um bom material a ser trabalhado, ainda convence como o Superman mais carismático do cinema.
Supergirl
2.2 99 Assista Agora“People will do anything for love. They'll jump off cliffs for love. They'll drown themselves like lemmings. So... I'll make everybody love me.”
• SUPERGIRL (1984) •
Entre as dezenas de filmes de super-heróis lançados nas últimas décadas, muitos acabaram ficando perdidos no limbo do esquecimento, lembrados somente por poucos fãs que se recusam a deixá-los morrer. Esse é o caso de '<b>Supergirl</b>', longa que buscou introduzir a prima do Superman nos cinemas tal como o herói havia sido, anos antes.
Na trama, Kara Zor-El, uma remanescente da civilização kryptoniana de Argo City, acaba perdendo um importante artefato que mantinha a sobrevivência de seus habitantes. Ao descobrir que o objeto caiu na Terra, a garota decide ir para o planeta resgatá-lo, e é então que a gigantesca quantidade de problemas do filme começa…
Como estabelecido anteriormente, há uma urgência inerente na motivação da protagonista, que necessita do objeto para assegurar a sobrevivência do seu povo. Ao invés de arcar com tal consequência, entretanto, o roteiro cria uma trama completamente despropositada ondel Kara decide, por exemplo, se disfarçar de humana para ir estudar (?).
Como se já não fosse bizarro o suficiente o fato da protagonista mudar a cor de seu cabelo magicamente, adquirir roupas terráqueas e se matricular numa escola, os acontecimentos a seguir passam a ser cada vez mais incoerentes. O roteiro parece possuir pontos de trama em que almeja chegar, mas não sabe como fazê-lo orgânicamente.
A antagonista do longa é uma pérola à parte, visto que subitamente e, sem motivo algum, decide utilizar feitiçaria para se apossar do rapaz que sua amiga estava interessada. Para além de todos os problemas estruturais da obra, ela ainda constrói toda a motivação da vilã no fato desse rapaz não se interessar por ela, e sim pela Supergirl.
Além de caricata, a história do filme é cheia de coincidências e não desenvolve de forma decente absolutamente nenhum de seus elementos. Então existia uma cidade sobrevivente de Krypton? Como isso é possível? Supergirl sabe que é prima de Kal-El? Ela observava a Terra para ter a informação de que ele é o Superman?
Muitas outras críticas poderiam ser feitas ao longa, mas listar todos os seus defeitos seria um exercício difícil, desinteressante e improdutivo. 'Supergirl' é mal escrito, cansativo e uma experiência para se ter uma única vez (e olhe lá). Creio que afirmá-lo como um dos piores filmes de super-heróis da história - senão o pior - já seja o suficiente.
Superman III
2.7 231 Assista Agora“You know a wise man once said, I think it was Attila the Hun, ‘It is not enough that I succeed, everyone else must fail’.”
• SUPERMAN III (1983) •
Após a saída de Richard Donner da franquia do Homem de Aço, o herói receberia ainda três filmes produzidos pelos irmãos Salkind com direção de Richard Lester. 'Superman II: A Aventura Continua', ainda possuía resquícios de inspiração, talvez resultado do trabalho de Donner antes de sua saída. Foi em 'Superman III' que a franquia foi pro ralo…
Na trama, o programador Gus Gorman é contratado pelo maligno empresário Ross Webster para criar um satélite de controle do clima e, dessa maneira, destruir plantações de café na Colômbia para então monopolizar o negócio. Em algum momento (e espere por uma longa demora até que isso ocorra), Superman acaba tendo que enfrentá-los.
O maior problema do longa é o fato dele possuir duas tramas diferentes sendo trabalhadas e, por boa parte da duração, nenhuma afetar a outra. De um lado, o "quase-vilão" caricato de Richard Pryor e suas interações idiotas, e de outro Clark Kent, que retorna à sua cidade Natal, Smallville, e acaba reencontrando Lana Lang, sua paixão de colégio.
A ausência de Lois Lane, Perry White e Jimmy Olsen, que só aparecem no começo do longa, é muito sentida - fora Lex Luthor, que sequer dá as caras. O motivo foi provavelmente a redução no orçamento, que caiu dos 54 milhões do segundo longa para 34 do terceiro. O resultado é praticamente um filme inteiro de trama filler para a franquia.
Pela falta de foco na trama, por sua premissa extremamente idiota, pelos alívios cômicos frequentes e exagerados e pela falta dos personagens carismáticos dos dois longas anteriores, 'Superman III' é o pior filme do herói. As únicas cenas que se salvam são as do Superman afetado pela kryptonita alterada, que são divertidamente bizarras.
Superman II: A Aventura Continua
3.5 252 Assista Agora“This ‘Superman’ is nothing of the kind; I've discovered his weakness. [...] He cares. He actually cares for these Earth people.”
• SUPERMAN II (1980) •
'Superman: O Filme', de 1978, foi um projeto bastante ambicioso. Não satisfeitos em lançar o primeiro grande longa de super-heróis nos cinemas, os irmãos Salkind - que detinham os direitos de adaptação do personagem - ainda aproveitaram para acordar com a Warner Bros. a produção de um segundo filme, que seria gravado junto do primeiro.
Problemas na produção do longa, entretanto, levaram a saída de Richard Donner, o diretor original do primeiro filme. Em seu lugar entrou então Richard Lester, anteriormente apenas um produtor associado. Como resultado tivemos este segundo filme, que no Brasil foi batizado de 'Superman II: A Aventura Continua'.
Nota-se com facilidade a saída de Donner da produção, pois o longa, em paralelo ao primeiro, é bem mais cheio de excessos e com uma sensibilidade artística consideravelmente menor. O filme não é ruim, possuindo ainda suas qualidades, que estão apenas ofuscadas em meio a uma quantidade maior de problemas.
Na trama, Superman precisa enfrentar Ursa, Non e o General Zod, três criminosos de Krypton que escaparam da Zona Fantasma, uma prisão intergaláctica na qual o tempo não passa. Em paralelo a isso, o azulão se vê diante de um sério dilema: sacrificar seus poderes por uma vida normal com Lois Lane ou continuar sendo o herói que o mundo precisa?
Continuando o desenvolvimento de personagem do primeiro longa, 'Superman II: A Aventura Continua' trabalha novamente as reflexões que surgem a partir da natureza do protagonista, dessa vez numa perspectiva mais humana e identificável, reforçando o peso de ser um herói e os sacrifícios que lhes são necessários.
O General Zod surge aqui como a antítese do Superman, demonstrando como o poder, quando presente em homens de baixo caráter, pode ser destrutivo. A ideia, infelizmente, para por aí, visto que os demais momentos do personagem se resumem a cenas de destruição exageradamente longas e pouca temática a ser analisada.
É nesse filme que somos apresentados à fonte inesgotável de poderes do Superman e demais kryptonianos, que passa a contar com teleporte, invisibilidade, criação de clones ilusórios, beijos que apagam a memória e o mais bizarro de todos: disparar um invólucro de plástico gigante a partir do símbolo em seu peito. Ah, as bizarrices dos quadrinhos Pré-Crise...
Em suma, 'Superman II: A Aventura Continua' é uma versão um pouco menos carismática e um tanto quanto mais exagerada do primeiro longa. Ele possui seus méritos, mas ao mesmo tempo rende uma experiência um pouco mais maçante que a do original. Ainda assim, é um filme decente, diferente do que seriam os dois últimos da franquia...
Superman: O Filme
3.7 514 Assista Agora“They can be a great people, Kal-El, they wish to be. They only lack the light to show the way. For this reason above all, their capacity for good, I have sent them you... my only son.”
• SUPERMAN (1978) •
Em 1938, o mundo contemplava o surgimento do que futuramente seria o maior super-herói de todos os tempos: Superman. Quarenta anos depois, o herói viria a ganhar seu primeiro longa-metragem cinematográfico em 'Superman: O Filme', dirigido por Richard Donner e estrelando Christopher Reeve como o Último Filho de Krypton.
Existem algumas temáticas e valores que uma primeira adaptação de respeito do personagem não poderia ignorar, e o longa sabe disso. Diferente de versões mais recentes do herói, Donner soube como apresentar o Superman para o público mainstream sem precisar de forma alguma desvirtua-lo de seus significados primordiais.
A direção do artista possui vários méritos em sua execução, desde o início, com a construção de Krypton como um mundo estéril e irreconhecível aos nossos olhos; à notável tensão em momentos como a morte de Jonathan Kent; e alguns singelos, porém lindos enquadramentos que buscam a simplicidade do cenário em que Clark cresceu.
O longa levanta assuntos como o motivo do herói ter sido enviado àquele mundo; a dicotomia entre possuir tamanho poder e mesmo assim ser incapaz de salvar o pai; a analogia messiânica inerente ao personagem; e a forma como a humanidade o vê - tudo isso sem tornar-se distante, mantendo o fator empático e a sensibilidade necessária.
O que impede o roteiro de ser ainda melhor é seu desenrolar a partir da metade, que torna-se um pouco mais "bobo" ao lidar com o Lex Luthor de Gene Hackman. Suas características remetem ao tipo de vilão presente na Era de Ouro dos quadrinhos, o que apesar de não ser necessariamente ruim, acaba por deixar a trama bem mais caricata.
Apesar do questionável plano de Luthor para obtenção da Austrália (?), o terceiro ato proporciona um desafio que serve como conclusão para o arco de Superman, no qual o herói supera a si mesmo ao voltar no tempo e impedir que seu amor, Lois Lane, morra soterrada - conquista que remete diretamente à morte do pai no início da trama.
A versão de Christopher Reeve do personagem é até hoje a melhor em mídias live-action e uma das mais bem construídas em geral, pois além de embasar-se num bom roteiro para criar um personagem complexo e profundo, ainda exala o carisma e a gentileza de seu intérprete, tornando prazeroso o acompanhar de sua jornada.
'Superman: O Filme' é uma bela história de origem, contando com toda a sinceridade que poderia a história de um herói que reflete sobre a natureza da própria existência e descobre seu lugar no mundo. Ele prova, além disso, como a narrativa dos super-heróis de quadrinhos praticamente nasceu para ser adaptada para os cinemas.
Após algumas décadas e a explosão da moda de filmes de super-heróis, o longa pode ter sido ultrapassado em vários quesitos, porém ainda mantém toda a sua qualidade e a simpatia com a qual foi concebido. Não é à toa que ele tenha sido o precursor do movimento, já que fez o público acreditar, pela primeira vez, que um homem poderia voar.
Avatar
3.6 4,5K Assista AgoraEm 'Avatar', um militar é contratado para fazer parte de uma equipe de exploração alienígena, numa incursão que o leva até o mundo de Pandora. O local, que é como uma versão mais selvagem da Terra, abriga os Na'vi, uma raça de humanóides azuis com cultura semelhante aos povos nativos do nosso próprio planeta.
Todos já conhecem e muitos até criticam a simplicidade e familiaridade da trama do longa, que é uma versão sci-fi de histórias como, por exemplo, 'Pocahontas'. Apesar das frequentes piadas feitas sobre a semelhança, existe algo de extremamente injusto na depreciação do longa simplesmente por sua premissa base.
Afinal, quantas reimaginações de narrativas já exaustivamente contadas nós tivemos na história humana? Mesmo considerando apenas a história recente, desde a invenção do cinema, o número ainda é absurdo. O problema em 'Avatar' talvez seja o fato dele não se basear diretamente numa trama já existente, e sim propor algo "novo".
Uma outra possibilidade é, claro, o fato do longa ter se tornado a maior bilheteria da história do cinema, fato que por si só já causa uma pré-expectativa no público, que associa o lucro de um filme com sua qualidade ou, pior ainda, complexidade. Esse é provavelmente o problema que mina parte das análises feitas sobre a obra.
Analisando de forma neutra, 'Avatar' é um ótimo exemplo do zeitgeist do cinema atual, em que as pessoas vão buscando algo incrível, um escapismo da vida real através da ficção científica e grandes efeitos especiais. E mesmo entrando em uma reflexão qualitativa, existem aqui, sim, alguns pontos positivos que devem ser ressaltados.
Afinal: qual o motivo de recontarmos tantas histórias? Não é pelas reflexões que elas nos trazem, a continuidade na expressão de uma mensagem ou o simples fascínio pelas emoções propiciadas? Pois, mesmo que já tenha sido feito antes, não há nada de vazio e muito menos errado nas temáticas que o longa traz, muito pelo contrário.
'Avatar' é a história de um homem que é inserido em outra cultura, que em meio a seus semelhantes, que buscam a riqueza material que pode ser extraída do outro povo, busca pelo valor cultural que pode ser transmitido por ele. É a batalha da ciência contra o militarismo, do estudo contra a guerra, da conciliação contra o conflito.
É claro que, dentro de tal estrutura e através de tal discussão, cada pessoa pode individualmente sentir-se mais ou menos tocada. Seguindo tal afirmação, não enxergo, particularmente, tanta sensibilidade no desenvolvimento dessa temática. Ela existe, é notável e funcional, mas não penetra tanto quanto outras obras do diretor.
O longa em momento algum atinge a empatia provocada por 'Titanic' ou nos coloca na tensa posição dos personagens de 'O Exterminador do Futuro', o que, em comparação, demonstra um pouco das limitações do roteiro. Para alguns, entretanto, essas limitações podem ser compensadas em um outro quesito de maior eficácia: os efeitos especiais.
Visualmente falando, 'Avatar' foi um divisor de águas no que tange o uso da captura de movimentos e a computação gráfica no cinema, e não apenas em uma questão de melhorar o que já existia, mas por preestabelecer a maneira como ela serviria não só para criar os personagens ou criaturas, mas todo o mundo que engloba a história.
Em geral, o longa pode não ser tão emocionante ou marcante como outros blockbusters mega milionários, perdendo ainda mais quando colocado ao lado de outros longas de James Cameron, mas é uma experiência consideravelmente cativante, que entretém, fascina visualmente e transmite suas mensagens perfeitamente.
Titanic
4.0 4,6K Assista Agora'Titanic' é, por muitos motivos, um dos filmes mais marcantes do cinema. Além de ter sido a maior bilheteria da história na época de seu lançamento (e até hoje estando entre as três maiores), foi um dos longas mais premiados do Oscar, dividindo o primeiro lugar com 'Ben-Hur' e 'O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei', todos com 11 estatuetas.
Mas além dos fatores inegáveis que enfileiram-se como provas da magnitude do longa, no que mais ele obtem seu sucesso? É claro que seu apelo é instantâneo ao tratar de um dos acidentes mais conhecidos da história humana, mas existe algo no roteiro e a execução que potencializam de forma absurda seu impacto.
A princípio é impossível deixar de notar o próprio empenho de James Cameron na reconstrução do acidente, que não só parece real na execução dos efeitos, como também plausível da maneira como ocorre. Ainda assim, nada disso importaria se não fosse pelo impacto emocional das cenas, o que nos leva, de fato, ao grande trunfo da obra.
Cameron, após mergulhar entre os destroços do navio real, disse: "isso não é apenas uma história [...]. Foi um evento que aconteceu com pessoas reais que realmente morreram". Pode parecer óbvio mas, analisando em retrospectiva, esse é o maior mérito do longa: direcionar sua atenção não ao navio em si, mas para as pessoas que nele viajavam.
Mesmo que aborde o naufrágio com enorme destaque, reservando até mesmo sua metade final para uma representação extremamente realista do ocorrido, 'Titanic' não fala sobre destruição, não trata de morte e não é sobre o choque que poderia buscar causar no público, muito pelo contrário: é um retrato intimista do amor de dois passageiros.
O roteiro decide conduzir seu público pelo navio através da relação entre Rose e Jack, duas pessoas de mundos completamente diferentes que, por uma conexão que poucos filmes conseguem criar, apaixonam-se profundamente. Mas por que, entre tantos ali, logo os dois são tratados com tanta proeminência? Qual sua importância?
A resposta, a princípio, é: nenhuma. Assim como Rose e Jack, todos naquele navio possuíam suas dificuldades, suas virtudes, seus defeitos e almejavam suas próprias conquistas. Qualquer um deles poderia ser foco da atenção. É somente a partir do cuidado, desse carinho do próprio roteiro, que os personagens ganham nossa empatia.
É claro que, além disso, existe uma estratégia em tal abordagem. Sendo Rose um membro da classe alta e Jack um rapaz pobre que por acaso obteve a chance de entrar no navio, o roteiro consegue elaborar um retrato de ambos os mundos. É um 'Romeu e Julieta' em outro contexto, um contraste que gera riqueza e demonstra a visão do diretor.
Ao longo de 1h30min de filme (que passa rápido como o vento), a trama desenvolve a relação entre esses dois jovens de maneira a ressaltar o aprendizado que ele traz a ela. Mesmo que saibamos seu destino, é a viagem que importa, o tempo que passamos com eles e a absorção de sua mudança que interessa - pouco importa se morrerão.
Afinal, não é assim a vida? Lutamos, choramos, aprendemos, vencemos, comemoramos e amamos, sempre sabendo que um dia todas as nossas experiências deixarão de existir. Mesmo que trágico, é como a vida foi e sempre será: um sopro de energia que nos permite experimentar de tudo antes da morte, pois é a jornada que importa, e não o destino.
Cada minuto das três horas de 'Titanic' serve perfeitamente ao propósito da trama. Em sua primeira metade, um romance que penetra no coração e o arco de uma protagonista que aprende a viver. Na metade final, uma tragédia que destrói a alma e a conclusão de uma história que apenas se confirma como uma das maiores de todo o cinema.
True Lies
3.5 437Em um currículo que conta com 'Titanic', 'Avatar' e dois 'Exterminador do Futuro', não é de se admirar que alguns filmes menos ambiciosos de James Cameron tenham sido deixados de lado com o tempo. Esse é o caso de 'True Lies', que apesar de reservar sua parcela de fãs saudosistas, não possui nem de longe o mesmo apelo que as demais obras citadas.
Na trama, o sempre carismático Arnold Schwarzenegger é um agente secreto que esconde de sua esposa, vivida por Jamie Lee Curtis, a verdade sobre seu trabalho. Após descobrir uma "quase-traição" por parte da mulher, que buscava um escape para sua vida pacata, o espião decide pregar uma peça nela e acaba envolvendo ambos em uma operação terrorista.
É através dessa proposta no mínimo diferente de seus demais filmes que Cameron cria uma experiência descompromissada cujo principal interesse está em cenas de ação com pouca tensão e alívios cômicos fáceis. Na verdade, as piadas fazem parte do próprio desenrolar do longa, que mais caracteriza-se como uma comédia de ação que qualquer coisa.
Ao mesmo tempo que o filme diverte bastante em seus conflitos bem realizados, ele perde na proposta de humor um tanto quanto galhofa. É na espacialidade das perseguições e no abuso dos confrontos armados que a experiência se mostra mais cativante, enquanto nas piadas com traição que ele se mostra um pouco mais desinteressante e até estranho, em certo ponto.
De qualquer maneira, 'True Lies' é um entretenimento plenamente eficiente e lembra de forma agradável o tipo de filme que você veria passando na TV aberta e facilmente veria até o final. Pode não ser um dos mais espetaculares de James Cameron e esquecível mesmo ao ignorar as outras obras de sua carreira, mas rende uma experiência consideravelmente divertida.
O Homem do Futuro
3.7 2,5K Assista AgoraUm cientista que se lamenta por certos momentos de sua vida decide, tamanha a sua frustração, quebrar as barreiras do espaço-tempo para alterar a própria história - uma trama comum e já bastante explorada em outros filmes de viagem no tempo. Existe, no entanto, algo de peculiar e até profundo na maneira como 'O Homem do Futuro' aborda essa história.
Talvez a forma como captura o clima de uma paixão intensa no ensino superior em plenos anos noventa remeta à uma certa nostalgia ou, para aqueles que não experimentaram a época, sua suposta sensação, fazendo o público, crente na experiência apresentada, recordar-se até mesmo de memórias inexistentes, elevando a narrativa à uma experiência onírica.
É claro que, sobre uma trama que abusa de certas convenções, tal característica pode acabar soando como uma cobertura saborosa para um bolo nem tanto, mas isso não reduz o longa à uma obra ruim. A sensação que ele passa supera bastante o puro estilo e torna-se substância, dando força a motivação de um protagonista que, não fosse isso, seria bem mais fraco.
Tal ponto é observado principalmente na forma como é construído o personagem de Zero, que apesar de ter uma motivação compreensível dentro da perspectiva de um romance, é inflado com os clichês do nerd que não só tem dificuldade de se relacionar com mulheres, como também nega de forma insistente as chances quando elas lhes são diretamente oferecidas.
Ainda assim, existem mais pontos positivos do que negativos a serem destacados aqui, e entre eles deve ser lembrado o som que o filme usa e abusa com frequência: 'Tempo Perdido', do Legião Urbana. Poucos longas conseguem tornar a letra de uma música analogia direta à sua trama sem soar cafona, mas o diretor Claudio Torres soube como fazê-lo.
Remete à frustração sobre fatos que, sendo ou não nossa culpa, causam a vontade de alterar trechos da nossa vida quando estes, na verdade, nos tornaram quem somos. Ao mesmo tempo que essa imutabilidade nos prende na perspectiva de espectadores decepcionados, também indica rumo a um futuro cheio de possibilidades - uma dicotomia inerente.
Apesar de performaticamente confuso, a mensagem de 'O Homem do Futuro' é como diz (e se contradiz) a letra de Renato Russo: "Todos os dias quando acordo / Não tenho mais o tempo que passou / Mas tenho muito tempo / Temos todo o tempo do mundo...". Mesmo de maneira simplória, o longa entende tal ideia e torna o pouco elaborado em algo singelamente belo.
Super
3.4 603Histórias de super-herói tem um lugar especial no coração dos fãs. Impressionam, emocionam e discutem temáticas de fácil absorção - não a toa tornaram-se um dos tipos de narrativa mais valorizados hoje em dia. Existe entretanto algo de irreal nessas histórias que, apesar de nos cativar, também pode ser visto através de uma perspectiva, no mínimo... Esquisita.
É com base nessa perspectiva que James Gunn desenvolve 'Super', a história de um "super-herói" que foge completamente daquilo que é belo e moral. Após ter a esposa supostamente sequestrada por um traficante de drogas, Frank, ou "Crimson Bolt', como se auto intitula, veste uma roupa colorida, pega uma arma qualquer e sai por aí espancando pessoas na rua.
'Super' usa de muita ironia para parodiar clássicos elementos do universo de quadrinhos, soando até mesmo crítico e provocando, em alguns momentos, questionamentos acerca do quão realmente divertidas são essas histórias. Mesmo que seu debate não gere de fato uma inversão das convenções que expõe satiricamente, o humor por ele gerado é funcional.
A questão aqui é enxergar através das lentes que o filme oferece aquela ideia já explorada em tantas outras obras: como seria um super-herói no mundo real? Uma pessoa com todos os seus traumas, dispondo apenas de materiais de fácil acesso e guiada por seu próprio senso de justiça? Sejamos honestos, é improvável que isso vá gerar um bom resultado.
Apesar de seu aparente baixo orçamento, o longa possui um elenco que conta com Liv Tyler como o interesse romântico do anti-herói, Michael Rooker como um capanga durão, Kevin Bacon como... bem, Kevin Bacon; e claro, Rainn Wilson como o protagonista. E mesmo com tantos nomes fortes, é Ellen Page como a desconfortável "Boltie" quem mais se destaca.
Anteriormente a Kitty Pride em X-Men, a atriz faz aqui uma versão quase ofensiva (e nem por isso menos coerente) da figura do nerd leitor de quadrinhos que enxerga seus personagens favoritos não como representantes de bons valores, mas sim fantasias de posse e poder. São as suas cenas em particular que reforçam o lado mais "pé no chão" que o longa transmite.
'Super' é, basicamente, o 'Kick Ass' que deu certo. A direção de Gunn perverte tanto a narrativa de herói padrão que chega a ser engraçado o fato da Marvel, maior disseminadora desse tipo de história nos dias atuais, ter o contratado pouco depois para dirigir 'Guardiões da Galáxia', não-ironicamente um dos melhores e mais sensíveis filmes de super-herói já feitos.
Seres Rastejantes
2.9 298 Assista AgoraNão é só de super-heróis que vive James Gunn. Antes dos divertidamente galhofa 'Super', 'Guardiões da Galáxia' e 'O Esquadrão Suicida' (o primeiro sendo bem mais escrachado, é claro), o diretor havia dirigido 'Seres Rastejantes', que acompanha os moradores de uma pequena cidade tentando sobreviver à invasão de um ser alienígena violador de corpos. Mais trash que isso, impossível.
O longa já denota uma das características principais de Gunn, que é escrever tramas que tendam ao bizarro ou diferente sem nunca perder o senso de autoconsciência ou tornar-se subversivo demais. Isto é, existem piadas ácidas derivadas de um senso de humor levemente questionável, mas o texto parece sempre saber até que nível ir e, dessa forma, respeitar os limites do bom senso.
Apesar disso, o acerto no tom do longa não compensa o fato desse ser preenchido com personagens caricatos e um desenvolvimento narrativo previsível. Isto é, fazer uma coisa ruim de propósito não a torna automaticamente boa. 'Seres Rastejantes' não é um filme cuja proposta seja inerentemente execrável, mas não tem suficientes pontos criativos para se provar como um bom filme.
Space Jam: Um Novo Legado
2.9 350 Assista Agora'Space Jam: Um Novo Legado' atesta dois problemas comuns em várias obras do cinema atual voltado para crianças. O primeiro, que é talvez menos problemático (ou não, dependendo da perspectiva), é o fator comercial, que transforma o filme num grande e entediante comercial das obras que empresa que o produz, a gigante do entretenimento Warner Bros., possui.
É claro que já não é de hoje que o cinema mainstream se vê repleto de longas que tem, entre alguns de seus intuitos, alavancar a venda de produtos e divulgar marcas. O problema é quando a exposição à estas torna-se óbvia e quase ofensiva ao espectador, que é forçadamente removido de seu papel de apreciador artístico e encaminhado diretamente ao lado "consumidor" da coisa.
Mesmo as participações de universos que em suas obras de origem são cativantes, como Game of Thrones, DC e os próprios Looney Tunes, aqui são esvaídos de seu apelo, de seu impacto e, principalmente, de seu carisma. Além disso, ninguém julgou questionável incluir na produção personagens e mundos que sequer são voltados para o público infantil, como Westeros e Pennywise?
O segundo problema, que talvez seja o grande defeito do longa, é a forma como ele trata seu público alvo, as crianças. Através de um roteiro quase vazio em ordem de tema e emoção, a trama conduz seu público por uma série de momentos desconexos, atuações irritantemente ruins e - apesar de estar relacionado à este último - personagens extremamente mal escritos.
A narrativa tenta, de forma clichê e robótica, apresentar um problemática na relação entre LeBron James e seu filho, que nunca deixam no sentimental alguma marca, muito pelo contrário: evidenciam a falta de sensibilidade ou alma do longa. Mesmo o suposto "atrativo principal" da obra, o basquete, aqui existe de forma inorgânicamente adaptada, ausente de regras e sem lógica alguma.
Em que momento as crianças tornaram-se apenas consumidores acéfalos que não podem apreciar um roteiro bem escrito, uma história cativante e personagens verossímeis? Em oposição ao que 'Space Jam: Um Novo Legado' parece acreditar, a resposta é NUNCA. Prestigiar esse longa é incentivar o mercado a gerar mais obras cínicas e que alienam o público infantil daquilo que é realmente honesto.
Alien vs. Predador 2
2.4 413 Assista AgoraA conclusão do insípido 'Alien vs. Predador' deixou para os fãs uma bizarra surpresa: Predalien, uma horrível mescla entre as espécies xenomorfo e yautja. Somos então apresentados à 'Alien vs. Predador 2', que acompanha o terror causado pela criatura numa pacata cidade do Colorado. A grande questão é... cadê esse tal Predalien?
Com uma fotografia de pouca visibilidade e uma direção que parece derivar de alguém sem senso estético, o longa dificulta até mesmo a visibilidade do que quer que esteja em tela. Não que a melhora desse quesito fosse salvar a produção, visto que a trama, assim como no primeiro longa, é extremamente comum e fraca em sua execução.
O roteiro é uma sucessão caótica de cenas que não geram em seu resultado final uma jornada, em momento algum discutem alguma temática ou propiciam uma boa experiência. A sequência é uma versão piorada do longa anterior: personagens menos inteligentes, sequências de ação menos interessantes, roteiro menos existente.
Enquanto o primeiro 'Alien vs. Predador' é uma obra com uma proposta válida que apenas não consegue executá-la com muita criatividade, o segundo longa é ofensivamente preguiçoso, de pouco aproveitamento e incompetente em tudo que se propõe à fazer. O grande desafio é terminar o filme sem ter dado ao menos uma cochilada no meio.
Alien vs. Predador
2.7 473 Assista AgoraApós um tempo sem filmes das franquias 'Alien' e 'Predador', executivos da Twentieth Century Fox viram nas duas sagas algum potencial de retorno. Surfando na onda dos quadrinhos que haviam feito considerável sucesso alguns anos antes, surgiu 'Alien vs. Predador', longa que não poderia ser mais óbvio do que o próprio título já sugere.
A trama - que existe única e exclusivamente para justificar o encontro entre as criaturas - fala sobre uma misteriosa pirâmide enterrada abaixo da Antártida, rapidamente tornando-se alvo de exploradores interessados em possíveis descobertas e/ou achados no local. Para seu azar, a construção é palco de um antigo embate entre duas espécies alienígenas.
Há pouco a se destacar no desenvolvimento da narrativa, que é extremamente simplória e carente de momentos mais memoráveis. Os encontros entre as duas criaturas, apesar de eficazes em seu devido contexto, não registram na memória e em momento algum realizam esse grande "feito" de ser a batalha épica que propõe inicialmente.
Ao invés disso, o roteiro se satisfaz no que é comum em filmes de terror genéricos, com direito à personagens esquecíveis, progressão de trama robótica, pouca tensão e nenhuma surpresa - em suma, uma produção genérica. Não há nada de particularmente horrível aqui, sendo sentida apenas a falta de maior criatividade e emoção.
'Alien vs. Predador' não é ofensivo como pode-se imaginar pelo histórico de filmes do tipo, mas mostra-se extremamente fraco. Ele no máximo distrai, mas nunca diverte como poderia. O curioso é que mesmo com a arrecadação mundial excedendo em apenas 100 milhões os custos de produção, o longa ainda ganharia uma sequência - essa sim horrível.
O Predador
2.5 649Após o ressurgimento da franquia 'Alien' com 'Prometheus' em 2012 e 'Alien: Covenant' em 2017, os executivos da Twentieth Century Fox decidiram que estava na hora de trazer novamente às telas seu "primo", 'Predador', cujo último filme havia sido em 2010. O resultado então foi 'O Predador', uma "soft sequel" que buscava ser o início da uma nova fase.
Como observado desde o primeiro longa, a franquia não é cheia de ideias impressionantes ou bem realizadas, fato esse reforçado a cada filme lançado. Em 'O Predador', não há o mínimo de refino no que tange os conceitos trabalhados, que vão desde o ridículo, quando é tentado algo novo, até o exagerado, quando simplesmente amplia o que já existe.
A grande ameaça do longa, o "Super Predador", é a prova viva disso. Um antagonista desinteressante, pouco inspirado e que não contribui em nada para a temática, a criatura é só mais um exemplar da síndrome que assola boa parte das sequências hollywoodianas, aquela antiga (e frequentemente errada) ideia: "se é maior, é melhor".
E mesmo com tais pontos já levantados, existe um problema ainda maior em 'O Predador': o tom. A trama se infla de piadas sarcásticas numa tentativa de referenciar o original, que em oposição à esse, era divertido por não se levar tão a sério. A experiência torna-se então cínica e vazia de honestidade - apenas copia o que havia dado certo anteriormente.
Diálogos extremamente vergonhosos, temáticas sem a menor sensibilidade (autismo é o próximo passo da evolução?) e efeitos visuais horríveis são outros dos problemas dessa bomba, que deixa ainda um gancho para uma continuação que, felizmente, nunca existirá. Será 'Prey', próximo longa da franquia para 2022, uma continuação mais digna?
Predadores
3.0 896 Assista AgoraÉ curioso que um personagem tão popular como o Predador não tenha em sua franquia um número tão grande de continuações, visto a quantidade de quadrinhos, jogos e crossovers com a presença da criatura. Foram necessários vinte anos após o segundo filme para ser lançada uma nova entrada para a franquia: o medíocre 'Predadores'.
Protagonizado pelo vencedor do Oscar Adrien Brody, o longa apresenta um grupo de pessoas que são sequestradas e lançadas em um planeta alienígena para serem caçadas pelos yautja, espécie a qual pertencem os famigerados predadores. A ideia em si não é ruim, mas tampouco causa grande expectativa. A execução, por sua vez, fica no meio termo.
O roteiro é previsível e não apresenta grandes emoções, mas é conduzido com suficiente constância para render um entretenimento eficiente. A utilização dos predadores não traz nenhuma novidade à franquia, mas também não deve ofender aqueles que viram os longas anteriores. Conclui-se que o grande problema do longa é a falta de criatividade.
Desde o início da experiência fica claro que os responsáveis pela obra decidiram que estava na hora de produzir um novo filme para a série, porém não possuíam ideias boas o suficiente para conduzir uma história cativante. Foi abraçado então o clássico pensamento executivo: "se o primeiro é bom, basta ampliar a escala para ter ainda mais sucesso".
O resultado de 'Predadores' não foi tão desastroso quanto se poderia esperar de uma obra com tal princípio, fato esse que seria evidenciado com o longa de 2018, que executa a mesma ideia de forma bem mais patética e cheia de exageros. Este, por enquanto, ainda estava no limite do aceitável. Mesmo bamboleando para o ruim, é capaz de entreter.
Predador 2: A Caçada Continua
3.2 293 Assista AgoraCom a popularidade do primeiro 'Predador', de 1987, surgiram alguns quadrinhos expandindo o universo do longa e atiçando a vontade para a produção de um segundo filme. Assim, não demoraria muito para que os executivos da 20th Century Fox fossem convencidos de que a ideia poderia render bons frutos. Mas será que foi o caso?
'Predador 2: A Caçada Continua' sofre por ser bem mais esquecível que seu antecessor, problema esse evidenciado, principalmente, pela direção nada inspirada, trama vazia de momentos destacáveis e os personagens, que são vividos por um elenco bem menos carismático. A saída de Arnold Schwarzenegger foi sentida e muito no resultado final.
Apesar de Danny Glover não estar mal, o ator não faz o suficiente para convencer como herói de ação, e seu sucesso nos embates mais aparenta derivar de sorte que de mérito próprio. Não existe, por exemplo, uma ideia boa como a do protagonista Dutch no primeiro longa, que utiliza barro como método de camuflagem ao visor da criatura.
Outros problemas estruturais atrapalham o andamento da obra, como a falta de consistência e objetividade do roteiro. Há detalhes que são citados com uma certa importância em alguns diálogos e depois deixados de lado, relações entre personagens mal trabalhadas e até mesmo cenas que não parecem ter necessidade alguma de existir.
Mesmo com tantas críticas a serem feitas, o longa na verdade não é tão sofrível como esse tipo de sequência costuma ser. Alguns pontos se salvam, como a proposta de situar o Predador em uma "selva de pedra", ainda mais em meio a essa guerra entre o crime e a polícia apresentada pela trama. O tom mais sério, além disso, cai muito bem.
'Predador 2: A Caçada Continua' não é um filme ruim no sentido mais forte da palavra, e pode até ser visto sem que ardam os olhos. Em alguns trechos, até entretém. Não compensa, infelizmente, todos os problemas da parte criativa, que tornam o que poderia ser uma obra aceitável e talvez até interessante numa experiência bastante... chata.
O Predador
3.8 818 Assista AgoraÉ de certa forma engraçado como 'O Predador' é frequentemente colocado lado a lado (ou ao menos comparado) com 'Alien: O Oitavo Passageiro', como se ambos fossem clássicos de mesmo nível. Isso pode até criar uma certa expectativa para quem planeja visitar a franquia pela primeira vez, porém a verdade é que as propostas são bem diferentes.
A trama, de fato, também trata de uma criatura alienígena que caça humanos um a um, mas foca bem mais na ação (e algumas vezes na comédia) que no terror. Este, quando presente, serve mais como auxílio na criação da tensão, que por sua vez é apenas uma forma de nos convencer da dificuldade de sobrevivência naquele contexto hostil.
Os personagens, apesar de não possuírem lá seu desenvolvimento e tampouco trabalharem em prol de uma temática bem aprofundada, são carismáticos e, em um certo nível, memoráveis. O protagonista vivido por Arnold Schwarzenegger, sempre cativante, é o que move a experiência. Sua persona de herói de ação aqui não ousa falhar.
O desenvolvimento do longa, entretanto, é de certa forma repetitivo e carece de maior criatividade, tanto em cenários quanto em contextos. O que impede o roteiro de tornar-se desinteressante, por outro lado, são as cenas e interações que se destacam de forma isolada, como os clássicos trechos de diálogo "you son of a bitch!" e "get to the choppa!".
Ainda assim, o principal elemento que 'O Predador' deixa para a cultura popular é, claro, a própria criatura que dá título ao longa. Mesmo não seja tão criativa ou instigante, o "yautja" serve com extrema eficiência ao papel de um caçador alienígena cujas habilidades parecem imbatíveis - sua simples presença denota uma morte certa.
A falta de elucidação acerca de sua mitologia acaba por contribuir à mística, com os únicos detalhes revelados sendo suas habilidades e a motivação, que não passa de um costume esportivo. O roteiro não tenta se disfarçar parecendo mais complexo do que realmente é, muito pelo contrário: o Predador existe claramente para servir como antagonista.
É dessa maneira que 'O Predador' mostra-se uma experiência divertida e memorável, apesar de não caracterizar-se como uma obra-prima do cinema ou um clássico irredutível. As ideias posteriores para a franquia, ainda que não sejam tão ofensivas quanto algumas apresentadas em 'Alien', não chegariam ao nível de qualidade desse primeiro longa.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista Agora'Alien: Covenant' é bastante consistente com a "parte um" desse prólogo da série, o infame 'Prometheus' - e não haveria nada mais condizente, dado o retorno do diretor Ridley Scott para esse capítulo da franquia. Com tal analogia surgem a mente lembranças desagradáveis que, ao assistir ao filme, apenas parecem repetir-se com grande fidelidade.
A nave covenant ruma com milhares de colonos em direção à um planeta que aparenta ser a nova esperança para o futuro da humanidade. Por algum imprevisto, os tripulantes são acordados e percebem a existência de um local ainda mais promissor, resolvendo descer para analisar. Este planeta, como é de se prever, acaba revelando certas... ameaças.
Assim como 'Prometheus', 'Covenant' apresenta uma série de personagens que não agem com a menor cautela, tomando decisões não só imprudentes, como completamente estúpidas e inverossímeis. Essas pessoas, que em momento algum despertam empatia, acabam por minar o principal mote da missão: a crença de que a humanidade realmente deve ser salva.
Em adicional, a experiência de rever o longa me faz pensar que o problema inicial dessa "duologia" de prequels é partir da premissa que explicar a origem dos xenomorfos é algo necessário. Parte do que torna a espécie tão interessante é sua aura de desconhecido, o conceito inicial do que é "alienígena": o forasteiro desconhecido que instiga medo.
Demonstrar que a evolução da espécie se deu a partir de um ser intencionado, além de remover completamente o mistério de sua natureza, ainda tira o bizarro que era pensar na evolução como ferramenta natural que moldou aquele ser tão ameaçador. E mesmo que tais fatores sejam deixados de lado, o longa não se sustenta, pois é falho nas próprias ideias.
Desde o anterior haviam seres que eram de alguma forma versões derivativas do xenomorfo, mas é apenas nesse que a criatura surge. O problema é que não existe cuidado algum, visto a ausência de uma linha conceitual que leve desde as ações dos engenheiros até o nascimento da espécie. Essa desordem se estende até mesmo à uma confusão temporal e espacial.
Ainda assim, há alguns detalhes em 'Covenant' que o colocam levemente acima de 'Prometheus' no ranking da franquia. Por não tentar soar existencialista ou brincar com questões complexas demais para suas capacidades, o longa permite que alguns momentos de ação e horror sejam apreciados de forma menos pretensiosa - mas nada que impressione.
'Alien: Covenant' não tem uma premissa agregadora e tampouco cumpre o que se propõe, oferecendo respostas à perguntas que não interessavam e deixando mais dúvidas que anteriormente. Junto de 'Prometheus', prova que não é o retorno de Ridley Scott que tornará 'Alien' tão bom quanto antes. Será que a série de Noah Hawley cumprirá esse papel?
Prometheus
3.1 3,4K Assista AgoraApós dois fracos encontros com a franquia 'Predador', o xenomorfo (ou quase) retorna aos cinemas em 'Prometheus', prequel da série 'Alien' que marca ainda o retorno de seu idealizador original, Ridley Scott. O curioso, entretanto, foi a forma mais disfarçada com que a obra foi lançada, buscando criar um suspense acerca de sua relação com a franquia.
Apesar da direção de Scott gerar uma certa expectativa aos fãs do primeiro longa (que é até hoje o mais icônico da franquia), não é com muito requinte que o artista executa suas ideias. O filme superestima sua própria inteligência ao tentar lidar com uma questão tão complexa que é a origem da vida, uma vez que sequer sabe criar uma trama concisa.
Um grupo de exploradores segue para um planeta que, de acordo com achados pré-históricos na Terra, pode estar relacionado à origem da vida no planeta. Em um exercício cerebral básico, surge a seguinte questão: qual a primeira coisa a ser feita quando se planeja embarcar numa missão sem volta para um ambiente extremamente imprevisível?
Polpando você, caro leitor, de muito esforço mental, eu adianto a resposta: planejar suas ações. Em 'Prometheus', entretanto, seguimos a equipe de profissionais mais acéfala da face da Terra, que em momento algum antes da missão estabelece de forma clara o que será feito ao chegarem no destino. O resultado não poderia ser diferente: caos.
Cenas de integrantes do grupo removendo o capacete em um ambiente imprevisível e interagindo com formas de vida desconhecidas sem a menor precaução são frequentes no longa. Junte isso à diálogos clichê e atuações exageradamente teatrais e consiga não só personagens difíceis de se torcer, como também uma experiência extremamente irritante.
Concorrendo ao prêmio de pior cena do filme, temos: um explorador brincando com um alien como se fosse um bichinho inofensivo; a protagonista não só sobrevivendo à uma cirurgia excruciante sem anestesia como correndo sem o menor senso de fragilidade; e claro, a mulher que não sabe ir para os lados para escapar de um objeto vindo em sua direção.
Apesar de alguns fãs mais facilmente impressionáveis afirmarem o contrário, há pouquíssimo conteúdo a ser absorvido em 'Prometheus'. Além do roteiro já não ser muito inteligente, a expositividade exagerada ainda compromete o pouco de interessante que nele existe. Em todos os sentidos, não é exagero dizer que esse é o longa mais burro da franquia.