Os filmes do Dardenne são incríveis pelas sutilezas que eles usam pra tornar os personagens mais complexos. A protagonista desse filme não foi diferente. Jenny é uma mulher forte, implacável, guiada por uma mistura de culpa com empatia. Achei bem interessante o roteiro e me segurou mais do que eu esperava. No entanto, a resolução acabou que ficou um pouco mal trabalhada, não condizente com a riqueza de cuidados na primeira parte do filme. É um bom filme sobretudo por ser uma personagem principal mulher e botando a cara no mundo atrás de um desfecho mas é basicamente isso.
Dorothea é mãe solteira nos anos 70. O filme basicamente versa sobre a criação de Jamie por uma ótica feminista. É maravilhoso! Além de questionar o modelo de educação que oferecemos aos meninos na nossa cultura, ensina o quão prolífico é fundamentar a criação em igualdade de gêneros. Os personagens são complexos e muitas questões humanas se originam do tema principal causando um furacão nos nossos sentimentos. As três mulheres e seus papeis sociais são escrutinados de forma assertiva. A mãe e sua solidão aos 50 anos, a amiga de Jamie, adolescente em sua descoberta sexual e a incrível Greta Gerwig, a garota que aluga um quarto na casa de Dorothea, que nos seus vinte e tantos anos já venceu um câncer e enfrenta a possibilidade de não poder ter filhos. Suas histórias de vidas vão se entrelaçando enquanto buscam demonstrar ao Jamie o papel ideal de um homem no mundo de modo que as relações entre gêneros não se torne desequilibrada. Jamie lendo "The Politics Of Orgasm", Jamie descobrindo Talking Heads (uma banda de rock que tem uma garota casada com o baterista), Jamie se deparando com a timidez sem sentido de falar sobre MENSTRUAÇÃO ("Say everybody, MENSTRUATION"!), gravidez indesejada, pílulas anticoncepcionais, infertilidade feminina, solidão da mulher aos 50: gradativamente ganhando consciência do papel do feminismo e assim, tentando entender sua mãe frente ao abismo de comunicação que existe entre eles. Para mim, quando Dorothea diz que as pessoas conseguem ver como Jamie se comporta no mundo e ela nunca conseguirá é o suprassumo do que representa os limites existentes nas relações entre pais e filhos. A ânsia e curiosidade que conduz Jamie no processo de descoberta do universo feminino é a força motriz do filme, o contraponto é a resignação de sua mãe frente a impossibilidade de enxergar seu filho como o mundo o enxerga. Importante do filme é a reflexão sobre os limites de informações íntimas trocadas que não precisam ser rígidos. Cada relação entre pais e filhos deve respeitar a subjetividade de ambos para que seja saudável. Entretanto, é um fato que há um limite inerente ao papel de cada um dos objetos, que não deveria causar estranhamento quando enxergamos uma mãe não prever um comportamento desviante do filho, por exemplo. No final das contas, não conhecemos ninguém integralmente e nem deveríamos ter mesmo essa pretensão, pois exaurir a subjetividade de alguém é perder a sublime capacidade de assombro que temos dentro de nós. É faltar o poder de experimentar a alegria de se surpreender com um terno gesto imprevisível. Só não dei cinco estrelas porque me incomoda o ritmo acelerado dos filmes americanos que não dão tempo direito de fruir com calma a reflexão exibida quando estamos em outra frequência (tipo após assistir um filme do Tarkovski). Parece que a gente sempre está deixando passar algum detalhe que poderia dissipar aquela angústia presente num espacinho do coração. Recomendo ver e rever.
Kedi, documentário da Ceyda Torun, é uma carta de amor dos moradores de Istambul aos gatos da cidade. A relação entre os moradores e os gatos é de um respeito e carinho mútuo e cada pedaço dos relatos pessoais são retalhos da alma de Istambul. Cada morador tem um gato, mas eles vivem livres pela cidade, explorando e fazendo novos amigos humanos. É como se fosse inapropriado falar em "dono do gato", mais acertado pensar no melhor amigo do gato e seus outros amigos espalhados pela cidade, até porque, é consenso que os gatos que escolhem as pessoas e não o contrário no modus operandi de Istambul. Eu fiquei profundamente arrebatada com esse documentário, primeiro porque é impossível não traçar um paralelo com a obra do Coutinho (cansada de falar que meu documentarista favorito da vida) no ponto de conseguir ser deveras assertivo na escolha dos relatos demasiado humanos e ao mesmo tempo essencialmente poéticos. Determinado trecho do filme, um morador relata que ele gosta dos gatos, pois eles reconhecem a existência de Deus, enquanto os cachorros acham que nós somos Deuses, de modo que a relação com gatos serve como uma lembrança de nossa humanidade frágil, nos lembra que estamos vivos. Outro ponto abordado com bastante sensibilidade é a relação com os gatos como processo de cura de nossas dores. Em um dado relato, uma moradora que cuida de cerca de 60 gatos, conta que sua terapeuta sugeriu que ela cuida dos gatos como forma de lidar com suas feridas, segundo ela, profundas, oriunda da dificuldade de lidar não com a perda em si, mas com a saudade que ela deixa. Acredite, a perda de sua primeira gata que morreu de câncer, uma morte bastante humana como colocado por ela. Vários belos relatos associados a cura das dores da alma através da interação com gatos vão nos deixando maravilhados. "Nenhum outro remédio conseguiu me fazer sorrir de novo". "Eles me ensinaram a me apaixonar por pessoas novamente". Outros relatos que falam da tranquilidade de ter um gato dormindo numa gaveta enquanto você desenha, trabalha ou exerce seu ofício, como catalisadores da diminuição da ansiedade no ambiente me fez pensar que não importa se somos turcos ou brasileiros, o impacto que esses bichinhos tem na nossa subjetividade é de uma similaridade gritante, uma vez que estejamos abertos a receber esse carinho. Os gatos são o novo rivotril! Assistam e confiem! ;) #adoteumfelino
Superestimado. Um filme só bom. Uma menina tentando evitar que sua porca vá para o abate (seu bicho de estimação) mas continua comendo galinhas e peixes. Enfim... Se for pra buscar algum tipo de lição acerca da indústria alimentícia, não vai ser através desse filme. É entretenimento puro. Vale pela atuação da Tilda, como sempre, maravilhosa! Jake também tá meio fora da caixa, fazendo um personagem meio Johny Deep, o que foi divertido de assistir.
É um ótimo filme, mas é o pior do Duprat. Me lembrou um pouco "Lost in Translation" pelo ponto central do choque cultural, sendo que no caso desse filme a barreira não é linguística. O escritor argentino "europeizado" ao retornar ao local onde cresceu, uma pequena cidade do interior bastante prosaica, entra em choque com a cultura local que deixou pra trás. Dessa forma o filme trata um tanto de sentimentos humanos muito primitivos, como de costume nos filmes do Duprat, com excelência, mas fiquei com a impressão de que faltou algum elemento sutil e fantástico presente em seus outros filmes que causa um assombro no qual ficamos fruindo por dias... Em todo caso, o filme vale pela hilária cena da dança!
Melanie é a personificação da solidão. Algumas pessoas nascem sem people skills, e cara, realmente, é difícil pra caramba viver em sociedade, principalmente quando você tem essa ingenuidade prosaica da personagem principal. Um filme incrível! principalmente nas sutilezas, a casa de Melanie, gradativamente ficando desorganizada enquanto ela perdia totalmente o controle sobre a sua vida, seus alunos, sua capacidade de criar laços. Espero que todo mundo que assista consiga ter um pouco mais de carinho pelo próximo. Pra mim, a cena que ela tenta se abrir com a "amiga" sobre sua vida e ela a corta é emblemática no que tange a nossa sociedade egoísta. O final é emocionante, catártico. As vezes tudo que é necessário pra depurar as emoções é enlouquecer um pouquinho.
Estou apaixonada por esse filme! Sutil, sensível, belo. Algumas batalhas são perdidas mas devemos fazer o melhor do porvir. Obrigada, Matt Ross. Aplaudi de pé enquanto desaguava. ASSISTAM!
Maravilhoso! No Brasil essa burocracia louca não é diferente. Eu to apaixonada pelo Daniel Blake. Criei uma empatia forte com ele. Ken Loach lacrando como sempre!
"Antes do Inverno", de Philippe Claudel, é possivelmente o filme mais interessante que assisti esse ano.
Trata-se da vida de Paul, um neurocirurgião de seus 60 anos, interpretado por Daniel Auteuil, casado com Lucie (Kristin Scott Thomas), num momento em que surge uma mulher de seus 20 e poucos anos em sua vida e paralelamente ele começa a receber buquês de rosas, diariamente, de origem anônima, dando ares de suspense ao filme.
Eu diria, no entanto, que é um filme que trata de relações humanas, sobretudo da solidão sob todas as formas e os abismos de comunicação nas relações.
Alguém disse certa vez que a única forma de suplantar a morte é persistindo através das memórias dos que ficam e o filme disseca muito bem essa ideia, através de um médico, um tanto embrutecido, que inicia um resgate, devido às circunstâncias que se apresentam, da sensibilidade e empatia que permite ver seus pacientes como algo além do seu objeto de trabalho ou meio de "ganhar a vida". De enxergá-los de fato como seres humanos.
Essa fragilidade e solidão tem seu apogeu numa cena belíssima onde uma senhora que está as vias de ser operada por Paul, o pede para que ele guarde uma história sua, porque ela já não tem mais ninguém para lembrar se ela não sobreviver.
Essa objetificação dos pacientes de Paul, na realidade, se solidifica numa apatia que se alastra por todas as esferas de sua vida, inclusive seu casamento, outro tema central do filme.
Paul se vê cada vez mais distante de Lucie e isso nos é demonstrado de forma lenta e um tanto angustiante (aquele ritmo que nos permite olhar para tela e olhar pra dentro da gente).
Em dada cena, Lucie consciente do desmoronamento do seu casamento, e intuindo o incipiente abalo no casamento do seu filho, oferece um conselho pra sua nora, um dos grandes momentos do filme, com algo do tipo: "Vitor é meu filho, mas eu tenho que te dizer, se ele não te faz feliz, o deixe agora, quanto mais cedo, melhor pra você." Num daqueles diálogos que travamos com os outros quando bem verdade, estamos a falar também com nós mesmos.
Lucie, consegue observar o processo em outra relação e maternalmente sede sua catarse a sua nora com uma assertividade que poucos tem coragem de fazer e me atrevo a dizer, só quem está comprometido com a felicidade do outro se dispõe (ou indispõe).
Bauman em "Amor Líquido" fala das perversões do amor, uma delas é o comodismo. A perversão do comodismo, diz ele, se dá devido a preguiça, medo ou acomodação, de modo que um tenta agradar o outro "enquanto continua tentando fugir do problema" degenerando a relação, que deixa de ser um comprometimento, pra se tornar um "festival de puxa-saquismos".
O comodismo sem dúvida dá origem a um mundo de aparências, nas quais gasta-se muito tempo e energia tentando convencer mutuamente que tudo está sob controle e ao mundo que a felicidade é sublime, em ordem de convencerem a si mesmos, enquanto desmonta-se por dentro, até o ponto em que falta totalmente a comunicação. Note-se, uma falta de comunicação que não necessariamente se perfaz em silêncios, mas muitas vezes em verborragia infinita.
Paul se confronta com suas questões existenciais através dessa terceira pessoa que atua como um catalisador de autoconsciência, tudo muito sutil, etéreo, que demanda esforço por parte de quem assiste e uma predisposição pra conseguir depurar.
"Frances Ha"... Se eu tivesse assistido esse filme há dez anos atrás ou dez anos pra frente, talvez não tivesse me afetado da mesma forma. Ele sem dúvida consubstancia um retrato da minha geração e assisti-lo, hoje, com 26 anos de idade, um diploma no bolso e um apanhado de sonhos na mochila, assim como Frances (a personagem que dá nome ao filme), é extremamente catártico.
Uma vez li em algum lugar que deveríamos ler Proust preferencialmente após os 50, em uma fase bem determinada na vida, pois só assim a obra seria bem aproveitada. Certamente, cá com meus botões, tempo pra ler todos os 7 volumes de "Em Busca do Tempo Perdido", com a atenção devida talvez só encontre mais tarde na vida mesmo, não obstante, seja com 26, 36 ou 86, com ou sem catarse, "Frances Ha" é uma experiência.
O novo filme de Noah Baumbach, do maravilhoso "A Lula e a Baleia", todo em preto e branco, o que primeiramente fez apitar "pretensioso" na minha cabeça, mas que com o decorrer do filme você entende, já que contribui para o enclausuramento das questões da personagem, da sensação claustrofóbica de ter o mundo, mas não importa pra onde você corra, seja outro bairro, seja Paris, não há como fugir de si.
Frances tem 27 anos, é bailarina feijão-com-arroz, mas está seguindo seu sonho e tem uma dificuldade enorme de escolher crescer às custas dos mesmos. O filme retrata justamente essa fase da vida que você está com um pé lá e outro cá, onde fica claro que um dos maiores entraves de "viver do que gosta" da nossa geração é o custo de vida, seja em Nova Iorque, seja no Rio de Janeiro e a tomada de consciência disso leva todo mundo para um limbo, muitas vezes niilista, difícil de sair, por outro lado demonstra que pequenas concessões de alma (ou planos "Bês") podem fazer grandes diferenças.
Os roteiristas trabalharam com vários elementos muito humanos e característicos da geração. Em certa cena, Frances explica sua bagunça com a falta de tempo, uma falta que sabemos que ela não possui, mas quem consegue manter as coisas em ordem quando é difícil manter a própria cabeça?! Em outro momento, Frances compartilha seus sentimentos de uma forma particular com pessoas que não lhes são nenhum pouco íntimas, demonstrando aquela carência pungente dada a fungibilidade das relações que construímos ao longo da vida, e muitas das vezes independente de nossos esforços ou vontade, levando a um outro elemento: a sensação de impotência constante.
Ao observar Frances, podemos nos reconhecer e achar respostas que só conseguimos atingir ao olhar para o outro com empatia que é como se olhássemos para nós mesmos de fora. Taí o cinema demonstrando sua capacidade de cumprir uma função social.
A Garota Desconhecida
3.2 112 Assista AgoraOs filmes do Dardenne são incríveis pelas sutilezas que eles usam pra tornar os personagens mais complexos. A protagonista desse filme não foi diferente. Jenny é uma mulher forte, implacável, guiada por uma mistura de culpa com empatia. Achei bem interessante o roteiro e me segurou mais do que eu esperava. No entanto, a resolução acabou que ficou um pouco mal trabalhada, não condizente com a riqueza de cuidados na primeira parte do filme. É um bom filme sobretudo por ser uma personagem principal mulher e botando a cara no mundo atrás de um desfecho mas é basicamente isso.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista AgoraDorothea é mãe solteira nos anos 70. O filme basicamente versa sobre a criação de Jamie por uma ótica feminista. É maravilhoso! Além de questionar o modelo de educação que oferecemos aos meninos na nossa cultura, ensina o quão prolífico é fundamentar a criação em igualdade de gêneros.
Os personagens são complexos e muitas questões humanas se originam do tema principal causando um furacão nos nossos sentimentos. As três mulheres e seus papeis sociais são escrutinados de forma assertiva. A mãe e sua solidão aos 50 anos, a amiga de Jamie, adolescente em sua descoberta sexual e a incrível Greta Gerwig, a garota que aluga um quarto na casa de Dorothea, que nos seus vinte e tantos anos já venceu um câncer e enfrenta a possibilidade de não poder ter filhos.
Suas histórias de vidas vão se entrelaçando enquanto buscam demonstrar ao Jamie o papel ideal de um homem no mundo de modo que as relações entre gêneros não se torne desequilibrada.
Jamie lendo "The Politics Of Orgasm", Jamie descobrindo Talking Heads (uma banda de rock que tem uma garota casada com o baterista), Jamie se deparando com a timidez sem sentido de falar sobre MENSTRUAÇÃO ("Say everybody, MENSTRUATION"!), gravidez indesejada, pílulas anticoncepcionais, infertilidade feminina, solidão da mulher aos 50: gradativamente ganhando consciência do papel do feminismo e assim, tentando entender sua mãe frente ao abismo de comunicação que existe entre eles.
Para mim, quando Dorothea diz que as pessoas conseguem ver como Jamie se comporta no mundo e ela nunca conseguirá é o suprassumo do que representa os limites existentes nas relações entre pais e filhos. A ânsia e curiosidade que conduz Jamie no processo de descoberta do universo feminino é a força motriz do filme, o contraponto é a resignação de sua mãe frente a impossibilidade de enxergar seu filho como o mundo o enxerga.
Importante do filme é a reflexão sobre os limites de informações íntimas trocadas que não precisam ser rígidos. Cada relação entre pais e filhos deve respeitar a subjetividade de ambos para que seja saudável. Entretanto, é um fato que há um limite inerente ao papel de cada um dos objetos, que não deveria causar estranhamento quando enxergamos uma mãe não prever um comportamento desviante do filho, por exemplo.
No final das contas, não conhecemos ninguém integralmente e nem deveríamos ter mesmo essa pretensão, pois exaurir a subjetividade de alguém é perder a sublime capacidade de assombro que temos dentro de nós. É faltar o poder de experimentar a alegria de se surpreender com um terno gesto imprevisível.
Só não dei cinco estrelas porque me incomoda o ritmo acelerado dos filmes americanos que não dão tempo direito de fruir com calma a reflexão exibida quando estamos em outra frequência (tipo após assistir um filme do Tarkovski). Parece que a gente sempre está deixando passar algum detalhe que poderia dissipar aquela angústia presente num espacinho do coração. Recomendo ver e rever.
Gatos
4.2 89Kedi, documentário da Ceyda Torun, é uma carta de amor dos moradores de Istambul aos gatos da cidade.
A relação entre os moradores e os gatos é de um respeito e carinho mútuo e cada pedaço dos relatos pessoais são retalhos da alma de Istambul.
Cada morador tem um gato, mas eles vivem livres pela cidade, explorando e fazendo novos amigos humanos. É como se fosse inapropriado falar em "dono do gato", mais acertado pensar no melhor amigo do gato e seus outros amigos espalhados pela cidade, até porque, é consenso que os gatos que escolhem as pessoas e não o contrário no modus operandi de Istambul.
Eu fiquei profundamente arrebatada com esse documentário, primeiro porque é impossível não traçar um paralelo com a obra do Coutinho (cansada de falar que meu documentarista favorito da vida) no ponto de conseguir ser deveras assertivo na escolha dos relatos demasiado humanos e ao mesmo tempo essencialmente poéticos.
Determinado trecho do filme, um morador relata que ele gosta dos gatos, pois eles reconhecem a existência de Deus, enquanto os cachorros acham que nós somos Deuses, de modo que a relação com gatos serve como uma lembrança de nossa humanidade frágil, nos lembra que estamos vivos.
Outro ponto abordado com bastante sensibilidade é a relação com os gatos como processo de cura de nossas dores.
Em um dado relato, uma moradora que cuida de cerca de 60 gatos, conta que sua terapeuta sugeriu que ela cuida dos gatos como forma de lidar com suas feridas, segundo ela, profundas, oriunda da dificuldade de lidar não com a perda em si, mas com a saudade que ela deixa. Acredite, a perda de sua primeira gata que morreu de câncer, uma morte bastante humana como colocado por ela.
Vários belos relatos associados a cura das dores da alma através da interação com gatos vão nos deixando maravilhados. "Nenhum outro remédio conseguiu me fazer sorrir de novo". "Eles me ensinaram a me apaixonar por pessoas novamente".
Outros relatos que falam da tranquilidade de ter um gato dormindo numa gaveta enquanto você desenha, trabalha ou exerce seu ofício, como catalisadores da diminuição da ansiedade no ambiente me fez pensar que não importa se somos turcos ou brasileiros, o impacto que esses bichinhos tem na nossa subjetividade é de uma similaridade gritante, uma vez que estejamos abertos a receber esse carinho.
Os gatos são o novo rivotril! Assistam e confiem! ;)
#adoteumfelino
Fica Comigo
2.1 443 Assista AgoraRoteiro super batido. Vale só pra deixar rodando enquanto cochila num dia frio.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraSuperestimado. Um filme só bom. Uma menina tentando evitar que sua porca vá para o abate (seu bicho de estimação) mas continua comendo galinhas e peixes. Enfim... Se for pra buscar algum tipo de lição acerca da indústria alimentícia, não vai ser através desse filme. É entretenimento puro. Vale pela atuação da Tilda, como sempre, maravilhosa! Jake também tá meio fora da caixa, fazendo um personagem meio Johny Deep, o que foi divertido de assistir.
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraÉ um ótimo filme, mas é o pior do Duprat.
Me lembrou um pouco "Lost in Translation" pelo ponto central do choque cultural, sendo que no caso desse filme a barreira não é linguística.
O escritor argentino "europeizado" ao retornar ao local onde cresceu, uma pequena cidade do interior bastante prosaica, entra em choque com a cultura local que deixou pra trás. Dessa forma o filme trata um tanto de sentimentos humanos muito primitivos, como de costume nos filmes do Duprat, com excelência, mas fiquei com a impressão de que faltou algum elemento sutil e fantástico presente em seus outros filmes que causa um assombro no qual ficamos fruindo por dias... Em todo caso, o filme vale pela hilária cena da dança!
Requisitos para Ser uma Pessoa Normal
3.9 265Tem lá os seus momentos, mas se desenrola de uma forma previsível.
Neve Negra
3.4 159Nossa! Que roteiro horrível!
A Floresta para Árvores
3.9 8Melanie é a personificação da solidão.
Algumas pessoas nascem sem people skills, e cara, realmente, é difícil pra caramba viver em sociedade, principalmente quando você tem essa ingenuidade prosaica da personagem principal.
Um filme incrível! principalmente nas sutilezas, a casa de Melanie, gradativamente ficando desorganizada enquanto ela perdia totalmente o controle sobre a sua vida, seus alunos, sua capacidade de criar laços.
Espero que todo mundo que assista consiga ter um pouco mais de carinho pelo próximo. Pra mim, a cena que ela tenta se abrir com a "amiga" sobre sua vida e ela a corta é emblemática no que tange a nossa sociedade egoísta.
O final é emocionante, catártico. As vezes tudo que é necessário pra depurar as emoções é enlouquecer um pouquinho.
Loucas de Alegria
4.0 57Garota Interrompida com todo o calor dos italianos. Amei! Valeria Bruni tá um assombro da natureza!
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraMe lembrou Showgirls com a estética dos outros filmes do Refn: Meio surrealista, violenta e conceitual.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraEstou apaixonada por esse filme! Sutil, sensível, belo. Algumas batalhas são perdidas mas devemos fazer o melhor do porvir. Obrigada, Matt Ross. Aplaudi de pé enquanto desaguava. ASSISTAM!
Eu, Daniel Blake
4.3 532 Assista AgoraMaravilhoso! No Brasil essa burocracia louca não é diferente. Eu to apaixonada pelo Daniel Blake. Criei uma empatia forte com ele. Ken Loach lacrando como sempre!
Yoga Hosers
2.3 45 Assista AgoraPossivelmente o pior filme do Kevin Smith.
29 Palms
3.1 34Igual a "Brown Bunny", só que bom.
Ponte dos Espiões
3.7 694Every person matters!
Uma Nova Amiga
3.7 120O Melhor filme do Ozon!
Irmãos Desastre
3.5 137 Assista AgoraUm festival de clichês a ponto de incomodar. Faltou um roteiro mais pegado. De qualquer forma é bem terno.
Antes do Inverno
3.3 37 Assista Agora"Antes do Inverno", de Philippe Claudel, é possivelmente o filme mais interessante que assisti esse ano.
Trata-se da vida de Paul, um neurocirurgião de seus 60 anos, interpretado por Daniel Auteuil, casado com Lucie (Kristin Scott Thomas), num momento em que surge uma mulher de seus 20 e poucos anos em sua vida e paralelamente ele começa a receber buquês de rosas, diariamente, de origem anônima, dando ares de suspense ao filme.
Eu diria, no entanto, que é um filme que trata de relações humanas, sobretudo da solidão sob todas as formas e os abismos de comunicação nas relações.
Alguém disse certa vez que a única forma de suplantar a morte é persistindo através das memórias dos que ficam e o filme disseca muito bem essa ideia, através de um médico, um tanto embrutecido, que inicia um resgate, devido às circunstâncias que se apresentam, da sensibilidade e empatia que permite ver seus pacientes como algo além do seu objeto de trabalho ou meio de "ganhar a vida". De enxergá-los de fato como seres humanos.
Essa fragilidade e solidão tem seu apogeu numa cena belíssima onde uma senhora que está as vias de ser operada por Paul, o pede para que ele guarde uma história sua, porque ela já não tem mais ninguém para lembrar se ela não sobreviver.
Essa objetificação dos pacientes de Paul, na realidade, se solidifica numa apatia que se alastra por todas as esferas de sua vida, inclusive seu casamento, outro tema central do filme.
Paul se vê cada vez mais distante de Lucie e isso nos é demonstrado de forma lenta e um tanto angustiante (aquele ritmo que nos permite olhar para tela e olhar pra dentro da gente).
Em dada cena, Lucie consciente do desmoronamento do seu casamento, e intuindo o incipiente abalo no casamento do seu filho, oferece um conselho pra sua nora, um dos grandes momentos do filme, com algo do tipo: "Vitor é meu filho, mas eu tenho que te dizer, se ele não te faz feliz, o deixe agora, quanto mais cedo, melhor pra você." Num daqueles diálogos que travamos com os outros quando bem verdade, estamos a falar também com nós mesmos.
Lucie, consegue observar o processo em outra relação e maternalmente sede sua catarse a sua nora com uma assertividade que poucos tem coragem de fazer e me atrevo a dizer, só quem está comprometido com a felicidade do outro se dispõe (ou indispõe).
Bauman em "Amor Líquido" fala das perversões do amor, uma delas é o comodismo. A perversão do comodismo, diz ele, se dá devido a preguiça, medo ou acomodação, de modo que um tenta agradar o outro "enquanto continua tentando fugir do problema" degenerando a relação, que deixa de ser um comprometimento, pra se tornar um "festival de puxa-saquismos".
O comodismo sem dúvida dá origem a um mundo de aparências, nas quais gasta-se muito tempo e energia tentando convencer mutuamente que tudo está sob controle e ao mundo que a felicidade é sublime, em ordem de convencerem a si mesmos, enquanto desmonta-se por dentro, até o ponto em que falta totalmente a comunicação. Note-se, uma falta de comunicação que não necessariamente se perfaz em silêncios, mas muitas vezes em verborragia infinita.
Paul se confronta com suas questões existenciais através dessa terceira pessoa que atua como um catalisador de autoconsciência, tudo muito sutil, etéreo, que demanda esforço por parte de quem assiste e uma predisposição pra conseguir depurar.
Eu Não Faço a Menor Ideia do que eu Tô …
3.0 803Qual foi do diálogo integralmente reproduzido de Garden State sobre mentira?! Desnecessário. Roteiro confuso, prosaico e pretensioso.
Frances Ha
4.1 1,5K Assista Agora"Frances Ha"... Se eu tivesse assistido esse filme há dez anos atrás ou dez anos pra frente, talvez não tivesse me afetado da mesma forma.
Ele sem dúvida consubstancia um retrato da minha geração e assisti-lo, hoje, com 26 anos de idade, um diploma no bolso e um apanhado de sonhos na mochila, assim como Frances (a personagem que dá nome ao filme), é extremamente catártico.
Uma vez li em algum lugar que deveríamos ler Proust preferencialmente após os 50, em uma fase bem determinada na vida, pois só assim a obra seria bem aproveitada. Certamente, cá com meus botões, tempo pra ler todos os 7 volumes de "Em Busca do Tempo Perdido", com a atenção devida talvez só encontre mais tarde na vida mesmo, não obstante, seja com 26, 36 ou 86, com ou sem catarse, "Frances Ha" é uma experiência.
O novo filme de Noah Baumbach, do maravilhoso "A Lula e a Baleia", todo em preto e branco, o que primeiramente fez apitar "pretensioso" na minha cabeça, mas que com o decorrer do filme você entende, já que contribui para o enclausuramento das questões da personagem, da sensação claustrofóbica de ter o mundo, mas não importa pra onde você corra, seja outro bairro, seja Paris, não há como fugir de si.
Frances tem 27 anos, é bailarina feijão-com-arroz, mas está seguindo seu sonho e tem uma dificuldade enorme de escolher crescer às custas dos mesmos. O filme retrata justamente essa fase da vida que você está com um pé lá e outro cá, onde fica claro que um dos maiores entraves de "viver do que gosta" da nossa geração é o custo de vida, seja em Nova Iorque, seja no Rio de Janeiro e a tomada de consciência disso leva todo mundo para um limbo, muitas vezes niilista, difícil de sair, por outro lado demonstra que pequenas concessões de alma (ou planos "Bês") podem fazer grandes diferenças.
Os roteiristas trabalharam com vários elementos muito humanos e característicos da geração. Em certa cena, Frances explica sua bagunça com a falta de tempo, uma falta que sabemos que ela não possui, mas quem consegue manter as coisas em ordem quando é difícil manter a própria cabeça?! Em outro momento, Frances compartilha seus sentimentos de uma forma particular com pessoas que não lhes são nenhum pouco íntimas, demonstrando aquela carência pungente dada a fungibilidade das relações que construímos ao longo da vida, e muitas das vezes independente de nossos esforços ou vontade, levando a um outro elemento: a sensação de impotência constante.
Ao observar Frances, podemos nos reconhecer e achar respostas que só conseguimos atingir ao olhar para o outro com empatia que é como se olhássemos para nós mesmos de fora. Taí o cinema demonstrando sua capacidade de cumprir uma função social.
A Delicadeza do Amor
3.9 919 Assista AgoraDoce, terno e melancólico.
Um Homem Meio Esquisito
3.8 15Roteiro enfadonho e previsível. A única coisa que salva é a atuação do Michel Blanc que é divina.
Casa de Areia e Névoa
3.9 312Ben <3