"Terraferma" é outro filme imperdível deste festival (e foi ovacionado pela minha sessão). Uma pequena ilha na Itália que virou rota de imigrantes africanos ilegais que querem entrar na Europa. Imagina a cena: pescador local levando turistas para conhecer as praias e de repente é "atacado" por um monte de imigrantes que pularam de seus botes e se não forem resgatados morrerão afogados. Se você ajudá-los, perderá seu barco e sua fonte de renda, se você deixá-los lá, quebra a primeira lei do mar e tem que lidar com sua consciência (se você tiver uma). Esse é o dilema que o filme habilmente traz. Ele provoca a reflexão de uma situação real e alarmante que faz cada um dos presentes naquela sala de cinema questionar seus valores. Além disso, tem uma das cenas mais bem construídas de toda a história do cinema, que pra mim é o auge do filme: dezenas de africanos chegando nadando estafados em uma praia cheia de turistas e os turistas desesperados os ajudando, oferecendo água e apoio. O que você sente é inefável.
Acabei de assistir ao "Dark Horse" e não sei exatamente dizer se gostei ou não. Quando primeiro me deparei com Abe, um quarentão que ainda vive com os pais, trabalha na empresa do pai e mescla aqueles ataques descomedidos de raiva com uma educação nitidamente forçada e forjada (quem nunca conheceu alguém assim?), a primeira coisa que pensei foi: Aposto que 70% das pessoas que conheci na minha vida acadêmica terminarão assim. Fora minha mórbida (realista?) previsão, tenho que dizer que a dinâmica do filme de revelar a mente de Abe é uma fórmula bem interessante. Primeiro porque não romantiza os "outsiders", Abe está longe de ser um Napoleon Dynamite ou um Mc'Lovin, apesar de ser socialmente tão inepto quanto eles, o que torna o filme diferente por si. Depois porque se utiliza de ironia e sarcasmo aos montes, o que torna o humor do filme inteligente. O filme serve para nos alertar da diferença entre o que nós somos, o que almejamos ser em alguns anos e o que restou para nós, tanto em nossas escolhas profissionais quanto em relação aos nossos valores e construção de uma identidade. O Abe funciona como um espelho e nos força a questionarmos sobre nós mesmos.
"Red State", o novo filme do Kevin Smith (de "O Balconista" e "Dogma"), é bem divertido. Conta a história de uns fanáticos religiosos que perseguem homossexuais e os matam em rituais de sacrifício. É um filme totalmente político e bem-humorado. Destacaria a atuação do Michael Parks que interpreta o pastor da Igreja, é impressionante. O filme aborda (e satiriza) temas como a liberdade religiosa e de expressão e o direito de usar armas de fogo, tudo isso levado às últimas consequências. Bem interessante.
"O Desabrochar de Iris" é um filme denso. Puramente feito de diálogos, silêncios, tédio e apatia. Os personagens passam muito tempo observando entre um cigarro e outro, como todo bom filme independente francês. O filme no entanto cumpre o papel que se propõe: narra o amadurecimento de Iris que se encontra em uma fase que não sabe bem quem é e o que fazer da sua vida, então se deixa levar. Os relacionamentos que ela desenvolve (principalmente com um homem de seus 40 anos) é o que contribuirá para o crescimento do personagem. Ela vai gradativamente se descobrindo e "desabrochando" através dessas conexões de modo que ao final do filme Iris é alguém completamente diferente. Achei interessante como o processo de crescimento é apresentado, de maneira sutil e descompromissada. Não há envolvimento físico nos romances, é totalmente psicológico o que torna o filme mais pesado. Os dialógos quando filósoficos causam certo torpor. Gostei bastante.
"Terri" tem uma temática parecida com "O Desabrochar de Iris", pois narra o momento da vida de Terri, um garoto gorducho beirando à depressão que cuida de seu tio doente, quando as coisas começam a mudar para ele. Assim como Iris, ele é mais um paciente que agente, quando ele desiste e assume sua condição é quando todos começam a olhar para ele. Então ele começa a fazer amigos e desenvolve um carinho paternal pelo diretor da sua escola que decide ajudá-lo. Quem interpreta o diretor é aquele John C. Reilley (o mesmo de "We Need to Talk About Kevin"), e o personagem dele é fantástico. É um cara compromissado com sua profissão de educador e que atua com extrema sensibilidade de maneira a identificar e ajudar seus alunos com maior dificuldade de adaptação. O filme é equilibrado. Não te deixa feliz nem pra baixo, mas provoca um certo incomodo. O que fica do filme é a importância de gestos de atenção e carinho com o outro. É o "se importar" não só com quem você tem laços, mas com qualquer um pela simples condição que nos é comum: sermos todos seres humanos.
Terra Firme
3.9 16 Assista Agora"Terraferma" é outro filme imperdível deste festival (e foi ovacionado pela minha sessão). Uma pequena ilha na Itália que virou rota de imigrantes africanos ilegais que querem entrar na Europa. Imagina a cena: pescador local levando turistas para conhecer as praias e de repente é "atacado" por um monte de imigrantes que pularam de seus botes e se não forem resgatados morrerão afogados. Se você ajudá-los, perderá seu barco e sua fonte de renda, se você deixá-los lá, quebra a primeira lei do mar e tem que lidar com sua consciência (se você tiver uma). Esse é o dilema que o filme habilmente traz. Ele provoca a reflexão de uma situação real e alarmante que faz cada um dos presentes naquela sala de cinema questionar seus valores. Além disso, tem uma das cenas mais bem construídas de toda a história do cinema, que pra mim é o auge do filme: dezenas de africanos chegando nadando estafados em uma praia cheia de turistas e os turistas desesperados os ajudando, oferecendo água e apoio. O que você sente é inefável.
Dark Horse
3.2 36 Assista AgoraAcabei de assistir ao "Dark Horse" e não sei exatamente dizer se gostei ou não. Quando primeiro me deparei com Abe, um quarentão que ainda vive com os pais, trabalha na empresa do pai e mescla aqueles ataques descomedidos de raiva com uma educação nitidamente forçada e forjada (quem nunca conheceu alguém assim?), a primeira coisa que pensei foi: Aposto que 70% das pessoas que conheci na minha vida acadêmica terminarão assim. Fora minha mórbida (realista?) previsão, tenho que dizer que a dinâmica do filme de revelar a mente de Abe é uma fórmula bem interessante. Primeiro porque não romantiza os "outsiders", Abe está longe de ser um Napoleon Dynamite ou um Mc'Lovin, apesar de ser socialmente tão inepto quanto eles, o que torna o filme diferente por si. Depois porque se utiliza de ironia e sarcasmo aos montes, o que torna o humor do filme inteligente. O filme serve para nos alertar da diferença entre o que nós somos, o que almejamos ser em alguns anos e o que restou para nós, tanto em nossas escolhas profissionais quanto em relação aos nossos valores e construção de uma identidade. O Abe funciona como um espelho e nos força a questionarmos sobre nós mesmos.
Seita Mortal
2.6 312 Assista Agora"Red State", o novo filme do Kevin Smith (de "O Balconista" e "Dogma"), é bem divertido. Conta a história de uns fanáticos religiosos que perseguem homossexuais e os matam em rituais de sacrifício. É um filme totalmente político e bem-humorado. Destacaria a atuação do Michael Parks que interpreta o pastor da Igreja, é impressionante. O filme aborda (e satiriza) temas como a liberdade religiosa e de expressão e o direito de usar armas de fogo, tudo isso levado às últimas consequências. Bem interessante.
O Desabrochar de Iris
3.5 6"O Desabrochar de Iris" é um filme denso. Puramente feito de diálogos, silêncios, tédio e apatia. Os personagens passam muito tempo observando entre um cigarro e outro, como todo bom filme independente francês. O filme no entanto cumpre o papel que se propõe: narra o amadurecimento de Iris que se encontra em uma fase que não sabe bem quem é e o que fazer da sua vida, então se deixa levar. Os relacionamentos que ela desenvolve (principalmente com um homem de seus 40 anos) é o que contribuirá para o crescimento do personagem. Ela vai gradativamente se descobrindo e "desabrochando" através dessas conexões de modo que ao final do filme Iris é alguém completamente diferente. Achei interessante como o processo de crescimento é apresentado, de maneira sutil e descompromissada. Não há envolvimento físico nos romances, é totalmente psicológico o que torna o filme mais pesado. Os dialógos quando filósoficos causam certo torpor. Gostei bastante.
Terri
3.4 18 Assista Agora"Terri" tem uma temática parecida com "O Desabrochar de Iris", pois narra o momento da vida de Terri, um garoto gorducho beirando à depressão que cuida de seu tio doente, quando as coisas começam a mudar para ele. Assim como Iris, ele é mais um paciente que agente, quando ele desiste e assume sua condição é quando todos começam a olhar para ele. Então ele começa a fazer amigos e desenvolve um carinho paternal pelo diretor da sua escola que decide ajudá-lo. Quem interpreta o diretor é aquele John C. Reilley (o mesmo de "We Need to Talk About Kevin"), e o personagem dele é fantástico. É um cara compromissado com sua profissão de educador e que atua com extrema sensibilidade de maneira a identificar e ajudar seus alunos com maior dificuldade de adaptação. O filme é equilibrado. Não te deixa feliz nem pra baixo, mas provoca um certo incomodo. O que fica do filme é a importância de gestos de atenção e carinho com o outro. É o "se importar" não só com quem você tem laços, mas com qualquer um pela simples condição que nos é comum: sermos todos seres humanos.