Eu preciso confessar: não sou fã de musicais. Tenho muitos problemas com esse gênero e raramente sou fisgada por filmes do tipo. Óbvio que existem exceções, como "Cantando na Chuva", "O Mágico de Oz", "A Noviça Rebelde" e, recentemente, o ótimo "Sing Street" (que não é o típico musical norte-americano, em que as pessoas parecem sentir uma vontade incontrolável de sair cantando e fazendo coreografias mirabolantes no meio da rua).
Porém, mesmo indo contra todos os meus instintos, e por conta de todo o furor causado por "La La Land" no circuito cinematográfico, resolvi ir assistir ao filme. E eu fui de coração aberto, despida de todo e qualquer tipo de preconceito. Claro que o fato de se tratar de uma obra assinada pelo Damien Chazelle ajudou bastante no processo de deixar as implicâncias de lado, pois seu último trabalho, "Whiplash", foi digno de um diretor audacioso, inteligente.
Encontrei uma sala de cinema completamente abarrotada, como há muito não via; sentei-me; acomodei-me; esperei. Começa o filme. O primeiro letreiro avisa que a produção foi gravada em CinemaScope, uma tecnologia comum nas décadas de 50 e 60. Ousado, muito ousado. De repente, pessoas cantando, reproduzindo uma coreografia perfeitamente ensaiada, quase mecânica, uma explosão de cores como se o mundo fosse feito em Technicolor num plano-sequência (?) praticamente perfeito. Eu já não conseguia mais ficar sentada, qualquer posição me incomodava. 3 minutos de filme.
Temos os primeiros vislumbres de Emma Stone e Ryan Gosling, um mau começo para os dois. De início, somos apresentados à vida de Mia (Stone), para só depois nos familiarizarmos com Seb (Gosling). Num terceiro momento, temos os dois finalmente juntos e, a partir daí, inseparáveis (mas nem tanto). E aqui, devo dizer, o fato de Emma Stone e Ryan Gosling serem extremamente simpáticos ajudou bastante para que eu não entrasse em um modo catatônico e parasse de prestar atenção na projeção que se desenrolava diante de mim. Mas nem mesmo o carisma descomunal dos dois foi suficiente para me fazer gostar de "La La Land".
Eu gosto da Emma Stone, ela é uma boa atriz. Não tem muita profundidade, sejamos realistas, mas consegue fazer seu trabalho de maneira decente. Acho que "Birdman" foi seu momento menos "Emma Stone" de todos, pois consegui enxergar um pouco além dos olhos arregalados e da boca semiaberta, suas marcas registradas. Sempre tive minhas ressalvas em relação ao Ryan Gosling, que foram desfeitas ao assistir "Lars and the Real Girl" (2007), em que o ator interpreta um papel muitíssimo distante do status de galã que faz questão de reafirmar no musical de Chazelle. Pois bem, nem Emma e nem Ryan são cantores, muito menos dançarinos. Contudo, parece que todas as críticas sobre o filme relevam esses detalhes, especialmente devido à exuberância forçada que o diretor exibe ao longo da projeção e à química entre os protagonistas. A dura realidade é que Stone não é nenhuma Debbie Reynolds, e muito menos Ryan um Gene Kelly. Eu não consegui relevar. Foi estranho, foi incômodo.
Aliás, toda a experiência foi incômoda. Chazelle é um diretor ousado, que tem um domínio técnico impressionante, ainda mais quando levamos em consideração a pouca idade (se bem que o Martin Scorsese também tinha 31 anos quando fez "Caminhos Perigosos"). Mas, ao meu ver, tentou dar um passo maior que as pernas. Talvez entorpecido pelo que alcançou com "Whiplash", não sei. Só sei que faltou humildade. "La La Land" é um filme pretensioso e, ao mesmo tempo, ordinário, comum, que se esconde por trás de uma iluminação correta e uma boa direção de arte.
Então vamos aos problemas: a obra é dividida por estações do ano (como já entrega o subtítulo em Português "Cantando Estações"). No entanto, fica um pouco complicado de percebermos isso quando o cenário de fundo é Los Angeles. Fora a legenda na tela indicando que passamos da primavera para o verão e assim por diante, nada mais nos remete ao que parece ser algo importante para o desenrolar da narrativa: nem o cenário e nem a fotografia. Então, seja verão ou outono, tudo o que paira é a aura do amor entre Mia e Seb em cores berrantes. Ah! Mia usa azul nos dois invernos. Chocante!
Não que a fotografia do filme seja, em si, ruim. Muito pelo contrário. É bonita até demais. Como falei, a iluminação é correta, beirando a perfeição. Viram o problema? Quando eu assisto a um filme fotografado pelo Lubezki, por exemplo, eu não preciso ser constantemente lembrada por truques de luz que ele é um mestre da cinematografia. Mas Linus Sandgren não é Lubezki. E o pior: está acostumado com diretores pretensiosos que têm os olhos maiores que a própria cara, pois colabora frequentemente com David O. Russell (um protótipo do Martin Scorsese que deu errado). Como falei: bonitinho, mas ordinário. Não é inovador, não é arrebatador, não é excepcional. E, sinceramente, "bonitinho" é um dos piores adjetivos que podemos atribuir ao que quer que seja, não é mesmo?
E isso nos leva ao roteiro "bonitinho": menina encontra menino; menina se apaixona por menino; menina e menino vivem momentos inesquecíveis; problemas acontecem. Tenho que dar o braço a torcer que, aqui, ele até tentou fugir um pouco do "e viveram felizes para sempre". Se não tivesse apelado para o sentimentalismo barato, talvez eu até desse um desconto. Mas não foi o que aconteceu. Não vou dizer qual defecho o diretor escolheu para sua obra, pois seria injusto com aqueles que ainda não assistiram ao filme. Só basta dizer que, mesmo querendo fazer algo diferente, não foi nada que nunca tivéssemos visto antes. E, para concluir, ainda passou uma liçãozinha de moral básica sobre sonhos, expectativas, determinação e realidade. Desnecessário. Demasiadamente desnecessário.
Eu não duvido que muitas pessoas gostem, realmente, de "La La Land". É um filme feito para ser gostado. Só não entendo como olhos mais atentos têm se deixado enganar, conferindo ares de obra-prima a uma produção que tem todo o potencial para virar clássico da Sessão da Tarde. Tudo bem que a direção é convincente; que existem algumas metáforas interessantes (como o amor de Seb pelo Jazz, que serve como pano de fundo para falar da própria Hollywood e sua Era de Ouro); que os olhões da Emma Stone fazem com que seja impossível não gostar dela… Mesmo assim, todo o conjunto fica muito aquém dos grandes musicais já produzidos por Hollywood (e faço a comparação pois, segundo o diretor, sua intenção era resgatar a magia desses filmes); muito aquém da genialidade conferida à obra; muito aquém das expectativas de quem queria, do fundo do coração, ter gostado desse filme.
Em 2001, o jornal The Boston Globe contrata um homem chamado Marty Baron (Liev Schreiber) como seu novo editor-chefe, gerando certa tensão entre os funcionários do local, que temem por seus empregos. Além do mais, Marty é o primeiro judeu a comandar a redação do Globe e isso, por si só, já é motivo para algum estranhamento, visto que a maioria das instituições na Cidade de Boston estava, de uma forma ou de outra, sob o domínio da Igreja Católica.
Mas o que isso tem a ver com os "segredos revelados" de "Spotlight"? Já vou chegar lá!
Baseado em fatos reais, o filme narra os esforços de um grupo formado por quatro jornalistas investigativos do jornal em questão para expor os casos de centenas de crianças e adolescentes que foram abusados sexualmente por padres em Boston e proximidades. E mais do que isso: desmascarar todo um sistema corrupto e sujo no qual membros do alto escalão da Igreja estavam envolvidos no estado de Massachusetts, já que tinham consciência dos fatos e usavam sua influência para enterrar qualquer evidência prejudicial à imagem da entidade.
Em dado momento do filme, um dos personagens diz que alguém "de fora" pode ter uma visão melhor sobre determinados acontecimentos. E, aqui, reside a importância de Baron para o desenrolar da narrativa. Partindo de uma pequena matéria publicada pelo periódico sobre um advogado local que representava dezenas de famílias vitimadas pelos abusos, o editor-chefe vê a oportunidade de algo maior, pois percebe que não se tratam de ações isoladas e muito menos independentes. Baron não se sente intimidado ou coagido, pois não possui vínculo com a Igreja (é judeu) ou a cidade (veio da Flórida) e, como bom jornalista que se preze, quer que o jornal vá atrás da história.
A partir daí, acompanhamos a saga da equipe Spotlight, constituída pelos quatros jornalistas investigativos aos quais havia me referido no começo. Passamos a observar o trabalho realizado por Walter Robinson (Michael Keaton), Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d'Arcy James), além de descobrir, junto com eles, todos os absurdos cometidos não só pelos padres às crianças (muitas agora já adultas, uma vez que as violações datam de décadas), como também as práticas mais que reprováveis da Igreja na tentativa de encobrir toda a imundície em torno dos eventos.
Em um outro review eu comentei que esse ano era dos cinematografistas, pois muitas das obras que figuraram no circuito de premiações tiveram na fotografia seu maior trunfo, enquanto os roteiros se mostraram fracos e/ou mal desenvolvidos. Porém, "Spotlight" seguiu o caminho oposto. Tom McCarthy, o diretor, abriu mão da estética para focar no enredo e seus personagens, o que não significa que a fotografia seja ruim. Não é. A decisão demonstra apenas que certas temáticas pedem um cuidado maior em sua evolução e, quando um realizador tem em mãos um conteúdo que, sozinho, já dá pano para muitas mangas, não precisa correr o risco de fazer escolhas artísticas muito refinadas para obter um bom resultado. Como em muitos aspectos da vida, menos pode ser mais no Cinema. Foi assim também com "A Grande Aposta" e não é coincidência que ambos sejam os dois melhores da temporada.
Além do roteiro primoroso e bem resolvido, "Spotlight" também conta com um elenco afinado, em sintonia. Assim como Tarantino ressuscitou a carreira do Travolta com "Pulp Fiction", o mesmo parece ter acontecido com Michael Keaton depois de protagonizar o "Birdman" de Iñárritu. Um firme e seguro Keaton dá vida a Walter Robinson, chefe do Spotlight, e é dele a palavra final acerca da dinâmica a ser seguida pelos demais repórteres da equipe; Mark Ruffalo interpreta uma das cenas mais pujantes de toda a projeção, que resume o sentimento de seus colegas de trabalho diante da história que estão escrevendo; a atuação de Rachel McAdams é exemplar, servindo como contraponto à energia empregada por Ruffalo a Rezendes, mas não menos incisiva em suas investidas jornalísticas. Vale ressaltar que a evolução de McAdams como atriz não pode mais ser ignorada. Ela, definitivamente, conseguiu se desprender dos papéis anteriores em comédias teen e romances açucarados; Brian d'Arcy James completa o time do Spotlight, mas a principal função do personagem é revelar a apreensão de um pai e como isso o incentiva a, talvez mais do que todos ali, trazer à luz os horrores recém descobertos. Outra peça crucial para o enredo é o advogado Mitchell Garabedian, interpretado com destreza por Stanley Tucci. Principal elo entre os jornalistas e as vítimas, Garabedian, assim como Baron, é um "outsider" e emprega todo seu vigor para dar voz a seus clientes.
A comparação entre "Todos os Homens do Presidente" (1976) e "Spotlight" é inevitável, tendo em vista que os dois lidam com a jornada de jornalistas comprometidos com a profissão e todo o empenho investido por eles para que a população tome conhecimento da veracidade dos fatos. Contudo, mais que exemplos de um Cinema bem feito, ambos são uma aula de jornalismo. E não apenas para os que já se encontram no mercado. Mas, principalmente, para aqueles que ainda estão em processos de formação, nas cadeiras das universidades.
"Spotlight" é um filme de roteiro e atuação, que não precisa de recursos estilísticos intricados para cumprir brilhantemente o seu papel. É possível que em alguns momentos possamos sentir o estômago embrulhado perante o depoimento de algumas vítimas e a brutalidade com a qual esses predadores, pretensos homens de Deus, aproveitaram-se delas. Mesmo assim, são verdades que precisam ser ouvidas. E Tom McCarthy as conta com maestria.
Depois de muito relutar, pois tenho uma certa implicância com obras do gênero, finalmente assisti ao novo filme da franquia "Mad Max".
Logo quando foi lançado, li várias críticas positivas e alguns chegaram a dizer que se tratava do filme de ação da década. Pois bem, tenho minhas ressalvas.
Todo mundo que me conhece sabe que o Cinema é uma de minhas maiores paixões, mas não é qualquer filme que me cativa ou convence. Ao longo do tempo, fui me tornando cada vez mais exigente e não poderia ter sido diferente dessa vez.
O que observei em "Mad Max" é que o primor técnico tenta compensar as deficiências existentes no roteiro. E esse parece ter sido o ponto mais sensível dos filmes na temporada. Dos que assisti, apenas " A Grande Aposta" e "Spotlight" não me incomodaram nesse aspecto. E, embora tenha simplesmente amado "O Quarto de Jack", o filme também tem suas falhas na história.
Mas voltando... A direção do George Miller é eficiente ao extremo e a montagem ajuda a manter o andamento frenético do filme. De fato, para quem gosta do estilo, é quase impossível se decepcionar. As sequências de ação são mais aceleradas que o restante e é preciso muito fôlego para acompanhar.
Ambientação, maquiagem e figurino também estão adequados ao contexto pós-apocalíptico de "Mad Max", com cenários surreais e personagens mais surreais ainda. Porém, é a fotografia de John Seale que dá o toque final à obra. A alta saturação e contraste nas cenas diurnas, onde prevalecem as cores alaranjadas, dão espaço a uma paleta azulada, pálida, para os takes noturnos. Como falei anteriormente, em termos de técnica, o filme é redondinho. Os problemas surgem quando analisamos o enredo e o desenvolvimento dos personagens.
Tom Hardy como Max, que nem é tão Mad assim, em nada lembra a interpretção visceral de " O Regresso". Não houve entrega, não parece ter havido muito esforço. No entanto, como Hardy é um excelente ator, o personagem é "passável". Para quem acompanhou os primeiros filmes da série, deve lembrar como Max era conflituoso, cheio de nuances e um prato cheio pra qualquer roteirista. Mas a direção não demonstra interesse em desenvolver essas características. O mesmo acontece com Charlize Theron. Embora ela esteja melhor que Hardy e consigamos vislumbrar uma tentativa de conferir maior profundidade à Imperatriz Furiosa, foi apenas uma faísca, pois nem isso é explorado.
Eu cheguei à conclusão de que "Mad Max" é um filme de premissa, que gira em torno de uma ideia sem fazer questão de saber como seria colocar essa ideia em prática. É como se você tivessse toda uma partitura bem na sua frente e resolvesse tocar sempre a mesma nota.
No final das contas, eu não sei quem é Max, Furiosa, Nux, Immortan Joe ou qualquer outro personagem. Nao sei suas histórias e nem o motivo de viverem daquela forma. O filme não me deu nada além de ação muito bem feita com uma explosão de sensações visuais.
O Tarantino não precisa de apresentação. Quem acompanha, mesmo que minimamente, o mundo do cinema, com certeza sabe quem ele é. Muitas vezes eu sou criticada por alguns amigos por "falar mal" do Quentin. E falo mesmo! Não é, nem de longe, um de meus diretores favoritos. Embora eu reconheça a qualidade com que ele consegue desenvolver um roteiro, além das sacadas presentes em alguns diálogos de seus filmes, o "estilo Tarantino de fazer cinema" não tem tanto apelo para mim. Isso não significa que eu não goste de filmes feitos por ele, não é isso. Eu só não consigo perceber a "genialidade" que muitos insistem em atribuir ao diretor. Dito isso, vamos ao filme:
"Os Oito Odiados" é (pasmem!) o oitavo longa da carreira do diretor. O título não faz referência ao enredo em si, mas ao ego do Tarantino (ops, não consigo controlar). Sim, ao ego dele. O próprio diretor afirma que seus filmes são odiados, mas ele continua ali, incomodando. É uma provocação, do jeitinho que ele gosta. Voltando… "Os Oito…" se passa num período logo após a Guerra Civil norte-americana e narra a história do caçador de recompensas John "The Hangman" Ruth (Kurt Russell) e seu intuito de levar a prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para ser enforcada em uma cidadezinha do frio estado de Wyoming chamada Red Rock. No percurso, Ruth dá carona em sua carruagem (conduzida pelo cocheiro O.B.) a um ex-major do exército da União, e também caçador de recompensas, Marquis Warren (Samuel L Jackson), além do futuro xerife da cidade em questão, Chris Mannix, interpretado por Walton Goggins. Devido à tempestade de neve que está se formando, por segurança, os homens e Daisy precisam parar em uma taverna no meio do caminho, a estalagem da Minnie. Lá, eles encontram Señor Bob (Demián Bichir), um mexicano que cuida do lugar enquanto a dona, Minnie, está viajando; o carrasco de Red Rock - um inglês chamado Oswaldo Mobray (Tim Roth); Joe Gage (Michael Madsen), um "homem comum" que está a caminho de visitar sua mãe em tempo para o Natal e o General Smithers (Bruce Dern) que, ao contrário de Warren, lutou ao lados dos Confederados durante a Guerra. Em outras palavras: uma receita para o desastre.
A partir de agora, não irei falar mais nada sobre o enredo do filme em si. Qualquer coisa que eu disser pode soar como spoiler e ninguém gosta disso, ok? Então, vou levantar alguns pontos que, apenas pelo grupo acima, podem ser inferidos:
1 - Muito tem se falado sobre o filme representar uma crítica à sociedade norte-americana pós-Guerra Civil até os tempos atuais. Não apenas os problemas raciais presentes nos Estados Unidos (e aqui eu me refiro exclusivamente a negros e brancos), como a questão da imigração ilegal de povos latinos, principalmente. Podemos observar que existe, entre os papeis principais, apenas uma mulher - Daisy: ela seria a voz do progressismo na política dos EUA, pregado pelos Democratas. Temos também um inglês (Oswaldo) que zomba dos americanos, fazendo referência à colonização do país, um mexicano (que faz alusão aos problemas de imigração enfrentados no momento) e a velha batalha negro x branco, representada por Smithers e Warren. Para alguns críticos, o resultado desse encontro é nada mais do que uma amostra da natureza belicosa dos Estados Unidos e como, ainda hoje, aquela sociedade pode se mostrar dura e intolerante. **Prestem atenção à porta e digam o que ela representa** ;
2 - Outra abordagem possível é a de uma alegoria religiosa. Cada personagem representaria um símbolo bíblico e, seguindo essa lógica, teríamos os 4 Cavaleiros do Apocalipse, Eva, Adão, Deus, Jesus, os anjos da morte, justiça e misecricórdia, além do próprio diabo. Para que essa explicação fique mais clara, eu realmente teria que contar maiores detalhes sobre a trama. Mas, com o desenrolar dos fatos e as histórias contadas, a natureza dos personagens se revela, fazendo com que possamos chegar também à conclusão religiosa além da social já levantada.
Resumindo: o filme é bom? É e não é.
Existem muitos acertos que "pagam" as quase 3h de projeção, tais como a interpretação insana da Jennifer Jason Leigh, a fotografia do Robert Richardson e a maneira como o Tarantino dirigiu um filme de câmara (majoritariamente rodado em apenas um ambiente, criando uma sensação claustrofóbica).
O que é ruim: o roteiro não é original, mesmo carregado de simbolismos; eu sei que isso é uma "marca" do Tarantino, mas algumas caracterizações dos personagens são exageradas ao extremo, fazendo com que você se distraia às vezes durante as cenas; narrações em off desnecessárias, deslocadas; situações absurdas (eu sei que é filme, tá?), que mesmo sendo num filme (dã), ainda mais um Western, não teriam se desenrolado daquele jeito. E, quase sempre, a criação de um suspense barato nos pequenos conflitos que vão acontecendo, que resultam em desfechos previsíveis, sem muita criatividade.
Coisas que você COM CERTEZA vai encontrar em "Os Oito Odiados": SANGUE, SANGUE, NEVE, LONGOS DIÁLOGOS, SANGUE, NEVE, SANGUE, LONGOS DIÁLOGOS, NEVE.
Confesso que não sou lá muito fã desse tipo de comédia norte-americana que fez o nome do diretor do filme, mas acredito que a experiência no gênero contribuiu bastante para o sucesso de "A Grande Aposta".
Ele conseguiu empregar ao filme, que trata da crise de 2008 devido à bolha imobiliária nos Estados Unidos, ares menos densos do que o assunto pede. A edição é eficiente e não faz com que fiquemos entediados diante dos intermináveis jargões de Wall Street, desconhecidos por grande parte do público. Cheio de jump cuts, filmado de maneira errática e quebrando, incessantemente, a quarta parede (aquele momento em que o ator em cena se dirige diretamente ao espectador), "A Grande Aposta" explica, de maneira didática, todos os acontecimentos que levaram à crise e como alguns "esquisitões" do mercado financeiro conseguiram prever o problema e lucrar com isso.
As interpretações de Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling merecem destaque. Bale tem um dom belíssimo: é um dos principais atores de método na atualidade, com um imenso poder de transformação física e emocional. Seu personagem, um investidor de alto risco com Síndrome de Asperger, rouba todas as cenas em que aparece. A caracterização feita por ele apenas reafirma o talento e o profissionalismo desse que, para mim, é um dos principais nomes do cinema no momento. Já Carell também é beneficiado pela veia cômica. Desde "Foxcatcher", o ator vem recebendo críticas positivas pelo seus trabalhos fora das comédias. Mas, aqui, é justamente o comediante que possibilita a Carell uma atuação relevante e crível, já que Baum serve como o pêndulo moral da história, fazendo com que suas neuroses e tragicomicidade sejam ressaltadas constantemente. Por último, Ryan Gosling: primeiro que o bronzeado excessivo e o estilo do cabelo já fazem do personagem uma figura intrigante, com cara de vigarista. Jared Vennett (Gosling) é o oposto de Baum. Vennett é inescrupuloso e não parece muito preocupado com a crise do mercado contanto que ele consiga lucrar com isso. Porém, o charme com que Gosling o interpreta não nos deixar criar uma antipatia com o personagem. Ele é quase aquele tipo vilão por quem, mesmo inconscientemente, nós acabamos torcendo. O Brad Pitt também completa o elenco mas, sinceramente, acho que a participação dele foi mais pelo fato de também ser um dos produtores do filme. Não é ruim, mas não teve nada de brilhante ou memorável.
No mais, "A Grade Aposta" é um filme que merece ser assistido, principalmente se você quer entender os fatos que culminaram na crise que afetou não só os Estados Unidos como também uma parcela considerável de países europeus. Confesso que, no começo, achei que era uma versão ruim de "O Lobo de Wall Street", mas à medida em que os acontecimentos foram se desenvolvendo, o filme "cresceu" em mim. Uma surpresa, de certo.
Após meses de espera e extremamente curiosa por conta das críticas positivas, finalmente fui conferir "O Regresso". Principalmente devido ao Oscar de melhor diretor em 2015 por "Birdman", a expectativa em torno desse novo projeto do Iñárritu estava elevadíssima. As entrevistas concedidas pelo elenco e equipe técnica, especialmente as declarações de Leonardo DiCaprio (que alegou ter sido o papel mais difícil de toda sua carreira), fizeram com que muitos concedessem ao filme o status de obra-prima antes mesmo de sua estréia.
No entanto, seguem algumas impressões minhas acerca da obra:
*** A fotografia: eu sou uma apaixonada pelo Lubezki. Ele é um dos maiores diretores de fotografia de todos os tempos. E, nesse campo, "O Regresso" é irretocável. 99,9% filmado com luz natural - o que confere uma estética próxima da pintura em algumas cenas -, o filme lembra (e não apenas vagamente) as obras do diretor Terrence Malick, cineasta que conta com a colaboração frequente de Lubezki. E, aqui, eu não acho que seja nenhuma coincidência, mas irei discorrer mais sobre isso quando falar das escolhas de direção empregadas por Iñárritu.
*** Leonardo DiCaprio e Tom Hardy: de fato, a atuação do DiCaprio como Glass é exemplar. Com pouquíssimas falas e tendo que se comunicar por meio de grunhidos em mais da metade da produção, toda a dramaticidade do personagem fica a cargo de suas expressões faciais. Leo não desaponta e, como vem fazendo há muito tempo, entrega mais do que é esperado. Porém, não considero que tenha sido o seu papel mais significativo. Howard Hughes em "O Aviador" ainda é o trabalho mais brilhante da carreira dele. Dito isso, vou falar daquele que, para mim, é o destaque do filme: Hardy, que está irreconhecível como o vilão Fitzgerald, um dos membros da expedição de Glass. A atuação de Hardy é visceral. Até a entonação da voz embolada do ator faz juz à figura sorumbática de Fitzgerald. Enquanto Glass parece sobreviver por causa de sua vingança, Fitzgerald apenas sobrevive. Dissimulado e ganancioso, é possível notar a natureza maliciosa do personagem apenas pelo olhar de Hardy. Não sei se o tão esperado Oscar do DiCaprio vai vir com "O Regresso", mas ficarei surpresa se Hardy não for o vencedor da categoria de melhor ator coadjuvante.
*** A direção: eu me pergunto constantemente qual o motivo do Iñárritu ser considerado por muitos um dos gênios atuais do Cinema. E, depois de "O Regresso", essa pergunta ficou mais latente. Não escondo que o acho mediano e extremamente dependente de seus diretores de fotografia. Foi assim com o Prieto e agora com o Lubezki. Para mim, uma das piores coisas que pode acontecer é assistir ao filme de determinado diretor e achar que estou vendo a realização de outro, pois foi com esse sentimento que saí da projeção. Se não soubesse que a direção foi assinada pelo Iñárritu, não pensaria duas vezes em chutar Malick. Alejandro também é um dos roteiristas, mas, no entanto, não mede esforços para sacrificar o enredo por causa do seu ego artístico. As decisões estéticas do diretor comprometeram o andamento do filme, que conta com infinitas cenas desnecessárias numa pífia tentativa de conferir profundidade filosófica à obra (as visões de Glass, o índio enforcado com a placa "somos todos selvagens", etc). O que seria o ápice da projeção, por exemplo, perdeu muito da força por causa da insistência do realizador em aplicar certas técnicas que funcionam como um elemento de distração (sangue e respiração na lente, que em excesso chegam a prejudicar), não deixando o espectador entrar na cena como deveria. É como se Iñárritu tivesse um voz estrondosa, mas não soubesse muito bem o que dizer. A trilha sonora escolhida pelo diretor também não funciona. Em muitos momentos eu fiquei esperando que uma bateria aparecesse miraculosamente, assim como em "Birdman", já que não há muita distinção entre os dois nesse quesito. Iñárritu também brinca com os planos longos, sequenciais, como já havia feito em seu filme anterior e, devo admitir, a cena em que Glass é atacado pelo urso tira o fôlego de tão bonita. Mas ficamos por aí. Até porque, esse recurso de plano-sequência é mais característico de Lubezki que do próprio diretor.
*** Balanço geral: indicado a 12 prêmios da Academia, é muito provável que leve boa parte das estatuetas para casa, inclusive Fotografia (o que faria com que Lubezki saísse vencedor da categoria pelo terceiro ano consecutivo). Não acho que seja o melhor filme do ano e muito menos o melhor entre os que estão concorrendo. Vale a pena pelas atuações e pelo trabalho do Lubezki, sem dúvidas. Mas, em termos de direção, é a obra de um diretor perdido em seus próprios devaneios de grandiosidade.
Como já comentado várias vezes, a Fotografia do filme é, de fato, belíssima. Porém, não foge muito ao estilo Alemanha-Leste Europeu no quesito filmes de Arte. Mesmo funcionando bem dentro do roteiro e sendo primorosa, não trouxe inovação alguma em termos técnicos. Mas nem por isso temos que deixar de admirar o que é agradável aos olhos e reconhecer um trabalho feito de forma exemplar, não é mesmo?
No mais, achei o desenrolar da narrativa moroso, sem trazer muitos elementos de aproximação para com o espectador, exceto os que por algum motivo (histórico, religioso, etc) consigam se relacionar. Embora ache que as premiações às quais foi indicado tenham sido merecidas, "Leviatã" é um filme mais envolvente e, para mim, acabou se sobressaindo em comparação ao "Ida".
"Vício Inerente" é o tipo de filme que deixa um fã meio dividido quanto ao trabalho de um de seus diretores favoritos (pelo menos no meu caso). Além de não ser uma realização clássica do PTA (mesmo contendo características inerentes ao diretor que conseguimos identificar prontamente), acredito que ele tentou ao máximo se desapegar do seu estilo para adentrar no universo de paranóia e surrealismo concebido pelo Pynchon. O PTA, sempre tão centrado e racional, resolveu "chutar o balde" e se arriscar de maneira tal que, só alguém muito seguro do próprio potencial poderia fazer.
É a aí onde entra a "confusão" do fã, que foi assistir à obra ávido por genialidades como as já vistas em "Magnólia" e "Sangue Negro" e se deparou com um outro tipo de perfeição. Porque o PTA continuou sendo um perfeccionista, mas de forma meio desconexa e inesperada. Para mim, mais do que as 2h30 de psicodelia abstrata contida no filme, o que mais me deixou "pirada" foi tentar reconhecer um dos caras que mais admiro no cinema atualmente, e quando parecia que ele ia se mostrar por inteiro, tudo mudava e surgia um outro PTA diante dos meus olhos. Não sei se isso é bom ou ruim (falando como fã que quer sempre mais do mesmo, ainda mais quando se trata de um mesmo excelente), mas imagino que, de vez em quando, é bom dar esse tipo de nó na cabeça dos outros, pois aguça a curiosidade alheia e faz com que seu trabalho não se torne previsível e enfadonho.
E por falar em enfado, esse texto já está bem maior do que eu esperava. Mas os filmes do Paul fazem isso comigo, impossível evitar.
Só para concluir: para aqueles que não conhecem o Pynchon, pode haver realmente um pouco de dificuldade para assimilar o filme e até gostar dele. Muitos vão dizer que foi uma "bola fora" do PTA e que ele começou a "perder" o toque. Porém, para os que gostam das loucuras do escritor norte-americano, ver tudo aquilo traduzido em imagens pode ser um exercício interessantíssimo e divertido.
Trabalho interessante do Peter Jackson. Não tem muita relação nem com seus filmes trashs do começo da carreira e nem com as megaproduções nas quais costuma se envolver agora.
Eu não tenho nem palavras pra dizer o que acho de "Touro Indomável". Aliás, acho que tudo o que precisava ser dito a respeito já foi feito nos últimos 34 anos. A única coisa que não entendo é como alguém consegue não gostar.
Quando a primeira palavra que vem à cabeça ao pensar em um filme é "fofinho", eu já começo a me questionar se ele é bom de verdade ou se estou sendo influenciada pela meiguice mesmo. De qualquer forma, o maior mérito de "Amélie", para mim, é a fotografia. Essa sim, incontestavelmente belíssima.
Quem não chorou ao som de "My Heart Will Go On" ou imitou a Celine Dion toda vez que o clipe passava no Top 10 da MTV que atire o primeiro pedaço de iceberg.
Independentemente de qualquer que seja a temática do filme e a relevância das críticas nele contidas, é impossível dizer que a direção não é eficiente e impecável.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraLa La Land: bonitinho, mas ordinário.
Eu preciso confessar: não sou fã de musicais. Tenho muitos problemas com esse gênero e raramente sou fisgada por filmes do tipo. Óbvio que existem exceções, como "Cantando na Chuva", "O Mágico de Oz", "A Noviça Rebelde" e, recentemente, o ótimo "Sing Street" (que não é o típico musical norte-americano, em que as pessoas parecem sentir uma vontade incontrolável de sair cantando e fazendo coreografias mirabolantes no meio da rua).
Porém, mesmo indo contra todos os meus instintos, e por conta de todo o furor causado por "La La Land" no circuito cinematográfico, resolvi ir assistir ao filme. E eu fui de coração aberto, despida de todo e qualquer tipo de preconceito. Claro que o fato de se tratar de uma obra assinada pelo Damien Chazelle ajudou bastante no processo de deixar as implicâncias de lado, pois seu último trabalho, "Whiplash", foi digno de um diretor audacioso, inteligente.
Encontrei uma sala de cinema completamente abarrotada, como há muito não via; sentei-me; acomodei-me; esperei. Começa o filme. O primeiro letreiro avisa que a produção foi gravada em CinemaScope, uma tecnologia comum nas décadas de 50 e 60. Ousado, muito ousado. De repente, pessoas cantando, reproduzindo uma coreografia perfeitamente ensaiada, quase mecânica, uma explosão de cores como se o mundo fosse feito em Technicolor num plano-sequência (?) praticamente perfeito. Eu já não conseguia mais ficar sentada, qualquer posição me incomodava. 3 minutos de filme.
Temos os primeiros vislumbres de Emma Stone e Ryan Gosling, um mau começo para os dois. De início, somos apresentados à vida de Mia (Stone), para só depois nos familiarizarmos com Seb (Gosling). Num terceiro momento, temos os dois finalmente juntos e, a partir daí, inseparáveis (mas nem tanto). E aqui, devo dizer, o fato de Emma Stone e Ryan Gosling serem extremamente simpáticos ajudou bastante para que eu não entrasse em um modo catatônico e parasse de prestar atenção na projeção que se desenrolava diante de mim. Mas nem mesmo o carisma descomunal dos dois foi suficiente para me fazer gostar de "La La Land".
Eu gosto da Emma Stone, ela é uma boa atriz. Não tem muita profundidade, sejamos realistas, mas consegue fazer seu trabalho de maneira decente. Acho que "Birdman" foi seu momento menos "Emma Stone" de todos, pois consegui enxergar um pouco além dos olhos arregalados e da boca semiaberta, suas marcas registradas. Sempre tive minhas ressalvas em relação ao Ryan Gosling, que foram desfeitas ao assistir "Lars and the Real Girl" (2007), em que o ator interpreta um papel muitíssimo distante do status de galã que faz questão de reafirmar no musical de Chazelle. Pois bem, nem Emma e nem Ryan são cantores, muito menos dançarinos. Contudo, parece que todas as críticas sobre o filme relevam esses detalhes, especialmente devido à exuberância forçada que o diretor exibe ao longo da projeção e à química entre os protagonistas. A dura realidade é que Stone não é nenhuma Debbie Reynolds, e muito menos Ryan um Gene Kelly. Eu não consegui relevar. Foi estranho, foi incômodo.
Aliás, toda a experiência foi incômoda. Chazelle é um diretor ousado, que tem um domínio técnico impressionante, ainda mais quando levamos em consideração a pouca idade (se bem que o Martin Scorsese também tinha 31 anos quando fez "Caminhos Perigosos"). Mas, ao meu ver, tentou dar um passo maior que as pernas. Talvez entorpecido pelo que alcançou com "Whiplash", não sei. Só sei que faltou humildade. "La La Land" é um filme pretensioso e, ao mesmo tempo, ordinário, comum, que se esconde por trás de uma iluminação correta e uma boa direção de arte.
Então vamos aos problemas: a obra é dividida por estações do ano (como já entrega o subtítulo em Português "Cantando Estações"). No entanto, fica um pouco complicado de percebermos isso quando o cenário de fundo é Los Angeles. Fora a legenda na tela indicando que passamos da primavera para o verão e assim por diante, nada mais nos remete ao que parece ser algo importante para o desenrolar da narrativa: nem o cenário e nem a fotografia. Então, seja verão ou outono, tudo o que paira é a aura do amor entre Mia e Seb em cores berrantes. Ah! Mia usa azul nos dois invernos. Chocante!
Não que a fotografia do filme seja, em si, ruim. Muito pelo contrário. É bonita até demais. Como falei, a iluminação é correta, beirando a perfeição. Viram o problema? Quando eu assisto a um filme fotografado pelo Lubezki, por exemplo, eu não preciso ser constantemente lembrada por truques de luz que ele é um mestre da cinematografia. Mas Linus Sandgren não é Lubezki. E o pior: está acostumado com diretores pretensiosos que têm os olhos maiores que a própria cara, pois colabora frequentemente com David O. Russell (um protótipo do Martin Scorsese que deu errado). Como falei: bonitinho, mas ordinário. Não é inovador, não é arrebatador, não é excepcional. E, sinceramente, "bonitinho" é um dos piores adjetivos que podemos atribuir ao que quer que seja, não é mesmo?
E isso nos leva ao roteiro "bonitinho": menina encontra menino; menina se apaixona por menino; menina e menino vivem momentos inesquecíveis; problemas acontecem. Tenho que dar o braço a torcer que, aqui, ele até tentou fugir um pouco do "e viveram felizes para sempre". Se não tivesse apelado para o sentimentalismo barato, talvez eu até desse um desconto. Mas não foi o que aconteceu. Não vou dizer qual defecho o diretor escolheu para sua obra, pois seria injusto com aqueles que ainda não assistiram ao filme. Só basta dizer que, mesmo querendo fazer algo diferente, não foi nada que nunca tivéssemos visto antes. E, para concluir, ainda passou uma liçãozinha de moral básica sobre sonhos, expectativas, determinação e realidade. Desnecessário. Demasiadamente desnecessário.
Eu não duvido que muitas pessoas gostem, realmente, de "La La Land". É um filme feito para ser gostado. Só não entendo como olhos mais atentos têm se deixado enganar, conferindo ares de obra-prima a uma produção que tem todo o potencial para virar clássico da Sessão da Tarde. Tudo bem que a direção é convincente; que existem algumas metáforas interessantes (como o amor de Seb pelo Jazz, que serve como pano de fundo para falar da própria Hollywood e sua Era de Ouro); que os olhões da Emma Stone fazem com que seja impossível não gostar dela… Mesmo assim, todo o conjunto fica muito aquém dos grandes musicais já produzidos por Hollywood (e faço a comparação pois, segundo o diretor, sua intenção era resgatar a magia desses filmes); muito aquém da genialidade conferida à obra; muito aquém das expectativas de quem queria, do fundo do coração, ter gostado desse filme.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraEm 2001, o jornal The Boston Globe contrata um homem chamado Marty Baron (Liev Schreiber) como seu novo editor-chefe, gerando certa tensão entre os funcionários do local, que temem por seus empregos. Além do mais, Marty é o primeiro judeu a comandar a redação do Globe e isso, por si só, já é motivo para algum estranhamento, visto que a maioria das instituições na Cidade de Boston estava, de uma forma ou de outra, sob o domínio da Igreja Católica.
Mas o que isso tem a ver com os "segredos revelados" de "Spotlight"? Já vou chegar lá!
Baseado em fatos reais, o filme narra os esforços de um grupo formado por quatro jornalistas investigativos do jornal em questão para expor os casos de centenas de crianças e adolescentes que foram abusados sexualmente por padres em Boston e proximidades. E mais do que isso: desmascarar todo um sistema corrupto e sujo no qual membros do alto escalão da Igreja estavam envolvidos no estado de Massachusetts, já que tinham consciência dos fatos e usavam sua influência para enterrar qualquer evidência prejudicial à imagem da entidade.
Em dado momento do filme, um dos personagens diz que alguém "de fora" pode ter uma visão melhor sobre determinados acontecimentos. E, aqui, reside a importância de Baron para o desenrolar da narrativa. Partindo de uma pequena matéria publicada pelo periódico sobre um advogado local que representava dezenas de famílias vitimadas pelos abusos, o editor-chefe vê a oportunidade de algo maior, pois percebe que não se tratam de ações isoladas e muito menos independentes. Baron não se sente intimidado ou coagido, pois não possui vínculo com a Igreja (é judeu) ou a cidade (veio da Flórida) e, como bom jornalista que se preze, quer que o jornal vá atrás da história.
A partir daí, acompanhamos a saga da equipe Spotlight, constituída pelos quatros jornalistas investigativos aos quais havia me referido no começo. Passamos a observar o trabalho realizado por Walter Robinson (Michael Keaton), Mike Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d'Arcy James), além de descobrir, junto com eles, todos os absurdos cometidos não só pelos padres às crianças (muitas agora já adultas, uma vez que as violações datam de décadas), como também as práticas mais que reprováveis da Igreja na tentativa de encobrir toda a imundície em torno dos eventos.
Em um outro review eu comentei que esse ano era dos cinematografistas, pois muitas das obras que figuraram no circuito de premiações tiveram na fotografia seu maior trunfo, enquanto os roteiros se mostraram fracos e/ou mal desenvolvidos. Porém, "Spotlight" seguiu o caminho oposto. Tom McCarthy, o diretor, abriu mão da estética para focar no enredo e seus personagens, o que não significa que a fotografia seja ruim. Não é. A decisão demonstra apenas que certas temáticas pedem um cuidado maior em sua evolução e, quando um realizador tem em mãos um conteúdo que, sozinho, já dá pano para muitas mangas, não precisa correr o risco de fazer escolhas artísticas muito refinadas para obter um bom resultado. Como em muitos aspectos da vida, menos pode ser mais no Cinema. Foi assim também com "A Grande Aposta" e não é coincidência que ambos sejam os dois melhores da temporada.
Além do roteiro primoroso e bem resolvido, "Spotlight" também conta com um elenco afinado, em sintonia. Assim como Tarantino ressuscitou a carreira do Travolta com "Pulp Fiction", o mesmo parece ter acontecido com Michael Keaton depois de protagonizar o "Birdman" de Iñárritu. Um firme e seguro Keaton dá vida a Walter Robinson, chefe do Spotlight, e é dele a palavra final acerca da dinâmica a ser seguida pelos demais repórteres da equipe; Mark Ruffalo interpreta uma das cenas mais pujantes de toda a projeção, que resume o sentimento de seus colegas de trabalho diante da história que estão escrevendo; a atuação de Rachel McAdams é exemplar, servindo como contraponto à energia empregada por Ruffalo a Rezendes, mas não menos incisiva em suas investidas jornalísticas. Vale ressaltar que a evolução de McAdams como atriz não pode mais ser ignorada. Ela, definitivamente, conseguiu se desprender dos papéis anteriores em comédias teen e romances açucarados; Brian d'Arcy James completa o time do Spotlight, mas a principal função do personagem é revelar a apreensão de um pai e como isso o incentiva a, talvez mais do que todos ali, trazer à luz os horrores recém descobertos. Outra peça crucial para o enredo é o advogado Mitchell Garabedian, interpretado com destreza por Stanley Tucci. Principal elo entre os jornalistas e as vítimas, Garabedian, assim como Baron, é um "outsider" e emprega todo seu vigor para dar voz a seus clientes.
A comparação entre "Todos os Homens do Presidente" (1976) e "Spotlight" é inevitável, tendo em vista que os dois lidam com a jornada de jornalistas comprometidos com a profissão e todo o empenho investido por eles para que a população tome conhecimento da veracidade dos fatos. Contudo, mais que exemplos de um Cinema bem feito, ambos são uma aula de jornalismo. E não apenas para os que já se encontram no mercado. Mas, principalmente, para aqueles que ainda estão em processos de formação, nas cadeiras das universidades.
"Spotlight" é um filme de roteiro e atuação, que não precisa de recursos estilísticos intricados para cumprir brilhantemente o seu papel. É possível que em alguns momentos possamos sentir o estômago embrulhado perante o depoimento de algumas vítimas e a brutalidade com a qual esses predadores, pretensos homens de Deus, aproveitaram-se delas. Mesmo assim, são verdades que precisam ser ouvidas. E Tom McCarthy as conta com maestria.
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraDepois de muito relutar, pois tenho uma certa implicância com obras do gênero, finalmente assisti ao novo filme da franquia "Mad Max".
Logo quando foi lançado, li várias críticas positivas e alguns chegaram a dizer que se tratava do filme de ação da década. Pois bem, tenho minhas ressalvas.
Todo mundo que me conhece sabe que o Cinema é uma de minhas maiores paixões, mas não é qualquer filme que me cativa ou convence. Ao longo do tempo, fui me tornando cada vez mais exigente e não poderia ter sido diferente dessa vez.
O que observei em "Mad Max" é que o primor técnico tenta compensar as deficiências existentes no roteiro. E esse parece ter sido o ponto mais sensível dos filmes na temporada. Dos que assisti, apenas " A Grande Aposta" e "Spotlight" não me incomodaram nesse aspecto. E, embora tenha simplesmente amado "O Quarto de Jack", o filme também tem suas falhas na história.
Mas voltando... A direção do George Miller é eficiente ao extremo e a montagem ajuda a manter o andamento frenético do filme. De fato, para quem gosta do estilo, é quase impossível se decepcionar. As sequências de ação são mais aceleradas que o restante e é preciso muito fôlego para acompanhar.
Ambientação, maquiagem e figurino também estão adequados ao contexto pós-apocalíptico de "Mad Max", com cenários surreais e personagens mais surreais ainda. Porém, é a fotografia de John Seale que dá o toque final à obra. A alta saturação e contraste nas cenas diurnas, onde prevalecem as cores alaranjadas, dão espaço a uma paleta azulada, pálida, para os takes noturnos. Como falei anteriormente, em termos de técnica, o filme é redondinho. Os problemas surgem quando analisamos o enredo e o desenvolvimento dos personagens.
Tom Hardy como Max, que nem é tão Mad assim, em nada lembra a interpretção visceral de " O Regresso". Não houve entrega, não parece ter havido muito esforço. No entanto, como Hardy é um excelente ator, o personagem é "passável". Para quem acompanhou os primeiros filmes da série, deve lembrar como Max era conflituoso, cheio de nuances e um prato cheio pra qualquer roteirista. Mas a direção não demonstra interesse em desenvolver essas características. O mesmo acontece com Charlize Theron. Embora ela esteja melhor que Hardy e consigamos vislumbrar uma tentativa de conferir maior profundidade à Imperatriz Furiosa, foi apenas uma faísca, pois nem isso é explorado.
Eu cheguei à conclusão de que "Mad Max" é um filme de premissa, que gira em torno de uma ideia sem fazer questão de saber como seria colocar essa ideia em prática. É como se você tivessse toda uma partitura bem na sua frente e resolvesse tocar sempre a mesma nota.
No final das contas, eu não sei quem é Max, Furiosa, Nux, Immortan Joe ou qualquer outro personagem. Nao sei suas histórias e nem o motivo de viverem daquela forma. O filme não me deu nada além de ação muito bem feita com uma explosão de sensações visuais.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraO Tarantino não precisa de apresentação. Quem acompanha, mesmo que minimamente, o mundo do cinema, com certeza sabe quem ele é. Muitas vezes eu sou criticada por alguns amigos por "falar mal" do Quentin. E falo mesmo! Não é, nem de longe, um de meus diretores favoritos. Embora eu reconheça a qualidade com que ele consegue desenvolver um roteiro, além das sacadas presentes em alguns diálogos de seus filmes, o "estilo Tarantino de fazer cinema" não tem tanto apelo para mim. Isso não significa que eu não goste de filmes feitos por ele, não é isso. Eu só não consigo perceber a "genialidade" que muitos insistem em atribuir ao diretor. Dito isso, vamos ao filme:
"Os Oito Odiados" é (pasmem!) o oitavo longa da carreira do diretor. O título não faz referência ao enredo em si, mas ao ego do Tarantino (ops, não consigo controlar). Sim, ao ego dele. O próprio diretor afirma que seus filmes são odiados, mas ele continua ali, incomodando. É uma provocação, do jeitinho que ele gosta. Voltando… "Os Oito…" se passa num período logo após a Guerra Civil norte-americana e narra a história do caçador de recompensas John "The Hangman" Ruth (Kurt Russell) e seu intuito de levar a prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para ser enforcada em uma cidadezinha do frio estado de Wyoming chamada Red Rock. No percurso, Ruth dá carona em sua carruagem (conduzida pelo cocheiro O.B.) a um ex-major do exército da União, e também caçador de recompensas, Marquis Warren (Samuel L Jackson), além do futuro xerife da cidade em questão, Chris Mannix, interpretado por Walton Goggins. Devido à tempestade de neve que está se formando, por segurança, os homens e Daisy precisam parar em uma taverna no meio do caminho, a estalagem da Minnie. Lá, eles encontram Señor Bob (Demián Bichir), um mexicano que cuida do lugar enquanto a dona, Minnie, está viajando; o carrasco de Red Rock - um inglês chamado Oswaldo Mobray (Tim Roth); Joe Gage (Michael Madsen), um "homem comum" que está a caminho de visitar sua mãe em tempo para o Natal e o General Smithers (Bruce Dern) que, ao contrário de Warren, lutou ao lados dos Confederados durante a Guerra. Em outras palavras: uma receita para o desastre.
A partir de agora, não irei falar mais nada sobre o enredo do filme em si. Qualquer coisa que eu disser pode soar como spoiler e ninguém gosta disso, ok? Então, vou levantar alguns pontos que, apenas pelo grupo acima, podem ser inferidos:
1 - Muito tem se falado sobre o filme representar uma crítica à sociedade norte-americana pós-Guerra Civil até os tempos atuais. Não apenas os problemas raciais presentes nos Estados Unidos (e aqui eu me refiro exclusivamente a negros e brancos), como a questão da imigração ilegal de povos latinos, principalmente. Podemos observar que existe, entre os papeis principais, apenas uma mulher - Daisy: ela seria a voz do progressismo na política dos EUA, pregado pelos Democratas. Temos também um inglês (Oswaldo) que zomba dos americanos, fazendo referência à colonização do país, um mexicano (que faz alusão aos problemas de imigração enfrentados no momento) e a velha batalha negro x branco, representada por Smithers e Warren. Para alguns críticos, o resultado desse encontro é nada mais do que uma amostra da natureza belicosa dos Estados Unidos e como, ainda hoje, aquela sociedade pode se mostrar dura e intolerante. **Prestem atenção à porta e digam o que ela representa** ;
2 - Outra abordagem possível é a de uma alegoria religiosa. Cada personagem representaria um símbolo bíblico e, seguindo essa lógica, teríamos os 4 Cavaleiros do Apocalipse, Eva, Adão, Deus, Jesus, os anjos da morte, justiça e misecricórdia, além do próprio diabo. Para que essa explicação fique mais clara, eu realmente teria que contar maiores detalhes sobre a trama. Mas, com o desenrolar dos fatos e as histórias contadas, a natureza dos personagens se revela, fazendo com que possamos chegar também à conclusão religiosa além da social já levantada.
Resumindo: o filme é bom? É e não é.
Existem muitos acertos que "pagam" as quase 3h de projeção, tais como a interpretação insana da Jennifer Jason Leigh, a fotografia do Robert Richardson e a maneira como o Tarantino dirigiu um filme de câmara (majoritariamente rodado em apenas um ambiente, criando uma sensação claustrofóbica).
O que é ruim: o roteiro não é original, mesmo carregado de simbolismos; eu sei que isso é uma "marca" do Tarantino, mas algumas caracterizações dos personagens são exageradas ao extremo, fazendo com que você se distraia às vezes durante as cenas; narrações em off desnecessárias, deslocadas; situações absurdas (eu sei que é filme, tá?), que mesmo sendo num filme (dã), ainda mais um Western, não teriam se desenrolado daquele jeito. E, quase sempre, a criação de um suspense barato nos pequenos conflitos que vão acontecendo, que resultam em desfechos previsíveis, sem muita criatividade.
Coisas que você COM CERTEZA vai encontrar em "Os Oito Odiados": SANGUE, SANGUE, NEVE, LONGOS DIÁLOGOS, SANGUE, NEVE, SANGUE, LONGOS DIÁLOGOS, NEVE.
A Grande Aposta
3.7 1,3KConfesso que não sou lá muito fã desse tipo de comédia norte-americana que fez o nome do diretor do filme, mas acredito que a experiência no gênero contribuiu bastante para o sucesso de "A Grande Aposta".
Ele conseguiu empregar ao filme, que trata da crise de 2008 devido à bolha imobiliária nos Estados Unidos, ares menos densos do que o assunto pede. A edição é eficiente e não faz com que fiquemos entediados diante dos intermináveis jargões de Wall Street, desconhecidos por grande parte do público. Cheio de jump cuts, filmado de maneira errática e quebrando, incessantemente, a quarta parede (aquele momento em que o ator em cena se dirige diretamente ao espectador), "A Grande Aposta" explica, de maneira didática, todos os acontecimentos que levaram à crise e como alguns "esquisitões" do mercado financeiro conseguiram prever o problema e lucrar com isso.
As interpretações de Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling merecem destaque. Bale tem um dom belíssimo: é um dos principais atores de método na atualidade, com um imenso poder de transformação física e emocional. Seu personagem, um investidor de alto risco com Síndrome de Asperger, rouba todas as cenas em que aparece. A caracterização feita por ele apenas reafirma o talento e o profissionalismo desse que, para mim, é um dos principais nomes do cinema no momento. Já Carell também é beneficiado pela veia cômica. Desde "Foxcatcher", o ator vem recebendo críticas positivas pelo seus trabalhos fora das comédias. Mas, aqui, é justamente o comediante que possibilita a Carell uma atuação relevante e crível, já que Baum serve como o pêndulo moral da história, fazendo com que suas neuroses e tragicomicidade sejam ressaltadas constantemente. Por último, Ryan Gosling: primeiro que o bronzeado excessivo e o estilo do cabelo já fazem do personagem uma figura intrigante, com cara de vigarista. Jared Vennett (Gosling) é o oposto de Baum. Vennett é inescrupuloso e não parece muito preocupado com a crise do mercado contanto que ele consiga lucrar com isso. Porém, o charme com que Gosling o interpreta não nos deixar criar uma antipatia com o personagem. Ele é quase aquele tipo vilão por quem, mesmo inconscientemente, nós acabamos torcendo. O Brad Pitt também completa o elenco mas, sinceramente, acho que a participação dele foi mais pelo fato de também ser um dos produtores do filme. Não é ruim, mas não teve nada de brilhante ou memorável.
No mais, "A Grade Aposta" é um filme que merece ser assistido, principalmente se você quer entender os fatos que culminaram na crise que afetou não só os Estados Unidos como também uma parcela considerável de países europeus. Confesso que, no começo, achei que era uma versão ruim de "O Lobo de Wall Street", mas à medida em que os acontecimentos foram se desenvolvendo, o filme "cresceu" em mim. Uma surpresa, de certo.
O Regresso
4.0 3,5K Assista Agora*** Pequenos spoilers ***
Após meses de espera e extremamente curiosa por conta das críticas positivas, finalmente fui conferir "O Regresso". Principalmente devido ao Oscar de melhor diretor em 2015 por "Birdman", a expectativa em torno desse novo projeto do Iñárritu estava elevadíssima. As entrevistas concedidas pelo elenco e equipe técnica, especialmente as declarações de Leonardo DiCaprio (que alegou ter sido o papel mais difícil de toda sua carreira), fizeram com que muitos concedessem ao filme o status de obra-prima antes mesmo de sua estréia.
No entanto, seguem algumas impressões minhas acerca da obra:
*** A fotografia: eu sou uma apaixonada pelo Lubezki. Ele é um dos maiores diretores de fotografia de todos os tempos. E, nesse campo, "O Regresso" é irretocável. 99,9% filmado com luz natural - o que confere uma estética próxima da pintura em algumas cenas -, o filme lembra (e não apenas vagamente) as obras do diretor Terrence Malick, cineasta que conta com a colaboração frequente de Lubezki. E, aqui, eu não acho que seja nenhuma coincidência, mas irei discorrer mais sobre isso quando falar das escolhas de direção empregadas por Iñárritu.
*** Leonardo DiCaprio e Tom Hardy: de fato, a atuação do DiCaprio como Glass é exemplar. Com pouquíssimas falas e tendo que se comunicar por meio de grunhidos em mais da metade da produção, toda a dramaticidade do personagem fica a cargo de suas expressões faciais. Leo não desaponta e, como vem fazendo há muito tempo, entrega mais do que é esperado. Porém, não considero que tenha sido o seu papel mais significativo. Howard Hughes em "O Aviador" ainda é o trabalho mais brilhante da carreira dele. Dito isso, vou falar daquele que, para mim, é o destaque do filme: Hardy, que está irreconhecível como o vilão Fitzgerald, um dos membros da expedição de Glass. A atuação de Hardy é visceral. Até a entonação da voz embolada do ator faz juz à figura sorumbática de Fitzgerald. Enquanto Glass parece sobreviver por causa de sua vingança, Fitzgerald apenas sobrevive. Dissimulado e ganancioso, é possível notar a natureza maliciosa do personagem apenas pelo olhar de Hardy. Não sei se o tão esperado Oscar do DiCaprio vai vir com "O Regresso", mas ficarei surpresa se Hardy não for o vencedor da categoria de melhor ator coadjuvante.
*** A direção: eu me pergunto constantemente qual o motivo do Iñárritu ser considerado por muitos um dos gênios atuais do Cinema. E, depois de "O Regresso", essa pergunta ficou mais latente. Não escondo que o acho mediano e extremamente dependente de seus diretores de fotografia. Foi assim com o Prieto e agora com o Lubezki. Para mim, uma das piores coisas que pode acontecer é assistir ao filme de determinado diretor e achar que estou vendo a realização de outro, pois foi com esse sentimento que saí da projeção. Se não soubesse que a direção foi assinada pelo Iñárritu, não pensaria duas vezes em chutar Malick. Alejandro também é um dos roteiristas, mas, no entanto, não mede esforços para sacrificar o enredo por causa do seu ego artístico. As decisões estéticas do diretor comprometeram o andamento do filme, que conta com infinitas cenas desnecessárias numa pífia tentativa de conferir profundidade filosófica à obra (as visões de Glass, o índio enforcado com a placa "somos todos selvagens", etc). O que seria o ápice da projeção, por exemplo, perdeu muito da força por causa da insistência do realizador em aplicar certas técnicas que funcionam como um elemento de distração (sangue e respiração na lente, que em excesso chegam a prejudicar), não deixando o espectador entrar na cena como deveria. É como se Iñárritu tivesse um voz estrondosa, mas não soubesse muito bem o que dizer. A trilha sonora escolhida pelo diretor também não funciona. Em muitos momentos eu fiquei esperando que uma bateria aparecesse miraculosamente, assim como em "Birdman", já que não há muita distinção entre os dois nesse quesito. Iñárritu também brinca com os planos longos, sequenciais, como já havia feito em seu filme anterior e, devo admitir, a cena em que Glass é atacado pelo urso tira o fôlego de tão bonita. Mas ficamos por aí. Até porque, esse recurso de plano-sequência é mais característico de Lubezki que do próprio diretor.
*** Balanço geral: indicado a 12 prêmios da Academia, é muito provável que leve boa parte das estatuetas para casa, inclusive Fotografia (o que faria com que Lubezki saísse vencedor da categoria pelo terceiro ano consecutivo). Não acho que seja o melhor filme do ano e muito menos o melhor entre os que estão concorrendo. Vale a pena pelas atuações e pelo trabalho do Lubezki, sem dúvidas. Mas, em termos de direção, é a obra de um diretor perdido em seus próprios devaneios de grandiosidade.
Ida
3.7 439Como já comentado várias vezes, a Fotografia do filme é, de fato, belíssima. Porém, não foge muito ao estilo Alemanha-Leste Europeu no quesito filmes de Arte. Mesmo funcionando bem dentro do roteiro e sendo primorosa, não trouxe inovação alguma em termos técnicos. Mas nem por isso temos que deixar de admirar o que é agradável aos olhos e reconhecer um trabalho feito de forma exemplar, não é mesmo?
No mais, achei o desenrolar da narrativa moroso, sem trazer muitos elementos de aproximação para com o espectador, exceto os que por algum motivo (histórico, religioso, etc) consigam se relacionar. Embora ache que as premiações às quais foi indicado tenham sido merecidas, "Leviatã" é um filme mais envolvente e, para mim, acabou se sobressaindo em comparação ao "Ida".
Vício Inerente
3.5 554 Assista Agora"Vício Inerente" é o tipo de filme que deixa um fã meio dividido quanto ao trabalho de um de seus diretores favoritos (pelo menos no meu caso). Além de não ser uma realização clássica do PTA (mesmo contendo características inerentes ao diretor que conseguimos identificar prontamente), acredito que ele tentou ao máximo se desapegar do seu estilo para adentrar no universo de paranóia e surrealismo concebido pelo Pynchon. O PTA, sempre tão centrado e racional, resolveu "chutar o balde" e se arriscar de maneira tal que, só alguém muito seguro do próprio potencial poderia fazer.
É a aí onde entra a "confusão" do fã, que foi assistir à obra ávido por genialidades como as já vistas em "Magnólia" e "Sangue Negro" e se deparou com um outro tipo de perfeição. Porque o PTA continuou sendo um perfeccionista, mas de forma meio desconexa e inesperada. Para mim, mais do que as 2h30 de psicodelia abstrata contida no filme, o que mais me deixou "pirada" foi tentar reconhecer um dos caras que mais admiro no cinema atualmente, e quando parecia que ele ia se mostrar por inteiro, tudo mudava e surgia um outro PTA diante dos meus olhos. Não sei se isso é bom ou ruim (falando como fã que quer sempre mais do mesmo, ainda mais quando se trata de um mesmo excelente), mas imagino que, de vez em quando, é bom dar esse tipo de nó na cabeça dos outros, pois aguça a curiosidade alheia e faz com que seu trabalho não se torne previsível e enfadonho.
E por falar em enfado, esse texto já está bem maior do que eu esperava. Mas os filmes do Paul fazem isso comigo, impossível evitar.
Só para concluir: para aqueles que não conhecem o Pynchon, pode haver realmente um pouco de dificuldade para assimilar o filme e até gostar dele. Muitos vão dizer que foi uma "bola fora" do PTA e que ele começou a "perder" o toque. Porém, para os que gostam das loucuras do escritor norte-americano, ver tudo aquilo traduzido em imagens pode ser um exercício interessantíssimo e divertido.
Almas Gêmeas
3.8 438Trabalho interessante do Peter Jackson. Não tem muita relação nem com seus filmes trashs do começo da carreira e nem com as megaproduções nas quais costuma se envolver agora.
Trash: Náusea Total
3.6 242 Assista AgoraSensacional!!! Volta, Peter Jackson!!!
Fome Animal
3.9 877Esperando até hoje que o Peter Jackson volte da Terra Média e retorne à velha forma de "Braindead" e "Bad Taste".
Os Infiltrados
4.2 1,7K Assista AgoraGosto muitíssimo, mas não está entre os meus favoritos do Scorsese.
Touro Indomável
4.2 708 Assista AgoraEu não tenho nem palavras pra dizer o que acho de "Touro Indomável". Aliás, acho que tudo o que precisava ser dito a respeito já foi feito nos últimos 34 anos. A única coisa que não entendo é como alguém consegue não gostar.
Barry Lyndon
4.2 400 Assista Agora"2001" e "Laranja Mecânica" que me desculpem, mas se eu tivesse que nomear a grande obra-prima do Kubrick, sem dúvidas seria "Barry Lyndon".
Ilha do Medo
4.2 4,0K Assista AgoraO roteiro pode não ser dos melhores já desenvolvidos pelo Marty, mas a direção é exemplar. Mais do que tudo, um exercício de estilo do Mestre.
A Última Tentação de Cristo
4.0 296 Assista AgoraAaaah, a humanidade...
Os Miseráveis
4.1 4,2K Assista AgoraEspero que eu não seja a única que tenha achado esse filme horrível.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain
4.3 5,0K Assista AgoraQuando a primeira palavra que vem à cabeça ao pensar em um filme é "fofinho", eu já começo a me questionar se ele é bom de verdade ou se estou sendo influenciada pela meiguice mesmo. De qualquer forma, o maior mérito de "Amélie", para mim, é a fotografia. Essa sim, incontestavelmente belíssima.
Titanic
4.0 4,6K Assista AgoraQuem não chorou ao som de "My Heart Will Go On" ou imitou a Celine Dion toda vez que o clipe passava no Top 10 da MTV que atire o primeiro pedaço de iceberg.
À Prova de Morte
3.9 2,0K Assista AgoraTodo o pedantismo e verborragia do Tarantino elevados à milésima potência.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista AgoraIndependentemente de qualquer que seja a temática do filme e a relevância das críticas nele contidas, é impossível dizer que a direção não é eficiente e impecável.
Sombras da Noite
3.1 4,0K Assista AgoraEu espero ansiosamente pelo dia em que o Tim Burton vai me surpreender e fazer um bom filme fora da zona de conforto dele.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraAo assistir a filmes como "Réquiem para um Sonho" e "Pi", eu fico extremamente triste em saber que o Aronofsky é o mesmo cara que dirigiu "Noé".
Pi
3.8 768 Assista AgoraUm nó na cabeça. Tipo de filme pra quem gosta de exercitar a mente.