Evitei este filme por anos por já ter visto qualquer cena na infância zapeando na TV e não ter me interessado na época. Hoje, vendo-o figurar em algumas das listas da crítica especializada de melhores obras do gênero, resolvi dar uma nova chance. Boa surpresa! É imediata a associação de The Fly com o clássico literário A Metamorfose de Franz Kafka logo que a premissa do longa começa a se estabelecer. O filme possui todos os bons elementos do cinema de horror dos anos 80: o flerte com a ficção-científica, a escatologia visual, metáforas sociais, entretenimento e a direção competente do esquisitão David Cronenberg. Vale a pena a conferida!
Apesar de ter sido lançado em 1990, It carrega muitas das particularidades do cinema de horror dos anos 70 e 80, tanto no que se refere às características visuais, quanto por fazer parte da febre de adaptações de obras do Stephen King vivida na época (Carrie (1976), The Shining (1980), The Dead Zone (1983), Christine (1983), Children of the Corn (1984), Pet Sematary (1989), apenas para citar alguns). Para desfrutar da experiência de assistir a filmes de terror dessas décadas, é fundamental que o espectador de hoje entenda as regras e princípios cinematográficos que eram tendência no período em que o filme foi feito. It, à propósito, tem uma série de clichês na caracterização de seus personagens que atualmente são percebidos como desagradáveis (como por exemplo, o arquétipo recorrente do garoto que sofre bullying, a gangue de bad boys, o asmático com sua inseparável 'bombinha', etc), além das soluções fáceis encontradas pelo roteiro e a escolha bizarra de alguns dos efeitos visuais. Ou seja, antes de dar o play, considere ter uma boa dose de parcimônia e se lembrar que os elementos do gênero que faziam as pessoas terem medo em 1990 não funcionam com o público de 2017.
A Most Violent Year é o mais elegante filme de gângster desde American Gangster (2007). O longa-metragem de J. C. Chandor se sustenta principalmente nas atuações de Oscar Isaac e Jessica Chastain, ambos excelentes em seus papéis. O personagem de Isaac é manifestamente inspirado em Michael Corleone (The Godfather, 1972), desde seu vestuário até o impasse moral em que o protagonista se encontra enquanto tenta viver seu american dream. Já Anna, a esposa temperamental interpretada por Chastain, — muito diferente da Kay Adams — é a mola propulsora para a resolução dos conflitos da trama e, graças a sua presença marcante, temos a sensação de que a atriz tem mais tempo em cena do que realmente tem. A fotografia assinada por Bradford Young é também deslumbrante, alternando entre o branco das cenas externas e as sombras nos ambientes internos. A Most Violent Year, entretanto, pode ter dificuldade de manter atento o público menos paciente, mas se você gosta de mafiosos usando ternos alinhados, uma direção atmosférica, um roteiro amarradinho e formidavelmente atuado, então esse filme é pra você.
Silence é um curioso retrato da perseguição aos cristãos no Japão do séc. XVII, interessante quando se arrisca a ser filosófico e recheado da pessoalidade do diretor Martin Scorsese. O longa possui todas as virtudes técnicas que já esperamos de seu realizador, porém, quando erra, erra em um quesito importante: o ritmo. É lento, lamurioso, estendido demais em algumas cenas, e nos faz esperar pela aparição do personagem do Liam Neeson sem que nos sintamos recompensados por toda a espera. Os pontos altos de Silence ficam com o design de produção, a fotografia, a vilania na atuação de Issei Ogata (o inquisidor Inoue) e com a boa mão de Scorsese para as cenas mais violentas.
Interessante ver os irmãos Coen e Steven Spielberg trabalhando juntos! O longa acerta em diversos aspectos, mas merece destaque as conversações entre os personagens, que ajudam — e muito — a manter o ritmo do filme e a curiosidade do espectador. Do mais, fico com a impressão de que foi justamente o dedo de Ethan e Joel Coen, junto com Charman, que impediu que Ponte dos Espiões fosse mais um filme meloso e aquém das expectativas como foi Cavalo de Guerra. Uma pena que Spielberg não resista a sua tendência de tentar criar heróis americanos...
Revi o filme depois de ler o livro de Mario Puzo e a experiência cinematográfica foi ainda mais enriquecedora. Coppola não só fez uma adaptação coesa e enxuta para as telonas, como também acrescentou positivamente à obra original. (Michael, por exemplo, é mais interessante e imprevisível no longa do que nas repetitivas descrições do livro...). O filme é um desfile de personagens ricos e atuações afinadas de todo o cast, sem exceções. E nesse universo incontestavelmente masculino de ternos alinhados, armas e traições que é a máfia, destaca-se Kay Adams, personagem da carismática Diane Keaton, que vai da jovialidade à desesperança conforme se aproxima da família Corleone. Enfim, O Poderoso Chefão é a obra máxima do subgênero gângster. Oferta irrecusável!
Setenta anos após sua primeira exibição, Casablanca ainda emociona espectadores mais sensíveis e te coloca a se perguntar “por que não vi antes?”. Seja pelo cinismo do anti-herói de Humphrey Bogart (charmosíssimo, uma lenda do cinema!), seja pelos diálogos e frases memoráveis; por ter como plano de fundo a Segunda Guerra Mundial enquanto ela ainda estava acontecendo (1939-1945), ou por optar por um final não esperado para os padrões hollywoodianos dos anos 40, são muitos os motivos que fazem deste longa-metragem indispensável para qualquer cinéfilo interessado nos bons exemplares da Hollywood clássica. De mais a mais, Casablanca envelheceu muito bem e não é difícil entender por que é uma das obras fílmicas mais amadas até hoje.
Li a biografia escrita por Fernando Morais (da qual foi extraído o argumento de Olga) um pouco antes do lançamento do filme. A expectativa era grande! Com ares de superprodução, o longa-metragem não decepciona na concepção visual: ambientação, figurinos, cenários, fotografia — a direção de arte é impecável. Contudo, acredito que a adaptação cinematográfica da história de Olga Benário foi confiada às mãos erradas. O diretor Jayme Monjardim utiliza-se de enquadramentos comuns em telenovelas, mas que não funcionam no Cinema. Além do excesso de closes, durante a primeira parte do filme o roteiro opta por privilegiar o romance da biografada com o comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes, resultando em pieguice e dramalhão. Apesar dos olhos expressivos da Camila Morgado, as atuações são forçadas e as falas mecanicamente reproduzidas.
"Olga Benário Prestes: um presente de Vargas para Hitler".
Nora Ephron dirigiu um filme bastante gracioso que transita entre passado e presente, utilizando-se acertadamente de rimas visuais para entrelaçar a história dessas duas mulheres reais que se apropriaram da culinária como forma de conhecer a si mesmas — ambas apoiadas por maridos amorosos em seus projetos pessoais. O destaque indiscutível do longa é a (sempre) ótima Meryl Streep, que aqui aparece grandalhona e com fonética engraçada para compor sua personagem. Julie & Julia é um ‘food movie’ que abre o apetite!
Não foi à toa que “Dona Flor e Seus Dois Maridos” levou milhões de espectadores às salas de cinema brasileiras em 1976 e por 34 anos manteve-se recordista de público pelas bandas de cá. Bruno Barreto conseguiu imprimir nessa adaptação cinematográfica toda a brasilidade e malemolência do universo literário de Jorge Amado, bem como José Wilker na construção do malandro Vadinho — provavelmente seu personagem mais icônico nas telonas. A fita também chama atenção pelo tratamento espontâneo e bem-humorado dado ao sexo e à nudez. Há um rompimento com o paradigma vigente sobre o feminino até então (talvez reflexo da Revolução Sexual iniciada nos anos 60?). Flor, embora seja uma dona de casa considerada “mulher correta” pela vizinhança, está longe de ser uma figura casta; tem a posse de sua sexualidade e a exerce como bem entende. Bônus: Chico Buarque na trilha sonora.
— “Vadiagem é coisa de Deus. Foi ele mesmo que mandou.”
“E aí, Meu Irmão, Cadê Você?” é, ao modo dos Coen, uma comédia inteligente e divertida. Personagens excêntricos, números musicais e várias referências à cultura em geral (a Odisséia de Homero, a Ku Klux Klan, o guitarrista Robert Johnson etc.) fazem parte da trama e enriquecem a narrativa. O filme ainda conta com um trio principal fantástico, composto por John Turturro, Tim Blake Nelson e George Clooney. Este último exercitando sua veia cômica. Quanto aos aspectos técnicos, se destacam a fotografia em tom sépia e a trilha sonora feita de canções gostosas de ouvir.
“Tropa de Elite” é um marco do subgênero “filmes de favela” por retratar a violência e a criminalidade do ponto de vista dos policiais, desorganizando, desse modo, o paradigma do bandido romantizado que frequentemente aparece nas produções brasileiras, e, principalmente, por despertar reações interessantes na sociedade. Apesar de seus personagens centrais serem representações de profissionais honestos e comprometidos, o filme não se omite e insere uma discussão (com menos espaço na trama, mas ainda assim relevante) sobre a banda podre dentro da própria organização policial. Wagner Moura personifica seu protagonista de maneira extraordinária, dando vida a uma das figuras mais marcantes do Cinema tupiniquim. E embora não reflita necessariamente a minha opinião sobre o personagem, não é difícil entender porque o público — tão carente de heróis nacionais — conferiu ao incorruptível Cap. Nascimento o status de ícone pop.
"Deus e o Diabo na Terra do Sol" é, inegavelmente, o mais célebre representante do Cinema Novo, uma vez que é marco de um movimento feito por brasileiros — e para brasileiros —, num contexto em que as salas de cinema tupiniquins eram docilizadas por pornochanchadas. Avessa à alienação, a fita de Glauber Rocha trouxe alguma consciência cultural e identidade estética, além de não poupar críticas à realidade do homem comum. Sua importância é indiscutível. No entanto, particularmente falando, e justamente por suas características mais próprias, "Deus e o Diabo na Terra do Sol" não faz o meu tipo de filme. Me refiro às encenações extremamente teatrais; ao som ruidoso e ao fato de algumas cenas se prolongarem mais do que o recomendável. Ademais, se comparado a "O Pagador de Promessas", lançado no mesmo período (1962), o filme de Anselmo Duarte me parece tecnicamente superior. A boa surpresa fica por conta da música de cordel — que funciona como narradora da história do vaqueiro Manuel — misturada à erudição de um certo Heitor Villa-Lobos e todo aquele regionalismo apresentado de forma quase poética.
Me apaixonei à primeira vista por Rebecca Hall em “Vicky Cristina Barcelona”, e neste “O Despertar” ela veio confirmar que nasceu para interpretar mulheres sóbrias e comedidas. Florence Cathcart, uma “mulher dos estudos”, como é referenciada em algumas passagens do filme, é o tipo certo de personagem para a atriz. Além da ótima escalação do elenco, o longa-metragem do cineasta estreante, Nick Murphy, ganha pontos por saber usar os elementos do subgênero propriedade-assombrada-por-fantasmas de forma favorável. O contexto em que se passa a história não poderia ser mais propício: os anos posteriores ao fim da Primeira Guerra. Somados a isso, destacam-se a coerência (aqui as crianças se comportam como crianças, ao contrário de filmes como “O Sexto Sentido”, em que o garoto-protagonista age como adulto); a fotografia monocromática e a competente direção de arte possuem seu charme. O desenvolvimento é bom na maior parte da projeção, porém, no terço final o roteiro se perde numa solução/argumento insatisfatório e demasiadamente explicativo. Apesar do desfecho fraco, “O Despertar” tem momentos memoráveis, como a criativa cena da casinha de bonecas.
“Cães de Aluguel” é um ótimo cartão de visitas do que viria a ser o Cinema do Tarantino. Com mais acertos do que erros, o primeiro filme oficial assinado pelo diretor surpreende pela excelente montagem (que trabalha a favor da narrativa não-cronológica empregada), edição, enquadramentos e a trilha sonora setentista de bom gosto. Também merece destaque o desenvolvimento psicológico dos personagens, cada um com sua importância; e as atuações primorosas de Steve Buscemi, Harvey Keitel, Tim Roth e Michael Madsen. E além de todo o sangue e violência estilizada, “Cães de Aluguel” ainda proporciona momentos impagáveis de humor, como na seqüência inicial em que um grupo de criminosos divaga sobre a letra de “Like a Virgin”, a música da Madonna.
Parecia promissor a ideia de conferir uma releitura mais moderna e obscura à "Chapeuzinho Vermelho", o conto clássico que ficou famoso na versão escrita pelos irmãos Grimm. No entanto, “A Garota da Capa Vermelha” desperdiça o potencial da história com erros bobos. Há um esforço excessivo para que todos os personagens pareçam suspeitos; flashbacks para lembrar-nos do que acabamos de ver minutos atrás, demonstrando a falta de confiança da direção; diálogos melodramáticos e atuações canastronas da maior parte do elenco (Amanda Seyfried não decepciona, mas já ficou provado que a atriz se sai infinitamente melhor nas mãos de diretores mais competentes). É perceptível também as semelhanças com “Crepúsculo”, Catherine Hardwicke usa os mesmos planos já vistos em seu trabalho anterior.
Muito embora musical não seja meu gênero cinematográfico preferido, “Minha Bela Dama” conseguiu me deixar particularmente encantada. Trata-se de uma releitura do conto da Cinderela, estrelado por uma Audrey Hepburn de voz estridente que vai se transformando pouco a pouco numa legítima lady. Nesse processo, ela conta com a ajuda do Professor Higgins, personagem fabulosamente interpretado por Rex Harrison. A química entre Audrey e Harrison é justamente o fator que faz “Minha Bela Dama” funcionar tão bem. Outro ponto que vem a somar é a ambigüidade percebida na relação entre Eliza e Higgins, que nunca fica suficientemente clara, assim como a preferência sexual dúbia do professor. E o machismo ainda se faz presente, apesar do longa ter sido concebido numa década conhecida pela Revolução Sexual. Minhas ressalvas, no que diz respeito à execução, ficam por conta de algumas canções que entram no momento certo, mas não saem quando deveriam, e outras seqüências (como a que antecede o casamento do boêmio Sr. Doolittle) que poderiam ser cortadas a fim de diminuir o tempo de duração do filme.
Pra alguém que conhece pouco de The Beatles e menos ainda da vida particular de John Lennon, eu guardava uma imagem pacifista e intelectual do astro que já chegou a se anunciar mais famoso do que Jesus Cristo. Entretanto, o filme de Sam Taylor Wood retrata Lennon como um adolescente rebelde, problemático e por vezes arrogante. Além dessa surpresa, “O Garoto de Liverpool” toma como fio condutor a disputa entre a mãe e a tia pelo amor do garoto; mostra John aprendendo seus primeiros acordes num banjo e como foi influenciado pelo rock and roll de Elvis Presley, mas nada se fala de Beatles (o nome da banda nem sequer é citado em toda a projeção) – o que também é surpreendente. Aaron Johnson é convincente no papel principal, embora não tenha muitas semelhanças físicas com o músico, mas o destaque absoluto do longa é Kristin Scott Thomas, a atriz entende perfeitamente as nuances de sua personagem. De resto, vale conferir a trilha sonora, que é uma delícia.
É irônico que “Barton Fink – Delírios de Hollywood” tenha sido concebido justamente num período de bloqueio criativo dos irmãos Coen, quando estes tentavam concluir, sem sucesso, o roteiro de “Ajuste Final”. “Barton Fink” é, sobretudo, uma crítica à indústria cinematográfica hollywoodiana; um filme que dialoga sobre seu próprio meio, o Cinema. A dupla ainda preenche o roteiro com vários elementos simbólicos e interpretativos, como a cena emblemática que encerra o longa. A direção de arte é fantástica, reconstituindo os charmosos interiores dos imóveis da época (destaque para o quarto de hotel onde se passa a maior parte da trama). E quanto ao elenco, John Goodman é muitíssimo simpático, mas é o outro John (Turturro) que apresenta uma performance icônica, talvez a mais importante de sua carreira.
Poucas vezes um diretor conseguiu apresentar tão bem a personalidade de sua protagonista logo na primeira seqüência de imagens, como fez Blake Edwards quando posicionou a câmera de modo a acompanhar Audrey Hepburn andando pelas ruas da Nova York dos anos 60 e tomando seu café da manhã enquanto admira a vitrine da loja Tiffany’s – joalheria que representa a vida luxuosa que sua personagem, a jovial Holly, sonha em ter. Holly é uma bagunça; uma moça inconseqüente e de ar ingênuo, embora desempenhe uma profissão moralmente pré-julgada. Edwards e o roteirista escalado para fazer a adaptação do romance homônimo no qual o filme foi inspirado, George Axelrod, parecem estar pouco interessados em criar polêmicas, uma vez que cuidaram de amenizar os detalhes menos glamourosos escritos por Truman Capote. Voltando à personagem, Audrey empresta sua habitual elegância para Holly, e por conta disso há quem diga que a atriz, justamente por ser tão classuda, não convence como prostituta. Discordo. Acho preferível que a composição da personagem esteja fora dos padrões já concebidos sobre como se veste ou como se comporta uma “acompanhante” do que servir apenas para reproduzir estereótipos. A história de “Bonequinha de Luxo” é um tanto morna, mas o que faz verdadeiramente um filme se tornar clássico é o confronto aos costumes ou ao pensamento coletivo dominante na época em que ele foi registrado. Desse modo, este filme não só influenciou um modelo de comportamento para as mulheres contemporâneas à Holly, como também ditou um novo padrão de beleza (a magreza de Audrey Hepburn) e moda (o “pretinho básico”, copiado até hoje). Marilyn Monroe deve ter se arrependido até o último fio de cabelo por não ter aceitado o papel.
Apesar de ser uma das obras menos lembradas da filmografia dos irmãos Coen, “A Roda da Fortuna” é um filme agradável por vários aspectos. Convidativo pela charmosa reconstituição da Nova York dos anos 50, assim como pela presença do elemento fantástico/mágico, a dupla de diretores, juntamente com Sam Raimi, apresenta um texto redondo e conduz a narrativa com a propriedade que lhes é habitual. O roteiro consegue alimentar a expectativa e a curiosidade do espectador acerca do que se trata a invenção do ingênuo Norville (e nesse ponto, a sequência em que um garotinho se depara com o invento e seu posterior sucesso de vendas é um dos melhores momentos do filme). Minhas ressalvas ficam por conta dos personagens demasiadamente exagerados, e as atuações que dão a impressão de estarem sempre acima do tom.
“Imagine Eu & Você” agrada, principalmente, por sua abordagem descontraída da sexualidade, bem como pela naturalidade com que a história flui. Sem carregar nos estereótipos ou parecer fetichista, – como quase sempre acontece em filmes de temática gay – o longa dirigido por Ol Parker funciona bem na maior parte da projeção. Os deslizes ficam por conta do roteiro, que insere alguns acasos forçados na trama (como, por exemplo, a sequencia em que as duas garotas se encontram no supermercado). Quanto ao elenco, Lena Headey e Piper Perabo estão lindas, mas é o carismático Matthew Goode o destaque dessa adorável comédia romântica.
Interessante ver grandes personalidades como Woody Allen, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Alan Parker, Malcolm McDowell, Jack Nicholson e outros colaboradores falando sobre o homem e o profissional que foi Stanley Kubrick. O documentário apresenta um panorama do processo de elaboração de cada um dos longas-metragens da carreira do diretor, arquivos de bastidores, curiosidades, e até mesmo os projetos que por uma desventura ou outra foram engavetados. Sabiamente, Jan Harlan pouco se preocupa com a vida pessoal do cineasta, mas não deixa de expor as críticas da mídia na época do lançamento de alguns trabalhos do Kubrick, bem como a ameaça que seus filmes representavam para a opinião pública. “Stanley Kubrick – Imagens de Uma Vida” é simples e está longe de ser um documentário excepcional, mas consegue reunir um bom material sobre o aclamado diretor.
Amor Por Direito
4.0 459 Assista AgoraAdoro as duas atrizes individualmente, mas Julianne Moore e Ellen Page representando um casal tem tanta química quanto um placebo...
A Mosca
3.7 1,0KEvitei este filme por anos por já ter visto qualquer cena na infância zapeando na TV e não ter me interessado na época. Hoje, vendo-o figurar em algumas das listas da crítica especializada de melhores obras do gênero, resolvi dar uma nova chance. Boa surpresa! É imediata a associação de The Fly com o clássico literário A Metamorfose de Franz Kafka logo que a premissa do longa começa a se estabelecer. O filme possui todos os bons elementos do cinema de horror dos anos 80: o flerte com a ficção-científica, a escatologia visual, metáforas sociais, entretenimento e a direção competente do esquisitão David Cronenberg. Vale a pena a conferida!
It: Uma Obra Prima do Medo
3.5 1,3KApesar de ter sido lançado em 1990, It carrega muitas das particularidades do cinema de horror dos anos 70 e 80, tanto no que se refere às características visuais, quanto por fazer parte da febre de adaptações de obras do Stephen King vivida na época (Carrie (1976), The Shining (1980), The Dead Zone (1983), Christine (1983), Children of the Corn (1984), Pet Sematary (1989), apenas para citar alguns). Para desfrutar da experiência de assistir a filmes de terror dessas décadas, é fundamental que o espectador de hoje entenda as regras e princípios cinematográficos que eram tendência no período em que o filme foi feito. It, à propósito, tem uma série de clichês na caracterização de seus personagens que atualmente são percebidos como desagradáveis (como por exemplo, o arquétipo recorrente do garoto que sofre bullying, a gangue de bad boys, o asmático com sua inseparável 'bombinha', etc), além das soluções fáceis encontradas pelo roteiro e a escolha bizarra de alguns dos efeitos visuais. Ou seja, antes de dar o play, considere ter uma boa dose de parcimônia e se lembrar que os elementos do gênero que faziam as pessoas terem medo em 1990 não funcionam com o público de 2017.
O Ano Mais Violento
3.5 285A Most Violent Year é o mais elegante filme de gângster desde American Gangster (2007). O longa-metragem de J. C. Chandor se sustenta principalmente nas atuações de Oscar Isaac e Jessica Chastain, ambos excelentes em seus papéis. O personagem de Isaac é manifestamente inspirado em Michael Corleone (The Godfather, 1972), desde seu vestuário até o impasse moral em que o protagonista se encontra enquanto tenta viver seu american dream. Já Anna, a esposa temperamental interpretada por Chastain, — muito diferente da Kay Adams — é a mola propulsora para a resolução dos conflitos da trama e, graças a sua presença marcante, temos a sensação de que a atriz tem mais tempo em cena do que realmente tem. A fotografia assinada por Bradford Young é também deslumbrante, alternando entre o branco das cenas externas e as sombras nos ambientes internos. A Most Violent Year, entretanto, pode ter dificuldade de manter atento o público menos paciente, mas se você gosta de mafiosos usando ternos alinhados, uma direção atmosférica, um roteiro amarradinho e formidavelmente atuado, então esse filme é pra você.
Silêncio
3.8 576Silence é um curioso retrato da perseguição aos cristãos no Japão do séc. XVII, interessante quando se arrisca a ser filosófico e recheado da pessoalidade do diretor Martin Scorsese. O longa possui todas as virtudes técnicas que já esperamos de seu realizador, porém, quando erra, erra em um quesito importante: o ritmo. É lento, lamurioso, estendido demais em algumas cenas, e nos faz esperar pela aparição do personagem do Liam Neeson sem que nos sintamos recompensados por toda a espera. Os pontos altos de Silence ficam com o design de produção, a fotografia, a vilania na atuação de Issei Ogata (o inquisidor Inoue) e com a boa mão de Scorsese para as cenas mais violentas.
Ponte dos Espiões
3.7 694Interessante ver os irmãos Coen e Steven Spielberg trabalhando juntos! O longa acerta em diversos aspectos, mas merece destaque as conversações entre os personagens, que ajudam — e muito — a manter o ritmo do filme e a curiosidade do espectador. Do mais, fico com a impressão de que foi justamente o dedo de Ethan e Joel Coen, junto com Charman, que impediu que Ponte dos Espiões fosse mais um filme meloso e aquém das expectativas como foi Cavalo de Guerra. Uma pena que Spielberg não resista a sua tendência de tentar criar heróis americanos...
O Poderoso Chefão
4.7 2,9K Assista AgoraRevi o filme depois de ler o livro de Mario Puzo e a experiência cinematográfica foi ainda mais enriquecedora. Coppola não só fez uma adaptação coesa e enxuta para as telonas, como também acrescentou positivamente à obra original. (Michael, por exemplo, é mais interessante e imprevisível no longa do que nas repetitivas descrições do livro...). O filme é um desfile de personagens ricos e atuações afinadas de todo o cast, sem exceções. E nesse universo incontestavelmente masculino de ternos alinhados, armas e traições que é a máfia, destaca-se Kay Adams, personagem da carismática Diane Keaton, que vai da jovialidade à desesperança conforme se aproxima da família Corleone. Enfim, O Poderoso Chefão é a obra máxima do subgênero gângster. Oferta irrecusável!
Casablanca
4.3 1,0K Assista AgoraSetenta anos após sua primeira exibição, Casablanca ainda emociona espectadores mais sensíveis e te coloca a se perguntar “por que não vi antes?”. Seja pelo cinismo do anti-herói de Humphrey Bogart (charmosíssimo, uma lenda do cinema!), seja pelos diálogos e frases memoráveis; por ter como plano de fundo a Segunda Guerra Mundial enquanto ela ainda estava acontecendo (1939-1945), ou por optar por um final não esperado para os padrões hollywoodianos dos anos 40, são muitos os motivos que fazem deste longa-metragem indispensável para qualquer cinéfilo interessado nos bons exemplares da Hollywood clássica. De mais a mais, Casablanca envelheceu muito bem e não é difícil entender por que é uma das obras fílmicas mais amadas até hoje.
Olga
3.8 1,3K Assista AgoraLi a biografia escrita por Fernando Morais (da qual foi extraído o argumento de Olga) um pouco antes do lançamento do filme. A expectativa era grande! Com ares de superprodução, o longa-metragem não decepciona na concepção visual: ambientação, figurinos, cenários, fotografia — a direção de arte é impecável. Contudo, acredito que a adaptação cinematográfica da história de Olga Benário foi confiada às mãos erradas. O diretor Jayme Monjardim utiliza-se de enquadramentos comuns em telenovelas, mas que não funcionam no Cinema. Além do excesso de closes, durante a primeira parte do filme o roteiro opta por privilegiar o romance da biografada com o comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes, resultando em pieguice e dramalhão. Apesar dos olhos expressivos da Camila Morgado, as atuações são forçadas e as falas mecanicamente reproduzidas.
"Olga Benário Prestes: um presente de Vargas para Hitler".
Julie & Julia
3.6 1,1K Assista AgoraNora Ephron dirigiu um filme bastante gracioso que transita entre passado e presente, utilizando-se acertadamente de rimas visuais para entrelaçar a história dessas duas mulheres reais que se apropriaram da culinária como forma de conhecer a si mesmas — ambas apoiadas por maridos amorosos em seus projetos pessoais. O destaque indiscutível do longa é a (sempre) ótima Meryl Streep, que aqui aparece grandalhona e com fonética engraçada para compor sua personagem. Julie & Julia é um ‘food movie’ que abre o apetite!
Dona Flor e Seus Dois Maridos
3.5 171 Assista AgoraNão foi à toa que “Dona Flor e Seus Dois Maridos” levou milhões de espectadores às salas de cinema brasileiras em 1976 e por 34 anos manteve-se recordista de público pelas bandas de cá. Bruno Barreto conseguiu imprimir nessa adaptação cinematográfica toda a brasilidade e malemolência do universo literário de Jorge Amado, bem como José Wilker na construção do malandro Vadinho — provavelmente seu personagem mais icônico nas telonas. A fita também chama atenção pelo tratamento espontâneo e bem-humorado dado ao sexo e à nudez. Há um rompimento com o paradigma vigente sobre o feminino até então (talvez reflexo da Revolução Sexual iniciada nos anos 60?). Flor, embora seja uma dona de casa considerada “mulher correta” pela vizinhança, está longe de ser uma figura casta; tem a posse de sua sexualidade e a exerce como bem entende. Bônus: Chico Buarque na trilha sonora.
— “Vadiagem é coisa de Deus. Foi ele mesmo que mandou.”
E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?
3.9 371 Assista Agora“E aí, Meu Irmão, Cadê Você?” é, ao modo dos Coen, uma comédia inteligente e divertida. Personagens excêntricos, números musicais e várias referências à cultura em geral (a Odisséia de Homero, a Ku Klux Klan, o guitarrista Robert Johnson etc.) fazem parte da trama e enriquecem a narrativa. O filme ainda conta com um trio principal fantástico, composto por John Turturro, Tim Blake Nelson e George Clooney. Este último exercitando sua veia cômica. Quanto aos aspectos técnicos, se destacam a fotografia em tom sépia e a trilha sonora feita de canções gostosas de ouvir.
Tropa de Elite
4.0 1,8K Assista Agora“Tropa de Elite” é um marco do subgênero “filmes de favela” por retratar a violência e a criminalidade do ponto de vista dos policiais, desorganizando, desse modo, o paradigma do bandido romantizado que frequentemente aparece nas produções brasileiras, e, principalmente, por despertar reações interessantes na sociedade. Apesar de seus personagens centrais serem representações de profissionais honestos e comprometidos, o filme não se omite e insere uma discussão (com menos espaço na trama, mas ainda assim relevante) sobre a banda podre dentro da própria organização policial. Wagner Moura personifica seu protagonista de maneira extraordinária, dando vida a uma das figuras mais marcantes do Cinema tupiniquim. E embora não reflita necessariamente a minha opinião sobre o personagem, não é difícil entender porque o público — tão carente de heróis nacionais — conferiu ao incorruptível Cap. Nascimento o status de ícone pop.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 426 Assista Agora"Deus e o Diabo na Terra do Sol" é, inegavelmente, o mais célebre representante do Cinema Novo, uma vez que é marco de um movimento feito por brasileiros — e para brasileiros —, num contexto em que as salas de cinema tupiniquins eram docilizadas por pornochanchadas. Avessa à alienação, a fita de Glauber Rocha trouxe alguma consciência cultural e identidade estética, além de não poupar críticas à realidade do homem comum. Sua importância é indiscutível. No entanto, particularmente falando, e justamente por suas características mais próprias, "Deus e o Diabo na Terra do Sol" não faz o meu tipo de filme. Me refiro às encenações extremamente teatrais; ao som ruidoso e ao fato de algumas cenas se prolongarem mais do que o recomendável. Ademais, se comparado a "O Pagador de Promessas", lançado no mesmo período (1962), o filme de Anselmo Duarte me parece tecnicamente superior. A boa surpresa fica por conta da música de cordel — que funciona como narradora da história do vaqueiro Manuel — misturada à erudição de um certo Heitor Villa-Lobos e todo aquele regionalismo apresentado de forma quase poética.
O Despertar
3.4 914 Assista AgoraMe apaixonei à primeira vista por Rebecca Hall em “Vicky Cristina Barcelona”, e neste “O Despertar” ela veio confirmar que nasceu para interpretar mulheres sóbrias e comedidas. Florence Cathcart, uma “mulher dos estudos”, como é referenciada em algumas passagens do filme, é o tipo certo de personagem para a atriz. Além da ótima escalação do elenco, o longa-metragem do cineasta estreante, Nick Murphy, ganha pontos por saber usar os elementos do subgênero propriedade-assombrada-por-fantasmas de forma favorável. O contexto em que se passa a história não poderia ser mais propício: os anos posteriores ao fim da Primeira Guerra. Somados a isso, destacam-se a coerência (aqui as crianças se comportam como crianças, ao contrário de filmes como “O Sexto Sentido”, em que o garoto-protagonista age como adulto); a fotografia monocromática e a competente direção de arte possuem seu charme. O desenvolvimento é bom na maior parte da projeção, porém, no terço final o roteiro se perde numa solução/argumento insatisfatório e demasiadamente explicativo. Apesar do desfecho fraco, “O Despertar” tem momentos memoráveis, como a criativa cena da casinha de bonecas.
Cães de Aluguel
4.2 1,9K Assista Agora“Cães de Aluguel” é um ótimo cartão de visitas do que viria a ser o Cinema do Tarantino. Com mais acertos do que erros, o primeiro filme oficial assinado pelo diretor surpreende pela excelente montagem (que trabalha a favor da narrativa não-cronológica empregada), edição, enquadramentos e a trilha sonora setentista de bom gosto. Também merece destaque o desenvolvimento psicológico dos personagens, cada um com sua importância; e as atuações primorosas de Steve Buscemi, Harvey Keitel, Tim Roth e Michael Madsen. E além de todo o sangue e violência estilizada, “Cães de Aluguel” ainda proporciona momentos impagáveis de humor, como na seqüência inicial em que um grupo de criminosos divaga sobre a letra de “Like a Virgin”, a música da Madonna.
A Garota da Capa Vermelha
3.0 2,5K Assista AgoraParecia promissor a ideia de conferir uma releitura mais moderna e obscura à "Chapeuzinho Vermelho", o conto clássico que ficou famoso na versão escrita pelos irmãos Grimm. No entanto, “A Garota da Capa Vermelha” desperdiça o potencial da história com erros bobos. Há um esforço excessivo para que todos os personagens pareçam suspeitos; flashbacks para lembrar-nos do que acabamos de ver minutos atrás, demonstrando a falta de confiança da direção; diálogos melodramáticos e atuações canastronas da maior parte do elenco (Amanda Seyfried não decepciona, mas já ficou provado que a atriz se sai infinitamente melhor nas mãos de diretores mais competentes). É perceptível também as semelhanças com “Crepúsculo”, Catherine Hardwicke usa os mesmos planos já vistos em seu trabalho anterior.
Ah, o ponto positivo do filme?
A Chapeuzinho fica com o Lobo Mau. ;)
Minha Bela Dama
4.0 358 Assista AgoraMuito embora musical não seja meu gênero cinematográfico preferido, “Minha Bela Dama” conseguiu me deixar particularmente encantada. Trata-se de uma releitura do conto da Cinderela, estrelado por uma Audrey Hepburn de voz estridente que vai se transformando pouco a pouco numa legítima lady. Nesse processo, ela conta com a ajuda do Professor Higgins, personagem fabulosamente interpretado por Rex Harrison. A química entre Audrey e Harrison é justamente o fator que faz “Minha Bela Dama” funcionar tão bem. Outro ponto que vem a somar é a ambigüidade percebida na relação entre Eliza e Higgins, que nunca fica suficientemente clara, assim como a preferência sexual dúbia do professor. E o machismo ainda se faz presente, apesar do longa ter sido concebido numa década conhecida pela Revolução Sexual. Minhas ressalvas, no que diz respeito à execução, ficam por conta de algumas canções que entram no momento certo, mas não saem quando deveriam, e outras seqüências (como a que antecede o casamento do boêmio Sr. Doolittle) que poderiam ser cortadas a fim de diminuir o tempo de duração do filme.
– “I’m a good girl, I am!”
O Garoto de Liverpool
3.8 1,0K Assista grátisPra alguém que conhece pouco de The Beatles e menos ainda da vida particular de John Lennon, eu guardava uma imagem pacifista e intelectual do astro que já chegou a se anunciar mais famoso do que Jesus Cristo. Entretanto, o filme de Sam Taylor Wood retrata Lennon como um adolescente rebelde, problemático e por vezes arrogante. Além dessa surpresa, “O Garoto de Liverpool” toma como fio condutor a disputa entre a mãe e a tia pelo amor do garoto; mostra John aprendendo seus primeiros acordes num banjo e como foi influenciado pelo rock and roll de Elvis Presley, mas nada se fala de Beatles (o nome da banda nem sequer é citado em toda a projeção) – o que também é surpreendente. Aaron Johnson é convincente no papel principal, embora não tenha muitas semelhanças físicas com o músico, mas o destaque absoluto do longa é Kristin Scott Thomas, a atriz entende perfeitamente as nuances de sua personagem. De resto, vale conferir a trilha sonora, que é uma delícia.
Barton Fink, Delírios de Hollywood
4.0 174 Assista AgoraÉ irônico que “Barton Fink – Delírios de Hollywood” tenha sido concebido justamente num período de bloqueio criativo dos irmãos Coen, quando estes tentavam concluir, sem sucesso, o roteiro de “Ajuste Final”. “Barton Fink” é, sobretudo, uma crítica à indústria cinematográfica hollywoodiana; um filme que dialoga sobre seu próprio meio, o Cinema. A dupla ainda preenche o roteiro com vários elementos simbólicos e interpretativos, como a cena emblemática que encerra o longa. A direção de arte é fantástica, reconstituindo os charmosos interiores dos imóveis da época (destaque para o quarto de hotel onde se passa a maior parte da trama). E quanto ao elenco, John Goodman é muitíssimo simpático, mas é o outro John (Turturro) que apresenta uma performance icônica, talvez a mais importante de sua carreira.
Bonequinha de Luxo
4.1 1,7K Assista AgoraPoucas vezes um diretor conseguiu apresentar tão bem a personalidade de sua protagonista logo na primeira seqüência de imagens, como fez Blake Edwards quando posicionou a câmera de modo a acompanhar Audrey Hepburn andando pelas ruas da Nova York dos anos 60 e tomando seu café da manhã enquanto admira a vitrine da loja Tiffany’s – joalheria que representa a vida luxuosa que sua personagem, a jovial Holly, sonha em ter. Holly é uma bagunça; uma moça inconseqüente e de ar ingênuo, embora desempenhe uma profissão moralmente pré-julgada. Edwards e o roteirista escalado para fazer a adaptação do romance homônimo no qual o filme foi inspirado, George Axelrod, parecem estar pouco interessados em criar polêmicas, uma vez que cuidaram de amenizar os detalhes menos glamourosos escritos por Truman Capote. Voltando à personagem, Audrey empresta sua habitual elegância para Holly, e por conta disso há quem diga que a atriz, justamente por ser tão classuda, não convence como prostituta. Discordo. Acho preferível que a composição da personagem esteja fora dos padrões já concebidos sobre como se veste ou como se comporta uma “acompanhante” do que servir apenas para reproduzir estereótipos. A história de “Bonequinha de Luxo” é um tanto morna, mas o que faz verdadeiramente um filme se tornar clássico é o confronto aos costumes ou ao pensamento coletivo dominante na época em que ele foi registrado. Desse modo, este filme não só influenciou um modelo de comportamento para as mulheres contemporâneas à Holly, como também ditou um novo padrão de beleza (a magreza de Audrey Hepburn) e moda (o “pretinho básico”, copiado até hoje). Marilyn Monroe deve ter se arrependido até o último fio de cabelo por não ter aceitado o papel.
Na Roda da Fortuna
3.6 97Apesar de ser uma das obras menos lembradas da filmografia dos irmãos Coen, “A Roda da Fortuna” é um filme agradável por vários aspectos. Convidativo pela charmosa reconstituição da Nova York dos anos 50, assim como pela presença do elemento fantástico/mágico, a dupla de diretores, juntamente com Sam Raimi, apresenta um texto redondo e conduz a narrativa com a propriedade que lhes é habitual. O roteiro consegue alimentar a expectativa e a curiosidade do espectador acerca do que se trata a invenção do ingênuo Norville (e nesse ponto, a sequência em que um garotinho se depara com o invento e seu posterior sucesso de vendas é um dos melhores momentos do filme). Minhas ressalvas ficam por conta dos personagens demasiadamente exagerados, e as atuações que dão a impressão de estarem sempre acima do tom.
“Você sabe, para crianças.”
Imagine Eu e Você
3.7 742“Imagine Eu & Você” agrada, principalmente, por sua abordagem descontraída da sexualidade, bem como pela naturalidade com que a história flui. Sem carregar nos estereótipos ou parecer fetichista, – como quase sempre acontece em filmes de temática gay – o longa dirigido por Ol Parker funciona bem na maior parte da projeção. Os deslizes ficam por conta do roteiro, que insere alguns acasos forçados na trama (como, por exemplo, a sequencia em que as duas garotas se encontram no supermercado). Quanto ao elenco, Lena Headey e Piper Perabo estão lindas, mas é o carismático Matthew Goode o destaque dessa adorável comédia romântica.
Stanley Kubrick: Imagens de uma Vida
4.3 78 Assista AgoraInteressante ver grandes personalidades como Woody Allen, Martin Scorsese, Steven Spielberg, Alan Parker, Malcolm McDowell, Jack Nicholson e outros colaboradores falando sobre o homem e o profissional que foi Stanley Kubrick. O documentário apresenta um panorama do processo de elaboração de cada um dos longas-metragens da carreira do diretor, arquivos de bastidores, curiosidades, e até mesmo os projetos que por uma desventura ou outra foram engavetados. Sabiamente, Jan Harlan pouco se preocupa com a vida pessoal do cineasta, mas não deixa de expor as críticas da mídia na época do lançamento de alguns trabalhos do Kubrick, bem como a ameaça que seus filmes representavam para a opinião pública. “Stanley Kubrick – Imagens de Uma Vida” é simples e está longe de ser um documentário excepcional, mas consegue reunir um bom material sobre o aclamado diretor.