“A história oficial” tem cenas sensacionais e delicadas que retratam as feridas do regime militar argentino. O que se transmite depois da ditadura de uma nação? Parece que o cinema e a arte no geral respondem em alguma medida. Quantas vezes precisaremos enterrar nossos mortos? Quanto é necessário simbolizar para elaborar o desfalecimento da democracia? O filme inicia com uma posição interessante neste sentido: uma nação sem história quiçá sobreviveria.
A mesma genialidade vista em “Dente Canino” marca esta produção de Yorgos Lanthimos. Mas, desta vez, constituindo uma espécie de dialética com “Her” do Spike Jonze. Enquanto em “her” os homens se apaixonam pelas máquinas, na tentativa de suspender a solidão sem o encontro traumático com a alteridade, em “the lobster” a solidão é condenada e o amor é condicionado a uma identificação imaginária que solapa a diferença. No entanto, como se se tratasse de uma revolta, os personagens principais da trama se mimetizam entre si de forma artificial, quase tecendo uma leitura ultraromântica de que o amor autêntico necessita de sacrifícios, enquanto todos os demais amores, reconhecidos pelo Estado, são meramente identificações pobres. Sem mais delongas, recomendo!
Este filme é a confirmação do modo como não existimos por nossas propriedades empíricas, mas sim a partir de uma mediação simbólica. Como numa dialética hegeliana, Nelly, ao ter seu rosto reconstruído, recorre a Johnny, seu ex parceiro, se fingindo passar por uma desconhecida a fim de localizar no discurso deste quem ela era antes do advento traumático do nazismo. O trauma aqui incide como um apagamento das subjetividades judias. É interessante que após o holocausto a pergunta que o longa no dirige é: como testemunhar o real traumático? Parece que a saída de Nelly é a música - Speak Low. Divino! Recomendo!
Impressionante o fato de, em alguns momentos, ser fisgado por filmes que se coadunam com momentos vividos no real da carne. '2 days in Paris', atende, de forma despretensiosa, ao fim da romantização da vida parisiense. De repente você quer mijar em Paris, em cima de toda Paris, cuspir, escarrar e gritar: Abaixo a romantização parisiense, viver é um saco. Entretanto, mesmo que o nível de ódio - ou, para alguns, de angústia - aumente no decorrer da história, há momentos, ora surreais, ora mesmo triviais, que te fazem sorrir e levar em consideração a pergunta: há quantas conversas francas resiste um relacionamento? É com bom grado, como quem necessita de um conforto para tratar do pessimismo amoroso, que eu respondo: o amor resiste. E resisti não sem cambalear, revelar feridas, pulsar nos não-ditos, nas omissões. Amar não é sinceridade. Amar é outra coisa. E talvez a caracterização máxima do que seria outra coisa se centra nos personagens, seja no papel de Julie Delpy, com todo o espírito nu e cru de uma parisiense, seja nas irônias de uma Adam Goldberg tatuado. Não se trata de um filme belo. É, antes, a vida com seus altos e baixos - em dois dias em Paris.
todo mundo espera um enredo envolvente, com um drama implícito/explícito. Eu não. E por isso amei. Acho que o cinema também deve ter essa funcionalidade: deixar a vida vivendo - e nada melhor que um road movie para isso. A fotografia e a trilha sonora cumprem aquilo que eu mais admiro num filme: afetam! E é uma coisa de sensação, desde a primeira cena, desde os mínimos detalhes atentados no longa (como quando há um cachorro no canto esquerdo da tela, que, para muitos, passa despercebido, mas que, para mim, é essencial). E então, isso: toca ou não toca? Em mim tocou. E eu indico!
Eu gosto - também - dos filmes 'para passar um tempo'. Li uma crítica - muito boa - que dizia: "quando se sai da sala de cinema, não sobra muita coisa de Tous les Soleils. Nem moralista, nem filme com uma mensagem precisa, ele é apenas uma espécie de obra para “passar o tempo”, para se desligar do mundo lá fora, equivalente gastronômico de uma saladinha de alface como entrada". E é exatamente disso que se trata, como se todo o conflito fosse resolvido de forma inesperada, escondida do telespectador. E isso não é, para mim, ruim. Pois como disse: eu tbm gosto de filmes assim. E vale pela musicalidade, pela beleza do Stefano Accorsi falando, hibridamente, francês e italiano. Vale pela comédia enrustida. Vale pela fotografia. Vale pela França. Mas vale ainda mais para aqueles que estão cansados de todo o resto e querem apenas uma saladinha de entrada.
Este filme é interessantíssimo. E não digo isto apenas devido ao fato de que julliete Binoche dança e canta pass this on. Não. Há muitos outros fatores. Gostaria apenas de estender em um deles: a impossibilidade de se fazer uma cisão perfeita entre a vida privada e a vida profissional. E Anne, a jornalista, se entregou totalmente a isto, chegando ao posto de prostituta numa mesa de jantar. Adorei.
a grande parte das críticas feitas aqui se relacionou mais ao Caetano e aos interesses que cada um tem na vida/obra dele, do que, efetivamente, à produção do documentário que, para mim, está excelente. Sou fã de caetano, mas isso é secundário na minha análise (cinco estrelas). eu quero tratar aqui, unicamente, do documentário em si. Afinal esta é a proposta do espaço de opinião do 'filmow'. O que o caetano faz com a vida dele fica à cargo de outras instâncias. What a shame!
Inacreditável como Vincent Gallo consegue transpor em imagens tudo o que lhe falta em palavras! Ouso dizer que o filme poderia até não ter falas - apesar de, ainda assim, as poucas falas serem de extrema importância. Mas o fato é que o longa se faz tão belo em fotografia, que este quase - repito: quase - basta por si só. Mas, em contrapartida, perder-se-ia o diálogo extremamente simples e ao mesmo tempo denso entre Gallo e Chloë Sevigny, no final do filme. Algumas pessoas se perdem em críticas sem fundamento a respeito deste filme, apenas afirmando ser um filme maçante, tedioso. Não acredito ser disso que se trata. Basta assimilar que se trata sempre de um 'devir' nas obras de Gallo: o devir-alguma-coisa oriundo de encontros inesperados. Ele não se atém à temática hollywoodiana de um futuro premeditado, mas sim de um devir. E não é outra coisa senão esse o papel que Chloë Sevigny vem engendrar: um devir típico da traidora. Traidora esta que segue única e exclusivamente o seu desejo, para acabar anulando-o posterioremente. E nada mais galloniano do que suprir o luto alucinando. Alucinando o quê? a volta da mulher amada e traidora? Sim, mas não só: alucinando um boquete derradeiro. Cinco estrelas. Não poderia, para mim, ser diferente disso.
É como se, finalmente, houvesse a inspiração para o que se tornaria depois o 'cinema de garagem' de Vincent Gallo. E digo isso não só pela ausência de trilha sonora - o silêncio do inverno nova-iorquino -, mas, sobretudo, pelo enredo sem grandes solavancos, sem surpresas: apenas a vida vivendo. É como se, de repente, alguém se dispusesse a narrar uma história. Mas não para entreter outrem. Uma história existindo por si mesma, sem pretensão qualquer; apenas a vontade de falar. Entretanto, vale dizer, que não há, em momento algum deste filme, a monotonia que faria um telespectador apertar o stop e ir fazer qualquer outra coisa - a sacada é que o enredo, mesmo sem grandes pretensões, te capta, como quem convida, com a típica falta de entusiasmo de um junkie novaiorquino, outras pessoas a se posicionarem em posição de atenção. E só ouvir a difícil realidade de que a vida é sempre tamponada com planos (simples ou complexos) para depois ser devastada com grandes frustrações. E assim, de repente, os créditos finais sobem. E não há, como era de se esperar, qualquer som sendo emitido. O único fato que resta, juntamente com o nó da garganta que algumas cenas proporcionam, é que Al Pacino parece ter saído de um porão sujo para ir gravar. E não há, acredito, quem consiga sair limpo dessa.
Deslembro
3.7 40 Assista Agorauma verdadeira experiência psicanalítica
Viva Maria!
3.5 42Brigitte Bardot me deixou cego com tamanha beleza.
O Bar
3.2 568Uma pira sem fim
Encurralado
3.9 431 Assista AgoraQue filme sensacional!
❤️
A História Oficial
4.1 140 Assista Agora“A história oficial” tem cenas sensacionais e delicadas que retratam as feridas do regime militar argentino. O que se transmite depois da ditadura de uma nação? Parece que o cinema e a arte no geral respondem em alguma medida.
Quantas vezes precisaremos enterrar nossos mortos? Quanto é necessário simbolizar para elaborar o desfalecimento da democracia? O filme inicia com uma posição interessante neste sentido: uma nação sem história quiçá sobreviveria.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraA mesma genialidade vista em “Dente Canino” marca esta produção de Yorgos Lanthimos. Mas, desta vez, constituindo uma espécie de dialética com “Her” do Spike Jonze. Enquanto em “her” os homens se apaixonam pelas máquinas, na tentativa de suspender a solidão sem o encontro traumático com a alteridade, em “the lobster” a solidão é condenada e o amor é condicionado a uma identificação imaginária que solapa a diferença. No entanto, como se se tratasse de uma revolta, os personagens principais da trama se mimetizam entre si de forma artificial, quase tecendo uma leitura ultraromântica de que o amor autêntico necessita de sacrifícios, enquanto todos os demais amores, reconhecidos pelo Estado, são meramente identificações pobres.
Sem mais delongas, recomendo!
Phoenix
3.8 103 Assista AgoraEste filme é a confirmação do modo como não existimos por nossas propriedades empíricas, mas sim a partir de uma mediação simbólica. Como numa dialética hegeliana, Nelly, ao ter seu rosto reconstruído, recorre a Johnny, seu ex parceiro, se fingindo passar por uma desconhecida a fim de localizar no discurso deste quem ela era antes do advento traumático do nazismo. O trauma aqui incide como um apagamento das subjetividades judias. É interessante que após o holocausto a pergunta que o longa no dirige é: como testemunhar o real traumático? Parece que a saída de Nelly é a música - Speak Low. Divino! Recomendo!
A Primeira Noite de Um Homem
4.1 809 Assista Agoraque trilha sonora!
Uma História Real
4.2 298Eu poderia viver dentro desta trilha sonora.
Patti Smith: Sonho de Vida
4.2 24Alguém tem o link para baixar, POR FAVOR?
Cidade Maravilhosa
3.4 4A trilha sonora está sensacional.
Abraços Partidos
3.9 661Cat Power <3
Os Amantes Passageiros
3.1 648 Assista AgoraAlmodovar revival anos 80 transbordando as suas velhas cores: cores de almodóvar.
Lembranças
3.7 2,7KE aquela problemática sensação de querer colocar um filme com o Robert Pattinson na categoria 'favoritos' do filmow, haha.
2 Dias em Paris
3.3 152Impressionante o fato de, em alguns momentos, ser fisgado por filmes que se coadunam com momentos vividos no real da carne.
'2 days in Paris', atende, de forma despretensiosa, ao fim da romantização da vida parisiense. De repente você quer mijar em Paris, em cima de toda Paris, cuspir, escarrar e gritar: Abaixo a romantização parisiense, viver é um saco. Entretanto, mesmo que o nível de ódio - ou, para alguns, de angústia - aumente no decorrer da história, há momentos, ora surreais, ora mesmo triviais, que te fazem sorrir e levar em consideração a pergunta: há quantas conversas francas resiste um relacionamento? É com bom grado, como quem necessita de um conforto para tratar do pessimismo amoroso, que eu respondo: o amor resiste. E resisti não sem cambalear, revelar feridas, pulsar nos não-ditos, nas omissões. Amar não é sinceridade. Amar é outra coisa. E talvez a caracterização máxima do que seria outra coisa se centra nos personagens, seja no papel de Julie Delpy, com todo o espírito nu e cru de uma parisiense, seja nas irônias de uma Adam Goldberg tatuado.
Não se trata de um filme belo. É, antes, a vida com seus altos e baixos - em dois dias em Paris.
Ata-me!
3.7 550As cores de almodóvar. Mais que nunca: as cores.
Além da Estrada
3.5 88todo mundo espera um enredo envolvente, com um drama implícito/explícito. Eu não. E por isso amei. Acho que o cinema também deve ter essa funcionalidade: deixar a vida vivendo - e nada melhor que um road movie para isso. A fotografia e a trilha sonora cumprem aquilo que eu mais admiro num filme: afetam! E é uma coisa de sensação, desde a primeira cena, desde os mínimos detalhes atentados no longa (como quando há um cachorro no canto esquerdo da tela, que, para muitos, passa despercebido, mas que, para mim, é essencial). E então, isso: toca ou não toca? Em mim tocou. E eu indico!
Kaboom
2.8 386 Assista Agora'ainda não sei se gostei ou odiei' define.
Silêncio de Amor
3.8 23Eu gosto - também - dos filmes 'para passar um tempo'. Li uma crítica - muito boa - que dizia: "quando se sai da sala de cinema, não sobra muita coisa de Tous les Soleils. Nem moralista, nem filme com uma mensagem precisa, ele é apenas uma espécie de obra para “passar o tempo”, para se desligar do mundo lá fora, equivalente gastronômico de uma saladinha de alface como entrada". E é exatamente disso que se trata, como se todo o conflito fosse resolvido de forma inesperada, escondida do telespectador. E isso não é, para mim, ruim. Pois como disse: eu tbm gosto de filmes assim. E vale pela musicalidade, pela beleza do Stefano Accorsi falando, hibridamente, francês e italiano. Vale pela comédia enrustida. Vale pela fotografia. Vale pela França. Mas vale ainda mais para aqueles que estão cansados de todo o resto e querem apenas uma saladinha de entrada.
Elas
3.2 162Este filme é interessantíssimo. E não digo isto apenas devido ao fato de que julliete Binoche dança e canta pass this on. Não. Há muitos outros fatores. Gostaria apenas de estender em um deles: a impossibilidade de se fazer uma cisão perfeita entre a vida privada e a vida profissional. E Anne, a jornalista, se entregou totalmente a isto, chegando ao posto de prostituta numa mesa de jantar. Adorei.
Laurence Anyways
4.1 551 Assista AgoraQUERO AGORA, comofaz?
Coração Vagabundo
3.6 76a grande parte das críticas feitas aqui se relacionou mais ao Caetano e aos interesses que cada um tem na vida/obra dele, do que, efetivamente, à produção do documentário que, para mim, está excelente. Sou fã de caetano, mas isso é secundário na minha análise (cinco estrelas). eu quero tratar aqui, unicamente, do documentário em si. Afinal esta é a proposta do espaço de opinião do 'filmow'. O que o caetano faz com a vida dele fica à cargo de outras instâncias. What a shame!
Brown Bunny
3.1 109Inacreditável como Vincent Gallo consegue transpor em imagens tudo o que lhe falta em palavras! Ouso dizer que o filme poderia até não ter falas - apesar de, ainda assim, as poucas falas serem de extrema importância. Mas o fato é que o longa se faz tão belo em fotografia, que este quase - repito: quase - basta por si só. Mas, em contrapartida, perder-se-ia o diálogo extremamente simples e ao mesmo tempo denso entre Gallo e Chloë Sevigny, no final do filme.
Algumas pessoas se perdem em críticas sem fundamento a respeito deste filme, apenas afirmando ser um filme maçante, tedioso. Não acredito ser disso que se trata. Basta assimilar que se trata sempre de um 'devir' nas obras de Gallo: o devir-alguma-coisa oriundo de encontros inesperados. Ele não se atém à temática hollywoodiana de um futuro premeditado, mas sim de um devir. E não é outra coisa senão esse o papel que Chloë Sevigny vem engendrar: um devir típico da traidora. Traidora esta que segue única e exclusivamente o seu desejo, para acabar anulando-o posterioremente. E nada mais galloniano do que suprir o luto alucinando. Alucinando o quê? a volta da mulher amada e traidora? Sim, mas não só: alucinando um boquete derradeiro.
Cinco estrelas. Não poderia, para mim, ser diferente disso.
Os Viciados
3.8 74É como se, finalmente, houvesse a inspiração para o que se tornaria depois o 'cinema de garagem' de Vincent Gallo. E digo isso não só pela ausência de trilha sonora - o silêncio do inverno nova-iorquino -, mas, sobretudo, pelo enredo sem grandes solavancos, sem surpresas: apenas a vida vivendo. É como se, de repente, alguém se dispusesse a narrar uma história. Mas não para entreter outrem. Uma história existindo por si mesma, sem pretensão qualquer; apenas a vontade de falar. Entretanto, vale dizer, que não há, em momento algum deste filme, a monotonia que faria um telespectador apertar o stop e ir fazer qualquer outra coisa - a sacada é que o enredo, mesmo sem grandes pretensões, te capta, como quem convida, com a típica falta de entusiasmo de um junkie novaiorquino, outras pessoas a se posicionarem em posição de atenção. E só ouvir a difícil realidade de que a vida é sempre tamponada com planos (simples ou complexos) para depois ser devastada com grandes frustrações.
E assim, de repente, os créditos finais sobem. E não há, como era de se esperar, qualquer som sendo emitido.
O único fato que resta, juntamente com o nó da garganta que algumas cenas proporcionam, é que Al Pacino parece ter saído de um porão sujo para ir gravar. E não há, acredito, quem consiga sair limpo dessa.