Tive a chance de assisti-lo em pré-estreia e me surpreendi bastante! O diretor entende as convenções dos bons filmes de terror e utiliza muito bem a fotografia e o som (trilha + mixagem) para criar uma atmosfera claustrofóbica. A direção de arte e a maquiagem são incríveis, e a trama se apropria de elementos bem característicos do cinema brasileiro para criar uma obra única dentro do gênero.
Existem alguns pequenos furos no roteiro que causam um estranhamento e é fácil prever quando a maioria dos sustos de aproxima, mas a atmosfera contribui para que a sensação de angústica permaneça.
Há quem diga que a ficção científica é subversiva, por constantemente flertar com temas como espionagem, golpes de estado e intrigas políticas. Essa afirmação pode não ser verdadeira em alguns casos, mas se aplica perfeitamente ao francês Bunker Palace Hotel, filme de estréia do quadrinista Enki Bilal.
Bunker Palace Hotel é um filme lento, que mostra a degradação da condição humana face ao confinamento e à dúvida, e que aposta todas as fichas na reviravolta do final. Após a experiência, o espectador fica com a sensação que toda a ação estava acontecendo em outro lugar enquanto acompanhávamos o grupo de políticos, e o último ato dá um vislumbre de um mundo ainda mais esquisito e rico de detalhes do que o pequeno universo do bunker.
A franquia Alien, ao longo de quatro filmes, se estabeleceu como um marco na história do cinema mundial. Misturando terror e ficção científica, a série nos presenteou com uma das criaturas mais icônicas do último século, o alien xenomorfo. Predador implacável, dotado de força e resistência sobrehumanas, e notável por possuir uma única fraqueza: a tenente Ellen Ripley, genialmente interpretada por Sigourney Weaver. Diante de tal legado, estabelecido desde o primeiro filme, a tarefa imposta a cada novo diretor é cada vez maior e mais difícil. Como manter o mesmo nível de qualidade de seus predecessores ao mesmo tempo em que é preciso reciclar as idéias de uma obra que segue o mesmo padrão a cada peça?
Infelizmente, Alien: Resurrection é uma obra que falha em entregar aquilo que promete. Com um roteiro fraco, que necessita de um deus-ex-machina para se justificar, e cenas de ação que nunca chegam a empolgar o espectador, o filme depende exclusivamente de sua estética e do peso de seu elenco para contar a sua história. Com um final que deixa em aberto a possibilidade de futuras sequências, é difícil não pensar que a série deveria ter tido o seu devido encerramento com o destino de Ripley no terceiro filme.
A ficção científica, desde a sua concepção até suas acepções contemporâneas, tem demonstrado uma certa predileção por alguns temas. Questões que envolvem os planos de existência, a consciência humana, os níveis de realidade, sonhos, destino e, consequentemente, o livre-arbítrio. É a partir desse último tema que George Nolfi constrói a premissa de Os Agentes do Destino. Mas, embora seja essa a fundação da obra, ela não se limita a esse aspecto - seu verdadeiro núcleo, seu raison d’etre, é o amor. Sob a fachada de um intricado suspense sci-fi, reside uma clássica história de amor.
Os Agentes do Destino é um filme com um enorme potencial latente. Talvez por sua inexperiência, o diretor resolveu bombardear o expectador com pequenas doses do que a obra poderia ser, e seguiu pelo caminho mais convencional. Uma experiência agradável e bem executada, mas que, assim como sempre acontece com histórias sobre destino, nos deixa imaginando como teria sido se as coisas tivessem sido diferentes.
De tempos em tempos, um filme consegue expressar tão bem sua idéia e ser tão bem executado que ele conquista um lugar permanente na história do cinema mundial; às vezes, esse filme transcende a sua condição estática e se torna algo tão forte que se estabelece como um marco. Harry Potter, ao longo de oito filmes, conseguiu o seu espaço junto aos grandes. Por sua coesão narrativa não se perder entre cada obra, por acompanhar o crescimento e o amadurecimento tanto pessoal quanto profissional de seu cast, por quebrar recorde atrás de recorde de bilheteria. E, afinal, por contar uma história de amor e amizade de uma forma simples, sem exageros ou melodramas.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 é um bom filme. Apesar de toda a pressão e todo o hype acerca do último filme da saga, assim como os problemas ocorridos com a urgência em levar a história ao desfecho em tão pouco tempo, o diretor e sua equipe nunca perdem o controle e se deixam dominar pela expectativa, e conseguem dar um desfecho digno para a série, que deixará saudades para os fãs do mundo todo.
A trama de First Class remonta os princípios da amizade do professor Xavier e Magneto, assim como a origem da escola para mutantes e diversos outros elementos presentes na história, como o protótipo da nave Pássaro Negro e o Cérebro. O ambiente em que ela se desenrola, dessa vez, tem como pano de fundo a crise dos mísseis em Cuba, situando os heróis em um univero realista. Em alguns momentos, o diretor Matthew Vaughn reproduz trechos de reportagens de TV da época, incluindo alguns discursos presidenciais, conferindo mais veracidade ao enredo.
Apesar do pouco aprofundamento em seus personagens secundários, First Class não é um filme que depende exclusivamente de seu cast principal. Cada personagem (até mesmo o pobre Riptide) possui um bom tempo de cena, e participam de momentos importantes. Com a exceção de Emma Frost, que não faz realmente muita coisa, nenhum personagem é dispensável para a trama (nem mesmo o Darwin, que serve como um rito de passagem para o jovem grupo de mutantes). A amizade de Xavier e Erik, por sua vez, não recebe tempo em cena suficiente para justificar a intensidade do laço que se forma entre eles; porém, isso não se torna um obstáculo para o espectador uma vez que esse tempo de convivência está implícito - afinal, existe o período em que passaram juntos procurando os outros mutantes -, e ele se mostra verdadeiro através das reações dos atores. A cena da praia, no final do filme, e a interação entre os dois personagens, resume bem tanto sua amizade quanto suas ideologias e o papel que ambos representariam naquele universo de agora em diante.
X-Men First Class não pretende ser mais do que é, e talvez seja essa a sua grande força. Ele não tenta fomentar diálogos profundos sobre a natureza dúbia do homem, tampouco cria conspirações sobre a necessidade da guerra. O filme busca retratar as origens de uma franquia, assim como criar uma obra que trate mais de seus personagens do que de suas ações. Mesmo envoltos em conflitos, conspirações e esquemas grandiosos, os personagens de X-Men brilham ao se mostrarem, afinal de contas, humanos.
Uma temática recorrente no cinema é a de que um evento (seja ele um esporte, um novo amor, um acontecimento drástico ou um hobby) é capaz de transformar irremediavelmente a vida de uma pessoa e salvá-la dos males do mundo. O que faz com que Xeque-Mate, primeiro longa dirigido por Caroline Bottaro, seja diferente de seus companheiros de tema, é a abordagem da trama; aqui, a protagonista tenta fugir não de um infortúnio, mas da mediocridade. Sua vida é vida feliz, tranquila e pacífica, sem conflitos, mas também sem emoções, sem sonhos e sem projeções. O ambiente em que convive, por sua vez, reproduz esse sentimento de inanição, muitas vezes disfarçado de tradição ou costumes de um vilarejo.
Xeque-Mate é um filme sutil, que trabalha seus temas sem exaltá-los na tela. Uma primeira leitura nos mostra uma história de uma mulher que, contra todas as adversidades, se torna uma grande jogadora de xadrez. Uma segunda leitura, mais profunda, mostra que o filme lida com promessas, frustrações, conformações. O cast de personagens é composto quase exclusivamente de pessoas que apresentam um potencial não-realizado, ou algum acontecimento passado que, ao ter dado errado, minou as perspectivas por um futuro diferente. O marido de Hélène é um grande exemplo. Pragmático e mundano, ele se preocupa apenas em prover o sustento de sua família e nada mais. Não se interessa por literatura, não aceita conceitos que não apresentem uma finalidade prática e imediata e não possui ambições.
Apesar dos percalços, Xeque-Mate é um bom filme, que consegue transmitir suas mensagens sem precisar abrir mão da sutileza (na maior parte das vezes). Sandrine Bonnaire domina a cena com sua interpretação, e nos faz perceber que o que realmente importa é nunca desistir.
A quadrilogia Alien pode se considerar privilegiada por ter sido dirigida por quatro grandes diretores - curiosamente em início de carreira, tendo na série um excelente portfólio para seus próximos trabalhos. Cada um deles trouxe a sua marca pessoal, enriquecendo ainda mais o universo em que a história se dá. Aqui, no terceiro filme da trilogia, David Fincher esboça os primeiros traços que marcariam sua filmografia, embora sem muita justiça, dado o resultado caótico da obra. Rumores de bastidores dizem que as filmagens começaram antes mesmo que o filme tivesse roteiro pronto; é difícil saber se a percepção das imagens é alterada depois de saber desse rumor, ou se realmente o enredo se confunde durante o seu desenrolar, mas em determinados momentos a direção parece estar improvisando.
A história logo após os acontecimentos finais de Aliens. O módulo de escape em que Ripley fugiu da colônia LV-426 é danificado durante o vôo, e acaba caindo em um planeta próximo - uma colônia penal não identificada, que havia sido uma refinaria de chumbo no passado. Lá dentro, após receber os devidos cuidados médicos, Ripley descobre ser a única sobrevivente do acidente, assim como sua verdadeira natureza: um xenomorfo, por algum motivo não explicado no filme, consegue se infiltrar no módulo. O alien também sobrevive à queda, e, ao encontrar um hospedeiro apropriado, completa seu ciclo de maturidade e começa a matar indiscriminadamente nos corredores da prisão.
A premissa do filme, embora simplista, estabelece um ambiente interessante para o desenrolar da trama. O alien, uma criatura predadora e sanguinária, se vê livre e isolada com um grande grupo de assassinos convictos, estupradores, ladrões e toda sorte de criminosos. Pessoas à margem da sociedade, considerados escória e dispensáveis; suas mortes não seriam relembradas ou sentidas. A própria audiência é menos inclinada a sentir simpatia por seu futuro. Fincher se apropria desse elemento para filmar mortes rápidas, cruéis e despidas de glamour, como um açougueiro abatendo o gado. Não há gentileza ou arrependimento, apenas a luta desesperada pela sobrevivência.
Mad Max Beyond Thunderdome, terceiro filme da trilogia concebida por George Miller, se mostra satisfatório e consonante com a temática iniciada por seus antecessores, embora, como pode ser constatado a partir da metade da obra, ele se perca um pouco em sua proposta. Tal problema se deve ao fato de Miller não ter dirigido o filme até o fim.
Durante as gravações, o produtor (e amigo pessoal de Miller) Byron Kennedy morreu em um acidente de helicóptero enquanto procurava lugares para rodar o filme; a partir desse momento, Miller perdeu o interesse em continuar dirigindo a obra, e passou o cargo para George Ogilvie, ficando responsável apenas pelas cenas de ação. Como consequência da mudança de direção, o filme se perde em tom assim que Max se encontra com os garotos do deserto. O que antes era uma distopia pessimista assume ares de aventura, com direito a risadinhas despropositais e algumas mudanças inexplicáveis de caráter: o personagem Master, por exemplo, deixa de ser um punk manipulador para se tornar um velhinho sábio e nobre, que se veste como um literato inglês. E o garoto com a sombra nos olhos, que parecia ter sua própria seita, se transforma em um acrobata de circo, com indumentária apropriada.
Apesar de imprimir um pouco de sua marca pessoal na tela, Ogilvie consegue emular com sucesso o estilo de Miller, embora sem inovar em nenhum aspecto; o último arco do filme, embora diferente em sua execução, é muito parecido com o de Road Warrior, onde Max e um grupo fogem dos vilões. Aqui, Miller se consolida como um grande diretor de perseguições motorizadas, proporcionando uma sequência ao mesmo tempo divertida, intensa e tensa. Max e os garotos do deserto fogem em uma espécie de trem/caravana muito elaborado, com diversas estruturas metálicas pendendo dos lados do veículo, convenientemente posicionados para que os diversos capangas subam e sejam atirados para fora.
No aspecto humano da obra, Beyond Thunderdome apresenta um variedade interessante de personagens. Se Road Warrior tinha uma bela seleção de punks sado-masoquistas, aqui os figurinos atingiram um nível maior na escala do absurdo. Assumindo características próprias inerentes ao universo da trama, os penteados ganharam cerca de 30cm de altura a mais e se tornaram selvagens e coloridos, com moicanos de dar inveja. As roupas, por sua vez, continuam a tendência sado-maso, mas com bem menos tecido; de toda a trilogia, Beyond Thunderdome é o que mais mostra os corpos de seus atores. Vale ressaltar a adição de personagens bem interessantes à trama, como o composto Master Blaster, vindo diretamente de um filme das Tartarugas Ninjas. MB é basicamente duas pessoas em uma: um anão, o Master, tido como o cérebro (embora linhas como "No shit. Energy. No energy, no town" me façam duvidar disso) e o engenheiro-chefe das operações de Bartertown, e um brutamontes enorme com uma mente de criança, o Blaster. Tina Turner, no papel de Aunt Entity, governante de Bartertown, interpreta com confiança o seu papel, embora exagere no tom ao tentar soar megalomaníaca em algumas cenas.
Mel Gibson, naquele que é provavelmente o melhor papel de sua carreira, ajuda Max e completar o arco do desenvolvimento de seu personagem, iniciado no primeiro filme. Max passa por uma transformação condizente com o mundo em que acontece a história, que, em seu apogeu, sofre um grande impacto e desce até os limites da decadência, para então renascer como algo novo dos escombros do velho mundo. Em Beyond Thunderdome, Max, embora ainda um andarilho solitário, já está em bons termos com seu passado, e não é mais atormentado por ele. Agora, ele já não evita se envolver com outras pessoas, uma vez que todos se encontram na mesma busca por sobrevivência que ele.
O mundo de Mad Max vê em Beyond Thunderdome a sua chance de redenção, ilustrada principalmente pelos meninos do deserto. Através de Max, que serviu como os olhos do espectador através da trilogia, presenciamos a constante decadência do mundo pós-guerra, onde atos de violência eram praticados sem a menor justificativa na busca incessante por combustível. Em BT, que acontece já não há mais nenhum resquício dos velhos combustíveis fósseis, nem das velhas cidades. Embora o tempo não seja especificado, já se passaram talvez uma centena de anos desde a explosão da guerra nuclear, e décadas desde o primeiro filme. Tempo suficiente para que a sociedade ainda retenha alguns elementos do passado, principalmente no tocante a instrumentos, e para que ela, após sua total destruição, já esteja assumindo uma nova configuração, sendo Bartertown um grande exemplo.
Nascida no meio do deserto e construída com escombros, a cidade se tornou uma grande referência no comércio, onde a moeda corrente não é mais o dinheiro, mas sim sua força de trabalho ou algum instrumento de troca. Em tempos onde a sociedade foi aniquilada, o homem retorna aos seus instintos mais básicos para, a partir daí, poder adquirir um novo mundo para si; é essa a lógica por trás do Thunderdome, uma pequena arena de batalhas no subterrâneo de Bartertown. Na cidade, a lei é simples: quando há uma desavença, esta deve ser resolvida no Thunderdome em uma luta até a morte. Desse modo, a cidade fica limpa de brigas, assaltos e quaiser problemas de segurança pública, uma vez que eles entram no Thunderdome e de lá não saem. As lutas, por sua vez, são muito interessantes, uma vez não há regras e a luta no domo assume proporções que desafiam a gravidade. Outro elemento da cidade que indica os novos rumos que a sociedade está tomando é o principal gerador de energia do lugar. Ao invés de usarem combustíveis fósseis ou mesmo eletricidade para abastecer suas máquinas, a população de Bartertown refina o gás metano, presente nas fezes de porco; logo, a cidade tem um criadouro gigantesco de porcos no subterrâneo, lembrando as velhas caldeiras de carvão que geravam energia na Inglaterra Vitoriana.
Mas não é apenas Bartertown que ilustra o novo mundo em formação. No deserto, Max encontra uma comunidade de garotos e garotas que vivem próximos aos destroços de um velho avião, que os trouxe aí (em uma bela sessão de panorama histórico, descobrimos que, assim que o ataque nuclear começou, na guerra que devastou o mundo, várias pessoas se esforçaram para salvar o máximo de pessoas possíveis, levando elas para longe em aviões, trens e afins). Esses garotos cresceram sem nenhuma amarra social, tendo os mais velhos como referência cultural e convivendo em comunidade. Agora, gerações após a guerra, os acontecimentos passados são transmitidos pelos membros mais velhos à fogueira, numa cena bastante interessante. Instrumentos daqueles tempos passados, como toca-discos e armas, são vistos com surpresa, como se pertencentes à lendas e mitos. A trama envolvendo os meninos do deserto, embora com um tom mais leve do que o pretendido por Miller, é o principal eixo que movimenta a trama. É a raça humana que, sobrevivente, tenta retornar ao seu lar.
Mad Max Beyond Thunderdome, assim como o segundo filme, é uma sequência, um filme independente e um prólogo. Apresenta começo, meio e fim, e, ao mesmo tempo em que encerra a história e o arco iniciado no primeiro filme, dá margem para futuras continuações, sem que soem forçadas ou desnecessárias. Afinal, o mundo de Mad Max é enorme e complexo, e ainda está nos primeiros anos de seu renascimento. Ainda existe muito chão para ser trilhado!
Em uma época em que produções milionárias borbadeiam o expectador com imagens e ações, o diretor estreante Gareth Edwards surge pra mostrar que ainda se é possível contar uma história com pouco orçamento e muita vontade.
Ao contrário de muitas peças hollywoodianas, o roteiro em Monstros não segue a estrutura tradicional de apresentação -> problemática -> climax -> resolução. Aqui, ao invés de grandes revelações jogadas na sua cara, o filme segue o seu próprio ritmo, muitas vezes assumindo o papel de espectador dos acontecimentos através dos olhos de seus protagonistas.
Monstros é um filme que, como toda grande obra, não é necessariamente sobre os monstros, e sim sobre nós. Ou, dependendo da sua perspectiva, continua sendo sobre monstros. Embora a presença dos aliens seja um fato consumado, ela é quase despercebida ao longo da projeção; somos apresentados, ao invés disso, ao aspecto humano da história, e como as pessoas da região infectada estão vivendo as suas vidas.
"Adaptação" é uma temática recorrente ao longo da obra. A começar pelas formas alienígenas que, ao chegarem a solo terrestre, encontraram uma situação propícia para morarem. Os moradores das regiões próximas das áreas infectadas, por sua vez, aprendem a conviver com a presença tanto das forças alienígenas quanto das forças armadas, num brilhante comentário sobre a situação de comunidades que sofrem intervenção militar. Os protagonistas, Kaulder e Sam, por sua vez, aprendem a lidar com a situação em que se encontram, e também descobrem um ao outro ao longo de sua jornada, de forma natural e sincera. Em uma cena, quando se encontravam próximos à fronteira, Kaulder faz uma reflexão bastante pertinente sobre a natureza do ser humano, e que se aplica também ao futuro de sua relação com Sam: "Quando chegarmos em casa, logo esqueceremos de tudo. Amanhã, cada um seguirá sua própria vida em nossas perfeitas casas no subúrbio." Essas linhas de diálogo encerram o arco de transformação dos personagens, afetados por tudo o que presenciaram durante a viagem. Embora não seja mostrado em cena, é nesse momento em que ambos percebem que não são mais os mesmos, e não poderiam esquecer o que viram e seguir em frente com as suas vidas.
A trajetória de Sam e Kaulder através do México é digna de nota. Ao longo do caminho, vemos comunidades arrasadas, com restos de bombas, tanques e até mesmo aviões espalhados por todo lado. Após 6 anos de combate, as áreas próximas à Zona Infectada se tornaram verdadeiros cemitérios de guerra, atulhada de destroços materiais e humanos.
Ao utilizar seus protagonistas como espectadores, presenciando tanto o horror da guerra quanto a desolação dos espaços arrasados por ela, Gareth faz seu forte comentário político e social, através de frases ditas ao vento, sem torná-las explícitas e grosseiras. Em mais de uma ocasião, vemos protestos contra a ação americana, causa de tantas mortes e destruição; em outra, vemos moradores dizendo, quase como se fosse uma besteira qualquer, que as criaturas nunca atacam se não forem provocadas. Embora essa declaração não seja enfatizada em nenhum momento, ela é uma das mais importantes do filme, ajudando a compreender o cenário em que se dão os acontecimentos. É através dela que percebemos o que acontece na Zona Infectada, numa grande analogia à situação real vivida na fronteira dos EUA com o México.
A trilha sonora e a fotografia de Monstros são impressionantes. As cores são fortes e os cenários são muito bem construídos; a beleza da paisagem natural mexicana ajuda em diversos momentos, seja nos planos abertos ou nas tomadas urbanas/florestais. E cada cena é majestosamente pontuada por uma bela trilha um tanto minimalista, que dá um tom sensível e frágil à obra.
Monstros é um filme incrível que, infelizmente, não é tão fácil de agradar. Por seu ar contemplativo e reflexivo, contrastando com um trailer com uma montagem alucinada e um trailer que sugere um ambiente pós-apocalíptico, é fácil que as expectativas sejam desapontadas. Contudo, uma vez superada essa barreira, é difícil não se encantar com a obra e a proposta de Gareth, que nos presenteia com um dos melhores filmes do ano em seu primeiro longa.
O grande feito de Mad Max 2, na minha opinião, foi adicionar uma boa camada de complexidade à trama do filme original. Aqui, temos uma visão mais abrangente do futuro apocalíptico em que se passa a história, abordando elementos que, visionários para a época, se mantém atuais nos tempos modernos (a guerra por combustíveis, e o colapso da civilização quando a gasolina seca). Assim, as gangues de motoqueiros do primeiro filme subitamente estão inseridas em um contexto maior, pertencente à uma sociedade marginal criada em meio ao caos, e suas ações não são mais baderna desproposital, mas sim uma caça desenfreada por combustível.
O personagem de Gibson, ao contrário do que as sinopses parecem indicar, não se torna um justiceiro, mas sim um homem endurecido pela violência ao seu redor. Um dos diálogos do filme ressalta essa noção, onde Max é chamado de "abutre", "parasita", por estar vagando pelas estradas junto da escória, completando assim o ciclo de ascenção e queda visto no primeiro filme. Aqui, em uma sociedade corrompida e decadente, Max se torna um homem frio, solitário, lutando por sua sobrevivência acima de qualquer preceito moral.
O cenário em que a história se desenrola é muito interessante. Partindo a premissa de certo modo plausível de guerras em busca de combustível, levando à destruição da paisagem natural e à corrupção da sociedade, Mad Max nos apresenta uma visão do futuro onde a humanidade retorna ao seu estado primitivo, vivendo em conglomerados isolados. Dentro desses oásis de civilização, a vida ainda é possível (as cidades vistas no primeiro filme foram eventualmente sendo consumidas pelo caos e se tornando pequenos povoados); do lado de fora, nas estradas, o caos impera, e a violência é o poder de barganha por sua vida.
Nos aspectos técnicos, é notável a evolução em relação ao primeiro filme. O figurino de Mad Max 2 é um primor, e se tornou referência para todo um gênero que veio a brilhar nos anos 80 e 90. Vale ressaltar a diferença entre o visual dos refugiados e das gangues; enquanto o primeiro adota uma predominância do branco (numa óbvia representação de maniqueísmo) e tecidos que mais lembram nomades do deserto, as gangues adotam uma indumentária preta, cheia de couro e, porque não, acessórios que remetem ao sadomasoquismo. Assim como as roupas, a própria maquiagem dos atores é diferenciada para cada grupo, cada um único a seu modo.
A trilha sonora, por sua vez, encaixa perfeitamente com as cenas. No primeiro filme, a sensação era de que a trilha era por demais exageradas e pomposa pra cenas um tanto fracas; aqui, a trilha segue a mesma linha, e se mostra uma escolha acertada. As cenas de perseguição ficam muito mais intensas e tensas devido à trilha sonora.
Mad Max 2 é um grande filme. Embora acrescente elementos interessantes ao seu predecessor e estabeleça o tom e o ambiente para toda uma série, ao criar um mundo novo e caótico, o filme pode ser visto como uma obra independente, com começo, meio e fim. Um clássico do cinema, para ser relembrado sempre!
Devo confessar que Cameron me surpreendeu com uma boa sequência do já clássico Alien, O 8° Passageiro. O filme, apesar de reciclar a maioria dos elementos do primeiro, consegue introduzir novos elementos à trama, dando um ar de originalidade merecido.
Em Aliens, finalmente conhecemos um pouco mais do ciclo biológico das criaturas, e também temos uma breve visão da sociedade construída pela humanidade naquele futuro não-datado, onde nos é dito que a humanidade já visitou e colonizou dezenas de planetas. Uma sub-trama envolvendo Ripley e a Corporação responsável pela viagem da Nostromo, que acontece logo no começo do filme, apesar de soar completamente dispensável para os acontecimentos seguintes, é muito interessante no sentido de situar a personagem em uma cadeia hierárquica maior, tendo que responder por seus atos.
O único problema de Aliens é justamente seu diretor, que recorre à lugares-comum por diversas vezes ao longo do filme, como a sobrevivente desacreditada e o auto-sacrifício de soldados valentes. Ao contrário do primeiro filme, Aliens abriu mão de qualquer terror psicológico, fotografia claustrofóbica e um senso de desespero e impotência. Aqui, tudo é grandioso: planos abertos, construções monumentais, explosões gigantescas. Os aliens aparecem às centenas, e, ao contrário do primeiro filme, morrem com poucos tiros. Em uma analogia bem pobre, os aliens de Cameron são iguais aos Zerglings de Starcraft.
De qualquer forma, um filme bastante interessante, e uma boa adição à mitologia da série!
Não é sempre que um filme concilia paródia e drama de forma concisa, sem que soe exagerado. Hobo with a Shotgun, segundo filme do diretor Jason Eisener, consegue esse feito. Comparado por muitos com Robert Rodriguez, de quem a influência (não sei precisar a extensão desta, mas ela existe) é perceptível, Jason Eisener mostra ser mais um aficionado pelo cinema trash e pelas grindhouses dos anos 70 e 80. De fato, mais do que Machete, Hobo with a Shotgun poderia muito bem ser a terceira parte do projeto Grindhouse de Rodriguez e Tarantino, tal a sua identificação com a proposta e temática. É possível até mesmo adivinhar de que modo o filme termina caso você tenha assistido ao projeto (afinal, o final também é uma referência aos clássicos grindhouse).
A trama do filme é consideravelmente simples: um morador de rua, injuriado com a violência ao seu redor, resolve fazer justiça com as próprias mãos. Porém, o modo como ele se desenvolve é que faz o diferencial. Como em A Prova de Morte, em que Tarantino pega um roteiro simplório e confere sua própria marca pessoal, em Hobo with a Shotgun Jason consegue transformar a história em uma experiência interessante.
Hope Town, a cidade onde se passa a trama, está completamente encharcada em crime. E por crime não falo em carteiras sendo afanadas, e sim diversos tipos de perversidades espalhadas por todo lado. A cidade é suja, todos são corruptos e dementes e não há esperança para o futuro, como dito pelo personagem de Rutger Hauer em uma das sequências mais geniais do filme. Em meio a esse caos social em que a lei do mais forte assume proporções grotescas, é preciso um personagem que esteja alienado à sociedade para assumir o controle da situação. De fato, é possível extrair uma certa crítica social do filme: ao ver as cenas de matança proporcionadas pelo mendigo, muitos de nós devem lembrar de algum momento em suas vidas em que desejaram fazer a mesma coisa; contudo, devido a noções de sociabilidade impostos a nós desde o nascimento (como a noção de que matar é errado, de que devemos ajudar o próximo e similares, o que confere ao ser humano a condição de ser social e nos permite a convivência enquanto grupo), esse sentimento sempre foi refreado, e nunca seguimos adiante, até que ele passou. Foi preciso um personagem desprovido de regras sociais, rejeitado e indesejado, sem nada para perder e nada a temer, para exprimir tal desejo em sua forma mais pura.
Mas, pra ser sincero, acho que não foi essa a intenção do diretor. A reflexão persiste, porém.
Os aspectos técnicos do filme são uma beleza à parte. Assim como Rodriguez (usando aqui como exemplo Planeta Terror), Jason apresenta uma paleta de cores marcantes e muito fortes, conferindo às cenas uma vivacidade e uma força de expressão que ressaltam os acontecimentos da tela. Li críticas de pessoas dizendo que as cores ficam enjoativas com o tempo, mas acredito que seja exatamente o contrário: são elas que mantém o tom de homenagem do filme, nunca deixando a trama se voltar para um realismo visceral. E isso faz com que o filme seja uma beleza de ser visto. Tudo é muito colorido, bonito e brilhante. As cenas gore por si só acabam, como sempre é no cinema trash, sendo mais divertidas do que impactantes. Não sei se sou um espectador enrijecido pelos anos de violência em cena, mas nada em momento algum é verdadeiramente nojento. Existe uma cena em especial que, embora não propositalmente, lembra muito uma parte do mais novo filme do Zé do Caixão, Encarnação do Demônio.
A trilha sonora também é algo que vale a pena ouvir. Na cena em que a Plague chega ao hospital, a trilha assume um minimalismo dark que ouvi poucas vezes na vida, me remetendo um pouco a algo que Nine Inch Nails conseguiria atingir. E, nas cenas dramátics, a música assume um tom tão melancólico que é possível se conectar verdadeiramente com os personagens em cena.
A propósito, a mudança de tom do filme é impressionante. As cenas iniciais apresentam um "feel good" digno de road movies, para logo sermos jogados na podridão imunda de Hope Town. E, mesmo quando vemos o mendigo impotente em relação ao caos ao seu redor, apenas tentando encontrar o seu lugar no mundo, é difícil não se sensibilizar. De fato, o filme é construído de tal forma que o espectador em momento algum encara o mendigo como um psicopata perturbado, mas sim como alguém que sofreu o suficiente para que suas ações sejam justificadas. E essa noção é reforçada constantemente através do filme por essa transição entre momentos dramáticas e pura violência gore.
Hobo with a Shotgun foi uma surpresa muito agradável. Fico feliz de ver que Jason Eisener mostra estar seguindo um caminho bem único, trilhado por grandes nomes do cinema, como Tarantino e Rodriguez. Espero que colaborem novamente em algum projeto futuro; afinal, Hobo with a Shotgun originalmente era um dos fake trailers produzidos para o projeto Grindhouse, e exibido no Canadá em algumas salas dos EUA.
Digno de ser visto e apreciado por sua boa qualidade, fácil entretenimento, reflexões não propositais e sua bela homenagem ao gênero grindhouse, e que ele viva por muito tempo!
Death Proof é um filme peculiar, e prova de que a visão do diretor pode transformar em uma experiência única uma história que, em outras mãos, estaria repleta de lugares-comuns e seguiria uma narrativa desgastante e simplória.
Segunda parte do projeto Grindhouse, Death Proof mantém a mesma escolha estilística de Planeta Terror, ao apresentar um filtro sujo sobre a filmagem, com riscos na tela; ao contrário do primeiro, que apostou mais em deformações da imagem, Tarantino brinca com o senso de continuidade e com o som, várias vezes repetindo a mesma imagem/fala, como se o filme tivesse travado por um momento.
Porém, a versão extendida, lançada de forma independente em DVD após o fracasso de bilheteria de Grindhouse, tem uma edição muito mais limpa, esquecendo completamente da proposta do projeto por boa parte do filme. De fato, se comparada à versão extendida de Planeta Terror, esta parece uma produção normal com algumas falhas de edição, ao invés da homenagem às grindhouses dos anos 70, embora, claro, esse fato não diminua em nenhuma proporção à experiência do filme, uma vez que Tarantino é conhecido por aplicar técnicas não-ortodoxas de direção em seus filmes.
O roteiro é bem simples: 8 mulheres e um assassino num carro turbinado; o que torna a trama diferente é a maneira como ela é conduzida. Tarantino já tem longa tradição de apresentar longos diálogos em seus filmes que não necessariamente tem relação com a história, mas que discorrem sobre pontos interessantes de filosofia, antropologia ou repleta (quando se fala em Tarantino, isso significa uma referência a cada linha) de referências à cultura pop. Em Death Proof, Tarantino se utiliza dessa técnica para apresentar cada grupo de mulheres, separados pelo tempo e pelo espaço.
É interessante perceber as disparidades entre os grupos no que concerne à personalidade e as atitudes de cada um. O primeiro é frágil, sensual e inconsequente, se perdendo nas bebidas e drogas; o segundo, forte, independente, moderno e determinado. Sem entrar no campo dos spoilers, é interessante reparar também nas profissões de cada uma. As personagens de Zoë Bell e Tracie Thoms são dublês de cenas perigosas, assim como o personagem de Kurt Russel, o que acaba gerando a sequência mais interessante do filme, perto do final.
Death Proof pode ser divido em dois grandes momentos, tematizados pela presença de cada um dos grupos de mulheres. O primeiro momento aposta em um terror psicológico latente, reforçado pela incerteza do caráter do Stuntman Mike. No segundo momento, depois que o espectador já conhece melhor o dublê, o tom do filme é alterado para uma grande homenagem aos clássicos filmes norte-americanos de carros, sendo mais uma aventura do que um thriller. E, mais uma vez, Tarantino consegue conferir coesão à essa transição, sem que o espectador tenha a sensação de que o diretor não sabia onde queria chegar com o filme.
Não é um dos melhores do Tarantino, mas com certeza é um produto típico do diretor; isso por si só já é um certo atestado de qualidade, o que faz com que esse filme valha a pena ser assistido.
E ah, recomendo assisti-lo logo depois de Planeta Terror, uma vez que era essa a proposta original dos diretores. Se torna uma experiência bem mais interessante!
Robert Rodriguez definitivamente é um diretor injustiçado pelo grande público. Na ativa desde 92, seus filmes geralmente possuem um forte estilo autoral, repleto de homenagens ao cinema trash das décadas de 70 e 80. Suas obras são geralmente exageradas, extremamente violentas, visualmente ricas e bastante peculiares. É frequente a sua comparação com Tarantino, grande amigo e detentor de idéias similares sobre cinema, mas com um prestígio muito maior enquanto diretor; Rodriguez acaba sendo relegado ao status de cult, o que, novamente, considero uma injustiça.
Planeta Terror é com certeza um de seus filmes mais interessantes. Composto originalmente para fazer parte do projeto Grindhouse junto de Tarantino, onde ambos homenageiam o cinema trash dos anos 70 e 80 (Eram comuns sessões duplas em que filmes com cerca de 1h de duração eram exibidos em seguida). De acordo com essa proposta, o filme foi editado com um filtro granulado e sujo, com cortes frequentes e deformações na imagem, emulando a experiência dos cinemas grindhouse da época, onde era comum o filme da projeção apresentar problemas. Tal escolha confere à obra um caráter único e, de certa forma, divertido, uma vez que o que poderia ser considerado um erro de projeção acaba assumindo uma importância estilística, pontuando momentos-chave da história ou simplesmente conferindo um aspecto mais dinâmico à cena.
O roteiro de Planeta Terror é consideravelmente simples, principalmente por se tratar de uma invasão zumbi. No sentido estrito do roteiro, o filme segue as convenções do gênero; contudo, a maneira com que a história é desenvolvida é bastante característica de Rodriguez, com planos rápidos e cenas inesperadas, quebrando um pouco a expectativa do espectador de ver "mais do mesmo". E, num ato surpreendentemente visionário, existe um detalhe no roteiro que ficou extremamente engraçado dadas às circunstâncias atuais. Bruce Willis é muito mais badass depois dessa!
Falando em Bruce Willis, o filme realmente tem um casting inusitado. Josh Brolin, Bruce Willis e Naveen Andrews não são nomes comumente associados à produções trash. Brolin inclusive está incrível no seu papel! Em uma cena no corredor do hospital, quando ele caminha em direção à câmera com o olhar meio abaixado, é incrível a força que ele consegue transmitir os sentimentos do personagem. O resto do casting, por sua vez, é forte e bastante estruturado. Mesmo que alguma atuação soe um pouco fraca e distonante, a força das cenas e das demais atuações acaba servindo como muleta e não deixando que o momento seja estragado.
E, por fim, os aspectos técnicos. Planeta Terror é uma delícia de se ouvir. O tema principal apresenta duas ou três versões diferentes ao longo do filme, mas nunca fica cansativo ou simplório; pelo contrário, serve para dar um dinamismo maior nas cenas. Os efeitos sonoros são muito bem construídos. Cada pedaço de carne humana que é arrancado soa tão nojento quanto deveria ser. E não apenas soa nojento, mas parece nojento. A maquiagem do filme é excelente, dando um aspecto especialmente perturbador aos zumbis. E a quantidade de sangue e de tripas na tela é incrível. A cena na ponte é particularmente interessante, com litros e litros de sangue voando pra todos os lados.
Existem muitos e muitos detalhes que fazem esse filme tão divertido e prazeiroso de assistir e vão além dos aspectos técnicos. Planeta Terror é definitivamente um filme ótimo, e, como eu disse no começo, é triste ver o quão pobre foi a sua receptividade nos cinemas, e o quão subestimado é Rodriguez enquanto diretor.
Grande filme! O começo é um pouco modorrento, mas é completamente justificável pela enorme atenção aos detalhes que Ridley Scott tem. Existe uma grande preocupação em estabelecer uma atmosfera única no lugar, tanto na concepção dos cenários como até mesmo pela trilha sonora. As cenas de ação são poucas, e o Alien tem muito pouco tempo de cena em comparação aos outros personagens, por uma escolha estilística de estabelecer a tensão através do suspense e de um sentimento claustrofóbico, e não de um horror visual.
A atuação dos personagens é muito boa. Apesar de ninguém receber sequer um sobrenome ou uma história, as nuances de interpretação revelam e estabelecem personalidades bem características para cada um. E, em alguns casos, até conferem uma complexidade multidimensional, em situações onde o momento exige uma atitude firme.
E, por fim, há de sempre se lembrar a criatividade e originalidade do filme. Produto de seu tempo, Alien definitivamente foi um dos primeiros a explorar no cinema elementos que se tornariam até mesmo lugar-comum na ficção científica E no gênero terror, mas não por isso se tornando cansativo ou repetitivo pro espectador moderno, que já viu milhares de obras nesse estilo.
Realmente icônico, e um clássico pra nunca ser esquecido!
Clássico obrigatório! É o filme que definiu os precedentes pra todo um gênero novo, e que, décadas depois, ao invés de parecer clichê e repetitivo em virtude dos diversos filmes inspirados, continua sendo original e interessante.
O mais impressionante da obra é a atmosfera claustrofóbica. Não existe realmente um terror gráfico, como comum nos dias de hoje; é um medo totalmente psicológico, ampliado pelo irrecuperável senso de inutilidade do grupo. Os zumbis per se são fracos, frágeis, lentos e relativamente burros (embora já mostrem usar ferramentas, o que foi alvo de críticas em outros grandes filmes do gênero). E, mesmo assim, eles causam morte e destruição por onde passam. Por esse motivo, muitas das cenas soam forçadas devido à extrema falta de reação de alguns personagens, mas é precisamente esse elemento que se constitui no ponto forte da atmosfera.
E, por fim, existe o claro comentário social, sempre presente nas obras de Romero. Nesse filme em particular, há uma crítica muito forte em relação a acontecimentos do final da década de 60, que podem ser percebidos claramente na escolha dos personagens, em alguns de seus comportamentos e, principalmente, nas cenas finais.
Uma excelente surpresa, sem dúvidas. Não existem expectativas que não possam ser superadas quando se trata desse filme, porque nenhuma delas consegue captar com precisão a delicadeza da direção de arte, a veracidade das atuações, a frieza do roteiro e a maestria do diretor na condução da obra. É surpreendente o quanto esse filme poderia ter dado errado, mas nunca deu, sempre se sobressaindo de uma forma original. Ótimo!
Genérico. Amontoado de clichês e personagens simplórios e unidimensionais que gritam o tempo todo.
A única qualidade redentora é o estilo do filme, filmado de modo a emular o estilo documentário, conferindo um aspecto um pouco mais realista à trama. Mas nem isso salva.
Uma vez eu li um comentário dizendo que "parecia que Takashi Miike fez esse filme exclusivamente para que pudesse filmar aquele final"; agora que eu vi, concordo plenamente com ele. É algo tão inesperado e insano que se torna algo simplesmente genial.
Definitivamente uma ótima escolha para comemorar o 50º filme produzido pelo estúdio. Enrolados é um filme excelente, entre os melhores já produzidos pela Disney!
"'Adeus' nem sempre significa o fim. Às vezes, significa um novo começo." "Às vezes dependemos dos outros como um espelho, para nos definir e dizer quem somos. E esse reflexo me faz gostar de mim mesma um pouco mais."
Machete é deliberadamente um filme trash. O roteiro, a direção, a trilha sonora e tudo mais se rendem lascivamente ao exagero, e não sentem um pingo de culpa por isso.
Em momento algum o filme se leva a sério, e, portanto, gera momentos genuinamente divertidos, como a cena dos carros saltitantes, ou a clássica em que Machete improvisa uma "corda" pra poder escapar pela janela.
O roteiro é bastante simples e objetivo: Machete quer vingança, e nada mais. O propósito é tão bem definido que existe até mesmo uma brincadeira do diretor no final do filme, deixando no ar a possibilidade de uma continuação.
Resumindo, Machete é um filme de ação extremamente exagerado e divertido, e é perfeito pra ser assistido com amigos.
O Rastro
2.7 214Tive a chance de assisti-lo em pré-estreia e me surpreendi bastante! O diretor entende as convenções dos bons filmes de terror e utiliza muito bem a fotografia e o som (trilha + mixagem) para criar uma atmosfera claustrofóbica. A direção de arte e a maquiagem são incríveis, e a trama se apropria de elementos bem característicos do cinema brasileiro para criar uma obra única dentro do gênero.
Existem alguns pequenos furos no roteiro que causam um estranhamento e é fácil prever quando a maioria dos sustos de aproxima, mas a atmosfera contribui para que a sensação de angústica permaneça.
Vale a pena assistir nos cinemas!
Bunker Palace Hotel
3.7 5Há quem diga que a ficção científica é subversiva, por constantemente flertar com temas como espionagem, golpes de estado e intrigas políticas. Essa afirmação pode não ser verdadeira em alguns casos, mas se aplica perfeitamente ao francês Bunker Palace Hotel, filme de estréia do quadrinista Enki Bilal.
Bunker Palace Hotel é um filme lento, que mostra a degradação da condição humana face ao confinamento e à dúvida, e que aposta todas as fichas na reviravolta do final. Após a experiência, o espectador fica com a sensação que toda a ação estava acontecendo em outro lugar enquanto acompanhávamos o grupo de políticos, e o último ato dá um vislumbre de um mundo ainda mais esquisito e rico de detalhes do que o pequeno universo do bunker.
(Crítica completa em:
Alien: A Ressurreição
3.1 488 Assista AgoraA franquia Alien, ao longo de quatro filmes, se estabeleceu como um marco na história do cinema mundial. Misturando terror e ficção científica, a série nos presenteou com uma das criaturas mais icônicas do último século, o alien xenomorfo. Predador implacável, dotado de força e resistência sobrehumanas, e notável por possuir uma única fraqueza: a tenente Ellen Ripley, genialmente interpretada por Sigourney Weaver. Diante de tal legado, estabelecido desde o primeiro filme, a tarefa imposta a cada novo diretor é cada vez maior e mais difícil. Como manter o mesmo nível de qualidade de seus predecessores ao mesmo tempo em que é preciso reciclar as idéias de uma obra que segue o mesmo padrão a cada peça?
Infelizmente, Alien: Resurrection é uma obra que falha em entregar aquilo que promete. Com um roteiro fraco, que necessita de um deus-ex-machina para se justificar, e cenas de ação que nunca chegam a empolgar o espectador, o filme depende exclusivamente de sua estética e do peso de seu elenco para contar a sua história. Com um final que deixa em aberto a possibilidade de futuras sequências, é difícil não pensar que a série deveria ter tido o seu devido encerramento com o destino de Ripley no terceiro filme.
(Crítica completa em:
Os Agentes do Destino
3.5 1,1K Assista AgoraA ficção científica, desde a sua concepção até suas acepções contemporâneas, tem demonstrado uma certa predileção por alguns temas. Questões que envolvem os planos de existência, a consciência humana, os níveis de realidade, sonhos, destino e, consequentemente, o livre-arbítrio. É a partir desse último tema que George Nolfi constrói a premissa de Os Agentes do Destino. Mas, embora seja essa a fundação da obra, ela não se limita a esse aspecto - seu verdadeiro núcleo, seu raison d’etre, é o amor. Sob a fachada de um intricado suspense sci-fi, reside uma clássica história de amor.
Os Agentes do Destino é um filme com um enorme potencial latente. Talvez por sua inexperiência, o diretor resolveu bombardear o expectador com pequenas doses do que a obra poderia ser, e seguiu pelo caminho mais convencional. Uma experiência agradável e bem executada, mas que, assim como sempre acontece com histórias sobre destino, nos deixa imaginando como teria sido se as coisas tivessem sido diferentes.
(Confira a crítica completa em:
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
4.3 5,2K Assista AgoraDe tempos em tempos, um filme consegue expressar tão bem sua idéia e ser tão bem executado que ele conquista um lugar permanente na história do cinema mundial; às vezes, esse filme transcende a sua condição estática e se torna algo tão forte que se estabelece como um marco. Harry Potter, ao longo de oito filmes, conseguiu o seu espaço junto aos grandes. Por sua coesão narrativa não se perder entre cada obra, por acompanhar o crescimento e o amadurecimento tanto pessoal quanto profissional de seu cast, por quebrar recorde atrás de recorde de bilheteria. E, afinal, por contar uma história de amor e amizade de uma forma simples, sem exageros ou melodramas.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2 é um bom filme. Apesar de toda a pressão e todo o hype acerca do último filme da saga, assim como os problemas ocorridos com a urgência em levar a história ao desfecho em tão pouco tempo, o diretor e sua equipe nunca perdem o controle e se deixam dominar pela expectativa, e conseguem dar um desfecho digno para a série, que deixará saudades para os fãs do mundo todo.
(Crítica completa aqui:
X-Men: Primeira Classe
3.9 3,4K Assista AgoraA trama de First Class remonta os princípios da amizade do professor Xavier e Magneto, assim como a origem da escola para mutantes e diversos outros elementos presentes na história, como o protótipo da nave Pássaro Negro e o Cérebro. O ambiente em que ela se desenrola, dessa vez, tem como pano de fundo a crise dos mísseis em Cuba, situando os heróis em um univero realista. Em alguns momentos, o diretor Matthew Vaughn reproduz trechos de reportagens de TV da época, incluindo alguns discursos presidenciais, conferindo mais veracidade ao enredo.
Apesar do pouco aprofundamento em seus personagens secundários, First Class não é um filme que depende exclusivamente de seu cast principal. Cada personagem (até mesmo o pobre Riptide) possui um bom tempo de cena, e participam de momentos importantes. Com a exceção de Emma Frost, que não faz realmente muita coisa, nenhum personagem é dispensável para a trama (nem mesmo o Darwin, que serve como um rito de passagem para o jovem grupo de mutantes). A amizade de Xavier e Erik, por sua vez, não recebe tempo em cena suficiente para justificar a intensidade do laço que se forma entre eles; porém, isso não se torna um obstáculo para o espectador uma vez que esse tempo de convivência está implícito - afinal, existe o período em que passaram juntos procurando os outros mutantes -, e ele se mostra verdadeiro através das reações dos atores. A cena da praia, no final do filme, e a interação entre os dois personagens, resume bem tanto sua amizade quanto suas ideologias e o papel que ambos representariam naquele universo de agora em diante.
X-Men First Class não pretende ser mais do que é, e talvez seja essa a sua grande força. Ele não tenta fomentar diálogos profundos sobre a natureza dúbia do homem, tampouco cria conspirações sobre a necessidade da guerra. O filme busca retratar as origens de uma franquia, assim como criar uma obra que trate mais de seus personagens do que de suas ações. Mesmo envoltos em conflitos, conspirações e esquemas grandiosos, os personagens de X-Men brilham ao se mostrarem, afinal de contas, humanos.
(O resto em
Xeque Mate
3.8 34Uma temática recorrente no cinema é a de que um evento (seja ele um esporte, um novo amor, um acontecimento drástico ou um hobby) é capaz de transformar irremediavelmente a vida de uma pessoa e salvá-la dos males do mundo. O que faz com que Xeque-Mate, primeiro longa dirigido por Caroline Bottaro, seja diferente de seus companheiros de tema, é a abordagem da trama; aqui, a protagonista tenta fugir não de um infortúnio, mas da mediocridade. Sua vida é vida feliz, tranquila e pacífica, sem conflitos, mas também sem emoções, sem sonhos e sem projeções. O ambiente em que convive, por sua vez, reproduz esse sentimento de inanição, muitas vezes disfarçado de tradição ou costumes de um vilarejo.
Xeque-Mate é um filme sutil, que trabalha seus temas sem exaltá-los na tela. Uma primeira leitura nos mostra uma história de uma mulher que, contra todas as adversidades, se torna uma grande jogadora de xadrez. Uma segunda leitura, mais profunda, mostra que o filme lida com promessas, frustrações, conformações. O cast de personagens é composto quase exclusivamente de pessoas que apresentam um potencial não-realizado, ou algum acontecimento passado que, ao ter dado errado, minou as perspectivas por um futuro diferente. O marido de Hélène é um grande exemplo. Pragmático e mundano, ele se preocupa apenas em prover o sustento de sua família e nada mais. Não se interessa por literatura, não aceita conceitos que não apresentem uma finalidade prática e imediata e não possui ambições.
Apesar dos percalços, Xeque-Mate é um bom filme, que consegue transmitir suas mensagens sem precisar abrir mão da sutileza (na maior parte das vezes). Sandrine Bonnaire domina a cena com sua interpretação, e nos faz perceber que o que realmente importa é nunca desistir.
(Crítica completa:
Alien 3
3.2 539 Assista AgoraA quadrilogia Alien pode se considerar privilegiada por ter sido dirigida por quatro grandes diretores - curiosamente em início de carreira, tendo na série um excelente portfólio para seus próximos trabalhos. Cada um deles trouxe a sua marca pessoal, enriquecendo ainda mais o universo em que a história se dá. Aqui, no terceiro filme da trilogia, David Fincher esboça os primeiros traços que marcariam sua filmografia, embora sem muita justiça, dado o resultado caótico da obra. Rumores de bastidores dizem que as filmagens começaram antes mesmo que o filme tivesse roteiro pronto; é difícil saber se a percepção das imagens é alterada depois de saber desse rumor, ou se realmente o enredo se confunde durante o seu desenrolar, mas em determinados momentos a direção parece estar improvisando.
A história logo após os acontecimentos finais de Aliens. O módulo de escape em que Ripley fugiu da colônia LV-426 é danificado durante o vôo, e acaba caindo em um planeta próximo - uma colônia penal não identificada, que havia sido uma refinaria de chumbo no passado. Lá dentro, após receber os devidos cuidados médicos, Ripley descobre ser a única sobrevivente do acidente, assim como sua verdadeira natureza: um xenomorfo, por algum motivo não explicado no filme, consegue se infiltrar no módulo. O alien também sobrevive à queda, e, ao encontrar um hospedeiro apropriado, completa seu ciclo de maturidade e começa a matar indiscriminadamente nos corredores da prisão.
A premissa do filme, embora simplista, estabelece um ambiente interessante para o desenrolar da trama. O alien, uma criatura predadora e sanguinária, se vê livre e isolada com um grande grupo de assassinos convictos, estupradores, ladrões e toda sorte de criminosos. Pessoas à margem da sociedade, considerados escória e dispensáveis; suas mortes não seriam relembradas ou sentidas. A própria audiência é menos inclinada a sentir simpatia por seu futuro. Fincher se apropria desse elemento para filmar mortes rápidas, cruéis e despidas de glamour, como um açougueiro abatendo o gado. Não há gentileza ou arrependimento, apenas a luta desesperada pela sobrevivência.
(O resto da crítica em
Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão
3.4 486 Assista AgoraMad Max Beyond Thunderdome, terceiro filme da trilogia concebida por George Miller, se mostra satisfatório e consonante com a temática iniciada por seus antecessores, embora, como pode ser constatado a partir da metade da obra, ele se perca um pouco em sua proposta. Tal problema se deve ao fato de Miller não ter dirigido o filme até o fim.
Durante as gravações, o produtor (e amigo pessoal de Miller) Byron Kennedy morreu em um acidente de helicóptero enquanto procurava lugares para rodar o filme; a partir desse momento, Miller perdeu o interesse em continuar dirigindo a obra, e passou o cargo para George Ogilvie, ficando responsável apenas pelas cenas de ação. Como consequência da mudança de direção, o filme se perde em tom assim que Max se encontra com os garotos do deserto. O que antes era uma distopia pessimista assume ares de aventura, com direito a risadinhas despropositais e algumas mudanças inexplicáveis de caráter: o personagem Master, por exemplo, deixa de ser um punk manipulador para se tornar um velhinho sábio e nobre, que se veste como um literato inglês. E o garoto com a sombra nos olhos, que parecia ter sua própria seita, se transforma em um acrobata de circo, com indumentária apropriada.
Apesar de imprimir um pouco de sua marca pessoal na tela, Ogilvie consegue emular com sucesso o estilo de Miller, embora sem inovar em nenhum aspecto; o último arco do filme, embora diferente em sua execução, é muito parecido com o de Road Warrior, onde Max e um grupo fogem dos vilões. Aqui, Miller se consolida como um grande diretor de perseguições motorizadas, proporcionando uma sequência ao mesmo tempo divertida, intensa e tensa. Max e os garotos do deserto fogem em uma espécie de trem/caravana muito elaborado, com diversas estruturas metálicas pendendo dos lados do veículo, convenientemente posicionados para que os diversos capangas subam e sejam atirados para fora.
No aspecto humano da obra, Beyond Thunderdome apresenta um variedade interessante de personagens. Se Road Warrior tinha uma bela seleção de punks sado-masoquistas, aqui os figurinos atingiram um nível maior na escala do absurdo. Assumindo características próprias inerentes ao universo da trama, os penteados ganharam cerca de 30cm de altura a mais e se tornaram selvagens e coloridos, com moicanos de dar inveja. As roupas, por sua vez, continuam a tendência sado-maso, mas com bem menos tecido; de toda a trilogia, Beyond Thunderdome é o que mais mostra os corpos de seus atores.
Vale ressaltar a adição de personagens bem interessantes à trama, como o composto Master Blaster, vindo diretamente de um filme das Tartarugas Ninjas. MB é basicamente duas pessoas em uma: um anão, o Master, tido como o cérebro (embora linhas como "No shit. Energy. No energy, no town" me façam duvidar disso) e o engenheiro-chefe das operações de Bartertown, e um brutamontes enorme com uma mente de criança, o Blaster. Tina Turner, no papel de Aunt Entity, governante de Bartertown, interpreta com confiança o seu papel, embora exagere no tom ao tentar soar megalomaníaca em algumas cenas.
Mel Gibson, naquele que é provavelmente o melhor papel de sua carreira, ajuda Max e completar o arco do desenvolvimento de seu personagem, iniciado no primeiro filme. Max passa por uma transformação condizente com o mundo em que acontece a história, que, em seu apogeu, sofre um grande impacto e desce até os limites da decadência, para então renascer como algo novo dos escombros do velho mundo. Em Beyond Thunderdome, Max, embora ainda um andarilho solitário, já está em bons termos com seu passado, e não é mais atormentado por ele. Agora, ele já não evita se envolver com outras pessoas, uma vez que todos se encontram na mesma busca por sobrevivência que ele.
O mundo de Mad Max vê em Beyond Thunderdome a sua chance de redenção, ilustrada principalmente pelos meninos do deserto. Através de Max, que serviu como os olhos do espectador através da trilogia, presenciamos a constante decadência do mundo pós-guerra, onde atos de violência eram praticados sem a menor justificativa na busca incessante por combustível. Em BT, que acontece já não há mais nenhum resquício dos velhos combustíveis fósseis, nem das velhas cidades. Embora o tempo não seja especificado, já se passaram talvez uma centena de anos desde a explosão da guerra nuclear, e décadas desde o primeiro filme. Tempo suficiente para que a sociedade ainda retenha alguns elementos do passado, principalmente no tocante a instrumentos, e para que ela, após sua total destruição, já esteja assumindo uma nova configuração, sendo Bartertown um grande exemplo.
Nascida no meio do deserto e construída com escombros, a cidade se tornou uma grande referência no comércio, onde a moeda corrente não é mais o dinheiro, mas sim sua força de trabalho ou algum instrumento de troca. Em tempos onde a sociedade foi aniquilada, o homem retorna aos seus instintos mais básicos para, a partir daí, poder adquirir um novo mundo para si; é essa a lógica por trás do Thunderdome, uma pequena arena de batalhas no subterrâneo de Bartertown. Na cidade, a lei é simples: quando há uma desavença, esta deve ser resolvida no Thunderdome em uma luta até a morte. Desse modo, a cidade fica limpa de brigas, assaltos e quaiser problemas de segurança pública, uma vez que eles entram no Thunderdome e de lá não saem. As lutas, por sua vez, são muito interessantes, uma vez não há regras e a luta no domo assume proporções que desafiam a gravidade.
Outro elemento da cidade que indica os novos rumos que a sociedade está tomando é o principal gerador de energia do lugar. Ao invés de usarem combustíveis fósseis ou mesmo eletricidade para abastecer suas máquinas, a população de Bartertown refina o gás metano, presente nas fezes de porco; logo, a cidade tem um criadouro gigantesco de porcos no subterrâneo, lembrando as velhas caldeiras de carvão que geravam energia na Inglaterra Vitoriana.
Mas não é apenas Bartertown que ilustra o novo mundo em formação. No deserto, Max encontra uma comunidade de garotos e garotas que vivem próximos aos destroços de um velho avião, que os trouxe aí (em uma bela sessão de panorama histórico, descobrimos que, assim que o ataque nuclear começou, na guerra que devastou o mundo, várias pessoas se esforçaram para salvar o máximo de pessoas possíveis, levando elas para longe em aviões, trens e afins). Esses garotos cresceram sem nenhuma amarra social, tendo os mais velhos como referência cultural e convivendo em comunidade. Agora, gerações após a guerra, os acontecimentos passados são transmitidos pelos membros mais velhos à fogueira, numa cena bastante interessante. Instrumentos daqueles tempos passados, como toca-discos e armas, são vistos com surpresa, como se pertencentes à lendas e mitos. A trama envolvendo os meninos do deserto, embora com um tom mais leve do que o pretendido por Miller, é o principal eixo que movimenta a trama. É a raça humana que, sobrevivente, tenta retornar ao seu lar.
Mad Max Beyond Thunderdome, assim como o segundo filme, é uma sequência, um filme independente e um prólogo. Apresenta começo, meio e fim, e, ao mesmo tempo em que encerra a história e o arco iniciado no primeiro filme, dá margem para futuras continuações, sem que soem forçadas ou desnecessárias. Afinal, o mundo de Mad Max é enorme e complexo, e ainda está nos primeiros anos de seu renascimento. Ainda existe muito chão para ser trilhado!
Monstros
3.0 315 Assista AgoraEm uma época em que produções milionárias borbadeiam o expectador com imagens e ações, o diretor estreante Gareth Edwards surge pra mostrar que ainda se é possível contar uma história com pouco orçamento e muita vontade.
Ao contrário de muitas peças hollywoodianas, o roteiro em Monstros não segue a estrutura tradicional de apresentação -> problemática -> climax -> resolução. Aqui, ao invés de grandes revelações jogadas na sua cara, o filme segue o seu próprio ritmo, muitas vezes assumindo o papel de espectador dos acontecimentos através dos olhos de seus protagonistas.
Monstros é um filme que, como toda grande obra, não é necessariamente sobre os monstros, e sim sobre nós. Ou, dependendo da sua perspectiva, continua sendo sobre monstros. Embora a presença dos aliens seja um fato consumado, ela é quase despercebida ao longo da projeção; somos apresentados, ao invés disso, ao aspecto humano da história, e como as pessoas da região infectada estão vivendo as suas vidas.
"Adaptação" é uma temática recorrente ao longo da obra. A começar pelas formas alienígenas que, ao chegarem a solo terrestre, encontraram uma situação propícia para morarem. Os moradores das regiões próximas das áreas infectadas, por sua vez, aprendem a conviver com a presença tanto das forças alienígenas quanto das forças armadas, num brilhante comentário sobre a situação de comunidades que sofrem intervenção militar. Os protagonistas, Kaulder e Sam, por sua vez, aprendem a lidar com a situação em que se encontram, e também descobrem um ao outro ao longo de sua jornada, de forma natural e sincera. Em uma cena, quando se encontravam próximos à fronteira, Kaulder faz uma reflexão bastante pertinente sobre a natureza do ser humano, e que se aplica também ao futuro de sua relação com Sam:
"Quando chegarmos em casa, logo esqueceremos de tudo. Amanhã, cada um seguirá sua própria vida em nossas perfeitas casas no subúrbio."
Essas linhas de diálogo encerram o arco de transformação dos personagens, afetados por tudo o que presenciaram durante a viagem. Embora não seja mostrado em cena, é nesse momento em que ambos percebem que não são mais os mesmos, e não poderiam esquecer o que viram e seguir em frente com as suas vidas.
A trajetória de Sam e Kaulder através do México é digna de nota. Ao longo do caminho, vemos comunidades arrasadas, com restos de bombas, tanques e até mesmo aviões espalhados por todo lado. Após 6 anos de combate, as áreas próximas à Zona Infectada se tornaram verdadeiros cemitérios de guerra, atulhada de destroços materiais e humanos.
Ao utilizar seus protagonistas como espectadores, presenciando tanto o horror da guerra quanto a desolação dos espaços arrasados por ela, Gareth faz seu forte comentário político e social, através de frases ditas ao vento, sem torná-las explícitas e grosseiras. Em mais de uma ocasião, vemos protestos contra a ação americana, causa de tantas mortes e destruição; em outra, vemos moradores dizendo, quase como se fosse uma besteira qualquer, que as criaturas nunca atacam se não forem provocadas. Embora essa declaração não seja enfatizada em nenhum momento, ela é uma das mais importantes do filme, ajudando a compreender o cenário em que se dão os acontecimentos. É através dela que percebemos o que acontece na Zona Infectada, numa grande analogia à situação real vivida na fronteira dos EUA com o México.
A trilha sonora e a fotografia de Monstros são impressionantes. As cores são fortes e os cenários são muito bem construídos; a beleza da paisagem natural mexicana ajuda em diversos momentos, seja nos planos abertos ou nas tomadas urbanas/florestais. E cada cena é majestosamente pontuada por uma bela trilha um tanto minimalista, que dá um tom sensível e frágil à obra.
Monstros é um filme incrível que, infelizmente, não é tão fácil de agradar. Por seu ar contemplativo e reflexivo, contrastando com um trailer com uma montagem alucinada e um trailer que sugere um ambiente pós-apocalíptico, é fácil que as expectativas sejam desapontadas. Contudo, uma vez superada essa barreira, é difícil não se encantar com a obra e a proposta de Gareth, que nos presenteia com um dos melhores filmes do ano em seu primeiro longa.
Um filme para se ver e se encantar!
Mad Max 2: A Caçada Continua
3.8 476 Assista AgoraO grande feito de Mad Max 2, na minha opinião, foi adicionar uma boa camada de complexidade à trama do filme original. Aqui, temos uma visão mais abrangente do futuro apocalíptico em que se passa a história, abordando elementos que, visionários para a época, se mantém atuais nos tempos modernos (a guerra por combustíveis, e o colapso da civilização quando a gasolina seca). Assim, as gangues de motoqueiros do primeiro filme subitamente estão inseridas em um contexto maior, pertencente à uma sociedade marginal criada em meio ao caos, e suas ações não são mais baderna desproposital, mas sim uma caça desenfreada por combustível.
O personagem de Gibson, ao contrário do que as sinopses parecem indicar, não se torna um justiceiro, mas sim um homem endurecido pela violência ao seu redor. Um dos diálogos do filme ressalta essa noção, onde Max é chamado de "abutre", "parasita", por estar vagando pelas estradas junto da escória, completando assim o ciclo de ascenção e queda visto no primeiro filme. Aqui, em uma sociedade corrompida e decadente, Max se torna um homem frio, solitário, lutando por sua sobrevivência acima de qualquer preceito moral.
O cenário em que a história se desenrola é muito interessante. Partindo a premissa de certo modo plausível de guerras em busca de combustível, levando à destruição da paisagem natural e à corrupção da sociedade, Mad Max nos apresenta uma visão do futuro onde a humanidade retorna ao seu estado primitivo, vivendo em conglomerados isolados. Dentro desses oásis de civilização, a vida ainda é possível (as cidades vistas no primeiro filme foram eventualmente sendo consumidas pelo caos e se tornando pequenos povoados); do lado de fora, nas estradas, o caos impera, e a violência é o poder de barganha por sua vida.
Nos aspectos técnicos, é notável a evolução em relação ao primeiro filme. O figurino de Mad Max 2 é um primor, e se tornou referência para todo um gênero que veio a brilhar nos anos 80 e 90. Vale ressaltar a diferença entre o visual dos refugiados e das gangues; enquanto o primeiro adota uma predominância do branco (numa óbvia representação de maniqueísmo) e tecidos que mais lembram nomades do deserto, as gangues adotam uma indumentária preta, cheia de couro e, porque não, acessórios que remetem ao sadomasoquismo. Assim como as roupas, a própria maquiagem dos atores é diferenciada para cada grupo, cada um único a seu modo.
A trilha sonora, por sua vez, encaixa perfeitamente com as cenas. No primeiro filme, a sensação era de que a trilha era por demais exageradas e pomposa pra cenas um tanto fracas; aqui, a trilha segue a mesma linha, e se mostra uma escolha acertada. As cenas de perseguição ficam muito mais intensas e tensas devido à trilha sonora.
Mad Max 2 é um grande filme. Embora acrescente elementos interessantes ao seu predecessor e estabeleça o tom e o ambiente para toda uma série, ao criar um mundo novo e caótico, o filme pode ser visto como uma obra independente, com começo, meio e fim. Um clássico do cinema, para ser relembrado sempre!
Aliens: O Resgate
4.0 809 Assista AgoraDevo confessar que Cameron me surpreendeu com uma boa sequência do já clássico Alien, O 8° Passageiro. O filme, apesar de reciclar a maioria dos elementos do primeiro, consegue introduzir novos elementos à trama, dando um ar de originalidade merecido.
Em Aliens, finalmente conhecemos um pouco mais do ciclo biológico das criaturas, e também temos uma breve visão da sociedade construída pela humanidade naquele futuro não-datado, onde nos é dito que a humanidade já visitou e colonizou dezenas de planetas. Uma sub-trama envolvendo Ripley e a Corporação responsável pela viagem da Nostromo, que acontece logo no começo do filme, apesar de soar completamente dispensável para os acontecimentos seguintes, é muito interessante no sentido de situar a personagem em uma cadeia hierárquica maior, tendo que responder por seus atos.
O único problema de Aliens é justamente seu diretor, que recorre à lugares-comum por diversas vezes ao longo do filme, como a sobrevivente desacreditada e o auto-sacrifício de soldados valentes. Ao contrário do primeiro filme, Aliens abriu mão de qualquer terror psicológico, fotografia claustrofóbica e um senso de desespero e impotência. Aqui, tudo é grandioso: planos abertos, construções monumentais, explosões gigantescas. Os aliens aparecem às centenas, e, ao contrário do primeiro filme, morrem com poucos tiros. Em uma analogia bem pobre, os aliens de Cameron são iguais aos Zerglings de Starcraft.
De qualquer forma, um filme bastante interessante, e uma boa adição à mitologia da série!
O Vingador
3.6 209Não é sempre que um filme concilia paródia e drama de forma concisa, sem que soe exagerado. Hobo with a Shotgun, segundo filme do diretor Jason Eisener, consegue esse feito. Comparado por muitos com Robert Rodriguez, de quem a influência (não sei precisar a extensão desta, mas ela existe) é perceptível, Jason Eisener mostra ser mais um aficionado pelo cinema trash e pelas grindhouses dos anos 70 e 80. De fato, mais do que Machete, Hobo with a Shotgun poderia muito bem ser a terceira parte do projeto Grindhouse de Rodriguez e Tarantino, tal a sua identificação com a proposta e temática. É possível até mesmo adivinhar de que modo o filme termina caso você tenha assistido ao projeto (afinal, o final também é uma referência aos clássicos grindhouse).
A trama do filme é consideravelmente simples: um morador de rua, injuriado com a violência ao seu redor, resolve fazer justiça com as próprias mãos. Porém, o modo como ele se desenvolve é que faz o diferencial. Como em A Prova de Morte, em que Tarantino pega um roteiro simplório e confere sua própria marca pessoal, em Hobo with a Shotgun Jason consegue transformar a história em uma experiência interessante.
Hope Town, a cidade onde se passa a trama, está completamente encharcada em crime. E por crime não falo em carteiras sendo afanadas, e sim diversos tipos de perversidades espalhadas por todo lado. A cidade é suja, todos são corruptos e dementes e não há esperança para o futuro, como dito pelo personagem de Rutger Hauer em uma das sequências mais geniais do filme. Em meio a esse caos social em que a lei do mais forte assume proporções grotescas, é preciso um personagem que esteja alienado à sociedade para assumir o controle da situação. De fato, é possível extrair uma certa crítica social do filme: ao ver as cenas de matança proporcionadas pelo mendigo, muitos de nós devem lembrar de algum momento em suas vidas em que desejaram fazer a mesma coisa; contudo, devido a noções de sociabilidade impostos a nós desde o nascimento (como a noção de que matar é errado, de que devemos ajudar o próximo e similares, o que confere ao ser humano a condição de ser social e nos permite a convivência enquanto grupo), esse sentimento sempre foi refreado, e nunca seguimos adiante, até que ele passou. Foi preciso um personagem desprovido de regras sociais, rejeitado e indesejado, sem nada para perder e nada a temer, para exprimir tal desejo em sua forma mais pura.
Mas, pra ser sincero, acho que não foi essa a intenção do diretor. A reflexão persiste, porém.
Os aspectos técnicos do filme são uma beleza à parte. Assim como Rodriguez (usando aqui como exemplo Planeta Terror), Jason apresenta uma paleta de cores marcantes e muito fortes, conferindo às cenas uma vivacidade e uma força de expressão que ressaltam os acontecimentos da tela. Li críticas de pessoas dizendo que as cores ficam enjoativas com o tempo, mas acredito que seja exatamente o contrário: são elas que mantém o tom de homenagem do filme, nunca deixando a trama se voltar para um realismo visceral. E isso faz com que o filme seja uma beleza de ser visto. Tudo é muito colorido, bonito e brilhante. As cenas gore por si só acabam, como sempre é no cinema trash, sendo mais divertidas do que impactantes. Não sei se sou um espectador enrijecido pelos anos de violência em cena, mas nada em momento algum é verdadeiramente nojento. Existe uma cena em especial que, embora não propositalmente, lembra muito uma parte do mais novo filme do Zé do Caixão, Encarnação do Demônio.
A trilha sonora também é algo que vale a pena ouvir. Na cena em que a Plague chega ao hospital, a trilha assume um minimalismo dark que ouvi poucas vezes na vida, me remetendo um pouco a algo que Nine Inch Nails conseguiria atingir. E, nas cenas dramátics, a música assume um tom tão melancólico que é possível se conectar verdadeiramente com os personagens em cena.
A propósito, a mudança de tom do filme é impressionante. As cenas iniciais apresentam um "feel good" digno de road movies, para logo sermos jogados na podridão imunda de Hope Town. E, mesmo quando vemos o mendigo impotente em relação ao caos ao seu redor, apenas tentando encontrar o seu lugar no mundo, é difícil não se sensibilizar. De fato, o filme é construído de tal forma que o espectador em momento algum encara o mendigo como um psicopata perturbado, mas sim como alguém que sofreu o suficiente para que suas ações sejam justificadas. E essa noção é reforçada constantemente através do filme por essa transição entre momentos dramáticas e pura violência gore.
Hobo with a Shotgun foi uma surpresa muito agradável. Fico feliz de ver que Jason Eisener mostra estar seguindo um caminho bem único, trilhado por grandes nomes do cinema, como Tarantino e Rodriguez. Espero que colaborem novamente em algum projeto futuro; afinal, Hobo with a Shotgun originalmente era um dos fake trailers produzidos para o projeto Grindhouse, e exibido no Canadá em algumas salas dos EUA.
Digno de ser visto e apreciado por sua boa qualidade, fácil entretenimento, reflexões não propositais e sua bela homenagem ao gênero grindhouse, e que ele viva por muito tempo!
À Prova de Morte
3.9 2,0K Assista AgoraDeath Proof é um filme peculiar, e prova de que a visão do diretor pode transformar em uma experiência única uma história que, em outras mãos, estaria repleta de lugares-comuns e seguiria uma narrativa desgastante e simplória.
Segunda parte do projeto Grindhouse, Death Proof mantém a mesma escolha estilística de Planeta Terror, ao apresentar um filtro sujo sobre a filmagem, com riscos na tela; ao contrário do primeiro, que apostou mais em deformações da imagem, Tarantino brinca com o senso de continuidade e com o som, várias vezes repetindo a mesma imagem/fala, como se o filme tivesse travado por um momento.
Porém, a versão extendida, lançada de forma independente em DVD após o fracasso de bilheteria de Grindhouse, tem uma edição muito mais limpa, esquecendo completamente da proposta do projeto por boa parte do filme. De fato, se comparada à versão extendida de Planeta Terror, esta parece uma produção normal com algumas falhas de edição, ao invés da homenagem às grindhouses dos anos 70, embora, claro, esse fato não diminua em nenhuma proporção à experiência do filme, uma vez que Tarantino é conhecido por aplicar técnicas não-ortodoxas de direção em seus filmes.
O roteiro é bem simples: 8 mulheres e um assassino num carro turbinado; o que torna a trama diferente é a maneira como ela é conduzida. Tarantino já tem longa tradição de apresentar longos diálogos em seus filmes que não necessariamente tem relação com a história, mas que discorrem sobre pontos interessantes de filosofia, antropologia ou repleta (quando se fala em Tarantino, isso significa uma referência a cada linha) de referências à cultura pop. Em Death Proof, Tarantino se utiliza dessa técnica para apresentar cada grupo de mulheres, separados pelo tempo e pelo espaço.
É interessante perceber as disparidades entre os grupos no que concerne à personalidade e as atitudes de cada um. O primeiro é frágil, sensual e inconsequente, se perdendo nas bebidas e drogas; o segundo, forte, independente, moderno e determinado. Sem entrar no campo dos spoilers, é interessante reparar também nas profissões de cada uma. As personagens de Zoë Bell e Tracie Thoms são dublês de cenas perigosas, assim como o personagem de Kurt Russel, o que acaba gerando a sequência mais interessante do filme, perto do final.
Death Proof pode ser divido em dois grandes momentos, tematizados pela presença de cada um dos grupos de mulheres. O primeiro momento aposta em um terror psicológico latente, reforçado pela incerteza do caráter do Stuntman Mike. No segundo momento, depois que o espectador já conhece melhor o dublê, o tom do filme é alterado para uma grande homenagem aos clássicos filmes norte-americanos de carros, sendo mais uma aventura do que um thriller. E, mais uma vez, Tarantino consegue conferir coesão à essa transição, sem que o espectador tenha a sensação de que o diretor não sabia onde queria chegar com o filme.
Não é um dos melhores do Tarantino, mas com certeza é um produto típico do diretor; isso por si só já é um certo atestado de qualidade, o que faz com que esse filme valha a pena ser assistido.
E ah, recomendo assisti-lo logo depois de Planeta Terror, uma vez que era essa a proposta original dos diretores. Se torna uma experiência bem mais interessante!
Planeta Terror
3.7 1,1KRobert Rodriguez definitivamente é um diretor injustiçado pelo grande público. Na ativa desde 92, seus filmes geralmente possuem um forte estilo autoral, repleto de homenagens ao cinema trash das décadas de 70 e 80. Suas obras são geralmente exageradas, extremamente violentas, visualmente ricas e bastante peculiares. É frequente a sua comparação com Tarantino, grande amigo e detentor de idéias similares sobre cinema, mas com um prestígio muito maior enquanto diretor; Rodriguez acaba sendo relegado ao status de cult, o que, novamente, considero uma injustiça.
Planeta Terror é com certeza um de seus filmes mais interessantes. Composto originalmente para fazer parte do projeto Grindhouse junto de Tarantino, onde ambos homenageiam o cinema trash dos anos 70 e 80 (Eram comuns sessões duplas em que filmes com cerca de 1h de duração eram exibidos em seguida). De acordo com essa proposta, o filme foi editado com um filtro granulado e sujo, com cortes frequentes e deformações na imagem, emulando a experiência dos cinemas grindhouse da época, onde era comum o filme da projeção apresentar problemas. Tal escolha confere à obra um caráter único e, de certa forma, divertido, uma vez que o que poderia ser considerado um erro de projeção acaba assumindo uma importância estilística, pontuando momentos-chave da história ou simplesmente conferindo um aspecto mais dinâmico à cena.
O roteiro de Planeta Terror é consideravelmente simples, principalmente por se tratar de uma invasão zumbi. No sentido estrito do roteiro, o filme segue as convenções do gênero; contudo, a maneira com que a história é desenvolvida é bastante característica de Rodriguez, com planos rápidos e cenas inesperadas, quebrando um pouco a expectativa do espectador de ver "mais do mesmo". E, num ato surpreendentemente visionário, existe um detalhe no roteiro que ficou extremamente engraçado dadas às circunstâncias atuais. Bruce Willis é muito mais badass depois dessa!
Falando em Bruce Willis, o filme realmente tem um casting inusitado. Josh Brolin, Bruce Willis e Naveen Andrews não são nomes comumente associados à produções trash. Brolin inclusive está incrível no seu papel! Em uma cena no corredor do hospital, quando ele caminha em direção à câmera com o olhar meio abaixado, é incrível a força que ele consegue transmitir os sentimentos do personagem.
O resto do casting, por sua vez, é forte e bastante estruturado. Mesmo que alguma atuação soe um pouco fraca e distonante, a força das cenas e das demais atuações acaba servindo como muleta e não deixando que o momento seja estragado.
E, por fim, os aspectos técnicos. Planeta Terror é uma delícia de se ouvir. O tema principal apresenta duas ou três versões diferentes ao longo do filme, mas nunca fica cansativo ou simplório; pelo contrário, serve para dar um dinamismo maior nas cenas. Os efeitos sonoros são muito bem construídos. Cada pedaço de carne humana que é arrancado soa tão nojento quanto deveria ser.
E não apenas soa nojento, mas parece nojento. A maquiagem do filme é excelente, dando um aspecto especialmente perturbador aos zumbis. E a quantidade de sangue e de tripas na tela é incrível. A cena na ponte é particularmente interessante, com litros e litros de sangue voando pra todos os lados.
Existem muitos e muitos detalhes que fazem esse filme tão divertido e prazeiroso de assistir e vão além dos aspectos técnicos. Planeta Terror é definitivamente um filme ótimo, e, como eu disse no começo, é triste ver o quão pobre foi a sua receptividade nos cinemas, e o quão subestimado é Rodriguez enquanto diretor.
Vale muito a pena assistir!
Alien: O Oitavo Passageiro
4.1 1,3K Assista AgoraGrande filme! O começo é um pouco modorrento, mas é completamente justificável pela enorme atenção aos detalhes que Ridley Scott tem. Existe uma grande preocupação em estabelecer uma atmosfera única no lugar, tanto na concepção dos cenários como até mesmo pela trilha sonora. As cenas de ação são poucas, e o Alien tem muito pouco tempo de cena em comparação aos outros personagens, por uma escolha estilística de estabelecer a tensão através do suspense e de um sentimento claustrofóbico, e não de um horror visual.
A atuação dos personagens é muito boa. Apesar de ninguém receber sequer um sobrenome ou uma história, as nuances de interpretação revelam e estabelecem personalidades bem características para cada um. E, em alguns casos, até conferem uma complexidade multidimensional, em situações onde o momento exige uma atitude firme.
E, por fim, há de sempre se lembrar a criatividade e originalidade do filme. Produto de seu tempo, Alien definitivamente foi um dos primeiros a explorar no cinema elementos que se tornariam até mesmo lugar-comum na ficção científica E no gênero terror, mas não por isso se tornando cansativo ou repetitivo pro espectador moderno, que já viu milhares de obras nesse estilo.
Realmente icônico, e um clássico pra nunca ser esquecido!
A Noite dos Mortos-Vivos
4.0 549 Assista AgoraClássico obrigatório! É o filme que definiu os precedentes pra todo um gênero novo, e que, décadas depois, ao invés de parecer clichê e repetitivo em virtude dos diversos filmes inspirados, continua sendo original e interessante.
O mais impressionante da obra é a atmosfera claustrofóbica. Não existe realmente um terror gráfico, como comum nos dias de hoje; é um medo totalmente psicológico, ampliado pelo irrecuperável senso de inutilidade do grupo. Os zumbis per se são fracos, frágeis, lentos e relativamente burros (embora já mostrem usar ferramentas, o que foi alvo de críticas em outros grandes filmes do gênero). E, mesmo assim, eles causam morte e destruição por onde passam. Por esse motivo, muitas das cenas soam forçadas devido à extrema falta de reação de alguns personagens, mas é precisamente esse elemento que se constitui no ponto forte da atmosfera.
E, por fim, existe o claro comentário social, sempre presente nas obras de Romero. Nesse filme em particular, há uma crítica muito forte em relação a acontecimentos do final da década de 60, que podem ser percebidos claramente na escolha dos personagens, em alguns de seus comportamentos e, principalmente, nas cenas finais.
Recomendado para qualquer fã de cinema!
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1K Assista AgoraUma excelente surpresa, sem dúvidas. Não existem expectativas que não possam ser superadas quando se trata desse filme, porque nenhuma delas consegue captar com precisão a delicadeza da direção de arte, a veracidade das atuações, a frieza do roteiro e a maestria do diretor na condução da obra. É surpreendente o quanto esse filme poderia ter dado errado, mas nunca deu, sempre se sobressaindo de uma forma original. Ótimo!
Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles
2.8 1,1K Assista AgoraGenérico. Amontoado de clichês e personagens simplórios e unidimensionais que gritam o tempo todo.
A única qualidade redentora é o estilo do filme, filmado de modo a emular o estilo documentário, conferindo um aspecto um pouco mais realista à trama. Mas nem isso salva.
Dolls
4.2 119Uma bela e sensível obra sobre o amor incondicional. Triste, silenciosa, contemplativa.
Morrer ou Viver
3.7 41 Assista AgoraUma vez eu li um comentário dizendo que "parecia que Takashi Miike fez esse filme exclusivamente para que pudesse filmar aquele final"; agora que eu vi, concordo plenamente com ele. É algo tão inesperado e insano que se torna algo simplesmente genial.
Enrolados
3.8 2,8K Assista AgoraDefinitivamente uma ótima escolha para comemorar o 50º filme produzido pelo estúdio. Enrolados é um filme excelente, entre os melhores já produzidos pela Disney!
Um Beijo Roubado
3.5 605 Assista AgoraDuas linhas do filme definem bem sua mensagem:
"'Adeus' nem sempre significa o fim. Às vezes, significa um novo começo."
"Às vezes dependemos dos outros como um espelho, para nos definir e dizer quem somos. E esse reflexo me faz gostar de mim mesma um pouco mais."
Lindo filme.
Machete
3.6 1,5K Assista AgoraMachete é deliberadamente um filme trash. O roteiro, a direção, a trilha sonora e tudo mais se rendem lascivamente ao exagero, e não sentem um pingo de culpa por isso.
Em momento algum o filme se leva a sério, e, portanto, gera momentos genuinamente divertidos, como a cena dos carros saltitantes, ou a clássica em que Machete improvisa uma "corda" pra poder escapar pela janela.
O roteiro é bastante simples e objetivo: Machete quer vingança, e nada mais. O propósito é tão bem definido que existe até mesmo uma brincadeira do diretor no final do filme, deixando no ar a possibilidade de uma continuação.
Resumindo, Machete é um filme de ação extremamente exagerado e divertido, e é perfeito pra ser assistido com amigos.