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Sérgio Vaz criou o maior sarau de poesias do Brasil não dimensiona o significado da Cooperifa.
A cada quarta-feira, nos últimos sete anos, centenas de pessoas vindas de todos os cantos da periferia paulista recitam e ouvem poesia num boteco de quebrada.
Office boys, taxistas, funileiros, sorveteiros, empregadas domésticas, eles pegam o microfone e tomam conta da literatura, que nunca tinha sido deles até então.
“Trabalho a vida toda com poesia e nunca vi uma plateia reagir assim”, diz a crítica literária Heloisa Buarque de Hollanda.
“Sérgio Vaz e a Cooperifa democratizaram o uso da palavra, numa operação política brilhante.”
Vaz começou tomando uma fábrica interditada, em 2001, para fazer uma mostra cultural.
Depois, vagou por muitos botecos, até instalar-se no bar do Zé Batidão, na Piraporinha, Zona Sul de São Paulo.
O bar é passado e futuro para Vaz.
Foi lá que ele trabalhou dos 12 aos 22 anos, no balcão, quando o dono era o pai.
Um patrão implacável, mas também grande leitor, o pai ao mesmo tempo oprimiu e inspirou.
Enquanto os meninos perseguiam na várzea o sonho que também era dele, Vaz escrevia furiosamente em papel de pão.
Ao conhecer mais personagens reais do que qualquer escritor sonharia, o palmeirense acabou virando poeta.
“Eu queria estar jogando futebol.
Para me libertar, lia e escrevia muito”, diz.
“Com Os miseráveis, de Victor Hugo, descobri que não existia só a miséria material, mas a humana, a que atinge todas as classes sociais. Foi uma grande descoberta.”
Quando o sarau de poesias ficou sem lugar, Vaz procurou o novo dono de sua antiga “senzala”.
Zé Batidão é um mineiro com olhos que tudo veem, fala mansa.
Quando alguém acha que o Zé está indo, ele já foi e voltou meia dúzia de vezes.
Tornou-se “o mecenas da Cooperifa”.
Até biblioteca criou, entrincheirada dentro do bar.
Sobre a estante, os troféus de seu time, o Sete Velas Caveirão, ofuscam os clássicos.