É primordial que em uma ficção científica que faz uso de alguns elementos do terror, como é este As Viajantes, o diretor proporcione ao espectador certo senso espacial - Ridley Scott já havia ensinado isso em Alien, o Oitavo Passageiro, de 1979. E Davi Mello consegue isso com excelência - graças também à ótima captação de efeitos sonoros pela equipe responsável - nos proporcionando uma experiência audiovisual imersiva que nos relembra das dimensões por detrás daquilo que se passa em primeiro plano, desde a ameaça dos cachorros lá fora à própria ameaça interna que aos poucos vai se revelando.
O que mais impressiona em As Viajantes é o controle de Mello ao fazer dos ambientes da casa uma espécie de arapuca para fisgar suas personagens, principalmente Gilda (Gilda Nomacce), que tem um segredo curioso para contar à amiga Majeca (Majeca Angelucci) numa noite de sexta-feira regada a vinho. Entre revelações de traumas de infância, o clima soturno daquele pequeno apartamento - que os moradores de São Paulo logo fazem alusão ao centro charmoso e assustador da cidade nas altas horas da madrugada - serve como combustível para inflamar ainda mais a história contada por Gilda. Está tudo ali para deixar o espectador antenado e com receio: é noite, as personagens estão com medo e uma história ainda mais assustadora está por vir.
O clima de suspense paira no ar desde os primeiros diálogos e Majeca arrasa mesmo com pouco tempo de tela, e é Gilda quem toma as rédeas da situação (quem a viu no curta O Duplo de Juliana Rojas, tão bom quanto este, sabe do que ela é capaz) e embarca com sua personagem em uma situação curiosa e ao mesmo tempo desesperadora, seu olhar expressivo contribui para nos transmitir sua angústia. E assim, Mello nos propõe um instigante exercício de gênero que brinca com a viagem temporal e com a questão dos duplos, sem carecer de explicação para os acontecimentos que vamos testemunhando e nos deixando com um frio na espinha até os segundos finais.
Uma carta de amor a uma cidade, à infância e à amiga narrada por Nara Normande e escrita por grãos de areia, afinal, é o que somos neste mar que é a vida e o mundo. E num sopro, puff... esvaímos. Belíssimo.
Talvez uma sátira às rotinas e ao status quo? Será que ter alguém nos perseguindo a fim de roubar nosso lugar no "sonho americano" é uma maldição a la It Follows ou é a grande chance de fugir de um dia-a-dia e uma vida programados?
Esse dilema acomete o personagem de Matt Dillon, um violoncelista que após uma simples pergunta no metrô passa a ser perseguido pela personagem de Daphne Patakia, a qual parece ter saído direto de Dente Canino com sua expressão congelada e quase robótica.
A ideia de Lanthimos é interessante, mas dadas as diversas conveniências (os filhos, o trabalho, a esposa, a chave), não dá pra se assumir como naturalista e falta tempo para que a metáfora seja melhor trabalhada, esse flerte com o estranho Lanthimos sempre adorou fazer em sua cinematografia, assim aqui ele se assume numa análise de fuga da realidade bem intrigante, a qual todos já imaginamos um dia nos túneis do metrô, mas nunca tivemos como efetivar.
Vencedor do Oscar 2019 na categoria documentário em curta-metragem, Absorvendo o Tabu retrata um grupo de mulheres que vivem numa pequena vila a 30 quilômetros de Nova Delhi, na Índia, e que se juntam por uma causa não só de saúde e higiene, mas também feminista: a produção de absorvente por meio de uma máquina manual. Entrando assim em um tema tabu: a menstruação.
É triste saber que ainda existam culturas e países que tratam a natureza e fisiologia do corpo feminino como uma doença, maldição ou até mesmo algo que as proíba de fazer suas preces: "a reza não é ouvida se rezarmos no período".
Muitas dessas mulheres têm vergonha de comprar absorventes em lojas e farmácias, os homens sempre estão por perto, muitas sequer falam do tema com as outras, a vergonha é grande. Existe a curiosidade e a ignorância acerca da menstruação, assim como do absorvente, utilizado por uma pequena parcela das mulheres dali, por isso a importância da chegada de tal máquina na região.
Muito além do tabu acerca da menstruação, o curta consegue pincelar também em diversos outros pontos deste empoderamento, mostrando assim uma reação em cadeia nas mulheres do local, algumas se animam com a possibilidade de comprar um presente e de trabalhar pela primeira vez, outra com a ideia de se tornar policial e fugir do casamento.
A diretora Rayka Zehtabchi - "eu não acredito que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar" - dá dinamismo a sua direção com uma edição frenética e câmera agitada que procura sempre os rostos daquelas mulheres nas quais ela acredita e que vão de casa em casa para vender os absorventes que fabricam artesanalmente.
Um desses gritos de inspiração e liberdade de 20 e poucos minutos que foi bem celebrado numa noite conservadora como a de ontem.
Um senhor solitário mora em sua casa numa cidade aparentemente inundada onde vai construindo andares conforme a maré sobe. Um dia seu cachimbo cai pelo fosso e então, trajado com uma roupa de mergulho, desce para apanhá-lo e, conforme vai descendo os andares, faz uma viagem melancólica por seu passado, relembrando de tudo que já vivera naqueles andares. História simples e tocante.
As Viajantes
3.4 3É primordial que em uma ficção científica que faz uso de alguns elementos do terror, como é este As Viajantes, o diretor proporcione ao espectador certo senso espacial - Ridley Scott já havia ensinado isso em Alien, o Oitavo Passageiro, de 1979. E Davi Mello consegue isso com excelência - graças também à ótima captação de efeitos sonoros pela equipe responsável - nos proporcionando uma experiência audiovisual imersiva que nos relembra das dimensões por detrás daquilo que se passa em primeiro plano, desde a ameaça dos cachorros lá fora à própria ameaça interna que aos poucos vai se revelando.
O que mais impressiona em As Viajantes é o controle de Mello ao fazer dos ambientes da casa uma espécie de arapuca para fisgar suas personagens, principalmente Gilda (Gilda Nomacce), que tem um segredo curioso para contar à amiga Majeca (Majeca Angelucci) numa noite de sexta-feira regada a vinho. Entre revelações de traumas de infância, o clima soturno daquele pequeno apartamento - que os moradores de São Paulo logo fazem alusão ao centro charmoso e assustador da cidade nas altas horas da madrugada - serve como combustível para inflamar ainda mais a história contada por Gilda. Está tudo ali para deixar o espectador antenado e com receio: é noite, as personagens estão com medo e uma história ainda mais assustadora está por vir.
O clima de suspense paira no ar desde os primeiros diálogos e Majeca arrasa mesmo com pouco tempo de tela, e é Gilda quem toma as rédeas da situação (quem a viu no curta O Duplo de Juliana Rojas, tão bom quanto este, sabe do que ela é capaz) e embarca com sua personagem em uma situação curiosa e ao mesmo tempo desesperadora, seu olhar expressivo contribui para nos transmitir sua angústia. E assim, Mello nos propõe um instigante exercício de gênero que brinca com a viagem temporal e com a questão dos duplos, sem carecer de explicação para os acontecimentos que vamos testemunhando e nos deixando com um frio na espinha até os segundos finais.
Guaxuma
4.4 21Uma carta de amor a uma cidade, à infância e à amiga narrada por Nara Normande e escrita por grãos de areia, afinal, é o que somos neste mar que é a vida e o mundo. E num sopro, puff... esvaímos. Belíssimo.
Nimic
3.5 59Talvez uma sátira às rotinas e ao status quo? Será que ter alguém nos perseguindo a fim de roubar nosso lugar no "sonho americano" é uma maldição a la It Follows ou é a grande chance de fugir de um dia-a-dia e uma vida programados?
Esse dilema acomete o personagem de Matt Dillon, um violoncelista que após uma simples pergunta no metrô passa a ser perseguido pela personagem de Daphne Patakia, a qual parece ter saído direto de Dente Canino com sua expressão congelada e quase robótica.
A ideia de Lanthimos é interessante, mas dadas as diversas conveniências (os filhos, o trabalho, a esposa, a chave), não dá pra se assumir como naturalista e falta tempo para que a metáfora seja melhor trabalhada, esse flerte com o estranho Lanthimos sempre adorou fazer em sua cinematografia, assim aqui ele se assume numa análise de fuga da realidade bem intrigante, a qual todos já imaginamos um dia nos túneis do metrô, mas nunca tivemos como efetivar.
Absorvendo o Tabu
4.4 201 Assista AgoraVencedor do Oscar 2019 na categoria documentário em curta-metragem, Absorvendo o Tabu retrata um grupo de mulheres que vivem numa pequena vila a 30 quilômetros de Nova Delhi, na Índia, e que se juntam por uma causa não só de saúde e higiene, mas também feminista: a produção de absorvente por meio de uma máquina manual. Entrando assim em um tema tabu: a menstruação.
É triste saber que ainda existam culturas e países que tratam a natureza e fisiologia do corpo feminino como uma doença, maldição ou até mesmo algo que as proíba de fazer suas preces: "a reza não é ouvida se rezarmos no período".
Muitas dessas mulheres têm vergonha de comprar absorventes em lojas e farmácias, os homens sempre estão por perto, muitas sequer falam do tema com as outras, a vergonha é grande. Existe a curiosidade e a ignorância acerca da menstruação, assim como do absorvente, utilizado por uma pequena parcela das mulheres dali, por isso a importância da chegada de tal máquina na região.
Muito além do tabu acerca da menstruação, o curta consegue pincelar também em diversos outros pontos deste empoderamento, mostrando assim uma reação em cadeia nas mulheres do local, algumas se animam com a possibilidade de comprar um presente e de trabalhar pela primeira vez, outra com a ideia de se tornar policial e fugir do casamento.
A diretora Rayka Zehtabchi - "eu não acredito que um filme sobre menstruação ganhou um Oscar" - dá dinamismo a sua direção com uma edição frenética e câmera agitada que procura sempre os rostos daquelas mulheres nas quais ela acredita e que vão de casa em casa para vender os absorventes que fabricam artesanalmente.
Um desses gritos de inspiração e liberdade de 20 e poucos minutos que foi bem celebrado numa noite conservadora como a de ontem.
Tea For Two
3.3 12O olhar de Silvia (Gilda Nomacce) para a personagem de Julia Katharine é tudo o que a atriz de Lembro Mais dos Corvos parece esperar em sua vida.
A Casa de Pequenos Cubinhos
4.5 766Um senhor solitário mora em sua casa numa cidade aparentemente inundada onde vai construindo andares conforme a maré sobe.
Um dia seu cachimbo cai pelo fosso e então, trajado com uma roupa de mergulho, desce para apanhá-lo e, conforme vai descendo os andares, faz uma viagem melancólica por seu passado, relembrando de tudo que já vivera naqueles andares. História simples e tocante.
O Guarda-Chuva Azul
4.1 303 Assista AgoraBonitinho e só, a Pixar já fez coisa muito melhor.
Tapa na Pantera
3.8 298você fica... de repente você fica... tem assim... uma coisa de... cê vai, entende? cê vai... depois... você se pergunta assim.. pra onde eu fui?
LOL