Um lado bom depende sempre de uma perspectiva, da origem de onde se olha, e do que o “bom” significa pra cada um. Pra mim esse filme é sobre um lado diferente, não sei se bom ou ruim, mas que não elege um lado certo para que seu argumento seja válido e nos permite um cair de ficha que no meu caso só fez sentido no dia seguinte.
[parte com spoilers] Esse longa me fisgou pela condução sem obviedade que cada ator escolheu pro seu personagem, por um número de dança deleitosamente desastroso e pela clássica cena- anos 90 - da mocinha indo embora do baile decepcionada. E o que falar da cena do café que começa com uma irônica e calma xícara de chá e termina numa violenta explosão de desabafos ardidos e geniais? Tem a metáfora da corrida em que os personagens parecem fugir de algo – talvez deles próprios- e quando se alcançam uma identificação acontece e aí começa um jogo de aproximação e projeções. ~~Projeção~~: palavrinha mágica pra entender onde esse filme (não) quer nos levar.
O trajeto é dolorido: retrata quem está voltando do fundo do poço e é muito bem guiado especialmente por Jennifer Lawrence e sua interpretação sem esforço, sem versatilidade, mas com muita verdade ocular, coisa que a academia adora.
“O lado bom da vida” é cheio de filhos rebeldes pedindo socorro, é um rock and roll lotado de lirismo, uma poesia espinhosa, é o lado negro do cisne, é um encontro dos desencontrados. Não é só um filme, é um grito de desespero cheio de ALÍVIO.
Quentin Tarantino & Christoph Waltz: uma daquelas dobradinhas químicas do cinema, trustes artísticos que se repetem e só melhoram a cada obra.
Um é mago na direção, e faz isso bem, com originalidade, malandragem, dribla, dá olé, chapéu, e se permite debochar da própria competência. Sua segurança signatária parece vir de sua certeza sobre suas incertezas. Tarantino não é mais um diretor, é um LEGADO.
O outro é um ator-achado, talvez esteja entre os três melhores em atividade (Javier Bardem e Philip Seymour Hoffman que se cuidem) e é capaz de roubar nossa atenção mesmo estando de costas em uma biblioteca: estático, mas vivo, orgânico, entregue, presente, e que presente é assistir Christoph Waltz.
Maturidade: não existe outra atribuição para o roteiro cheio de seguras quebras desconcertantes, a fotografia espirrada, o figurino, as atuações (menção honrosa a Leonardo DiCaprio com sua vilania trejeitada e trepidante e Samuel L. Jackson fragilmente cruel e manco), a montagem, a trilha, a trilha, a TRILHA.
Liberdade: pela ousadia do diretor em colocar um hip-hop dentro de um western e através dessa zombaria musical inserir seus gomos de influência pop fundindo musicalmente dois momentos da cultura negra sem pedir licença e estabelecendo assim uma invasão autoral oportuna.
Revanchismo irônico-antirepressor: em seus últimos filmes vejo uma tendência tarantinesca em corrigir com escracho algumas covardias históricas - sem didatismo e melacuecagem - e ao reverter essas atrocidades acaba tornando “justificável” o que deveria ser politicamente incorreto. Libertar negros (ñ confundam um filme que retrata uma situação/espaço dentro de uma época preconceituosa com um filme preconceituoso), capotar o machismo, queimar os nazistas. Um anti-heroísmo sádico e asséptico.
Tarantino é o ladrão que rouba ladrão e faz (in)justiça com as próprias CÂMERAS, é cinema condimentado, sempre pelando mas sempre MAL- PASSADO
MOONRISE KINGDOM é um prisma original da infância e traz um universo tão fascinante e não convencional que em poucos segundos já estamos com vontade de invadir a tela. Poderia dizer que é uma sátira sobre a inocência, o plano de fuga infantil fracassado mais bem sucedido da história do cinema, ou falar de um filme com aroma de acampamento sobre a capacidade das crianças em criar mundos particulares e fundar lugares imaginários em meio ao real, sem se adequar a nada, sem responsabilidades, sem complicar os sentimentos, pra elas o amor é fácil.
Tudo no longa é acerto: há uma simetria curiosa que vai dos enquadramentos que desemparedam os cenários até a movimentação angular dos atores que andam sempre em linha reta. Os personagens possuem alma de desenho animado, parecem soltar o texto de forma alienada, coreografada, a trilha traz marchinhas, corais e canções de vinil da melhor qualidade, e a fotografia é cheia de corantes e cores “pirulíticas”. A estética em geral, é de um perfeccionismo de encher os olhos seja pela direção de arte ou pelos figurinos que possuem uma bem vinda extravagância vintage. O cinema de Wes Anderson tem disso de dizer certas verdades no meio de supostas bobagens, ou levar uma narrativa de um pólo alegre para um pólo trágico sem que estejamos preparados para isso, mas sem que o humor se dilua. O jeito é rir, o jeito é se acostumar com a anormalidade que cai tão bem em seu jeito incomum de fazer cinema. QUERIDO, EXÓTICO, MÁGICO, DESLUMBRANTE, Filme de favoritar, de repetir mil vezes pras pessoas o quanto elas deveriam ver. Um brilho, uma bala azedinha, talvez o MELHOR DO ANO.
” A verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importa nte que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora."
Essa definição da agradável viajante literária Liz Gilbert tbm norteia meu olhar sobre o filme do momento: INTOCÁVEIS tem romance sim, falo de um amor sem papel, sem x nem y, assexualmente encarnado em 2 indivíduos sem que se apele para os estigmas de fácil exploração como o “negro injustiçado” ou o “cadeirante coitado”. Existem apenas dois polos-personagens representativos: a comédia em pleno vigor físico, e o drama sem movimentação (o primeiro tirando sarro do segundo), falo da transformação pela relação, da interação dos seres pelo mutualismo, falo de encontros “marcados”, falo do romance AMIZADE.
Um filme que virou fenômeno de bilheteria na França, e que tem se espalhado na base do marketing bucal feito uma corrente do bem, obviamente a pergunta a se fazer é: qual o motivo pra tanto firework?
Achei esse filme tudo isso sim; lembrando que tudo nem sempre quer dizer muito. Eu poderia falar da simplicidade da história, da ausência de autopiedade e sentimentalismo, de um otimismo importado do brasileiro, da cumplicidade dos atores, do cinema rindo de si mesmo, mas prefiro acreditar que não houve fórmula, mas houve mágica, aquele bem que não podemos tocar, mas que nos TOCA.
Entendi as intenções de Meirelles porem achei no filme um ar leviano, que insere a rapidez das relações globalizadas dentro das relações afetivas, e que as vzs erra no roteiro multiplot.
Uma trilogia que ousou questionar as boas intenções dos heróis de ficha limpa, que deu aos vilões nuances permeáveis que por instantes nos encostavam e que cutucou o maniqueísmo com cavada impiedade. Nolan se utilizou de muita genialidade ao abordar o super herói de um jeito novo, ambivalente, mais humano, menos Sandy; não nos deparamos com um mascarado de mamilos acesos que nas horas vagas brinca de ser humano , mas com um homem falho, mal resolvido, aflito ,mas que apesar disso é o Batman.
Sempre tive preguiça de filmes adaptados dos quadrinhos, me sentia deslocado, achava que só os geeks tinham capacidade de viver esse universo e comecei a acompanhar essa trilogia atraído pela interpretação arrebatadora de Leadger como coringa, e de repente de “analfabatman” virei um grande entusiasta do legado Nolan e sua capacidade de embutir em seus filmes um clima apocalíptico e conspiratório.
Tenho notado um movimento de mudança no segmento de super heróis e outro exemplo é a nova saga de “Homem Aranha”: saí extremamente contente do cinema, filme gostoso, de frescor pop, antenado com a nossa geração, com ambiência colegial.Peter Parker ganhou contornos desajeitados, tem cara de bullyng, é ingênuo porém questionador, e esse espaço frágil gera identificação com quem assiste.Fico feliz com esse novo caminho das produções em apostarem na vertente humana destes personagens e fazer agente acreditar por alguns instantes que podemos voar, que os heróis somos nós.
No caso da conclusão-Batman vivemos uma sensação de contagem regressiva a todo tempo, torcendo para não acabar, a sequência inicial tem peso de epílogo, é chocante, grandiosa e é delicioso qnd um diretor arrisca uma explosão climática logo de cara e o nosso “login” acontece precocemente. Anne Hathaway está deslumbrante e sedutora em sua versão triunfal não anunciada de mulher-gato, Tom Hardy defende o vilão Bane com uma baita dignidade e faz com que agente sinta MENOS saudade do coringa e Christian Bale justifica sua escolha como Batman começando por sua aparência não estereotipada; há nele um shape de homem comum, sem cara de capa da “Capricho”, o ator não se esconde atrás de traços estéticos de galã nem força um tipo, e com maior destaque nessa parte final gera mais empatia e esbanja suas qualidades de interpretação. A trilha é empolgante, os loopings de roteiro surpreendem, e as surpresas finais são um saboroso licor.
Preparem os pulmões, aproveitem cada segundo, percam o fôlego como se o mundo fosse acabar a qualquer instante, Batman nos salvará.
Em meio aos lançamentos de férias, esse longa quase passou batido por mim, mas tive a felicidade de vê-lo por “culpa” de uma amigona.
“Aqui é o meu lugar” é sobre o espaço que existe entre o tédio e a decadência, sobre quem já foi embora antes mesmo de morrer e traz momentos memoráveis, mensagens profundas e falas pontiagudas. Há uma notável contribuição da fotografia carregada por excelentes tiq ues publicitários que fazem um curioso contraste com a falta de vida do personagem principal. Sean Penn definitivamente é um ator seletivo, tem bom gosto nas suas escolhas artísticas, e defende seu bad-star de uma forma brilhante, contida, seja em seu olhar desistente, ou no seu registro desanimado reforçando a idéia de que a fama é apenas outro nome pra solidão. É tão prazeroso qnd um filme te alcança sem fazer barulho e a sensação de assisti-lo é como a de receber um presente original e inesperado, daqueles que vc estava precisando MAS NÃO SABIA.
Estou até agora me perguntando se eu realmente vi o mesmo filme que os outros tanto criticaram. É evidente que a cada lançamento seu, Tim Burton acaba caindo num filtro exigente feito por nós fãs, vivemos um " Cinema de expectativa" comparável a poucos cineastas e realmente se olharmos sua obra de maneira sequencial corremos certo risco de ficarmos pra baixo.Quando ouvi a chuva de desapontamentos em relação ao novo filme, fui ao cinema apenas como "fiel torcedor" mas já esperando pelo pior. Acredito que grande parte da frustração em relação a "Alice" foi a prévia divulgação de imagens e personagens mostrando de cara a maior caracteristica de Tim: as cores mórbidas, pronto, a surpresa estava estragada e quando o filme lançou realmente nos deparamos com um filme sem tempero, e que de novidade trazia apenas um universo mais sombrio, mais estlizado. Agora não consigo achar um grande erro em SOMBRAS DA NOITE.Uma comédia bem ao estilo Tim, atípica, com personagens adoráveis, engraçada, com adições visuais que vão além do kit de sempre, e com um Johnny Depp fazendo um personagem cativante, um vilão ingênuo, ultrapassado, em plena confusão temporal, com uma falta de vibração intencional que só ele sabe fazer. O lado profundo de Tim está presente mas de uma forma mais branda, um personagem central de coração pálido que vive um conflito de amor torto passeando em cenários pintados com cores pertinentes aos níveis de emoção: roxo, vermelho, preto, vinho e quem sabe até um azul.Os filmes de Tim basicamente falam disso, de amor, o amor em sua versão "bizarra", amor com sangue, com personagens desregulados, incomuns e de infância traumática, nesse filme talvez trabalhados de forma mais superficial mas não menos característicos.
Alguns falam em falha de roteiro, eu só consigo pensar no tipo de ótica dedicada a narrativa: alguns a levaram a sério, alguns a levaram na brincadeira.Pra mim este filme foi uma gostosa brincadeira de uma tarde de terça feira com cenas pra gente lembrar sorrindo como o rala e rola na parede ao som de Barry White, a brisa macabra, ou o duelo de loiras, sem contar Helena Boham Carter fazendo uma ponta excêntrica repetindo o que ela sabe fazer bem e eu adoro.Não achei um filme fodástico mas é provável que PARTE do meu encantamento venha desse contra-fluxo, da surpresa de gostar muito. Diante de tudo o que ouvi, só me resta pedir uma coisa a Tim Burton:
Só não achei On the road melhor por estar na msm prateleira de outras obras coroando o gênero pelo qual responde: ñ tem o wallpaper de descoberta sexual de "Sua mãe também" e tbm ñ tem a ideologia de isolamento do sistema como em "Natureza selvagem", e ñ por isso possui uma personalidade menos interessante com personagens que por vezes lembram carros desgovernados, donos de uma fome que ñ passa, que queimam mas tbm doem por dentro, que ñ possuem destino planejado, estão apenas "indo".
Waltão acertou na fotografia que é bem explorada indo do lomo ao sépia, e aposta no vidro sujo do carro como elemento ótico, e o que dizer das paisagens do oeste americano? A trilha tem jazz dançante, o roteiro apesar da falta de gps tem boas escolhas, e o elenco é outro tópico digno de menção: o filme é inteiro de Garrett Hedlund que libera tudo de si pra viver Dean, e junto disso temos inúmeras pontas de luxo com destaque pra aparição-bomba de Amy Adams completamente transtornada e a interessante participação de Steve Bucemi.
Eu ainda não decidi o quanto gostei de On the road, minhas conclusões estão em banho-maria mas ainda sim é um filme que merece toda atenção, que ñ usa a metáfora da estrada como um divã de descobertas mas como um papel rascunho que pode virar seda de baseado, um longa que apesar de ñ possuir muita altura nas emoções, por vezes passa diante de nós oferecendo carona e agente morre de vontade de aceitar.
Brant traz sua câmera invasora com giros e tentativas num cordel de estrofes de incertezas e amores que rimam e doem. A fotografia ,quem diria, é constituída também de fotos atuantes.
As melhores notícias são do conjunto de atuações: Pitanga não recorre a Bebel em seu melhor papel, a atriz parece tomada por sua beleza labial sem igual, daninha, predadora, em transe (ou transa), a um passo da antropofagia.
No Pará das maravilhas, Gero Camilo habita um perigoso jornalista e é dele que quero falar: as aparições de Gero no cinema são sempre em xotes, em pequenos versos de atuação. Nesse filme em especial ele vem feito o gato de “Alice”, em suspeitos anúncios poéticos pros próximos males, Gero desmancha em seu papel, ele é a própria poesia com peçonha. Seu personagem recita destilando, transforma qualquer espaço num plano qualquer, deixando que as ideias se instalem. Gero cada vez mais agrega um valor composto pra sua arte camaleônica e sua relação com as cores: ator poeta do amarelo-gero, aldeota cantor do azul- camílico, desabador de aguas dos meus domingos. É notável o seu domínio de chão, seu convênio com o ar, sua clorofila, sua capacidade de produzir cheiros, gostos e ardências em nós que ficamos “sinestesiados”. Um poliartista que sempre (e)leva sua arte para um lindo lugar.
Vou nesse instante cometer um suicídio crítico por não saber dizer sobre o inexplicável que esse filme me foi. Há vezes em que tentar explicar uma obra é quase um ato de homicídio culposo, portanto, morro por aqui.
E se vc retornasse ao seu ambiente escolar vinte anos depois?
Charlize Theron auto-antagoniza Marvin, a ex-garota mais popular de sua escola (linda, loira e de ressaca) que perdeu a juventude olhando pro espelho, ao invés de olhar para os lados. Um belo dia, insatisfeita com a sua realidade frustrante ela resolve resgatar seu antigo amor de escola com a falsa ilusão de que o tempo parou para que um dia ela voltasse para recuperá-lo. Seu estado de espírito beira a neutralidade (nem triste, nem feliz, nem reagente), um reflexo desanimador sugerido pela coca zero de 2 litros, velha, quente e sem gás que ela ENGOLE em dados momentos do longa.
JOVENS ADULTOS é um after irônico das comédias românticas adolescentes que mostra que existe vida após o baile de formatura e nos cutuca com diálogos que mereciam caneta marca-texto.Uma dramédia cheia de olheiras que fala sobre quem NÃO deu certo, gente que vive uma incomoda sensação de “cama desfeita” . Com o reforço das redes sociais nos condicionamos a achar que o cotidiano dos outros se resume a paisagens e sorrisos sem termos acesso ao teor da derrota. “Todos” já atingiram gerência e pós-graduação seguindo rigorosamente um traçado rumo ao norte no gráfico do sucesso, e um belo dia casualmente ouvimos de um deles aquela agradável pergunta: “E você? O que tem feito da vida? aí apresentamos nosso currículo de troféus que nada valem, ou valem um post, mas NÃO se enganem:
idéia (quase) original + recursos (quase) amadores + orçamento baixissimo+ bom mkt = alta rentabilidade = sequências à exaustão.
O filme mostra o que poderia acontecer caso pessoas comuns tivessem super poderes e atinge um nível tão non-sense que chega a ficar engraçado e trash.
"Poder sem limites" é a prova da alta capacidade norte-americana de produzir LIXOS EXTRAORDINÁRIOS.
Sou comprometido APENAS com a minha diversão, adoro chocolate, batata frita(Fries), reality show e como apreciador de uma boa porcaria de vez em quando, posso afirmar que SIM, me diverti BASTANTE.
Voltei agora do casório de Pina com Wenders, todo enfeitado de um enxoval 3-D-slumbrante. Eu que era meio leigo de Pina, estou admirado com seu eco na dança contemporânea, seus vetores dionisíacos, suas coreografias cheias de vel, magia e corpos verbalizantes.
Wenders captura veias saltadas, atores/bailarinos que parecem ressuscitar em cena, cada um dando seu depoimento sobre a incidência de Pina em suas estradas, tudo isso num cerimonial cheio de cenários inspiradores. Coloca-nos em perspectivas panorâmicas, realça a importância dos objetos nas composições dançantes, e nos mostra a capacidade da coreógrafa em quebrar os códigos do vocabulário corporal através de pesquisa e ousadia. O teatro e a dança (de Pina) lindamente “bem-casados” com o Cinema e a fotografia (de Wenders).
Cada dia + eu me convenço que o papel do cinema vai além de entreter, cinema às vezes é uma bala ardida, um choque consentido.
SHAME é desconfortante e impiedoso com nossas hipocrisias e moralismos. Fassbinder nos é apresentado como um “homem-falo”, um cadáver sexual cheio de complexidades e curvas silenciosas. Enquanto ele figura como um ser glacial (um bloco de gelo quase queimando de tão seco) que desconta sua angustia solitária através de uma compulsiva luxúria, sua irmã Carey Mulligan (a eterna Katie Holmes que deu certo) chega como uma monção conflitante: ela é leviana, equatorial, úmida, se liquefaz em lágrimas, em sangue ou em excitação.Terreno perfeito para um choque climático entre dois irmãos envolvidos por uma insustentável leveza.
Pessoas frustradas seguindo vidas burocráticas com roteiros socialmente aprovados, casais que saem pra comer mas não conversam, gente adiando términos por puro medo do novo.Toda essa cegueira forjada vai pelos ares em uma cena memorável com um canto que mais parece um bonito lamento. "These little town blues Are melting a way"
McQueen dirige um filme cáustico, positivamente desagradável e necessário, que abre a caixa preta humana escancarando um porão cheio dos nossos lixos existenciais.
JOGOS VORAZES me prendeu do início ao fim. Uma história futurista, curiosa e empolgante que fala com a nossa consciência, faz pensar, e justifica SIM o rebuliço em torno de sua estréia-ME JULGUEM.
E as brisas? Imaginem toda 1 sociedade vestida de Lady Gaga, roupas que soltam labaredas, e uma protagonista q ñ paga de Sandy. Esqueçam a coerência, as comparações e embarquem nesse admirável mundo novo teen.
O pão, o circo, e a sociedade do espetáculo... Desde Roma, desde antes, desde quando gente é gente, o sadismo nos pertence...
As Sessões
3.8 629 Assista AgoraPodia ser um novo "Intocáveis" só que não.
Helen Hunt dando show depois de um período "Lídia Brondi" .
A Caverna dos Sonhos Esquecidos
4.2 142 Assista Agoracavernas, relíquias e jacarés albinos <3
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraUm lado bom depende sempre de uma perspectiva, da origem de onde se olha, e do que o “bom” significa pra cada um. Pra mim esse filme é sobre um lado diferente, não sei se bom ou ruim, mas que não elege um lado certo para que seu argumento seja válido e nos permite um cair de ficha que no meu caso só fez sentido no dia seguinte.
[parte com spoilers] Esse longa me fisgou pela condução sem obviedade que cada ator escolheu pro seu personagem, por um número de dança deleitosamente desastroso e pela clássica cena- anos 90 - da mocinha indo embora do baile decepcionada. E o que falar da cena do café que começa com uma irônica e calma xícara de chá e termina numa violenta explosão de desabafos ardidos e geniais?
Tem a metáfora da corrida em que os personagens parecem fugir de algo – talvez deles próprios- e quando se alcançam uma identificação acontece e aí começa um jogo de aproximação e projeções. ~~Projeção~~: palavrinha mágica pra entender onde esse filme (não) quer nos levar.
O trajeto é dolorido: retrata quem está voltando do fundo do poço e é muito bem guiado especialmente por Jennifer Lawrence e sua interpretação sem esforço, sem versatilidade, mas com muita verdade ocular, coisa que a academia adora.
“O lado bom da vida” é cheio de filhos rebeldes pedindo socorro, é um rock and roll lotado de lirismo, uma poesia espinhosa, é o lado negro do cisne, é um encontro dos desencontrados. Não é só um filme, é um grito de desespero cheio de ALÍVIO.
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraQuentin Tarantino & Christoph Waltz: uma daquelas dobradinhas químicas do cinema, trustes artísticos que se repetem e só melhoram a cada obra.
Um é mago na direção, e faz isso bem, com originalidade, malandragem, dribla, dá olé, chapéu, e se permite debochar da própria competência. Sua segurança signatária parece vir de sua certeza sobre suas incertezas. Tarantino não é mais um diretor, é um LEGADO.
O outro é um ator-achado, talvez esteja entre os três melhores em atividade (Javier Bardem e Philip Seymour Hoffman que se cuidem) e é capaz de roubar nossa atenção mesmo estando de costas em uma biblioteca: estático, mas vivo, orgânico, entregue, presente, e que presente é assistir Christoph Waltz.
Maturidade: não existe outra atribuição para o roteiro cheio de seguras quebras desconcertantes, a fotografia espirrada, o figurino, as atuações (menção honrosa a Leonardo DiCaprio com sua vilania trejeitada e trepidante e Samuel L. Jackson fragilmente cruel e manco), a montagem, a trilha, a trilha, a TRILHA.
Liberdade: pela ousadia do diretor em colocar um hip-hop dentro de um western e através dessa zombaria musical inserir seus gomos de influência pop fundindo musicalmente dois momentos da cultura negra sem pedir licença e estabelecendo assim uma invasão autoral oportuna.
Revanchismo irônico-antirepressor: em seus últimos filmes vejo uma tendência tarantinesca em corrigir com escracho algumas covardias históricas - sem didatismo e melacuecagem - e ao reverter essas atrocidades acaba tornando “justificável” o que deveria ser politicamente incorreto. Libertar negros (ñ confundam um filme que retrata uma situação/espaço dentro de uma época preconceituosa com um filme preconceituoso), capotar o machismo, queimar os nazistas. Um anti-heroísmo sádico e asséptico.
Tarantino é o ladrão que rouba ladrão e faz (in)justiça com as próprias CÂMERAS, é cinema condimentado, sempre pelando mas sempre MAL- PASSADO
A Viagem
3.7 2,5K Assista AgoraA viagem passaria de ano raspando:
pela aula de maquiagem
pelo núcleo da japonesa.
pela cena da fuga do velhinhos. <3
Moonrise Kingdom
4.2 2,1K Assista AgoraMOONRISE KINGDOM é um prisma original da infância e traz um universo tão fascinante e não convencional que em poucos segundos já estamos com vontade de invadir a tela. Poderia dizer que é uma sátira sobre a inocência, o plano de fuga infantil fracassado mais bem sucedido da história do cinema, ou falar de um filme com aroma de acampamento sobre a capacidade das crianças em criar mundos particulares e fundar lugares imaginários em meio ao real, sem se adequar a nada, sem responsabilidades, sem complicar os sentimentos, pra elas o amor é fácil.
Tudo no longa é acerto: há uma simetria curiosa que vai dos enquadramentos que desemparedam os cenários até a movimentação angular dos atores que andam sempre em linha reta. Os personagens possuem alma de desenho animado, parecem soltar o texto de forma alienada, coreografada, a trilha traz marchinhas, corais e canções de vinil da melhor qualidade, e a fotografia é cheia de corantes e cores “pirulíticas”. A estética em geral, é de um perfeccionismo de encher os olhos seja pela direção de arte ou pelos figurinos que possuem uma bem vinda extravagância vintage.
O cinema de Wes Anderson tem disso de dizer certas verdades no meio de supostas bobagens, ou levar uma narrativa de um pólo alegre para um pólo trágico sem que estejamos preparados para isso, mas sem que o humor se dilua. O jeito é rir, o jeito é se acostumar com a anormalidade que cai tão bem em seu jeito incomum de fazer cinema.
QUERIDO, EXÓTICO, MÁGICO, DESLUMBRANTE, Filme de favoritar, de repetir mil vezes pras pessoas o quanto elas deveriam ver. Um brilho, uma bala azedinha, talvez o MELHOR DO ANO.
Intocáveis
4.4 4,1K Assista Agora” A verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importa
nte que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora."
Essa definição da agradável viajante literária Liz Gilbert tbm norteia meu olhar sobre o filme do momento: INTOCÁVEIS tem romance sim, falo de um amor sem papel, sem x nem y, assexualmente encarnado em 2 indivíduos sem que se apele para os estigmas de fácil exploração como o “negro injustiçado” ou o “cadeirante coitado”. Existem apenas dois polos-personagens representativos: a comédia em pleno vigor físico, e o drama sem movimentação (o primeiro tirando
sarro do segundo), falo da transformação pela relação, da interação dos seres pelo mutualismo, falo de encontros “marcados”, falo do romance AMIZADE.
Um filme que virou fenômeno de bilheteria na França, e que tem se espalhado na base do marketing bucal feito uma corrente do bem, obviamente a pergunta a se fazer é: qual o motivo pra tanto firework?
Achei esse filme tudo isso sim; lembrando que tudo nem sempre quer dizer muito. Eu poderia falar da simplicidade da história, da ausência de autopiedade e sentimentalismo, de um otimismo importado do brasileiro, da cumplicidade dos atores, do cinema rindo de si mesmo, mas prefiro acreditar que não houve fórmula, mas houve mágica, aquele bem que não podemos tocar, mas que nos TOCA.
Bem Amadas
3.5 254falas cantadas, sapatos vermelhos, ângulos fotograficos.
filme flutuante.<3
Valente
3.8 2,8K Assista AgoraA pixar nunca foi tão Freudiana.<3
Um Divã Para Dois
3.5 755 Assista AgoraMeryl é tão boa que conseguiu fazer uma personagem intencionalmente sem tempero, mas o filme em nada me empolgou.
360
3.4 928 Assista AgoraEntendi as intenções de Meirelles porem achei no filme um ar leviano, que insere a rapidez das relações globalizadas dentro das relações afetivas, e que as vzs erra no roteiro multiplot.
Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
4.2 6,4K Assista AgoraUma trilogia que ousou questionar as boas intenções dos heróis de ficha limpa, que deu aos vilões nuances permeáveis que por instantes nos encostavam e que cutucou o maniqueísmo com cavada impiedade. Nolan se utilizou de muita genialidade ao abordar o super herói de um jeito novo, ambivalente, mais humano, menos Sandy; não nos deparamos com um mascarado de mamilos acesos que nas horas vagas brinca de ser humano , mas com um homem falho, mal resolvido, aflito ,mas que apesar disso é o Batman.
Sempre tive preguiça de filmes adaptados dos quadrinhos, me sentia deslocado, achava que só os geeks tinham capacidade de viver esse universo e comecei a acompanhar essa trilogia atraído pela interpretação arrebatadora de Leadger como coringa, e de repente de “analfabatman” virei um grande entusiasta do legado Nolan e sua capacidade de embutir em seus filmes um clima apocalíptico e conspiratório.
Tenho notado um movimento de mudança no segmento de super heróis e outro exemplo é a nova saga de “Homem Aranha”: saí extremamente contente do cinema, filme gostoso, de frescor pop, antenado com a nossa geração, com ambiência colegial.Peter Parker ganhou contornos desajeitados, tem cara de bullyng, é ingênuo porém questionador, e esse espaço frágil gera identificação com quem assiste.Fico feliz com esse novo caminho das produções em apostarem na vertente humana destes personagens e fazer agente acreditar por alguns instantes que podemos voar, que os heróis somos nós.
No caso da conclusão-Batman vivemos uma sensação de contagem regressiva a todo tempo, torcendo para não acabar, a sequência inicial tem peso de epílogo, é chocante, grandiosa e é delicioso qnd um diretor arrisca uma explosão climática logo de cara e o nosso “login” acontece precocemente. Anne Hathaway está deslumbrante e sedutora em sua versão triunfal não anunciada de mulher-gato, Tom Hardy defende o vilão Bane com uma baita dignidade e faz com que agente sinta MENOS saudade do coringa e Christian Bale justifica sua escolha como Batman começando por sua aparência não estereotipada; há nele um shape de homem comum, sem cara de capa da “Capricho”, o ator não se esconde atrás de traços estéticos de galã nem força um tipo, e com maior destaque nessa parte final gera mais empatia e esbanja suas qualidades de interpretação. A trilha é empolgante, os loopings de roteiro surpreendem, e as surpresas finais são um saboroso licor.
Preparem os pulmões, aproveitem cada segundo, percam o fôlego como se o mundo fosse acabar a qualquer instante, Batman nos salvará.
Aqui é o Meu Lugar
3.6 580 Assista AgoraEm meio aos lançamentos de férias, esse longa quase passou batido por mim, mas tive a felicidade de vê-lo por “culpa” de uma amigona.
“Aqui é o meu lugar” é sobre o espaço que existe entre o tédio e a decadência, sobre quem já foi embora antes mesmo de morrer e traz momentos memoráveis, mensagens profundas e falas pontiagudas. Há uma notável contribuição da fotografia carregada por excelentes tiq
ues publicitários que fazem um curioso contraste com a falta de vida do personagem principal. Sean Penn definitivamente é um ator seletivo, tem bom gosto nas suas escolhas artísticas, e defende seu bad-star de uma forma brilhante, contida, seja em seu olhar desistente, ou no seu registro desanimado reforçando a idéia de que a fama é apenas outro nome pra solidão.
É tão prazeroso qnd um filme te alcança sem fazer barulho e a sensação de assisti-lo é como a de receber um presente original e inesperado, daqueles que vc estava precisando MAS NÃO SABIA.
O Espetacular Homem-Aranha
3.4 4,9K Assista Agoracomo é bom saber que chegou o tempo em que o super-herói é cada vez mais alguém de VERDADE.
Sombras da Noite
3.1 4,0K Assista AgoraEstou até agora me perguntando se eu realmente vi o mesmo filme que os outros tanto criticaram.
É evidente que a cada lançamento seu, Tim Burton acaba caindo num filtro exigente feito por nós fãs, vivemos um " Cinema de expectativa" comparável a poucos cineastas e realmente se olharmos sua obra de maneira sequencial corremos certo risco de ficarmos pra baixo.Quando ouvi a chuva de desapontamentos em relação ao novo filme, fui ao cinema apenas como "fiel torcedor" mas já esperando pelo pior.
Acredito que grande parte da frustração em relação a "Alice" foi a prévia divulgação de imagens e personagens mostrando de cara a maior caracteristica de Tim: as cores mórbidas, pronto, a surpresa estava estragada e quando o filme lançou realmente nos deparamos com um filme sem tempero, e que de novidade trazia apenas um universo mais sombrio, mais estlizado.
Agora não consigo achar um grande erro em SOMBRAS DA NOITE.Uma comédia bem ao estilo Tim, atípica, com personagens adoráveis, engraçada, com adições visuais que vão além do kit de sempre, e com um Johnny Depp fazendo um personagem cativante, um vilão ingênuo, ultrapassado, em plena confusão temporal, com uma falta de vibração intencional que só ele sabe fazer.
O lado profundo de Tim está presente mas de uma forma mais branda, um personagem central de coração pálido que vive um conflito de amor torto passeando em cenários pintados com cores pertinentes aos níveis de emoção: roxo, vermelho, preto, vinho e quem sabe até um azul.Os filmes de Tim basicamente falam disso, de amor, o amor em sua versão "bizarra", amor com sangue, com personagens desregulados, incomuns e de infância traumática, nesse filme talvez trabalhados de forma mais superficial mas não menos característicos.
Alguns falam em falha de roteiro, eu só consigo pensar no tipo de ótica dedicada a narrativa: alguns a levaram a sério, alguns a levaram na brincadeira.Pra mim este filme foi uma gostosa brincadeira de uma tarde de terça feira com cenas pra gente lembrar sorrindo como o rala e rola na parede ao som de Barry White, a brisa macabra, ou o duelo de loiras, sem contar Helena Boham Carter fazendo uma ponta excêntrica repetindo o que ela sabe fazer bem e eu adoro.Não achei um filme fodástico mas é provável que PARTE do meu encantamento venha desse contra-fluxo, da surpresa de gostar muito.
Diante de tudo o que ouvi, só me resta pedir uma coisa a Tim Burton:
CONTINUE DECEPCIONANDO.
Na Estrada
3.3 1,9KSó não achei On the road melhor por estar na msm prateleira de outras obras coroando o gênero pelo qual responde: ñ tem o wallpaper de descoberta sexual de "Sua mãe também" e tbm ñ tem a ideologia de isolamento do sistema como em "Natureza selvagem", e ñ por isso possui uma personalidade menos interessante com personagens que por vezes lembram carros desgovernados, donos de uma fome que ñ passa, que queimam mas tbm doem por dentro, que ñ possuem destino planejado, estão apenas "indo".
Waltão acertou na fotografia que é bem explorada indo do lomo ao sépia, e aposta no vidro sujo do carro como elemento ótico, e o que dizer das paisagens do oeste americano? A trilha tem jazz dançante, o roteiro apesar da falta de gps tem boas escolhas, e o elenco é outro tópico digno de menção: o filme é inteiro de Garrett Hedlund que libera tudo de si pra viver Dean, e junto disso temos inúmeras pontas de luxo com destaque pra aparição-bomba de Amy Adams completamente transtornada e a interessante participação de Steve Bucemi.
Eu ainda não decidi o quanto gostei de On the road, minhas conclusões estão em banho-maria mas ainda sim é um filme que merece toda atenção, que ñ usa a metáfora da estrada como um divã de descobertas mas como um papel rascunho que pode virar seda de baseado, um longa que apesar de ñ possuir muita altura nas emoções, por vezes passa diante de nós oferecendo carona e agente morre de vontade de aceitar.
Sete Dias com Marilyn
3.7 1,7K Assista AgoraMichelle Williams MONROE.
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
3.5 554 Assista Agora"Quais são seus perigos?"
Brant traz sua câmera invasora com giros e tentativas num cordel de estrofes de incertezas e amores que rimam e doem. A fotografia ,quem diria, é constituída também de fotos atuantes.
As melhores notícias são do conjunto de atuações: Pitanga não recorre a Bebel em seu melhor papel, a atriz parece tomada por sua beleza labial sem igual, daninha, predadora, em transe (ou transa), a um passo da antropofagia.
No Pará das maravilhas, Gero Camilo habita um perigoso jornalista e é dele que quero falar: as aparições de Gero no cinema são sempre em xotes, em pequenos versos de atuação. Nesse filme em especial ele vem feito o gato de “Alice”, em suspeitos anúncios poéticos pros próximos males, Gero desmancha em seu papel, ele é a própria poesia com peçonha. Seu personagem recita destilando, transforma qualquer espaço num plano qualquer, deixando que as ideias se instalem. Gero cada vez mais agrega um valor composto pra sua arte camaleônica e sua relação com as cores: ator poeta do amarelo-gero, aldeota cantor do azul- camílico, desabador de aguas dos meus domingos.
É notável o seu domínio de chão, seu convênio com o ar, sua clorofila, sua capacidade de produzir cheiros, gostos e ardências em nós que ficamos “sinestesiados”. Um poliartista que sempre (e)leva sua arte para um lindo lugar.
Vou nesse instante cometer um suicídio crítico por não saber dizer sobre o inexplicável que esse filme me foi. Há vezes em que tentar explicar uma obra é quase um ato de homicídio culposo, portanto, morro por aqui.
Jovens Adultos
3.0 874 Assista AgoraE se vc retornasse ao seu ambiente escolar vinte anos depois?
Charlize Theron auto-antagoniza Marvin, a ex-garota mais popular de sua escola (linda, loira e de ressaca) que perdeu a juventude olhando pro espelho, ao invés de olhar para os lados. Um belo dia, insatisfeita com a sua realidade frustrante ela resolve resgatar seu antigo amor de escola com a falsa ilusão de que o tempo parou para que um dia ela voltasse para recuperá-lo. Seu estado de espírito beira a neutralidade (nem triste, nem feliz, nem reagente), um reflexo desanimador sugerido pela coca zero de 2 litros, velha, quente e sem gás que ela ENGOLE em dados momentos do longa.
JOVENS ADULTOS é um after irônico das comédias românticas adolescentes que mostra que existe vida após o baile de formatura e nos cutuca com diálogos que mereciam caneta marca-texto.Uma dramédia cheia de olheiras que fala sobre quem NÃO deu certo, gente que vive uma incomoda sensação de “cama desfeita” . Com o reforço das redes sociais nos condicionamos a achar que o cotidiano dos outros se resume a paisagens e sorrisos sem termos acesso ao teor da derrota. “Todos” já atingiram gerência e pós-graduação seguindo rigorosamente um traçado rumo ao norte no gráfico do sucesso, e um belo dia casualmente ouvimos de um deles aquela agradável pergunta: “E você? O que tem feito da vida? aí apresentamos nosso currículo de troféus que nada valem, ou valem um post, mas NÃO
se enganem:
Facebook é sobre a vida aos sábados e domingos.
Espelho, Espelho Meu
2.8 1,8K Assista Agoratorci pela bruxa.
Poder Sem Limites
3.4 1,7K Assista Agoraidéia (quase) original + recursos (quase) amadores + orçamento baixissimo+ bom mkt = alta rentabilidade = sequências à exaustão.
O filme mostra o que poderia acontecer caso pessoas comuns tivessem super poderes e atinge um nível tão non-sense que chega a ficar engraçado e trash.
"Poder sem limites" é a prova da alta capacidade norte-americana de produzir LIXOS EXTRAORDINÁRIOS.
Sou comprometido APENAS com a minha diversão, adoro chocolate, batata frita(Fries), reality show e como apreciador de uma boa porcaria de vez em quando, posso afirmar que SIM, me diverti BASTANTE.
¯\_(ツ)_/¯
Pina
4.4 408Voltei agora do casório de Pina com Wenders, todo enfeitado de um enxoval 3-D-slumbrante.
Eu que era meio leigo de Pina, estou admirado com seu eco na dança contemporânea, seus vetores dionisíacos, suas coreografias cheias de vel, magia e corpos verbalizantes.
Wenders captura veias saltadas, atores/bailarinos que parecem ressuscitar em cena, cada um dando seu depoimento sobre a incidência de Pina em suas estradas, tudo isso num cerimonial cheio de cenários inspiradores. Coloca-nos em perspectivas panorâmicas, realça a importância dos objetos nas composições dançantes, e nos mostra a capacidade da coreógrafa em quebrar os códigos do vocabulário corporal através de pesquisa e ousadia.
O teatro e a dança (de Pina) lindamente “bem-casados” com o Cinema e a fotografia (de Wenders).
Peço que não me acordem, por favor.....
Shame
3.6 2,0K Assista AgoraCada dia + eu me convenço que o papel do cinema vai além de entreter, cinema às vezes é uma bala ardida, um choque consentido.
SHAME é desconfortante e impiedoso com nossas hipocrisias e moralismos. Fassbinder nos é apresentado como um “homem-falo”, um cadáver sexual cheio de complexidades e curvas silenciosas. Enquanto ele figura como um ser glacial (um bloco de gelo quase queimando de tão seco) que desconta sua angustia solitária através de uma compulsiva luxúria, sua irmã Carey Mulligan (a eterna Katie Holmes que deu certo) chega como uma monção conflitante: ela é leviana, equatorial, úmida, se liquefaz em lágrimas, em sangue ou em excitação.Terreno perfeito para um choque climático entre dois irmãos envolvidos por uma insustentável leveza.
Pessoas frustradas seguindo vidas burocráticas com roteiros socialmente aprovados, casais que saem pra comer mas não conversam, gente adiando términos por puro medo do novo.Toda essa cegueira forjada vai pelos ares em uma cena memorável com um canto que mais parece um bonito lamento.
"These little town blues
Are melting a way"
McQueen dirige um filme cáustico, positivamente desagradável e necessário, que abre a caixa preta humana escancarando um porão cheio dos nossos lixos existenciais.
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista AgoraJOGOS VORAZES me prendeu do início ao fim. Uma história futurista, curiosa e empolgante que fala com a nossa consciência, faz pensar, e justifica SIM o rebuliço em torno de sua estréia-ME JULGUEM.
E as brisas? Imaginem toda 1 sociedade vestida de Lady Gaga, roupas que soltam labaredas, e uma protagonista q ñ paga de Sandy. Esqueçam a coerência, as comparações e embarquem nesse admirável mundo novo teen.
O pão, o circo, e a sociedade do espetáculo... Desde Roma, desde antes, desde quando gente é gente, o sadismo nos pertence...
Acabo de sair do Distrito 12 me perguntando....
Somos uma soma ou um produto?