Análise - Moonlight (2016): Um filme de silêncios que falam.
Moonlight acompanha a história de Chiron, em três fases de sua vida (Infância, adolescência e na fase adulta). Tratando-se de uma jornada de tristeza internalizada e insegurança, onde o mesmo busca formas de se "proteger" da vida e do mundo.
O roteiro funciona perfeitamente em todos os seus três atos, não permitindo que o nível de intimidade do espectador com o protagonista caia por conta da troca de atores. Em cada um dos três atos, um ator faz o papel de Chiron para a fase atual de sua vida. Barry Jenkins merece méritos pela forma com que vincula magistralmente os três protagonistas. Os diálogos do filme são totalmente verdadeiros e críveis, deixando de lado aquelas falsas e abstratas filosofias de vida que ninguém utiliza em suas conversas no dia a dia, e muito mais que isso, os silêncios são bem explorados, de forma que muita coisa não precisa ser dita verbalmente, e sim, mostrada através de olhares, atos e expressões. A fotografia neste filme não é genial, mas é muito boa e deve ser mencionada, principalmente as tonalidades de azul e roxo que são trabalhadas durante praticamente todo o filme. A trilha sonora não compromete, porém não empolga o bastante, deixando o público em falta de uma música que force-o a abraçar a confusão interna e o sofrimento de Chiron.
Vi algumas pessoas "reclamarem" um pouco da duração do filme, dizendo que o mesmo poderia ser cerca de 15/20 minutos menor, e que a história se torna cansativa em um certo ponto, sendo suportada apenas pelas atuações dos protagonistas: DISCORDO! O filme leva exatamente o tempo que precisa para contar a história de forma profunda, e talvez quem sentiu esse "cansaço" no filme, tenho ficado assim devido aos longos silêncios e olhares presentes no mesmo (Que por sinal, é o ponto mais alto do filme).
O elenco é preciso e absolutamente bem escalado. Dentre os três protagonistas, eu deixo o destaque principal para Alex Hibbert (Ator da fase mirim de Chiron) e responsável pela maior carga imersiva dentre os três, com silêncios dolorosos e olhares perdidos. Alex leva o público para próximo do seu sentimento de tristeza e solidão, sendo visível a necessidade que seu personagem passa de uma figura materna mais presente, ou até, de uma figura paterna. (Eu poderia também mencionar Ashton Sanders e Trevante Rhodes, porém vou me ater a falar de Alex que foi o mais relevante dos três em minha opinião).
O Elenco de apoio também é um ponto POSITIVÍSSIMO no filme, tendo em Naomie Harris (Paula) e Mahershala Ali (Juan), as duas melhores atuações do longa e ambas utilizadas para PODEROSAS quebras de paradigma (comentadas mais abaixo). Paula (Personagem de Naomie Harris) é em minha opinião, a melhor atuação do filme. Uma mulher problemática e uma mãe "questionável", em uma atuação que vende 100% do que é mostrado e lhe faz crer que a situação de Chiron é agravada por conta de seu único laço familiar. Juan (Personagem de Mahershala Ali) é outro ponto altíssimo do filme, com um personagem de presença e bom coração (Prêmio de oscar, muito merecido). Vale mencionar, que em minha opinião, Juan e Chiron são protagonistas da melhor cena do filme (Não mencionarei para não gerar spoilers, mas é a última cena do primeiro ato do filme).
Na poderosa remessa de bons filmes deste ano, sem dúvida foi justa a vitória de Moonlight no Oscar. Um filme que confia na capacidade do público de extrair as informações das expressões e não diz tudo verbalmente, um filme que trata de como o mundo não está preparado para as escolhas alheias, fazendo uma forte critica ao preconceito e principalmente, um filme que trabalha na destruição de paradigmas que nossa sociedade criou por séculos (eu explico, mas com alguns spoilers..)
O filme trabalha com a desmistificação de diversas falsas ideologias que temos, como por exemplo, do traficante que é um ser maligno sem coração e alma. No filme, o traficante (Juan), é mostrado como alguém que se importa com os outros, e que cuida de sua namorada, de Chiron e se preocupa com os demais. Outro exemplo é a mãe (Paula), que deveria ser a figura de segurança e confiança de Chiron, mas no filme, é mostrado que nem sempre é exatamente assim, que existem também mães que são na verdade, a nascente de muitos dos problemas de seus filhos. Geralmente, acreditamos que criminosos saem da prisão ainda piores, e que uma vez bandido, sempre bandido. No filme, Kevin (Personagem de André Holland) é o criminoso que sai, está em prisão domiciliar e busca apenas uma vida simples e de bem, querendo estar perto de seu filho, das pessoas que ama e viver tranquilamente, de consciência limpa. Não estou falando que os bandidos são bons e as mães ruins, apenas que sempre precisamos olhar os dois lados das moedas, e que toda generalização é errada!
Finalizando, EM MINHA OPINIÃO, Moonlight é uma versão melhorada de Boyhood, e a prova que não se precisa fazer um filme de 12 anos para criar um grande estudo de personagem. Palmas para Barry Jenkins.
Introdução: The Lobster conta história de um futuro onde é proibido estar solteiro! As pessoas que são pegas solteiras, são enviadas para um "hotel", onde tem 45 dias para encontrar um parceiro(a). Caso esta pessoa não encontre um parceiro, será transformado em um animal de sua escolha e solto na floresta.
Pontos Positivos: O filme me enganou no principio (de uma forma positiva)! Logo que comecei a assistir, imaginei que a narrativa iria para algumas direções "previsíveis" e acabei sendo socado no estômago quando isso não ocorreu. Sendo assim, já posso destacar o que é o ponto mais alto do filme: O Roteiro. Diferente da maioria dos filmes modernos, The Lobster traz um roteiro totalmente original e bem escrito (Se dependesse de mim, ganharia o Oscar de melhor roteiro original). Méritos para Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou, responsáveis por este excelente trabalho. O filme também trabalha bem os tons de cinza e de um azulado "sem vida", jogando ainda mais o espectador em um clima de solidão e melancolia.
Pontos Negativos: O único ponto negativo ao meu ver, é a forma como o filme "abandona" parte das tramas ocorridas para abraçar um rumo completamente diferente. O filme não erra no novo caminho, e não deixa de ser envolvente e interessante, mas em alguns POUCOS momentos, parece "não ter rumo" e deixa muita informação concedida anteriormente para trás. (Como por exemplo, as transformações em animais, desaparecem na metade do filme e se tornam completamente irrelevantes), dentre outras tramas que mereciam algum desenvolvimento.
Atuações: Colin Farrel faz um trabalho muito marcante PRINCIPALMENTE na parte visual de seu personagem (David). O Bigode, o óculos de nerd e a barriga criam uma imagem totalmente diferente do que estamos acostumados a ver com Colin (Méritos para o ator e para os responsáveis pela maquiagem e figurino). Além da aparência, podemos destacar também a melancolia e o conformismo vivido por aquele homem. Fora Colin, não existem GRANDES atuações no filme. O elenco de apoio não decepciona, porém não se destaca, cumprindo seus papéis de forma aceitável. Rachel Weisz não está mal no filme, porém julgo que a mesma possui atuações muito superiores em sua carreira. Desta forma, não destaco a atuação da mesma.
Conclusão: O filme é reflexivo e imputa discussões enormes no subconsciente de quem assiste. "Só podemos ser felizes ao lado de alguém?" "Devemos encontrar um par pelas nossas semelhanças ou diferenças? Defeitos ou Qualidades?" Além de deixar essa sensação de "tristeza" no ar, o filme trabalha o baixo astral dos personagens de forma que afete o público. Por vezes me senti estranho ou solitário nos momentos em que assistia o filme. Além de todo esse sentimento, o filme faz analogias trabalhadas em cima do narcisismo e egocentrismo existente nos relacionamentos de casal. Todos querem encontrar alguém que seja seu espelho, que lhes satisfaça e cumpra todas suas expectativas. E quando encontramos alguém que acaba não cumprindo tudo isso (99% das vezes), nos frustramos e colocamos a culpa no outro por não ser exatamente o que idealizamos que ele fosse. Bom filme, boas analogias, ótimo roteiro.
Nota: 3.9/5.0
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Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraAnálise - Moonlight (2016):
Um filme de silêncios que falam.
Moonlight acompanha a história de Chiron, em três fases de sua vida (Infância, adolescência e na fase adulta). Tratando-se de uma jornada de tristeza internalizada e insegurança, onde o mesmo busca formas de se "proteger" da vida e do mundo.
O roteiro funciona perfeitamente em todos os seus três atos, não permitindo que o nível de intimidade do espectador com o protagonista caia por conta da troca de atores.
Em cada um dos três atos, um ator faz o papel de Chiron para a fase atual de sua vida. Barry Jenkins merece méritos pela forma com que vincula magistralmente os três protagonistas.
Os diálogos do filme são totalmente verdadeiros e críveis, deixando de lado aquelas falsas e abstratas filosofias de vida que ninguém utiliza em suas conversas no dia a dia, e muito mais que isso, os silêncios são bem explorados, de forma que muita coisa não precisa ser dita verbalmente, e sim, mostrada através de olhares, atos e expressões. A fotografia neste filme não é genial, mas é muito boa e deve ser mencionada, principalmente as tonalidades de azul e roxo que são trabalhadas durante praticamente todo o filme. A trilha sonora não compromete, porém não empolga o bastante, deixando o público em falta de uma música que force-o a abraçar a confusão interna e o sofrimento de Chiron.
Vi algumas pessoas "reclamarem" um pouco da duração do filme, dizendo que o mesmo poderia ser cerca de 15/20 minutos menor, e que a história se torna cansativa em um certo ponto, sendo suportada apenas pelas atuações dos protagonistas: DISCORDO!
O filme leva exatamente o tempo que precisa para contar a história de forma profunda, e talvez quem sentiu esse "cansaço" no filme, tenho ficado assim devido aos longos silêncios e olhares presentes no mesmo (Que por sinal, é o ponto mais alto do filme).
O elenco é preciso e absolutamente bem escalado.
Dentre os três protagonistas, eu deixo o destaque principal para Alex Hibbert (Ator da fase mirim de Chiron) e responsável pela maior carga imersiva dentre os três, com silêncios dolorosos e olhares perdidos. Alex leva o público para próximo do seu sentimento de tristeza e solidão, sendo visível a necessidade que seu personagem passa de uma figura materna mais presente, ou até, de uma figura paterna.
(Eu poderia também mencionar Ashton Sanders e Trevante Rhodes, porém vou me ater a falar de Alex que foi o mais relevante dos três em minha opinião).
O Elenco de apoio também é um ponto POSITIVÍSSIMO no filme, tendo em Naomie Harris (Paula) e Mahershala Ali (Juan), as duas melhores atuações do longa e ambas utilizadas para PODEROSAS quebras de paradigma (comentadas mais abaixo).
Paula (Personagem de Naomie Harris) é em minha opinião, a melhor atuação do filme. Uma mulher problemática e uma mãe "questionável", em uma atuação que vende 100% do que é mostrado e lhe faz crer que a situação de Chiron é agravada por conta de seu único laço familiar.
Juan (Personagem de Mahershala Ali) é outro ponto altíssimo do filme, com um personagem de presença e bom coração (Prêmio de oscar, muito merecido). Vale mencionar, que em minha opinião, Juan e Chiron são protagonistas da melhor cena do filme (Não mencionarei para não gerar spoilers, mas é a última cena do primeiro ato do filme).
Na poderosa remessa de bons filmes deste ano, sem dúvida foi justa a vitória de Moonlight no Oscar. Um filme que confia na capacidade do público de extrair as informações das expressões e não diz tudo verbalmente, um filme que trata de como o mundo não está preparado para as escolhas alheias, fazendo uma forte critica ao preconceito e principalmente, um filme que trabalha na destruição de paradigmas que nossa sociedade criou por séculos (eu explico, mas com alguns spoilers..)
SPOILERS:
O filme trabalha com a desmistificação de diversas falsas ideologias que temos, como por exemplo, do traficante que é um ser maligno sem coração e alma. No filme, o traficante (Juan), é mostrado como alguém que se importa com os outros, e que cuida de sua namorada, de Chiron e se preocupa com os demais.
Outro exemplo é a mãe (Paula), que deveria ser a figura de segurança e confiança de Chiron, mas no filme, é mostrado que nem sempre é exatamente assim, que existem também mães que são na verdade, a nascente de muitos dos problemas de seus filhos.
Geralmente, acreditamos que criminosos saem da prisão ainda piores, e que uma vez bandido, sempre bandido. No filme, Kevin (Personagem de André Holland) é o criminoso que sai, está em prisão domiciliar e busca apenas uma vida simples e de bem, querendo estar perto de seu filho, das pessoas que ama e viver tranquilamente, de consciência limpa.
Não estou falando que os bandidos são bons e as mães ruins, apenas que sempre precisamos olhar os dois lados das moedas, e que toda generalização é errada!
Finalizando, EM MINHA OPINIÃO, Moonlight é uma versão melhorada de Boyhood, e a prova que não se precisa fazer um filme de 12 anos para criar um grande estudo de personagem.
Palmas para Barry Jenkins.
Nota: 4.9/5.0
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraAnálise - The Lobster (2015):
Introdução: The Lobster conta história de um futuro onde é proibido estar solteiro! As pessoas que são pegas solteiras, são enviadas para um "hotel", onde tem 45 dias para encontrar um parceiro(a). Caso esta pessoa não encontre um parceiro, será transformado em um animal de sua escolha e solto na floresta.
Pontos Positivos: O filme me enganou no principio (de uma forma positiva)! Logo que comecei a assistir, imaginei que a narrativa iria para algumas direções "previsíveis" e acabei sendo socado no estômago quando isso não ocorreu. Sendo assim, já posso destacar o que é o ponto mais alto do filme: O Roteiro.
Diferente da maioria dos filmes modernos, The Lobster traz um roteiro totalmente original e bem escrito (Se dependesse de mim, ganharia o Oscar de melhor roteiro original). Méritos para Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou, responsáveis por este excelente trabalho.
O filme também trabalha bem os tons de cinza e de um azulado "sem vida", jogando ainda mais o espectador em um clima de solidão e melancolia.
Pontos Negativos: O único ponto negativo ao meu ver, é a forma como o filme "abandona" parte das tramas ocorridas para abraçar um rumo completamente diferente. O filme não erra no novo caminho, e não deixa de ser envolvente e interessante, mas em alguns POUCOS momentos, parece "não ter rumo" e deixa muita informação concedida anteriormente para trás. (Como por exemplo, as transformações em animais, desaparecem na metade do filme e se tornam completamente irrelevantes), dentre outras tramas que mereciam algum desenvolvimento.
Atuações: Colin Farrel faz um trabalho muito marcante PRINCIPALMENTE na parte visual de seu personagem (David). O Bigode, o óculos de nerd e a barriga criam uma imagem totalmente diferente do que estamos acostumados a ver com Colin (Méritos para o ator e para os responsáveis pela maquiagem e figurino). Além da aparência, podemos destacar também a melancolia e o conformismo vivido por aquele homem. Fora Colin, não existem GRANDES atuações no filme. O elenco de apoio não decepciona, porém não se destaca, cumprindo seus papéis de forma aceitável.
Rachel Weisz não está mal no filme, porém julgo que a mesma possui atuações muito superiores em sua carreira. Desta forma, não destaco a atuação da mesma.
Conclusão: O filme é reflexivo e imputa discussões enormes no subconsciente de quem assiste.
"Só podemos ser felizes ao lado de alguém?" "Devemos encontrar um par pelas nossas semelhanças ou diferenças? Defeitos ou Qualidades?"
Além de deixar essa sensação de "tristeza" no ar, o filme trabalha o baixo astral dos personagens de forma que afete o público. Por vezes me senti estranho ou solitário nos momentos em que assistia o filme. Além de todo esse sentimento, o filme faz analogias trabalhadas em cima do narcisismo e egocentrismo existente nos relacionamentos de casal. Todos querem encontrar alguém que seja seu espelho, que lhes satisfaça e cumpra todas suas expectativas. E quando encontramos alguém que acaba não cumprindo tudo isso (99% das vezes), nos frustramos e colocamos a culpa no outro por não ser exatamente o que idealizamos que ele fosse.
Bom filme, boas analogias, ótimo roteiro.
Nota: 3.9/5.0