Tinha me esquecido como esse filme é sensível e simples. Narra uma história de vida costurada por outras muitas do nascer ao morrer de uma mulher excepcional. O amor, a morte, a vida, o cotidiano de uma comunidade num vilarejo qualquer... Belo!
Conversando sobre estupro, Allan diz: "Dizem que é o desejo secreto de toda mulher" e Linda responde, sorrindo, insinuando-se: "Acho que depende de quem te estupra". Os dois levam o copo a boca e bebem o champagne.
O ator esquizofrênico - essa informação é omitida no filme até a cena do espermograma - cria para si um mundo que, no fim, o trará de volta ao palco (local de sua plena realização enquanto indivíduo criador e artista). Desenvolve, dentro de si, a história de cada personagem e, acreditando nelas, preenche seu vazio mundo solitário, compartilhando suas criações com seu analista, que percebe algumas distorções entre as histórias. No fim, a tragédia. Não é à toa que Shakespeare é citado quase sempre.
nota: a construção de uma lésbica que, encontrando um objeto de desejo passado, procura enquadrar-se no modelo de mulher por ele determinado (roupas e acessórios específicos, trejeitos "femininos", consumo desenfreado) a fim de constituir-se a rainha do lar (apesar de liberta em vários aspectos: vai ao trabalho, mantém outros relacionamentos, realiza-se sexualmente de forma independente) não parece ter sido pensada aleatoriamente e sim sustentada em estereótipos e crenças cotidianas, como se a lésbica não fosse uma mulher em si, mas uma pessoa que ainda não se encontrou como mulher na aparência e mente.
Para mim, a maior mensagem deixada pelo filme foi: o carinho, o cuidado, a vontade de estar perto, e mesmo o amor, nem sempre estão vinculados a laços sexuais.
Ambos casados e solitários. Satisfizeram-se a si mesmos apenas com a companhia e conforto encontrados no outro. É verdade que Isso não isenta o desejo de existir. Acredito, inclusive, que o filme trabalha tenuemente essa questão. Mas reforça a possibilidade de encontrar-se no outro em absoluto mesmo sem um envolvimento sexual.
Um filme que delicadamente insere sua crítica aos primeiros interesses que movem as relações sociais, frisando as atuações que brotam da necessidade implantada pelas convenções que se criam: O chefe que, apesar de casado, mantém relações com suas secretárias, iludindo-as com a mesma esperança do divórcio; O homem empregado, com um trabalho qualquer, com chances de crescimento que dependem daqueles que estão acima na hierarquia empresarial, tendo, então, que se submeter e ceder seu próprio apartamento para os homens que, melhor dispostos nos cargos da empresa, precisam de um lugar para se divertir com suas amantes, já que a esposa está em casa*; A moça, ludibriada pelas idealizações românticas do chefe, depois de muito sofrer em silêncio, decide visualizar o papel mentiroso por ele encenado e escolher o personagem que, atrapalhadamente, encena a sinceridade.
* É importante observar que as mulheres no início ainda são representadas como incompletas, submetidas à lógica patriarcal, dependentes de um homem. Apenas aos homens é dado "o direito" ao adultério, cabendo a mulher: 1) cuidar de seu marido ou 2) procurar por um. No entanto, o filme tenta desconstruir essa ideia sutilmente. A esposa do chefe ludibriador, descobrindo suas traições, o "demite" (palavras dele). Ele foi posto para fora da instituição do casamento pela mulher que rejeitou sua vida dupla. Assim, ele tenta se refugiar com a amante, que logo percebe suas intenções egoístas, nada semelhante às histórias encantadoras e, num ato de liberdade, se livra da prisão de uma paixão que se sustentava em mentiras.
O filme é, sem exagero, surpreendente. Conta com uma história bem amarrada que joga com as relações de gênero muito bem. Parece que o filme traz um suposto domínio feminino. Um domínio que se sustentaria, principalmente, na premissa de que a inferioridade do sexo é natural, tendo então a mídia sempre ao lado da mulher, a polícia, as pessoas. Como se a mulher fosse, naturalmente, vítima. Mas aí depois desconstrói tudo, quando revela a principal como uma psicopata calculista, uma mulher forjada, de aparência. E ainda o marido, entendendo o jogo e sabendo das jogadas frias, aceita perpetuar o teatro mal atuado que mantém de pé a instituição do casamento. Bem bacana várias coisas: uma personagem mulher que interpreta a delegada que comanda a investigação; um advogado negro que ajuda a revelar a verdade; a desmistificação da família perfeita: o casal feliz, fiel, sem desacordos e filhos.
Encantado, o Brasil em Desencanto
3.3 10Lembra um pouco o documentário da Petra Costa, Democracia em Vertigem, mas sem forçar tanto a barra pro PT.
Ser Tão Velho Cerrado
4.3 36Gostei da fala da quilombola ao dizer que "a gente não deve confundir pobreza com cultura"
A Excêntrica Família de Antonia
4.3 359Tinha me esquecido como esse filme é sensível e simples. Narra uma história de vida costurada por outras muitas do nascer ao morrer de uma mulher excepcional. O amor, a morte, a vida, o cotidiano de uma comunidade num vilarejo qualquer... Belo!
A Aventura
4.1 112 Assista Agorafiquei esperando "a aventura"
Sonhos de um Sedutor
4.0 129 Assista AgoraPara mim, o filme acabou nessa cena:
Conversando sobre estupro, Allan diz: "Dizem que é o desejo secreto de toda mulher" e Linda responde, sorrindo, insinuando-se: "Acho que depende de quem te estupra". Os dois levam o copo a boca e bebem o champagne.
Os Incompreendidos
4.4 645escola formatadora; estudantes criativos; família, estrutura bamba; incompreensão...
Sonata de Outono
4.5 491"Eu jamais amadureci. Meu rosto e meu corpo envelheceram. Eu adquiri lembranças e experiências, mas, com tudo isso, eu nem cheguei a nascer."
O Último Ato
3.0 74 Assista AgoraAinda digerindo esse filme, mas vamos lá:
O ator esquizofrênico - essa informação é omitida no filme até a cena do espermograma - cria para si um mundo que, no fim, o trará de volta ao palco (local de sua plena realização enquanto indivíduo criador e artista). Desenvolve, dentro de si, a história de cada personagem e, acreditando nelas, preenche seu vazio mundo solitário, compartilhando suas criações com seu analista, que percebe algumas distorções entre as histórias. No fim, a tragédia. Não é à toa que Shakespeare é citado quase sempre.
nota: a construção de uma lésbica que, encontrando um objeto de desejo passado, procura enquadrar-se no modelo de mulher por ele determinado (roupas e acessórios específicos, trejeitos "femininos", consumo desenfreado) a fim de constituir-se a rainha do lar (apesar de liberta em vários aspectos: vai ao trabalho, mantém outros relacionamentos, realiza-se sexualmente de forma independente) não parece ter sido pensada aleatoriamente e sim sustentada em estereótipos e crenças cotidianas, como se a lésbica não fosse uma mulher em si, mas uma pessoa que ainda não se encontrou como mulher na aparência e mente.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraPara mim, a maior mensagem deixada pelo filme foi: o carinho, o cuidado, a vontade de estar perto, e mesmo o amor, nem sempre estão vinculados a laços sexuais.
Ambos casados e solitários. Satisfizeram-se a si mesmos apenas com a companhia e conforto encontrados no outro. É verdade que Isso não isenta o desejo de existir. Acredito, inclusive, que o filme trabalha tenuemente essa questão. Mas reforça a possibilidade de encontrar-se no outro em absoluto mesmo sem um envolvimento sexual.
Se Meu Apartamento Falasse
4.3 422 Assista AgoraUm filme que delicadamente insere sua crítica aos primeiros interesses que movem as relações sociais, frisando as atuações que brotam da necessidade implantada pelas convenções que se criam: O chefe que, apesar de casado, mantém relações com suas secretárias, iludindo-as com a mesma esperança do divórcio; O homem empregado, com um trabalho qualquer, com chances de crescimento que dependem daqueles que estão acima na hierarquia empresarial, tendo, então, que se submeter e ceder seu próprio apartamento para os homens que, melhor dispostos nos cargos da empresa, precisam de um lugar para se divertir com suas amantes, já que a esposa está em casa*; A moça, ludibriada pelas idealizações românticas do chefe, depois de muito sofrer em silêncio, decide visualizar o papel mentiroso por ele encenado e escolher o personagem que, atrapalhadamente, encena a sinceridade.
* É importante observar que as mulheres no início ainda são representadas como incompletas, submetidas à lógica patriarcal, dependentes de um homem. Apenas aos homens é dado "o direito" ao adultério, cabendo a mulher: 1) cuidar de seu marido ou 2) procurar por um.
No entanto, o filme tenta desconstruir essa ideia sutilmente. A esposa do chefe ludibriador, descobrindo suas traições, o "demite" (palavras dele). Ele foi posto para fora da instituição do casamento pela mulher que rejeitou sua vida dupla. Assim, ele tenta se refugiar com a amante, que logo percebe suas intenções egoístas, nada semelhante às histórias encantadoras e, num ato de liberdade, se livra da prisão de uma paixão que se sustentava em mentiras.
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Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraO filme é, sem exagero, surpreendente. Conta com uma história bem amarrada que joga com as relações de gênero muito bem. Parece que o filme traz um suposto domínio feminino. Um domínio que se sustentaria, principalmente, na premissa de que a inferioridade do sexo é natural, tendo então a mídia sempre ao lado da mulher, a polícia, as pessoas. Como se a mulher fosse, naturalmente, vítima. Mas aí depois desconstrói tudo, quando revela a principal como uma psicopata calculista, uma mulher forjada, de aparência. E ainda o marido, entendendo o jogo e sabendo das jogadas frias, aceita perpetuar o teatro mal atuado que mantém de pé a instituição do casamento.
Bem bacana várias coisas: uma personagem mulher que interpreta a delegada que comanda a investigação; um advogado negro que ajuda a revelar a verdade; a desmistificação da família perfeita: o casal feliz, fiel, sem desacordos e filhos.
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