O colégio Moordale recebe uma nova diretora (Jemima Kirke) determinada a trazer de volta uma imagem conservadora à escola, mas os alunos não vão aceitar isso com tanta facilidade. Eric (Ncuti Gatwa) e Adam (Connor Swindells) levam seu relacionamento mais a série e Maeve (Emma Mackey) e Otis (Asa Butterfield) tentam encontrar uma forma de se entender e manter a amizade.
Após duas temporadas brilhantes, "Sex Education" chega à sua não tão empolgante 3ª temporada. Se antes a série conseguia cativar o espectador e manter a sua atenção em todos os episódios, agora, ela não atinge o mesmo feito.
Enquanto alguns episódios são muito bons, outros são bem ruins e destoam da qualidade do roteiro anteriormente testemunhado. Isso sem falar que a história, em si, está ficando desgastada. Algumas escolhas para fazer rir dão vergonha alheia. Uma pena.
Bode fazendo cocô em todos os lugares. Cocô voando pela janela do ônibus. O constrangimento do cocô na hora do sexo. Pessoas fazendo cocô no banheiro da escola. Quantas piadinhas com cocô, né? Parece até que voltamos para a 5ª série, onde falar a palavra cocô, independentemente do contexto, era "suuuuuuuper engraçado". Sério? 😒
Para duas temporadas, realmente, muito engraçadas, "Sex Education" parece ter chegado num limbo de falta de criatividade e humor. Triste ver e constatar de onde a série saiu e os rumos que ela está tomando.
No entanto, apesar da narrativa dessa 3ª temporada não ter me agradado tanto, eu gostei bastante do desenvolvimento feito com as personagens Lily (Tanya Reynolds) e Ola (Patricia Allison). Todo o arco das duas de descobertas, revelações, decepções, autoaceitação e entendimento nessa season ficou ótimo.
As jornadas do Mandaloriano através da galáxia continuam, uma vez que um caçador de recompensas solitário, Din Djarin (Pedro Pascal), reuniu-se com Grogu. Enquanto isso, a Nova República luta para levar a galáxia para longe de sua história sombria.
Tenho apenas um nome para citar: Katee Sackhoff, o grande destaque dessa terceira temporada. Sackhoff rouba todas as cenas para si e carrega o roteiro meio fraquinho nas costas.
No entanto, acho que essa temporada foi a menos empolgante, se comparada às outras duas antecessoras. Apesar disso, se por um lado a temporada possui episódios meio bobinhos (alô, Jack Black!), por outro, ela conta com sequências e momentos que já entraram para a história da saga, como a inesquecível cena de combate no ar entre os mandalorianos e os soldados do Império. Um show de direção.
"Treta" é uma série que mistura comédia e drama, mergulhando no mundo contemporâneo de influência digital, relacionamentos, autenticidade e brigas no trânsito; o que oferece uma visão interessante para o espectador sobre os desafios e dilemas enfrentados por todos nós todos os dias.
Os diálogos ágeis e cheios de referências à cultura pop são um dos melhores pontos da série. Os roteiristas conseguem capturar a linguagem e o humor característicos da internet, proporcionando momentos divertidos e satíricos que refletem a cultura dos memes presente nas redes sociais, mas sem se esquecer que o plano principal é a vida real e concreta que acontece fora do ciberespaço.
A dinâmica entre a dupla Ali Wong e Steven Yeun é a melhor parte de toda essa loucura. Os dois estão excelentes em seus papéis, conferindo realidade e plausibilidade a todos os absurdos que testemunhamos em tela. Uma delícia poder assisti-los juntos em cena.
Esther Shapiro (Shira Haas) é uma jovem judia ortodoxa que abandona seu marido e uma vida infeliz proveniente de um casamento arranjado em Nova York e foge sozinha para Berlim, onde está sua mãe, Leah Mandelbaum (Alex Reid), que fugiu de casa e do marido sob as mesmas circunstâncias quando Esther era bem pequena.
A história é inspirada no best-seller "Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots", de Deborah Feldman. A minissérie é composta por apenas 4 episódios, com cerca de 50 minutos cada. Algo razoavelmente rápido de se ver.
Ela começa bem. A ideia é promissora e enche o coração do espectador de promessas. No entanto, algumas coisas vão ficando pelo caminho e quando parece que o enredo pega o jeito e engrena, a história acaba, de uma forma abrupta até. O que pode frustrar um pouco.
Vale a pena ser vista, sobretudo por aqueles que, como eu, não conhecem ou não sabem quase nada sobre a cultura ultraortodoxa que move as vidas de milhares de judeus que vivem em Nova York, atualmente.
Impressionante como algo tão constrangedoramente medíocre pode ser aclamado em detrimento de tanta coisa boa e melhor já feita. Qual é o segredo de "Round 6"? Trama? Roteiro? Criatividade? Personagens carismáticas? "Plot twist"? Fala sério. Não diria que é nada disso. Eu sinceramente não sei, mas arriscaria dizer que vivemos sob a cultura da banalização da morte e isso é legal, aparentemente. O Papa é pop e a morte também. O sucesso é um desaforo mesmo.
Pra mim, "Big Little Lies" poderia ter sido encerrada brilhantemente no final da primeira temporada, que teve um início, meio e fim dignos da atenção e prêmios que gerou e ganhou. Porém, fomos agraciados com essa continuação de uma das maiores pérolas da história recente da HBO, que, veja bem, não é ruim, aliás, está longe de ser ruim, mas não consegue nem de longe atingir o mesmo nível da temporada antecessora.
Temos um começo promissor, com os 4 primeiros episódios bem construídos e desenvolvidos, dando um gás para a sequência vislumbrada por David E. Kelley. A direção, assumida por Andrea Arnold, consegue manter o nível atingido pela temporada antecessora, sobretudo nos três primeiros episódios. A fotografia de Jim Frohna também respeitou a personalidade da série, levando em consideração sua cinematografia.
O elenco continuou delicioso. Nicole Kidman ganhou um destaque maior nessa season finale e pode desenvolver sua Celeste Wright com mais vigor. Amo a forma como conduz sua personagem nessa temporada, trazendo contornos mais profundos à sua persona. Kidman, por favor, entenda: conte comigo para tudo. O mesmo aconteceu com Zoë Kravitz (mano do céu, que mulher linda!). A atriz conseguiu levar sua Bonnie Carlson para um novo patamar como a trama exigia. E soube sustentar isso muito bem.
Reese Witherspoon, mais uma vez, surpreendeu-me. Eu não sou muito fã dela como atriz, mas aqui, devo dizer, ela trouxe sua Madeline Mackenzie à vida novamente com entusiasmo e carisma. Shailene Woodley pareceu-me um tanto apagada nessa T2, mas acredito que a culpa tenha sido mais do roteiro em si do que dela, propriamente dito.
E aí, temos Meryl Streep. Como sempre, grandiosa. A atriz entrega aqui uma de suas melhores performances dessa década. Sua Mary Louise Wright ficou fabulosa em tela. Multifacetada e humana, como só Streep conseguiria fazer. Acho que se fosse elencar os 10 melhores momentos dessa T2, Streep apareceria em 8 ou 9.
Contudo, a melhor parte dessa temporada, em termos de elenco, ficou a cargo de Laura Dern. Diferentemente da T1, em que Dern aparecia como apêndice antagonista da trama, aqui ela assumiu uma nova posição no contexto narrativo que muito favoreceu para o desenvolvimento de sua personagem e, consequentemente, para sua entrega como atriz. Ela está excelente, tanto no desenho que faz de sua Renata Klein quanto como alívio cômico da temporada.
No frigir dos ovos, acho que a T2 de "Big Little Lies" obteve um saldo positivo, ainda que sofrido. Acumulou vários tropeços pelo caminho, principalmente a partir do quinto episódio em diante. A resolução soou-me apressada, corrida e pouco elaborada. Como se tivesse que resolver uma conta matemática, aparentemente, muito complexa de uma forma muito simplista e aquém da grandeza do roteiro da T1. Porém, ainda assim, a série soube terminar com honestidade e dignidade, não fazendo parecer tudo um grande "white people problem" (apesar de ser!), além de ter conseguido ficar acima da média em relação às produções televisivas que abordam temas similares.
Definitivamente, a temporada mais fraca da série até agora. Com um primeiro episódio promissor, dirigido por Owen Harris (responsável por outros episódios de destaque da franquia, como "San Junipero" e "Be Right Back"), os outros dois episódios vão perdendo o fôlego até se transformarem num filme ruim da "Tela Quente".
"Striking Vipers" é "Black Mirror" na sua essência. Com algumas cenas externas filmadas em São Paulo, o episódio comandado por Harris impressiona pela habilidosa montagem e edição de Nicolas Chaudeurge, que conseguiu me fisgar e envolver na trama do início ao fim. O roteiro de Charlie Brooker (o principal showrunner da séire, cujos trabalhos de roteirização se destacam em episódios como "The National Anthem", "Hang The DJ" e "Metalhead") é fantástico e sua inventividade e criação muito me lembrou das primeiras temporadas. O elenco também está incrível, com destaque para a ótima atuação de Anthony Mackie e, seu parceiro de cena, Yahya Abdul-Mateen. Infelizmente, não posso dizer o mesmo dos outros episódios.
Em seguida, acompanhamos "Smithereens", que até possui um ótimo começo, mas vai decaindo na qualidade do roteiro à medida em que ele parece se embananar com os rumos da história. A crítica não ficou tão boa quanto pretendeu e, no final, ficou um 'Q' de pretensão no ar. A direção de James Hawes (responsável por "Hated in the Nation", um dos episódios que mais dividiu a opinião do público) até tentou tornar a trama mais verossímil para a audiência, mas o inábil roteiro de Brooker não conseguiu o mesmo feito do episódio antecessor, oscilando entre regular e medíocre da metade em diante. Resultado final: algo entre bom e 'humm kkk bjs'.
E, por fim, assistimos a constrangedora "Rachel, Jack and Ashley Too", que emula um apocalipse robótico pouco convincente e cheio de furos no roteiro. Confesso que em determinados momentos esqueci estar vendo "Black Mirror". Parecia alguma coisa saída do Disney Channel. A direção da estreante Anne Sewitsky, novata no corpo de diretores da série, deu umas pinceladas em temas mais profundos do que o previsto por Brooker nas linhas gerais do roteiro, mas, gente, desculpa, não dá pra defender. Vergonha alheia define. O ápice do ridículo foi aquela sequência final digna dos filmes das irmãs Olsen. Eu só queria poder apagar esse episódio da minha memória para fingir que nunca existiu.
Tudo se trata de verossimilhança e, claro, coerência. Dois elementos fundamentais para qualquer história que se preze e recorrentes durante toda a série, mas que foram completamente subjugados pela oitava temporada de “Game of Thrones” e, pior, a troco de uma ideia quimérica de inversão de expectativa.
E se engana quem acha que quem gosta de um universo fantástico não pode exigir verossimilhança e coerência. Já ouviu falar do termo “suspensão da descrença”? Então. Uma obra de ficção ou fantasia precisa que seu leitor/espectador suprima as noções de realidade em prol das premissas estabelecidas para que haja aquilo que é conhecido como pacto entre leitor e obra (ou entre autor e leitor).
Não é porque uma história tem dragões, magia, homens de gelo, pessoas que visitam o passado e mortos vivos que ela não deve soar congruente com suas próprias leis e narrativas respectivamente estabelecidas. O problema é quando essas leis são quebradas ou desvirtuadas para favorecer a narrativa em momentos complicados em que ela, porventura, se mete.
Estou falando disso logo no começo da minha resenha para que os desavisados de plantão não venham me encher a paciência nos comentários com esse tipo de argumento infantil e ridículo.
“Ah, Guilherme, desculpa, mas você tá exigindo coerência e verossimilhança de uma história que tem dragões zumbis?”
Sério?
Desculpa, mas, para mim, quem acha que uma história fantástica é digna de menor apreciação por conta disso tem uma mente muito pequena e restrita.
Mas essa não é a discussão desse texto. Deixemos isso para uma outra ocasião.
“The things we do for love”
Essa temporada me trouxe bons momentos, não nego. Porém, acima de tudo, ela me deixou cheio de questionamentos (que não foram e nunca serão respondidos), os quais foram responsáveis pelo sabor amargo que ficou na minha boca ao final. E é aí que reside minha frustração, mas, principalmente, minha decepção como espectador e, sobretudo, fã de “Game of Thrones”. Uma série que sempre primou pela qualidade de seus roteiros e que, de repente, correu para entregar o prato para o cliente no salão sem antes ver se havia comida nele.
Primeiro, vou apontar aquilo que me agradou (prefiro acariciar a carne antes de bater). Os três primeiros episódios, “Winterfell”, “A Knight of the Seven Kingdoms” e “The Long Night”, tiveram seus tropeços, mas o saldo final de cada um foi positivo. Diria até que o segundo episódio, “A Knight of the Seven Kingdoms”, beirou a perfeição e muito me lembrou, assim de longe, os roteiros das primeiras temporadas. Bons diálogos, boas construções de cena, excelentes direções de fotografia e arte (aliás, esses dois últimos itens que cito estão predominantemente em forma ao longo de toda a temporada; com exceção talvez do EP3 que deu umas breves deslizadas na fotografia).
Existem cenas muito bonitas e substancialmente emblemáticas, como a nomeação de Brienne de Tarth, que foi de lady à Cavaleira dos Sete Reinos quando Jaime Lannister brandiu sua espada à luz do fogo da lareira de Winterfell. Confesso que fiquei profundamente emocionado e até chorei nessa cena, por várias razões.
A primeira delas se deve ao fato de que sou completamente apaixonado pela personagem encarnada divinamente por Gwendoline Christie e, consequentemente, envolvido por toda a sua trajetória em busca de um digno reconhecimento pela coragem e bravura que carrega no peito. Esse momento, definitivamente, considero o melhor da temporada. O mais próximo em termos de qualidade de roteiro que podemos associar às temporadas que gozavam do material original para serem adaptadas.
“Arise, Brienne of Tarth. A knight of the seven kingdoms”
Ainda sobre o segundo episódio, em que tivemos ótimos momentos, destaco a belíssima composição da cena em que Tyrion, Jaime, Brienne, Podrick, Tormund e Davos se reúnem em volta da lareira. Um dos melhores momentos dessa season, que conta com ótimos diálogos, bons alívios cômicos e até uma excelente interpretação musical protagonizada por Daniel Portman (Podrick) que canta a melancólica trova “Jenny of Oldstones”, mais uma bela trilha criada por um dos melhores compositores da atualidade, Ramin Djawadi, e inserida de maneira tocante no contexto da trama naquele momento.
E, se por um lado “The Bells” foi um desastre em termos narrativos, por outro, o episódio nos brindou com o tão aguardado embate entre os irmãos Clegane. Um dos melhores acontecimentos da temporada e que ainda conseguiu ter um desfecho tão inesperado quanto surpreendentemente bom. Acho que a única coisa que faltou ali foi um “fuck the Queen” na hora em que Cersei passou timidamente por Sandor. A cena foi antológica, desde a rememoração da morte de Oberyn Martell até na maneira como Qyburn morre. A criatura matando o seu criador. Simplesmente poético.
Outro mérito igualmente significativo dessa T8 foi o desfecho do arco de Arya Stark. Em termos de construção e desenvolvimento de personagem (refiro-me aqui à série completa), talvez tenha sido Arya uma das únicas sobreviventes às navalhas impiedosas (e imperdoáveis) de David Benioff e D. B. Weiss. Deram a ela um encerramento à altura de sua jornada inglória entre Westeros e Braavos. Inglória porque, no frigir dos ovos, Arya, apesar de possuir uma enorme evolução dentro da trama, foi pouco explorada em termos narrativos depois de suas provações; sendo subutilizada e com um tempo de tela vago e restrito. Contudo, ainda estou na parte dos pontos positivos do meu texto. Voltemos.
Acredito que Arya Stark tenha sido a grande personagem feminina dessa série. E, ao lado de outras poucas bem construídas como Brienne e Sansa, foi certamente a personagem com um dos melhores enredos na história de “Game of Thrones”, do início ao fim; mas, ainda assim (como lerão mais adiante) com um ou dois furos muito graves.
“I know Death. He’s got many faces. I look forward to seeing this one”
E por falar em Sansa, devo ser justo e honesto: seu arco também foi muito bem desenvolvido durante toda a série e, apesar dos grandes tropeços em sua jornada, vistos desde a quinta temporada, a atual Rainha do Norte foi coerentemente conduzida nessa series finale. Não concordo com quem não viu com bons olhos, por exemplo, sua constante desconfiança a respeito de Daenerys. Apesar de concordar com o fato de que isso, assim como todo o resto, foi pessimamente trabalhado. Colocando Sansa, por vezes, em posição de “garota mimada” e, consequentemente, desrespeitando o passado e o crescimento da personagem.
Isso se deve, é claro, à fatídica inabilidade do roteiro em consolidar as respectivas posições de suas personagens na trama. É como se você estivesse assistindo a uma partida de xadrez sendo filmada apenas pelas pontas de cada peça, desprezando o tabuleiro do enquadramento. Mas olha eu aqui de novo fazendo considerações negativas na parte que tinha que ser positiva?! Pelos Sete, Guilherme! Foco!
Continuando. Grande parte do mérito, absolutamente, pertence à Maisie Williams e Sophie Turner (ou agora é Sophie Jonas?), pois, elas sim, evoluíram de maneira esplendorosa e inquestionável como atrizes quando apreciamos o mosaico maior de #GoT. Aproveitando o ensejo, faço aqui meus mais que merecidos elogios ao resto do elenco. Com destaque para:
- Iain Glen, que personificou a elegância cênica em seu Jorah Mormont.
- Nathalie Emmanuel, que com simplicidade construiu belissimamente sua Missandei.
- Gwendoline Christie, porque nunca é demais elogiá-la por sua Brienne de Tarth.
- Carice van Houten, que mesmo com pouco tempo de tela abrilhantou as cenas de Melisandre.
- Liam Cunningham, que agigantou seu Davos Seaworth com integridade.
- Conleth Hill, que fez milagres com o enredo preguiçoso (para dizer o mínimo) que deram ao seu Varys.
- Rory McCann, que possui um talento tão cheio de nuances quanto seu Sandor Clegane.
- Alfie Allen, que tem um talento que não se mede e deu vida a um dos personagens mais complexos da série, Theon Greyjoy.
- Johan Philip Asbæk, que emprestou carisma, rendendo ótimas tiradas, ao seu abominável Euron Greyjoy.
- Kristofer Hivju, que eternizou o melhor alívio cômico da série com seu selvagem Tormund.
- Gemma Whelan, que, apesar de ter sido rebaixada a três falas nessa T8, foi nobre no tratamento de sua Yara Greyjoy.
- Nikolaj Coster Waldau, sempre honesto e generoso com o texto de Jaime Lannister.
- Peter Dinklage, que, apesar da degradação de seu Tyrion Lannister, ainda conseguiu extrair alguma credibilidade das linhas do roteiro.
- E, claro, não poderia faltar minha amada Lena Headey. Se ninguém fala, eu vou falar. Que mulher! Que atriz magnífica! Headey, na minha opinião, deu à série seu maior legado: Cersei Lannister. A personagem com maior densidade dramática e nuances textuais. A melhor entrega do elenco feminino, sem a menor dúvida.
Com uma atuação magistral, Lena Headey fez de Cersei um ícone definitivo de vilania, cuja maldade e perversão são incontestáveis, porém, totalmente justificáveis. Cersei é o produto de seu meio. Uma mulher que teve que aprender a se armar para lutar e vencer. Seu final, apesar de injusto com a grandeza de sua representação, não deixou de ser poético. Partiu nos braços do irmão que tanto amava e que veio ao mundo junto a ela. Uma poesia imagética que poderia ter sido melhor construída e exibida se não fosse a quantidade de poeira que atrapalharia os segundos finais de apreciação do espectador sobre a atuação de Headey, que também, infelizmente foi subaproveitada ao longo da temporada final.
A lista acabou, mas os nomes não. Devo roubar mais um parágrafo para enaltecer o crescimento de Emilia Clarke como atriz. Ela roubou a cena em vários momentos e, até no fatídico “The Bells”, em que aparece pouco mais de 15 minutos, se não me falha a memória, ela me impressionou pelo desempenho e postura diante das câmeras. O maior exemplo, além de Williams e Turner, de evolução no elenco. Sua integridade em cenas como a da morte de Jorah ou no discurso de vitória pós-Grande Guerra em Porto Real, demonstram uma atriz completamente conectada à sua personagem. Eu não era muito fã da entrega de Clarke nas primeiras temporadas, mas aqui devo reconhecer sua grandeza como intérprete.
“Men do stupid things for women”
Preciso pontuar a tocante atuação de Alfie Allen na cena redentora de seu Theon Greyjoy ao defender Bran Stark, o menino que teria queimado na segunda temporada e causado toda uma onda de desastres na família que o acolhera. Seu empenho ali foi honesto e brilhante. Digno de indicações em premiações. Maravilhoso.
Além do que já foi dito, parabenizar os profissionais que estão atrás das câmeras também é oportuno. A fotografia de Fabian Wagner, a direção de arte de Paul Ghirardani, a trilha sonora de Ramin Djawadi, o figurino de Michele Clapton, o design de produção de Deborah Riley e as direções de Miguel Sapochnik e David Nutter foram excepcionais. Apenas, como disse, em “The Long Night”, faltou um melhor apuro por parte da fotografia. Porém, se ela cometeu deslizes ali, foi perdoada por tomadas inebriantes, como a cena de Melisandre acendendo a trincheira ou a sequência final de Bran sendo defendido por Theon.
Por falar dessa sequência, que composição sonora estupenda a de Ramin Djawadi para essa cena em específico. “The Night King” é completamente inebriante! Me senti contemplado. Sem a música, certamente a construção de redenção de Theon ali não teria o mesmo efeito. Aliás, alguns artistas que contribuíram ao longo de toda a série, como Djawadi e Sapochnik, ganharam minha admiração eterna. Seus trabalhos em “Game of Thrones” estão irretocáveis.
Fora isso, a series finale teve alguns outros raros e breves bons momentos. Como a fundição da figura de Drogon e Daenerys numa única criatura no início de “The Iron Throne” ou o momento em que Jon voa pela primeira vez em Rhaegal. E por falar no dragão esverdeado da Nascida na Tormenta, eu devo admitir que a morte dele, apesar da série de conveniências narrativas, agradou-me um pouco pelo fator surpresa.
“Why do you think I came all this way?”
.
Agora que já acariciei, acho que posso começar a bater na carne. Certo? Foi o combinado.
Querido e estimado leitor (querido e estimado mesmo porque ler esse meu desabafo aqui não é para qualquer um, não - aliás, obrigado!), por favor, entenda: não é que eu não gostei da series finale de GoT porque Bran terminou como Rei dos Sete Reinos - aliás, não sei mais quantos reinos são agora - ou porque Arya matou o Rei da Noite ou porque Jon terminou exilado ou porque Daenerys “ficou louca” ou porque Jaime resolveu voltar para a Cersei nos 45 do segundo tempo. Resumindo, não foi por causa disso ou daquilo. Foi tão simplesmente porque fizeram o que fizeram DA FORMA COMO fizeram.
Poderia tudo ter acabado do mesmo jeito, mas ter sido construído, desenvolvido, progredido, elaborado (dê a palavra que desejar) de uma maneira minimamente crível e plausível para o espectador. A minha crítica está muito mais relacionada com o “como” do que com o “o que”. É disso que se trata e é aí que reside toda a minha frustração e decepção não só como espectador, mas como fã dessa série que entrou para a história da televisão mundial.
Tirando do balaio o segundo episódio, todos os demais me soaram problemáticos nesse sentido, principalmente os três últimos. A sensação que tive ao longo de toda a temporada foi de que forçaram legal a barra de alguns personagens para que os seus fins justificassem os meios. Se apoiaram cansativamente na boa vontade do espectador e, sobretudo, do fã. O que é sempre um tiro no pé, como a história do audiovisual assim nos conta.
Na minha opinião, cagaram rude em alguns arcos, como o do Jaime e o da Daenerys, só para citar os mais graves para mim. Apressaram-se tanto para entregar algo que fizesse o mínimo de sentido que, no final, a temporada ficou parecendo um boneco de neve feito por um rinoceronte. Além disso, que foi o que mais me incomodou, o roteiro nem teve a preocupação básica e elementar, diga-se de passagem, de disfarçar todas as várias pontas soltas e buracos feitos e deixados nessa T8. Tá sentindo o cheiro de queijo suíço? Não? Então vamos lá:
1) Por que fizeram a Arya viajar de Winterfell até Porto Real? Por qual motivo? Para ela entender finalmente que, depois de 7 temporadas buscando seu “revenge time” daqueles que devastaram sua família, vingança não era uma coisa tão legal assim? Às vezes matar apenas os assassinos de sua mãe, irmão, cunhada e sobrinho lhe pareceu de bom tamanho, né? Pode ser. Afinal, para quê se vingar daquela que promoveu a decapitação de seu pai e a deterioração emocional/psicológica de sua irmã, e que passou longos anos sendo citada em sua “death list”? Bobagem! Talvez ela só tenha ido mesmo para preencher um tempo de tela com cenas redundantes a fim de deixar o espectador aflito gratuitamente se ela havia morrido ou não nas incríveis 6 vezes em que uma cortina de poeira cobria a imagem, deixando o suspense no ar.
2) Eram necessárias tantas cenas do Bran fazendo aquela cara de picolé de chuchu? Pra quê? Para mostrar e enfatizar ao espectador o quanto o arco do Corvo de Três Olhos foi completamente inútil durante toda a série antes de darem o Reino para ele? Tava parecendo minha bisavó que colocava um pote de bala em cima da mesa, mas eu só podia ficar vendo, comer jamais. E eu não tô dizendo que eu queria comer o Bran (risos). Na verdade, eu queria mesmo que ele fosse literalmente comido pelo Rei da Noite; igual aquele meme da mulher abocanhando o microfone de um repórter.
3) Ainda sobre o Bran: como, de repente, ele virou a melhor opção entre todos ali presentes nas ruínas do Fosso dos Dragões? Por que ele não podia ter filhos? Por que ele tem cara de que não vai arranjar treta com ninguém? Por que foi uma forma do Tyrion se redimir com ele, afinal foi Jaime, seu irmão, quem o deixou paralítico? Ah, não! Já sei! Porque ele tinha as melhores histórias a serem contadas. Né? Enfim, escolha seu motivo inconsistente favorito.
4) Ainda sobre essa cena patética que mais parecia uma esquete do Monty Python (perdoem-me os deuses da comédia por essa comparação infame), quão risível ela soou para você? Porque aqui em casa o nível de vergonha alheia atingiu picos recordes. Por que trouxeram, enfim, Edmure Tully para aquele ““““““alívio cômico””””””” tenebroso e desnecessário? Por que fizeram Sam cotar a bola para que zombassem das excelentes teorias do fandom da série sobre no final ser instaurada a democracia? Por que fizeram Sansa soar prepotente e insolente ao nem deixar seu tio, que depois de tanto sofrer nas mãos dos Frey, terminasse de falar? Por que colocaram a Arya como figurante nessa cena? Por que Brienne e Davos foram colocados ali às pressas para participarem de uma votação que elegeria o futuro rei? E o pior de tudo: por que Tyrion estava ali dando as cartas na mesa e o compasso da dança se a razão dele ainda estar vivo se devia ao fato de que seria julgado por trair Daenerys? Isso porque consideramos que os Imaculados assim o quiseram, né?! É sério que o Grande Jogo dos Tronos se resumiu a uma reunião de condomínio com direito a um TED Talk do Tyrion sobre a importância da memória? MANO! Eu ri como se estivesse vendo Porta dos Fundos. Que vergonha!
5) E outra: é sério que não ocorreu a nenhum lorde ali presente que seria justo também pedir para ser um reino independente e livre? Lembremos que foi exatamente isso que Yara havia combinado com Daenerys. Por que os Martell ficaram tão conformados com o discurso raso de Tyrion e, ainda por cima, depois que ele foi escolhido como Mão do Rei?
6) Como Varys, de repente, viu em Jon (uma pessoa com quem nunca trocou um “bom dia”) uma possibilidade de governante melhor do que Dany? Antes disso: por que Varys arriscou sua vida traindo a Coroa de Westeros (lá na T4) e atravessando o Mar Estreito a fim de se encontrar com a Mãe dos Dragões se não tinha tanta certeza assim de suas habilidades como futura rainha? Demorou tanto tempo assim para ele perceber que Daenerys Targaryen era, na verdade, uma tirana ensandecida? Varys estava nesse tempo todo fazendo o que? De certo, assim como o resto da humanidade, assistindo “Game of Thrones” aos domingos pela HBO. Foi enganado como todos nós. Uau! Transformaram um dos personagens mais sagazes da série, que dava trabalho em gente como Mindinho, num cara que deliberadamente trai sua rainha de forma impensada e insensata.
7) Por que Cersei simplesmente não pôs um ponto final em tudo na cena derradeira de “The Last of the Starks”? Não seria muito mais fácil e menos dispendioso para a Rainha Lannister acabar com sua rival e seus incríveis 25 imaculados ali mesmo, quando gozava de todo o poder bélico e onde não tinha nada a perder? Toda a construção daquela cena soou-me frágil e problemática. Nada se justifica ali. Desde a boa vontade de Daenerys em ir propor a rendição de Cersei depois de ter perdido mais um de seus dragões até o fato de Cersei poupar a vida de Tyrion (já que a própria quis incitar o ódio de Daenerys segundos depois).
8) Aliás, ainda sobre essa cena lamentável (uma das piores em termos narrativos de toda a série, se não a pior), gostaria de pontuar que eu jamais perdoarei a covardia dos roteiristas de matarem a Missandei naquelas circunstâncias. O que eles fizeram ali foi golpe baixo, deplorável e desonesto. Sem querer ou não, tornaram a morte da Missandei num grande alívio para o espectador de certa maneira. Um misto de “ufa, ainda bem que não foi o Tyrion” com “que pena, né, mas poderia ter sido pior”. Uma resolução covarde que fez com que o telespectador se sentisse aliviado pelo fato de que a previsível morte daquela cena fosse da nativa de Naath, e não de Tyrion. Missandei não merecia uma morte tão fora do tom como aquela. Uma solução muito mais simples, eficaz e (pasmem!) barata, seria a Missandei desaparecer depois do ataque à frota de Daenerys e, depois que o espectador se esquecesse desse fato no decorrer do episódio, na última cena Dany receberia uma caixa enviada por Cersei com a cabeça de Missandei em resposta à sua proposta de rendição.
9) Por que Drogon não atacou Jon depois de ver sua mãe morta em seus braços? Para mostrar a evolução de sua natureza selvagem e agressiva para um ser dotado de inteligência emocional e reflexão filosófica? Por que, talvez, ele tenha entendido que a atitude de Jon foi necessária, afinal, sua mamãe estava loucrazy? Por que dragões não atacam Targaryens (no caso de Jon, meio Targaryen)? Onde isso foi estabelecido na série? Hum. Fica aí o questionamento, não é mesmo?
10) Em tempo: Por que Drogon queimou o Trono de Ferro? Já vi tantos memes hilários sobre isso, mas o melhor foi o que abordava a hipótese de que Drogon entendeu naquele momento que aquele objeto era a representação máxima de tudo aquilo que corrompeu e levou sua mãe à loucura. Gente, dragões são criaturas inteligentes, mas pera lá… Agora eles têm um senso crítico melhor do que a galera que curtiu esse final? É isso mesmo? Tá bem, então.
11) Por que Jon teve que ser obrigado a retornar para a Muralha se os Imaculados partiram de Westeros e os lordes que apoiavam Daenerys eram minoria no Pequeno Conselho? Aliás, por que apenas Jon foi exilado se, na verdade, Tyrion foi a mente por trás da conspiração “habilmente” arquitetada em 5 minutos de conversa?
12) Por falar dessa conversa, que explicação maravilhosa Tyrion deu a Jon, hein? Faltou pegar o espectador pela mão, acompanhar até a saída e enxugar a baba no canto da boca. Para quem não entendeu minha ironia (acabei de chamar a gente que assistia essa cena de retardado), acho que ela foi tão patética e por tantos motivos que nem sei elencar todos (e nem poderia). Nunca senti minha inteligência tão subestimada por GoT desde a remoção de Viserion do lago congelado na 7ª temporada. Tyrion falando que “enquanto ela queimava gente má, nós gostávamos dela” foi o auge da incompetência de D&D como roteiristas. O que eles não souberam construir articuladamente nas últimas temporadas, eles forçaram goela abaixo nessa cena. Além do didatismo ignóbil de quem explica a uma criança de 10 anos que B + A = BA e não AVÁ, essa sequência coroa a argumentação de quem detestou o roteiro e o tratamento dado aos personagens na T8 com maestria, colocando o personagem mais inteligente, esperto, sagaz e interessante da série como um dos mais inconsistentes de toda a trama.
13) Voltando um pouco, ainda sobre o exército de Dany: por que raios os imaculados e os dothrakis acharam razoável prender Jon após ele ter matado Daenerys, a mais nova Rainha de Westeros? Tem gente que argumenta dizendo que os Imaculados aprenderam com Dany que julgamentos são uma forma honesta de se matar alguém. Tenho tanta preguiça de rebater essa justificativa que prefiro dizer “ok”. Mas e os dothrakis? Ficaram completamente civilizados depois de alguns meses convivendo com os ândalos? Tão lembrados dos dothrakis raiz da primeira temporada? Depois que Khal Drogo morreu, formaram-se vários grupos que saíram matando e saqueando povoados vizinhos. Inclusive, a raiva foi tanta, que eles começaram a brigar e matar entre si. Mas vamos passar mais esse pano para a inabilidade de D&D, não é mesmo?
14) Eu já perguntei por que Jon teve que ir para a Muralha? Será que a fúria dos Martell (que não viram problema um Lannister ser a Mão do Rei) e dos nascidos nas Ilhas de Ferro (que não viram problema um Stark sentar-se no trono) seria tão grande assim, caso Jon resolvesse falar “sem tempo, irmão” e fosse para qualquer outro lugar do planeta à sua escolha? Aposto que os Imaculados (que a essa altura já estariam mortos em Naath por conta da crise epidêmica que assola suas ilhas) e os dothrakis (que estavam cagando para toda aquela situação) iriam se importar suficientemente a ponto de Jon não poder escolher seu destino. A propósito, Jon tá bem servido de irmão, hein. cof cof cof cof
15) Por que raios Tyrion e Bran escolheriam alguém como Bronn, um mercenário declarado que há dois episódios estava ameaçando a cabeça do anão Lannister, para ser Mestre da Moeda? Aliás, como Bronn convenceu os vassalos da Campina de que ele seria o seu mais novo suserano se nem Cersei, Jaime, Tyrion ou qualquer outro lorde poderia fazê-lo?
16) Não queria falar nada, mas… Por que fizeram do principal plot da série (a guerra entre os mortos e os vivos - lembra das crônicas de gelo e fogo? huuummm) algo tão incrivelmente fácil de ser resolvido? Lembrando que eu curti bastante o episódio, mas acho que, um pouco mais de reflexão sobre ele, nos leva a achá-lo um tanto broxante, já que um punhal de aço valiriano era capaz de resolver toda a treta dos Sete Reinos prenunciada por longos 9 anos. Entenda: volto a repetir que achei a construção da cena (Arya vs. Rei da Noite) bacana, porém, a resolução, convenhamos, foi fácil demais.
17) Em tempo: muitos personagens ali não deveriam ter sobrevivido, mas, aparentemente, possuíam blindagem de enredo. Brienne, Jaime e Davos são alguns deles. O caso mais grave, no entanto, foi o de Samwell Tarly que, com nenhuma habilidade em combate, ficou entre a vida e a morte ao ser soterrado por caminhantes umas três vezes e saiu vivo, sem nenhuma explicação.
18) Aproveitando o ensejo, um questionamento de relevância menor (perdoem-me pelo trocadilho): mas por que raios o pequeno Sam não cresce? Pelos Sete! Já tem 5 anos que o menino é um bebê. Se houver uma continuação da série, seu irmão mais novo terá 45 anos enquanto o pequeno Sam somente 2.
19) Ainda sobre a Batalha de Winterfell: De onde saíram tantos imaculados e dothrakis depois de centenas deles terem sido mortos na Batalha de Winterfell? Ao matar o Rei da Noite os mortos na véspera reviveram? Poxa, Jorah e Theon, que pena!
20) Por que, afinal, fizeram tanto barulho por conta da Cavalaria Dourada se ela daria ZERO% de contribuição à Coroa na Grande Guerra? A participação mais pífia da série. Ainda bem que não levaram elefantes para aquela guerra. Ufa!
21) Aliás, por que fizeram Cersei bater tanto na tecla dos elefantes? Que diferença iria fazer? Apagar o fogo talvez?
22) Por que Sam ficou tão chateado com Daenerys quando ela contou que foi obrigada a matar seu pai e irmão na guerra por conta da não rendição deles? Sam não tinha terminado a T6 roubando a espada de sua casa e cagando na cabeça do pai e do irmão por se acharem superiores a ele? Eu devo ter perdido algo.
23) Por que, em cenas como essa acima, ressaltaram traços de bondade e compaixão em Dany ao dar uma notícia trágica como essa a Sam se a intenção era construir uma pessoa tirana, enlouquecida, desprovida de empatia e sentimentos nobres, como seria a Daenerys do episódio 5?
24) Por que Cersei estava tão confiante de si durante a Grande Guerra? Ela não tinha mesmo uma carta na manga? Eu jurava que aqueles sinos iriam tocar para ser colocado o plano B dela em ação. Fogo vivo? Elefantes? Qualquer coisa! Mas, aparentemente, a grande vilã de Westeros estava confiando de maneira convicta e plena apenas na lealdade de seus soldados e na precisão de suas balistas.
25) Por que, de repente, Daenerys conseguiu otimizar o Drogon na Grande Guerra? Por que, de repente, o fogo de dragão ficou tão potente a ponto de derreter muros extensos de pedra como sorvete?
26) Por que, de repente, Euron e seus homens não conseguiram mais acertar nenhum tiro com suas balistas? Como Euron nadou quilômetros e ainda teve fôlego de lutar tão habilmente contra Jaime? Melhor ainda: como Euron acertou em cheio o lugar exato onde Jaime estava na praia?
27) Desculpa, mas vou ter que voltar ao EP3: Por que Jon e o Rei da Noite não se enfrentaram um instantezinho? Não podia rolar um embate entre os dois? Por menor que fosse.
28) Sério que a Cersei morreu daquele jeito e ainda não temos protestos na frente da sede da HBO? A personagem que segurou a audiência por tanto tempo certamente não merecia um fim tão insípido assim.
29) Sério que escreveram mais uma cena problemática sobre a Sansa e seu estupro? Sério que sugeriram que ela via como crescimento e amadurecimento pessoal o fato de ter passado por traumas físicos, emocionais e psicológicos? Sério que não trataram de um assunto tão em voga e importante como esse com o mínimo de responsabilidade? Que diálogo problemático.
30) Não podiam ter nos dado uma cenazinha entre Cersei e Daenerys? Apenas uma única entre as duas? Podia ser um pequeno diálogo. Uma pequena citação sobre a profecia de Cersei. Qualquer coisa. Estavam pagando mais de 1 milhão de dólares por episódio para Clarke e Headey e não as juntaram numa única sequência para que vomitassem o ódio de suas personagens uma pela outra de maneira visceral e extasiante?
31) Dany estava tão calma e sóbria para alguém que acabara de incendiar uma cidade inteira naquela sua última cena, não é mesmo? E quando eu pensei que não dava mais, começaram a infantilizá-la com falas desconexas. Na intenção de quê? Mostrar sua instabilidade emocional? Atestar o quão louca ela se encontrava? A mim, a única coisa atestada ali foi a incompetência avassaladora de David Benioff e D. B. Weiss em produzir algo minimamente crível e plausível.
32) Por que Jaime, depois de tudo o que viveu e evoluiu como ser humano e cavaleiro ao lado de Brienne, inclusive consumando o amor entre os dois após a Batalha de Winterfell, decidiu que era uma boa ideia voltar correndo para os braços de Cersei para defendê-la? Sendo que sua irmã gêmea não só cagou mole em cima da cabeça dele sobre a possibilidade dele morrer na guerra contra os mortos, como também contratou Bronn para que ele não saísse vivo do Norte. Jaime sabia de tudo isso, pois foi notificado pelo próprio Bronn que apontou a besta para a sua cabeça enquanto explicava o que se passava ali. Ou seja, Jaime fez o que fez por amor à Cersei, única e exclusivamente. Um amor cego, obsessivo e doentio que subumbiu o personagem de Nikolaj Coster Waldau em detrimento de toda a evolução do seu arco. Para quê? Uma cena de morte tão nos braços de Cersei tão mal construída quanto insossa.
33) Ainda que soe problemática a construção do regresso de Jaime (em amplos sentidos), mesmo que de maneira vergonhosa, faz algum sentido mínimo. Porém, nada justifica a compaixão de Tyrion por Cersei nos últimos episódios. Nada. Ao contrário de seu irmão, ele nunca a amou ou nutriu sentimentos nobres por ela ao longo de toda a série, principalmente depois dela ter arquitetado seu julgamento na T4 e sua morte no episódio anterior. Ridículo.
Enfim…
Com tantos buracos assim, fica fácil entender como o carro furou seus pneus na estrada.
O mais grotesco de tudo, a meu ver, foi a construção do arco (se é que podemos chamar isso de arco) da “Mad Queen”. Quer dizer, então, que Daenerys sempre foi louca? Só se salvar crianças, libertar escravos, matar opressores e carregar sozinha nas costas toda a responsabilidade de ser quem é e quem nasceu para ser for sinônimo de loucura. Traços de tirania, ok. Concordo. Mas entre ser tirânica e louca descompensada existe um pequeno abismo que não foi e nem tentou ser bem construído.
No fim das contas, o que senti foi que uma mulher forte e emblemática como Daenerys deveria ser sacrificada para que, não só dois homens inconsistentes, como Jon e Bran, tivessem seus propósitos de vida selados e suas respectivas redenções narrativas concretizadas, mas também, para que meia dúzia de outros homens patéticos pudessem sentar-se em volta de uma mesa para contar piadas e conversar sobre puteiros.
“Game of Thrones”, no fim de tudo, deixou uma mensagem final de que não é e nem nunca foi sobre mulheres fortes, infelizmente, como suas primeiras temporadas pretensamente nos induziram a acreditar. GoT preferiu reforçar estereótipos narrativos nefastos (como o da vingança feminina ser subvertida em loucura e insanidade enquanto a vingança masculina é vangloriada como heróica e correta). Tudo isso a troco de um plot twist tão ruim quanto mal construído e desonesto.
Além da horrenda construção do clímax, o roteiro não soube nem entregar o essencial proposto por ele mesmo. Falhou miseravelmente até na tentativa de ser sensacionalista e alarmista. Seu tom de urgência soou-me tosco, desprovido de personalidade, caricatural, desonesto e pretensioso.
Bom, pelo menos não haverá mais guerras em Westeros, já que Bran consegue prever o futuro com riqueza de detalhes. Não é mesmo? Pena que há apenas 3 episódios de se tornar rei ele não conseguiu prever qual era a melhor forma de evitar a batalha de Winterfell. Ou viu e simplesmente deixou o pau comer porque seu objetivo desde o princípio era ser rei, fazendo o argumento de quem diz que “ele era a melhor opção porque não liga para o poder” (algo até dito por Tyrion no episódio final) cair por terra.
“Game of Thrones” nunca foi sobre o destino de suas personagens. Mas sim sobre as suas jornadas. E é aí que reside seu pecado principal.
Ainda bem que existem os memes.
Como bem disse Olenna Tyrell: “Essa foi a única alegria que vi no meio de toda essa miséria”.
“Who knows the truth about Jon? Varys. Because you told him. You learn trought from Sansa. And she learned from Jon. Though I begged him not tell her. As I said: He betrayed me”
"Leave one wolf alive and the sheep are never safe"
Em sua penúltima temporada, a série apresentou graves problemas de ritmo e narrativos. Arcos começaram a tomar rumos inquietantes e o roteiro cai definitivamente num lamaçal de incoerências. Tudo muito perturbador e decepcionante, principalmente quando comparado com o que foi apresentado anteriormente. Apesar de soar regular durante quase toda a temporada, o saldo final não é positivo.
Com a promessa de algo realmente grande que ainda estava por vir no final da sexta temporada, a T7 se atrapalha completamente no desenvolvimento de alguns núcleos, atropelando personagens e narrativas como um rolo-compressor.
"Are you a sheep? No, you’re a dragon. Be a dragon!"
Com um primeiro episódio empolgante, “Dragonstone”, dirigido por Jeremy Podeswa (outro grande diretor que passou pela produção), a temporada tem um início legal, com raros momentos de pura compensação de expectativa, mas da metade para o final a desgraça tomou conta em vários aspectos.
Além do já citado problema de ritmo (cujo enredo, ora acelerado ora desacelerarado, sucumbe aos caprichos de uma malfadada e pessimamente mal construída elipse narrativa), a problemática e frágil narrativa vista aqui foi um dos principais alvos de críticas no mundo inteiro.
Afinal, para além da discussão sobre o surgimento das correntes que removeram Viserion do lago congelado ou, antes disso, como os caminhantes conseguiram mergulhar e puxar um dragão adulto de dentro dele, a pergunta que não quer calar é: se não fosse o dragão de Daenerys, o Rei da Noite jamais poderia transpor a Muralha que separava ele e seu exército dos Sete Reinos.
"Don’t fight in the north or the south. Fight every battle, everywhere, always, in your mind"
Quantos arcos jogados fora! Quantos personagens esquecidos no churrasco! No entanto, nada superaria o pior de tudo, que foi definitivamente toda a construção em volta da incursão de Jon Snow e sua trupe (ou seria “esquadrão suicida”?), composta por Sandor Clegane, Beric Dondarrion, Thoros de Myr, Jorah Mormont, Gendry Baratheon e Tormund, para além da Muralha em busca de um caminhante a fim de se provar à Cersei de que seria uma boa ideia a união de todos contra a Grande Guerra contra o Rei da Noite. Só de explicar essa situação eu fico com vergonha.
O pior episódio da série até então, “Beyond the Wall”, roteirizado pela dupla D&D e dirigido por Alan Taylor, reuniu em si tantas falhas, resoluções ruins, deus ex machinas (alô, tio Benjen!) e diálogos mais rasos que piscina de criança, que conseguiu um feito inédito: a pior média de crítica em portais especializados, como IMDb e Rotten Tomatoes. Tudo muito problemático e inacreditavelmente abaixo da média. É impossível, para mim, compreender o nivelamento feito por baixo na narrativa e achar uma explicação plausível para todos os furos fincados no roteiro.
"Does she like it gentle or rough? A finger in the bum?"
Além disso, personagens como Tyrion Lannister tiveram seus arcos injustificavelmente corrompidos pela falta de habilidade dos roteiristas em dar um tratamento mais digno a tudo o que eles representavam para a narrativa. O sagaz anão de Peter Dinklage, que já havia apresentado problemas de desenvolvimento nas temporadas 5 e 6, continuou sua infeliz derrocada na T7, atingindo o ápice da incoerência no episódio 7, quando demonstra acreditar em sua irmã, sua histórica rival na trama.
E o que dizer do final desajustado e preguiçoso que deram a um dos mais icônicos e importantes personagens da série: Lorde Baelish. É sempre bom lembrar que, se não fosse por Mindinho, simplesmente não haveria série porque não haveria história. Baelish, brilhantemente interpretado por Aidan Gillen, sempre foi a válvula motriz da trama. Merecia um final à altura de sua importância. Para além de todo o embaraçoso arco narrativo em que meteram Mindinho, Sansa e Arya, a cena da morte em si foi tão simplória e insípida que me fez chorar de dó da personagem que definitivamente não merecia um fim tão preguiçoso e mocoronga.
"I have been sold like a broodmare. I’ve been chained and betrayed, raped and defiled. Do you know what kept me standing through all those years in exile? Faith. Not in any gods, not in myths and legends, in myself. In Daenerys Targaryen"
Mas, se por um lado essa temporada foi recheada de péssimas construções e digna de ser esquecida, por outro, algumas coisas legais aconteceram. Coisas pontuais, como a primeira cena do primeiro episódio, “Dragonstone”, ocorrida nas Gêmeas com Arya Stark obtendo sua vingança pelo casamento vermelho ou o primeiro encontro de todos os núcleos da série no sétimo episódio, “The Dragon and the Wolf”.
Enfim, a sétima temporada possui alguns (poucos) méritos, mas no frigir dos ovos, não consegue se sobressair positivamente. Mas nada, absolutamente nada do que foi visto nela, poderia me preparar para o que viria em seguida, na oitava e última temporada: a ruína absoluta de “Game of Thrones”.
"He’s never been a bastard. He’s the heir to the Iron Throne"
O último respiro de “Game of Thrones” antes do desastre colossal que se aproximaria nos anos seguintes. A T6 foi uma bela despedida da série aos fãs daquela obra vista nas primeiras temporadas. É verdade que a qualidade dos roteiros caiu em comparação às temporadas anteriores, porém, é sempre importante salientar que a partir daqui o produto audiovisual deixou de ter como base o material original para ser adaptado e passou a ser criação exclusiva do time de roteiristas da HBO.
Contudo, GoT ainda conseguiu se manter de pé e lúcido diante do emaranhado narrativo em que se meteu. Para além disso, a empreitada realizada aqui foi, é e continuará sendo por muito tempo uma das maiores conquistas da série e da história da televisão mundial. É louvável o que conseguiram fazer nesta maravilhosa sexta temporada. Episódios como “The Door”, “The Broken Man”, “Home” e “Book of the Stranger” marcaram a série para sempre e entraram definitivamente para o hall dos mais memoráveis já realizados.
“It is beautiful beneath the sea, but if you stay too long you’ll drown”
É nesta temporada que vemos a Mulher Vermelha se redimir e provar o seu valor depois das atrocidades que cometera, Jaime e Brienne se reencontrando em circunstâncias muito diferentes, Davos elegendo para si um novo líder, Arya cada vez mais próxima de se tornar ninguém ao passo que se vê encarando o passado que tanto a atormenta, Sansa e Jon finalmente juntos num emocionante reencontro.
Daenerys presa em Vaes Dothrak sentindo o peso de ser a viúva de um khal e, entre outros vários acontecimentos, o célebre retorno de Sandor Clegane que sobreviveu inesperadamente à sua batalha mortal contra Brienne de Tarth. Muitos acontecimentos marcantes deram a GoT uma sobrevida muito bem-vinda após a problemática T5.
E como se não bastassem cenas emocionantes e diálogos que reavivassem a obra de Martin, somos presenteados com dois dos melhores episódios de toda a série: estou falando, claro, de “Battle of the Bastards” e “The Winds of Winter”. Ambos dirigidos por Miguel Sapochnik, no primeiro, acontece uma das maiores e mais epopeicas batalhas medievais já exibidas pela televisão (se não a maior); no segundo, uma grande reviravolta no arco de Cersei Lannister comandada por ninguém menos que ela mesma.
“I choose violence”
Em “Battle of the Bastards”, o espectador é capaz de apreciar uma das fotografias mais extasiantes de “Game of Thrones”, tudo nesse episódio é incrivelmente cinematográfico e épico. Isso graças ao apuro artístico de Sapochnik somado à fotografia de Fabian Wagner e à direção de arte de Paul Ghirardani que entregaram um resultado sólido e contundente.
Já em “The Winds of Winter” a beleza sonora da trilha de Ramin Djawadi é um verdadeiro banquete para os ouvidos com a belíssima composição de “Light of the Seven”. O clímax colocado a serviço da trilha sonora. Uma aula de inversão de expectativa e plot twist. Além, é claro, de ser um dos melhores momentos da melhor vilã de todos os tempos.
“You’re going to die tomorrow, Lord Bolton. Sleep well”
É preciso mencionar e fazer justiça à bela incursão ao passado empreendido por Sapochnik ao levar Bran e o espectador às origens de Jon, ou melhor, Aegon Targaryen (por que Aegon? Não podia ser qualquer outro nome? Por que sempre Aegon?). Um momento emblemático e marcante que confirmou as teorias dos fãs da série que, assim como eu, suspeitavam disso desde a primeira temporada.
Uma belíssima cena construída com os jovens Ned e Lyanna Stark, esta à beira da morte nos braços de seu irmão pedindo que protegesse seu filho da ira de Robert Baratheon. Assim, então, o pequeno bebê Targaryen virou um pequeno bebê Snow, bastardo do norte e do incorruptível Lorde Eddard Stark.
“You have to protect him. Promise me, Ned? Promise me!”
Ainda no décimo episódio, ver Daenerys altiva em um de seus milhares de navios, ao lado de sua recém-formada “gangue” composta por Varys, Tyrion, Missandei, Verme Cinzento, Iara Greyjoy, Olenna Tyrell, Ellaria Sand e suas três víboras, com direito a dois grandes exércitos de Imaculados e Dothraki, e, como se não fosse o bastante, três gigantescos dragões voando alto no céu, partindo rumo a Westeros foi simplesmente apoteótico.
Relembrar toda a saga da personagem até chegar naquele ponto onde estava a um passo de conquistar tudo o que sempre lutou para obter faz com que qualquer um perca a compostura diante da TV e solte um grito de comemoração. Para mim, a série acabou aqui, nessa cena de “The Winds of Winter”. O que veio depois eu nem consigo explicar. Simplesmente não se parece com a série pela qual me apaixonei. Sim, eu viveria nos anos seguintes a famosa “desilusão amorosa” com a série que revolucionou a TV mundial.
“A girl is Arya Stark of Winterfell, and I’m going home”
“I’m not going to stop the wheel. I’m going to break the wheel”
Depois de uma narrativa complexa e extasiante vista na quarta temporada, os showrunners D. B. Weiss e David Benioff nos surpreenderam com o mais frágil dos roteiros desenvolvidos e já experimentados pelos fãs da série até aqui. A quinta temporada possui alguns méritos inquestionáveis, é verdade, e passagens realmente muito interessantes de se ver, porém, também é inegável que seu enredo seja deficiente em vários aspectos, o que acabou comprometendo a apreciação do todo.
Além disso, o acréscimo de alguns elementos textuais que não constavam na obra original perturbou milhares de telespectadores mundo afora, como, por exemplo, a cena de estupro na noite de núpcias de Sansa e Ramsay (que nem chegam a se casarem nos livros) e a morte nauseante da princesa Shireen Baratheon (que não serviu a nenhum propósito narrativo a não ser chocar o público gratuitamente). E foi com esse tipo de sensacionalismo grotesco e sem propósito em cenas como essas que o roteiro começou a depor contra a série.
“In the name of Renly of House Baratheon, first of his name, rightful king of the andals and the first men, lord of the seven kingdoms and protector of the realm, I, Brienne of Tarth, sentence you to die”
Fora essa problemática, lá pelo fim da temporada, alguns arcos, que possuíam grandes expectativas do público, começaram a coalhar de maneira injustificável, como são os notados casos das frágeis narrativas de Arya Stark em Braavos na Casa do Preto e Branco, Daenerys Targaryen em Meeren aprendendo a ser rainha e todo o esquecível núcleo dos Martell em Dorne que tanto prometeu e não entregou nada substancial.
Temos na quinta temporada alguns bons episódios, como “The Dance of Dragons” e “Mother’s Mercy”, ambos dirigidos por David Nutter, e o memorável “Hardhome”, comandado por Miguel Sapochnik (aliás, este último, um dos melhores diretores de toda a série). Mas, se por um lado GoT acaba pecando em arcos fundamentais da trama, como os já mencionados acima, por outro, a história de alguns personagens ganham mais contornos e ingredientes empolgantes.
“You want revenge against the Lannisters? I am the greatest Lannister killer of our time”
A peregrinação de Tyrion, Varys e Jorah em Essos, principalmente quando chegam na Antiga Valíria, e os diálogos feitos entre eles durante suas reflexões sobre a verdadeira rainha a ser seguida são bem legais. Outro ponto positivo da T5 foi o desenvolvimento de Cersei Lannister, a vilanesca e sagaz leoa dos Sete Reinos. Para mim, em termos de desenvolvimento de personagens, Cersei foi uma das poucas a serem coroadas com um bom tratamento nessa temporada.
Aliás, fazendo jus à estupenda atuação e entrega de Lena Headey (uma das maiores atrizes do elenco), Cersei, na minha opinião, foi uma das melhores construções de persona feminina de GoT. Sabemos que se tratando de “Game of Thrones” ninguém é completamente “mocinho” ou “vilão”. É claro que há tendências para um lado ou para o outro, mas o que faz dos personagens da série serem interessantes e profundos é justamente a bidimensionalidade que existe neles. E é em Cersei onde vejo isso acontecer com extremo primor e excelência.
“Shame! Shame! Shame!”
Isso se deve em grande parte pelo comprometimento de Headey e à forma como defende sua personagem diante das câmeras, conferindo à sua Rainha Mãe nuances muito simbólicas e verossímeis de uma mulher mastigada, humilhada e violentada pelo patriarcado e que soube criar para si camadas de proteção do mundo ao amadurecer. Camadas essas que podem ser vistas em cada atitude que toma ao longo de sua narrativa e são aprofundadas em dilemas e ações que nos fazem não só sentirmos suas dores e dissabores, mas também termos empatia com o que sente e sofre.
Uma vilã que, antes de ser má, é uma mãe desesperada para proteger seus filhos. Destaque para sua incrível interpretação durante a caminhada da vergonha em “Mother’s Mercy”, uma das melhores sequências de toda a série. E uma menção honrosa ao roteiro do primeiro episódio, “The Wars to Come”, em que Cersei se lembra da profecia de Maggy a Rã, o primeiro flahsback feito em “Game of Thrones”.
“Look at me. Look at my face; it’s the last thing you’ll see before you die”
Para fechar, devo mencionar o épico “Hardhome”, que nos deu o único gostinho de luta entre Jon Snow e um White Walker (risos). Além de muito bem dirigido por Sapochnik, o episódio conta com a belíssima direção de arte de Paul Ghirardani e a instigante fotografia de Fabian Wagner. A emblemática trilha sonora de Ramin Djawadi marca presença mais uma vez e tanto a edição de Tim Porter quanto o design de produção de Deborah Riley dão um show em tela.
Entre erros e acertos a quinta temporada consegue se manter na média e entrega, apesar dos pesares (e equívocos), um resultado final satisfatório. Boas cenas, boas sequências e bons diálogos isolados, mas uma enredo problemático e frágil. Mas, quem poderia prever aquele grande plot twist na season finale? Ponto para os roteiristas!
“I wish that I had poison for the whole pack of you”
No quarto ano da série a jornada continua. Vários arcos ganham contornos inusitados, como os de Daenerys e Jon, por exemplo. A temporada já mostra a que veio logo nos seus primeiros episódios com mortes completamente inesperadas e cheias de reviravoltas surpreendentes.
Tyrion se vê envolvido numa conspiração pelo assassinato de Joffrey e não tardará até ser julgado. Sansa se transforma numa fugitiva e descobre em Lorde Baelish um importante aliado para sobreviver. Oberyn Martell e Gregor Clegane se enfrentam pela vida de um Lannister. Tywin se fortalece no trono de ferro como regente do Reino. É feita a primeira aparição do Rei da Noite. E, do outro lado do Mar Estreito, Drogon, Viserion e Rhaegal já não são mais tão pequenos assim.
Se no terceiro ano, a série já havia demonstrado sua força e estabelecido um novo patamar para a qualidade de seus roteiros, na quarta temporada ela ressurge com uma trama que começa a dar sinais de amadurecimento pleno. Destaque absoluto para as direções de Alex Graves, Alik Sakharov e Neil Marshall que estiveram à frente dos episódios “The Lion and the Rose”, “The Laws of Gods and Men”, “The Children”, “The Watchers on the Wall” e “The Mountain and the Viper”. Além de roteiros fantásticos, esses episódios oferecem verdadeiras aulas de direção que eternizaram cenas da série.
“You raped her. You murdered her. You killed her children”
No quesito atuação, o espectador é presenteado com uma das melhores performances de Peter Dinklage. Ele está impecável em todas as suas cenas. Seu brilhantismo é visto nas nuances que aborda em seu personagem. Os sentimentos e dilemas de Tyrion são postos de forma irretocável pelo ator, que vão desde o momento em que rompe com o amor da sua vida, Shae (interpretada por Sibel Kekilli), passando pela crise moral e ética em seu julgamento quando percebe que não há o que ser feito pois “já havia sido julgado ao nascer por tudo e por todos” e vai até o desfecho quando ele faz um acerto de contas definitivo com o seu pai durante um momento inapropriado.
Mas também não podemos deixar de fora algumas das mais belíssimas entregas do elenco dessa T4. Rory McCann contornou habilmente as várias facetas de seu Sandor Clegane ao longo das três primeiras temporadas, mas aqui ele brilha como nunca antes. No decorrer de sua inglória jornada ao lado de Arya (vivida por Maisie Williams - outra atriz que evoluiu absurdamente), o ator conquista a empatia do espectador pela forma como conduz seu personagem: um brutamonte aparentemente sem sentimentos que, na verdade, tem medo de expor seu lado mais humano por se sentir vulnerável.
Outros destaques podem (e devem) ser feitos, como são os casos de Pedro Pascal (Oberyn Martell), Charles Dance (Tywin Lannister), a sempre irretocável Lena Headey (Cersei Lannister), Aidan Gillen (Lorde Baelish), Natalie Dormer (Margaery Tyrell) e Diana Rigg (Olenna Tyrell). Aliás, permitam-me um breve comentário sobre Rigg: que presente nos foi dado! Rigg tem o dom de agraciar todas as cenas em que está presente. Sua Olenna foi certamente uma das melhores personagens de toda a série.
“I will do what queens do. I will rule”
Contudo, entre tantos momentos e diálogos memoráveis, o melhor episódio da temporada foi “The Watchers on the Wall”. Dirigido por Neil Marshall, foi o maior empreendimento da série até então em termos de batalhas. Os selvagens tentam transpor a Muralha, mas, para isso, devem guerrear com a Patrulha da Noite. Esse episódio conquistou o telespectador pela grandeza de sua produção, com certeza, mas também por ainda não ter oferecido uma grande guerra para ele. Isso contou pontos para a série que na época era um pouco criticada pela ausência de conflitos explícitos.
Outros momentos merecem destaque, como o ponto de virada de Sansa na trama, a reviravolta no arco de Tyrion, a amarga despedida de Jon e Ygritte, o sofrimento de Daenerys ao se ver obrigada a prender seus filhos, o triste banimento de Jorah Mormont, o voo de Lisa Arryn pelas Montanhas da Lua, a luta visceral entre o Cão e Brienne, Theon passando por um verdadeiro purgatório nas mãos sanguinolentas de Ramsay, e, entre outras cenas inesquecíveis, finalmente vemos o encontro de Bran e o Corvo de Três Olhos.
A quarta temporada foi uma de minhas favoritas e, até aqui, “Game Of Thrones” conseguiu caminhar e se sustentar muito bem, unindo o melhor que o mundo real e o universo fantástico têm a oferecer; demonstrando que os showrunners D. B. Weiss e David Benioff são muito melhores adaptadores de um material existente do que criadores de algo original, como no futuro poderíamos constatar, infelizmente.
“I have only loved one woman, only one, my entire life: your sister”
Se eu tinha alguma dúvida de que “Game of Thrones” era uma de minhas séries favoritas até a segunda temporada, certamente essa dúvida deixou de existir quando assisti a T3 pela primeira vez. Na minha humilde opinião, nada, absolutamente NADA, está fora do tom aqui. Tudo conflui em perfeita sintonia para o clímax final. Vemos tantos arcos se desenvolverem quanto é possível.
Jaime e Brienne travando uma jornada inesperada cujo destino não esperavam que fosse a autodescoberta. Daenerys soma forças à sua causa com fogo e sangue, conquistando para si o exército dos Imaculados. Sam e Gilly ficam frente a frente com a morte quando são atacados por um White Walker pela primeira vez. Sansa e Tyrion são forçados a se casarem. Aliás, esse não foi o único casamento que marcaria a temporada para sempre. Teríamos outros momentos tão importantes quanto que ressoariam por quase toda a série.
Precisamos falar aqui (e fazer justiça) sobre a entrega feita por Michelle Fairley, a atriz responsável por dar vida a uma das mães mais emblemáticas da história do audiovisual recente. Seu talento, antes experimentado na mesma intensidade, porém, em doses um pouco menores, agora é trabalhado de uma forma soberba ao longo dessa temporada. E o ápice desse arco, construído com esmero, não poderia ter um clímax mais chocante e triste. Mas toda essa construção e desenvolvimento seriam inúteis se não fosse pela magistral interpretação de Fairley que conduz sua Catelyn Stark com nuances tão tocantes quanto palpáveis. Aquele grito de dor e agonia continua ecoando em mim.
“It’s all because I couldn’t love a motherless child”
E, se na capital seguimos odiando Joffrey Lannister (já podemos tirar seu Baratheon, né?) que prova cada vez mais ser um dos personagens mais desprezíveis e odiosos de todos os tempos, no norte temos motivos suficientes para nos entusiasmar pela vilania sarcástica de Ramsay Snow (ainda sem o Bolton) que mutila não só física, mas também psicologicamente Theon Greyjoy. Confesso que aqui eu amava Ramsay. Mas quem nunca gostou de um vilão, que atire a primeira pedra.
Aliás, por falar em vilões, devo fazer uma importante e digna menção ao espetacular Aidan Gillen que dá vida a um dos melhores personagens de toda a série e que faz, definitivamente, a roda girar com todo o seu sarcasmo enigmático. É claro que estou falando dele: Petyr Baelish (ou Mindinho para os mais íntimos).
O roteiro é suficientemente capaz de reafirmar a epopeica saga de D. B. Weiss e David Benioff como uma das mais fantásticas histórias já contadas pela televisão mundial, mas nada disso seria possível sem a soma de esforços da estonteante fotografia de Anette Haellmigk, Robert McLachlan e Chris Seager, que se incumbe de tornar esse universo ainda mais denso, e a minuciosa direção de arte de Andy Thomson e Tom Still, que faz valer a frase “a perfeição está nos detalhes”.
O design de produção segue um dos mais impressionantes que já vi, e aqui incluo tanto a televisão quanto o cinema. Manter uma série desse porte com um nível de qualidade de produção tão alto como esse não é para qualquer um.
“I see a darkness in you. And in that darkness, eyes starring back at me. Brown eyes, blue eyes, green eyes. Eyes sealed shut forever. We will meet again”
Mas falar sobre a terceira temporada sem citar exclusivamente o nono episódio, “The Rains of Castamere”, é, no mínimo, um descuido. Agora, estendendo o reconhecimento pelo belíssimo trabalho de direção de David Nutter que realizou aqui uma das amarrações mais fantásticas de toda a série. Um verdadeiro plot twist (para quem não era leitor dos livros de Martin) que pegou a audiência desprevenida. Além da já mencionada belíssima atuação de Fairley, é preciso reconhecer o pontual trabalho de David Bradley, Michael McElhatton, Richard Madden e, até, Maisie Williams. Todos eles entregam aqui um trabalho simplesmente maravilhoso.
A trilha sonora da série, que desde o início sempre foi excelente, recebe novas composições, entre elas “The Rains of Castamere”, a canção-tema da família Lannister composta por Ramin Djawadi (responsável por outras trilhas igualmente emblemáticas) que se torna em pouquíssimo tempo icônica para os fãs da série devido ao seu significado dentro do contexto da trama, mas, sobretudo, ao que perpetuou logo após ser tocada ao final do nono episódio.
Curioso como a cada revisitação feita às temporadas mais antigas eu redescubro ou até mesmo descubro algumas coisas que, numa revisão anterior, passaram despercebidas. E olha que já vi cada temporada pelo menos umas 6 vezes cada. Mais que isso: é impressionante como a cada revisão alguns aspectos como a direção e roteiro dos episódios, a atuação de grande parte do elenco e quesitos mais técnicos se consolidam na narrativa e ficam, assim como o vinho sempre presente na história, melhor com o tempo.
É dado início à Guerra dos Cinco Reis em Westeros e a trama vai ganhando nuances cada vez mais intricadas e se tornando ainda mais intensa que a temporada anterior. O pano de fundo, altamente referenciado pelos fatos históricas da Idade Média, estabelece novos cenários, novos personagens e novos contextos, além, é claro, de novas interações entre figuras de núcleos completamente diferentes. Os reis vão se movimentando pelo tabuleiro do jogo dos tronos, ora adquirindo ora se desfazendo de aliados, tudo para se manter em primeiro lugar na corrida pela coroa. A densidade do texto ganha contornos ainda mais complexos do que aquilo que foi visto no ano anterior, fazendo da história uma grande teia de aranha cheia de armadilhas para o espectador.
“The North Remembers”
Nessa nova leva de personagens memoráveis, conhecemos Tywin Lannister, Shae, Melisandre, Jaqen H’ghar, Ygritte, Talisa, Brienne de Tarth, Margaery Tyrell, entre outros (interpretados de maneira esplêndida por Charles Dance, Sibel Kekilli, Carice van Houten, Tom Wlaschiha, Rose Leslie, Oona Chaplin, Gwendoline Christie e Natalie Dormer, respectivamente), todos eles importantes agentes para o movimento e desenvolvimento da série. Outros, que já conhecíamos, se fortalecem e ganham mais espaço na história, como são os casos de Tyrion, Joffrey, Sansa, Arya, Robb, Catelyn, Cersei e Jaime (eternizados por Peter Dinklage, Jack Gleeson, Sophie Turner, Maisie Williams, Richard Madden, Michelle Fairley, Lena Headey e Nikolaj Coster Waldau, respectivamente). Interpretações que ficarão cravadas em minha memória para sempre, com certeza.
Alguns arcos começam a ganhar mais forma à medida que os episódios avançam, fazendo com que lugares sejam explorados de maneira habilidosa pela fotografia de P.J. Dillon, Kramer Morgenthau e Martin Kenzie e pela direção de arte de Heather Greenlees e Tom McCullagh. Os extremos opostos ficam cada vez mais nítidos, principalmente quando vemos Jon Snow tentando se estabelecer na Patrulha da Noite na gélida e longínqua Muralha contrastando-se com as cores quentes de Essos do outro lado do Mar Estreito ao nos depararmos com as desventuras de Daenerys Targaryen, agora viúva e mãe de três dragões bebês.
“You know nothing, Jon Snow”
É bonito perceber quantos arcos se iniciaram nesta temporada (infelizmente, nem todos eles tiveram um desfecho à altura de todo o desenvolvimento empreendido). Nesta segunda temporada tivemos reis e alianças, peregrinações e conflitos, traições e descobertas, magia e fogo vivo. Um rei que abandonou seus soldados na guerra e um anão que os salva. Um filho que trai sua família e outro que quer vingar seu pai. Uma menina aprendendo a amadurecer da pior forma possível e outra pedindo três cabeças para um fantasma num castelo em ruínas. Uma forasteira se apaixonando por um rei e um rei se apaixonando por uma selvagem. Como são belas as poesias tecidas nas primeiras temporadas de “Game of Thrones”. Como era astuto o traçado do roteiro. Tudo era tão bom que me fazia perdoar os pequenos deslizes de produção e/ou CGI. Hoje, depois de revisitar a obra pela “sétima vez”? (perdi as contas!) fui mais rígido na avaliação, talvez porque vi tudo indo por um caminho tão preguiçoso e desonesto que me fez enxergar menos beleza na trajetória de alguns personagens.
...prenunciava Ned Stark, lorde de Winterfell e soberano absoluto do Norte. A frase, que à época parecia só mais uma entre tantas outras de efeito, hoje pode parecer mais plural em diferentes sentidos. Pois bem, o inverno previsto por lorde Stark, eximiamente interpretado por Sean Bean, nos coloca em contato desde o princípio com o fantasioso e cruelmente real universo concebido por George R. R. Martin em suas "Crônicas de Gelo e Fogo"; e (até certo ponto) habilmente adaptado por David Benioff e D.B. Weiss.
Temos na primeira temporada de "Game of Thrones" um ligeiro aperitivo do que ainda estava por vir. Nela há um pouco de tudo o que experimentaríamos nas temporadas seguintes, desde o ostensivo jogo pelo poder perpetrado pelas personagens (das principais às secundárias) até os elementos mais fantásticos (ainda que marcando menor presença nestes primeiros 10 episódios). A dualidade icônica da série se faz presente nos mínimos detalhes e está em cada passagem do texto. Às vezes de forma figurada, como o simbólico existente entre gelo e fogo. Às vezes de maneira mais emblemática, como a junção cênica de personagens que habitam e costuram opostos extremos da trama narrativa, sejam eles físicos ou morais e éticos.
E, num roteiro quase impecável como esse, vê-se desenhados o despontar de arcos que nos levariam ao delírio (em amplos sentidos) alguns anos mais tarde. Diálogos alegóricos que compõem a malha densa de um roteiro que é cada vez mais raro (e caro) nos dias de hoje. Cenas carregadas daquilo que, para mim, foi o melhor que a série pôde nos entregar, substancialmente falando. Aquilo que, a meu ver, será sempre seu maior legado: seu texto refinado e recheado de falas que tecem a teia política da trama.
"In the game of thrones, you win or you die".
O elenco escolhido não poderia ter sido melhor. Que grata surpresa descobrir o trabalho de quase 99% dos artistas ali presentes. Além do já citado Sean Bean, pude apreciar atuações magistrais de Lena Headey, Peter Dinklage, Iain Glen, Aidan Gillen, Michelle Fairley e Nikolaj Coster Waldau (isso só para citar alguns). É verdade que boa parte do elenco jovem e, até então desconhecido, não está tão bem assim, como são os casos de Emilia Clarke, Kit Harington e John Bradley-West, mas a gente dá um desconto, afinal, estavam se descobrindo como atores.
A fotografia de Alik Sakharov e Matthew Jensen insere o espectador na história de maneira eficaz e esperta. Pelo bom uso da paleta de cores, deixa claro onde é o Norte, onde está o Sul, quem está a Leste ou o que há a Oeste de Westeros. Tudo isso, claro, somando esforços a uma sacada inteligente de conduzir a narrativa por meio do uso das cores, figurinos, caracterizações e, até mesmo, idiomas, especialmente criados para a elaboração de um mundo completamente imaginário e crível.
"Fire cannot kill a dragon"
O design de produção de Gemma Jackson e Deborah Riley e a direção de arte de Paul Inglis são de tirar o chapéu, apesar de hoje parecerem um tanto envelhecidos, principalmente se levarmos em consideração que a série estava em sua primeira temporada e contava com um orçamento infinitamente menor. Algumas raras passagens da montagem e alguns elementos dos efeitos visuais também não envelheceram tão bem. Inclusive, eu diria que envelheceram rápido demais.
No entanto, "Game of Thrones" não podia ter começado de maneira melhor e mais grandiosa. Uma série que certamente deixou sua marca e relevância não só para a cultura pop, mas também para uma geração de entusiastas de universos fantásticos que, assim como eu, puderam ganhar asas e viver uma experiência estupenda ao longo de quase 10 anos. É claro que nada é perfeito, mas #GoT chegou quase lá aqui.
"The man who passes the sentence should swing the sword".
Nessa minha trajetória como cinéfilo, principalmente como entusiasta de animações, posso dizer que, se comparado a tudo o que já vi na vida (algo em torno de mais de 3 mil produções audiovisuais), poucas foram as vezes em que me vi completamente extasiado e envolvido com alguma coisa. "Love, Death & Robots" certamente foi uma delas. Um verdadeiro frescor revigorante para as animações destinadas a adultos.
Tim Miller, que dirigiu "Deadpool" (2016), é o principal showrunner responsável pela série e em parceria com animadores como Gabriele Pennacchioli ("Kung Fu Panda 2", "Os Croods" e "Como Treinar o Seu Dragão"), Dominique Boidin ("God of War") e Jerome Chen ("Godzilla" e "A Lenda de Beowulf") conseguiu entregar algo essencialmente inédito em termos de distribuição em larga escala.
Cada um dos 18 curtas-metragens que compõem a série traz um tipo de animação diferente, que ora homenageia um traçado mais clássico de animação 2D ora surpreende pelos efeitos especiais de computação gráfica (que, inclusive, me confundiu em vários momentos se estava vendo algo real ou gerado por computador).
Todos os episódios me envolveram de alguma forma. Alguns mais outros menos. Mas todos me colocaram num estado de reflexão muito necessário não só para o Cinema, mas para qualquer mídia que produza imagens em movimento que se preze. Não podemos nos conter mais apenas com o belo, o conteúdo e a reflexão que ele propõe, sobretudo hoje em dia, é tão importante quanto.
Enfim, "Love, Death & Robots" é uma miscelânea artística, técnica, intertextual e (por que não?) cultural. Uma obra que não só se antecipa, mas também está a frente do seu tempo. Um belo e contundente exercício criativo de seus criadores. Algo que terei sempre o prazer de revisitar. Que venham mais temporadas recheadas com mais episódios incríveis como esses.
A nova produção brasileira da Netflix mira numa crítica social aos anos 50, mas acaba acertando mesmo num pretensioso novelão. A narrativa soa formulaica e piegas em boa parte da trama, as atuações oscilam entre medianas e ruins em quase todas as cenas e o roteiro em si é tão limitado quanto a direção de seus 7 episódios. O que faz valer o tempo de assistir à série é realmente seu intento feminista e, em parte, seu esforçado design de produção.
Salvas as atuações de Mel Lisboa e Pathy Dejesus, que em boa parte de suas aparições em tela conseguem entregar algo um pouco mais substancial ao espectador, o elenco definitivamente está muito apoiado em cacoetes interpretativos que, particularmente, irritam-me bastante. Entre as piores interpretações destacam-se as de Fernanda Vasconcellos, Maria Casadevall, Alexandre Cioletti, Gustavo Vaz e, a pior de todas, Leandro Lima.
Em suma, temos uma série com alguns breves acertos, como a fotografia, comandada pelo trio Dante Belluti, Rodrigo Carvalho e Ralph Strelow, e a calorosa direção de arte de Fábio Goldfarb, que nos remete habilmente ao dourado Rio de Janeiro dos saudosos anos 50. Somadas essas qualidades à presteza do design de produção, "Coisa Mais Linda" consegue maquilar seus erros e até equívocos históricos mais graves. Além disso, o traço feminista de sua narrativa pode ser considerado louvável. Pode ser. Não significa que é.
Fora isso, a nova aposta nacional da Netflix me pareceu pueril e esquecível demais. Bem fraca e aquém de seu potencial. Uma pena, pois eu amo Bossa Nova e me empolguei muito quando soube da estreia dessa série. Torci para ver algo grandioso, mas vi mesmo uma coisa bem mediana (para não dizer algo pior).
Em se tratando de séries, foi a mais grata surpresa de 2019, até agora. Uma produção nada pretensiosa destinada a adolescentes que querem se divertir, emocionar e se informar com a mesma intensidade. Consegue se aprofundar em temas importantes antes relegados a comédias teenagers imbecis e pastelões propositalmente idiotas como "American Pie", além de se permitir à leveza no tratamento de assuntos que podem (e são) constrangedores à maior parte do público-alvo.
O elenco está formidável. Desde "A Invenção de Hugo Cabret" não via um Asa Butterfield entregando-se de uma maneira tão surpreendente a um papel. Foi animador vê-lo encarnando seu problemático e astuto Otis Thompson. O restante do trio protagonista também está implacável. Ncuti Gatwa dá um show à parte e Emma Mackey me chamou bastante a atenção por trazer à sua personagem percepções mais complexas do que simplórias, como normalmente se vê nesse tipo de entretenimento.
O que falar da trilha sonora? Maravilhosa! A Netflix, definitivamente, sabe como empolgar a audiência utilizando as músicas certas para isso. A série conta com músicas de The Cure, The Smiths, Billy Idol, A-ha e Ezra Furman. Em muitos momentos é difícil conter o pezinho e não deixá-lo balançar ao ritmo de "Boys Don't Cry" ou "Take On Me". O design de produção também é outro mérito inquestionável de "Sex Education". Por mais que se pense que não existe nada de desafiador em simular o universo escolar de adolescentes numa cidade pequena do Reino Unido, fazer isso homenageando as comédias românticas dos anos 80/90 à lá John Hughes é um trabalho bem perspicaz.
No entanto, a série comete algumas gafes aqui e ali, além de dar umas escorregadas no roteiro, que promovem uma certa confusão no público, como, por exemplo, o tempo e o espaço em que se passa. Nada muito comprometedor, mas passível a depreciação, infelizmente.
Mais uma vez, é um prazer tremendo ver uma obra assinada por Ryan Murphy. Tudo em "O Assassinato de Gianni Versace" flui bem. Desde a concepção da linguagem adotada para a narrativa até elementos artísticos como a fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem e, claro, a caracterização dos personagens. Um trabalho minucioso feito por uma produção comprometida com os detalhes da história vislumbrada.
A escolha do elenco não poderia ter sido mais feliz. Impressionante como cada ator extraiu camadas de suas personagens; camadas estas que conseguiram aprofundar aquilo que poderia ser facilmente confundido com caricato e superficial. Destaco as brilhantes interpretações do trio principal composto por Penélope Cruz, Edgar Ramírez e Darren Criss, todos absolutamente fantásticos em seus respectivos papéis. Ainda assim, é necessário fazer algumas menções honrosas às participações de Joanna Adler, Michael Nouri e Max Greenfield.
O pout-pourri narrativo, elemento característico de Murphy, está brilhante. Ele consegue navegar entre o thriller policial e o drama, entre o softporn e o terror, com maestria. Conduz a obra de maneira astuciosa e, por vezes, extasiante. A montagem é outro fator louvável. Segura a mão do espectador e não deixa ele cair em desatenção um momento se quer. As referências à cultura pop, os paralelos feitos com a atual realidade da mídia estruturalmente ardilosa e a forma como o tema da psicopatia foi trabalhada denotam, mais uma vez, o comprometimento não só de Murphy, mas de todos os envolvidos com a seriedade dos eventos relatados.
Só não dei nota máxima por um pequeno perfeccionismo meu. Nada que comprometa a obra isoladamente em sua essência e no que quis transmitir. Salvas também algumas declarações da família de Gianni Versace (leia-se Donatella Versace) que depõem contra a produção, infelizmente. Porém, esta segunda temporada conseguiu um feito extraordinário: superar a primeira, que já havia sido muito boa. Só nesse sentido, ela já merece o reconhecimento que lhe cabe.
Se você assistiu essa merda e gostou, leia e entenda meu ponto de vista antes de vir atirar pedras. Se você viu e não gostou, leia e se divirta porque eu peguei pesado.
Netflix, senta aqui, vamos ter uma conversa série (sic). Que merda foi essa, minha filha? Ok, o intuito era mostrar o quanto nos colocamos em perigo quando nos expomos nas redes sociais? Beleza. Até aí, tudo bem. Mas daí fazer com que sintamos algum tipo de empatia por um cara bizarro como o Joe foi, no mínimo, nauseante. Mas aí vai ter quem fale: "Ah, Guilherme, mas a série te lembra a todo instante que não é para torcer por ele". Meu pau de óculos para quem fala isso! A série quer mais que você sinta pena, se emocione e torça pelo protagonista o tempo INTEIRO. O fato de você "lembrar de não torcer por ele" já denuncia que há algo de errado no tratamento do roteiro, além de demonstrar que você tem boa índole, claro.
O cara é um abusador, um predador, um psicopata, um assassino. Ponto. Não tinha nada que florear a história na tentativa de humanizá-lo ou torná-lo menos monstruoso. E veja: não estou falando que a série não poderia abordar seu passado, mas não fazer disso uma justificativa para as atitudes hediondas de um sociopata.
O que comprova minha hipótese (de que a série tenta justificar e limpar a barra do protagonista) é a forma como foi desenvolvido o arco entre Joe e Paco. O protagonista assume um papel paternal para o menino, demonstrando toda sorte de afeto e carinho que contrastam com o ser maléfico que de fato ele é. Essa é a brecha que o roteiro precisava para apoiar sua justificativa de que havia um bom coração ali, e não alguém completamente doentio e insano. Isso ocorre em todos os episódios. E eu confesso que fiquei dividido assistindo a série. Eu que nunca soube nem nunca saberei o que é ser mulher numa situação dessas.
Pensava cá meus botões: "Ei, esse cara não é um monstro como parece". Por mais que eu soubesse que ele era de fato. Isso, para mim, Netflix, é desonestidade para com o seu público, além de ser irresponsável socialmente falando. Porque eu, que sou homem e nunca sofri esse tipo de violência, de abuso ou de manipulação por parte de um parceiro, não tenho nem ideia de como uma mulher que já foi vítima de algo assim se sentiria vendo que uma grande empresa de entretenimento não lida com o mínimo de responsabilidade possível sobre um tema ou um assunto tão grave. Você, Netflix, passou pano para o agressor. Lide com isso e durma com a consciência bem pesada, mocinha.
Tanto que no episódio final, momentos antes de Beck conseguir escapar e trancar Joe na câmara de vidro, enquanto ela ainda discursava do lado de dentro da prisão, na tentativa desesperada de convencê-lo que acreditava em sua bondade e idoneidade, o roteiro espera neste momento em específico que o espectador tenda a acreditar nas palavras doces e compreensivas de Beck e que tudo o que foi feito até então por Joe seja plausível e justificável, por mais que saibamos que aquilo era de fato um blefe de alguém que queria sobreviver.
Imagino o que uma pessoa não conscientizada pensaria a respeito de Joe em cenas como essa. E como cenas como essa são um desserviço para a sociedade que já padece do machismo estrutural e da violência contra a mulher há séculos.
NOJO!
SHAME ON YOU, NETFLIX!
Assim como em "13 Reasons Why", a empresa demonstrou que não lida com seriedade ou responsabilidade sobre temas delicados e que MATAM milhares de pessoas TODOS OS DIAS. Leram bem? MATAM! Não é mimimi de alguém que não gostou do enredo tosco (por mais que o enredo seja tosco mesmo). É assunto sério. E que deveria ser tratado com respeito e, repito, responsabilidade. Ainda mais por uma empresa que milita o tempo inteiro nas redes sociais.
Além disso, a série possui um ritmo histérico que me incomoda bastante. Uma fotografia pasteurizada (que às vezes me lembrava aquelas simulações do canal ID). E personagens tão chatos que me faziam revirar os olhos o tempo inteiro. Não consegui sentir o mínimo de carinho nem pela própria Beck (que é um porre, diga-se de passagem).
Mas como eu não sou tão ruim quanto a série, vou falar agora do que gostei. Primeiro, da atuação de Penn Badgley que não foi nada demais, mas foi comedida e enxuta, ao contrário das atuações afetadas do resto do elenco. Também gostei da trilha sonora, que é de fato muito boa (séries ruins costumam compensar o espectador com a trilha sonora, fica a dica).
Enfim, é uma série merda que a Netflix emplacou com a sua brilhante publicidade (essa sim muito boa) e com o boca a boca que gerou o buzz que ela precisava para se pagar.
Essa série é impressionante em vários aspectos. Poderia ficar horas discutindo com alguém sobre seus méritos ou até mesmo tecer uma longa crítica a respeito dela. Mas como muitas pessoas mais entendidas e mais estudadas do que eu já fizeram isso, vou apenas pontuar algumas coisas. Primeiramente, a produção; que dá vida às páginas do livro de Margaret Atwood com muita responsabilidade e exímia competência. Segundamente, o elenco; que está irretocável e não menos que perfeito, com destaques para Elisabeth Moss, Samira Wiley e Alexis Bledel. O terceiro ponto, mas não menos importante, é sobre a incrível capacidade do roteiro de tornar uma história tão cruel quanto surreal em algo não só verossímil, mas também completamente plausível. Limito-me a dizer que "The Handmaid's Tale" é uma série extremamente necessária para os dias de hoje, principalmente tendo no mais importante cargo político dos EUA um presidente tão repulsivo e misógino.
Uma das melhores produções audiovisuais de ficção científica que já vi na vida, "Westworld" se mostra como uma trama genuinamente deliciosa que consolida sua narrativa numa crítica sagaz, forte e impactante. O roteiro nos traz uma impressionante alegoria da imoralidade humana, sendo encarnada por atuações memoráveis. Reflexões sobre moral e ética não param de fluir em cada um dos 10 episódios, revelando a série como um prato cheio para quem gosta de narrativas assim. Eu, particularmente, adorei poder refletir sobre cada uma das propostas da série, principalmente sobre uma das maiores questões levantadas por ela: até onde a inteligência artificial pode ou não pode ser considerada uma vida? É duro refletir sobre isso, principalmente quando se vive numa época em que inventamos coisas a todo momento sem nos atermos a respeito das verdadeiras consequências dessas criações na existência do ser humano. O design de produção só não é melhor que a exuberante trilha sonora. Um verdadeiro espetáculo audiovisual.
Nada poderia me prevenir do que estaria prestes a assistir. Que catástrofe audiovisual, meu bom Deus! Essa temporada só não me deu mais preguiça do que a que estou sentindo agora em escrever sobre ela. Então, apenas sejam bonzinhos e escutem o tio Gui: NÃO ASSISTAM ESSA MERDA. De nada.
Sex Education (3ª Temporada)
4.3 431 Assista AgoraSex Education (2021)
O colégio Moordale recebe uma nova diretora (Jemima Kirke) determinada a trazer de volta uma imagem conservadora à escola, mas os alunos não vão aceitar isso com tanta facilidade. Eric (Ncuti Gatwa) e Adam (Connor Swindells) levam seu relacionamento mais a série e Maeve (Emma Mackey) e Otis (Asa Butterfield) tentam encontrar uma forma de se entender e manter a amizade.
Após duas temporadas brilhantes, "Sex Education" chega à sua não tão empolgante 3ª temporada. Se antes a série conseguia cativar o espectador e manter a sua atenção em todos os episódios, agora, ela não atinge o mesmo feito.
Enquanto alguns episódios são muito bons, outros são bem ruins e destoam da qualidade do roteiro anteriormente testemunhado. Isso sem falar que a história, em si, está ficando desgastada. Algumas escolhas para fazer rir dão vergonha alheia. Uma pena.
Bode fazendo cocô em todos os lugares. Cocô voando pela janela do ônibus. O constrangimento do cocô na hora do sexo. Pessoas fazendo cocô no banheiro da escola. Quantas piadinhas com cocô, né? Parece até que voltamos para a 5ª série, onde falar a palavra cocô, independentemente do contexto, era "suuuuuuuper engraçado". Sério? 😒
Para duas temporadas, realmente, muito engraçadas, "Sex Education" parece ter chegado num limbo de falta de criatividade e humor. Triste ver e constatar de onde a série saiu e os rumos que ela está tomando.
No entanto, apesar da narrativa dessa 3ª temporada não ter me agradado tanto, eu gostei bastante do desenvolvimento feito com as personagens Lily (Tanya Reynolds) e Ola (Patricia Allison). Todo o arco das duas de descobertas, revelações, decepções, autoaceitação e entendimento nessa season ficou ótimo.
O Mandaloriano: Star Wars (3ª Temporada)
3.9 148 Assista AgoraThe Mandalorian (2023)
As jornadas do Mandaloriano através da galáxia continuam, uma vez que um caçador de recompensas solitário, Din Djarin (Pedro Pascal), reuniu-se com Grogu. Enquanto isso, a Nova República luta para levar a galáxia para longe de sua história sombria.
Tenho apenas um nome para citar: Katee Sackhoff, o grande destaque dessa terceira temporada. Sackhoff rouba todas as cenas para si e carrega o roteiro meio fraquinho nas costas.
No entanto, acho que essa temporada foi a menos empolgante, se comparada às outras duas antecessoras. Apesar disso, se por um lado a temporada possui episódios meio bobinhos (alô, Jack Black!), por outro, ela conta com sequências e momentos que já entraram para a história da saga, como a inesquecível cena de combate no ar entre os mandalorianos e os soldados do Império. Um show de direção.
Treta
4.1 310 Assista AgoraBeef (2023)
"Treta" é uma série que mistura comédia e drama, mergulhando no mundo contemporâneo de influência digital, relacionamentos, autenticidade e brigas no trânsito; o que oferece uma visão interessante para o espectador sobre os desafios e dilemas enfrentados por todos nós todos os dias.
Os diálogos ágeis e cheios de referências à cultura pop são um dos melhores pontos da série. Os roteiristas conseguem capturar a linguagem e o humor característicos da internet, proporcionando momentos divertidos e satíricos que refletem a cultura dos memes presente nas redes sociais, mas sem se esquecer que o plano principal é a vida real e concreta que acontece fora do ciberespaço.
A dinâmica entre a dupla Ali Wong e Steven Yeun é a melhor parte de toda essa loucura. Os dois estão excelentes em seus papéis, conferindo realidade e plausibilidade a todos os absurdos que testemunhamos em tela. Uma delícia poder assisti-los juntos em cena.
Nada Ortodoxa
4.3 334Unorthodox (2020)
Esther Shapiro (Shira Haas) é uma jovem judia ortodoxa que abandona seu marido e uma vida infeliz proveniente de um casamento arranjado em Nova York e foge sozinha para Berlim, onde está sua mãe, Leah Mandelbaum (Alex Reid), que fugiu de casa e do marido sob as mesmas circunstâncias quando Esther era bem pequena.
A história é inspirada no best-seller "Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots", de Deborah Feldman. A minissérie é composta por apenas 4 episódios, com cerca de 50 minutos cada. Algo razoavelmente rápido de se ver.
Ela começa bem. A ideia é promissora e enche o coração do espectador de promessas. No entanto, algumas coisas vão ficando pelo caminho e quando parece que o enredo pega o jeito e engrena, a história acaba, de uma forma abrupta até. O que pode frustrar um pouco.
Vale a pena ser vista, sobretudo por aqueles que, como eu, não conhecem ou não sabem quase nada sobre a cultura ultraortodoxa que move as vidas de milhares de judeus que vivem em Nova York, atualmente.
Round 6 (1ª Temporada)
4.0 1,2K Assista AgoraImpressionante como algo tão constrangedoramente medíocre pode ser aclamado em detrimento de tanta coisa boa e melhor já feita. Qual é o segredo de "Round 6"? Trama? Roteiro? Criatividade? Personagens carismáticas? "Plot twist"? Fala sério. Não diria que é nada disso. Eu sinceramente não sei, mas arriscaria dizer que vivemos sob a cultura da banalização da morte e isso é legal, aparentemente. O Papa é pop e a morte também. O sucesso é um desaforo mesmo.
Big Little Lies (2ª Temporada)
4.2 480Pra mim, "Big Little Lies" poderia ter sido encerrada brilhantemente no final da primeira temporada, que teve um início, meio e fim dignos da atenção e prêmios que gerou e ganhou. Porém, fomos agraciados com essa continuação de uma das maiores pérolas da história recente da HBO, que, veja bem, não é ruim, aliás, está longe de ser ruim, mas não consegue nem de longe atingir o mesmo nível da temporada antecessora.
Temos um começo promissor, com os 4 primeiros episódios bem construídos e desenvolvidos, dando um gás para a sequência vislumbrada por David E. Kelley. A direção, assumida por Andrea Arnold, consegue manter o nível atingido pela temporada antecessora, sobretudo nos três primeiros episódios. A fotografia de Jim Frohna também respeitou a personalidade da série, levando em consideração sua cinematografia.
O elenco continuou delicioso. Nicole Kidman ganhou um destaque maior nessa season finale e pode desenvolver sua Celeste Wright com mais vigor. Amo a forma como conduz sua personagem nessa temporada, trazendo contornos mais profundos à sua persona. Kidman, por favor, entenda: conte comigo para tudo. O mesmo aconteceu com Zoë Kravitz (mano do céu, que mulher linda!). A atriz conseguiu levar sua Bonnie Carlson para um novo patamar como a trama exigia. E soube sustentar isso muito bem.
Reese Witherspoon, mais uma vez, surpreendeu-me. Eu não sou muito fã dela como atriz, mas aqui, devo dizer, ela trouxe sua Madeline Mackenzie à vida novamente com entusiasmo e carisma. Shailene Woodley pareceu-me um tanto apagada nessa T2, mas acredito que a culpa tenha sido mais do roteiro em si do que dela, propriamente dito.
E aí, temos Meryl Streep. Como sempre, grandiosa. A atriz entrega aqui uma de suas melhores performances dessa década. Sua Mary Louise Wright ficou fabulosa em tela. Multifacetada e humana, como só Streep conseguiria fazer. Acho que se fosse elencar os 10 melhores momentos dessa T2, Streep apareceria em 8 ou 9.
Contudo, a melhor parte dessa temporada, em termos de elenco, ficou a cargo de Laura Dern. Diferentemente da T1, em que Dern aparecia como apêndice antagonista da trama, aqui ela assumiu uma nova posição no contexto narrativo que muito favoreceu para o desenvolvimento de sua personagem e, consequentemente, para sua entrega como atriz. Ela está excelente, tanto no desenho que faz de sua Renata Klein quanto como alívio cômico da temporada.
No frigir dos ovos, acho que a T2 de "Big Little Lies" obteve um saldo positivo, ainda que sofrido. Acumulou vários tropeços pelo caminho, principalmente a partir do quinto episódio em diante. A resolução soou-me apressada, corrida e pouco elaborada. Como se tivesse que resolver uma conta matemática, aparentemente, muito complexa de uma forma muito simplista e aquém da grandeza do roteiro da T1. Porém, ainda assim, a série soube terminar com honestidade e dignidade, não fazendo parecer tudo um grande "white people problem" (apesar de ser!), além de ter conseguido ficar acima da média em relação às produções televisivas que abordam temas similares.
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 962Definitivamente, a temporada mais fraca da série até agora. Com um primeiro episódio promissor, dirigido por Owen Harris (responsável por outros episódios de destaque da franquia, como "San Junipero" e "Be Right Back"), os outros dois episódios vão perdendo o fôlego até se transformarem num filme ruim da "Tela Quente".
"Striking Vipers" é "Black Mirror" na sua essência. Com algumas cenas externas filmadas em São Paulo, o episódio comandado por Harris impressiona pela habilidosa montagem e edição de Nicolas Chaudeurge, que conseguiu me fisgar e envolver na trama do início ao fim. O roteiro de Charlie Brooker (o principal showrunner da séire, cujos trabalhos de roteirização se destacam em episódios como "The National Anthem", "Hang The DJ" e "Metalhead") é fantástico e sua inventividade e criação muito me lembrou das primeiras temporadas. O elenco também está incrível, com destaque para a ótima atuação de Anthony Mackie e, seu parceiro de cena, Yahya Abdul-Mateen. Infelizmente, não posso dizer o mesmo dos outros episódios.
Em seguida, acompanhamos "Smithereens", que até possui um ótimo começo, mas vai decaindo na qualidade do roteiro à medida em que ele parece se embananar com os rumos da história. A crítica não ficou tão boa quanto pretendeu e, no final, ficou um 'Q' de pretensão no ar. A direção de James Hawes (responsável por "Hated in the Nation", um dos episódios que mais dividiu a opinião do público) até tentou tornar a trama mais verossímil para a audiência, mas o inábil roteiro de Brooker não conseguiu o mesmo feito do episódio antecessor, oscilando entre regular e medíocre da metade em diante. Resultado final: algo entre bom e 'humm kkk bjs'.
E, por fim, assistimos a constrangedora "Rachel, Jack and Ashley Too", que emula um apocalipse robótico pouco convincente e cheio de furos no roteiro. Confesso que em determinados momentos esqueci estar vendo "Black Mirror". Parecia alguma coisa saída do Disney Channel. A direção da estreante Anne Sewitsky, novata no corpo de diretores da série, deu umas pinceladas em temas mais profundos do que o previsto por Brooker nas linhas gerais do roteiro, mas, gente, desculpa, não dá pra defender. Vergonha alheia define. O ápice do ridículo foi aquela sequência final digna dos filmes das irmãs Olsen. Eu só queria poder apagar esse episódio da minha memória para fingir que nunca existiu.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista Agora[SPOILER ALERT]
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Verossimilhança, amigos.
Tudo se trata de verossimilhança e, claro, coerência. Dois elementos fundamentais para qualquer história que se preze e recorrentes durante toda a série, mas que foram completamente subjugados pela oitava temporada de “Game of Thrones” e, pior, a troco de uma ideia quimérica de inversão de expectativa.
E se engana quem acha que quem gosta de um universo fantástico não pode exigir verossimilhança e coerência. Já ouviu falar do termo “suspensão da descrença”? Então. Uma obra de ficção ou fantasia precisa que seu leitor/espectador suprima as noções de realidade em prol das premissas estabelecidas para que haja aquilo que é conhecido como pacto entre leitor e obra (ou entre autor e leitor).
Não é porque uma história tem dragões, magia, homens de gelo, pessoas que visitam o passado e mortos vivos que ela não deve soar congruente com suas próprias leis e narrativas respectivamente estabelecidas. O problema é quando essas leis são quebradas ou desvirtuadas para favorecer a narrativa em momentos complicados em que ela, porventura, se mete.
Estou falando disso logo no começo da minha resenha para que os desavisados de plantão não venham me encher a paciência nos comentários com esse tipo de argumento infantil e ridículo.
“Ah, Guilherme, desculpa, mas você tá exigindo coerência e verossimilhança de uma história que tem dragões zumbis?”
Sério?
Desculpa, mas, para mim, quem acha que uma história fantástica é digna de menor apreciação por conta disso tem uma mente muito pequena e restrita.
Mas essa não é a discussão desse texto. Deixemos isso para uma outra ocasião.
“The things we do for love”
Essa temporada me trouxe bons momentos, não nego. Porém, acima de tudo, ela me deixou cheio de questionamentos (que não foram e nunca serão respondidos), os quais foram responsáveis pelo sabor amargo que ficou na minha boca ao final. E é aí que reside minha frustração, mas, principalmente, minha decepção como espectador e, sobretudo, fã de “Game of Thrones”. Uma série que sempre primou pela qualidade de seus roteiros e que, de repente, correu para entregar o prato para o cliente no salão sem antes ver se havia comida nele.
Primeiro, vou apontar aquilo que me agradou (prefiro acariciar a carne antes de bater). Os três primeiros episódios, “Winterfell”, “A Knight of the Seven Kingdoms” e “The Long Night”, tiveram seus tropeços, mas o saldo final de cada um foi positivo. Diria até que o segundo episódio, “A Knight of the Seven Kingdoms”, beirou a perfeição e muito me lembrou, assim de longe, os roteiros das primeiras temporadas. Bons diálogos, boas construções de cena, excelentes direções de fotografia e arte (aliás, esses dois últimos itens que cito estão predominantemente em forma ao longo de toda a temporada; com exceção talvez do EP3 que deu umas breves deslizadas na fotografia).
Existem cenas muito bonitas e substancialmente emblemáticas, como a nomeação de Brienne de Tarth, que foi de lady à Cavaleira dos Sete Reinos quando Jaime Lannister brandiu sua espada à luz do fogo da lareira de Winterfell. Confesso que fiquei profundamente emocionado e até chorei nessa cena, por várias razões.
A primeira delas se deve ao fato de que sou completamente apaixonado pela personagem encarnada divinamente por Gwendoline Christie e, consequentemente, envolvido por toda a sua trajetória em busca de um digno reconhecimento pela coragem e bravura que carrega no peito. Esse momento, definitivamente, considero o melhor da temporada. O mais próximo em termos de qualidade de roteiro que podemos associar às temporadas que gozavam do material original para serem adaptadas.
“Arise, Brienne of Tarth. A knight of the seven kingdoms”
Ainda sobre o segundo episódio, em que tivemos ótimos momentos, destaco a belíssima composição da cena em que Tyrion, Jaime, Brienne, Podrick, Tormund e Davos se reúnem em volta da lareira. Um dos melhores momentos dessa season, que conta com ótimos diálogos, bons alívios cômicos e até uma excelente interpretação musical protagonizada por Daniel Portman (Podrick) que canta a melancólica trova “Jenny of Oldstones”, mais uma bela trilha criada por um dos melhores compositores da atualidade, Ramin Djawadi, e inserida de maneira tocante no contexto da trama naquele momento.
E, se por um lado “The Bells” foi um desastre em termos narrativos, por outro, o episódio nos brindou com o tão aguardado embate entre os irmãos Clegane. Um dos melhores acontecimentos da temporada e que ainda conseguiu ter um desfecho tão inesperado quanto surpreendentemente bom. Acho que a única coisa que faltou ali foi um “fuck the Queen” na hora em que Cersei passou timidamente por Sandor. A cena foi antológica, desde a rememoração da morte de Oberyn Martell até na maneira como Qyburn morre. A criatura matando o seu criador. Simplesmente poético.
Outro mérito igualmente significativo dessa T8 foi o desfecho do arco de Arya Stark. Em termos de construção e desenvolvimento de personagem (refiro-me aqui à série completa), talvez tenha sido Arya uma das únicas sobreviventes às navalhas impiedosas (e imperdoáveis) de David Benioff e D. B. Weiss. Deram a ela um encerramento à altura de sua jornada inglória entre Westeros e Braavos. Inglória porque, no frigir dos ovos, Arya, apesar de possuir uma enorme evolução dentro da trama, foi pouco explorada em termos narrativos depois de suas provações; sendo subutilizada e com um tempo de tela vago e restrito. Contudo, ainda estou na parte dos pontos positivos do meu texto. Voltemos.
Acredito que Arya Stark tenha sido a grande personagem feminina dessa série. E, ao lado de outras poucas bem construídas como Brienne e Sansa, foi certamente a personagem com um dos melhores enredos na história de “Game of Thrones”, do início ao fim; mas, ainda assim (como lerão mais adiante) com um ou dois furos muito graves.
“I know Death. He’s got many faces. I look forward to seeing this one”
E por falar em Sansa, devo ser justo e honesto: seu arco também foi muito bem desenvolvido durante toda a série e, apesar dos grandes tropeços em sua jornada, vistos desde a quinta temporada, a atual Rainha do Norte foi coerentemente conduzida nessa series finale. Não concordo com quem não viu com bons olhos, por exemplo, sua constante desconfiança a respeito de Daenerys. Apesar de concordar com o fato de que isso, assim como todo o resto, foi pessimamente trabalhado. Colocando Sansa, por vezes, em posição de “garota mimada” e, consequentemente, desrespeitando o passado e o crescimento da personagem.
Isso se deve, é claro, à fatídica inabilidade do roteiro em consolidar as respectivas posições de suas personagens na trama. É como se você estivesse assistindo a uma partida de xadrez sendo filmada apenas pelas pontas de cada peça, desprezando o tabuleiro do enquadramento. Mas olha eu aqui de novo fazendo considerações negativas na parte que tinha que ser positiva?! Pelos Sete, Guilherme! Foco!
Continuando. Grande parte do mérito, absolutamente, pertence à Maisie Williams e Sophie Turner (ou agora é Sophie Jonas?), pois, elas sim, evoluíram de maneira esplendorosa e inquestionável como atrizes quando apreciamos o mosaico maior de #GoT. Aproveitando o ensejo, faço aqui meus mais que merecidos elogios ao resto do elenco. Com destaque para:
- Iain Glen, que personificou a elegância cênica em seu Jorah Mormont.
- Nathalie Emmanuel, que com simplicidade construiu belissimamente sua Missandei.
- Gwendoline Christie, porque nunca é demais elogiá-la por sua Brienne de Tarth.
- Carice van Houten, que mesmo com pouco tempo de tela abrilhantou as cenas de Melisandre.
- Liam Cunningham, que agigantou seu Davos Seaworth com integridade.
- Conleth Hill, que fez milagres com o enredo preguiçoso (para dizer o mínimo) que deram ao seu Varys.
- Rory McCann, que possui um talento tão cheio de nuances quanto seu Sandor Clegane.
- Alfie Allen, que tem um talento que não se mede e deu vida a um dos personagens mais complexos da série, Theon Greyjoy.
- Johan Philip Asbæk, que emprestou carisma, rendendo ótimas tiradas, ao seu abominável Euron Greyjoy.
- Kristofer Hivju, que eternizou o melhor alívio cômico da série com seu selvagem Tormund.
- Gemma Whelan, que, apesar de ter sido rebaixada a três falas nessa T8, foi nobre no tratamento de sua Yara Greyjoy.
- Nikolaj Coster Waldau, sempre honesto e generoso com o texto de Jaime Lannister.
- Peter Dinklage, que, apesar da degradação de seu Tyrion Lannister, ainda conseguiu extrair alguma credibilidade das linhas do roteiro.
- E, claro, não poderia faltar minha amada Lena Headey. Se ninguém fala, eu vou falar. Que mulher! Que atriz magnífica! Headey, na minha opinião, deu à série seu maior legado: Cersei Lannister. A personagem com maior densidade dramática e nuances textuais. A melhor entrega do elenco feminino, sem a menor dúvida.
Com uma atuação magistral, Lena Headey fez de Cersei um ícone definitivo de vilania, cuja maldade e perversão são incontestáveis, porém, totalmente justificáveis. Cersei é o produto de seu meio. Uma mulher que teve que aprender a se armar para lutar e vencer. Seu final, apesar de injusto com a grandeza de sua representação, não deixou de ser poético. Partiu nos braços do irmão que tanto amava e que veio ao mundo junto a ela. Uma poesia imagética que poderia ter sido melhor construída e exibida se não fosse a quantidade de poeira que atrapalharia os segundos finais de apreciação do espectador sobre a atuação de Headey, que também, infelizmente foi subaproveitada ao longo da temporada final.
A lista acabou, mas os nomes não. Devo roubar mais um parágrafo para enaltecer o crescimento de Emilia Clarke como atriz. Ela roubou a cena em vários momentos e, até no fatídico “The Bells”, em que aparece pouco mais de 15 minutos, se não me falha a memória, ela me impressionou pelo desempenho e postura diante das câmeras. O maior exemplo, além de Williams e Turner, de evolução no elenco. Sua integridade em cenas como a da morte de Jorah ou no discurso de vitória pós-Grande Guerra em Porto Real, demonstram uma atriz completamente conectada à sua personagem. Eu não era muito fã da entrega de Clarke nas primeiras temporadas, mas aqui devo reconhecer sua grandeza como intérprete.
“Men do stupid things for women”
Preciso pontuar a tocante atuação de Alfie Allen na cena redentora de seu Theon Greyjoy ao defender Bran Stark, o menino que teria queimado na segunda temporada e causado toda uma onda de desastres na família que o acolhera. Seu empenho ali foi honesto e brilhante. Digno de indicações em premiações. Maravilhoso.
Além do que já foi dito, parabenizar os profissionais que estão atrás das câmeras também é oportuno. A fotografia de Fabian Wagner, a direção de arte de Paul Ghirardani, a trilha sonora de Ramin Djawadi, o figurino de Michele Clapton, o design de produção de Deborah Riley e as direções de Miguel Sapochnik e David Nutter foram excepcionais. Apenas, como disse, em “The Long Night”, faltou um melhor apuro por parte da fotografia. Porém, se ela cometeu deslizes ali, foi perdoada por tomadas inebriantes, como a cena de Melisandre acendendo a trincheira ou a sequência final de Bran sendo defendido por Theon.
Por falar dessa sequência, que composição sonora estupenda a de Ramin Djawadi para essa cena em específico. “The Night King” é completamente inebriante! Me senti contemplado. Sem a música, certamente a construção de redenção de Theon ali não teria o mesmo efeito. Aliás, alguns artistas que contribuíram ao longo de toda a série, como Djawadi e Sapochnik, ganharam minha admiração eterna. Seus trabalhos em “Game of Thrones” estão irretocáveis.
Fora isso, a series finale teve alguns outros raros e breves bons momentos. Como a fundição da figura de Drogon e Daenerys numa única criatura no início de “The Iron Throne” ou o momento em que Jon voa pela primeira vez em Rhaegal. E por falar no dragão esverdeado da Nascida na Tormenta, eu devo admitir que a morte dele, apesar da série de conveniências narrativas, agradou-me um pouco pelo fator surpresa.
“Why do you think I came all this way?”
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Agora que já acariciei, acho que posso começar a bater na carne. Certo? Foi o combinado.
Querido e estimado leitor (querido e estimado mesmo porque ler esse meu desabafo aqui não é para qualquer um, não - aliás, obrigado!), por favor, entenda: não é que eu não gostei da series finale de GoT porque Bran terminou como Rei dos Sete Reinos - aliás, não sei mais quantos reinos são agora - ou porque Arya matou o Rei da Noite ou porque Jon terminou exilado ou porque Daenerys “ficou louca” ou porque Jaime resolveu voltar para a Cersei nos 45 do segundo tempo. Resumindo, não foi por causa disso ou daquilo. Foi tão simplesmente porque fizeram o que fizeram DA FORMA COMO fizeram.
Poderia tudo ter acabado do mesmo jeito, mas ter sido construído, desenvolvido, progredido, elaborado (dê a palavra que desejar) de uma maneira minimamente crível e plausível para o espectador. A minha crítica está muito mais relacionada com o “como” do que com o “o que”. É disso que se trata e é aí que reside toda a minha frustração e decepção não só como espectador, mas como fã dessa série que entrou para a história da televisão mundial.
Tirando do balaio o segundo episódio, todos os demais me soaram problemáticos nesse sentido, principalmente os três últimos. A sensação que tive ao longo de toda a temporada foi de que forçaram legal a barra de alguns personagens para que os seus fins justificassem os meios. Se apoiaram cansativamente na boa vontade do espectador e, sobretudo, do fã. O que é sempre um tiro no pé, como a história do audiovisual assim nos conta.
Na minha opinião, cagaram rude em alguns arcos, como o do Jaime e o da Daenerys, só para citar os mais graves para mim. Apressaram-se tanto para entregar algo que fizesse o mínimo de sentido que, no final, a temporada ficou parecendo um boneco de neve feito por um rinoceronte. Além disso, que foi o que mais me incomodou, o roteiro nem teve a preocupação básica e elementar, diga-se de passagem, de disfarçar todas as várias pontas soltas e buracos feitos e deixados nessa T8. Tá sentindo o cheiro de queijo suíço? Não? Então vamos lá:
1) Por que fizeram a Arya viajar de Winterfell até Porto Real? Por qual motivo? Para ela entender finalmente que, depois de 7 temporadas buscando seu “revenge time” daqueles que devastaram sua família, vingança não era uma coisa tão legal assim? Às vezes matar apenas os assassinos de sua mãe, irmão, cunhada e sobrinho lhe pareceu de bom tamanho, né? Pode ser. Afinal, para quê se vingar daquela que promoveu a decapitação de seu pai e a deterioração emocional/psicológica de sua irmã, e que passou longos anos sendo citada em sua “death list”? Bobagem! Talvez ela só tenha ido mesmo para preencher um tempo de tela com cenas redundantes a fim de deixar o espectador aflito gratuitamente se ela havia morrido ou não nas incríveis 6 vezes em que uma cortina de poeira cobria a imagem, deixando o suspense no ar.
2) Eram necessárias tantas cenas do Bran fazendo aquela cara de picolé de chuchu? Pra quê? Para mostrar e enfatizar ao espectador o quanto o arco do Corvo de Três Olhos foi completamente inútil durante toda a série antes de darem o Reino para ele? Tava parecendo minha bisavó que colocava um pote de bala em cima da mesa, mas eu só podia ficar vendo, comer jamais. E eu não tô dizendo que eu queria comer o Bran (risos). Na verdade, eu queria mesmo que ele fosse literalmente comido pelo Rei da Noite; igual aquele meme da mulher abocanhando o microfone de um repórter.
3) Ainda sobre o Bran: como, de repente, ele virou a melhor opção entre todos ali presentes nas ruínas do Fosso dos Dragões? Por que ele não podia ter filhos? Por que ele tem cara de que não vai arranjar treta com ninguém? Por que foi uma forma do Tyrion se redimir com ele, afinal foi Jaime, seu irmão, quem o deixou paralítico? Ah, não! Já sei! Porque ele tinha as melhores histórias a serem contadas. Né? Enfim, escolha seu motivo inconsistente favorito.
4) Ainda sobre essa cena patética que mais parecia uma esquete do Monty Python (perdoem-me os deuses da comédia por essa comparação infame), quão risível ela soou para você? Porque aqui em casa o nível de vergonha alheia atingiu picos recordes. Por que trouxeram, enfim, Edmure Tully para aquele ““““““alívio cômico””””””” tenebroso e desnecessário? Por que fizeram Sam cotar a bola para que zombassem das excelentes teorias do fandom da série sobre no final ser instaurada a democracia? Por que fizeram Sansa soar prepotente e insolente ao nem deixar seu tio, que depois de tanto sofrer nas mãos dos Frey, terminasse de falar? Por que colocaram a Arya como figurante nessa cena? Por que Brienne e Davos foram colocados ali às pressas para participarem de uma votação que elegeria o futuro rei? E o pior de tudo: por que Tyrion estava ali dando as cartas na mesa e o compasso da dança se a razão dele ainda estar vivo se devia ao fato de que seria julgado por trair Daenerys? Isso porque consideramos que os Imaculados assim o quiseram, né?! É sério que o Grande Jogo dos Tronos se resumiu a uma reunião de condomínio com direito a um TED Talk do Tyrion sobre a importância da memória? MANO! Eu ri como se estivesse vendo Porta dos Fundos. Que vergonha!
5) E outra: é sério que não ocorreu a nenhum lorde ali presente que seria justo também pedir para ser um reino independente e livre? Lembremos que foi exatamente isso que Yara havia combinado com Daenerys. Por que os Martell ficaram tão conformados com o discurso raso de Tyrion e, ainda por cima, depois que ele foi escolhido como Mão do Rei?
6) Como Varys, de repente, viu em Jon (uma pessoa com quem nunca trocou um “bom dia”) uma possibilidade de governante melhor do que Dany? Antes disso: por que Varys arriscou sua vida traindo a Coroa de Westeros (lá na T4) e atravessando o Mar Estreito a fim de se encontrar com a Mãe dos Dragões se não tinha tanta certeza assim de suas habilidades como futura rainha? Demorou tanto tempo assim para ele perceber que Daenerys Targaryen era, na verdade, uma tirana ensandecida? Varys estava nesse tempo todo fazendo o que? De certo, assim como o resto da humanidade, assistindo “Game of Thrones” aos domingos pela HBO. Foi enganado como todos nós. Uau! Transformaram um dos personagens mais sagazes da série, que dava trabalho em gente como Mindinho, num cara que deliberadamente trai sua rainha de forma impensada e insensata.
7) Por que Cersei simplesmente não pôs um ponto final em tudo na cena derradeira de “The Last of the Starks”? Não seria muito mais fácil e menos dispendioso para a Rainha Lannister acabar com sua rival e seus incríveis 25 imaculados ali mesmo, quando gozava de todo o poder bélico e onde não tinha nada a perder? Toda a construção daquela cena soou-me frágil e problemática. Nada se justifica ali. Desde a boa vontade de Daenerys em ir propor a rendição de Cersei depois de ter perdido mais um de seus dragões até o fato de Cersei poupar a vida de Tyrion (já que a própria quis incitar o ódio de Daenerys segundos depois).
8) Aliás, ainda sobre essa cena lamentável (uma das piores em termos narrativos de toda a série, se não a pior), gostaria de pontuar que eu jamais perdoarei a covardia dos roteiristas de matarem a Missandei naquelas circunstâncias. O que eles fizeram ali foi golpe baixo, deplorável e desonesto. Sem querer ou não, tornaram a morte da Missandei num grande alívio para o espectador de certa maneira. Um misto de “ufa, ainda bem que não foi o Tyrion” com “que pena, né, mas poderia ter sido pior”. Uma resolução covarde que fez com que o telespectador se sentisse aliviado pelo fato de que a previsível morte daquela cena fosse da nativa de Naath, e não de Tyrion. Missandei não merecia uma morte tão fora do tom como aquela. Uma solução muito mais simples, eficaz e (pasmem!) barata, seria a Missandei desaparecer depois do ataque à frota de Daenerys e, depois que o espectador se esquecesse desse fato no decorrer do episódio, na última cena Dany receberia uma caixa enviada por Cersei com a cabeça de Missandei em resposta à sua proposta de rendição.
9) Por que Drogon não atacou Jon depois de ver sua mãe morta em seus braços? Para mostrar a evolução de sua natureza selvagem e agressiva para um ser dotado de inteligência emocional e reflexão filosófica? Por que, talvez, ele tenha entendido que a atitude de Jon foi necessária, afinal, sua mamãe estava loucrazy? Por que dragões não atacam Targaryens (no caso de Jon, meio Targaryen)? Onde isso foi estabelecido na série? Hum. Fica aí o questionamento, não é mesmo?
10) Em tempo: Por que Drogon queimou o Trono de Ferro? Já vi tantos memes hilários sobre isso, mas o melhor foi o que abordava a hipótese de que Drogon entendeu naquele momento que aquele objeto era a representação máxima de tudo aquilo que corrompeu e levou sua mãe à loucura. Gente, dragões são criaturas inteligentes, mas pera lá… Agora eles têm um senso crítico melhor do que a galera que curtiu esse final? É isso mesmo? Tá bem, então.
11) Por que Jon teve que ser obrigado a retornar para a Muralha se os Imaculados partiram de Westeros e os lordes que apoiavam Daenerys eram minoria no Pequeno Conselho? Aliás, por que apenas Jon foi exilado se, na verdade, Tyrion foi a mente por trás da conspiração “habilmente” arquitetada em 5 minutos de conversa?
12) Por falar dessa conversa, que explicação maravilhosa Tyrion deu a Jon, hein? Faltou pegar o espectador pela mão, acompanhar até a saída e enxugar a baba no canto da boca. Para quem não entendeu minha ironia (acabei de chamar a gente que assistia essa cena de retardado), acho que ela foi tão patética e por tantos motivos que nem sei elencar todos (e nem poderia). Nunca senti minha inteligência tão subestimada por GoT desde a remoção de Viserion do lago congelado na 7ª temporada. Tyrion falando que “enquanto ela queimava gente má, nós gostávamos dela” foi o auge da incompetência de D&D como roteiristas. O que eles não souberam construir articuladamente nas últimas temporadas, eles forçaram goela abaixo nessa cena. Além do didatismo ignóbil de quem explica a uma criança de 10 anos que B + A = BA e não AVÁ, essa sequência coroa a argumentação de quem detestou o roteiro e o tratamento dado aos personagens na T8 com maestria, colocando o personagem mais inteligente, esperto, sagaz e interessante da série como um dos mais inconsistentes de toda a trama.
13) Voltando um pouco, ainda sobre o exército de Dany: por que raios os imaculados e os dothrakis acharam razoável prender Jon após ele ter matado Daenerys, a mais nova Rainha de Westeros? Tem gente que argumenta dizendo que os Imaculados aprenderam com Dany que julgamentos são uma forma honesta de se matar alguém. Tenho tanta preguiça de rebater essa justificativa que prefiro dizer “ok”. Mas e os dothrakis? Ficaram completamente civilizados depois de alguns meses convivendo com os ândalos? Tão lembrados dos dothrakis raiz da primeira temporada? Depois que Khal Drogo morreu, formaram-se vários grupos que saíram matando e saqueando povoados vizinhos. Inclusive, a raiva foi tanta, que eles começaram a brigar e matar entre si. Mas vamos passar mais esse pano para a inabilidade de D&D, não é mesmo?
14) Eu já perguntei por que Jon teve que ir para a Muralha? Será que a fúria dos Martell (que não viram problema um Lannister ser a Mão do Rei) e dos nascidos nas Ilhas de Ferro (que não viram problema um Stark sentar-se no trono) seria tão grande assim, caso Jon resolvesse falar “sem tempo, irmão” e fosse para qualquer outro lugar do planeta à sua escolha? Aposto que os Imaculados (que a essa altura já estariam mortos em Naath por conta da crise epidêmica que assola suas ilhas) e os dothrakis (que estavam cagando para toda aquela situação) iriam se importar suficientemente a ponto de Jon não poder escolher seu destino. A propósito, Jon tá bem servido de irmão, hein. cof cof cof cof
15) Por que raios Tyrion e Bran escolheriam alguém como Bronn, um mercenário declarado que há dois episódios estava ameaçando a cabeça do anão Lannister, para ser Mestre da Moeda? Aliás, como Bronn convenceu os vassalos da Campina de que ele seria o seu mais novo suserano se nem Cersei, Jaime, Tyrion ou qualquer outro lorde poderia fazê-lo?
16) Não queria falar nada, mas… Por que fizeram do principal plot da série (a guerra entre os mortos e os vivos - lembra das crônicas de gelo e fogo? huuummm) algo tão incrivelmente fácil de ser resolvido? Lembrando que eu curti bastante o episódio, mas acho que, um pouco mais de reflexão sobre ele, nos leva a achá-lo um tanto broxante, já que um punhal de aço valiriano era capaz de resolver toda a treta dos Sete Reinos prenunciada por longos 9 anos. Entenda: volto a repetir que achei a construção da cena (Arya vs. Rei da Noite) bacana, porém, a resolução, convenhamos, foi fácil demais.
17) Em tempo: muitos personagens ali não deveriam ter sobrevivido, mas, aparentemente, possuíam blindagem de enredo. Brienne, Jaime e Davos são alguns deles. O caso mais grave, no entanto, foi o de Samwell Tarly que, com nenhuma habilidade em combate, ficou entre a vida e a morte ao ser soterrado por caminhantes umas três vezes e saiu vivo, sem nenhuma explicação.
18) Aproveitando o ensejo, um questionamento de relevância menor (perdoem-me pelo trocadilho): mas por que raios o pequeno Sam não cresce? Pelos Sete! Já tem 5 anos que o menino é um bebê. Se houver uma continuação da série, seu irmão mais novo terá 45 anos enquanto o pequeno Sam somente 2.
19) Ainda sobre a Batalha de Winterfell: De onde saíram tantos imaculados e dothrakis depois de centenas deles terem sido mortos na Batalha de Winterfell? Ao matar o Rei da Noite os mortos na véspera reviveram? Poxa, Jorah e Theon, que pena!
20) Por que, afinal, fizeram tanto barulho por conta da Cavalaria Dourada se ela daria ZERO% de contribuição à Coroa na Grande Guerra? A participação mais pífia da série. Ainda bem que não levaram elefantes para aquela guerra. Ufa!
21) Aliás, por que fizeram Cersei bater tanto na tecla dos elefantes? Que diferença iria fazer? Apagar o fogo talvez?
22) Por que Sam ficou tão chateado com Daenerys quando ela contou que foi obrigada a matar seu pai e irmão na guerra por conta da não rendição deles? Sam não tinha terminado a T6 roubando a espada de sua casa e cagando na cabeça do pai e do irmão por se acharem superiores a ele? Eu devo ter perdido algo.
23) Por que, em cenas como essa acima, ressaltaram traços de bondade e compaixão em Dany ao dar uma notícia trágica como essa a Sam se a intenção era construir uma pessoa tirana, enlouquecida, desprovida de empatia e sentimentos nobres, como seria a Daenerys do episódio 5?
24) Por que Cersei estava tão confiante de si durante a Grande Guerra? Ela não tinha mesmo uma carta na manga? Eu jurava que aqueles sinos iriam tocar para ser colocado o plano B dela em ação. Fogo vivo? Elefantes? Qualquer coisa! Mas, aparentemente, a grande vilã de Westeros estava confiando de maneira convicta e plena apenas na lealdade de seus soldados e na precisão de suas balistas.
25) Por que, de repente, Daenerys conseguiu otimizar o Drogon na Grande Guerra? Por que, de repente, o fogo de dragão ficou tão potente a ponto de derreter muros extensos de pedra como sorvete?
26) Por que, de repente, Euron e seus homens não conseguiram mais acertar nenhum tiro com suas balistas? Como Euron nadou quilômetros e ainda teve fôlego de lutar tão habilmente contra Jaime? Melhor ainda: como Euron acertou em cheio o lugar exato onde Jaime estava na praia?
27) Desculpa, mas vou ter que voltar ao EP3: Por que Jon e o Rei da Noite não se enfrentaram um instantezinho? Não podia rolar um embate entre os dois? Por menor que fosse.
28) Sério que a Cersei morreu daquele jeito e ainda não temos protestos na frente da sede da HBO? A personagem que segurou a audiência por tanto tempo certamente não merecia um fim tão insípido assim.
29) Sério que escreveram mais uma cena problemática sobre a Sansa e seu estupro? Sério que sugeriram que ela via como crescimento e amadurecimento pessoal o fato de ter passado por traumas físicos, emocionais e psicológicos? Sério que não trataram de um assunto tão em voga e importante como esse com o mínimo de responsabilidade? Que diálogo problemático.
30) Não podiam ter nos dado uma cenazinha entre Cersei e Daenerys? Apenas uma única entre as duas? Podia ser um pequeno diálogo. Uma pequena citação sobre a profecia de Cersei. Qualquer coisa. Estavam pagando mais de 1 milhão de dólares por episódio para Clarke e Headey e não as juntaram numa única sequência para que vomitassem o ódio de suas personagens uma pela outra de maneira visceral e extasiante?
31) Dany estava tão calma e sóbria para alguém que acabara de incendiar uma cidade inteira naquela sua última cena, não é mesmo? E quando eu pensei que não dava mais, começaram a infantilizá-la com falas desconexas. Na intenção de quê? Mostrar sua instabilidade emocional? Atestar o quão louca ela se encontrava? A mim, a única coisa atestada ali foi a incompetência avassaladora de David Benioff e D. B. Weiss em produzir algo minimamente crível e plausível.
32) Por que Jaime, depois de tudo o que viveu e evoluiu como ser humano e cavaleiro ao lado de Brienne, inclusive consumando o amor entre os dois após a Batalha de Winterfell, decidiu que era uma boa ideia voltar correndo para os braços de Cersei para defendê-la? Sendo que sua irmã gêmea não só cagou mole em cima da cabeça dele sobre a possibilidade dele morrer na guerra contra os mortos, como também contratou Bronn para que ele não saísse vivo do Norte. Jaime sabia de tudo isso, pois foi notificado pelo próprio Bronn que apontou a besta para a sua cabeça enquanto explicava o que se passava ali. Ou seja, Jaime fez o que fez por amor à Cersei, única e exclusivamente. Um amor cego, obsessivo e doentio que subumbiu o personagem de Nikolaj Coster Waldau em detrimento de toda a evolução do seu arco. Para quê? Uma cena de morte tão nos braços de Cersei tão mal construída quanto insossa.
33) Ainda que soe problemática a construção do regresso de Jaime (em amplos sentidos), mesmo que de maneira vergonhosa, faz algum sentido mínimo. Porém, nada justifica a compaixão de Tyrion por Cersei nos últimos episódios. Nada. Ao contrário de seu irmão, ele nunca a amou ou nutriu sentimentos nobres por ela ao longo de toda a série, principalmente depois dela ter arquitetado seu julgamento na T4 e sua morte no episódio anterior. Ridículo.
Enfim…
Com tantos buracos assim, fica fácil entender como o carro furou seus pneus na estrada.
O mais grotesco de tudo, a meu ver, foi a construção do arco (se é que podemos chamar isso de arco) da “Mad Queen”. Quer dizer, então, que Daenerys sempre foi louca? Só se salvar crianças, libertar escravos, matar opressores e carregar sozinha nas costas toda a responsabilidade de ser quem é e quem nasceu para ser for sinônimo de loucura. Traços de tirania, ok. Concordo. Mas entre ser tirânica e louca descompensada existe um pequeno abismo que não foi e nem tentou ser bem construído.
No fim das contas, o que senti foi que uma mulher forte e emblemática como Daenerys deveria ser sacrificada para que, não só dois homens inconsistentes, como Jon e Bran, tivessem seus propósitos de vida selados e suas respectivas redenções narrativas concretizadas, mas também, para que meia dúzia de outros homens patéticos pudessem sentar-se em volta de uma mesa para contar piadas e conversar sobre puteiros.
“Game of Thrones”, no fim de tudo, deixou uma mensagem final de que não é e nem nunca foi sobre mulheres fortes, infelizmente, como suas primeiras temporadas pretensamente nos induziram a acreditar. GoT preferiu reforçar estereótipos narrativos nefastos (como o da vingança feminina ser subvertida em loucura e insanidade enquanto a vingança masculina é vangloriada como heróica e correta). Tudo isso a troco de um plot twist tão ruim quanto mal construído e desonesto.
Além da horrenda construção do clímax, o roteiro não soube nem entregar o essencial proposto por ele mesmo. Falhou miseravelmente até na tentativa de ser sensacionalista e alarmista. Seu tom de urgência soou-me tosco, desprovido de personalidade, caricatural, desonesto e pretensioso.
Bom, pelo menos não haverá mais guerras em Westeros, já que Bran consegue prever o futuro com riqueza de detalhes. Não é mesmo? Pena que há apenas 3 episódios de se tornar rei ele não conseguiu prever qual era a melhor forma de evitar a batalha de Winterfell. Ou viu e simplesmente deixou o pau comer porque seu objetivo desde o princípio era ser rei, fazendo o argumento de quem diz que “ele era a melhor opção porque não liga para o poder” (algo até dito por Tyrion no episódio final) cair por terra.
“Game of Thrones” nunca foi sobre o destino de suas personagens. Mas sim sobre as suas jornadas. E é aí que reside seu pecado principal.
Ainda bem que existem os memes.
Como bem disse Olenna Tyrell: “Essa foi a única alegria que vi no meio de toda essa miséria”.
“Who knows the truth about Jon? Varys. Because you told him. You learn trought from Sansa. And she learned from Jon. Though I begged him not tell her. As I said: He betrayed me”
Game of Thrones (7ª Temporada)
4.1 1,2K Assista Agora"Leave one wolf alive and the sheep are never safe"
Em sua penúltima temporada, a série apresentou graves problemas de ritmo e narrativos. Arcos começaram a tomar rumos inquietantes e o roteiro cai definitivamente num lamaçal de incoerências. Tudo muito perturbador e decepcionante, principalmente quando comparado com o que foi apresentado anteriormente. Apesar de soar regular durante quase toda a temporada, o saldo final não é positivo.
Com a promessa de algo realmente grande que ainda estava por vir no final da sexta temporada, a T7 se atrapalha completamente no desenvolvimento de alguns núcleos, atropelando personagens e narrativas como um rolo-compressor.
"Are you a sheep? No, you’re a dragon. Be a dragon!"
Com um primeiro episódio empolgante, “Dragonstone”, dirigido por Jeremy Podeswa (outro grande diretor que passou pela produção), a temporada tem um início legal, com raros momentos de pura compensação de expectativa, mas da metade para o final a desgraça tomou conta em vários aspectos.
Além do já citado problema de ritmo (cujo enredo, ora acelerado ora desacelerarado, sucumbe aos caprichos de uma malfadada e pessimamente mal construída elipse narrativa), a problemática e frágil narrativa vista aqui foi um dos principais alvos de críticas no mundo inteiro.
Afinal, para além da discussão sobre o surgimento das correntes que removeram Viserion do lago congelado ou, antes disso, como os caminhantes conseguiram mergulhar e puxar um dragão adulto de dentro dele, a pergunta que não quer calar é: se não fosse o dragão de Daenerys, o Rei da Noite jamais poderia transpor a Muralha que separava ele e seu exército dos Sete Reinos.
"Don’t fight in the north or the south. Fight every battle, everywhere, always, in your mind"
Quantos arcos jogados fora! Quantos personagens esquecidos no churrasco! No entanto, nada superaria o pior de tudo, que foi definitivamente toda a construção em volta da incursão de Jon Snow e sua trupe (ou seria “esquadrão suicida”?), composta por Sandor Clegane, Beric Dondarrion, Thoros de Myr, Jorah Mormont, Gendry Baratheon e Tormund, para além da Muralha em busca de um caminhante a fim de se provar à Cersei de que seria uma boa ideia a união de todos contra a Grande Guerra contra o Rei da Noite. Só de explicar essa situação eu fico com vergonha.
O pior episódio da série até então, “Beyond the Wall”, roteirizado pela dupla D&D e dirigido por Alan Taylor, reuniu em si tantas falhas, resoluções ruins, deus ex machinas (alô, tio Benjen!) e diálogos mais rasos que piscina de criança, que conseguiu um feito inédito: a pior média de crítica em portais especializados, como IMDb e Rotten Tomatoes. Tudo muito problemático e inacreditavelmente abaixo da média. É impossível, para mim, compreender o nivelamento feito por baixo na narrativa e achar uma explicação plausível para todos os furos fincados no roteiro.
"Does she like it gentle or rough? A finger in the bum?"
Além disso, personagens como Tyrion Lannister tiveram seus arcos injustificavelmente corrompidos pela falta de habilidade dos roteiristas em dar um tratamento mais digno a tudo o que eles representavam para a narrativa. O sagaz anão de Peter Dinklage, que já havia apresentado problemas de desenvolvimento nas temporadas 5 e 6, continuou sua infeliz derrocada na T7, atingindo o ápice da incoerência no episódio 7, quando demonstra acreditar em sua irmã, sua histórica rival na trama.
E o que dizer do final desajustado e preguiçoso que deram a um dos mais icônicos e importantes personagens da série: Lorde Baelish. É sempre bom lembrar que, se não fosse por Mindinho, simplesmente não haveria série porque não haveria história. Baelish, brilhantemente interpretado por Aidan Gillen, sempre foi a válvula motriz da trama. Merecia um final à altura de sua importância. Para além de todo o embaraçoso arco narrativo em que meteram Mindinho, Sansa e Arya, a cena da morte em si foi tão simplória e insípida que me fez chorar de dó da personagem que definitivamente não merecia um fim tão preguiçoso e mocoronga.
"I have been sold like a broodmare. I’ve been chained and betrayed, raped and defiled. Do you know what kept me standing through all those years in exile? Faith. Not in any gods, not in myths and legends, in myself. In Daenerys Targaryen"
Mas, se por um lado essa temporada foi recheada de péssimas construções e digna de ser esquecida, por outro, algumas coisas legais aconteceram. Coisas pontuais, como a primeira cena do primeiro episódio, “Dragonstone”, ocorrida nas Gêmeas com Arya Stark obtendo sua vingança pelo casamento vermelho ou o primeiro encontro de todos os núcleos da série no sétimo episódio, “The Dragon and the Wolf”.
Enfim, a sétima temporada possui alguns (poucos) méritos, mas no frigir dos ovos, não consegue se sobressair positivamente. Mas nada, absolutamente nada do que foi visto nela, poderia me preparar para o que viria em seguida, na oitava e última temporada: a ruína absoluta de “Game of Thrones”.
"He’s never been a bastard. He’s the heir to the Iron Throne"
Game of Thrones (6ª Temporada)
4.6 1,6K“Hold the door!”
O último respiro de “Game of Thrones” antes do desastre colossal que se aproximaria nos anos seguintes. A T6 foi uma bela despedida da série aos fãs daquela obra vista nas primeiras temporadas. É verdade que a qualidade dos roteiros caiu em comparação às temporadas anteriores, porém, é sempre importante salientar que a partir daqui o produto audiovisual deixou de ter como base o material original para ser adaptado e passou a ser criação exclusiva do time de roteiristas da HBO.
Contudo, GoT ainda conseguiu se manter de pé e lúcido diante do emaranhado narrativo em que se meteu. Para além disso, a empreitada realizada aqui foi, é e continuará sendo por muito tempo uma das maiores conquistas da série e da história da televisão mundial. É louvável o que conseguiram fazer nesta maravilhosa sexta temporada. Episódios como “The Door”, “The Broken Man”, “Home” e “Book of the Stranger” marcaram a série para sempre e entraram definitivamente para o hall dos mais memoráveis já realizados.
“It is beautiful beneath the sea, but if you stay too long you’ll drown”
É nesta temporada que vemos a Mulher Vermelha se redimir e provar o seu valor depois das atrocidades que cometera, Jaime e Brienne se reencontrando em circunstâncias muito diferentes, Davos elegendo para si um novo líder, Arya cada vez mais próxima de se tornar ninguém ao passo que se vê encarando o passado que tanto a atormenta, Sansa e Jon finalmente juntos num emocionante reencontro.
Daenerys presa em Vaes Dothrak sentindo o peso de ser a viúva de um khal e, entre outros vários acontecimentos, o célebre retorno de Sandor Clegane que sobreviveu inesperadamente à sua batalha mortal contra Brienne de Tarth. Muitos acontecimentos marcantes deram a GoT uma sobrevida muito bem-vinda após a problemática T5.
E como se não bastassem cenas emocionantes e diálogos que reavivassem a obra de Martin, somos presenteados com dois dos melhores episódios de toda a série: estou falando, claro, de “Battle of the Bastards” e “The Winds of Winter”. Ambos dirigidos por Miguel Sapochnik, no primeiro, acontece uma das maiores e mais epopeicas batalhas medievais já exibidas pela televisão (se não a maior); no segundo, uma grande reviravolta no arco de Cersei Lannister comandada por ninguém menos que ela mesma.
“I choose violence”
Em “Battle of the Bastards”, o espectador é capaz de apreciar uma das fotografias mais extasiantes de “Game of Thrones”, tudo nesse episódio é incrivelmente cinematográfico e épico. Isso graças ao apuro artístico de Sapochnik somado à fotografia de Fabian Wagner e à direção de arte de Paul Ghirardani que entregaram um resultado sólido e contundente.
Já em “The Winds of Winter” a beleza sonora da trilha de Ramin Djawadi é um verdadeiro banquete para os ouvidos com a belíssima composição de “Light of the Seven”. O clímax colocado a serviço da trilha sonora. Uma aula de inversão de expectativa e plot twist. Além, é claro, de ser um dos melhores momentos da melhor vilã de todos os tempos.
“You’re going to die tomorrow, Lord Bolton. Sleep well”
É preciso mencionar e fazer justiça à bela incursão ao passado empreendido por Sapochnik ao levar Bran e o espectador às origens de Jon, ou melhor, Aegon Targaryen (por que Aegon? Não podia ser qualquer outro nome? Por que sempre Aegon?). Um momento emblemático e marcante que confirmou as teorias dos fãs da série que, assim como eu, suspeitavam disso desde a primeira temporada.
Uma belíssima cena construída com os jovens Ned e Lyanna Stark, esta à beira da morte nos braços de seu irmão pedindo que protegesse seu filho da ira de Robert Baratheon. Assim, então, o pequeno bebê Targaryen virou um pequeno bebê Snow, bastardo do norte e do incorruptível Lorde Eddard Stark.
“You have to protect him. Promise me, Ned? Promise me!”
Ainda no décimo episódio, ver Daenerys altiva em um de seus milhares de navios, ao lado de sua recém-formada “gangue” composta por Varys, Tyrion, Missandei, Verme Cinzento, Iara Greyjoy, Olenna Tyrell, Ellaria Sand e suas três víboras, com direito a dois grandes exércitos de Imaculados e Dothraki, e, como se não fosse o bastante, três gigantescos dragões voando alto no céu, partindo rumo a Westeros foi simplesmente apoteótico.
Relembrar toda a saga da personagem até chegar naquele ponto onde estava a um passo de conquistar tudo o que sempre lutou para obter faz com que qualquer um perca a compostura diante da TV e solte um grito de comemoração. Para mim, a série acabou aqui, nessa cena de “The Winds of Winter”. O que veio depois eu nem consigo explicar. Simplesmente não se parece com a série pela qual me apaixonei. Sim, eu viveria nos anos seguintes a famosa “desilusão amorosa” com a série que revolucionou a TV mundial.
“A girl is Arya Stark of Winterfell, and I’m going home”
Game of Thrones (5ª Temporada)
4.4 1,4K“I’m not going to stop the wheel. I’m going to break the wheel”
Depois de uma narrativa complexa e extasiante vista na quarta temporada, os showrunners D. B. Weiss e David Benioff nos surpreenderam com o mais frágil dos roteiros desenvolvidos e já experimentados pelos fãs da série até aqui. A quinta temporada possui alguns méritos inquestionáveis, é verdade, e passagens realmente muito interessantes de se ver, porém, também é inegável que seu enredo seja deficiente em vários aspectos, o que acabou comprometendo a apreciação do todo.
Além disso, o acréscimo de alguns elementos textuais que não constavam na obra original perturbou milhares de telespectadores mundo afora, como, por exemplo, a cena de estupro na noite de núpcias de Sansa e Ramsay (que nem chegam a se casarem nos livros) e a morte nauseante da princesa Shireen Baratheon (que não serviu a nenhum propósito narrativo a não ser chocar o público gratuitamente). E foi com esse tipo de sensacionalismo grotesco e sem propósito em cenas como essas que o roteiro começou a depor contra a série.
“In the name of Renly of House Baratheon, first of his name, rightful king of the andals and the first men, lord of the seven kingdoms and protector of the realm, I, Brienne of Tarth, sentence you to die”
Fora essa problemática, lá pelo fim da temporada, alguns arcos, que possuíam grandes expectativas do público, começaram a coalhar de maneira injustificável, como são os notados casos das frágeis narrativas de Arya Stark em Braavos na Casa do Preto e Branco, Daenerys Targaryen em Meeren aprendendo a ser rainha e todo o esquecível núcleo dos Martell em Dorne que tanto prometeu e não entregou nada substancial.
Temos na quinta temporada alguns bons episódios, como “The Dance of Dragons” e “Mother’s Mercy”, ambos dirigidos por David Nutter, e o memorável “Hardhome”, comandado por Miguel Sapochnik (aliás, este último, um dos melhores diretores de toda a série). Mas, se por um lado GoT acaba pecando em arcos fundamentais da trama, como os já mencionados acima, por outro, a história de alguns personagens ganham mais contornos e ingredientes empolgantes.
“You want revenge against the Lannisters? I am the greatest Lannister killer of our time”
A peregrinação de Tyrion, Varys e Jorah em Essos, principalmente quando chegam na Antiga Valíria, e os diálogos feitos entre eles durante suas reflexões sobre a verdadeira rainha a ser seguida são bem legais. Outro ponto positivo da T5 foi o desenvolvimento de Cersei Lannister, a vilanesca e sagaz leoa dos Sete Reinos. Para mim, em termos de desenvolvimento de personagens, Cersei foi uma das poucas a serem coroadas com um bom tratamento nessa temporada.
Aliás, fazendo jus à estupenda atuação e entrega de Lena Headey (uma das maiores atrizes do elenco), Cersei, na minha opinião, foi uma das melhores construções de persona feminina de GoT. Sabemos que se tratando de “Game of Thrones” ninguém é completamente “mocinho” ou “vilão”. É claro que há tendências para um lado ou para o outro, mas o que faz dos personagens da série serem interessantes e profundos é justamente a bidimensionalidade que existe neles. E é em Cersei onde vejo isso acontecer com extremo primor e excelência.
“Shame! Shame! Shame!”
Isso se deve em grande parte pelo comprometimento de Headey e à forma como defende sua personagem diante das câmeras, conferindo à sua Rainha Mãe nuances muito simbólicas e verossímeis de uma mulher mastigada, humilhada e violentada pelo patriarcado e que soube criar para si camadas de proteção do mundo ao amadurecer. Camadas essas que podem ser vistas em cada atitude que toma ao longo de sua narrativa e são aprofundadas em dilemas e ações que nos fazem não só sentirmos suas dores e dissabores, mas também termos empatia com o que sente e sofre.
Uma vilã que, antes de ser má, é uma mãe desesperada para proteger seus filhos. Destaque para sua incrível interpretação durante a caminhada da vergonha em “Mother’s Mercy”, uma das melhores sequências de toda a série. E uma menção honrosa ao roteiro do primeiro episódio, “The Wars to Come”, em que Cersei se lembra da profecia de Maggy a Rã, o primeiro flahsback feito em “Game of Thrones”.
“Look at me. Look at my face; it’s the last thing you’ll see before you die”
Para fechar, devo mencionar o épico “Hardhome”, que nos deu o único gostinho de luta entre Jon Snow e um White Walker (risos). Além de muito bem dirigido por Sapochnik, o episódio conta com a belíssima direção de arte de Paul Ghirardani e a instigante fotografia de Fabian Wagner. A emblemática trilha sonora de Ramin Djawadi marca presença mais uma vez e tanto a edição de Tim Porter quanto o design de produção de Deborah Riley dão um show em tela.
Entre erros e acertos a quinta temporada consegue se manter na média e entrega, apesar dos pesares (e equívocos), um resultado final satisfatório. Boas cenas, boas sequências e bons diálogos isolados, mas uma enredo problemático e frágil. Mas, quem poderia prever aquele grande plot twist na season finale? Ponto para os roteiristas!
“Get out you hateful bitch!”
Game of Thrones (4ª Temporada)
4.6 1,5K Assista Agora“I wish that I had poison for the whole pack of you”
No quarto ano da série a jornada continua. Vários arcos ganham contornos inusitados, como os de Daenerys e Jon, por exemplo. A temporada já mostra a que veio logo nos seus primeiros episódios com mortes completamente inesperadas e cheias de reviravoltas surpreendentes.
Tyrion se vê envolvido numa conspiração pelo assassinato de Joffrey e não tardará até ser julgado. Sansa se transforma numa fugitiva e descobre em Lorde Baelish um importante aliado para sobreviver. Oberyn Martell e Gregor Clegane se enfrentam pela vida de um Lannister. Tywin se fortalece no trono de ferro como regente do Reino. É feita a primeira aparição do Rei da Noite. E, do outro lado do Mar Estreito, Drogon, Viserion e Rhaegal já não são mais tão pequenos assim.
Se no terceiro ano, a série já havia demonstrado sua força e estabelecido um novo patamar para a qualidade de seus roteiros, na quarta temporada ela ressurge com uma trama que começa a dar sinais de amadurecimento pleno. Destaque absoluto para as direções de Alex Graves, Alik Sakharov e Neil Marshall que estiveram à frente dos episódios “The Lion and the Rose”, “The Laws of Gods and Men”, “The Children”, “The Watchers on the Wall” e “The Mountain and the Viper”. Além de roteiros fantásticos, esses episódios oferecem verdadeiras aulas de direção que eternizaram cenas da série.
“You raped her. You murdered her. You killed her children”
No quesito atuação, o espectador é presenteado com uma das melhores performances de Peter Dinklage. Ele está impecável em todas as suas cenas. Seu brilhantismo é visto nas nuances que aborda em seu personagem. Os sentimentos e dilemas de Tyrion são postos de forma irretocável pelo ator, que vão desde o momento em que rompe com o amor da sua vida, Shae (interpretada por Sibel Kekilli), passando pela crise moral e ética em seu julgamento quando percebe que não há o que ser feito pois “já havia sido julgado ao nascer por tudo e por todos” e vai até o desfecho quando ele faz um acerto de contas definitivo com o seu pai durante um momento inapropriado.
Mas também não podemos deixar de fora algumas das mais belíssimas entregas do elenco dessa T4. Rory McCann contornou habilmente as várias facetas de seu Sandor Clegane ao longo das três primeiras temporadas, mas aqui ele brilha como nunca antes. No decorrer de sua inglória jornada ao lado de Arya (vivida por Maisie Williams - outra atriz que evoluiu absurdamente), o ator conquista a empatia do espectador pela forma como conduz seu personagem: um brutamonte aparentemente sem sentimentos que, na verdade, tem medo de expor seu lado mais humano por se sentir vulnerável.
Outros destaques podem (e devem) ser feitos, como são os casos de Pedro Pascal (Oberyn Martell), Charles Dance (Tywin Lannister), a sempre irretocável Lena Headey (Cersei Lannister), Aidan Gillen (Lorde Baelish), Natalie Dormer (Margaery Tyrell) e Diana Rigg (Olenna Tyrell). Aliás, permitam-me um breve comentário sobre Rigg: que presente nos foi dado! Rigg tem o dom de agraciar todas as cenas em que está presente. Sua Olenna foi certamente uma das melhores personagens de toda a série.
“I will do what queens do. I will rule”
Contudo, entre tantos momentos e diálogos memoráveis, o melhor episódio da temporada foi “The Watchers on the Wall”. Dirigido por Neil Marshall, foi o maior empreendimento da série até então em termos de batalhas. Os selvagens tentam transpor a Muralha, mas, para isso, devem guerrear com a Patrulha da Noite. Esse episódio conquistou o telespectador pela grandeza de sua produção, com certeza, mas também por ainda não ter oferecido uma grande guerra para ele. Isso contou pontos para a série que na época era um pouco criticada pela ausência de conflitos explícitos.
Outros momentos merecem destaque, como o ponto de virada de Sansa na trama, a reviravolta no arco de Tyrion, a amarga despedida de Jon e Ygritte, o sofrimento de Daenerys ao se ver obrigada a prender seus filhos, o triste banimento de Jorah Mormont, o voo de Lisa Arryn pelas Montanhas da Lua, a luta visceral entre o Cão e Brienne, Theon passando por um verdadeiro purgatório nas mãos sanguinolentas de Ramsay, e, entre outras cenas inesquecíveis, finalmente vemos o encontro de Bran e o Corvo de Três Olhos.
A quarta temporada foi uma de minhas favoritas e, até aqui, “Game Of Thrones” conseguiu caminhar e se sustentar muito bem, unindo o melhor que o mundo real e o universo fantástico têm a oferecer; demonstrando que os showrunners D. B. Weiss e David Benioff são muito melhores adaptadores de um material existente do que criadores de algo original, como no futuro poderíamos constatar, infelizmente.
“I have only loved one woman, only one, my entire life: your sister”
Game of Thrones (3ª Temporada)
4.6 1,8K Assista Agora“And now his watch is ended”
Se eu tinha alguma dúvida de que “Game of Thrones” era uma de minhas séries favoritas até a segunda temporada, certamente essa dúvida deixou de existir quando assisti a T3 pela primeira vez. Na minha humilde opinião, nada, absolutamente NADA, está fora do tom aqui. Tudo conflui em perfeita sintonia para o clímax final. Vemos tantos arcos se desenvolverem quanto é possível.
Jaime e Brienne travando uma jornada inesperada cujo destino não esperavam que fosse a autodescoberta. Daenerys soma forças à sua causa com fogo e sangue, conquistando para si o exército dos Imaculados. Sam e Gilly ficam frente a frente com a morte quando são atacados por um White Walker pela primeira vez. Sansa e Tyrion são forçados a se casarem. Aliás, esse não foi o único casamento que marcaria a temporada para sempre. Teríamos outros momentos tão importantes quanto que ressoariam por quase toda a série.
Precisamos falar aqui (e fazer justiça) sobre a entrega feita por Michelle Fairley, a atriz responsável por dar vida a uma das mães mais emblemáticas da história do audiovisual recente. Seu talento, antes experimentado na mesma intensidade, porém, em doses um pouco menores, agora é trabalhado de uma forma soberba ao longo dessa temporada. E o ápice desse arco, construído com esmero, não poderia ter um clímax mais chocante e triste. Mas toda essa construção e desenvolvimento seriam inúteis se não fosse pela magistral interpretação de Fairley que conduz sua Catelyn Stark com nuances tão tocantes quanto palpáveis. Aquele grito de dor e agonia continua ecoando em mim.
“It’s all because I couldn’t love a motherless child”
E, se na capital seguimos odiando Joffrey Lannister (já podemos tirar seu Baratheon, né?) que prova cada vez mais ser um dos personagens mais desprezíveis e odiosos de todos os tempos, no norte temos motivos suficientes para nos entusiasmar pela vilania sarcástica de Ramsay Snow (ainda sem o Bolton) que mutila não só física, mas também psicologicamente Theon Greyjoy. Confesso que aqui eu amava Ramsay. Mas quem nunca gostou de um vilão, que atire a primeira pedra.
Aliás, por falar em vilões, devo fazer uma importante e digna menção ao espetacular Aidan Gillen que dá vida a um dos melhores personagens de toda a série e que faz, definitivamente, a roda girar com todo o seu sarcasmo enigmático. É claro que estou falando dele: Petyr Baelish (ou Mindinho para os mais íntimos).
O roteiro é suficientemente capaz de reafirmar a epopeica saga de D. B. Weiss e David Benioff como uma das mais fantásticas histórias já contadas pela televisão mundial, mas nada disso seria possível sem a soma de esforços da estonteante fotografia de Anette Haellmigk, Robert McLachlan e Chris Seager, que se incumbe de tornar esse universo ainda mais denso, e a minuciosa direção de arte de Andy Thomson e Tom Still, que faz valer a frase “a perfeição está nos detalhes”.
O design de produção segue um dos mais impressionantes que já vi, e aqui incluo tanto a televisão quanto o cinema. Manter uma série desse porte com um nível de qualidade de produção tão alto como esse não é para qualquer um.
“I see a darkness in you. And in that darkness, eyes starring back at me. Brown eyes, blue eyes, green eyes. Eyes sealed shut forever. We will meet again”
Mas falar sobre a terceira temporada sem citar exclusivamente o nono episódio, “The Rains of Castamere”, é, no mínimo, um descuido. Agora, estendendo o reconhecimento pelo belíssimo trabalho de direção de David Nutter que realizou aqui uma das amarrações mais fantásticas de toda a série. Um verdadeiro plot twist (para quem não era leitor dos livros de Martin) que pegou a audiência desprevenida. Além da já mencionada belíssima atuação de Fairley, é preciso reconhecer o pontual trabalho de David Bradley, Michael McElhatton, Richard Madden e, até, Maisie Williams. Todos eles entregam aqui um trabalho simplesmente maravilhoso.
A trilha sonora da série, que desde o início sempre foi excelente, recebe novas composições, entre elas “The Rains of Castamere”, a canção-tema da família Lannister composta por Ramin Djawadi (responsável por outras trilhas igualmente emblemáticas) que se torna em pouquíssimo tempo icônica para os fãs da série devido ao seu significado dentro do contexto da trama, mas, sobretudo, ao que perpetuou logo após ser tocada ao final do nono episódio.
“Chaos isn’t a pit. Chaos is a ladder”
Game of Thrones (2ª Temporada)
4.6 1,6K Assista Agora“The night is dark and full of terrors”
Curioso como a cada revisitação feita às temporadas mais antigas eu redescubro ou até mesmo descubro algumas coisas que, numa revisão anterior, passaram despercebidas. E olha que já vi cada temporada pelo menos umas 6 vezes cada. Mais que isso: é impressionante como a cada revisão alguns aspectos como a direção e roteiro dos episódios, a atuação de grande parte do elenco e quesitos mais técnicos se consolidam na narrativa e ficam, assim como o vinho sempre presente na história, melhor com o tempo.
É dado início à Guerra dos Cinco Reis em Westeros e a trama vai ganhando nuances cada vez mais intricadas e se tornando ainda mais intensa que a temporada anterior. O pano de fundo, altamente referenciado pelos fatos históricas da Idade Média, estabelece novos cenários, novos personagens e novos contextos, além, é claro, de novas interações entre figuras de núcleos completamente diferentes. Os reis vão se movimentando pelo tabuleiro do jogo dos tronos, ora adquirindo ora se desfazendo de aliados, tudo para se manter em primeiro lugar na corrida pela coroa. A densidade do texto ganha contornos ainda mais complexos do que aquilo que foi visto no ano anterior, fazendo da história uma grande teia de aranha cheia de armadilhas para o espectador.
“The North Remembers”
Nessa nova leva de personagens memoráveis, conhecemos Tywin Lannister, Shae, Melisandre, Jaqen H’ghar, Ygritte, Talisa, Brienne de Tarth, Margaery Tyrell, entre outros (interpretados de maneira esplêndida por Charles Dance, Sibel Kekilli, Carice van Houten, Tom Wlaschiha, Rose Leslie, Oona Chaplin, Gwendoline Christie e Natalie Dormer, respectivamente), todos eles importantes agentes para o movimento e desenvolvimento da série. Outros, que já conhecíamos, se fortalecem e ganham mais espaço na história, como são os casos de Tyrion, Joffrey, Sansa, Arya, Robb, Catelyn, Cersei e Jaime (eternizados por Peter Dinklage, Jack Gleeson, Sophie Turner, Maisie Williams, Richard Madden, Michelle Fairley, Lena Headey e Nikolaj Coster Waldau, respectivamente). Interpretações que ficarão cravadas em minha memória para sempre, com certeza.
Alguns arcos começam a ganhar mais forma à medida que os episódios avançam, fazendo com que lugares sejam explorados de maneira habilidosa pela fotografia de P.J. Dillon, Kramer Morgenthau e Martin Kenzie e pela direção de arte de Heather Greenlees e Tom McCullagh. Os extremos opostos ficam cada vez mais nítidos, principalmente quando vemos Jon Snow tentando se estabelecer na Patrulha da Noite na gélida e longínqua Muralha contrastando-se com as cores quentes de Essos do outro lado do Mar Estreito ao nos depararmos com as desventuras de Daenerys Targaryen, agora viúva e mãe de três dragões bebês.
“You know nothing, Jon Snow”
É bonito perceber quantos arcos se iniciaram nesta temporada (infelizmente, nem todos eles tiveram um desfecho à altura de todo o desenvolvimento empreendido). Nesta segunda temporada tivemos reis e alianças, peregrinações e conflitos, traições e descobertas, magia e fogo vivo. Um rei que abandonou seus soldados na guerra e um anão que os salva. Um filho que trai sua família e outro que quer vingar seu pai. Uma menina aprendendo a amadurecer da pior forma possível e outra pedindo três cabeças para um fantasma num castelo em ruínas. Uma forasteira se apaixonando por um rei e um rei se apaixonando por uma selvagem. Como são belas as poesias tecidas nas primeiras temporadas de “Game of Thrones”. Como era astuto o traçado do roteiro. Tudo era tão bom que me fazia perdoar os pequenos deslizes de produção e/ou CGI. Hoje, depois de revisitar a obra pela “sétima vez”? (perdi as contas!) fui mais rígido na avaliação, talvez porque vi tudo indo por um caminho tão preguiçoso e desonesto que me fez enxergar menos beleza na trajetória de alguns personagens.
“Valar Morghulis. Valar Dohaeris”
Game of Thrones (1ª Temporada)
4.6 2,3K Assista Agora"The winter is coming"...
...prenunciava Ned Stark, lorde de Winterfell e soberano absoluto do Norte. A frase, que à época parecia só mais uma entre tantas outras de efeito, hoje pode parecer mais plural em diferentes sentidos. Pois bem, o inverno previsto por lorde Stark, eximiamente interpretado por Sean Bean, nos coloca em contato desde o princípio com o fantasioso e cruelmente real universo concebido por George R. R. Martin em suas "Crônicas de Gelo e Fogo"; e (até certo ponto) habilmente adaptado por David Benioff e D.B. Weiss.
Temos na primeira temporada de "Game of Thrones" um ligeiro aperitivo do que ainda estava por vir. Nela há um pouco de tudo o que experimentaríamos nas temporadas seguintes, desde o ostensivo jogo pelo poder perpetrado pelas personagens (das principais às secundárias) até os elementos mais fantásticos (ainda que marcando menor presença nestes primeiros 10 episódios). A dualidade icônica da série se faz presente nos mínimos detalhes e está em cada passagem do texto. Às vezes de forma figurada, como o simbólico existente entre gelo e fogo. Às vezes de maneira mais emblemática, como a junção cênica de personagens que habitam e costuram opostos extremos da trama narrativa, sejam eles físicos ou morais e éticos.
E, num roteiro quase impecável como esse, vê-se desenhados o despontar de arcos que nos levariam ao delírio (em amplos sentidos) alguns anos mais tarde. Diálogos alegóricos que compõem a malha densa de um roteiro que é cada vez mais raro (e caro) nos dias de hoje. Cenas carregadas daquilo que, para mim, foi o melhor que a série pôde nos entregar, substancialmente falando. Aquilo que, a meu ver, será sempre seu maior legado: seu texto refinado e recheado de falas que tecem a teia política da trama.
"In the game of thrones, you win or you die".
O elenco escolhido não poderia ter sido melhor. Que grata surpresa descobrir o trabalho de quase 99% dos artistas ali presentes. Além do já citado Sean Bean, pude apreciar atuações magistrais de Lena Headey, Peter Dinklage, Iain Glen, Aidan Gillen, Michelle Fairley e Nikolaj Coster Waldau (isso só para citar alguns). É verdade que boa parte do elenco jovem e, até então desconhecido, não está tão bem assim, como são os casos de Emilia Clarke, Kit Harington e John Bradley-West, mas a gente dá um desconto, afinal, estavam se descobrindo como atores.
A fotografia de Alik Sakharov e Matthew Jensen insere o espectador na história de maneira eficaz e esperta. Pelo bom uso da paleta de cores, deixa claro onde é o Norte, onde está o Sul, quem está a Leste ou o que há a Oeste de Westeros. Tudo isso, claro, somando esforços a uma sacada inteligente de conduzir a narrativa por meio do uso das cores, figurinos, caracterizações e, até mesmo, idiomas, especialmente criados para a elaboração de um mundo completamente imaginário e crível.
"Fire cannot kill a dragon"
O design de produção de Gemma Jackson e Deborah Riley e a direção de arte de Paul Inglis são de tirar o chapéu, apesar de hoje parecerem um tanto envelhecidos, principalmente se levarmos em consideração que a série estava em sua primeira temporada e contava com um orçamento infinitamente menor. Algumas raras passagens da montagem e alguns elementos dos efeitos visuais também não envelheceram tão bem. Inclusive, eu diria que envelheceram rápido demais.
No entanto, "Game of Thrones" não podia ter começado de maneira melhor e mais grandiosa. Uma série que certamente deixou sua marca e relevância não só para a cultura pop, mas também para uma geração de entusiastas de universos fantásticos que, assim como eu, puderam ganhar asas e viver uma experiência estupenda ao longo de quase 10 anos. É claro que nada é perfeito, mas #GoT chegou quase lá aqui.
"The man who passes the sentence should swing the sword".
Amor, Morte e Robôs (Volume 1)
4.3 673 Assista AgoraNessa minha trajetória como cinéfilo, principalmente como entusiasta de animações, posso dizer que, se comparado a tudo o que já vi na vida (algo em torno de mais de 3 mil produções audiovisuais), poucas foram as vezes em que me vi completamente extasiado e envolvido com alguma coisa. "Love, Death & Robots" certamente foi uma delas. Um verdadeiro frescor revigorante para as animações destinadas a adultos.
Tim Miller, que dirigiu "Deadpool" (2016), é o principal showrunner responsável pela série e em parceria com animadores como Gabriele Pennacchioli ("Kung Fu Panda 2", "Os Croods" e "Como Treinar o Seu Dragão"), Dominique Boidin ("God of War") e Jerome Chen ("Godzilla" e "A Lenda de Beowulf") conseguiu entregar algo essencialmente inédito em termos de distribuição em larga escala.
Cada um dos 18 curtas-metragens que compõem a série traz um tipo de animação diferente, que ora homenageia um traçado mais clássico de animação 2D ora surpreende pelos efeitos especiais de computação gráfica (que, inclusive, me confundiu em vários momentos se estava vendo algo real ou gerado por computador).
Todos os episódios me envolveram de alguma forma. Alguns mais outros menos. Mas todos me colocaram num estado de reflexão muito necessário não só para o Cinema, mas para qualquer mídia que produza imagens em movimento que se preze. Não podemos nos conter mais apenas com o belo, o conteúdo e a reflexão que ele propõe, sobretudo hoje em dia, é tão importante quanto.
Enfim, "Love, Death & Robots" é uma miscelânea artística, técnica, intertextual e (por que não?) cultural. Uma obra que não só se antecipa, mas também está a frente do seu tempo. Um belo e contundente exercício criativo de seus criadores. Algo que terei sempre o prazer de revisitar. Que venham mais temporadas recheadas com mais episódios incríveis como esses.
Coisa Mais Linda (1ª Temporada)
4.2 401 Assista AgoraA nova produção brasileira da Netflix mira numa crítica social aos anos 50, mas acaba acertando mesmo num pretensioso novelão. A narrativa soa formulaica e piegas em boa parte da trama, as atuações oscilam entre medianas e ruins em quase todas as cenas e o roteiro em si é tão limitado quanto a direção de seus 7 episódios. O que faz valer o tempo de assistir à série é realmente seu intento feminista e, em parte, seu esforçado design de produção.
Salvas as atuações de Mel Lisboa e Pathy Dejesus, que em boa parte de suas aparições em tela conseguem entregar algo um pouco mais substancial ao espectador, o elenco definitivamente está muito apoiado em cacoetes interpretativos que, particularmente, irritam-me bastante. Entre as piores interpretações destacam-se as de Fernanda Vasconcellos, Maria Casadevall, Alexandre Cioletti, Gustavo Vaz e, a pior de todas, Leandro Lima.
Em suma, temos uma série com alguns breves acertos, como a fotografia, comandada pelo trio Dante Belluti, Rodrigo Carvalho e Ralph Strelow, e a calorosa direção de arte de Fábio Goldfarb, que nos remete habilmente ao dourado Rio de Janeiro dos saudosos anos 50. Somadas essas qualidades à presteza do design de produção, "Coisa Mais Linda" consegue maquilar seus erros e até equívocos históricos mais graves. Além disso, o traço feminista de sua narrativa pode ser considerado louvável. Pode ser. Não significa que é.
Fora isso, a nova aposta nacional da Netflix me pareceu pueril e esquecível demais. Bem fraca e aquém de seu potencial. Uma pena, pois eu amo Bossa Nova e me empolguei muito quando soube da estreia dessa série. Torci para ver algo grandioso, mas vi mesmo uma coisa bem mediana (para não dizer algo pior).
Sex Education (1ª Temporada)
4.3 813 Assista AgoraEm se tratando de séries, foi a mais grata surpresa de 2019, até agora. Uma produção nada pretensiosa destinada a adolescentes que querem se divertir, emocionar e se informar com a mesma intensidade. Consegue se aprofundar em temas importantes antes relegados a comédias teenagers imbecis e pastelões propositalmente idiotas como "American Pie", além de se permitir à leveza no tratamento de assuntos que podem (e são) constrangedores à maior parte do público-alvo.
O elenco está formidável. Desde "A Invenção de Hugo Cabret" não via um Asa Butterfield entregando-se de uma maneira tão surpreendente a um papel. Foi animador vê-lo encarnando seu problemático e astuto Otis Thompson. O restante do trio protagonista também está implacável. Ncuti Gatwa dá um show à parte e Emma Mackey me chamou bastante a atenção por trazer à sua personagem percepções mais complexas do que simplórias, como normalmente se vê nesse tipo de entretenimento.
O que falar da trilha sonora? Maravilhosa! A Netflix, definitivamente, sabe como empolgar a audiência utilizando as músicas certas para isso. A série conta com músicas de The Cure, The Smiths, Billy Idol, A-ha e Ezra Furman. Em muitos momentos é difícil conter o pezinho e não deixá-lo balançar ao ritmo de "Boys Don't Cry" ou "Take On Me". O design de produção também é outro mérito inquestionável de "Sex Education". Por mais que se pense que não existe nada de desafiador em simular o universo escolar de adolescentes numa cidade pequena do Reino Unido, fazer isso homenageando as comédias românticas dos anos 80/90 à lá John Hughes é um trabalho bem perspicaz.
No entanto, a série comete algumas gafes aqui e ali, além de dar umas escorregadas no roteiro, que promovem uma certa confusão no público, como, por exemplo, o tempo e o espaço em que se passa. Nada muito comprometedor, mas passível a depreciação, infelizmente.
American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace (2ª Temporada)
4.1 392 Assista AgoraMais uma vez, é um prazer tremendo ver uma obra assinada por Ryan Murphy. Tudo em "O Assassinato de Gianni Versace" flui bem. Desde a concepção da linguagem adotada para a narrativa até elementos artísticos como a fotografia, direção de arte, figurino, maquiagem e, claro, a caracterização dos personagens. Um trabalho minucioso feito por uma produção comprometida com os detalhes da história vislumbrada.
A escolha do elenco não poderia ter sido mais feliz. Impressionante como cada ator extraiu camadas de suas personagens; camadas estas que conseguiram aprofundar aquilo que poderia ser facilmente confundido com caricato e superficial. Destaco as brilhantes interpretações do trio principal composto por Penélope Cruz, Edgar Ramírez e Darren Criss, todos absolutamente fantásticos em seus respectivos papéis. Ainda assim, é necessário fazer algumas menções honrosas às participações de Joanna Adler, Michael Nouri e Max Greenfield.
O pout-pourri narrativo, elemento característico de Murphy, está brilhante. Ele consegue navegar entre o thriller policial e o drama, entre o softporn e o terror, com maestria. Conduz a obra de maneira astuciosa e, por vezes, extasiante. A montagem é outro fator louvável. Segura a mão do espectador e não deixa ele cair em desatenção um momento se quer. As referências à cultura pop, os paralelos feitos com a atual realidade da mídia estruturalmente ardilosa e a forma como o tema da psicopatia foi trabalhada denotam, mais uma vez, o comprometimento não só de Murphy, mas de todos os envolvidos com a seriedade dos eventos relatados.
Só não dei nota máxima por um pequeno perfeccionismo meu. Nada que comprometa a obra isoladamente em sua essência e no que quis transmitir. Salvas também algumas declarações da família de Gianni Versace (leia-se Donatella Versace) que depõem contra a produção, infelizmente. Porém, esta segunda temporada conseguiu um feito extraordinário: superar a primeira, que já havia sido muito boa. Só nesse sentido, ela já merece o reconhecimento que lhe cabe.
Você (1ª Temporada)
3.7 916 Assista Agora[SPOILER ALERT]
Se você assistiu essa merda e gostou, leia e entenda meu ponto de vista antes de vir atirar pedras. Se você viu e não gostou, leia e se divirta porque eu peguei pesado.
Netflix, senta aqui, vamos ter uma conversa série (sic). Que merda foi essa, minha filha? Ok, o intuito era mostrar o quanto nos colocamos em perigo quando nos expomos nas redes sociais? Beleza. Até aí, tudo bem. Mas daí fazer com que sintamos algum tipo de empatia por um cara bizarro como o Joe foi, no mínimo, nauseante. Mas aí vai ter quem fale: "Ah, Guilherme, mas a série te lembra a todo instante que não é para torcer por ele". Meu pau de óculos para quem fala isso! A série quer mais que você sinta pena, se emocione e torça pelo protagonista o tempo INTEIRO. O fato de você "lembrar de não torcer por ele" já denuncia que há algo de errado no tratamento do roteiro, além de demonstrar que você tem boa índole, claro.
O cara é um abusador, um predador, um psicopata, um assassino. Ponto. Não tinha nada que florear a história na tentativa de humanizá-lo ou torná-lo menos monstruoso. E veja: não estou falando que a série não poderia abordar seu passado, mas não fazer disso uma justificativa para as atitudes hediondas de um sociopata.
O que comprova minha hipótese (de que a série tenta justificar e limpar a barra do protagonista) é a forma como foi desenvolvido o arco entre Joe e Paco. O protagonista assume um papel paternal para o menino, demonstrando toda sorte de afeto e carinho que contrastam com o ser maléfico que de fato ele é. Essa é a brecha que o roteiro precisava para apoiar sua justificativa de que havia um bom coração ali, e não alguém completamente doentio e insano. Isso ocorre em todos os episódios. E eu confesso que fiquei dividido assistindo a série. Eu que nunca soube nem nunca saberei o que é ser mulher numa situação dessas.
Pensava cá meus botões: "Ei, esse cara não é um monstro como parece". Por mais que eu soubesse que ele era de fato. Isso, para mim, Netflix, é desonestidade para com o seu público, além de ser irresponsável socialmente falando. Porque eu, que sou homem e nunca sofri esse tipo de violência, de abuso ou de manipulação por parte de um parceiro, não tenho nem ideia de como uma mulher que já foi vítima de algo assim se sentiria vendo que uma grande empresa de entretenimento não lida com o mínimo de responsabilidade possível sobre um tema ou um assunto tão grave. Você, Netflix, passou pano para o agressor. Lide com isso e durma com a consciência bem pesada, mocinha.
Tanto que no episódio final, momentos antes de Beck conseguir escapar e trancar Joe na câmara de vidro, enquanto ela ainda discursava do lado de dentro da prisão, na tentativa desesperada de convencê-lo que acreditava em sua bondade e idoneidade, o roteiro espera neste momento em específico que o espectador tenda a acreditar nas palavras doces e compreensivas de Beck e que tudo o que foi feito até então por Joe seja plausível e justificável, por mais que saibamos que aquilo era de fato um blefe de alguém que queria sobreviver.
Imagino o que uma pessoa não conscientizada pensaria a respeito de Joe em cenas como essa. E como cenas como essa são um desserviço para a sociedade que já padece do machismo estrutural e da violência contra a mulher há séculos.
NOJO!
SHAME ON YOU, NETFLIX!
Assim como em "13 Reasons Why", a empresa demonstrou que não lida com seriedade ou responsabilidade sobre temas delicados e que MATAM milhares de pessoas TODOS OS DIAS. Leram bem? MATAM! Não é mimimi de alguém que não gostou do enredo tosco (por mais que o enredo seja tosco mesmo). É assunto sério. E que deveria ser tratado com respeito e, repito, responsabilidade. Ainda mais por uma empresa que milita o tempo inteiro nas redes sociais.
Além disso, a série possui um ritmo histérico que me incomoda bastante. Uma fotografia pasteurizada (que às vezes me lembrava aquelas simulações do canal ID). E personagens tão chatos que me faziam revirar os olhos o tempo inteiro. Não consegui sentir o mínimo de carinho nem pela própria Beck (que é um porre, diga-se de passagem).
Mas como eu não sou tão ruim quanto a série, vou falar agora do que gostei. Primeiro, da atuação de Penn Badgley que não foi nada demais, mas foi comedida e enxuta, ao contrário das atuações afetadas do resto do elenco. Também gostei da trilha sonora, que é de fato muito boa (séries ruins costumam compensar o espectador com a trilha sonora, fica a dica).
Enfim, é uma série merda que a Netflix emplacou com a sua brilhante publicidade (essa sim muito boa) e com o boca a boca que gerou o buzz que ela precisava para se pagar.
O Conto da Aia (1ª Temporada)
4.7 1,5K Assista AgoraEssa série é impressionante em vários aspectos. Poderia ficar horas discutindo com alguém sobre seus méritos ou até mesmo tecer uma longa crítica a respeito dela. Mas como muitas pessoas mais entendidas e mais estudadas do que eu já fizeram isso, vou apenas pontuar algumas coisas. Primeiramente, a produção; que dá vida às páginas do livro de Margaret Atwood com muita responsabilidade e exímia competência. Segundamente, o elenco; que está irretocável e não menos que perfeito, com destaques para Elisabeth Moss, Samira Wiley e Alexis Bledel. O terceiro ponto, mas não menos importante, é sobre a incrível capacidade do roteiro de tornar uma história tão cruel quanto surreal em algo não só verossímil, mas também completamente plausível. Limito-me a dizer que "The Handmaid's Tale" é uma série extremamente necessária para os dias de hoje, principalmente tendo no mais importante cargo político dos EUA um presidente tão repulsivo e misógino.
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KUma das melhores produções audiovisuais de ficção científica que já vi na vida, "Westworld" se mostra como uma trama genuinamente deliciosa que consolida sua narrativa numa crítica sagaz, forte e impactante. O roteiro nos traz uma impressionante alegoria da imoralidade humana, sendo encarnada por atuações memoráveis. Reflexões sobre moral e ética não param de fluir em cada um dos 10 episódios, revelando a série como um prato cheio para quem gosta de narrativas assim. Eu, particularmente, adorei poder refletir sobre cada uma das propostas da série, principalmente sobre uma das maiores questões levantadas por ela: até onde a inteligência artificial pode ou não pode ser considerada uma vida? É duro refletir sobre isso, principalmente quando se vive numa época em que inventamos coisas a todo momento sem nos atermos a respeito das verdadeiras consequências dessas criações na existência do ser humano. O design de produção só não é melhor que a exuberante trilha sonora. Um verdadeiro espetáculo audiovisual.
The O.C.: Um Estranho no Paraíso (4ª Temporada)
3.8 368Era melhor eu ter visto o filme do Pelé.
The O.C.: Um Estranho no Paraíso (3ª Temporada)
4.1 247Nada poderia me prevenir do que estaria prestes a assistir. Que catástrofe audiovisual, meu bom Deus! Essa temporada só não me deu mais preguiça do que a que estou sentindo agora em escrever sobre ela. Então, apenas sejam bonzinhos e escutem o tio Gui: NÃO ASSISTAM ESSA MERDA. De nada.