Além da relação complexa entre duas protagonistas difíceis (ambas parecem ter aquela brutalidade de personalidades delicadas e machucadas pela vida), interessante no filme a abordagem da intensidade artística que deriva de uma mente perturbada. Jenny necessita de música do modo como uma pessoa normal precisa da fala, pra dar uma expressão ao caos externo e da sua vida interior. Também merece atenção a forma como é abordada a dicotomia arte clássica x arte inovadora ou popular, a professora representando a primeira, como é de se supor.
Um enredo bastante simples e bastante verdadeiro. Agnes e Elin, ambas cheias de personalidade, e ao mesmo tempo extremamente diferentes. Elin cheia de atitude e de autoconfiança (até certo ponto), além de linda e popular, mas Agnes é realmente FODA e faz os outros adolescentes parecem retardados haha! Lendo poesia de primeira e ouvindo música clássica com dezesseis anos, e NEM AÍ pro que o grande grupo pensa dela. A atração entre elas podia ser apenas um sentimentalismo ou excesso de hormônios, de adolescentes, mas na realidade exemplifica aquela noção platốnica de amor como o desejo pelo que nos falta.
Ao contrário de outras séries e filmes que tratam de bissexualidade, neste não é ela que é vista como dilema, mas as escolhas de vida dos personagens. Aparentemente, Jean não teve prévias relações homossexuais, mas ainda sim isto não é problematizado, podemos já partir do desejo assumido para outras questões existenciais. Da parte de Sidney, a bissexualidade é aceita e vivida sem maiores dilemas de cunho sexual. É muito satisfatório que a “discussão” parta daí, sem se perder em divagações mais ou menos adolescentes (“e agora, sou gay? socorro!”), como em “Eu, tu e ela”, pra citar um exemplo recente.
Diria que a mentira contraposta à honestidade é o tema central da série, e é este o trajeto mais ou menos falhado da protagonista ao longo da temporada. Incapaz de fazer sentido pra si mesma e atuar no mundo com uma só personalidade, se desdobra em vários personagens, às vezes com uma motivação altruísta (caso de Alisson, principalmente), outras vezes obscura e apaixonada, como no caso central, do paciente Sam e a obsessão por Sidney. Ela cria uma persona para parecer interessante a Sidney: “Me chamo Diane Hart. Sou jornalista. Status de relacionamento: solteira.” Chama atenção o nome escolhido para esta personagem - não há como não evocar a Diane que faz Naomi em Mullholand Drive.
Esse jogo de inúmeras máscaras vai sendo mantido com certo esforço até o fim da temporada. Admitir uma enganação, ela apenas o faz com relação ao apartamento 309, quando conta ao marido que não o vendeu na realidade. A partir daí, a traição é suspeitada por ele, mas não é admitida. Mas até a última cena do último episódio, a relação dela com Sidney ainda é uma promessa, no sentido em que a honestidade e portanto a entrega de si mesma ainda não foram realizadas. Mas Sidney se entrega de fato com paixão a esse mistério Diane, talvez justamente pela “inapreensibilidade” desse objeto, e por si mesma desenrola o novelo de mentiras. Ao final, seu olhar para Jean que conclui a temporada parece dizer que está ainda contente com aquilo que vê, e da parte de Jean, o olhar parece dizer que o medo foi vencido.
Adorei a série, achei envolvente, muito sexy, especialmente o capítulo 7 (!)
Aquela cena inicial no bar, tocando Carmen de Bizet numa versão contemporânea... L'amour est un oiseau rebelle (!)
Vestida Para Matar
3.8 252 Assista AgoraBa, não curti. Em cada cena com o assassino me sentia vendo um quadro de hermes e renato.
Quatro Minutos
4.0 89Além da relação complexa entre duas protagonistas difíceis (ambas parecem ter aquela brutalidade de personalidades delicadas e machucadas pela vida), interessante no filme a abordagem da intensidade artística que deriva de uma mente perturbada. Jenny necessita de música do modo como uma pessoa normal precisa da fala, pra dar uma expressão ao caos externo e da sua vida interior. Também merece atenção a forma como é abordada a dicotomia arte clássica x arte inovadora ou popular, a professora representando a primeira, como é de se supor.
Muito bom.
Amigas de Colégio
3.4 216Um enredo bastante simples e bastante verdadeiro. Agnes e Elin, ambas cheias de personalidade, e ao mesmo tempo extremamente diferentes. Elin cheia de atitude e de autoconfiança (até certo ponto), além de linda e popular, mas Agnes é realmente FODA e faz os outros adolescentes parecem retardados haha! Lendo poesia de primeira e ouvindo música clássica com dezesseis anos, e NEM AÍ pro que o grande grupo pensa dela. A atração entre elas podia ser apenas um sentimentalismo ou excesso de hormônios, de adolescentes, mas na realidade exemplifica aquela noção platốnica de amor como o desejo pelo que nos falta.
Fiquei com um riso idiota preso na cara com esse final. Hahahah <3
Gypsy (1ª Temporada)
3.6 312 Assista AgoraAo contrário de outras séries e filmes que tratam de bissexualidade, neste não é ela que é vista como dilema, mas as escolhas de vida dos personagens. Aparentemente, Jean não teve prévias relações homossexuais, mas ainda sim isto não é problematizado, podemos já partir do desejo assumido para outras questões existenciais. Da parte de Sidney, a bissexualidade é aceita e vivida sem maiores dilemas de cunho sexual. É muito satisfatório que a “discussão” parta daí, sem se perder em divagações mais ou menos adolescentes (“e agora, sou gay? socorro!”), como em “Eu, tu e ela”, pra citar um exemplo recente.
Diria que a mentira contraposta à honestidade é o tema central da série, e é este o trajeto mais ou menos falhado da protagonista ao longo da temporada. Incapaz de fazer sentido pra si mesma e atuar no mundo com uma só personalidade, se desdobra em vários personagens, às vezes com uma motivação altruísta (caso de Alisson, principalmente), outras vezes obscura e apaixonada, como no caso central, do paciente Sam e a obsessão por Sidney. Ela cria uma persona para parecer interessante a Sidney: “Me chamo Diane Hart. Sou jornalista. Status de relacionamento: solteira.” Chama atenção o nome escolhido para esta personagem - não há como não evocar a Diane que faz Naomi em Mullholand Drive.
Esse jogo de inúmeras máscaras vai sendo mantido com certo esforço até o fim da temporada. Admitir uma enganação, ela apenas o faz com relação ao apartamento 309, quando conta ao marido que não o vendeu na realidade. A partir daí, a traição é suspeitada por ele, mas não é admitida. Mas até a última cena do último episódio, a relação dela com Sidney ainda é uma promessa, no sentido em que a honestidade e portanto a entrega de si mesma ainda não foram realizadas. Mas Sidney se entrega de fato com paixão a esse mistério Diane, talvez justamente pela “inapreensibilidade” desse objeto, e por si mesma desenrola o novelo de mentiras. Ao final, seu olhar para Jean que conclui a temporada parece dizer que está ainda contente com aquilo que vê, e da parte de Jean, o olhar parece dizer que o medo foi vencido.
Adorei a série, achei envolvente, muito sexy, especialmente o capítulo 7 (!)
Aquela cena inicial no bar, tocando Carmen de Bizet numa versão contemporânea... L'amour est un oiseau rebelle (!)
Possessão
3.9 589"Onde acaba o amor, têm início o poder, a violência e o terror..." Carl Jung